Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
O Menino Mais Velho
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PIXINGUINHA, UM HOMEM CARINHOSO : TRAILER OFICIAL • DT
2:32
YouTube
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ASSISTIR:
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PIXINGUINHA, UM HOMEM CARINHOSO : TRAILER OFICIAL • DT
8.432 visualizações26 de out. de 2021
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Downtown Filmes
Longa metragem de ficção sobre vida e obra de Alfredo da Rocha Vianna Junior (1897-1973), o Pixinguinha, pai da MPB. Gênio incompreendido e muito à frente de seu tempo, só teve sua importância reconhecida muitos anos depois. Direção de Denise Saraceni, diretora de núcleo da TV Globo, em seu primeiro filme no cinema. A vida do famoso músico, menino negro de classe media baixa é contada desde suas primeiras performances antológicas na flauta; a composição de suas muitas obras primas, dentre as quais “Carinhoso” o verdadeiro hino popular brasileiro, que fez 100 anos em 2017/18; sua temporada de 6 meses em Paris em 1922 com o
retumbante êxito de seu conjunto “Oito Batutas”; seus arranjos como primeiro diretor musical para a Victor americana nos anos 30, sua decadência e ressurgimento nos anos 40; sua consagração nos anos 60 pelas mãos das novas gerações da bossa nova e do jazz; e sua morte na igreja N. S. da Paz no Rio de Janeiro em pleno carnaval de 1973 durante a passagem da Banda de Ipanema.
LANÇAMENTO: 11 de novembro de 2021
DIRETOR: Denise Saraceni
ELENCO: Seu Jorge, Taís Araujo, Danilo Ferreira, Agatha Moreira, Tuca Andrada, Klebber Toledo e Milton Gonçalves
Classificação Indicativa: 14 Anos
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SOBRE DT Filmes
Canal oficial da Downtown Filmes:
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UM GÊNIO BRASILEIRO
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OUVIR:
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Vou Vivendo
Pixinguinha
Ouvir "Vou Vivendo"
Meu coração foi de bar em bar
Se perdeu nunca mais se achou
Foi vivendo assim
Sem ter ninguém para dizer um boa noite
E a penúltima nem tomou
Nem deu conta quando um garçom
Ò cobriu com uma noite de estrelas para ele dormir
E pelos bares por onde andei
Quantos copos eu já quebrei
Ao brindar muita paz e a Deus rogar aos amigos saúde
Quando se foram sem um adeus
Se grudando nos versos meus
Como cacos de vidros espalhados
No meu coração
Sonhou que era um chorinho
Tocado carinhoso
Pediu então um choppinho
Bem caprichado na pressão
E veio bem geladinho
Espuma no colarinho
Ah! seu garçom vai com jeitinho
Pede outro chorinho sem sair do tom
Meu coração vai vivendo assim
Mendigando de bar em bar
Uma esmola qualquer
De uma palavra, de um gesto ou carinho
Velhos amigos quero rever
Vendo à noite se transformar
Numa rede que vai entre nuvens me adormecer
Em cada bar
Que eu passei
Eu lavrei a inscrição
Trouxe aqui
Este meu coração
Para nele sua mágoa afogar
Bar doce lar
Que aos boêmios a vida abrigou
Lua cheia ou minguante ou num quarto de lua
Há um lugar para essa dor
Mais feito um bar o amor é fiel ao amor
Ao seu modo ele quer procurar
Outros braços pra neles dormir
Sabe que a vida tapete de estrelas já vai
Estendendo pelo ar esse novo endereço
É ali por ai
Em cada bar fiz um novo amor
E os larguei quando Deus mandou
Vou vivendo assim
Porque o destino me fez um vadio
Novo endereço ele vai traçar
E virei para te avisar
Quando à noite uma toalha de estrela
Me der para cobrir
Ouvir "Vou Vivendo"
Composição: Benedito Lacerda.
PIXINGUINHA, 4 DE MAIO DE 1897 - MARX, 5 DE MAIO DE 1818 - FREUD, 6 DE MAIO DE 1856
Compositor, instrumentista, regente, arranjador e um dos pilares da moderna música popular brasileira, foi assim definido pelo crítico e historiador Ary Vasconcelos:
“Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”
LINHA DO TEMPO por Pedro Paulo Malta
1897
Ano de nascimento do menino Alfredo da Rocha Vianna Filho, no bairro da Piedade, zona norte do Rio de Janeiro. A data consagrada nos livros de referência é 23 de abril, dia de São Jorge, mas um levantamento recente feito pelo pesquisador e músico Alexandre Dias, no cartório em que o menino foi registrado, aponta para outra data de nascimento: 4 de maio. Ele é um dos quatorze filhos de Raimunda Maria da Conceição, sendo quatro do primeiro casamento, com João de Oliveira Torres (Eugênio, Mário, Oldemar e Alice), e dez do segundo matrimônio, com Alfredo da Rocha Vianna: Otávio, Henrique, Léo, Oscar, Hermínia, Edith, Alfredo, Hermengarda, Cristodolina e Jandira. Assim como a data de nascimento, há divergências sobre o logradouro em que o menino veio ao mundo: se na Rua Gomes Serpa (como diziam as irmãs) ou na Alfredo Reis (como afirmava João da Bahiana), mas sabe-se que Alfredo era ainda bem menino quando sua família trocou a Piedade por outro bairro, mais próximo do Centro do Rio: o Catumbi, onde os Vianna foram morar, no número 44 da Rua da Floresta (atual Padre Miguelinho), uma ladeira que leva a Santa Teresa. É nesta região do Rio de Janeiro que Pixinguinha é criado.
Seu pai trabalha na Repartição Geral dos Correios e Telégrafos, onde é chefe de seção da usina de eletricidade. É também músico amador: toca flauta, sendo muito solicitado nas rodas de choro de então, como descreveria mais tarde Alexandre Gonçalves Pinto (vulgo Animal) no livro de memórias que publicaria em 1936, O choro: “Tocava de primeira vista, a princípio na sua flauta amarela de cinco chaves e, ultimamente, em uma de novo sistema”. Alfredo da Rocha Vianna (pai) também é conhecido por promover saraus que reúnem em sua casa grandes músicos, como os violonistas João Pernambuco, Quincas Laranjeira e Sátiro Bilhar, Candinho Trombone, o flautista Juca Kallut, o trompetista Luís de Souza, o soprista Irineu de Almeida e o maestro Heitor Villa-Lobos, entre outros. Em seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Pixinguinha recordaria a presença dos amigos de seu pai nessas reuniões musicais: “Eu ficava apreciando porque gostava de música. Mas quando chegava oito da noite, nove horas, meu pai dava ordem: ‘Menino, vai dormir!’. Eu respondia: ‘Perfeitamente, vou dormir’. Mas não dormia nada, porque ficava ouvindo os chorinhos bons que ele tocava. Gostava muito daquilo”. No futuro, caberá a Pixinguinha passar para a partitura a única composição de Alfredo Vianna (pai) de que se tem notícia: a valsa Tristezas não pagam dívidas.
Aproveitando-se do espaço que há no casarão do Catumbi (oito quartos, quatro salas e um amplo quintal), Seu Alfredo aluga alguns cômodos para os amigos músicos – motivo pelo qual o imóvel ficaria conhecido como Pensão Vianna. Entre os músicos que se hospedariam por lá estão nomes importantes, como o trompetista Bonfiglio de Oliveira, o violonista, pianeiro e compositor Sinhô (o “Rei do Samba”) e o compositor e instrumentista Irineu de Almeida – que leva a mãe, Dona Generosa, carinhosamente chamada de Vovó Generosa por Pixinguinha e seus irmãos. “O inquilino Irineu, que tocava trombone, oficleide e bombardino, foi quem ensinou música ao pequeno Alfredo e afirmou: ‘Esse menino promete’”, conta o cavaquinista e pesquisador Henrique Cazes, em seu livro Choro, do quintal ao Municipal. Já no livro Pixinguinha, vida e obra, o jornalista e pesquisador Sérgio Cabral expõe uma divergência quanto ao endereço da Pensão Vianna: a biografia informa que Pixinguinha costumava dizer que ela ficava na Rua Vista Alegre, mas que contou ao pesquisador Almirante que o endereço era Rua Eleone de Almeida, nº 27. O segundo endereço é confirmado no livro Pixinguinha, filho de Ogum bexiguento, de Marília Barboza e Arthur de Oliveira Filho.
TEMOS TUDO PARA VENCER OU VENCERMOS?
1. Vencermos
Significado de Vencermos Por Dicionário inFormal (SP) em 28-05-2019
Obter vitória, levar vantagem.
Para vencermos a competição precisamos de treino e foco.
2. Vencer
Significado de Vencer Por Dicionário inFormal (SP) em 24-11-2008
Ganhar, triunfar, conquistar.
É preciso vencer os embates da vida.
3. Vencido
Significado de Vencido Por IVO CESAR BARBOSA (SP) em 25-05-2010
Aquele que não venceu, deixou de ganhar
Perdedor, derrotado
O time "A" foi vencido pelo tme "B"
O perdedor, foi vencido por unanimidade
4. Vencer
Significado de Vencer Por Dicionário inFormal (SP) em 11-03-2011
Alcançar, dominar, percorrer, ganhar, exceder.
Beija Flor vence o carnaval 2011
5. Vencida
Significado de Vencida Por Dicionário inFormal (SP) em 13-03-2015
Flexão de vencer. Que foi vencido. Vencimento.
A mulher foi vencida pelo cansaço.
7. Vencesse
Significado de Vencesse Por Dicionário inFormal (SP) em 20-10-2016
1. Ato ou efeito de vencer.
Se ele vencesse, nós ganharíamos um troféu.
8. Vencia
Significado de Vencia Por Dicionário inFormal (SP) em 04-08-2016
Derivação de vencer.
Que ganhava uma competição; derrotava um adversário; obtinha vitória em algo.
1. Ela sempre me vencia no game.
2. Ela sempre vencia os obstáculos.
9. Vença
Significado de Vença Por Dicionário inFormal (SP) em 21-01-2016
1. Obter vitória; vencer.
Espero que vença o melhor.
10. Vencidas
Significado de Vencidas Por Dicionário inFormal (SP) em 17-09-2015
Flexão de vencido. Que foram derrotadas; que se venceram.
As dificuldades foram vencidas.
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5 de maio de 1818, nasce um gênio
Para Marx, liberdade é a superação dos mecanismos que mantêm os homens acorrentados, de maneira objetiva ou subjetiva, a formas de opressão e exploração por interesses de acumulação de poder e riqueza. Essa é uma das ideias que o fazem tão atual
Por Fábio Guedes Gomes 07/05/2018 11:05
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No dia 5 de maio de 2018 comemorou-se o bicentenário de nascimento de Karl Marx. Natural da cidade de Trier, região da Renânia, antiga Prússia Imperial, hoje Alemanha, de família judia, o Velho Mouro, como também era chamado, é sem dúvida o pensador social mais lido da história do século 20. Um dos mais fecundos analistas da sociedade moderna, com admiradores de sua obra distribuídos pelos quatro cantos do planeta, onde também se encontra um volume não desprezível de antipatizantes e críticos.
Suas ideias, em grande parte desenvolvidas em parceria com Friedrich Engels, companheiro inseparável de produção intelectual e compromissos políticos, influenciaram os destinos de parcela considerável da humanidade, incalculáveis cursos e disciplinas e formação de milhares de indivíduos. É claro que em proporção ao tamanho dessa influência também não se deve subestimar a magnitude das distorções sociais e políticas que derivaram da leitura enviesada de suas teses e argumentos.
Assim como autores importantes, por exemplo, da economia política inglesa, como Adam Smith e David Ricardo, e suas obras se tornaram clássicas porque registraram, com elevado grau de sofisticação e compreensão, a realidade social que se descortinava na época em que escreviam, Marx foi e continua sendo uma das leituras mais oportunas para se reconstruir veredas de entendimento sobre a formação e desenvolvimento da sociedade capitalista.
Se nossa preocupação com o mundo moderno e a natureza que nos cerca obriga-nos passar, por exemplo, pela leitura de Sigmund Freud, Albert Einstein e Charles Darwin, Karl Marx alcança a mesma estatura quando assumimos como imprescindível que nosso presente está contido em nosso passado. Nesse sentido, o grande ensaísta irlandês George Bernard Shaw, um dos fundadores da London School of Economics, foi assertivo: “Ele realizou a maior proeza literária que um homem pode almejar. Marx mudou a consciência do mundo”.
Poderia apontar uma série de atributos que justificariam a necessidade de continuar lendo Marx em pleno século 21. A maioria dos argumentos em contrário, que já constatei ao longo de minha vida acadêmica, se assenta em bases explicativas frágeis ou toma posição científica aderente aos espectros ideológicos e políticos completamente comprometidos com o status quo da sociedade capitalista, sem ao menos vislumbrar, historicamente, a possibilidade de sua superação, como aconteceu ao longo da formação da humanidade com antigos regimes.
Invariavelmente, as críticas levantadas a Marx e suas obras são mais de cunho moral e políticas, expondo em geral os insucessos dos regimes ditos “socialistas ou comunistas” adotados ao longo do século 20, como se o próprio Marx, que faleceu em 1883, avalizasse o que viria acontecer [1]. Em vários países onde mudanças fundamentais aconteceram e o capitalismo foi preterido, o nome de Marx foi evocado como principal referência, como guia central para essas mudanças. Certamente esse aspecto colaborou, especialmente, para demonizar os trabalhos de Marx por parte das elites intelectuais que não aceitavam qualquer tipo de experiência alternativa ao capitalismo e, ainda, testemunhavam ou conheciam os erros cometidos pelas mesmas.
Mas, no geral, o que há mesmo é muita distorção do pensamento marxiano ou falta mesmo de compreensão, pois sua catedral foi erguida com a argamassa da filosofia alemã e amarrações da economia política inglesa e do socialismo utópico francês. É muito comum se criticar Marx usando trechos seus aqui e acolá, descontextualizados. Nesse campo a ciência vai para o banco de reservas e entra na escalação o poder de especulação, e o que mais encontramos são críticas pseudocientíficas.
Costumo dizer em sala de aula, quando ministro a disciplina Economia Política, que estudar a teoria marxiana e sua crítica à economia política de seu tempo exige se desprender de qualquer tipo de preconceito ideológico e encarar a missão de maneira desinteressada, pois, dessa maneira, o leitor iniciante se defrontará com o enorme edifício, teórico e filosófico, que o autor alemão erigiu, com suas virtudes, mas também várias falhas.
As crises econômicas da última década reacenderam o interesse pela leitura de Marx. O que não faltam são reedições de seus livros[2] e novas biografias, muito bem escritas, abordando temas sobre a vida intelectual, política e pessoal do autor de diferentes ângulos. Até mesmo algumas delas de viés mais crítico, tratam o Velho Mouro com muito respeito, com o cuidado de não caírem numa abordagem reducionista e preconceituosa, piegas.[3]
Ano passado a indústria cinematográfica lançou “O Jovem Marx”, do diretor haitiano Raoul Peck, abordando os primeiros momentos de sua militância política e reflexões críticas, até desembocar na produção de um dos documentos mais acessados da política mundial, o Manifesto Comunista, escrito em parceria com Engels e lançado em fevereiro de 1848[4].
Seria mais fácil abordar a obra de Karl Marx utilizando-se do que autores, simpatizantes e defensores já escreveram ou falaram sobre o autor alemão. Entretanto, nos basta para esse artigo comemorativo os argumentos de uma das mais privilegiadas mentes do século 20, autor erudito e um grande economista: Joseph Schumpeter, o enfant terrible da Escola Austríaca, oráculo das teses clássicas da inovação tecnológica e sua função na dinâmica da economia capitalista.
No ano de 1942, Schumpeter publicou Capitalismo, Socialismo e Democracia. Ao contrário da maioria absoluta dos autores da Escola Austríaca, como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, tão apreciados na contemporaneidade, Schumpeter acreditava na inevitabilidade da superação da economia capitalista e a ascensão de um sistema socialista completamente contrário ao vislumbrado pela maioria dos defensores do marxismo, mesmo que esse processo fosse, também, contra sua vontade e ideologia política. Para se contrapor ao eixo central do pensamento socialista ortodoxo dominante em sua época, Schumpeter elabora uma crítica demasiadamente científica aos eixos centrais dos argumentos da obra de Marx.
Na primeira parte do livro mencionado acima, Schumpeter dedica cerca de cem páginas para destrinchar o pensamento marxiano. Evidentemente que comete alguns deslizes, mas como afirma Vaz Costa, “as ideias de Karl Marx, a quem Schumpeter admirava e respeitava, representaram uma das maiores influências intelectuais em sua formação científica”.[5] De qualquer sorte, o austríaco guardava grande autonomia e numa tradição podemos dizer dialética, buscava em suas inquietações avançar sobre o pensamento dos grandes pensadores que figuravam em sua biblioteca. Isso também aconteceu, principalmente, em relação aos argumentos e teses de Marx. Mas, o que sobre o Velho Mouro Schumpeter tem a nos dizer nesse momento de seu bicentenário de nascimento?
Schumpeter faz questão de mencionar que o autor alemão era extremamente erudito e não se comparava com os “professores vulgares de sociologia que não enxergavam um palmo adiante do nariz” [6], e tinha a capacidade de perceber os valores que uma civilização reunia, por mais afastado dela estivesse. Nesse sentido, para ele, Marx conseguiu traduzir melhor que muitos economistas “genuinamente burgueses” as realizações do capitalismo, sua lógica orgânica e necessidade histórica. Nesse aspecto, Marx assume todo o espírito de um grande pensador da tradição iluminista. No Manifesto Comunista isso é cristalino:
“A burguesia desempenhou na História um papel iminentemente revolucionário […] A burguesia foi a primeira a mostrar do que a atividade humana pode realizar; criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, às catedrais góticas […] A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e […] todas a relações sociais […] A burguesia arrasta […] todas as nações […] para a civilização […] criou grandes centros urbanos […] e, assim, tirou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural […] a burguesia, durante seu domínio de classe apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais do que juntas fizeram todas as gerações passadas” [7]
Realizar uma interpretação econômica da história é, segundo Schumpeter, um dos grandes feitos individuais de Marx na sociologia no século 19, inteiramente original, sem precedentes na literatura francesa e alemã. Ainda, ele defende Marx contra o mal-entendido de que essa interpretação econômica da história seja sinônimo de materialista.[8]
Do ponto de vista da análise econômica, Schumpeter ressalta que em Marx o que não lhe cabia era a falta de conhecimento ou preparo na técnica da análise teórica, ou seja, um autor extremamente sofisticado na metodologia, com um cabedal de conhecimento sobre os principais autores de sua época. E ressalta o caráter radical em Marx, uma característica fundamental na sua trajetória intelectual: “criticando e rejeitando ou aceitando e coordenando, Marx ia ao fundo das coisas”.[9]
A longa resenha crítica de Schumpeter sobre Marx é baseada em sua leitura do primeiro volume de O Capital, mesmo com algumas passagens analíticas de outros trabalhos do alemão. Sua pretensão é abordar eixos fundamentais das teses, como, por exemplo: teoria do valor, luta de classes, ciclos econômicos, crises, revolução e socialismo etc. O grande mérito de Schumpeter é construir sua crítica com argumentos científicos, sem resvalar para o julgamento moral ou simplório. Trata-se, de fato, de um leitor muito atento e intelectual sofisticado, que soube valorizar e beber da fonte do autor alemão, especialmente na construção de pensamento contra as teses da economia estacionária. Por essa razão ele afirma que “Marx enxergou mais claramente esse processo de mudança industrial e entendeu a sua importância essencial mais plenamente que qualquer economista do seu tempo”[10].
É justamente por causa do entendimento sobre a dinâmica capitalista, sua capacidade de revolucionar os métodos de produção e as relações sociais, introduzir novos produtos e mercadorias, criar novas oportunidades de negócios inéditas, subverter a ordem das coisas e progredir sob momentos de turbulência, que Schumpeter considera Karl Marx um autor imprescindível.
Marx vai além de um mero expectador, um intérprete da sociedade moderna. Ele descortinou as próprias contradições do sistema, as barreiras ao seu próprio desenvolvimento e seus aspectos consequentes sobre a vida em sociedade, especialmente dos elos mais frágeis do sistema. Nesse sentido, o conceito de liberdade em Marx extrapola a interpretação usual lhe dada. Tomando o risco de ser bastante resumido, liberdade em Marx pode ser compreendida como a superação absoluta dos mecanismos que mantêm os homens acorrentados, de maneira objetiva ou subjetiva, a formas de opressão e exploração por interesses objetivos de acumulação de poder e riqueza [11]. Liberdade não significa apenas formas de comportamento humana e remoção de barreiras ao seu exercício, seja na esfera política ou econômica. Assim, como um autêntico pensador iluminista, liberdade para Karl Marx é mais abrangente do que apenas as condições suficientes em que os homens possam se mover.
Enquanto a sociedade moderna, transfigurada em pós-moderna, conserva seus alicerces essenciais, suas características fundamentais, as relações sociais de produção, o regime jurídico de apropriação e propriedade, a cultura do consumo e da riqueza e a necessidade, ad infinitum, de produção econômica material, o Velho Mouro continuará figurando como essencial na compreensão desse tempo.
* Publicado originalmente no site Cada Minuto.
NOTAS
[1]Sobre esse ponto, Shumpeter afirma corretamente que no caso da experiência soviética, “não deixa de ser característico de tais processos de canonização que, entre o verdadeiro significado da mensagem de Karl Marx e a prática e a ideologia bolchevista, abra-se pelo menos um grande abismo como o que separava a religião dos humildes galileus da prática e da ideologia dos príncipes da Igreja ou dos senhores da guerra da Idade Média”. SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, Socialismo e Democracia. São Paulo: Editora da UNESP, 2017, p. 18.
[2]A Editora Boitempo executa um extraordinário projeto de reeditar conhecidos textos do autor além de lançar outros inéditos do leitor brasileiro. São publicações cuidadosamente bem traduzidas, com especiais apresentações de especialistas renomados sobre o marxismo.
[3]GABRIEL, Mary. Amor e Capital: a saga familiar de Karl Marx e a história de uma Revolução. São Paulo: ZAHAR, 2013; SPERBER, Jonathan. Karl Marx: uma vida do século XIX. São Paulo: Amarilys, 2014; JONES, Gareth Stedman. Karl Marx: grandeza e ilusão. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
[4]Ótima resenha sobre o conteúdo do filme foi escrita por CARCANHOLO, Marcelo. Teoria e Sujeitos (Indivíduos) Revolucionários: uma apreciação sobre “O Jovem Marx”. Disponível em https://www.gz.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/item/204955-teoria-e-sujeitos-individuos-revolucionarios-uma-apreciacao-sobre-o-jovem-marx.html
[5]COSTA, Rubens Vaz. Introdução In: SCHUMPETER, Joseph. Alois. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 8
[6]SHUMPETER, 2017, p. 22.
[7]MARK, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005 [1848], pp. 42-44. “[…] mais que qualquer outro escritor da sua época, Marx discerniu o advento da grande empresa e, além disso, algumas características das situações consequentes”. SCHUMPETER, 2017, p. 75.
[8]SCHUMPETER, 2017, pp. 27-28. Mais à frente, o autor volta a esse argumento com maior discernimento e comenta: “[…] Marx realmente conseguiu uma coisa de importância fundamental para a metodologia da economia. Os economistas sempre fizeram o trabalho do historiador econômico, ou então se serviram dos trabalhos históricos dos outros – mas os fatos da história econômica eram relegados a um compartimento separado. Entravam na teoria – quando entravam – meramente no papel de ilustração ou, talvez, de confirmação das conclusões. Só se misturavam com ela mecanicamente. Ora, a mistura de Marx é química; quer dizer, ele as introduziu no próprio argumento que produz as conclusões. Foi o primeiro economista de alta categoria que viu e ensinou sistematicamente que a teoria econômica pode ser transformada em análise histórica e que a narrativa histórica pode ser transformada em histoire raisonnée” (p. 69). Difícil nessa longa transcrição é considerar Marx um economista, mas isso é outro assunto.
[9]Idem, p. 41.
[10]Idem, p. 55.
[11]O clássico do cinema, Tempos Modernos, produzido e dirigido pelo genial Charles Chaplin aborda de uma maneira esteticamente extraordinária, como um indivíduo que aparentemente se comporta de maneira atrapalhada e confusa, na verdade simboliza o homem que não consegue se adequar, se disciplinar e deixar ser dominado pelos modernos métodos de produção e a cultura ilustrada que brota das contemporâneas relações sociais de produção.
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6 de maio, nasce Sigmund Freud, o pai da PsicanálisePorRedação06 Maio 2021 - 00:01
Sigmund Freud nasceu em Freiberg, na Áustria, a 6 de maio de 1856. Foi um médico neurologista fundador da Psicanálise, tratamento que conquistou um espaço de relevo na psicologia e na psiquiatria. Também neste dia, data da inauguração da Torre Eiffel, nasceram Árpád Szenes, Orson Welles e Tony Blair.
Freud desenvolveu teorias que se centram no papel da mente, o inconsciente humano, e o modo como estes influenciam e determinam as ações do Homem. Através da hipnose, conseguiu tratar doentes com histeria, o que lhe permitiu sustentar a teoria de que aquela doença era psicológica e não física.
Publicou ‘Estudos Sobre a Histeria’ em 1895, criando a base para outros conceitos sobre os quais se dedicou, como o inconsciente humano. Freud teorizou também sobre mecanismos de defesa e repressão psicológica.
Mais tarde, abandonou o estudo da histeria e centrou-se na interpretação de sonhos como fontes dos desejos do inconsciente. O seu trabalho passa pela área sexual, ao defender que a repressão sexual na infância gera neuroses na fase adulta.
Apesar da polémica na Viena do século XIX, Sigmund Freud quebrou tabus da sexualidade no tratamento psiquiátrico e conseguiu compreender os comportamentos antissociais. A Psicanálise tornou-se o seu grande tratamento, que consistia num diálogo entre o paciente e psicanalista.
Publicou diversas obras, das quais se destacam ‘Interpretação dos Sonhos’ (1899), ‘Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade’ (1905), ‘O Inconsciente’ (1915), ‘Introdução à Psicanálise’ (1916-1917), ‘Psicologia das Massas e Análise do Ego’ (1923), ‘Psicanálise e Teoria da Libido’ (1923), ‘Neurose e Psicose’ (1924).
Freud morreu em 1939, em Londres, mas os seus estudos e teorias permaneceram como um pilar da discussão do tema da psiquiatria. Hoje, assinala-se a data do nascimento do neurologista.
No dia 6 de maio recordam-se outras efemérides. Em 1840, Inglaterra realiza e primeira emissão de selos postais do mundo. Já em 1889, a Torre Eiffel é oficialmente aberta ao público durante, na Exposição Universal em Paris. Em 1994, é inaugurado o túnel do Canal da Mancha.
Nasceram neste dia o Papa Marcelo II (1501), o Papa Inocêncio X (1574). Charles Batteux, filósofo francês (1713), Sigmund Freud, psiquiatra austríaco (1856), Rabindranath Tagore, escritor indiano (1861), e Nikolay Romanov, czar da Rússia (1868).
Nasceram ainda Árpád Szenes, pintor, ilustrador e professor húngaro, naturalizado francês (1897), André Weil, matemático francês (1906), Orson Welles, realizador e ator norte-americano (1915), Tony Blair, político britânico (1953), e George Clooney, ator norte-americano (1961).
Morreram a 6 de maio Henry David Thoreau, escritor e filósofo norte-americano (1862), rei Eduardo VII do Reino Unido (1910), B. C. Forbes, jornalista financeiro (1954), Marlene Dietrich, atriz alemã (1992), e Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança, escritora e pretendente ao trono português (1995).
*** *** https://ptjornal.com/6-maio-nasce-sigmund-freud-pai-da-psicanalise-7814 *** ***
Ele e eu (Pixinguinha)
TransversArte publicou um vídeo na lista de reprodução Choro workshops.
26 de março de 2017 · ·
Choro workshop with Cléa Thomasset & Jonathan Preiss at the Latin American House, London - 25/03/2017
"Ele e eu" by Pixinguinha
https://pt-br.facebook.com/transversarte/videos/ele-e-eu-pixinguinha/2004150176479991/
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ASSISTIR:
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Vou Vivendo - Pixinguinha - Grupo de Choro - UPF
12.133 visualizações30 de jun. de 2015
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Guilherme Souza
Gravado em Novembro de 2014 no teatro do Sesc de Passo Fundo - RS.
Formação:
Daniel Szuchman - Flauta
Guilherme Souza - Violão de 7 cordas
Guedi do Bandolim - Cavaco e Bandolim
Magda Percussa - Pandeiro
Davi Reginatto - Acordeon
Coordenação: Alexandre Saggiorato
Imagens: Danrlei Cabral
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Anchor
Capítulo 6: O menino mais velho by Vidas Secas 🌵
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O Menino Mais Velho
Deu-se aquilo porque sinha Vitória não conversou um instante com o menino mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em
inferno. Estranhando a linguagem de sinha Terta, pediu informações. Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar
ruim demais, e como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
O menino foi à sala interrogar o pai, encontrou-o sentado no chão, com as pernas abertas, desenrolando um meio de sola. — Bota o pé aqui.
A ordem se cumpriu e Fabiano tomou medida da alpercata: deu um traço com a ponta da faca atrás do calcanhar, outro
adiante do dedo grande. Riscou em seguida a forma do calçado e bateu palmas: — Arreda.
O pequeno afastou-se um pouco, mas ficou por ali rondando e timidamente arriscou a pergunta. Não obteve resposta, voltou
à cozinha, foi pendurar-se à saia da mãe: — Como é?
Sinha Vitória falou em espetos quentes e fogueiras. — A senhora viu?
Aí sinha Vitória se zangou, achou-o insolente e aplicou-lhe um cocorote.
O menino saiu indignado com a injustiça, atravessou o terreiro, escondeu-se debaixo das catingueiras murchas, à beira da
lagoa vazia.
A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil. Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à espera de um osso.
Provavelmente não o receberia, mas acreditava nos ossos, e o torpor que a embalava era doce. Mexia-se de longe em longe,
punha na dona as pupilas negras onde a confiança brilhava. Admitia a existência de um osso graúdo na panela, e ninguém lhe
tirava esta certeza, nenhuma inquietação lhe perturbava os desejos moderados. Às vezes recebia pontapés sem motivo. Os
pontapés estavam previstos e não dissipavam a imagem do osso.
Naquele dia a voz estridente de sinha Vitória e o cascudo no menino mais velho arrancaram Baleia da modorra e deram-lhe
a suspeita de que as coisas não iam bem. Foi esconder-se num canto, por detrás do pilão, fazendo-se miúda entre cumbucos e
cestos. Um minuto depois levantou o focinho e procurou orientar-se. O vento morno que soprava da lagoa fixou-lhe a
resolução: esgueirou-se ao longo da parede, transpôs a janela baixa da cozinha, atravessou o terreiro, passou pelo pé de turco,
topou o camarada, chorando, muito infeliz, à sombra das catingueiras. Tentou minorar-lhe o padecimento saltando em roda e
balançando a cauda. Não podia sentir dor excessiva. E como nunca se impacientava, continuou a pular, ofegando, chamando a
atenção do amigo. Afinal convenceu-o de que o procedimento dele era inútil.
O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um
vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de
gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.
Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia. Afagou-a com os dedos magros e sujos, e
o animal encolheu-se para sentir bem o contato agradável, experimentou uma sensação como a que lhe dava a cinza do
borralho.
Continuou a acariciá-la, aproximou do focinho dela a cara enlameada, olhou bem no fundo os olhos tranquilos.
Estivera metido no barreiro com o irmão, fazendo bichos de barro, lambuzando-se. Deixara o brinquedo e fora interrogar
sinha Vitória. Um desastre. A culpada era sinha Terta, que na véspera, depois de curar com reza a espinhela de Fabiano,
soltara uma palavra esquisita, chiando, o canudo do cachimbo preso nas gengivas banguelas. Ele tinha querido que a palavra
virasse coisa e ficara desapontado quando a mãe se referira a um lugar ruim, com espetos e fogueiras. Por isso rezingara,
esperando que ela fizesse o inferno transformar-se.
Todos os lugares conhecidos eram bons: o chiqueiro das cabras, o curral, o barreiro, o pátio, o bebedouro — mundo onde
existiam seres reais, a família do vaqueiro e os bichos da fazenda. Além havia uma serra distante e azulada, um monte que a
cachorra visitava, caçando preás, veredas quase imperceptíveis na catinga, moitas e capões de mato, impenetráveis bancos de
macambira — e aí fervilhava uma população de pedras vivas e plantas que procediam como gente. Esses mundos viviam em
paz, às vezes desapareciam as fronteiras, habitantes dos dois lados entendiam-se perfeitamente e auxiliavam-se. Existiam sem
dúvida em toda a parte forças maléficas, mas essas forças eram sempre vencidas. E quando Fabiano amansava brabo,
evidentemente uma entidade protetora segurava-o na sela, indicava-lhe os caminhos menos perigosos, livrava-o dos espinhos
e dos galhos.
Nem sempre as relações entre as criaturas haviam sido amáveis. Antigamente os homens tinham fugido à toa, cansados e
famintos. Sinha Vitória, com o filho mais novo escanchado no quarto, equilibrava o baú de folha na cabeça; Fabiano levava no
ombro a espingarda de pederneira; Baleia mostrava as costelas através do pelo escasso. Ele, o menino mais velho, caíra no
chão que lhe torrava os pés. Escurecera de repente, os xiquexiques e os mandacarus haviam desaparecido. Mal sentia as
pancadas que Fabiano lhe dava com a bainha da faca de ponta.
Naquele tempo o mundo era ruim. Mas depois se consertara, para bem dizer as coisas ruins não tinham existido. No jirau da
cozinha arrumavam-se mantas de carne-seca e pedaços de toicinho. A sede não atormentava as pessoas, e à tarde, aberta a
porteira, o gado miúdo corria para o bebedouro. Ossos e seixos transformavam-se às vezes nos entes que povoavam as moitas,
o morro, a serra distante e os bancos de macambira.
Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos
animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiam na catinga, roçando-se. Agora tinha tido a ideia de aprender uma
palavra, com certeza importante porque figurava na conversa de sinha Terta. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmão e à cachorra.
Baleia permaneceria indiferente, mas o irmão se admiraria, invejoso. — Inferno, inferno.
Não acreditava que um nome tão bonito servisse para designar coisa ruim. E resolvera discutir com sinha Vitória. Se ela
houvesse dito que tinha ido ao inferno, bem. Sinha Vitória impunha-se, autoridade visível e poderosa. Se houvesse feito
menção de qualquer autoridade invisível e mais poderosa, muito bem. Mas tentara convencê-lo dando-lhe um cocorote, e isto
lhe parecia absurdo. Achava as pancadas naturais quando as pessoas grandes se zangavam, pensava até que a zanga delas era a
causa única dos cascudos e puxavantes de orelhas. Esta convicção tornava-o desconfiado, fazia-o observar os pais antes de se
dirigir a eles. Animara-se a interrogar sinha Vitória porque ela estava bem-disposta. Explicou isto à cachorrinha com
abundância de gritos e gestos.
Baleia detestava expansões violentas: estirou as pernas, fechou os olhos e bocejou. Para ela os pontapés eram fatos
desagradáveis e necessários. Só tinha um meio de evitá-los, a fuga. Mas às vezes apanhavam-na de surpresa, uma extremidade
de alpercata batia-lhe no traseiro — saía latindo, ia esconder-se no mato, com desejo de morder canelas. Incapaz de realizar o
desejo, aquietava-se. Efetivamente a exaltação do amigo era desarrazoada. Tornou a estirar as pernas e bocejou de novo.
Seria bom dormir.
O menino beijou-lhe o focinho úmido, embalou-a. A alma dele pôs-se a fazer voltas em redor da serra azulada e dos bancos
de macambira. Fabiano dizia que na serra havia tocas de suçuaranas. E nos bancos de macambira, rendilhados de espinhos,
surgiam cabeças chatas de jararacas.
Esfregou as mãos finas, esgaravatou as unhas sujas. Pensou nas figurinhas abandonadas junto ao barreiro, mas isto lhe
trouxe a recordação da palavra infeliz. Diligenciou afastar do espírito aquela curiosidade funesta, imaginou que não fizera a
pergunta, não recebera portanto o cascudo.
Levantou-se. Via a janela da cozinha, o cocó de sinha Vitória, e isto lhe dava pensamentos maus. Foi sentar-se debaixo de
outra árvore, avistou a serra coberta de nuvens. Ao escurecer a serra misturava-se com o céu e as estrelas andavam em cima
dela. Como era possível haver estrelas na terra?
A cadelinha chegou-se aos pulos, cheirou-o, lambeu-lhe as mãos e acomodou-se.
Como era possível haver estrelas na terra?
Entristeceu. Talvez sinha Vitória dissesse a verdade. O inferno devia estar cheio de jararacas e suçuaranas, e as pessoas
que moravam lá recebiam cocorotes, puxões de orelhas e pancadas com bainha de faca.
Apesar de ter mudado de lugar, não podia livrar-se da presença de sinha Vitória. Repetiu que não havia acontecido nada e
tentou pensar nas estrelas que se acendiam na serra. Inutilmente. Àquela hora as estrelas estavam apagadas.
Sentiu-se fraco e desamparado, olhou os braços magros, os dedos finos, pôs-se a fazer no chão desenhos misteriosos. Para
que sinha Vitória tinha dito aquilo?
Abraçou a cachorrinha com uma violência que a descontentou. Não gostava de ser apertada, preferia saltar e espojar-se.
Farejando a panela, franzia as ventas e reprovava os modos estranhos do amigo. Um osso grande subia e descia no caldo. Esta
imagem consoladora não a deixava.
O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-se para não magoá-lo, sofria a carícia excessiva. O cheiro dele era
bom, mas estava misturado com emanações que vinham da cozinha. Havia ali um osso. Um osso graúdo, cheio de tutano e com
alguma carne.
*** *** https://iedamagri.files.wordpress.com/2020/02/vidas-secas-graciliano-ramos.pdf *** ***
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Portal Sambrasil
Cinema: Pixinguinha Um Homem Carinhoso – Portal Sambrasil
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TV Cultura
Pixinguinha | Brasil Toca Choro
ASSISTIR:
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Pixinguinha | Brasil Toca Choro
49.778 visualizações5 de nov. de 2018
Brasil Toca
Em seu primeiro episódio, a série foi gravada entre agosto e dezembro de 2017 e teve direção e produção musical de Marquinho Mendonça e Swami Jr e mixagens de Alberto Ranellucci.
O programa traça um panorama histórico do primeiro gênero de música instrumental urbana tipicamente brasileira, o chorinho, contando, para isso, com a participação dos mais virtuosos e criativos intérpretes do ritmo.
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=DppgeKedHV8 *** ***
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Pixinguinha e os 90 anos de Carinhoso
Abílio Neto*
"... a roseira dá rosa em botão/ Pixinguinha dá Rosa em canção/ e a canção bonita é como a flor/ que tem perfume e cor/ e ele que era um poema de ternura e paz/ fez um buquê que não se esquece mais/ em rosas musicais..." (Jair Amorim, Evaldo Gouveia e Velha Guarda da Portela. Do tempo em que as escolas de samba ainda faziam samba-enredo, Carnaval de 1974, um ano após a morte de Pixinguinha).
Hoje, 23 de abril, dia de São Jorge e do nascimento de Pixinguinha (23.4.1897), comemora-se o Dia Nacional do Choro. É uma justa homenagem a esse homem que trazia no rosto no início do século passado as marcas de uma doença braba, a bexiga. Apelidado Bexiguinha, depois Pixinguinha, porém, registrado em cartório como Alfredo da Rocha Vianna Júnior, é considerado o organizador ou o codificador da genuína música popular brasileira.
Aos vinte anos Pixinguinha já era um grande flautista e compositor. Entre 1917 e 1918 já havia composto pérolas como a valsa "Rosa" e um choro que chamou de "Carinhos". Compôs e o depositou no fundo do baú. Por que ? Tinha vergonha de apresentá-lo e tocá-lo nas rodas de bambas de chorões que freqüentava. O motivo é que o do choro só tinha duas partes e naquele tempo quem se metesse a compor um choro com menos de três partes era ignorado ou até ridicularizado.
Em 1927 resolveu gravá-lo pela primeira vez com o seu regional e o de Donga. Não teve muito sucesso. Em 1936 a atriz e cantora Heloísa Helena participava de uma peça teatral na qual queria cantar uma música. Ela foi uma das poucas pessoas que tinham adorado o choro "Carinhos". Assim, pediu ao compositor João de Barro, o Braguinha, que pusesse uma letra naquela canção. Braguinha pediu autorização a Pixinguinha e dois dias depois a tarefa foi concluída.
Em 1937 a música "Carinhos" foi oferecida a dois medalhões do cancioneiro popular, Carlos Galhardo e Francisco Alves, os quais não se entusiasmaram em gravá-la. Sobrou a tarefa para Orlando Silva que já estava ficando um cantor famoso, mas esse também não demonstrou muito interesse. Gravou-o no lado A de um antigo disco de 78 rotações, o qual trouxe no lado B a famosa valsa "Rosa", também de Pixinguinha. Assim "Carinhos" se transformou em "Carinhoso". Diziam que a letra dessa canção era avançada demais pr'aquela época.
Pouco tempo depois "Carinhoso" virou prefixo musical de Orlando Silva, esse notável cantor brasileiro, que teve seu apogeu de 1935 a 1942. A vida de Orlando, no entanto, foi marcada por acontecimentos trágicos: aos dezesseis anos teve metade de um dos pés decepada por um trem e em 1942, no topo da escada da glória, aos 26 anos, foi vítima de uma inflamação nas gengivas que atacou também os nervos dos dentes provocando-lhe as maiores dores que um ser humano pode suportar. Foi aí que recorreu à morfina para se aliviar das dores, tornando-se depois um viciado. Após perder todos os dentes da arcada superior, extraídos por ordem médica, ficou depressivo e se atolou no alcoolismo. Com a dicção prejudicada pela ausência dos dentes naturais e as cordas vocais afetadas pela morfina, nunca mais conseguiu ser o mesmo cantor. Mesmo assim é considerado o nosso Frank Sinatra. João Gilberto, artista maior da bossa nova, considera-o "o maior cantor do mundo".
Na gravação de "Carinhoso" realizada em 28.5.1937, Orlando Silva foi acompanhado pelo conjunto musical (regional) da RCA do qual fazia parte o próprio Pixinguinha. Ouçamos este magnífico choro-canção de 90 anos que tinha tudo pra não acontecer, porque foi encostado pelo seu autor, esnobado por dois cantores de renome, desacreditado pelo letrista João de Barro e menosprezado inicialmente pelo artista que o gravou, Orlando Silva, "O Cantor das Multidões' que tentou até mudar a letra do choro.
Hoje "Carinhoso" é uma das músicas mais queridas do Brasil. O povo sentiu que às belas harmonias de Pixinguinha foi acrescentada uma letra irretocável, motivo principal das 207 gravações nacionais feitas por outros artistas. Destaque para uma gravação feita em 1973 por Ellis Regina, acompanhada pelo então magnífico regional de Caçulinha, aquele mesmo que hoje faz palhaçada no Domingão do Faustão.
O choro, como gênero musical, atravessou nossas fronteiras e atraiu a admiração de músicos da França, os quais criaram o Clube do Choro de Paris que é comandado por uma francesa que veio fazer curso de flauta no Brasil com Altamiro Carrilho. Em Paris também se ouve Carinhoso!
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*Migalheiro
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