terça-feira, 29 de junho de 2021

Não Mexe Comigo

Carta de Amor... "...discursos se cruzam e mutuamente se refletem." Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*
*** Luiz Werneck Vianna, em sua casa, no Rio *** *** https://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2802201107.htm *** *** "Enquanto não se armar uma frente amplíssima, que garanta uma transição sem susto, o regime se mantém por falta de alternativas críveis. O que se apresenta como alternativa é a candidatura do Lula. A candidatura do Lula – com todos os méritos que possa ter e tem –, não tem a capacidade de organizar, reaglutinar e apaixonar a população em torno de uma ação comum. A última manifestação teve um caráter amplo, não foi partidária, mostra por onde se pode ir e por onde se deve avançar. Esse caminho já foi percebido por nós no passado, na luta contra o regime militar: o caminho da amplíssima coalizão que resultou na reabertura com um nome como Tancredo [Neves], que não era um nome marcado ideologicamente; era um democrata liberal, convicto, um homem da negociação. E agora? Não temos nada. A candidatura Lula não ajuda. A grande contribuição que Lula poderia dar – e acho difícil ele fazer isso – é ele mesmo se tornar o peão ou um dos peões da articulação dessa frente amplíssima, na busca por um nome que pudesse representar todos os descontentes, todos os dissidentes, todos os que não se conformam com a grosseria e a estupidez do governo que aí está. Os militares têm que ser considerados. Um pouco do que falei se aplica a eles: quanto mais a frente for ampla e irrestritamente ampla, mais se torna difícil a intervenção militar. Não há como ter uma intervenção contra o conjunto da sociedade mobilizada em torno de uma ideia. O caminho da intervenção militar é o da polarização. Redescoberta a possibilidade democrática para o país, as forças futuras são imensas, de revigoramento dos movimentos sociais, dos partidos democráticos, de um novo parlamento, porque este que está aí é desprezível, é um parlamento que perdeu o léxico da sociedade. O parlamento não é representativo da sociedade brasileira de forma alguma; é um parlamento bolsonarista. As possibilidades no horizonte são muito generosas se soubermos agora articular uma política de frente amplíssima que desloque esse regime. Deslocado, aí o mundo é outro." *Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. Entrevista, IHU On-Line, 26 de junho 2021 *** *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/06/opiniao-do-dia-luiz-werneck-vianna.html *** *** *** Uma charge de 1993 do Aroeira retratou o Bolsonaro como a maior besta da Terra? ***
*** Entenda Direito 27/07/2020 Crimes contra a administração pública: corrupção, peculato, concussão e prevaricação Falamos em crime de corrupção sempre que pensamos no envolvimento de pessoas ligadas à administração pública em desvios. No entanto, além da corrupção, que pode ser ativa ou passiva, há outros crimes que podem ser praticados por agentes públicos, como o peculato, a concussão e a prevaricação. Confira a diferença entre eles. Corrupção ativa e passiva: qual a diferença? Pratica o crime de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal) aquele que oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público como forma de determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato que seria seu de ofício. Já o crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal) é praticado pelo agente público que solicita ou recebe, para si próprio ou para outra pessoa de seu interesse, seja de forma direta ou indireta, alguma vantagem indevida em função do cargo que ocupa. Exemplos – Consideremos a seguinte situação hipotética: um funcionário de cartório pede dinheiro para expedir certidão com teor diferente do que seria o correto. O funcionário público comete o crime de corrupção passiva, enquanto o corruptor (aquele que paga a vantagem indevida) pratica a corrupção ativa. Outra situação: quando alguém oferece dinheiro a um policial para que não seja formalizado o flagrante de um crime. Aquele que paga indevidamente o agente policial, em troca de sua omissão em ato que seria seu dever em função do cargo que ocupa, pratica o crime de corrução ativa, enquanto o policial comete corrupção passiva. Penas – Tanto a corrupção ativa quanto a passiva são crimes com penas previstas de dois a 12 anos de reclusão, além do pagamento de multa. Peculato O crime de peculato (art. 312 do Código Penal) ocorre quando o funcionário público, em proveito próprio ou de outra pessoa, desvia ou apropria-se de dinheiro, valor ou qualquer bem, público ou particular, de que tenha posse em função do cargo. Por exemplo, o tesoureiro de uma repartição pública que se apropria de dinheiro de diárias de outros funcionários, ou um prefeito que utiliza maquinário da prefeitura para fazer uma obra particular, ou ainda um servidor que retira papel sulfite do almoxarifado do órgão público para fazer uso particular dele em sua casa. A pena também é de reclusão de dois a 12 anos e multa. Concussão Caracteriza-se quando o funcionário exige, para si ou para outro, vantagem indevida em razão do cargo que ocupa. Pode ser usado o mesmo exemplo do policial que exige dinheiro para não lavrar um flagrante. Ele está usando a autoridade de sua função para exigir o dinheiro. O crime de concussão (art. 316 do Código Penal) diferencia-se da corrupção passiva, em que também pode haver solicitação de vantagem, porque a concussão é uma exigência que causa temor de represálias, em função do cargo exercido pelo funcionário público. A pena para o crime de concussão é de dois a 12 anos, além de multa. Prevaricação Acontece quando o funcionário retarda ou deixa de praticar, indevidamente, um ato que deveria obrigatoriamente fazer, ou quando pratica um ato de ofício contra disposição expressa da lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Por exemplo, quando um militar deixa de tomar uma providência para beneficiar superior hierárquico, mesmo não recebendo qualquer vantagem com isso. O crime de prevaricação está previsto no art. 319 do Código Penal, e a pena é de detenção de três meses a um ano e multa.
*** *** *** https://comunicacao.mppr.mp.br/2020/07/21357/Crimes-contra-a-administracao-publica-corrupcao-peculato-concussao-e-prevaricacao.html *** *** ***
*** *** Carta de amor Maria Bethânia ...Mexe comigo que eu não ando só Eu não ando só, que eu não ando só Mexe não ...Mexe comigo, que eu não ando só Eu não ando só, que eu não ando só Eu tenho zumbi, besouro o chefe dos tupis Sou tupinambá, tenho erês, caboclo boiadeiro Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris Zarabatanas, curarês, flechas e altares A velocidade da luz no escuro da mata escura O breu o silêncio a espera Eu tenho Jesus, Maria e José Todos os pajés em minha companhia O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos O poeta me contou Não mexe comigo que eu não ando só Que eu não ando só, que eu não ando só Não mexe não Não mexe comigo que eu não ando só Eu não ando só, eu não ando só Não misturo, não me dobro a rainha do mar Anda de mãos dadas comigo Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda o meu corpo Garante meu sangue, minha garganta O veneno do mal não acha passagem E meu coração Maria ascende sua luz, e me aponta o caminho Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã Giro o mundo, viro, reviro, tô no reconcavo, tô em face Vôo entre as estrelas, brinco de ser uma Traço o cruzeiro do sul, com a tocha da fogueira de João menino Rezo com as três Marias Vou além me recolho no esplendor das Nebulosas Descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de Ogum Mergulho no calor da lava dos vulcões, corpo vivo de Xangô Não ando no breu nem ando na treva Não ando no breu nem ando na treva É por onde eu vou que o santo me leva É por onde eu vou que o santo me leva Não ando no breu, nem ando na treva Não ando no breu, nem ando na treva É por onde eu vou que o santo me leva É por onde eu vou que o santo me leva Medo não me alcança, no deserto me acho Faço cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo Meus pés recebem bálsamos, unguento suave das mãos de Maria Irmã de Marta e lázaro, no Oásis de Bethânia Pensou que eu ando só, atente ao tempo Não começa nem termina, é nunca, é sempre É tempo e reparar na balança de nobre cobre que o rei Fulmina o injusto, deixa nua a justiça Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão E pra onde você for, não leva o meu nome, não E pra onde você for, não leva o meu nome, não Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão E pra onde você for, não leva o meu nome, não Não leva o meu nome, não Onde vai, valente? Você secô, seus olhos insones secaram Não vêem brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua cegueira Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som Nem o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe Você pisa na terra mas não sente apenas pisa Apenas vaga sobre o planeta E já nem ouve as teclas do teu piano Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona Não tem alma, você é o oco do oco, do oco, do sem fim do mundo O que é teu já tá guardado Não sou eu que vou lhe dar Não sou eu que vou lhe dar Não sou eu que vou lhe dar O que é teu já tá guardado Não sou eu que vou lhe dar Não sou eu que vou lhe dar Não sou eu Eu posso engolir você, só pra cuspir depois Minha fome é matéria que você não alcança Desde o leite do peito de minha mãe Até o sem fim dos versos, versos, versos Que brota do poeta em toda poesia sob a luz da lua Que deita na palma da inspiração de Caymmi Se choro, quando choro e minha lágrima cai É pra regar o capim que alimenta a vida Chorando eu refaço as nascentes que você secou Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio Vivo de cara pra o vento na chuva e quero me molhar O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito Sou como a haste fina que qualquer brisa verga Mas nenhuma espada corta Não mexe comigo que eu não ando só Que eu não ando só, que eu não ando só Não mexe, não Não mexe comigo que eu não ando só Eu não ando só, eu não ando só Não mexe comigo Fonte: Musixmatch Compositores: Paulo Cesar Pinheiro *** Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria. Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autoridade competente para apuração de informação concernente à prática de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pública. (Incluído pela Lei nº 12.527, de 2011) *** LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 Texto compilado Mensagem de veto Produção de efeito Partes mantidas pelo Congresso Nacional (Vide Lei nº 12.702, de 2012) (Vide Lei nº 12.855, de 2013) (Vide Lei nº 13.135, de 2015) Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. PUBLICAÇÃO CONSOLIDADA DA LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990, DETERMINADA PELO ART. 13 DA LEI Nº 9.527, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1997. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: [...] Art. 252. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros a partir do primeiro dia do mês subseqüente. Art. 253. Ficam revogadas a Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952, e respectiva legislação complementar, bem como as demais disposições em contrário. Brasília, 11 de dezembro de 1990; 169o da Independência e 102o da República. FERNANDO COLLOR Jarbas Passarinho Este texto não substitui o publicado no DOU de 12.12.1990 e republicado em 18.3.1998 *** *** http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm *** *** *** Art. 44. O Capítulo IV do Título IV da Lei nº 8.112, de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte art. 126-A: “Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autoridade competente para apuração de informação concernente à prática de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pública.” *** LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011. Mensagem de veto Vigência Regulamento (Vide Lei nº 14.129, de 2021) Vigência Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º , no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: [...] Art. 45. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em legislação própria, obedecidas as normas gerais estabelecidas nesta Lei, definir regras específicas, especialmente quanto ao disposto no art. 9º e na Seção II do Capítulo III. Art. 46. Revogam-se: I - a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005 ; e II - os arts. 22 a 24 da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Art. 47. Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias após a data de sua publicação. Brasília, 18 de novembro de 2011; 190º da Independência e 123º da República. DILMA ROUSSEFF José Eduardo Cardoso Celso Luiz Nunes Amorim Antonio de Aguiar Patriota Miriam Belchior Paulo Bernardo Silva Gleisi Hoffmann José Elito Carvalho Siqueira Helena Chagas Luís Inácio Lucena Adams Jorge Hage Sobrinho Maria do Rosário Nunes Este texto não substitui o publicado no DOU de 18.11.2011 - Edição extra * *** *** http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm *** *** *** Governo decide suspender contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin Ministro da CGU anunciou auditoria para identificar eventuais irregularidades. À CPI da Covid, servidor do Ministério da Saúde e deputado irmão dele apontaram indícios de corrupção. Por Pedro Henrique Gomes, G1 — Brasília 29/06/2021 17h21 Atualizado há um minuto ***
*** *** Após denúncia, Saúde suspende contrato da Covaxin e anuncia investigação | CNN 360º *** CNN Brasil Após polêmicas envolvendo o contrato para a compra da vacina indiana Covaxin, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu suspender a negociação, intermediada pela farmacêutica brasileira Precisa Medicamentos. "O Ministério da Saúde vai fazer uma apuração administrativa, para verificar todos os aspectos da temática que foi suscitada a partir do final da semana passada. Assim que tivermos dados mais concretos, vamos comunicar a imprensa", afirmou Queiroga em coletiva na tarde desta terça-feira. *** *** *** https://www.youtube.com/watch?v=TRxO-VlTcJA *** *** *** Ministério da Saúde suspende contrato para compra da Covaxin Os ministros Marcelo Queiroga, da Saúde, e Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU), anunciaram nesta terça-feira (29) a suspensão do contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O contrato da Covaxin se tornou alvo da CPI da Covid no Senado e do Ministério Público Federal depois que o servidor Luis Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde, e o irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), denunciaram "pressão atípica" dentro da pasta pela aceleração da compra da vacina. O ministro Wagner Rosário afirmou que o contrato permanecerá suspenso enquanto a CGU estiver realizando, por meio de auditoria, uma "revisão do processo" de aquisição da vacina, a fim de identificar eventuais irregularidades. "O tempo de suspensão vai durar tão somente durante o prazo de apuração. Nós colocamos a equipe para fazer uma apuração, uma equipe reforçada para ser bastante célere nesse processo e esperamos em não mais de dez dias ter uma resposta sobre essa análise", disse Rosário. Segundo o ministro, o objetivo é ter "certeza" de que não há "mácula" no contrato. "A partir daí, a decisão de contratação ou não é um ato de gestão do ministro da Saúde, não cabe à CGU. A CGU está suspendendo o processo única e exclusivamente para verificação de possíveis irregularidades trazidas por um servidor que alega algum tipo de irregularidade que ele não consegue ainda especificar qual é", afirmou Rosário. Em depoimento à CPI, os irmãos Miranda disseram ter procurado o presidente Jair Bolsonaro para alertar sobre suspeitas de corrupção em relação à compra de 20 milhões de doses do imunizante. Em contraste com a negociação de outras vacinas, a da Covaxin envolvia uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos. Além disso, a Covaxin é a mais cara das vacinas negociadas pelo Brasil. Bolsonaro confirmou o encontro com os dois irmãos, mas negou que eles tivessem relatado suspeitas de corrupção. Senadores apontaram prevaricação e apresentaram ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra o presidente. Marcelo Queiroga disse que o Ministério da Saúde vai fazer uma "apuração administrativa", embora, em nota, o a pasta tenha informado que não identificou irregularidades no contrato. A decisão de suspender o contrato, segundo a nota, terá por objetivo fazer uma "análise mais aprofundada". "De acordo com a análise preliminar da CGU, não há irregularidades no contrato, mas, por compliance, o Ministério da Saúde optou por suspender o contrato para uma análise mais aprofundada do órgão de controle. Vale ressaltar que o Governo federal não pagou nenhum centavo pela vacina Covaxin", diz a nota. Versões do governo O governo já apresentou três versões diferentes para o caso da Covaxin. A primeira reação do Palácio do Planalto foi tentar desqualificar as acusações do chefe de importação do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda. Apontou-se adulteração do documento que previa o pagamento antecipado de US$ 45 milhões para uma empresa sediada em Cingapura, um paraíso fiscal (vídeo abaixo). Onyx sobre Covaxin: ‘Não houve favorecimento, não houve sobrepreço, não houve compra alguma’ *** *** "Não houve compra alguma", diz Onyx Lorenzoni sobre contrato da Covaxin *** Jornal da Record O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, falou sobre a denúncia de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. O governo afirma que nunca houve superfaturamento, pois o preço da Covaxin - 15 dólares por dose - era o mesmo valor informado pelo fabricante e estava dentro de uma variação de 30% entre o preço médio das vacinas em negociação pelo Ministério da Saúde. *** *** https://www.youtube.com/watch?v=xiTvni0PjoI *** *** Onyx sobre Covaxin: ‘Não houve favorecimento, não houve sobrepreço, não houve compra alguma’ Depois, ficou provado que o documento estava no sistema do Ministério da Saúde e que não havia sido fraudado (vídeo abaixo). ***
*** *** Covaxin: e-mails da Saúde indicam que é autêntica fatura de compra apontada como falsa pelo governo *** JN, Globo, 24/06/2021. As suspeitas de irregularidades no contrato do Ministério da Saúde para comprar a vacina indiana Covaxin dominaram o cenário político. De um lado, o governo federal se mobiliza para tentar reduzir o impacto das denúncias. De outro, a CPI da Covid apresenta novos documentos e se prepara para ouvir o servidor que disse ter alertado o presidente Bolsonaro. Pouco depois das 8h, os três senadores governistas da CPI da Covid, Marcos Rogério, do Democratas, Jorginho Mello, do PL, e Ciro Nogueira, do Progressistas, já estavam no Palácio do Planalto. O governo queria unificar o discurso sobre a compra da Covaxin. Eles se reuniram com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, que na quarta-feira (23) assumiu a linha de frente da defesa do governo em um longo pronunciamento à imprensa. Os senadores saíram do Planalto com uma informação que na quarta-feira não tinha sido apresentada por Lorenzoni: a de que o presidente Bolsonaro, depois de ser informado sobre irregularidades no contrato pelo servidor Luís Ricardo Miranda, repassou a denúncia para Eduardo Pazuello. Na quarta-feira à noite, Pazuello foi chamado para uma conversa com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Pazuello ainda ficou no ministério organizando a transição para a posse de Queiroga até o dia 23, quando foi oficialmente exonerado do cargo, ou seja, foram só dois dias entre o encontro de Bolsonaro com Luís Miranda, num sábado, e a saída de Pazuello do ministério, na terça, quando não poderia mais solicitar informações e coordenar investigações na pasta porque não tinha mais poder para isso. O negócio do governo com a Covaxin, de R$ 1,6 bilhão, envolve uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos, que representa no Brasil a fabricante indiana Bharat Biotech. O Ministério Público Federal em Brasília já apontou inconsistências no contrato de compra e distribuição das vacinas. O contrato foi assinado em fevereiro. Em março deste ano, Luís Ricardo Miranda, chefe de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde do Ministério da Saúde, prestou depoimento à procuradora Luciana Loureiro e disse que vinha recebendo pressão da área superior. O servidor Luís Ricardo apresentou o recibo da empresa Madison Biotech prevendo um pagamento antecipado pela importação da Covaxin. O servidor disse que se recusou a assinar o recibo. Na quarta-feira, em um pronunciamento no Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, negou todas as suspeitas de irregularidade na contratação das vacinas da Covaxin. Na quarta-feira, no fim do dia, a própria empresa Precisa desmentiu as afirmações de Onyx Lorenzoni e de Élcio Franco. A empresa informou ao jornal O Globo que enviou três versões do recibo durante a negociação com o ministério. O documento apresentado pelo servidor Luís Ricardo Miranda então não seria uma fraude. Além do desmentido da Bharat Biotech, uma troca de e-mail do Ministério da Saúde com a farmacêutica também confirma a autenticidade do documento que Lorenzoni disse que foi fraudado. A TV Globo teve acesso a esse recibo que está no sistema do ministério e é datada do dia 19 de março. É a primeira versão da negociação. Depois, foram elaboradas outras versões, as que o ministro Onyx Lorenzoni e o ex-secretário do Ministério da Saúde Élcio Franco apresentaram na quarta-feira à imprensa como verdadeiras. Ainda no pronunciamento de quarta, Onyx acusou os irmãos Luís Ricardo Miranda e Luís Miranda, que é deputado federal pelo Democratas, de calúnia e má-fé. E disse que o presidente Jair Bolsonaro determinou que a Polícia Federal investigue as atividades dos dois e que pedirá à PGR e à CGU para também abrirem investigação sobre os denunciantes, e não sobre as possíveis irregularidades na negociação. Na quarta-feira mesmo, a atitude do governo foi duramente criticada por senadores, que consideraram que houve uma clara tentativa de interferência e coação. Nesta quinta-feira, os senadores abriram a sessão falando sobre as medidas que vão ser tomadas. A cúpula da CPI reafirmou as críticas ao comportamento do ministro Onyx Lorenzoni e confirmou que vai convocá-lo para depor. A CPI pediu proteção policial para Luís Ricardo Miranda e o deputado Luís Miranda, que depõem nesta sexta-feira (25). Questionado sobre o contrato, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, insistiu na resposta que vem dando desde o início da semana, quando as denúncias vieram ao público: “Não foi pago um centavo e nem vai ser. Essa questão está no jurídico do Ministério da Saúde.” O ministro desconsidera que, três dias depois da assinatura do contrato, em fevereiro deste ano, o governo empenhou R$ 1,6 bilhão para a compra, ou seja, reservou esse valor, que não pode ser gasto com outra vacina nem com outro medicamento. Júlio Mosquéra, Jornal Nacional. *** *** *** https://www.youtube.com/watch?v=7nSpdeQBaJk *** *** E-mails da Saúde indicam que é autêntica fatura de compra apontada como falsa pelo governo E-mails da Saúde indicam que é autêntica fatura de compra apontada como falsa pelo governo Diante dessa constatação, o governo divulgou uma segunda versão para o caso — a de que o presidente da República encaminhou as acusações para serem checadas pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (vídeo abaixo). Contrato Covaxin: governistas dizem que Bolsonaro avisou Pazuello sobre irregularidades Contrato Covaxin: governistas dizem que Bolsonaro avisou Pazuello sobre irregularidades Só que a versão, segundo senadores da CPI da Covid, era muito frágil. Afinal, o encontro entre Bolsonaro, o deputado Luís Cláudio Miranda e o irmão dele, o servidor Luís Ricardo Miranda, aconteceu no sábado, 20 de março. E, na terça-feira seguinte, 23 de março, Pazuello foi exonerado. Considerada essa versão, o ex-ministro teve somente a segunda-feira (22) para checar as informações. Nesta terça-feira, por meio do líder no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o governo divulgou uma terceira versão — a de que Pazuello repassou as acusações para o então secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, apurar (vídeo abaixo). VÍDEO: Fernando Bezerra diz que Bolsonaro alertou Pazuello sobre denúncia um dia antes de o ex-ministro ser demitido VÍDEO: Fernando Bezerra diz que Bolsonaro alertou Pazuello sobre denúncia um dia antes de o ex-ministro ser demitido Franco teria feito uma checagem "criteriosa" sem encontrar irregularidade. O ex-secretário-executivo teve supostamente mais tempo que Pazuello para fazer a checagem (quatro dias) porque foi exonerado na sexta-feira, 26 de março. VÍDEOS: irmãos Miranda na CPI da Covid 14 vídeos VÍDEO: Luis Miranda diz que Ricardo Barros está envolvido na compra da Covaxin VÍDEO: Governistas questionam os documentos apresentados pelo servidor Luis Ricardo Miranda VÍDEO: Luis Ricardo Miranda diz que Covaxin gerou pressão 'atípica e excessiva' MARCELO QUEIROGA MINISTÉRIO DA SAÚDE *** *** https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/06/29/governo-decide-suspender-contrato-para-aquisicao-da-vacina-indiana-covaxin.ghtml *** *** ***
*** O Antagonista AO VIVO: Contrato Cancelado - Papo Antagonista com Diego Amorim | O *** *** *** CONTRATO CANCELADO - Papo Antagonista com Diego Amorim *** O Antagonista *** *** https://www.youtube.com/watch?v=vvyTiUnBbj8 *** *** *** Senadores apresentam notícia-crime contra Bolsonaro por prevaricação Da Agência Senado | 28/06/2021, 17h56 ***
*** BIE - 03/01/2012 - Fachada do Supremo Tribunal Federal, que é a mais alta instância do poder judiciário brasileiro, e acumula tanto competências típicas de uma suprema corte, ou seja, um tribunal de última instância, como de um tribunal constitucional, que seria aquele que julga questões de constitucionalidade independentemente de litígios concretos. Foto: Dorivan Marinho O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Pandemia, apresentou nesta segunda-feira (28) notícia-crime contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. O documento, dirigido ao Supremo Tribunal Federal (STF), pede que Bolsonaro seja denunciado pelo crime de prevaricação — impedir o funcionamento da administração para satisfazer interesse pessoal. Também assinam a peça os senadores Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO). Na sexta-feira (25), em depoimento à CPI, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda informou que sofria pressões para aprovar a aquisição da vacina indiana Covaxin mesmo com irregularidades no processo. Seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), contou que levou o caso a Bolsonaro e disse que o presidente sabia do problema, mas não agiu. A notícia-crime pede ao STF que intime a Procuradoria-Geral da República (PGR) a se manifestar sobre a possibilidade de uma denúncia contra Jair Bolsonaro pelo crime de prevaricação, previsto no artigo 319 do Código Penal. Também quer que o STF cobre de Bolsonaro que responda se teve conhecimento da denúncia dos irmãos Miranda e se tomou providências quanto a elas. Por fim, os senadores pedem que o tribunal exija da Polícia Federal que informe se houve abertura de inquérito sobre o caso Covaxin. Os senadores argumentam que o presidente Jair Bolsonaro, como agente político “da maior envergadura”, tinha a obrigação “inafastável” de levar adiante as denúncias que recebeu do deputado Luis Miranda. Em vez disso, ressaltam, o que se viu foi “uma agilidade ainda maior” para formalizar a aquisição da vacina, mesmo em face dos erros identificados. “Tudo indica que o presidente, efetiva e deliberadamente, optou por não investigar o suposto esquema de corrupção levado a seu conhecimento. A omissão ou se deu por envolvimento próprio, ou por necessidade de blindagem dos 'amigos do rei', numa nítida demonstração do patrimonialismo que ronda o atual governo federal”, afirmam os parlamentares no texto elaborado para a notícia-crime. Randolfe, Contarato e Kajuru destacam, ainda, que a iniciativa é apenas o “embrião” das investigações da CPI sobre o caso, e que elas poderão render evidências de outros crimes, que serão levadas às autoridades judiciais. Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado) Saiba mais A CPI dia a dia Coronavírus: propostas de enfrentamento aprovadas no Senado Veja como foi cada um dos depoimentos à CPI da Pandemia MAIS NOTÍCIAS SOBRE: Código Penal Corrupção CPI da Covid CPI da Pandemia Jair Bolsonaro Ministério da Saúde Polícia Federal Presidente da República Procuradoria-Geral da República SenadoContraCovid19 Senador Randolfe Rodrigues STF Supremo Tribunal Federal IMPRIMIR | E-MAILCompartilhar: Facebook | Twitter | Telegram | Linkedin Veja também CPIs CPI da Pandemia vai ouvir sócio da Precisa Medicamentos na quinta-feira CPIs Depois de depoimento de irmãos Miranda, CPI avalia prorrogação de trabalhos CPIs Após tentativas para não comparecer, Wizard testemunha à CPI nesta quarta Cultura Senadores expressam pesar pela morte do jornalista Artur Xexéo CPIs CPI da Pandemia ouve relator da CPI da Saúde do Amazonas nesta terça-feira Primeira página Após depoimento de irmãos Miranda, CPI avalia prorrogação de trabalhos Após depoimento de irmãos Miranda, CPI avalia prorrogação de trabalhos CPI da Pandemia ouve relator da CPI da Saúde do Amazonas nesta terça-feira CPI da Pandemia ouve relator da CPI da Saúde do Amazonas nesta terça-feira Após adiamentos, Wizard testemunha à CPI nesta quarta Após adiamentos, Wizard testemunha à CPI nesta quarta Senado debate política de reajustes de combustíveis Senado debate política de reajustes de combustíveis Senadores expressam pesar pela morte do jornalista Artur Xexéo Senadores expressam pesar pela morte do jornalista Artur Xexéo Projeto prevê alertas sobre menor desaparecido em redes sociais Projeto prevê alertas sobre menor desaparecido em redes sociais Veja mais destaques › Últimas 28/06/2021 - 18h57 - Comissões Transição ecológica inclusiva no Brasil é tema de webinário internacional na quarta 28/06/2021 - 18h52 - Áudio Diretor da IFI analisa impactos da inflação sobre o teto de gastos em 2022 28/06/2021 - 18h32 - Vídeo Carlos Wizard é um dos três depoentes desta semana na CPI da Pandemia 28/06/2021 - 17h56 - CPIs Senadores apresentam notícia-crime contra Bolsonaro por prevaricação 28/06/2021 - 17h17 - Áudio Confúcio Moura defende projeto sobre parcerias entre governo e terceiro setor *** *** https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/28/senadores-apresentam-noticia-crime-contra-bolsonaro-por-prevaricacao *** *** ***
*** Presidente da CPI da Pandemia divulga cronograma de novos depoimentos *** *** https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2021-06/presidente-da-cpi-da-pandemia-divulga-cronograma-de-novos-depoimentos *** *** *** Só uma frente democrática amplíssima pode levar a “República bolsonarista” à lona. Algumas análises A seguir, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, o pesquisador Roberto Andrés, o cientista social Rudá Ricci e o jornalista Moisés Mendes comentam os desdobramentos da crise política CPI da Covid | Foto: Jefferson Rudy - Agência Senado Por: João Vitor Santos, Patricia Fachin e Ricardo Machado | 28 Junho 2021 As denúncias do servidor público Luis Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, ao Ministério Público Federal, de ter sofrido "pressão" para assinar o contrato da compra da vacina indiana Covaxin, e as farpas trocadas entre seu irmão, o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF), e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), tensionam ainda mais a crise política e reacendem a discussão sobre a possibilidade de impeachment do presidente Bolsonaro, caso as irregularidades nos contratos da compra da Covaxin sejam comprovadas. Na avaliação do sociólogo Luiz Werneck Vianna, os acontecimentos recentes deixaram o governo “mais débil”. Entretanto, afirma, “não estou vendo risco imediato de impeachment”. Na entrevista a seguir, concedida por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, ele diz que o governo ainda tem chances de vencer as eleições presidenciais de 2022, mas não conseguirá se reproduzir além disso. O mais urgente no momento, pontua, é a construção de uma “frente amplíssima”, capaz de “organizar, reaglutinar e apaixonar a população em torno de uma ação comum”. As ruas são uma via, sugere: “A última manifestação teve um caráter amplo, não foi partidária, mostra por onde se pode ir e por onde se deve avançar”. Roberto Andrés ressalta que "para o governo cair há grandes rochedos a serem transpostos. O maior deles é o grande apoio parlamentar que o governo conquistou na Câmara, através da farta distribuição de orçamento (e de orçamento secreto, o Bolsolão) para deputados da velha direita fisiológica, o grupo chamado de Centrão". Em entrevista concedida por e-mail, ele observa que a "retomada econômica pode beneficiar Bolsonaro", que "mesmo no pior momento da pandemia, não perdeu seus 25% de apoio (o que é bastante, indicando um piso alto)". Apesar de as manifestações do dia 19 de junho terem sido maiores e mais diversas do que a realizada no mês passado, Andrés destaca que "ainda não é ‘todo mundo contra Bolsonaro’", mas "manter-se nas ruas e na ofensiva contra o governo, ainda que não for para derrubá-lo, pode ser fundamental para buscar evitar que a parte volátil do eleitorado – o terço intermediário – passe a apoiar Bolsonaro em um contexto de melhora econômica após o fim da pandemia". Rudá Ricci, em entrevista concedida por mensagens de texto via WhatsApp, reconhece o peso das movimentações da semana, mas ainda acha cedo para embarcar nessa ideia de ‘queda da República’ bolsonarista. “Porque as principais forças oposicionistas não desejam passar o bastão para Mourão. Se o vice-presidente assume, retira parte do potencial da candidatura de Lula”, justifica. Para ele, “vivemos uma espécie de movimento circular: as mobilizações de rua exigem o “Fora Bolsonaro”, o campo lulista procura se apresentar como portador da procuração das ruas, empresários procuram viabilizar a terceira via e Arthur Lira mata no peito e procura retirar mais vantagens do governo federal, chantageando com a possível abertura da apreciação do pedido de impeachment”. E por isso sugere que, depois das mobilizações das ruas, chega a hora da negociação. “A partir de agora, as lideranças dessas mobilizações precisam vir a campo para negociar a mudança do país. Sem isso, podemos retornar à situação de 2013 em que tantos saíram às ruas e nada foi negociado”, pontua. Para o jornalista Moisés Mendes, “Bolsonaro derreteu”. “O Centrão saltará fora quando se sentir em prejuízo por apoiar um governo perto do fim, e os militares são imprevisíveis e inconfiáveis. Os empresários e o que se chama genericamente de mercado, mesmo silenciosos, dão sinais de que já saltaram fora”, observa, em entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos, ontem à noite, ainda quando acompanhava a sessão da CPI no Senado. Além disso, observa que “Bolsonaro não tem apoio explícito do poder econômico, é inimigo da grande imprensa, perdeu boa parte do que seria sua base social de raiz (especialmente os ricos e ressentidos de classe média e boa parte dos evangélicos) e aparece muito mal nas pesquisas”. Além disso, Moisés ressalta que as manifestações de rua parecem estar ganhando peso. “É possível derrubar um governo fazendo um ato por mês? Claro que não. O Brasil tenta retomar as manifestações de rua como país retardatário”, sopesa. “O dado relevante é que as duas manifestações de maio e junho tiveram ampla participação dos jovens. Mas o que explica a apatia nas universidades? As novas manifestações marcadas para 24 de julho podem dizer se avançaremos em quantidade e vitalidade ou se continuaremos no mesmo patamar”, acrescenta. Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo - USP, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012). Destacamos também seu novo livro intitulado Diálogos gramscianos sobre o Brasil atual (FAP e Verbena Editora, 2018), que é composto de uma coletânea de entrevistas concedidas que analisam a conjuntura brasileira nos últimos anos, entre elas, algumas concedidas e publicadas na página do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Roberto Andrés é professor na Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e doutorando em História das Cidades na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU-USP. Atualmente é pesquisador visitante na Universidade de Estudos de Florença, na Itália. É editor da revista Piseagrama, pesquisador do grupo Cosmópolis e escreve quinzenalmente sobre cidades no jornal O Tempo. É revisor do Journal of Public Spaces e membro da Rede de Inovação Política da América Latina. Foi pesquisador da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais e é sócio-fundador do Instituto Maria Helena Andrés. Rudá Ricci é graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP, mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. É diretor geral do Instituto Cultiva, professor do curso de mestrado em Direito e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara e colunista político da Band News. É autor de Terra de Ninguém (Ed. Unicamp, 1999), Dicionário da Gestão Democrática (Ed. Autêntica, 2007), Lulismo (Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto, 2010) e coautor de A Participação em São Paulo (Ed. Unesp, 2004), entre outros. Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, escreve para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Porto Alegre: Editora Diadorim, 2016). Foi colunista e editor especial do jornal Zero Hora, no Rio Grande do Sul. Confira a entrevista. IHU On-Line - A "queda da República" está próxima? Luiz Werneck Vianna – Não sei (risos). Não dá para prever. Neste país não dá para prever nem o passado, porque muda tudo. Com toda essa situação, o governo se tornou mais débil. Não estou vendo risco imediato de impeachment. Pode ser que as coisas avancem de forma imprevisível, porque a audiência do deputado federal [Luis] Miranda na CPI é hoje à tarde [25-06-2021]. Não sei o que vai se passar lá. O fato é que a declaração bombástica de Onyx Lorenzoni se demonstrou falsa, apenas um recurso de intimidação patético, e que hoje deve ser desmoralizada. Agora, para a queda iminente do regime, não creio que sejam essas as condições. ***
*** Werneck Vianna (Foto: Acervo IHU) *** O que dá para saber é que este regime não se reproduz e está condenado a ter uma sobrevida com as eleições, mas, dificilmente, depois delas. Mesmo que vença as eleições de 22, é um fim de linha. O governo perdeu todas as propostas e todo o seu ímpeto não só por causa da pandemia, mas porque suas políticas eram desastrosas. Políticas desastrosas levam, inevitavelmente, ao desastre. O que dá para saber é que este regime não se reproduz e está condenado a ter uma sobrevida com as eleições, mas, dificilmente, depois delas - Luiz Werneck Vianna Tweet Roberto Andrés - O dia 23 de junho, véspera de São João, foi de fogaréu no governo. As entrevistas do deputado – governista – Luís Miranda para a imprensa deram força aos indícios de corrupção no contrato de compra da vacina da Covaxin. A resposta do governo, como costuma ser, através da entrevista do Onyx Lorenzoni, foi colocando mais lenha na fogueira. Com um discurso agressivo, Lorenzoni cumpriu a tradição das boas máfias e ameaçou o denunciante. Esse é o movimento público – não se sabe que tipo de costuras estão acontecendo nos bastidores. ***
*** Roberto Andrés (Foto: Ricardo Machado | IHU) *** O caso da Covaxin tem grande potencial simbólico, porque liga os pontos. Se comprovada a denúncia, trata-se de um presidente que foi avisado da corrupção na compra de vacinas dentro do seu governo e que não fez nada. Conectando isso com a inação do governo na compra da vacina da Pfizer, chega-se à conclusão de que o governo atrasou a compra da Pfizer com a desculpa de que ela era muito cara (R$50), e se dedicou à compra da Covaxin por R$80 para desviar dinheiro público. Como os primeiros lotes da vacina da Pfizer chegariam já em dezembro de 2020 e a Covaxin nunca chegou, a suspeita de corrupção passa a ter relação direta com a falta de vacinas e as milhares de mortes decorrentes. Chega-se à conclusão de que o governo atrasou a compra da Pfizer com a desculpa de que ela era muito cara (R$ 50), e se dedicou à compra da Covaxin por R$ 80 para desviar dinheiro público - Roberto Andrés Tweet Tudo isso abriu o maior flanco de enfraquecimento do governo Bolsonaro desde o seu início, já que vem encadeado a uma série de fatores: as 500 mil mortes, que cada vez mais gente relaciona com a má gestão de Bolsonaro; a CPI da Covid, que tem tido um papel relevante, ainda que com altos e baixos, em pautar o debate público sobre as omissões do governo; o retorno de Lula ao jogo eleitoral, pontuando bem nas pesquisas e representando uma alternativa real de vitória sobre Bolsonaro em 2022; as duas manifestações de oposição, que demonstraram força; e, agora, uma denúncia grave de corrupção, vinda de uma apuração do Ministério Público Federal - MPF e de um deputado da base aliada. Agora, tudo isso significa que a queda da República está logo na esquina? Não, infelizmente. Para o governo cair há grandes rochedos a serem transpostos. O maior deles é o grande apoio parlamentar que o governo adquiriu na Câmara, através da farta distribuição de orçamento (e de orçamento secreto, o Bolsolão) para deputados da velha direita fisiológica, o grupo chamado de Centrão. As principais forças oposicionistas não desejam passar o bastão para Mourão – Rudá Ricci Tweet Rudá Ricci – Não acredito, porque as principais forças oposicionistas não desejam passar o bastão para Mourão. Se o vice-presidente assume, retira parte do potencial da candidatura de Lula – a candidatura que mais se firma como vitoriosa em 2022, segundo as últimas pesquisas divulgadas. Neste caso, vivemos uma espécie de movimento circular: as mobilizações de rua exigem o “Fora Bolsonaro”, o campo lulista procura se apresentar como portador da procuração das ruas, empresários procuram viabilizar a terceira via e Arthur Lira mata no peito e procura retirar mais vantagens do governo federal, chantageando com a possível abertura da apreciação do pedido de impeachment. Na medida em que o governo se desfaz, Lula e Arthur Lira crescem. Rudá Ricci na Unisinos Porto Alegre em 2019 (Foto: Ricardo Machado | IHU) Enquanto isso, os irmãos Miranda prometem uma bomba que será, segundo dizem, o início do fim do governo federal. Essa ofensiva, a liberação política de Lula pela justiça brasileira, as pesquisas de intenção de votos, a prisão e perseguição de expoentes do bolsonarismo e a sequência de manifestações “Fora Bolsonaro” criam uma “tempestade perfeita” que poderá caducar o script que citei acima. O Centrão saltará fora quando se sentir em prejuízo por apoiar um governo perto do fim, e os militares são imprevisíveis e inconfiáveis – Moisés Mendes Tweet Moisés Mendes – Bolsonaro tem hoje apenas o suporte do Centrão e dos militares. O Centrão saltará fora quando se sentir em prejuízo por apoiar um governo perto do fim, e os militares são imprevisíveis e inconfiáveis. Os empresários e o que se chama genericamente de mercado, mesmo silenciosos, dão sinais de que já saltaram fora. Bolsonaro não tem apoio explícito do poder econômico, é inimigo da grande imprensa, perdeu boa parte do que seria sua base social de raiz (especialmente os ricos e ressentidos de classe média e boa parte dos evangélicos) e aparece muito mal nas pesquisas. Bolsonaro derreteu. O problema está nas indecisões das elites e da própria esquerda, que não sabe o que poderia ganhar hoje com o impeachment de Bolsonaro. ***
Moisés Mendes (Foto: Famecos - PUCRS) *** IHU On-Line - Que avaliação faz das manifestações que ocorreram no último final de semana contra o presidente? O que elas indicam? Luiz Werneck Vianna – As manifestações deram uma demonstração de vigor e estão indicando que as próximas serão ainda mais intensas. O caminho para derrotar esse regime é este mesmo: as ruas, porque a operação de levar o Centrão para dentro do governo blindou o presidente. Pelo parlamento, dificilmente passará um impeachment. Este é o pior parlamento da história da República. As manifestações deram uma demonstração de vigor e estão indicando que as próximas serão ainda mais intensas - Luiz Werneck Vianna Tweet As manifestações de 19 de junho foram maiores e mais diversas que as de 29 de maio, e isso é importante: aconteceram em mais cidades, com maior número de pessoas e maior amplitude do espectro político - com a presença de movimentos de centro, como o movimento Acredito, e figuras da centro-direita, como Roberto Freire. Ainda não é "todo mundo contra Bolsonaro", mas já é um passo adiante. As manifestações têm papel fundamental de manter pressão no governo e de disputar a pauta política. Seja qual for o desfecho do governo Bolsonaro – se é que ele terá um desfecho nos próximos anos –, o que é certo é que o processo não será fácil. A retomada econômica pode beneficiar Bolsonaro e ele, mesmo no pior momento da pandemia, não perdeu seus 25% de apoio (o que indica um piso alto). Manter-se nas ruas e na ofensiva contra o governo, ainda que não for para derrubá-lo, pode ser fundamental para vencê-los nas urnas. Seja qual for o desfecho do governo Bolsonaro – se é que vamos conseguir vencê-lo nos próximos anos –, o que é certo é que o processo não será fácil - Roberto Andrés Tweet As ruas são importantes também como forma de cura, como comentei no Twitter. A pandemia deixou as pessoas em luto pela perda de familiares e amigos, mas também entristecidas e enfraquecidas pela dureza de toda a situação. No encontro com os outros, a melancolia perde força e o protesto acaba por ser uma forma de superação do luto. Manuel Castells escreve que "o big bang de um movimento social começa quando a emoção se transforma em ação". Ele argumenta que os encontros presenciais nas ruas são capazes de converter medo em entusiasmo, que desemboca na ação. Após um ano e meio de pandemia, esse movimento se dá com corpos exauridos, atomizados e estressados. Converter medo em entusiasmo é importante para a disputa política, mas também para nós mesmos, para a saúde emocional de cada um. As lideranças dessas mobilizações precisam vir a campo para negociar a mudança do país. Sem isso, podemos retornar à situação de 2013 em que tantos saíram às ruas e nada foi negociado – Rudá Ricci Tweet Rudá Ricci – Que elas já se tornam irresistíveis. Que são muito maiores que as manifestações bolsonaristas. Que os organizadores conseguiram gestar uma articulação de mais de 600 entidades que há muito não se via. Acontece que, a partir de agora, as lideranças dessas mobilizações precisam vir a campo para negociar a mudança do país. Sem isso, podemos retornar à situação de 2013 em que tantos saíram às ruas e nada foi negociado, gerando a continuação da ordem política. Mais: as manifestações precisam incluir Arthur Lira no seu radar ou a “boiada” continuará passando, como é o caso do PL 490 que altera toda garantia de existência da vida indígena no nosso país. Moisés Mendes – Tivemos duas grandes manifestações até agora. Parece pouco, mas há sinais de que em alguns meses podem crescer e até ter uma sequência menos esparsa. É possível derrubar um governo fazendo um ato por mês? Claro que não. O Brasil tenta retomar as manifestações de rua como país retardatário. Por que não acontecem aqui as manifestações que acontecem ou aconteceram no Chile, Equador, Colômbia, Peru? É uma questão a ser analisada mais adiante. A ressaca de 2013 e o golpe de 2016 podem ser parte da explicação. O dado relevante é que as duas manifestações de maio e junho tiveram ampla participação dos jovens. Mas o que explica a apatia (desde muito antes da pandemia) nas universidades? As novas manifestações marcadas para 24 de julho podem dizer se avançaremos em quantidade e vitalidade ou se continuaremos no mesmo patamar. Por que não acontecem aqui as manifestações que acontecem ou aconteceram no Chile, Equador, Colômbia, Peru? É uma questão a ser analisada mais adiante. A ressaca de 2013 e o golpe de 2016 podem ser parte da explicação – Moisés Mendes Tweet IHU On-Line - O que muda no xadrez político, e na correlação de forças entre Bolsonaro e o Centrão, com o escândalo da Covaxin e das disputas econômicas e empresariais? E os militares, como ficam nesse cenário? Luiz Werneck Vianna – A economia está arruinada; não há promessas de melhora. O país se comprometeu com o caminho equivocado em matéria econômica e por ora não tem como sair disso. É preciso uma outra coalizão de forças para o país redescobrir novas possibilidades de desenvolvimento e crescimento econômico. Estamos comprometidos com uma política colonial, de exportação de commodities: antes era o café, o açúcar e agora é a soja, o gado. São atividades que podem ser muito rentáveis para os setores específicos, mas que não são capazes de difundir riquezas no país e não criam empregos. Precisamos reestruturar inteiramente a economia para que o país possa crescer. Enquanto estivermos nessa coisa pendular Bolsonaro versus Lula, não avançaremos bem. Não se trata de repor o passado. Trata-se de cavar o caminho do futuro - Luiz Werneck Vianna. Tweet Outra coisa que conspira contra a reprodução do atual regime é a política americana do [Joe] Biden não só em matéria ambiental, mas em matéria social. Penso que uma peça-chave disso vai ser o embaixador americano no Brasil. O perfil dele vai dar demonstrações claras de qual será o sentido da política americana para o país. Imagino que seja um embaixador refratário ao bolsonarismo e ao tipo de obscurantismo praticado no país. Agora, o fato é que nós precisamos avançar para uma direção que só fomos capazes de visualizar abstratamente, qual seja, a de uma frente democrática. Nós não conseguimos, ainda, dar contornos nítidos dessa frente. Não conseguimos, como se diz, “colocar o guizo no pescoço do gato”. Quais serão os próximos capazes de unificar uma amplíssima coalizão democrática? Enquanto estivermos nessa coisa pendular Bolsonaro versus Lula, não avançaremos bem. Não se trata de repor o passado. Trata-se de cavar o caminho do futuro. Por mais que a candidatura do Lula tenha sido prejudicada nas últimas eleições por causa da prisão, não adianta trazer de volta esse passado. Essa é uma página virada. Precisamos virar a página disso, descobrir um caminho novo que ultrapasse essas polarizações do passado. Enquanto não avançarmos nisso, este regime consegue sobreviver, mas é como um náufrago que se agarra numa boia aqui e em outra ali, mas não tem condições de permanecer e não tem condições, sobretudo, de se reproduzir, de constituir uma política de futuro. Ele está morto. Agora, é uma morte anunciada, mas não é de pronta-entrega; ela pode demorar. Enquanto não se armar uma frente amplíssima, que garanta uma transição sem susto, o regime se mantém por falta de alternativas críveis. O que se apresenta como alternativa é a candidatura do Lula. A candidatura do Lula – com todos os méritos que possa ter e tem –, não tem a capacidade de organizar, reaglutinar e apaixonar a população em torno de uma ação comum. A última manifestação teve um caráter amplo, não foi partidária, mostra por onde se pode ir e por onde se deve avançar. Esse caminho já foi percebido por nós no passado, na luta contra o regime militar: o caminho da amplíssima coalizão que resultou na reabertura com um nome como Tancredo [Neves], que não era um nome marcado ideologicamente; era um democrata liberal, convicto, um homem da negociação. E agora? Não temos nada. A candidatura Lula não ajuda. A grande contribuição que Lula poderia dar – e acho difícil ele fazer isso – é ele mesmo se tornar o peão ou um dos peões da articulação dessa frente amplíssima, na busca por um nome que pudesse representar todos os descontentes, todos os dissidentes, todos os que não se conformam com a grosseria e a estupidez do governo que aí está. O regime bolsonarista está morto. Agora, é uma morte anunciada, mas não é de pronta-entrega; ela pode demorar - Luiz Werneck Vianna Tweet Os militares têm que ser considerados. Um pouco do que falei se aplica a eles: quanto mais a frente for ampla e irrestritamente ampla, mais se torna difícil a intervenção militar. Não há como ter uma intervenção contra o conjunto da sociedade mobilizada em torno de uma ideia. O caminho da intervenção militar é o da polarização. Redescoberta a possibilidade democrática para o país, as forças futuras são imensas, de revigoramento dos movimentos sociais, dos partidos democráticos, de um novo parlamento, porque este que está aí é desprezível, é um parlamento que perdeu o léxico da sociedade. O parlamento não é representativo da sociedade brasileira de forma alguma; é um parlamento bolsonarista. As possibilidades no horizonte são muito generosas se soubermos agora articular uma política de frente amplíssima que desloque esse regime. Deslocado, aí o mundo é outro. Roberto Andrés - Bolsonaro usou o tal orçamento secreto para comprar o parlamento, em um esquema muito maior do que o Mensalão mas que não teve pequena parte de sua repercussão. Com Arthur Lira à frente da Câmara e organizando essa base aliada, o governo parece ter uma barreira intransponível que lhe garante chegar inteiro até as eleições do ano que vem. Esse é o cenário mais provável, mas a história mostra que a blindagem do Centrão é intransponível até o dia em que deixa de ser. Bolsonaro usou o tal orçamento secreto para comprar o parlamento, em um esquema muito maior do que o Mensalão, mas que não teve pequena parte de sua repercussão - Roberto Andrés Tweet A denúncia feita pelo deputado Luís Miranda, um bolsonarista enrolado em mutretas e próximo ao presidente, indica que algo pode começar a se mover. Talvez a base do presidente tenha ficado grande demais – e é difícil agradar a todos ao mesmo tempo, porque os recursos que o governo usa para atender esta base (cargos, verba pública) são, obviamente, limitados. A história também mostra que, a partir de certos gatilhos, o processo de erosão do apoio parlamentar do Centrão pode começar a correr com certa velocidade, em dinâmica de retroalimentação. O ponto de mudança está na percepção de poder. Se os escândalos de corrupção, somados à inoperância no enfrentamento à crise sanitária, passam a abalar demais o governo e reduzir sua popularidade, fica mais cara a manutenção do apoio dos deputados. Aí, alguns começam a abandonar o barco. Cada um que sai faz subir o preço dos que ficam. A tendência é uma espiral de abandono do governo. Isso vai ocorrer no governo Bolsonaro? Neste momento a base está bem atendida com verbas, cargos e leis que favorecem seus esquemas, mas a crise atual coloca mais riscos no horizonte. Os militares seguem na posição de fiel da balança: a possibilidade de apoiarem o golpismo de Bolsonaro torna o horizonte político do país muito perigoso - Roberto Andrés Tweet Os militares seguem em posição muito confortável. São sócios do governo desde o início. Receberam sua parte em ministérios, milhares de cargos, bônus salariais e privilégios diversos. Participaram da tragédia que foi a gestão sanitária de Bolsonaro - com protagonismo de um general da ativa, Pazuello, em uma das piores gestões da pandemia do mundo. Mostraram toda sua incompetência na crise de Manaus e na inoperância para comprar vacinas da Pfizer. Isso sem falar nos indícios de corrupção, como o do tenente-coronel indicado por Pazuello, Alex Lial Marinho, que foi acusado de exercer pressão para a compra irregular da Covaxin. Ainda assim, os militares seguem na posição de fiel da balança: a possibilidade de apoiarem o golpismo de Bolsonaro torna o horizonte político do país muito perigoso. Se desembarcarem do governo, é para operar um plano B. Podem ir fazendo isso aos poucos (talvez já estejam fazendo, com sinais recentes, como a ausência de militares na entrevista de Onyx Lorenzoni sobre o escândalo de corrupção, o sumiço do general Heleno, as entrevistas oscilantes de Mourão). Se entrarmos em um processo de impeachment, os militares terão o bastão para a transição. Ainda que isto não aconteça, e ocorram eleições em 2022 e Bolsonaro perca, o posicionamento dos militares vai ser muito relevante nos desdobramentos da tentativa golpista de Bolsonaro – que dificilmente não ocorrerá. Esta é uma contradição do momento: qualquer saída do autoritarismo bolsonarista demandará algum tipo de acordo com setores das forças armadas, embora eles tenham sido sócios da tragédia que nos trouxe até aqui. Se Bolsonaro ganhar a eleição de 2022, aí a democracia brasileira entra em colapso absoluto. Por isso será necessário o máximo de esforço para evitar este que é o pior cenário para o país. Rudá Ricci – O Centrão é uma força parlamentar que sempre se insinua em todos os governos federais e, a partir daí, faz um pêndulo entre apoio e chantagem ao governo que passa a integrar para retirar o máximo de vantagens para suas bases eleitorais. A chantagem é, portanto, componente fundamental de sua prática política. Em outras palavras, sabemos como o Centrão ingressa num governo, sabemos como mantém ou amplia seu poder no governo e sabemos que raramente permanecem no governo quando do próximo pleito eleitoral. O Centrão pode ser a bússola para entendermos qual o realinhamento que as Forças Armadas farão daqui por diante – Rudá Ricci Tweet Já os militares vivem uma situação de muito desgaste. É a segunda vez, em 60 anos, que eles demonstram incapacidade de governar o país. Tanto durante o regime militar, como agora, entregam um país pior do que receberam. Eles precisam reconstruir sua imagem pública. E, evidentemente, a saída é a recomposição do bloco político no qual se inserem. Possivelmente, este bloco passa pela aliança com o Centrão. Em outras palavras, o Centrão pode ser a bússola para entendermos qual o realinhamento que as Forças Armadas farão daqui por diante. Moisés Mendes – O Centrão precisa antes saquear os saqueadores. Bolsonaro conseguiu até orçamento secreto para a direita, mas conseguiu também apontar quem é o chefe dos corruptos no Centrão, ao denunciar o deputado Ricardo Barros, seu líder na Câmara como chefe da facção da compra superfaturada da Covaxin. Dependendo do que acontecer nos próximos dias e meses, esse apoio desaparece. Bolsonaro passa a ser delator do Centrão, porque pode ter mais gente ligada a Barros nesse caso. A direita traída não vai sustentar Bolsonaro com um país caindo aos pedaços. Pega o que der, com cargos, verbas e partilha de poder, e depois cai fora, como fez contra Dilma. Bolsonaro não tem nem partido. As análises geralmente desprezam a fragilidade do suporte político do sujeito. Bolsonaro é um avulso, uma gambiarra, não é um projeto. Poucos querem se comprometer com o partido dele. Além de estar em permanente confronto com inimigos que juntou entre ex-aliados. A direita não vai sustentar Bolsonaro com um país caindo aos pedaços. Pega o que der, com cargos, verbas e partilha de poder, e depois cai fora – Moisés Mendes Tweet Militares Os militares confundiram como nunca os estudiosos dessa área com o dilema do ovo e da galinha. O projeto é deles, dos militares, ou de Bolsonaro, ou eles só pegaram carona e ganharam empregos? São 6 mil empregos. Pelo menos um general (Pazuello), quatro coronéis e um major estão sob suspeita de participação em corrupção. Ninguém sabe direito se há de fato um projeto militar. Se o projeto era deles e era coerente com uma nova tentativa de controle absoluto do poder, o que explica a debandada dos três chefes militares, que saíram ao mesmo tempo com o ministro da Defesa? Saíram por conta de escrúpulos? Certamente foi porque não queriam ficar sob o comando de Bolsonaro num eventual governo de exceção. Os militares também têm limites. E os limites somente são conhecidos no desfecho de situações graves (é só ver os golpes no Brasil, em 64, no Chile de Pinochet e na Bolívia e agora o que está sabendo armado no Peru). No golpe é que eles mesmos ficam sabendo quem está com quem. Com quem Bolsonaro conta? Não deve ter a menor noção. IHU On-Line – Deseja acrescentar algo? Moisés Mendes – Gostaria de acrescentar então essa pergunta: Os militares continuariam com Bolsonaro se houvesse um golpe? Há uma dúvida grandiosa depois de tantos blefes de Bolsonaro. É esta: um general se submeteria a um déspota do porte de Bolsonaro com pretensos poderes de ditador? Outra pergunta pouco formulada: depois de um golpe, os generais aceitariam compartilhar o poder fardado com as polícias militares e até com milicianos, como Bolsonaro pretende? Bolsonaro deseja que as PMs tenham generais. Ele deve estar pensando hoje que até pode ser capaz de dar um golpe, mas que dificilmente conseguiria sustentá-lo sem outras forças além dos militares. Na Bolívia, o golpe liderado pelas polícias (e que empurrou os chefes militares acovardados para a aventura) durou apenas um ano. O general chefe da turma deu o golpe e fugiu para os Estados Unidos. *** *** http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/610533-so-uma-frente-democratica-amplissima-pode-levar-a-republica-bolsonarista-a-lona-algumas-analises *** ***

CAIADOS E RESSUSCITADOS

*** O TEMPO EM QUE OS ANJOS ENSINARAM SEGREDOS AOS HOMENS Emanuel Araújo Universidade de Brasília Departamento de História *** Bolsonaro se irrita com repórter ao ser questionado sobre compra de vacinas Em uma visita a Sorocaba nesta sexta-feira (25), o presidente disse para a jornalista Victória Abel, da Rádio CBN, voltar para o jardim de infância 25/06/2021 às 15:18 Atualizada em 25/06/2021 às 15:33 Fonte: Portal G1Fotos: Reprodução / Internet e Divulgação ***
*** Foto sobre "Bolsonaro se irrita com repórter ao ser questionado sobre compra de vacinas" *** O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer insultos à imprensa nesta sexta-feira (25) em uma visita a Sorocaba. No período da manhã, Bolsonaro disse para a jornalista Victória Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, depois para o ensino médio, em seguida, para o jardim de infância e aí "nascer de novo". O presidente também falou para os repórteres pararem de fazer "pergunta idiota" e rebateu as acusações sobre corrupção durante negociação de compra da Covaxin, afirmando que o imunizante não foi comprado e que havia somente um erro no documento apresentado pelo servidor do Ministério da Saúde. *** *** Através de nota, a CBN declarou que "repudia o tratamento agressivo e insultuoso de Jair Bolsonaro à repórter Victória Abel. Não foi à repórter que faltou educação nesse episódio. A CBN se solidariza com Victória Abel, que, assim como todos os nossos jornalistas, continuará a fazer seu trabalho para informar os brasileiros". As falas de Bolsonaro foram feitas após jornalistas questionarem o governante sobre a análise de especialistas de que o Brasil poderia ter evitado mortes em decorrência do coronavírus se tivesse adquirido vacinas antes. "Olha só: no dia seguinte, pelo que fiquei sabendo, era um documento que estava feito de forma equivocada. Faltava um 0 lá. Em vez de 200 mil doses eram 3 milhões. E foi corrigido no dia seguinte. Outra, tem algum recibo meu pra ele? Foi consumado o ato? Há dias seguidos aquilo foi retificado", afirmou Bolsonaro. Protestos A visita do presidente a Sorocaba provocou algumas manifestações contrárias ao governo. Um grupo colocou cruzes pretas no parque em frente à sede da prefeitura municipal. O ato foi organizado pelo Coletivo Anticapitalista. Em outros espaços da cidade, faixas e cartazes também foram deixados com críticas ao governo Jair Bolsonaro.
*** *** https://jeonline.com.br/site/uploads/posts/bolsonaro-se-irrita-com-reporter-ao-ser-questionado-sobre-1624645707-7460d6204bed2a7.jpg *** *** *** Bolsonaro volta a insultar a imprensa ao ser questionado sobre vacinas Presidente também se defendeu de acusações sobre corrupção nas negociações, alegando que a vacina não foi comprada e que houve apenas um erro em um documento. Por Júlia Martins, Pâmela Ramos e Eduardo Ribeiro Jr., G1 Sorocaba e Jundiaí 25/06/2021 09h26 Atualizado há 2 dias ***
*** Bolsonaro se defende de acusação de corrupção na Covaxin, diz que vacina não foi comprada e que houve erro em documento. *** Bolsonaro se defende de acusação de corrupção na Covaxin, diz que vacina não foi comprada e que houve erro em documento. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a insultar a imprensa nesta sexta-feira (25) em viagem a Sorocaba (SP), no interior de São Paulo. Novamente descontrolado, Bolsonaro disse para a jornalista Victória Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, depois para o ensino médio, em seguida, para o jardim de infância e aí "nascer de novo". O presidente também disse para os repórteres pararem de fazer "pergunta idiota" e se defendeu das acusações sobre corrupção na negociação de compra da Covaxin, dizendo que a vacina não foi comprada e que havia apenas um erro no documento apresentado pelo servidor do Ministério da Saúde. Governo de SP autua Bolsonaro, três ministros e outras 12 autoridades por não usarem máscara durante evento em Sorocaba Em nota, a CBN disse que "repudia o tratamento agressivo e insultuoso de Jair Bolsonaro à repórter Victória Abel. Não foi à repórter que faltou educação nesse episódio. A CBN se solidariza com Victória Abel, que, assim como todos os nossos jornalistas, continuará a fazer seu trabalho para informar os brasileiros". Bolsonaro volta a insultar imprensa ao ser questionado sobre Covaxin — Foto: Reprodução/TV TEM Bolsonaro volta a insultar imprensa ao ser questionado sobre Covaxin — Foto: Reprodução/TV TEM Temer, sepulcro caiado Arquivado em: Opinião, Últimas Notícias Publicado segunda-feira, 8 de janeiro de 2018 as 09:41, por: CdB Fora Temer, no título acima o dicionário Aulete define “sepulcro caiado”: Na linguagem bíblica, os hipócritas, os fariseus Por Urariano Mota – de Recife: O Dicionário Houaiss é mais preciso: “sepulcro caiado – Indivíduo hipócrita e extremamente legalista (A expressão foi usada, por Jesus, ao dirigir-se aos fariseus, segundo o relato do Evangelho de Mateus.)” ***
*** O presidente de facto Michel Temer fez uma caminhada na manhã de quinta-feira na residência oficial do Palácio do Jaburu *** E de fato, assim falou Jesus, irado: “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas! Pois são semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos mortos e de toda a imundícia”. Os explicadores da Bíblia, bem didáticos, ensinam que Jesus falou da existência de pessoas que agem como um “sepulcro caiado”, ou seja, são podres por dentro, mas com uma aparência de belo (túmulo fétido por dentro, mas com uma bela pedra pintada de cal branco, ou pedras de mármore por fora, escondendo sua verdadeira aparência). Povo Já o povo, menos bíblico, alargou a expressão evangélica para todos os indivíduos que mantêm boa aparência por fora. Mas que estão quebrados, doentes, velhíssimos por dentro. E zombam, e falam às costas, dos sepulcros caiados. Em um caso e outro; se juntarmos a galhofa popular à condenação moral, se aplica o caso de Michel Temer. Pois não pode haver outra interpretação para o que lemos em toda imprensa, que por ser ética; imparcial e objetiva, nada comenta sobre o milagre da recuperação de Michel Temer. Copio do Correio do Estado: “’Recuperadíssimo’; diz Temer durante caminhada no Palácio do Jaburu. Teme O presidente de facto Michel Temer fez uma caminhada na manhã de quinta-feira na residência oficial do Palácio do Jaburu. Questionado por repórteres e fotógrafos sobre sua saúde; Temer afirmou que está “recuperadíssimo”. A imprensa foi avisada de que Temer faria a caminhada. ‘Perfeito, recuperadíssimo, graças a Deus’, disse o presidente. Temer saiu para caminhar de camiseta e calça de ginástica por volta das 8h22. ‘Deus ajuda a quem cedo madruga’, afirmou. Temer, que tratou uma infecção urinária nos últimos dias; caminhou pela pista da residência oficial. Um dos assessores do presidente avisou a imprensa, na quarta à noite; que ele pretendia fazer o passeio matinal e que poderia ser fotografado e filmado durante a atividade… – Eu vi que vocês estavam por aqui e eu não sabia que vocês tinham vindo para fazer essas imagens – disse. Em 13 de dezembro, Temer foi submetido à cirurgia no Hospital Sírio-Libanês; em São Paulo, para desobstruir a uretra. Ele precisou utilizar uma sonda, que já foi retirada. Saúde do presidente Foi a segunda intervenção urológica do presidente, que em outubro; passou por um ‘procedimento de desobstrução uretal através de ressecção da próstata’. No intervalo das cirurgias, ele ainda realizou; em novembro, uma angioplastia de três artérias coronárias”. O que dizer de semelhante ressureição? Antes, eu já havia escrito em maio do ano que passou: A criatura Michel Temer Em todos os significados de fantasma devemos ver a criatura Michel Temer. Temos um presidente que para tão alta honra não foi eleito, primeiro. Temos um fantasma que se tornou a estrela-guia do inferno para os trabalhadores no Brasil, segundo. Temos uma aparição que aliena o petróleo brasileiro para as multinacionais. Temos o beneficiário número 1 da corrupção no congresso; com quem tramou a queda de uma presidenta íntegra. Temos, enfim, com tal fantasma o recuo do Brasil até as trevas dos direitos humanos. Em qual significado poderíamos enquadrar um presidente sem presidência, uma presidência sem presidente; um governo sem governo, uma autoridade cuja ilusão é o cargo vazio? Mas agora, neste janeiro de 2018, ele caminha, quase como um Jesus Cristo sobre as águas. Milagre; depois de cirurgias e uma resistente infecção urinária. Recuperadíssimo! Ah, o povo fala, com muita razão; que vaso ruim não quebra. Ao que um diabo me sussurra: – A exceção existe. Chegou a hora de Temer. – Mas como, se ele está recuperadíssimo?! Ao que o diabo me responde: – No passo em que vai, ele morre bonzinho. De fato, reconheço, Temer já morreu e faz de conta que anda por aí, vivinho. Mas para a visão da sua morte concordam o Diabo e o Apocalipse; que fala, o segundo: “Tens nome de que vives, e estás morto”. Ora, se a Bíblia e o Diabo concordam, quem há de ser contra? Urariano Mota, é jornalista do Recife. Autor dos romances Soledad no Recife, O filho renegado de Deus e A mais longa juventude. *** *** https://www.correiodobrasil.com.br/temer-sepulcro-caiado/ *** *** ***
*** "Caiado ressuscita desbotado com Lázaro morto em sepúlcro." ***
*** DIA DE HORA H - UM MINUTO DE SILÊNCIO - SEGREDO DE 100 ANOS *** "Segredo eterno sobre morte de Lázaro. 100 anos para Pazuello." *** *** "Vacinação começa no dia D e na hora H"; o que Pazuello já falou sobre covid e imunização ***
*** O Tempo em que os Anjos Ensinaram Segredos aos Homens *** "(...) os deuses são potências animadoras da natureza. Esta situa-se no plano da realidade. Apesar de sua infinita diversidade, o real é factualmente único. Um objeto possui apenas uma realidade palpável e quantificável. Todavia, para além do real único da experiência humana, reinam forças ordenadoras do mundo, as quais suscitam o plano da verdade. Esta verdade contém todas as potencialidades do imaginário. Para a física moderna, o real e o verdadeiro devem superpor-se. O antigo egípcio via isso de outro modo: se o real era único, o verdadeiro era múltiplo, conseqüência de sua inacessibilidade imediata. A multiplicidade dos verdadeiros, e portanto das descrições míticas do mundo, autorizava a diversidade de respostas às questões levantadas pelos homens observadores da natureza. Tal multiplicidade de abordagens permitia a justaposição de imagens míticas aparentemente contraditórias.27 (...)" 27. Traunecker (1995: 23-24.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

MINEIRINHO À MARGEM

Timoneiro Paulinho da Viola *** Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso – nesse instante está sendo morto um inocente. ***
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*** COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS SÃO CRISTÓVÃO II LÍNGUA PORTUGUESA 8º ANO NOME: ________________________________________Nº:_____ TURMA:_____ GABARITO - Ficha de Revisão em sala 1) A morte de Mineirinho. 2) O texto 1 foca a reação das pessoas e moradores do morro da Mangueira ao assassinato, assim como a brutalidade do crime. Já o texto 2 dá detalhes da situação da morte, o tiroteio, o confronto com a polícia. 3) A primeira manchete humaniza Mineirinho ao destacar o fato dele ter uma oração no bolso quando morreu. Já a segunda manchete comemora a morte, evidente pela ideia de que, a partir dela, a cidade está pacificada. 4) a) O foco da notícia não é quem encontrou o corpo, mas quem morreu. OU O jornalista não quer revelar o assassino. OU O jornalista não sabe exatamente quem matou. b) Encontraram o assaltante José Miranda Rosa, “Mineirinho”, morto no Sítio da Serra, na Estrada Grajaú-Jacarepaguá. OU Encontraram o cadáver crivado de balas do facínora “Mineirinho”, ontem, à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá. 5) A enumeração deixa evidente a brutalidade da morte. Ela torna a imagem da violência mais vívida, mais impactante. Intensifica o terror das condições da morte do homem para o leitor. 6) a) O uso do pronome de 1ª pessoa do plural inclui o leitor e a sociedade como cúmplices da morte de Mineirinho. A intenção da autora é trazer a responsabilidade para toda a cidade e criar empatia com o morto. b) Sim. Não se sabe exatamente quem é esse “nós”, usado de forma genérica, referenciando todos os leitores, moradores da cidade, membros da sociedade. OU Não. Não se quer indeterminar o sujeito, mas, sim, que o leitor busque determiná-lo - que se identifique com esse “nós”, que perceba que ele fala de todos. Isso é possível pelo contexto. 7) A tese da crônica é que somos responsáveis, como coletividade, pela situação social que gera e mata Mineirinho. Para a autora, não existe crime que justifique outro crime; é preciso ter empatia, e se perceber como responsável pelo terror da violência, tanto causada pelo criminoso, quanto causada pela lei. De certa forma, sim, a crônica defende Mineirinho - mas isso é apenas um aspecto de toda a argumentação. 8) Resposta: a). 9) Resposta: a). 10) A figura de linguagem é aquela que aproxima dois seres opostos: a antítese. 11) Ambos estão envolvidos em crimes violentos, mas Lupion não morre brutalmente como Mineirinho porque era um político importante. Lupion foi acusado e julgado, mas Mineirinho não teve essa chance. *** *** http://www.cp2.g12.br/blog/saocristovao2/files/2019/06/GABARITO-Ficha-de-revis%C3%A3o-em-sala-801-.pdf *** *** ***
*** Mineirinho – por Clarice Lispector 17/02/2014em Em PautaTempo de leitura: 8 mins read clarice linspector 2.2k3612330539 É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irre-dutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”.Por que? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim. Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais — vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. Como não amá-lo, se ele viveu até o décimo-terceiro tiro o que eu dormia? Sua assustada violência. Sua violência inocente — não nas conseqüências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta. Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estre­meça. A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. Só depois que um homem é encontrado inerte no chão, sem o gorro e sem os sapatos, vejo que esqueci de lhe ter dito: também eu. Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho — essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar “feito doido” de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador — em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição. A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, espe­rando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta tran­cada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma. Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer. Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender. Porque quem entende desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo — uma coisa que entende. Essa coisa que fica muda diante do homem sem o gorro e sem os sapatos, e para tê-los ele roubou e matou; e fica muda diante do São Jorge de ouro e diamantes. Essa alguma coisa muito séria em mim fica ainda mais séria diante do homem metralhado. Essa alguma coisa é o assassino em mim? Não, é desespero em nós. Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. É como doido que entro pela vida que tantas vezes não tem porta, e como doido compreendo o que é perigoso compreender, e só como doido é que sinto o amor profundo, aquele que se confirma quando vejo que o radium se irradiará de qualquer modo, se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. Se eu não fosse doido, eu seria oitocentos policiais com oitocentas metralhadoras, e esta seria a minha honorabilidade. Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização. Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento. Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso – nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato. O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno. GIFclispector assinatura Fonte: http://www.ip.usp.br/portal/ , do livro: Para não esquecer. São Paulo: Ática, 1979 – e também em A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964 Analise do conto por Yudith Rosenbaum: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142010000200011 Leitura do conto *** ***
*** mineirinho2 foto: http://www.fotolog.com.br/marginalia_sp/7687763/ ***
*** aef48-mineirinhofilmejpj [ Cartaz do filme de Aurélio Teixeira, em 1967 Mineirinho, que inspirou o conto de Clarice Lispector, foi mais um desses chamados “bandidos”, transformados pela imprensa marrom no inimigo público número um. Para os moradores do morro, Mineirinho era uma versão carioca de Robin Hood. Sua morte com 13 tiros foi noticiada com estardalhaço. Leiam trecho no Correio da Manhã, em 1º de maio de 1962: “José Rosa de Miranda, o Mineirinho, foi encontrado morto, ontem na Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio, com 13 tiros de metralhadora em várias partes do corpo – três deles nas costas e quatro no pescoço – uma medalha de ouro de S. Jorge no peito e Cr$ 3.112 nos bolsos, e sem os seus sapatos marca Sete Vidas, atirados a um canto.” ] retirado de http://jornalrecomeco.blogspot.com.br/2008/04/mineirinho.html Fonte: Revista Pittacos Artigos Relacionados *** 4 comentários Classificar por Mais antigos Adicione um comentário... Adriano Götz Transpondo essa história para os dias de hoje, onde estamos sob o comando de um governo cuja violência é força motriz, "a minha maldade organizada e minha justiça estupidificada" - a despeito de ser um mineirinho criminoso ou um pai de família -, o que resta, como dissera Clarice, "é a vontade de matar". Curtir · Responder · 18 · 2 a Dayane Alves Perfeito seu comentário. Curtir · Responder · 2 a Felipe Roberto Martins Creio que Clarice Lispector ficaria assustada com o que a gente vive no Brasil neste momento... Curtir · Responder · 6 · 1 a Edson Carvalho Este texto representa bem o que aconteceu nesse 25/5/20 em Mineápolis, em que um policial covardemente matou asfixiado um negro. Não exatamente do ponto de vista da vítima - já que Mineirinho acabou se tornando mesmo um bandido e o americano, ao que parece, sequer cometeu alguma infração -, mas do ponto de vista da prepotência policial e a injustiça social. Em determinados trechos do texto, bastaria mudar pouca coisa, como uma palavra - tiros - por outra, “minutos" ou “momento" e Clarice estaria gritando no passado o que se sente hoje aqui neste atual sombrio futuro. Curtir · Responder · 2 · 1 a Odailson Nery Intensa! Curtir · Responder *** *** https://www.geledes.org.br/mineirinho-por-clarice-lispector/ *** *** *** *** https://www.geledes.org.br/mineirinho-por-clarice-lispector/ *** *** ***
*** CORREIO DA MANHÃ por Bruno Brasil 21 JAN 2020 Artigo arquivado em Hemeroteca e marcado com as tags Aliança Liberal, anticomunismo, Arte e cultura, Campanha Civilista, Carlos Lacerda, Censura e repressão, Comércio, Crítica política, Departamento de Imprensa e Propaganda, Ditadura civil-militar brasileira, Economia, Edmundo Bittencourt, Entretenimento, Estado Novo, Getúlio Vargas, Hermes da Fonseca, Liberalismo econômico, Moniz Sodré, Primeira Guerra Mundial, Questões agrárias, Reforma Passos, Revolta da Chibata, Revolta da Vacina, Revolta dos 18 do Forte, Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 1930, Rio de Janeiro, Rui Barbosa, Segunda Guerra Mundial, Tenentismo, União Democrática Nacional, Xenofobia Um dos mais respeitáveis periódicos da imprensa diária de grande tiragem do país, que atingiria tiragens superiores a 200 mil exemplares em seus melhores momentos, o Correio da Manhã nasceu bastante modesto, no Rio de Janeiro (RJ). Fundado por um jovem advogado idealista chamado Edmundo Bittencourt, é considerado hoje um dos mais importantes jornais brasileiros do século XX, dotado de uma ética própria e introdutor de refinamentos textuais que se transformariam na sua marca. Lançado em 15 de junho de 1901, numa época em que a imprensa se mostrava mais explicitamente parcial no jogo do poder, o periódico, desde sua primeira edição, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, primava por um “ferrenho oposicionismo, de extrema virulência”, em contraste com o “extremo servilismo” adotado por jornais concorrentes. Seu caráter era independente, legalista, liberal e doutrinário, dentro de uma linha editorial combativa à situação, no caso, inicialmente, a República Velha oligárquica – no entanto, sempre se destacou como “jornal de opinião”. Identificava-se, num primeiro momento, com as classes populares, mas com o passar do tempo atraiu a atenção da classe média do Rio de Janeiro; muitas vezes apresentava aos leitores textos de forte carga emocional. Ao longo do tempo desenvolveu também certa preocupação estética, no que foi inovador, marcado-se pela crescente valorização de ilustrações e fotos. Ademais, o Correio da Manhã sempre se posicionava a favor de medidas modernizadoras e contra forças políticas vistas pelo como bloqueadoras do desenvolvimentismo e do acesso popular a alguns direitos fundamentais. O fim de sua publicação, em 8 de julho de 1974, deu-se por incompatibilidades da folha com a ditadura militar, que inicialmente apoiara. A primeira edição do Correio da Manhã, possibilitada por uma rotativa Marinoni comprada do senador Francisco Glicério por Bittencourt, tinha apenas seis páginas, sendo três apenas com anúncios. Com formato standard e periodicidade diária, não trazia manchetes, como boa parte dos jornais de sua época. A primeira página apresentava apenas um título grande e o texto se distribuía por oito colunas, além de não publicar fotogravuras, só desenhos – ali vinham assuntos nacionais, acontecimentos de destaque no Rio de Janeiro, críticas, editoriais e troças com a política e a sociedade cariocas. Na segunda página figurava o noticiário internacional (que passaria à primeira página nos períodos das grandes guerras), de conteúdo fornecido pela agência de notícias Havas. O matutino apresentava ainda as editorias “Seção de Comércio”, “Letras e Artes”, “Dia Social”, “Teatro” e “Dia da Caserna”. Carlos Eduardo Leal, em extenso verbete sobre o Correio da Manhã no “Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930”, expõe detalhes quanto à crença política de Edmundo Bittencourt. Para o autor, a criação da folha tem relações com a Revolução Federalista, eclodida nos primeiros momentos da República no Rio Grande do Sul, e com os eventos que sucederam a mesma no turbulento cenário político brasileiro de então: Sabe-se que Edmundo Bittencourt estava de alguma forma vinculado aos federalistas. Ainda no Segundo Reinado, iniciara sua vida jornalística em Porto Alegre, colaborando em A Reforma, jornal pertencente ao conselheiro Gaspar Silveira Martins. Essa formação gasparista e portanto oposicionista parece explicar a linha “participante e combativa” que Bittencourt imprimiria a seu próprio jornal. De fato, declarando-se isento de qualquer tipo de compromisso partidário, o Correio da Manhã apresentou-se como defensor “da causa da justiça da lavoura e do comércio, isto é, do direito do povo, de seu bem-estar e de suas liberdades”. Em outro nível, o jornal causou grande impacto por sua independência da situação, vindo “romper com os louvores a Campos Sales”, então presidente da República. Finalmente, outra característica do Correio da Manhã no momento de sua fundação foi sua aproximação com as camadas menos favorecidas da sociedade. (p. 1.625) Mais que um mero órgão de combate à República do Café com Leite, para o autor, o jornal funcionou como uma frente opositora organizada que reunia as mais díspares vertentes políticas – nesse contexto, em seu corpo de colaboradores estavam lado a lado, por exemplo, o florianista Medeiros e Albuquerque e o monarquista conde de Afonso Celso. De fato, o talento de Bittencourt em arrebanhar e mediar tamanhas personalidades mereceu análise detalhada de Lima Barreto na obra “Recordações do escrivão Isaías Caminha”. Em paralelo, quanto à sua tonalidade inicialmente popular e de defesa dos interesses das massas, o Correio da Manhã veio a lume combatendo o aumento na tarifa das passagens dos bondes da Cia. São Cristóvão, denunciando funcionários públicos que extorquiam comerciantes e fazendo campanha contra os jogos de azar. Ademais, movimentos populares em geral tinham destaque nas páginas do jornal de Bittencourt. Evaristo de Morais, um dos colaboradores dessa época, destacava em sua coluna os movimentos operários ao redor do mundo, denunciando, em paralelo, o caráter coercitivo da legislação brasileira frente aos anseios das camadas populares. Apesar de ter visto com bons olhos a nomeação de Pereira Passos para a prefeitura do Rio de Janeiro, muito por valorizar seu perfil de administrador, com poucas ligações partidárias (apesar de suas relações próximas com o governo de Rodrigues Alves), o Correio da Manhã não tardou em se posicionar contra o prefeito nos contextos da Revolta da Vacina e do “bota-abaixo” promovido pela Reforma Passos, onde na verdade a revolta estava contida. No primeiro caso, a folha assumia o papel de porta-voz do movimento contra a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, liderado por Mauro Sodré, Barata Ribeiro e Alexandre Barbosa Lima, fortalecendo o caráter ideologicamente insuflado da insurreição, por parte da oposição, sem deixar de contestar cientificamente a eficácia da vacina. A campanha movida pelo jornal contra a medida imposta pelo governo por inspiração do médico sanitarista Oswaldo Cruz, afinal, não se restringiu a condenar veementemente a vacinação em massa: sua posição pode mesmo ter insuflado a Revolta da Vacina, que entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904 transformou a centro da antiga capital federal numa praça de guerra, deixando um saldo de 30 mortos. Tal postura chegou a ser condenada como uma atitude reacionária e obscurantista por parte do Correio da Manhã, em face dos benefícios da vacinação, especialmente para a insalubridade do Rio daquela época; hoje, entretanto, tende-se a considerá-la uma questão de princípios: o que o jornal se negava a admitir era a intervenção estatal na vida pessoal dos brasileiros. No plano geral do problema, inscrito nas obras de melhoramentos urbanísticos do Rio de Janeiro, sobretudo os artigos assinados pelo redator-chefe do periódico, Gil Vidal (pseudônimo de Leão Velloso Filho), apontavam basicamente que as remodelações iniciadas na capital em 1903 atingiam negativamente os grupos menos favorecidos da sociedade carioca. Para Carlos Eduardo Leal, Na verdade, o jornal, apoiando os setores menos favorecidos, não fazia mais que arregimentar elementos para constituir aquilo que se poderia denominar uma clientela urbana. Esta clientela iria dar conta da tradição legalista do Correio da Manhã daí em diante: a orientação oposicionista, baseada no respeito incondicional à letra da lei, atacando qualquer forma de intervencionismo do Estado e pugnando pelo primado dos preceitos liberais, tendia a cristalizar-se. (p. 1.626) Em 1906 o jornal se tornou o primeiro periódico brasileiro a apresentar um caderno especial aos domingos, agora já com fotogravuras. Por outro lado, nesse mesmo ano o senador Pinheiro Machado, cacique do Partido Republicano Conservador (PRC), então no poder, sentiu-se ofendido por um texto assinado por Edmundo Bittencourt. O estadista, que tinha poder e prestígio similares ao do presidente da República, sendo mesmo influente sobre o mandatário, desafiou o dono do Correio da Manhã para um duelo. Bittencourt aceitou o desafio, saindo dele ferido. O embate alimentaria o caráter combativo do diário em diversos aspectos – bom exemplo foi sua postura contrária à obrigatoriedade do serviço militar, instituída no governo Afonso Pena pelo ministro da Guerra, o marechal Hermes da Fonseca. Com o fim do mandato de Afonso Pena em 1908, a disputa pela sucessão presidencial trouxe alguma surpresa quanto à linha política empregada pelo Correio da Manhã: o jornal, após a desarticulação da campanha pela candidatura de Davi Campista, apoiou Hermes da Fonseca. Sustentado pela aproximação entre setores civis da política nacional e o Exército, o marechal era visto como figura não ligada às oligarquias, representando, portanto, um rompimento com a situação que merecia o apoio de Edmundo Bittencourt. No entanto, a campanha por Hermes da Fonseca não durou muito; na verdade, em 1909 o diário daria uma guinada de 180º em sua linha política. Em 22 de maio desse ano, mesmo mês em que o jornal rendera grande homenagem de aniversário ao ex-ministro da Guerra, no dia 12, ocorreu a convenção que o confirmou o para o pleito. Após a mesma, e muito pelo programa apresentado nela, Rui Barbosa passou a ser o nome indicado pelo matutino para a presidência. O governo de Nilo Peçanha, que até então vinha sendo bem avaliado pelo Correio da Manhã, ademais, subitamente passou a ser criticado agressivamente. Com Hermes da Fonseca então sendo repudiado em suas páginas, o jornal passou a integrar a Campanha Civilista de Rui Barbosa assim que sua candidatura foi oficializada, em agosto de 1909. Hermes da Fonseca saiu vitorioso no pleito. A partir de 10 de outubro de 1910, data da posse do marechal, Edmundo Bittencourt tinha em mãos o órgão que, mais uma vez, chefiava a oposição ao governo na imprensa. Como tal, o Correio da Manhã atacou o excesso de influência de Pinheiro Machado sobre o Senado – rejeitando o estadista ainda mais quando este passara a disputar com Nilo Peçanha o governo do estado do Rio. Nesse sentido, na ocasião da Revolta da Chibata o periódico ficou do lado de João Cândido e dos demais insurretos. No plano internacional, entretanto, o jornal se posicionou ao lado da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Em seguida, o Correio da Manhã capitaneou a oposição ao governo também durante o mandato de Epitácio Pessoa, tendo defendido Rui Barbosa novamente nas eleições de 1919. Ao fim do mandato de Epitácio, o matutino estava ao lado da candidatura de Nilo Peçanha, pela Reação Republicana, opondo-se, portanto, a Artur Bernardes, que saiu vitorioso somente para assumir um governo politicamente instável, com o republicanismo oligárquico sendo constantemente ameaçado por conspirações civis e militares. Nesse contexto antibernardista, a folha de Edmundo Bittencourt atraiu grande atenção em outubro de 1921, pela publicação de uma série de cartas de autoria atribuída a Bernardes, dirigidas ao senador Raul Soares. Vazadas ao jornal pelo senador de oposição Irineu Machado, que articulou o contato do redator Mário Rodrigues com seu portador, Oldemar Lacerda, em suas páginas, para grande escândalo, o presidente questionava a integridade moral das forças armadas e sugeria suborno aos militares para angariar adesões. Após a instauração da polêmica, apesar de o diário insistir no contrário, Lacerda acabou confessando ser o verdadeiro autor das cartas. Em 31 de agosto de 1924, com o país em estado de sítio, o Correio da Manhã chegou a ser fechado por Artur Bernardes, sob a acusação de estar imprimindo clandestinamente o folheto “Cinco de Julho”, em apoio ao levante dos 18 do Forte, ocorrido em 5 de julho de 1922. Já logo em seguida a essa revolta Edmundo Bittencourt havia sido preso, ficando Paulo Bittencourt, seu filho, na direção – na prática, no entanto, a folha era dirigida pelo redator-chefe Mário Rodrigues. Este chegou a acusar Epitácio Pessoa de ter sido subornado pela indústria açucareira – através de um colar dado a sua esposa – para que levantasse medidas restritivas que favorecessem a exportação de açúcar. Com isso, Rodrigues foi também condenado à prisão, em sentença de um ano. Pedro da Costa Rego, então senador por Alagoas, acabou assumindo o cargo de chefia de redação, já que a escolha mais óbvia, Leão Velloso Filho, havia falecido em 1923. Após a interrupção em 31 de agosto de 1924, em 20 de maio de 1925 o periódico foi reaberto, sob a direção provisória do senador Moniz Sodré. Iniciado o governo de Washington Luís em 1926, o Correio da Manhã foi novamente o principal opositor no jornalismo – tendo, obviamente, feito campanha contra a Lei de Imprensa, que acabou sendo aprovada pelo Senado em 1927. Cerca de dois anos depois, Edmundo Bittencourt passou definitivamente a direção e a propriedade do jornal a Paulo Bittencourt, que assumiu a 17 de março de 1929 e imprimiu grande anglofilia à linha liberal da folha. Nesse mesmo ano, novas rotativas da marca Man, de Dusseldorf, foram instaladas nas oficinas do Correio da Manhã, que funcionava até então com uma impressora Scott incompleta. Em 1933 esse maquinário novo possibilitara algumas inovações editoriais, como a criação de manchetes e de seções infantis, femininas, de rádio e de agricultura, entre outras, tendo sido mantido na ativa até 1958, quando foi substituído por uma rotativa norte-americana Hoe. Na campanha para a sucessão presidencial após o mandato de Washington Luís, o jornal dos Bittencourt, como não poderia deixar de ser, fez coro à Aliança Liberal, encampando a candidatura de Getúlio Vargas contra o situacionista Júlio Prestes. Em maio de 1930 confirmaria sua tendência criticando duramente o manifesto de Luís Carlos Prestes contra a Aliança. Com a vitória do candidato da República Velha em junho, as denúncias de fraude eleitoral e a irrupção da crise política, o jornal passou a noticiar os desdobramentos do movimento que gerou a Revolução de 1930, que a 24 de outubro depôs Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes. Nessa data o Correio da Manhã trazia em destaque a manchete “Triunfou a Revolução” em letras vermelhas, informando, em paralelo, que nos últimos cinco dias fora proibido de lançar qualquer notícia sobre a marcha empreendida por Vargas rumo ao Rio de Janeiro, por proibição governamental. Em editorial, condenava-se veementemente a censura durante o mandato de Washington Luís. Com a eclosão do movimento articulado pela Aliança Liberal, o Correio da Manhã queria, basicamente, três coisas: a escolha democrática de um novo presidente sem imposições do chefe do Executivo em exercício – que se traduzia na realização de novas eleições sem a influência governamental –, a oficialização de senadores e deputados independentemente das ações do presidente da República e o respeito à autonomia dos estados da União. Na avaliação de Carlos Eduardo Leal, Para o Correio da Manhã, a Revolução de 1930 teria duas causas básicas: por um lado, a política partidária impondo a hegemonia dos estados mais fortes e, por outro, a posição tomada anteriormente por Washington Luís em relação à valorização do café. Pode-se notar aqui a conjugação do programa tenentista, encampado pelo jornal, e do descontentamento do Partido Democrático de São Paulo, engrossado por dissidentes do Partido Republicano Paulista. Esse conjunto de fatores seria, no entanto, para a maneira de ver do jornal, consequência das transformações verificadas ao nível das ideias em todo o mundo após a Primeira Guerra Mundial. As novas ideias privilegiariam uma mudança no que se referia à “estrutura da velha sociedade capitalista e à crença na democracia liberal”, e afetariam “todas as classes mais ou menos cultas do país”. E os adeptos da revolução, em virtude de tais alterações, clamavam por “representação e justiça”. (p. 1.627) Com o triunfo da revolução e a instauração do governo provisório, o Correio da Manhã apoiava Getúlio Vargas ocasionalmente. No entanto, já em 1931, quando o interventor paulista João Alberto Lins de Barros entrou em choque com outras lideranças políticas de São Paulo, o jornal se posicionou ao lado destas. Em janeiro do ano seguinte, a folha adotou discurso pró-constitucionalização, ao sabor da Revolução Constitucionalista que ocorreria poucos meses depois, em terreno paulista. Se mantendo então em oposição manifesta ao governo, quando da irrupção do conflito, entre maio e junho de 1932, o Correio da Manhã procurou manter-se neutro. Em setembro de 1933, um episódio menor gerou algum embaraço no Executivo: visando prejudicar a candidatura de Virgílio de Melo Franco ao governo de Minas Gerais, o jornal de Paulo Bittencourt acusou a família Melo Franco de ter se beneficiado da desapropriação de uma estrada de ferro quando o pai de Virgílio, Afrânio de Melo Franco, era ministro da Viação, em 1919. Durante o governo provisório Afrânio era ministro das Relações Exteriores, cargo do qual acabou se demitindo, acreditando que as denúncias foram publicadas sob a vista grossa do governo. Já contando com M. Paulo Filho na direção, ao lado de Paulo Bittencourt, e com Costa Rego como redator-chefe e principal articulista, o Correio da Manhã comemorou o início dos trabalhos em torno da Assembleia Nacional Constituinte de 1934, registrando-a destacada e minuciosamente, com a transcrição de discursos quase na íntegra, ao lado de registros “fora do plenário”: comentários extraoficiais quanto às articulações político-partidárias em geral, naquele contexto. Contando com inúmeros correspondentes pelo Brasil, bem como com o serviço da agência de notícias Havas, o jornal publicava matérias dando conta da situação de diversos estados da União, ao passo que defendia o federalismo e criticava o planejamento econômico do governo, atacando, sobretudo, o Decreto do Reajustamento Econômico – promulgado para aliviar as dívidas da indústria cafeeira. Osvaldo Aranha, então ministro da Fazenda, era constantemente afrontado na coluna de Costa Rego, o que valeu censura oficial sobre os escritos do redator-chefe do Correio da Manhã. No entanto, não eram apenas os seus textos os vetados: muitos dos editoriais da folha também não passavam, especialmente aqueles mais agressivos contra o decreto, a reforma tarifária e a imigração de sírios e japoneses, indivíduos considerados indesejáveis pelo jornal. Apesar de tais rompantes xenófobos, o periódico não se identificou com o movimento integralista: quando não o ignorava por completo, limitava-se a noticiar seus distúrbios e a ironizá-lo. Nessa mesma época, quando esteve em discussão o anteprojeto da Lei de Segurança Nacional (entre janeiro e abril de 1935), o Correio da Manhã chegou a suspender sua circulação em sinal de protesto contra a mesma. No entanto, o antigovernismo da folha só veio a atingir seu ápice em 1937, quando seus gestores optaram por apoiar a candidatura do ministro José Américo de Almeida à presidência da República. Cinco dias antes do golpe que daria início ao Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, o Correio da Manhã já previa a afronta à Constituição. Como não poderia deixar de ser, o jornal passou a ser rigorosa e minuciosamente censurado, passando a ter um censor instalado em sua redação, lendo todo o conteúdo que seguiria para publicação. Com as dificuldades de abordagem ao terreno da política nacional, assim como ocorria com o restante da imprensa censurada, o noticiário internacional do diário de Paulo Bittencourt se desenvolveu – ainda mais dada a eclosão da Segunda Guerra Mundial. No conflito, aliás, o Correio da Manhã teve postura oscilante. Em 1939, o jornal considerava que acordos comerciais com países europeus como a Alemanha não deveriam ser colocados em risco, pregando, portanto, a neutralidade brasileira. No ano seguinte a folha já não pensava assim, passando a refletir os interesses do governo em suas páginas, via censura. Quando já posicionado do lado Aliado, o jornal teve que abordar a questão envolvendo o navio Siqueira Campos, detido por forças inglesas em 1940 transportando material bélico alemão para o Brasil. Góis Monteiro, general então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, lançou mão de violenta campanha contra os interesses ingleses. A investida transbordava virulência a tal ponto que Osvaldo Aranha teve que intervir. O ministro pediu a Lourival Fontes, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que pedisse aos jornais a amenização da abordagem ao assunto. Em 19 de janeiro de 1941, enfim, o Correio da Manhã acabou publicando uma matéria paga da Comissão das Indústrias Britânicas que continha um comentário favorável à Inglaterra feito por Osvaldo Aranha em novembro de 1940. Góis Monteiro, com o aval de Eurico Gaspar Dutra, à época ministro da Guerra, decidiu suspender o periódico por tempo indefinido. Getúlio Vargas, no entanto, quando informado sobre as intenções do general, recomendou que nada se fizesse contra o jornal. Nos últimos momentos da guerra, o Correio da Manhã contribuiu para o fim do Estado Novo ao publicar, em 22 de fevereiro de 1945, uma entrevista realizada pelo jornalista Carlos Lacerda a José Américo de Almeida, considerada ousadíssima para aquele momento político. Mesmo com o entrevistado criticando abertamente o regime – muito próximo do fascismo que ele mesmo combatia em solo europeu, como se sabe – e expondo a necessidade de eleições, o DIP não reagiu. Com a falta de censura, a entrevista, hoje considerada referencial tanto em ousadia quanto na exposição das posições liberais do Correio da Manhã, suscitou outras manifestações de descontentamento da oposição em outros órgãos impressos. Politicamente coerente dentro de sua marca opositora, o jornal de Paulo Bittencourt decidiu-se pelo apoio ao brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional (UDN), à presidência da República. Além de ter sido amigo de infância do candidato, o dono e principal diretor da folha teria sido um dos primeiros filiados ao partido que o lançava – no entanto, por divergências com correligionários, sua adesão oficial ao udenismo não demorou a esfriar. Gomes continuou sendo louvado nas páginas do Correio da Manhã mesmo com a vitória de Dutra, que do jornal recebeu inicialmente uma atitude de expectativa – apesar dos corrosivos artigos de Carlos Lacerda, mais explicitamente contra o presidente. Temerosa quanto à “epidemia comunista” e ao movimento pró-Vargas conhecido como “queremismo”, a folha ajudou a repercutir os “comandos parlamentares” promovidos por Café Filho – inspeções feitas de surpresa por deputados a repartições públicas, com o fim de confrontar verbas destinadas pelo orçamento, serviços prestados e informações fornecidas pelos encarregados pela aplicação dos recursos –, muito pelo trabalho do repórter Heráclio Sales. Com o fim do mandato de Dutra, Eduardo Gomes foi novamente apoiado pelo Correio da Manhã para a presidência. Nessa ocasião, pela primeira vez um candidato foi aplaudido pelo jornal incondicionalmente, apontado como a solução para todos os males brasileiros. Com a vitória de Getúlio Vargas, a folha chegou a encampar a contestação udenista sobre a maioria absoluta, que procurava invalidar o resultado oficial, mas em seguida defendeu a posse do presidente eleito – sem deixar de fazer oposição a ele, naturalmente. A influência do Correio da Manhã durante o último mandato de Vargas, como órgão opositor, era invejável, chegando a pesar nas decisões políticas. Conforme sua tradição liberal, o periódico fez grande oposição ao monopólio estatal do petróleo, mas, assim que a Petrobras foi criada, não a rejeitou, optando por revelar e repudiar o uso da empresa por parte de políticos com fins eleitoreiros. Apesar de ter defendido a exploração do petróleo brasileiro por empresas dos Estados Unidos, quando da visita de Milton Eisenhower, irmão do presidente americano, ao Brasil, em 1952, o jornal aproveitou a ocasião para denunciar o não-cumprimento do governo daquele país com promessas fiscais firmadas pelo presidente Harry Truman. No ano seguinte, o Correio da Manhã ocupou-se prioritariamente de questões econômicas, sendo, em outubro de 1953, grande opositor do chamado “Plano Aranha”, programa de estabilização proposto por Osvaldo Aranha em sua segunda passagem pelo Ministério da Fazenda, que se baseava em restrições ao crédito e na implementação de um novo sistema de controle cambial. Em fevereiro de 1954, o jornal repudiou o aumento do salário mínimo em 100% (que acabou sendo efetivado em maio do mesmo ano), apoiando o chamado “Manifesto dos coronéis”. Em paralelo, fazia violenta campanha contra a Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil (conhecida como Cexim). Em reflexo às contrariedades do Correio da Manhã com o governo, o diário de Paulo Bittencourt deu total cobertura ao atentado à bala que feriu o líder oposicionista Carlos Lacerda e matou o major-aviador Rubens Vaz, instaurando o caos no ambiente político brasileiro. Após endossar o inquérito instaurado pela Aeronáutica para elucidar a responsabilidade pelo crime da rua Tonelero, o jornal, assim como a oposição, culpou o governo. O suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, surpreendente desfecho da crise, fez com que a folha baixasse o tom em suas críticas, preferindo seguir uma linha que explorava mais as características trágicas do evento – cabe lembrar que, à época, populares solidários ao presidente morto chegaram a reagir violentamente contra outros periódicos de oposição ao governo. Iniciado o mandato de Café Filho, o Correio da Manhã aplaudiu a nomeação de Eugênio Gudin para o Ministério da Fazenda, algo que já vinha recomendando. Independentemente de suas intenções, o jornal teve, logo adiante, um pedido de empréstimo junto ao Banco do Brasil negado pelo próprio Gudin. Nesse período, Eduardo Gomes, valendo-se de seu prestígio na folha dirigida pelo amigo, tentou dissuadir Paulo Bittencourt a reforçar o caráter udenista do Correio da Manhã ao propor o apoio a Juarez Távora para as eleições de 1955. Bittencourt, no entanto, não esboçara preferência a nenhum dos candidatos apresentados, rejeitando, no caso, além de Távora, Ademar de Barros, Juscelino Kubitschek e Plínio Salgado. Ainda assim, seu jornal acabou apoiando JK, mas isso se restringia aos artigos assinados por Álvaro Lins e Edmundo Muniz – o primeiro louvava Kubitschek, enquanto o segundo atacava Juarez Távora impiedosamente. Carlos Eduardo Leal explica: Para o jornalista Luís Alberto Bahia, a posição do Correio da Manhã diante das eleições de 1955 deve ser explicada pela fase de transição que a própria estrutura do jornal estaria atravessando naquele momento, passando de uma empresa artesanal de propriedade familiar a uma grande empresa moderna. Assim, verificava-se um conflito entre os pressupostos liberais da primeira fase, em que o jornal defendia a tese da democracia do mercado, e os novos princípios que acabavam de aparecer no cenário econômico brasileiro, como, por exemplo, o combate ao ingresso do capital estrangeiro. (p. 1.630) Essa postura de pretensa neutralidade, que aparentemente motivou o rompimento de Bittencourt com Eduardo Gomes, embora lembre o conceito de isenção pregado pela imprensa atual, bateu de frente com o clássico legalismo do periódico em novembro de 1955, no episódio conhecido como o “contragolpe preventivo” do Marechal Lott. Na ocasião, Henrique Teixeira Lott havia afastado Carlos Luz da presidência interina da República, frustrando uma tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek, eleito. O Correio da Manhã, apesar de não ser exatamente juscelinista, se manteve ao lado da legalidade, repudiando a tentativa de golpe. Durante o mandato de JK, antevendo o esvaziamento político da cidade onde tinha sede, o periódico fincou posição contrária à construção de Brasília, chegando a ironizar o projeto. A tradicional preocupação do jornal com as finanças nacionais, ademais, o levavam a criticar a política econômica do novo governo. Em paralelo, a folha movia campanha a favor da consolidação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), denunciando, assim como já fizera com a Petrobras, a tentativa de determinados políticos em usá-la com fins eleitorais. Em outro plano, apesar de sua convicção contra a reforma agrária, o Correio da Manhã publicou uma série de reportagens assinada por Antônio Calado sobre as Ligas Camponesas, ao fim de 1959. Ainda nesse ano o periódico passou a ter um segundo caderno em definitivo – pouco depois, em 1962, pôde imprimir edições a cores, como seus cadernos de quadrinhos destinados ao público infanto-juvenil. Isso se devia à atualização nas oficinas do jornal em 1959, com a troca da impressora Man pela da marca Hoe. A mudança, aliás, não foi fácil, tendo instaurado uma crise no ritmo de trabalho do Correio da Manhã; o problema de adaptação, calcula-se, diminuiu a qualidade do periódico a ponto de ajudar o desenvolvimento de folhas rivais. Para as eleições de 1960, o Correio da Manhã buscou novamente neutralidade e independência frente a partidos e candidatos. Tendo Jânio Quadros vencido o pleito, a folha, durante o seu mandato, como era de se esperar, reclamou da condecoração dada pelo governo brasileiro a Ernesto “Che” Guevara e criticou de forma áspera a renúncia do presidente – na crise na qual o ambiente político então atolou, o jornal discursou contra tentativas de censura à imprensa, atendo-se, em especial, à apreensão de periódicos logo em seguida à confirmação do afastamento de Jânio. Embora repudiasse João Goulart por suas ligações com o passado varguista, o Correio da Manhã manteve sua postura legalista ao defender a legitimidade da posse do novo presidente, que lideranças militares e determinados setores civis da política nacional não queriam aceitar. Por isso mesmo, aliás, acabou tendo uma edição apreendida no estado da Guanabara, governado então por um antigo e renomado jornalista da casa: Carlos Lacerda. Foi durante o curto período em que João Goulart esteve à frente do Executivo que o Correio da Manhã sofreu uma guinada conservadora em sua linha editorial. Por questão de princípios – seu comprometimento com o liberalismo econômico, principalmente, que alimentava seu grande medo do avanço comunista no Brasil –, o jornal pôs-se severamente contra o governo, por julgá-lo radical e por considerá-lo contra a Constituição e a ordem pública em questões pontuais, como, por exemplo, o suposto estímulo à quebra de hierarquia nas Forças Armadas. No plano estadual, a folha também ia contra o governo de Lacerda. Em 2 de agosto de 1963, com o falecimento de Paulo Bittencourt, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (sua segunda esposa e filha do senador Moniz Sodré) passou a ocupar o cargo de diretora-presidente do jornal. Isso não ocorreu sem uma disputa entre esta e Sybil Bittencourt, filha do primeiro casamento de Paulo, que acabou ficando com o imóvel onde o jornal estava instalado, em questão resolvida somente cerca de cinco anos depois. A morte do proprietário se deu em um momento peculiar: desde 16 de julho daquele ano uma grande reforma gráfica já estava em curso no jornal. O Correio da Manhã passava a ter menos blocos de texto, privilegiando os espaços em branco, sobretudo no segundo caderno, e fotografias, sendo estas com legendas mais instigantes e criativas. Os efeitos de tal reforma, apesar de terem composto uma nova tendência na imprensa carioca, no entanto, não seriam amplamente desfrutados pelos seus principais responsáveis: pouco depois de iniciada essa nova fase, o periódico entraria em declínio, ao passar a sofrer com a interferência do poder militar, que ajudara a ascender. 1964 começou com o jornal batendo forte na situação: bom exemplo é o pouco lembrado, mas não pouco importante, editorial “Terra de ninguém”, de 16 de janeiro, onde ataques contundentes foram desferidos tanto ao governo federal quanto ao estadual. Em seguida, em episódio de vulto na história da imprensa brasileira, o Correio da Manhã repudiou veementemente os decretos anunciados no comício promovido pelo presidente na Central do Brasil, a 13 de março de 1964 – indo contra a opinião do matutino, estes determinavam a estatização de refinarias de petróleo particulares e a desapropriação de terras próximas a açudes e rodovias federais para cedê-las a lavradores. Ficaram famosos, pelo estilo e contundência, sendo replicados em inúmeros periódicos de oposição a Jango, dois editoriais do Correio da Manhã que denunciavam desmandos do governo e clamavam pela necessidade de sua derrubada. Publicados exatamente enquanto o golpe civil-militar ocorria, “Basta!”, de 31 de março de 1964, e “Fora!”, de 1º de abril, são atribuídos a Edmundo Muniz, que alega que ambos foram escritos coletivamente, afirmando ainda que o jornal não tinha ciência da movimentação militar para destituir o presidente. O que o Correio da Manhã e outros jornais que apoiaram o golpe esperavam era que o novo presidente da República imposto pelos conspiradores, o marechal Humberto Castello Branco, convocasse eleições e entregasse o governo a uma liderança civil. Mas os militares, uma vez instalados, preferiram manter-se no poder. A folha de Niomar Sodré findou sua breve lua-de-mel com o novo regime e começou a denunciar suas arbitrariedades. Nesse sentido, assumiu grande importância o editorial “Terrorismo, não!”, publicado com todo o destaque pelo jornal já a 3 de abril de 1964, elaborado por Edmundo Muniz e transcrito por outros importantes periódicos nacionais, como a Última Hora, recém-empastelada por forças ligadas aos militares. Poucos dias depois, a imposição do Ato Institucional nº 1 ligou o alerta do jornal para uma ditadura militar, desencadeando denúncias a torturas e abusos de poder a mando do Executivo. Nenhum outro jornal da imprensa diária do Rio de Janeiro deu tanto espaço às cassações de mandatos e direitos de certos políticos, bem como às manifestações de rua contra os governos de Castello Branco e Costa e Silva, quando policiais e estudantes se confrontavam violentamente pelas ruas das principais cidades do país. As dificuldades começaram para o Correio da Manhã quando agências internacionais de publicidade passaram a boicotar o jornal. O periódico não podia simplesmente abrir mão de seus anunciantes. Um interventor, representando essas agências, passou então a agir dentro da redação e uma espécie de censura se instaurou. Nomes de destaque no jornal passaram a ser limados: Carlos Heitor Cony foi demitido, Otto Maria Carpeaux teve sua seção extinta e seu nome era proibido de aparecer na assinatura de qualquer texto. Em paralelo, a oposição do Correio da Manhã a Carlos Lacerda não havia abrandado: logo ao início da ditadura o governador ameaçou intervir na folha, gerando indignação na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa da Guanabara, assim como no Clube de Engenharia de Brasília e entre sessenta deputados estaduais de São Paulo, que enviaram mensagens de solidariedade a Niomar Sodré, aliás. Denunciando a falta de democracia, a necessidade de reformas de base, a falta de maiores cuidados no desenvolvimento da indústria, a inexistência de garantias trabalhistas e de qualidade de vida, a infiltração de grupos estrangeiros na imprensa brasileira com a vista grossa do governo (em janeiro de 1966), entre outras arbitrariedades, o Correio da Manhã acabou sofrendo um atentado: uma bomba foi jogada em sua sede em 7 de dezembro de 1968. Como se não bastasse, dias depois as posições díspares tanto do regime quanto do jornal passariam a se radicalizar, dada a edição do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro, que cassou os direitos fundamentais de cidadania e submergiu o país em uma ditadura pior ainda. Com base no AI-5, em janeiro de 1969, Niomar Sodré e os jornalistas Osvaldo Peralva e Nélson Batista, membros da direção do Correio da Manhã, foram presos. Na ocasião, a sede da folha foi cercada por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e a censura prévia passou a agir em sua redação. A Sociedade Interamericana de Imprensa chegou a ser acionada por gráficos, redatores e membros da diretoria do jornal. Nesse período, a 1ª Auditoria da Marinha ordenara a suspensão na circulação da folha por cinco dias. No dia 22 de janeiro, Niomar e Peralva tiveram prisão preventiva requisitada pelo período de 30 dias – em março, a diretora-presidente do Correio da Manhã seguida presa em domicílio. No pouco tempo que lhe restou de vida a partir daí, o Correio da Manhã continuou fiel a seus princípios apenas enquanto Niomar Sodré se manteve em direção. Denunciava, na medida do possível, apesar da censura, prisões arbitrárias, torturas e outras violências praticadas pelo regime. Após um obscuro período marcado por boicotes de anunciantes, temerosos de retaliações do governo, o atentado à bomba e uma série de perseguições, prisões e cassações dos direitos políticos contra jornalistas e administradores que lá trabalhavam, o jornal ia sentindo os efeitos da falta de verba que chegava via publicidade e da diminuição de seus leitores. E enfim, acabou por ser arrendado, em 1969, pelo prazo de cinco anos, à Editora Comunicações Sistemas Gráficos, liderada por Maurício Nunes de Alencar e ligada à companhia Metropolitana, empreiteira nacional de grande porte. Nesta fase, que seria sua última, o Correio da Manhã foi totalmente outro. Primeiramente, passou a ser publicado com novas feições gráficas, mais dinâmicas, e com o dobro de páginas (20), com cada edição vindo com um tabloide encartado. Mas, em termos de conteúdo político, o jornal se mostraria um dócil aliado do governo. Contando com a direção de Nunes de Alencar, Frederico Gomes da Silva, Paulo Magalhães e Franklin de Oliveira (este sendo o diretor de redação), o jornal mantinha a verve voltada a questões políticas e econômicas, mas se afastava de seu tradicional liberalismo legalista, onde sua devoção à Constituição pedia uma postura crítica. Isso, no entanto, não retraiu a crise econômica do periódico. Em janeiro de 1973, mês em que para se manter acabou sacrificando seu número de páginas, que ia caindo definitivamente, a Tribuna da Imprensa chegou a noticiar a possível falência do jornal citando uma outra crise, a que assolava a empreiteira Metropolitana. O antigo órgão de Carlos Lacerda, em verdade, através do jornalista Sebastião Néri, iniciava uma campanha contra Maurício Alencar e seus irmãos, em defesa de Niomar Sodré, que acabou sendo prejudicada no acordo de arrendamento. Os novos diretores haviam se comprometido a pagar o déficit do periódico (de então quatro milhões e quinhentos mil cruzeiros) e uma mensalidade de 50 mil cruzeiros à antiga proprietária, mas apenas parte do acordo foi cumprida. Somava-se a isso o drama pessoal de Niomar, vítima de uma série de ataques atribuídos a agentes da repressão política ou a simpatizantes da ditadura, que incluía um incêndio em sua coleção particular de documentos e livros e uma tentativa de assassinato. Nos seus últimos momentos, sob as acusações de Néri de que seria apenas um objeto na jogada política de Maurício Alencar e da Metropolitana frente à ditadura, o Correio da Manhã esteve sob litígio. A 3 de agosto de 1973 a proprietária foi à justiça contra os arrendatários, gerando um pronunciamento do deputado Nina Ribeiro em defesa destes: para ele, Niomar Sodré esperava uma contrapartida dos militares pelo apoio ao golpe; não sendo esta verificada, direcionou a folha à oposição. Cerca de um ano antes do fim do arrendamento, Maurício Alencar supostamente tentara devolver o jornal à dona, que teria se recusado a reassumir. A crise, então, perdurava e o Correio da Manhã era mantido numa espécie de sobrevida. O jornal parecia ter voltado ao seu estado inicial de penúria, saindo com edições de apenas oito páginas, em tiragens que variavam em torno de três mil exemplares por dia. Em 8 de julho de 1974, enfim, o antigo periódico não pôde mais ser publicado, sendo a edição do dia anterior a derradeira. O Correio da Manhã foi extinto devendo salários atrasados a 182 funcionários. De acordo com o artigo 93 da Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971, o nome ou marca de um empreendimento caduca quando não usado pelos responsáveis em direito durante o intervalo de dois anos. Apenas para evitar a perda do título, uma edição extraordinária do Correio da Manhã foi rodada cerca de dois anos após seu fechamento. Em 13 de abril de 1977, todavia, o título acabou sendo arrematado em leilão por um grupo representado por Wilson Nogueira Rodrigues, por 480 mil cruzeiros. Seguindo uma onda de relançamento de periódicos de vulto já extintos, que também agraciou o Jornal do Brasil, em meados de setembro de 2019 o Correio da Manhã foi relançado, com Cláudio Magnavita como presidente da empresa, retomando as antigas numeração e data de fundação. No entanto, nessa nova e última fase, seus editores consideraram a retomada a partir da edição nº 23.437, de 11 de setembro de 1969: ou seja, a última edição em que o jornal saiu sob o comando de Niomar Sodré. O novo Correio da Manhã veio a lume, então, em seu nº 23.438, como semanário a sair todas as sextas-feiras, em edição válida pela semana de 13 a 19 de setembro de 2019, há cerca de 50 anos após a última publicação da antiga editora. Na ocasião, Magnavita assinava não só como presidente, mas como editor-chefe do jornal, dividindo sua direção executiva com Fernando Vale Nogueira. Na redação, instalada num centro comercial ao nº 850 da Avenida João Cabral de Mello Neto, na Barra da Tijuca, o Correio da Manhã contava com Marcelo Perillier, Pedro Sobreiro, Gustavo Berreto, Márcio Corrêa, Ive Ribeiro e Guilherme Cosenza, com Leo Delfino como responsável pelo projeto gráfico e Gabriel Moses como estagiário. Como colaboradores, a folha vinha então com Ruy Castro, José A. Miguel, Jânio de Freitas, entre outros. Em sua trajetória, o Correio da Manhã contou com contribuições de personalidades brasileiras do campo político, cultural e jornalístico, como Rui Barbosa, José Veríssimo, Coelho Neto, Arthur Azevedo, Afonso Celso, Medeiros e Albuquerque, Evaristo de Morais, Carlos de Laet, Alberto de Oliveira, Antonio Salles, Leão Velloso Filho (que usava o pseudônimo de Gil Vidal), Álvaro Lins, Graciliano Ramos, Rodolfo Mota Lima, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Lacerda, Aurélio Buarque de Holanda, Franklin de Oliveira, Antônio Callado, Rubem Braga, Antonio Moniz Vianna, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Carlos Heitor Cony, Otto Maria Carpeaux, Luis Alberto Bahia, Nelson Rodrigues, Osvaldo Peralva, Fernando Pedreira, Márcio Moreira Alves, Hermano Alves, Paulo Francis, Newton Carlos, Paulo de Castro, Oliveira Bastos, José Lino Grünewald, Ferreira Gullar, entre outros. Muitos destes últimos eram colaboradores frequentes do denso “4º Caderno”, suplemento dominical do final dos anos 1960, espaço onde se discutiam política nacional e internacional, literatura, artes plásticas e filosofia. Por fim, cabe ressaltar que o Correio da Manhã ainda contou com suplementos de destaque, dois em especial. O Almanak do Correio da Manhã foi publicado uma vez por ano, inicialmente entre 1912 e 1916, com edições que circulavam com quase 300 páginas. Relançado em 1939, nesta segunda fase circulou ainda anualmente, em edições que tiveram entre 500 e menos de 200 páginas, até ser extinto após 1961. Fora o almanaque, entre as décadas de 1950 e 1960 o Correio da Manhã trazia a revista ilustrada Singra encartada semanalmente em suas edições. Produto da Editora Singra Ltda., presidida por Paulo Bittencourt, que imprimia o caderno ilustrado do jornal, a revista era dirigida por Cândido Mendes, um antigo colaborador da folha, com Luiz de Medeiros como secretário e Gilberto Flores como gerente (depois substituído por Eugênio de Mattos). Lançada em 25 de abril de 1952, Singra saiu no diário de maio de 1952 a agosto de 1962, mas não era publicada ali exclusivamente. Segundo nota na edição encartada no número de 31 de dezembro de 1954 do jornal, o suplemento circulava, na ocasião, em “62 jornais em igual número de cidades, (...) vinculado às tiragens desses órgãos de imprensa”. Na sua edição da semana de 25 de abril a 1º de maio de 1958, a revista falava que já era encartada em 87 jornais brasileiros, circulando em todos os estados. Por fim, a edição do Correio da Manhã de 1º de janeiro de 1963, momento em que Singra não vinha mais encartada junto de suas edições, noticiava a morte de Cândido Mendes afirmando que o suplemento ilustrado era publicado já em 94 periódicos brasileiros – sabe-se, contudo, que esse periódico não continuou por muito tempo após 1964. Fontes: - Acervo: edições do nº 1, ano 1, de 15 de junho de 1901, ao nº 24.881, ano 73, de 7 de junho de 1974. - ANDRADE, Jéferson Ribeiro de. Um jornal assassinado: a última batalha do Correio da Manhã. José Olympio: Rio de Janeiro, RJ, 1991. - LEAL, Carlos Eduardo. Correio da Manhã. In: ABREU, Alzira Alves et al. (Coord.) Dicionário histórico-biográfico brasileiro pós-1930, vol. 2. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. - Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social. Correio da Manhã – Compromisso com a verdade. Cadernos da Comunicação. Série Memória, vol. 1: Rio de Janeiro, 2005. - SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. RESUMO DESTE ARTIGO *** ***
*** FUGA DE GOIÁS VELHO ***
*** Goiás Velho, Brasil VIDA E OBRA DE UMA ESCRITORA À MARGEM *** Mito e realidade literária em Cora Coralina, ou a Celebração ...www.jornalopcao.com.br › ultimas-noticias › mito-e-re... 2 de jul. de 2018 — O fato de ter sido sempre mais louvada que estudada ajudou a consolidar o mito, cujos ingredientes misturaram fuga da cidade de Goiás, ... *** Literatura goiana Mito e realidade literária em Cora Coralina, ou a Celebração do Celebrado segunda-feira 02 julho 2018 18:22 Por Marília Noleto Edição 2242 O fato de ter sido sempre mais louvada que estudada ajudou a consolidar o mito, cujos ingredientes misturaram fuga da cidade de Goiás, literatura (popular), escritora reaparecida aos setenta anos e feminismo, além do próprio contexto cultural e mágico da eterna Vila Boa ***
*** Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985) | Foto: Divulgação *** Gilberto Mendonça Teles Especial para o Jornal Opção O sim e o não, o visível e o invisível, a realidade e o mito, melhor dizendo, o mito e a realidade literária nos textos (na obra) de Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985). Este pseudônimo foi, desde cedo (1907), um dos seus mais belos achados literários, responsável direta e indiretamente pela popularização do nome da escritora, hoje, só em Goiânia, denominação de bairro, de avenida, de rua, de qualquer empreendimento público ou privado, cultural ou não, tudo se faz em nome do nome da escritora, muito pouco em nome de sua obra. Mais louvada que verdadeiramente estudada. Quem a estudou já começou predeterminado a celebrá-la, assim todos os seus textos de prosa e verso (que ela chama de “poemas”) são escolhidos e “analisados” com a preocupação de só servir para comprovar o que existe no ar, como um mito, um tecido aéreo que se deve vestir e celebrar. Não se vê o não visto: tudo está “programado” para a celebração do celebrado. De um modo geral, percebe-se na maioria dos estudos a falta do distanciamento crítico, o que impede que os seus textos – a sua obra – não sejam vistos na totalidade. Bem sei que essa “todalidade” é coisa da época positivista, mas tem o seu lugar na avaliação de exemplos de toda natureza – do bom, do ruim e do péssimo. Eles existem, mas estão “impedidos” de serem ditos. Desta forma, volta-se para o fascínio do nome. Cita-se o nome pelo nome que, por si só, já é meio caminho andado no rumo do Mito e da Poesia. Há dois versos de Carlos Drummond de Andrade (aliás, um dos responsáveis pela sua mitificação) que sintetiza tudo sobre a filosofia e a poesia do nome: O nome é bem mais do que nome: o além-da-coisa, coisa livre de coisa, circulando. Nos seus dezesseis anos, quando criou com Leodegária de Jesus e outras senhoritas da cidade de Goiás o jornal A Rosa (1907), Ana Lins (a Aninha) teve a inspiração do pseudônimo Cora Coralina, o qual, no início, quase se perdeu na concorrência com outras sugestões, como, por exemplo, a de “Dora Doralina”, expressão que será usada muito anos depois por Raquel de Queiroz, aliás casada com um goiano. É interessante saber que Cora Coralina se gabava de uma raiz nordestina, com a qual explica o seu interesse pelas aventuras de Lampião e Maria Bonita e até pela palavra “cordel” com que denomina um dos seus livros de memória. Neste sentido, é possível imaginar que a história narrada por Raquel de Queiroz no romance de 1975 sobre a vida de Dôra (Dora), Doralina tenha alguma tradição evemerista, ou seja, uma estória da cultura popular do Ceará, cujos ecos teriam chegado aos ouvidos da Ana Lins de 1908. A escritora saiu da Cidade de Goiás (o “Goiás Velho”), antiga capital do Estado, em 1910, com idade de 21 anos (na garupa do cavalo de um homem casado: Cantídio Tolentino Bretas Figueiredo, com quem viveu de 1910 a 1934, ano de sua morte: sua mãe foi contra o namoro, por que ele era desquitado, tinha filhos, inclusive com outra mulher, uma índia. [Nos seus escritos no final da vida, Cora vai dizer que saiu casada]. Foram viver no interior de São Paulo (em Andradina e Jabuticabal) e só quarenta e cinco anos depois, em 1956, retornou a Goiás, já nos seus quase setenta anos e sem livro publicado. [Participei em Goiânia das homenagens à volta de Cora Coralina.] A partir daí é que apareceram livros como: — Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (José Olympio, 1965, para quem ela vendia livros quando vivia em São Paulo); Meu livro de cordel (Cultura Goiana,1976); Vintém de cobre (UFG,1983); e Estórias da casa velha da ponte, (Global,1985), tornando-se então não só a mulher mais importante do Brasil Central e — por que não? – de toda a literatura feminina do Brasil. Como explicar o fenômeno, quando se sabe que nos anos de ausência de Goiás escreveu muito pouco ou, se escreveu, não publicou, a não ser pequenos contos e crônicas e alguns poemas em prosa e só depois de sua volta (Cf. o poema “Voltei”, p. 112 de Vintém de cobre), assumiu a condição de escritora? A crer nas suas memórias (nos seus textos autobiográficos), ela voltou sem a aprendizagem maior da prática da escrita. Havia um lapso muito grande de tempo entre o que ela lia, pensava e escrevia na adolescência e o que procurava fazer agora, numa continuidade impossível. Teve assim que partir de um “novo” princípio de criação, que ela pensava ser novo. Foi então que começou a produzir longos poemas em prosa que ela mesma vacilava em chamar de poema, preferindo uma série forçada de sinônimos, como se verá adiante. E foi o que fez. E deu certo, atingiu o gosto do público comum, passando assim (apressadamente) a ser tida como “inovadora”, transformando a carência estética em criação popular. Isto explica, de certa forma, o fato de ter sido sempre mais louvada que estudada, o que ajudou a consolidar o mito, cujos ingredientes misturaram fuga da cidade de Goiás, literatura (popular), escritora reaparecida aos setenta anos e feminismo, além do próprio contexto cultural e mágico da Cidade de Goiás, de onde ela soube retirar a matéria – direi regional – dos seus trabalhos mais autênticos, que envolvem memória e poesia. Por aí a sua produção escrita passou a ser vista como um todo já completo, perfeito, que já nasceu pronto, vertical, totalitário e impositivo, como coisa de gênio, que não precisa ser analisada, mas enaltecida, valorizada e propagada como genial. São a força e a magia do mito. Aliás, o mito já estava inerente a seu nome, quer dizer, à beleza do pseudônimo (Cora Coralina) que ela começou a usar (repetimos) aos dezesseis anos, em 1907, em torno do jornal A Rosa, de que foi uma das fundadoras. Note-se que no pseudônimo a palavra chave é simplesmente Cora, que pode ser mesmo do grego Κόρη (feminino de Κόρος), com o sentido de “filha” (de filha jovem), termo que se relaciona com o latim Cŏr, cŏrdĭs = coração novo, ser talentoso, como está em Plínio, o naturalista; em grego a Κόρη tinha também o sentido de “menina dos olhos” e do nome de uma cidade consagrada à futura Prosérpina no latim. Grande leitora e possivelmente com algum conhecimento do grego e da mitologia grego-latina, Ana Lins percebeu a íntima relação entre o nome e o pseudônimo da famosa deusa dos Infernos e, por intermédio deles, compôs o seu pseudônimo: proveniente de “Cora”, a corada e corajosa + “Lina”, de Prosérpina. Estava assim formado o modelo do belo sobrenome de Cora Coralina. Se isto parece ir longe demais, pense o leitor no mais simples: a repetição do nome Cora fazendo surgir a palavra “coral”, transformando a repetição numa frase melódica, de ritmo ternário (cora cora, coral), conotando-se, em português, além de “coração” a gama de significações a partir de quarar (corar), embranquecer a roupa e dar cor à face (corada) — significações que se juntam às de corais e, claro, à metonímia de “cobra coral”, bela serpente venenosa (e não) que se esconde entre os corais e consegue mimetizá-los, fazendo com que o transeunte se distraia com a sua beleza, assim como o leitor se distrai com as peripécias de sua vida — o que ela narra, o que ela esconde, o que revela com a facilidade da descrição emotiva e exata das coisas e dos acontecimentos de uma época desaparecida nas grandes cidades, mas que ainda sobrevive e perpassa pelos murmúrios dos becos da velha capital do Estado de Goiás. Atentem agora para o sufixo –ina que complementa com uma relação de semelhança (“semelhante ao coral”), além de introduzir o jogo das vogais “a” / “i”, mas um “i” nasal que aumenta o sentido da musicalidade da palavra-frase Cora Coralina. No fundo, a mim me parece que o seu famoso pseudônimo pode ter-se originado mesmo foi do “rosto corado” da moça de dezesseis anos em oposição ao “da menina feia, amarela”, como ela gostava de repetir. Foi uma espécie de compensação psíquica. Assim, sob a fascinação do mito, que já vem do pseudônimo, louva-se a obra de quem traz esse belo nome já na capa dos livros. É como se tudo fosse ali de primeira grandeza. Como a linguagem mítica se estendeu à Autora, que se viu mitificada, o fascínio do mito atinge também o leitor que se vê enleado pelo rumor dos acontecimentos. Assim, os estudos que têm aparecido visam principalmente à confirmação do mito, citando quase sempre os mesmos poemas, sem aprofundar as análises, não se comprovando pelo estudo a possível excelência literária de seus “poemas”, de seus textos. Colocamos entre aspas o termo “poemas” seguindo a própria Autora que, nos livros de 1980 e 1983, vale-se de uma série de denominações para nivelar os seus escritos, como se vacilasse sobre o valor literário deles – poemas, estórias, cânticos, ode, oração, confissões, imaginário, oferta, exaltação, mensagem, reflexões, conclusões, considerações, recados, lembranças, apelos e até poesia. Não é que usasse cada um desses termos tomando-os como foram usados pela tradição literária. Tomou-os simplesmente como sinônimos de “poema” e “poesia”. É a razão porque preferimos chamar-lhes textos, generalizando-os e evitando a necessidade de forçar um estudo à luz da mais antiga classificação de gêneros, provenientes de Aristóteles. Às vezes esses estudos chegam ao risível de lhe impingir gato por lebre, atribuindo à obra de Cora Coralina façanhas de geração e de vanguarda que nada tem a ver com o que deixou nos livros publicados. Isso não é culpa dela, da Autora, mas dos “estudiosos” mais interessados em “participar” da sua glória literária do que realmente mostrar a sua contribuição para a literatura brasileira. Eu mesmo já examinei algumas dissertações de mestrado, na Universidade Federal de Goiás, em que o estudo é só de elogio, de admiração, de rasga-seda, sem se preocupar com o porquê dessa celebração. Falta de sentido crítico tanto do orientando como do orientador. Na maioria das dissertações sobre a obra de Cora Coralina, o que se vê é a paráfrase dos seus textos, os quais, em vez de serem analisados, são primariamente comentados, dando-se a falsa idéia de análise, de estudo. Os teóricos sabem que os mitos surgem da bela ignorância imaginativa do homem comum e também da astuciosa imaginação da força lírica da mentira, ou seja, da não revelação da verdade: cala-se a verdade e em seu lugar apresenta-se uma realidade cor de rosa, em que, por intermédio da humildade (da modéstia, da menção à vida difícil), capta a benevolência do leitor, que passa à admiração de tudo o que a pessoa escreveu. É ai que entra a preguiça intelectual dos estudiosos que, em vez de aprofundar a pesquisa e a leitura da obra examinada, preferem o mais fácil: sentir (não comprovar) que tudo é belo e bom, dentro da velha fórmula grega do καλός ảγαθός. A linguagem do mito é poderosa, vertical, absoluta, impositiva, sobre os acontecimentos, e não sobre a linguagem deles. Comanda a política, a escola, a literatura popular, a alma do indivíduo. A sua vida. Mas essa linguagem é transitória, com o tempo cede o lugar a outra que a contesta ou a esquece à luz da tradição ou da nova realidade que vai surgindo. A sinceridade nem sempre é literatura. Assim como os temas (a temática) só se integram na literatura quando se coadunam com a linguagem da obra realizada. Cora e o nascimento do mito A escritora Cora Coralina (poetisa, contista) não é culpada do nascimento do mito em torno de seu nome e obra. Pode ter calado nos seus livros algo da verdade original de sua mocidade, mas é certo que muito dessa verdade está em fragmentos nos seus textos, em alguns trechos visíveis da sua obra, toda ela autobiográfica, no entanto deve haver também os ainda invisíveis à espera do exegeta para desentranhá-los dos “poemas” e “estórias”. Lembrando Jean Starobinski: “O manifesto é o latente que não foi compreendido”. É possível garimpar algumas pepitas da verdade que não tinha desejo de revelar-se na maturidade sensata dos setenta anos. À crítica é que cabe o dever dessas garimpagens para usar um dos temas comuns nos textos dos livros que vamos mencionar a seguir. Como corpus para este pequeno estudo da obra de Cora Coralina, valho-me apenas dos seguintes livros: Meu livro de cordel (1965), que não tem nada a ver com o conhecido livreto de cordel nordestino; Poemas dos becos de Goiás e Estórias mais (1980); Vintém de cobre: Meias confissões de Aninha (1983); e Estórias da casa velha da ponte (1985). Dos textos destes livros, na maioria escritos (ou modificados) depois dos setenta anos, já sem a força total da emoção poética, com a imaginação criadora se resolvendo na exploração das reminiscências, é que extraímos a matéria crítica, desenvolvendo-se a teoria (documentada) de que Cora Coralina, na sua infância e adolescência a – Sentia-se desprezada pela mãe e pelas irmãs que a tinham como feia e sem inteligência e que, por isso, não conseguiria casamento. b — Arquitetou o inesperado: a sua fuga da cidade de Goiás, que ainda era a capital do Estado. Era o desejo de sair do comum, de buscar a liberdade com que sonhava na adolescência. c – Teve quando nova um orgulho velado da sua inteligência literária; mas, na velhice, procurou disfarçar esse orgulho escrevendo que seus textos não valiam nada, numa espécie de disfemismo comum nos grandes escritores: diz-se que são ruins para que sejam percebidos como bons. No caso de Cora o povo e a “crítica” gostaram e pensaram que havia mesmo modéstia sobre o valor de seus escritos. Aí está, me parece, um possível método de contradição entre dois temas para explicar uma nova situação decorrente dessa contradição. Compreendo que esta lógica dialética não se verifica exatamente na criação literária, mas serve de base crítica para a compreensão de alguma coisa que diz respeito a ela: uma afirmação (tese), uma negação (antítese) e, afinal, a tentativa de estabelecer uma visão (síntese) da vida literária de Cora Coralina. Sentindo-se desprezada pela mãe e pelas irmãs que a tinham como feia e sem inteligência, alguns de seus textos documentam a luta íntima na convivência com a família, sobretudo com as irmãs mais velhas, as “manas”, como aparece com certo desprezo. Em Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (3ª edição da UFG), a primeira grande publicação de seus textos, confirma-se na apresentação da Autora o jogo dialético do seguinte modelo teórico de Modéstia X Orgulho: de um lado, a Modéstia (“Vai, meu pequeno livro”.); e de outro o Orgulho (“Que possa sobreviver à autora e ter a glória de ser lido por gerações que hão de vir de gerações que vão nascer”), vendo-se, de início a figura do disfemismo, isto é, da desvalorização por modéstia e, no final, o orgulho intelectual de imaginar seu livro na eternidade, coisa parecida com a “Ode VII”, do Livro I, de Horácio. Este modelo se documenta em todos os seus escritos. No poema “Minha cidade”, (p.37) apresenta-se, dizendo: “Eu sou aquela amorosa / de tuas ruas estreitas / e curtas”, concluindo-se anaforicamente: “Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. / Eu sou Aninha”. O poema todo não passa de uma auto-apresentação da “mulher que ficou velha” e que está “Cantando” agora o passado da cidade e, orgulhosamente, “Cantando teu futuro”. Ela trata a cidade como um ser vivo e humano, em segunda pessoa, como se estivesse conversando com ela. Na verdade, é como se a Aninha dos quinze anos estivesse dizendo a Cora Coralina dos setenta o que deveria ter dito antes, pensando no “futuro”. Mas qual deles? O da cidade ou o da própria escritora?. Note-se o intervalo temporal entre a primeira estrofe, quando ela está falando de sua infância, e o tempo da segunda, quando fala da mulher adulta (“Eu sou aquela mulher / que ficou velha”). Esta oposição entre o novo e o velho está na psicologia dramática do tempo que se perdeu entre a saída de Goiás e a volta quase cinqüenta anos depois. É aí que se dá no texto a presentificação da adulta até o fim, quando então se volta ao refrão da estrofe inicial. A estrutura deste poema é assim toda ela anafórica para a recuperação do tempo perdido… Dá-se aí a identificação metonímica com as coisas da cidade de Goiás: “Eu sou aquele teu velho muro”, “Eu sou estas casas, “Eu sou o caule”, “Eu sou a dureza desses muros”, concluindo-se com a repetição do verso inicial: Eu sou a menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha. ***
*** Casa de Cora, na cidade de Goiás: identificação metonímica com as coisas da cidade | Foto: Arquivo/Jornal Opção *** Também o texto “Antiguidades” oferece “documentação” para a relação conflituosa com as irmãs, como se vê já no início. O poema fala de um bolo que enchia os olhos da menina, mas “A gente mandona lá de casa / cortava aquele bolo / com importância./ […] Eu presente. / Com vontade de comer o bolo todo./ Era só olhos e boca e desejo / daquele bolo inteiro”. Diz a seguir que sua irmã mais velha “governava. Regrava. Me dava uma fatia, / tão fina, tão delgada” e […] guardava bem guardado, / com cuidado, / num armário, alto, fechado, / impossível”. O mesmo se pode dizer do texto “Vintém de cobre”, como na p.47: “Eu vestia um antigo mandrião / de uma saia velha de minha bisavó. / Eu vestia um timão feio [camisola comprida] / de pedaço, de restos de baeta”. Mas havia o sonho do “pé-de-meia”, de “Melhorar de vida, prosperar, / num esforço inútil e tardio”. Em “Velho sobrado”, p. 99, aparece a expressão “Nós, gente menor”. Mas é em “Minha infância”, com o sintomático subtítulo de “Freudiana”, que praticamente serve de fecho ao livro, o lugar em que se pode “documentar” o sentido maior de desprezo a que era submetida a personagem narradora, o que pode até pôr em dúvida se se trata mesmo de mito ou de realidade imaginada, talvez as duas coisas sendo uma só. Na verdade, são dois belos poemas que estão juntos no livro – “Minha infância” e “As tranças da Maria” – possuindo ambos excelente “documentação” sobre o tema que vimos expondo: o desprezo de Aninha, onde modéstia e orgulho se contrapõem. Vale a pena uma transcrição maior deste texto: “Minha infância” Éramos quatro as filhas de minha mãe / Entre elas ocupei sempre o pior lugar. Duas me precederam – eram lindas mimadas. / Devia ser a última, no entanto,/ Veio outra que ficou sendo a caçula. // Quando nasci, meu velho Pai agonizava, / Logo após morria. / Cresci filha sem pai,/ secundária na turma das irmãs. // Era triste, nervosa e feia. / Amarela, de rosto empalamado. / De pernas moles, caindo à toa. / Os que assim me viam – diziam: / — “Essa menina é o retrato vivo / do velho pai doente” […] Caía à toa. / Caía nos degraus./ Caía no lajedo do terreiro. / Chorava, importunava./ De dentro a casa comandava: “—Levanta, moleirona”. / […] “—Levanta, pandorga”,/ […] “—Levanta, perna-mole…” // E a moleirona, pandorga, perna-mole / se levantava com seu próprio esforço.// […] E a casa me cortava: “menina inzoneira!”/ Companhia indesejável – sempre pronta / a sair com minhas irmãs, / era de ver as arrelias / e as tramas que faziam / para saírem juntas / e me deixarem sozinha. / sempre em casa. A partir daí o poema vai fazendo um contraste entre a rua e a casa: na primeira o “mundo sugestivo de maravilhosas descobertas”, / “o rio, a ponte, gente que passava”; na segunda “Na quietude sepulcral da casa, / era proibida, incomodava, a fala alta, / a risada franca, o grito espontâneo, / a turbulência ativa das crianças”. “E a gesta dentro de mim”[negrito nosso], exclamava entre esperançosa e enojada. O poema termina com a Cora Coralina adulta repetindo a lembrança de que era “Triste e feia. / Amarela de rosto empapuçado. / De pernas moles, caindo à toa. / Retrato vivo de um velho doente. / Indesejável entre as irmãs. / / Sem carinho de Mãe. /Sem proteção de Pai… / — melhor fora não ter nascido”. No entanto, ela conclui que “E nunca realizei nada na vida”, embora, no fundo, devia estar consciente de que, aos vinte e um anos, teve a inteligência de “escrever” a “gesta” heróica — a proeza de mudar o seu destino e sair da acanhada Cidade de Goiás. Contraponha-se agora a essas tristes reminiscências da infância a arquitetura do inesperado que se vinha preparando a algum tempo — a sua fuga da cidade de Goiás. O desejo de sair do comum, de buscar a liberdade com que sonhava, levou a jovem Cora Coralina ao extremo de fugir na garupa de um cavalo, embora fosse o meio comum de se viajar e de se roubar uma moça naquela época no Estado de Goiás, como bem documenta o conto “Mágoa de vaqueiro”, de Hugo de Carvalho Ramos. Querendo ou não, os seus escritos acabaram revelando, embora em fragmentos, a gesta, a epopeia dessa aventura [não da sua obra] que a tirou da cidade de Goiás e do próprio Estado de Goiás, levando-a a viver em cidades interioranas de São Paulo, lugares culturalmente inferiores ao que deixara. ***
*** Fuga de Goiás: desejo de liberdade levou a jovem Cora Coralina ao extremo de fugir na garupa de um cavalo | Foto: Arquivo/Jornal Opção *** Eis agora, alguns versos e fragmentos de versos encontrados em Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, principalmente no belo poema “As tranças de Maria”, quando a Autora se identifica com a personagem, presentificando-se no texto: “E Maria… Aonde foi Maria? / Na garupa de um vaqueiro / desconhecido dali […] Moça não tem pensar… […] A moça no seu sumiço. […] Não mais chorassem por ela. […] E Maria nunca mais voltou. / Ninguém viu nada. / Ninguém ouviu nada. / O mato guardou seus segredos escuros. // Maria se foi na garupa / de um vaqueiro, desconhecido dali. […] Consolasse com o destino de sua filha. / Sinais?… Teriam a seu tempo”. [pusemos em negrito]. É certo que o poema-conto belíssimo termina enfatizando as forças regionais, mas deixando nas entrelinhas do intertexto, os sinais suficientes para mostrar que, pensando em Maria, Cora Coralina pensava também na sua gesta heróica de sair de Goiás. Creio que foi uma bela maneira de ocultar / revelar a sua própria história: uma contadora de “estória” (uma narradora) que fala de uma personagem que tem alguma coisa a ver com ela mesma. Um poema-narrativo que lembra alguma coisa do “Noturno de Belo Horizonte”, de Mário de Andrade, onde se fala da Serra do Rola Moça, com “o noivo com sua noiva / cada qual no seu cavalo”. Eis também alguns exemplos extraídos de Vintém de cobre, onde se lê a força de vontade, o desejo vital de sair do ramerrão de sua vida familiar sem afeto em busca da aventura que lhe acenava com o sentido da liberdade. Em Vintém de cobre, com o subtítulo de “Meias confissões de Aninha”, encontra-se, logo no início, o “Cântico primeiro de Aninha”, onde há versos que parecem reduplicar os acontecimentos da vida real, e que brotam do discurso poético como um iceberg na solidão do viajante: “Cavalgando o negro corcel da febre. / Desmontado para sempre”, “Escondida no meu mundo, / Longe…. Longe … / Indefinido longe, nem sei onde. / O tardio encontro”. A seguir, no poema “Moinho do tempo”, aparece um verso que resume com indignação toda a vida difícil que levava: “Tanta pobreza a contornar”. Tanto sonho irrealizado, tanto abandono”. […] “E a gente a querer abrir uma brecha naquela muralha parda de pobreza e limitação”. [Negritos nossos] Veja-se gora a beleza de um verdadeiro poema de versos livres, poema, não estória ou tipo de narrativa comum em vários outros textos de Cora Coralina. O poema “Aquela gente antiga – II”, além da contenção de linguagem, tem a força poética da dicção perfeita: Aquela gente antiga explorava a minha bobice. Diziam assim, virando a cara como se eu estivesse distante: “Senhora Jacinta tem quatro fulores mal falando. Três acham logo casamento: uma, não sei não, moça feia num casa fácil”. […] Cresci com os meus medos e com o chá de raiz de fedegoso, presente pelo saber de minha bisavó. Certo que perdi a aparência bisonha.Fiquei corada E achei quem me quisesse. Sim, que esse não estava contaminado dos princípios goianos, de que moça que lia romance e declamava Almeida Garrett não dava boa dona de casa.[Negrito nosso] É uma das raras vezes em que fala, embora obliquamente, do seu companheiro de fuga. Mas em “Semente e fruto” diz claramente: “Um dia, houve. / Eu era jovem, cheia de sonhos. / Rica de imensa pobreza / que me limitava / entre oito mulheres que me governavam. E eu parti em busca do meu destino. Ninguém me estendeu a mão. Ninguém me ajudou e todos me jogaram pedra. A ideia de saída é constante na suas memórias . “Em “Menina mal amada” confessa que “Tinha medo de ficar moça velha sem casar”. Em “Premonições de Aninha” lê-se o seguinte: “Por que não partiu para longe, distante”. Poderia ter acrescentado: “pera longes terras”, como no texto de Menina e moça, que ela devia conhecer no Gabinete Literário Goiano. Aí está, mais que comprovado, o sentido maior da antítese: A (irmãs ruins), logo B (saída de perto delas). Mas vejamos em seguida uma possível síntese dessa vida dramática, valendo-nos da sua metalinguagem, melhor dizendo, do seu apego à figura do disfemismo, forma de expressão literária de menosprezar o que escreveu para mais valorizá-los do que por verdadeira modéstia e humildade. O orgulho velado da inteligência literária de Cora Coralina, descoberta precocemente já era um modo de contrapor-se às suas irmãs. E agora, na velhice, procura disfarçar, esse orgulho (na verdade lhe dando mais ênfase) quando escreve que seus textos não valem nada, numa espécie retórica do disfemismo tão comum nos grandes escritores, como no Tutameia, de Guimarães Rosa, por exemplo. Na abertura de Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, além do texto “Este livro”, cujos versos finais nos deram motivo para mencionar o jogo dialético entre Modéstia e Orgulho, traz uma “Ressalva” (p. 31) que, por si só, com seus vários significados de “atestado”, de “nota para corrigir erro naquilo que se escreveu ou publicou”, funciona também como documento, exceção, reserva, etc. Mas a “ressalva” de Cora Coralina tem um sentido claro de metalinguagem quando diz na primeira estrofe que “Este livro foi escrito / por uma mulher / que na tarde da Vida / recria e poetisa sua própria / Vida”. Note-se que “Poetisa” está aí como verbo, a sugerir que a sua obra transmite magia à própria vida da escritora. A segunda estrofe repete um pouco, mas sem a força poética da primeira. É a parte final que confirma o que ela pensa dos seus versos e poemas, melhor, o que ela não pensa; por astúcia ou veracidade, ela passa a sua dúvida e a sua batata quente ao leitor: este é quem tem de saber se é poema, se é poesia, se é verso ou se tudo não passa de umas simples e velhas estórias: Este livro: Versos…. Não. Poesia…. Não. um modo diferente de contar velhas histórias. Esse “modo diferente” levou a própria escritora, com ceerto orgulho, a pensar que era verdade, que era diferente, que estaria renovando… Mas não estava: era o mesmo, o mesmo tipo de escrita já usado por muitas outras escritoras brasileiras. Apenas com uma ressalva importante: Cora Coralina fazia realmente o mesmo, mas com o talento literário dela, só dela, de mais ninguém. Reunido todos esses exemplos (catados apenas nos livros acima mencionados), tem-se a teoria de que o conflito com a própria família foi resolvido com a saída de Goiás, surpreendendo a todos. E é por essa fuga que ela encontra noutro lugar o sentido da liberdade, interrompendo com isso toda a iniciação literária e cultural que vinha adquirindo em Goiás. Daí porque, entre família e fuga, ela soube voltar ao ponto de partida e construir, na velhice, com a força telúrica da sua vivência na região, um belo depoimento pessoal, de grande importância para o conhecimento da mulher e da cultura do Planalto Central nos anos que se seguiram à República e à Abolição da escravatura no Brasil. Relações com a obra Vai em anexo, uma espécie de fortuna crítica da minha relação com a obra de Cora Coralina: A — Em 1956, quando Cora Coralina voltou a Goiás, depois de uma ausência de 45 anos, os escritores goianienses — de Goiânia — (por intermédio da ABDE – Associação Brasileira de Escritores de Goiás), fizeram-lhe uma homenagem no Jóquei Clube de Goiás e no restaurante Bamboo. Na ocasião foram homenageados também outros escritores que havia publicado o seu primeiro livro, entre os quais este que escreve. B – Em 1964, em A poesia em Goiás, escrevi sobre a contribuição feminina às letras goianas, e sobre Cora Coralina anotei na p. 509: CORA CORALINA, Goiás, é o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto, conforme já registra o Prof. Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, em 1910: “é um dos maiores talentos que possui Goiás [Cidade]; é um temperamento de verdadeiro artista. Não cultiva o verso, mas conta na prosa animada tudo o que o mundo tem de bom, numa linguagem fácil e harmoniosa, ao mesmo tempo elegante. É a maior escritora do nosso Estado, apesar de não contar ainda vinte anos de idade”. [cf. p. 209]. Anotei o seguinte: “Parece um tanto exagerada a opinião do famoso professor goiano, mas Cora Coralina desde aquela época parece que nunca deixou de fazer a sua literatura, passando do conto ao verso, ou melhor, ao poema em prosa, porquanto, apesar da forma do verso livre, a sua linguagem não possui muita densidade poética, a não ser num ou noutro poema, como nos que escolhemos para a Antologia [segunda parte do livro]. Mas é na verdade exímia contista, conforme salientamos no primeiro número dos Cadernos de Estudos Brasileiros, de 1963, Na revista Oeste, nº 4, p. 30, José Lobo [J. Lúpus] nos dá notícia de que Cora Coralina escreveu um livro com o nome de Canção das águas. Houve engano tal livro nunca existiu. Trata-se apenas de um poema, bastante longo. Aliás, na sua Bibliografia, J. Lupus comete também outros enganos, segundo já dissemos, quando tratamos de Bráulio Prego. [Na verdade a crítica em Goiás foi sempre superficial, contentando-se em elogiar parentes e amigos sem a preocupação maior do sentido universal.] O único trabalho publicado de Cora Coralina é o seu O Cântico de volta (1956)*. Depois de muitos anos fora de nosso Estado, a escritora voltou e os intelectuais goianienses receberam-na com um coquetel onde se distribuiu esse livro, melhor, uma plaqueta em que a autora se mostra deslumbrada com a cidade de Goiás, que há muito tempo havia deixado na garupa de um cavalo… Não se trata todavia de poemas, e sim de crônicas, na acepção moderna que a palavra veio a tomar, e na qual se revela talentosa. Daí trechos, como sobre as lavadeiras: “Quando, de tarde, atravessam as ruas grandes trouxa alvacentas, equilibradas nas trunfas, têm um cheiro infante e gotoso de gente limpa, água e sabão”. E termina oferecendo sua crônica-poema com bastante força poética: “Para ti, cidade Mater, este cântico perdido de quem volta às origens da Vida”.O curioso é que nenhum desses poemas se encontra nos livros acima mencionados. [Nota de 2017.] ***
*** Após 45 anos longe de Goiás, Cora é recebida com homenagens dos escritores goianienses | Foto: Divulgação/Arquivo Museu Casa de Cora Coralina *** C – Em 1969, em O Conto Brasileiro em Goiás, escrevi: Parece que o único conto representativo dessa fase nebulosa e genética da ficção em Goiás é “Tragédia na roça”, de ANA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO (1890-1985), mais conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina. Vem publicado na página literária do Anuário Histórico, Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás, de 1910 […] De fato, percebem-se no conto de Cora Coralina os primeiros sintomas do regionalismo goiano, evidentemente mais no aproveitamento do tema rural do que pelos caracteres da linguagem criadora, de teor poético mas estilisticamente romântica. No entanto, apesar de uma e outra imagem já inoperante e frágil para a época, apesar da estrutura numa mesma pauta e ritmo, não se pode negar-lhe a movimentação dramática, a concisão expressiva, a fina sensibilidade da pincelada rápida e sugestiva. D – O poema “Coral” em 1985— Um dia a escritora Heloísa de Campos Borges, ex-presidente da Academia Feminina de Letras e Artes, me disse que Cora Coralina se lamentava de eu não ter escrito nada sobre ela. Estranhei, pois quando a visitei em Goiás, ela tinha os meus dois livros (A poesia em Goiás e O conto brasileiro em Goiás) na estante. Foi então que, a pedido da Heloísa, escrevi o poema “Coral”, publicado em Saciologia goiana e musicado por Antônio Verve no Rio de Janeiro e por Marcelo Barra em Goiânia. Saiu na 3ªª edição de Saciologia goiana (1986). A escritora, já na UTI, não pôde ver meu poema de pura homenagem a ela. Aí vai ele: CORAL Cora Cora Coralina Cora Cora Coralina cora o verde da campina cora o peixe da piscina cora o vento dos gerais cora a festa dos pardais cora o peito da camisa cora tudo que me inspira cora o elo desta brisa cora as cordas desta lira na divisa de Goiás. cora o tempo de Goiás. Cora Cora Coralina Cora Cora Coralina cora o ouro dessa mina ora lâmina mais fina cora a terra e seus cristais cora a ponta dos punhais cora tudo que não tenho cora a força deste tema cora a moenda do engenho cora a letra do poema moendo o som de Goiás. na escritura de Goiás. Cora Cora Coralina cora a face da menina cora a cor dos arrozais cora o nome que desliza, cora a coisa mais precisa na divisa de Goiás. [Saciologia goiana, 2ª ed.,1986.] E –Em Entrevista a Deonísio da Silva, divulgada pelo site “Plataforma para a Poesia”, em 24 de julho de 2004, perguntado sobre o que eu pensava da obra de Cora Coralinas, respondi o que continuo a responder: Os seus poemas constituem um belo mito literário de Goiás e — por que não? — de todo o Brasil. E, como todo mito, foi criando a sua própria estrutura, uma superestrutura, uma linguagem estratosférica e fechada que impede que a obra seja realmente e examinada, e julgada. E como se iniciou tudo isto? Através de um duplo movimento: Primeiro, com a sua saída de Goiás: Cora Coralina (cujo nome literário por si só já possui um encantamento mítico-poético) saiu da Cidade de Goiás (que também por si só é um berço de mitos) ainda muito nova, em 1911, numa aventura que deixou seus habitantes boquiabertos, criando-se um sentido evemerista para a base do mito. Nesse período não publicou quase nada. Segundo, com sua volta a Goiás, 45 anos depois, em 1956 o tecido mítico já estava quase pronto: só faltava um ingrediente de ordem superior que o ativasse. E isto se deu com o início da publicação de seus “poemas” e uma série de pequenos acontecimentos oportunos, como a crônica do Drummond, em que se fala mais da mulher de 70 anos e dos temas do que da sua linguagem poética e quando toca no verso parece desconversar, dizendo apenas: “O verso é simples, mas abrange a realidade vária”. A partir daí fala de sua “consciência humanitária […] que o seu verso consegue exprimir tão vivamente em forma antes artesanal do que acadêmica” [negrito nosso]. O poeta não fala do verso, mas do tema. É o único momento em que fala dos versos da escritora goiana. Assim, o mito drummondiano se estendeu sobre o nome de de Cora Coralina, ampliando-o no sentido da “forma antes artesanal do que acadêmica”. Aliás, Cora Coralina chegou a Drummond por intermédio do editor José Olympio, o seu grande editor. A pedido do velho J. Olympio (para quem Cora trabalhou vendendo livros em São Paulo), Drummond leu e escreveu uma crônica. Foi o estopim acendido. Um leitor consciencioso percebe que Drummond evita falar da estrutura dos poemas e concentra o seu elogio na capacidade de Cora já idosa tratar das coisas simples e humanas. Ele se encantou com a mulher de setenta e tantos anos e com a sua disponibilidade para escrever. As feministas, reunidas no Rio de Janeiro, precisavam de uma referência como a de Cora Coralina e a tomaram como símbolo do movimento das mulheres. Cora, inteligentemente, aceitou as homenagens do movimento, escrevendo muitos de seus últimos poemas sobre esse e outros temas sociais. Aí todo mundo foi atrás – gente, professores, políticos, todo mundo passou a repetir o sentido hiperbólico desse mito que ficou assim consolidado. Desta maneira aquele que escreve hoje sobre Cora Coralina está inconscientemente “dirigido” pela linguagem mítica, que é simbólica e, como tal, opressora, vertical e impositiva, de cima para baixo. A especulação crítica perde a sua liberdade e o estudioso não se dá conta de que está escrevendo o “esperado”. Escreve-se sobre a mulher e não sobre sua obra, que vai ficando “invisível” como forma literária. Só se veem os “temas”, como se isto por si só constituísse a literatura. As dissertações de mestrado e os trabalhos que aparecem são “sobre” Cora Coralina e não sobre sua obra. Com isto, os elementos estruturais, estéticos e estilísticos de seus poemas e os problemas primários de verificação de manuscritos e textos publicados depois da morte da autora vão sendo marginalizados. E o público, que não sabe nada disto, vai achando que é assim mesmo. Mas está errado. A crítica não tem a função emotiva de confirmar o que já se disse, e sim a de examinar a obra, reexaminá-la e trazer novas contribuições que justifiquem o seu valor na literatura. As editoras do Brasil não estão interessadas nesses problemas: querem é faturar, vender os livros da autora, independente de estarem ou não fiéis aos manuscritos. E o problema vai rolando até que um dia apareça alguém que faça um estudo digno do nome e do mito de Cora Coralina, sem o malabarismo de citar Deus e todo o mundo para justificar o inexplicável. Desviam-se da obra para o contexto, onde metem à força a escritora, falseando a idéia de geração e a visão teórica dos gêneros. Para isto é preciso partir apenas da sua obra: não ter medo de desagradar à filha e levantar o que Cora publicou em revistas e jornais, antes de voltar para Goiás — na primeira fase do mito. Na verdade, não publicou quase nada, conforme se vê na Informação Goiana, do Rio de Janeiro, onde só encontramos três crônicas e nenhum poema. Em seguida, ver os seus livros e os poemas inéditos, num trabalho preliminar de preparar os textos de Cora para o futuro leitor. E só depois analisar seus poemas, a partir da linguagem deles, mostrando os textos como eles são, revelando o seu valor pelo modo com que foram produzidos e estruturados. Daí, tenho certeza, sairá não um antimito, mas uma Cora Coralina digna de ser realmente reverenciada como signo, como ícone, como âncora (não como símbolo) da cultura goiana. Rio de Janeiro, 23 de março de 2017 * O Cântico de volta, de Cora Coralina, não traz indicação de editora nem de data, mas foi publicado na Cidade de Goiás, em 1956. Trata-se de duas folhas apenas, em formto13 x 24. Uma resposta para “Mito e realidade literária em Cora Coralina, ou a Celebração do Celebrado” Avatar Olmair Perez Rillo disse: terça-feira 03 julho 2018 10:53 às 10:53:38 AM Faltou dizer que Cora Coralina residiu na cidade de Penápolis (S), onde, na segunda metade da década de 1930, época na qual era raro ver uma mulher comerciante, ela vendia linguiça e mudas de árvores e, em certa ocasião ofereceu mudas ao prefeito para serem plantadas nas calçadas da cidade toda, e em sua Casa de Retalhos. Cora Coralina lutava, nas ruas e no jornal “O Pennapolense” , pela instalação de uma Associação Comercial na cidade. Responder Deixe uma resposta *** *** https://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/mito-e-realidade-literaria-em-cora-coralina-ou-a-celebracao-do-celebrado-129659/ *** ***