domingo, 31 de dezembro de 2017

2017 bate o trinta e um



2018 arriba

Aproa o sota-vento






Último Dia - Frevo de Levino Ferreira

ave de arribação
asas da migração
asas da viração
asas da imensidão
asas pra voar

Ave de Arribação
Cacaso


 
Aeronave do céu
estrela guia tão só
constelação sideral
navegar feito nau
ave de arribação
asas da migração
asas da viração
asas da imensidão
asas pra voar
no azul do céu
no céu azul-marinho
azul-azul
azul da cor da terra
espaço azul
vou aprender flutuar
feito flutua balão
para poder viajar
navegar feito nau
ave de arribação
asas de um planador
asas de um condor
asas de um sonhador...
Composição: Cacaso / Nelson Ângelo


Hermeto Pascoal - Frevo Novo






“A praça, a praça é do Povo!
Como o céu é do Condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!” 









I

Era o tempo em que as ágeis andorinhas
Consultam-se na beira dos telhados,
E inquietas conversam, perscrutando
Os pardos horizontes carregados...

Em que as rolas e os verdes periquitos
Do fundo do sertão descem cantando...
Em que a tribo das aves peregrinas
Os Zíngaros do céu formam-se em bando!

Viajar! viajar! A brisa morna
Tras de outro clima os cheiros provocantes
A primavera desafia as asas,
Voam os passarinhos e os amantes!...

II

Um dia Eles chegaram. Sobre a estrada
Abriram à tardinha as persianas;
E mais festiva a habitação sorria
Sob os festões das trêmulas lianas.

Quem eram? Donde vinham? — Pouco importa
Quem fossem da casinha os habitantes.
— São noivos — : as mulheres murmuravam!
E os pássaros diziam: — São amantes — !

Eram vozes — que uniam-se co'as brisas!
Eram risos — que abriam-se co'as flores!
Eram mais dois clarões — na primavera!
Na festa universal — mais dous amores!

(...)

IV

É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta...
Além, sob as cortinas transparentes
Ela dorme... formosa Julieta!

Entram pela janela quase aberta
Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
— Flor que abrira das noites aos relentos.

O Poeta trabalha!... A fronte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa — o amor e a natureza!

E como o cáctus desabrocha a medo
Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.

No entanto Ela desperta... num sorriso
Ensaia um beijo que perfuma a brisa...
... A Casta-diva apaga-se nos montes...
Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!

V

Hoje a casinha já não abre à tarde
Sobre a estrada as alegres persianas.
Os ninhos desabaram... no abandono
Murcharam-se as grinaldas de lianas.

Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
... A Primavera, que arrebata as asas...
Levou-lhe os passarinhos e os amantes!...

Curralinho, 1870.



Publicado no livro Espumas flutuantes: poesias de Castro Alves, estudante do quarto ano da Faculdade de Direito de S. Paulo (1870).

In: ALVES, Castro. Obra completa. Org. e notas Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 198




SPOK FREVO IN RESIFI

"Último Dia (Ao Vivo)" por Spok Frevo Orquestra ( • )

sábado, 30 de dezembro de 2017

Tempo ê




Nelson Rufino - Tempo É


O tempo presente e o tempo passado
T.S. Eliot

"O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível
O que podia ter sido é uma abstração
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação

O que podia ter sido e o que não foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente
Ecoam passos na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral.
As minhas palavras ecoam
Assim, no teu espírito...
Mas para quê
Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa?
Não sei.
Vai, vai, vai, disse a ave;
O gênero humano não pode suportar muita realidade.
O tempo passado e o tempo futuro
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um fim, que é sempre presente."
T.S. Eliot




A Verdade de Nelson Rufino - Álbum Completo

Álbum completo - A Verdade de Nelson Rufino. Gravadora: Som Livre / Ano: 2000 O baiano Nelson Rufino faz parte de uma pequena galeria de conterrâneos que de sua terra conseguiu influir no caldeirão do samba gerido a partir do eixo carioca. Ao lado de Ederaldo Gentil, Edil Pacheco, Tião Motorista e Batatinha, ele ultrapassou a barreira da latitude (e do preconceito) e foi gravado por Roberto Ribeiro (Todo Menino É um Rei, Tempo Ê), Nara Leão (Nonô), Zeca Pagodinho (Verdade), Alcione (Aruandê), além de Elza Soares, Maria Bethânia, Martinho da Vila e Neguinho da Beija Flor, entre outros. Este disco homenagem ao sambista já de cabelos brancos também pretende com justiça -- e uma penca de convidados famosos -- alavancar seu nome pouco conhecido apesar do sucesso das músicas. O que atrapalha é o critério da seleção dos chamados, além da babação de ovo trocada entre eles e o anfitrião, algo que já começa a incomodar na primeira audição do CD. A mistura de bambas de estirpe como o recém falecido João Nogueira, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Alcione, Jorge Aragão e figuras de menor expressão como Os Travessos, Curt Samba, Katinguelê, Wil Carvalho e até artistas de outra praia como a baladeira Joanna (que substituiu o ausente Caetano Veloso na faixa Crença de Ilusão) reduzem o potencial sambista do disco. O denominador comum do romantismo acaba sendo responsável pela levada lenta da maioria das faixas (há nada menos de quatro pot-pourris) que aproximam Rufino mais do pagodão de mercado que de sua originária raiz. Quando surge um partido mais picotado como o belo Manda Notícia, a temperatura sobe. Ainda assim, há bons duetos com Emílio Santiago (Vazio), João Nogueira (Todo Menino É um Rei) e Zeca Pagodinho (Marejou). Mas ficaram devendo ao Rufino, um intérprete eficaz de suas próprias composições. (Tárik de Souza)

Biografia de Nelson Rufino
Compositor requintado, suas melodias têm a levada baiana e suas letras encampam o universo carioca.


Que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei.

Santo Agostinho

Referências

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTfHcn7y-NHt7St_9g6cRSghwD5ad9rtrEzvMXChBV2Q_ZH-UOy
https://youtu.be/olIJbroaBeE
http://www.gilbertogodoy.com.br/ler-post/o-tempo-presente-e-o-tempo-passado---t-s--eliot
https://youtu.be/h5BsA_ZBTjE
https://www.letras.com.br/biografia/nelson-rufino

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Resumão Antagonista 2017

Felipe Moura Brasil resume os quatro trimestres do ano. 

Assista.

Uma retrospectiva dividida em quatro episódios com o que de melhor (ou pior) aconteceu na política brasileira em 2017.


Assista à primeira parte



Assista à segunda parte



Assista à terceira parte



Assista à quarta parte





“Na entrevista a O Globo, Sergio Moro voltou a comentar a possibilidade de o STF reverter a prisão de condenados em segunda instância…”

“O que me preocupa de mais imediato, nesse esforço anticorrupção, é que houve uma decisão muito importante do Supremo Tribunal Federal que foi a que prevê que a partir de uma condenação em segunda instância se pode executar a pena. Vejo com preocupação alguma sinalização de que o Supremo poderia rever esse precedente. Eu entendo que esse precedente, com todo respeito a quem pensa o contrário, deveria ser considerado um ponto de não retorno. Seria um tremendo retrocesso. E de certa maneira ele ilustra uma certa zona de incerteza. O Brasil vai caminhar para a frente, vamos buscar construir um ambiente de maior integridade na gestão da coisa pública ou nós estamos aqui pensando em dar passos para trás e retomar aquela impunidade como regra que tínhamos não há muito tempo atrás? Seria terrível se algo desta espécie acontecesse.”



Posted on dezembro 24, 2017 by Tribuna da Internet


Moro avisa que o STF pode causar um retrocesso
Cleide Carvalho
O Globo




Em frentes brasilianas

Marx, marxismos e juventudes

No meio do caminho...

Havia Josés...

Paulos...

Guilhermes...

Luizes...

Carlos...

Antonios...

Rosas...

Fredericos...

Raoules...

Leandros...

Nices...

E uma juventude transviada...

Em terras brasilianas...


O Jovem Karl Marx - (Trailer legendado em português PT)


José Paulo Netto (UFRJ) - Marx e os marxismos


Trailer oficial: documentário "José Guilherme Merquior - Paixão pela Razão"

O Jovem Karl Marx (Le Jeune Karl Marx) Aos 26 anos, Karl Marx (August Diehl) embarca para o exílio junto com sua esposa, Jenny (Vicky Krieps). Na Paris de 1844, ele conhece Friedrich Engels (Stefan Konarske), filho de um industrialista que investigou o nascimento da classe trabalhadora britânica. Dândi, Engels oferece ao jovem Marx a peça que faltava para completar a sua nova visão de mundo. Entre a censura e a repressão, os tumultos e as repressões políticas, eles liderarão o movimento operário em meio a era moderna. Estreia em 28 de Dezembro de 2017.





Dez anos sem José Guilherme Merquior

Mesa-redonda realizada na Academia Brasileira de Letras no dia 4 de outubro de 2001

Participantes: Acadêmicos Eduardo Portella e Sergio Paulo Rouanet, Prof. Antonio Gomes Penna, Editor José Mario Pereira e Prof. Leandro Konder




Juventude Transviada
Luiz Melodia
 
Lava roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Cada cara representa uma mentira
Nascimento, vida e morte, quem diria
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Hoje pode transformar, e o que diria a juventude
Um dia você vai chorar, vejo clara as fantasias
Composição: Luíz Melodia



O Jovem Karl Marx - Trailer Original


O Jovem Karl Marx - Filme Completo

E Agora José
Paulo Diniz
Compositor: Carlos Drummond De Andrade



E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,

e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,
está sem carinho,
está sem discurso,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope
você marcha, José!
José, para onde?

Referências

https://youtu.be/epZ8UtRdLlM
https://youtu.be/O9FaiLqLoPQ
https://youtu.be/RrNd8TMHwOg
https://www.youtube.com/watch?v=ypD-WlKNEe0
http://www.academia.org.br/abl/media/depoimentos5.pdf
https://www.letras.mus.br/luiz-melodia/47115/
https://youtu.be/ypD-WlKNEe0
https://youtu.be/R_4NS50okUc

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Gurufim dos Perus


Gurufim
Cláudio Camunguelo
  

Eu vou fingir que morri
Pra ver quem vai chorar por mim
E quem vai ficar gargalhando no meu gurufim
Quem vai beber minha cachaça
E tomar do meu café
E quem vai ficar paquerando a minha mulher

Quando o caixão chegar
Eu me levanto da mesa
E vou logo apagar
As quatro velas acesas
E vou dizer pra minha mãe
Não chora
Amigo a gente vê é nessa hora
Composição: Jorge Carioquinha


Como naquele velho samba do Cláudio Camunguelo, Meu Gurufim — “eu vou fingir que morri, pra ver quem vai chorar por mim” —, as raposas do PMDB, PT, PSDB e DEM, principalmente, lideraram as modificações nas regras do jogo para beneficiar os grandes partidos e seus caciques. 

Luiz Carlos Azedo: A festa dos perus

O grande problema das eleições de 2018 é a disparidade de meios de campanha, em termos de tempo de televisão e recursos financeiros

Um velho ditado da política diz que não se convida os perus para a festa de Natal. É mais ou menos o que se tentou fazer na reforma política, por meio das redes sociais e dos movimentos políticos emergentes, com os grandes partidos brasileiros, sem sucesso.






O Peru
Raça Pura
  


O peru é um grande penetra
Não foi convidado pra entrar na festa
A moçada querendo rangar
Pegou o peru pra poder cozinhar
Encheram o papo do peru de pinga
Pra derrubar o peru
Seu peru não dorme de toca
De véspera não quis morrer
Quando a pinga subiu a cabeça
E o samba comeu pra valer
Seu peru levantou de repente
E começou a tremer
Foi aquele bafafá laiá
Foi aquele arerê laiá
Foi aquele pega-pega 
Quando o peru começou a tremer
Pega o peru, segura o peru
Amansa o peru pra comer o peru Glu Glu
Já saiu, já entrou, Peru já caiu, levantou.
Composição: Kinó Fiais / Rogério Gaspar 


GURUFIM NA MANGUEIRA

Fiction, 26min., 35mm, BRASIL/USA, 2000. A young maestro and community leader dies suddenly. Family and friends gather at Mangueira Samba School rehearsal building to pay last respects. But amazing things will happen in this unique funeral ceremony. Original title: GURUFIM NA MANGUEIRA.


Pranto de Poeta
Cartola

Em Mangueira
Quando morre
Um poeta
Todos choram

Vivo tranqüilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira
É tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra agente

Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro ou de um tamborim
Composição: Guilherme de Brito / Nelson Cavaquinho


Pranto de poeta
Guilherme de Brito
 
Em Mangueira
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer

Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente
Hei de ter um alguém
Pra chorar por mim
Através de um pandeiro e de um tamborim.
Composição: Guilherme DeBrito / Nelson Cavaquinho

Referências

https://youtu.be/IIkIZZcTVq4
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/12/luiz-carlos-azedo-festa-dos-perus.html
https://youtu.be/ey5qdX060kY
https://vimeo.com/17491335
https://youtu.be/s_jbHDPslPg
https://youtu.be/nhI8fv1Jlvo
https://youtu.be/qWmvBHvyEio

domingo, 24 de dezembro de 2017

Velhice e inutilidade

Mais um ano vai passando

O novo vem passeando...

Um olhar sobre “Terra e mar”

José Luiz Ribeiro 9 de novembro de 2017
Forum da Cultura UFJF

"(...) a realidade abraça a poesia e nos acalma a alma..." 

“(...) Criar quadros associando esses momentos vividos é recriar, numa liberdade expressiva pontos de fuga em que a realidade abraça a poesia e nos acalma a alma. (...)” José Luiz Ribeiro



“Parabéns prof. José Luiz

Tua inspiração nos encanta e acalma a alma Obrigada!” Vera Lúcia


"O novo tem espaço na sociedade, e o velho não?” é a pergunta que fazemos.









“Ter que ser útil pra alguém é uma coisa muito cansativa.”



Inutilidade

Padre Fábio de Melo: A inutilidade e o amor Ter que ser útil...

A inutilidade e o amor

Ter que ser útil pra alguém é uma coisa muito cansativa. É interessante você saber fazer as coisas, mas acredito que a utilidade é um território muito perigoso porque, muitas vezes, a gente acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele está interessado naquilo que a gente faz por ele. E é por isso que a velhice é esse tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é um momento que a gente purifica, né? É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade.

Porque só nos ama, só vai ficar até o fim, aquele que, depois da nossa utilidade, descobrir o nosso significado. Por isso eu sempre peço a Deus para poder envelhecer ao lado das pessoas que me amem. Aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade de ser inútil, mas ao mesmo tempo, sem perder o valor.

Quero ter ao meu lado alguém que saiba acolher a minha inutilidade. Alguém que olhe pra mim assim, que possa saber que eu não servirei pra muita coisa, mas que continuarei tendo meu valor.

Porque a vida é assim, fique esperto, viu? Se você quiser saber se o outro te ama de verdade é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade. Quer saber se você ama alguém? Pergunte a si mesmo: quem nessa vida já pode ficar inútil pra você sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora?
É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim. Por isso eu digo: feliz aquele que tem ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir do outro: "você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você".
Padre Fábio de Melo



“Que a velhice não nos surpreenda com mais rugas na alma do que no corpo.” Michel Montaigne


Sentir-se jovem - Juca Chaves




Moonlight Serenade
Glenn  Miller Orchestra


Referências

http://pensesobreissso.blogspot.com.br/2011/10/as-perdas-e-o-sentimento-de-inutilidade.html
https://www.pensador.com/frase/MTYxOTc3NQ/
https://youtu.be/mw7DbjNMEcQ
https://youtu.be/8TB_8H23EDI

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Na tal festa cristã

De Presentão a lembrancinhas

O Mundo Velho
Antônio Gomes Leal

Nas crises deste tempo desgraçado,
Quando nos pomos tristes a espalhar
Os olhos pela história do passado...
Quem não verá, contente ou consternado,
- Mundo velho que estás a desabar - ?!... 



Não há sociedade que não dependa de fantasias para se firmar e se reproduzir. O problema é saber quais são os desarranjos que as fantasias promovem.

José de Souza Martins: Os dois Natais
- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana



Nos dias de hoje, ninguém se dá conta das consequências da chegada da árvore de Natal e de Papai Noel ao Brasil. Chegada como coisas, encaixotadas. Vieram em troca do dinheiro que dava em árvore nos cafezais do Rio, de Minas e de São Paulo, nas últimas décadas do século XIX. Vieram como coisas supérfluas (uma caixa de árvores de Natal e outra de quinquilharias, diz o manifesto de um navio alemão, em dezembro de 1890). Mediações de um novo enredo social gerado pelo esvaziamento do que éramos para sermos o inacabado do que nunca conseguiríamos ser. O enredo do faz de conta, das ilusões que se compra em loja, sonho empacotado e perecível.

Fantasias propriamente brasileiras deram revestimento nativo ao bom velho e à árvore. Adaptações. Aqui, tempo de dar presentes para crianças e mesmo adultos não era o dia de Natal, e sim o dia dos Santos Reis, os magos que fizeram a longa viagem para oferecer ao menino da manjedoura incenso, ouro e mirra.

As informações daquela época indicam que os brasileiros não sabiam onde encaixar a árvore, primeiro, e o simpático barbudo, depois. Havia uma certa tendência em favor do dia 1º de janeiro, muitos insistiam no dia 6 de janeiro e alguns começavam a se agarrar ao 25 de dezembro, que afinal venceu. O dia dos Santos Reis foi sendo esquecido, e hoje são poucos os que o celebram.

A dádiva feita em casa, como expressão religiosa de amor e fraternidade, perdeu para o presente comprado em loja. A dádiva natalina era uma forma de comunhão. Vizinhos e parentes trocavam comida: quitandas, arroz-doce, rabanadas, pastéis e até assados, doces para as crianças.

Com a República e o desembarque do Papai Noel imaginário em nossas vidas, o sentido comunitário e propriamente familiar dessas festas encolheu. O presente-mercadoria materializou as relações e reduziu os relacionamentos sociais aos vínculos de indivíduos, não de pessoas.

No padrão que desaparecia não era econômica a motivação das famílias na distribuição de regalos. Dependiam da economia doméstica, de pessoas que tinham cara e nome. Já no novo padrão natalino era o perfil de um Papai Noel interesseiro que entrava furtivamente nas casas, altas horas da véspera de Natal ou do Ano Novo. Assim, fingia modéstia e generosidade. O que excluía do imaginário papanoelino a imensa maioria das pessoas, as precariamente situadas à margem da economia monetária. Ao agir em nome da mercadoria e do dinheiro, Papai Noel introduzia um elemento igualitário nas relações festivas do Natal, sem dúvida. Mas era igualdade abstrata, condição da desigualdade econômica.

Há evidências de um esforço da sociedade brasileira no sentido de reinventar as festas natalinas no novo marco de sua mercantilização, minimizando as perdas simbólicas e rituais. Ainda assim, Papai Noel, à luz da consciência religiosa da sociedade tradicional, tornou-se expressão das iniquidades próprias da modernidade. Crianças ricas eram melhor ouvidas do que as pobres.

A "Revista do Jardim da Infância", da Escola Caetano de Campos, em São Paulo, publicou às vésperas do Natal de 1892 um conto do poeta Gomes Leal em que quatro pequeninas fadas, à meia-noite de 31 de dezembro, aparecem para uma menina pobre, trazendo nas mãos minúsculos presentes. A avó, então, lhe explica, "as filhas dos ricos devem ser as pequenas fadas dos pobrezinhos".

Em 1912, a poetisa parnasiana Francisca Júlia da Silva publica o poema "Duas Bonecas". Uma boneca rica de cera e uma boneca pobre de louça conversam na vitrina de uma loja de brinquedos. A de cera expressa todo seu desprezo pela de louça, o desprezo da boneca rica pela boneca pobre, no confronto óbvio de mercadorias de preço distinto, com qualidades distintas: "Gênero de pouco peso,/ Artigo que vale nada... /Aí tens agora explicada /A causa do meu desprezo".

Papai Noel mudou radicalmente a concepção da alegria infantil dos inocentes. Mas, nas contradições profundas de uma sociedade como a nossa, de riqueza muito concentrada, subjugada por meios moralmente condenáveis, longe do que é próprio do capitalismo, é ele um ser bifronte e ambíguo. Sua suposta bondade revela a crianças e adultos um mundo de maldades e injustiças. Prisioneiro de um mundo de rapina, não tem como superá-las.

O verdadeiro Natal, o da manjedoura, quase sufocado na pequenez restritiva de uma visão de mundo confinada no simplismo da compra e da venda, é o Natal do contraponto crítico no mundo das mercadorias. Não há sociedade que não dependa de fantasias para se firmar e se reproduzir. O problema é saber quais são os desarranjos que as fantasias promovem. Não se trata de optar entre um e outro, mas de ver o falso através do confronto com o verdadeiro.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Política do Brasil Lúmpen e Místico” (Contexto).




Papai Noel: um dos mais importantes símbolos do Natal



10 Embalagens para Presentes de Lembrancinhas de Natal


A Origem do Natal
25 de dezembro era uma data "pagã, podendo ser de origem solar... A Saturnal dos Romanos a precedia" (Nelson*'s Encyclopedia). Era ainda a data "da antiga festa Romana em homenagem ao Sol" (celebrando o nascimento do deus-Sol), segundo a American Encyclopedia. "A Saturnal era uma festa de prazeres desenfreados... A data do Natal foi fixada na mesma época" (M de Beugnot - História, Vol 2, pág 265). "A Igreja... voltando ao paganismo... precisava ter suas festas, e acabou por dar nomes cristãos às festas pagãs já existentes... identificando o Natal à pior das festas pagãs... fixaram para aquela data o nascimento de Cristo.(Aquela data) representava um dos piores princípios do paganismo -- o poder reprodutivo da natureza... A Igreja criou as festas chamadas cristãs, para substituir as pagãs... paganizando o Cristianismo... a fim de manter satisfeitas as mentes carnais do povo" (J. N. Darby - Col. Writtings, Vol. 29). Agostinho registrou que o povo estava tão determinado a ter festas que o clero se sujeitou a isso!


A primeira canção de Natal brasileira a estourar em disco foi “Boas festas”, de Assis Valente, gravada em 1933, por Carlos Galhardo, com arranjo de um orixá: Pixinguinha. A letra é triste pra dedéu e joga água no chope da euforia natalina, afirmando que “Papai Noel com certeza já morreu ou então ...

Boas Festas
Assis Valente


 

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Composição: Assis Valente




Boas Festas
Assis Valente


Papai Noel é uma miragem de Natal e depois da passagem de seu trenó ficto Assis Valente voltava a cantar novamente a ALEGRIA


Alegria
Assis Valente
 
Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.

Da tristeza não quero saber,
A tristeza me faz padecer,
Vou deixar a cruel nostalgia,
Vou fazer batucada,
De noite, e de dia vou cantar.

Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.

Esperando a felicidade,
Para ver se eu vou melhorar,
Vou cantando, fingindo alegria,
Para a humanidade,
Não me ver chorar.

Alegria pra cantar a batucada,
As morenas vão sambar,
Quem samba tem alegria,
Minha gente era triste, amargurada,
Inventou a batucada,
Pra deixar de padecer,
Salve o prazer, salve o prazer.
Composição: Compositor: Assis Valente, Durval Maia






Alegria Orlando Silva

Referências

https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/111460
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/12/jose-de-souza-martins-os-dois-natais.html
https://www.suapesquisa.com/uploads/site/156x133_papai-noel.jpg
https://www.suapesquisa.com/historiadopapainoel.htm
http://www.comofazeremcasa.net/wp-content/uploads/2017/11/lembrancinhas-e-presentes-para-dar-a-amigos-e-parentes-no-natal-9.jpg
http://www.stories.org.br/textos/vsn.html
https://youtu.be/mC0EvZFn3lc
https://youtu.be/BXKGATv3iPI
https://youtu.be/SO88rNE3pBk