sexta-feira, 27 de março de 2015

Voltando ao começo. Gênese. Lumiar a escuridão.


Intro (É Necessário Voltar Ao Começo)

Emicida



Brasil, 27 de março de 2015.

Caro Professor Senhor Luiz Pinguelli Rosa

Com toda a consideração e respeito que o julgo merecedor, humildemente, pergunto lhe:

Onde aconteceu o curto-circuito no Sistema PT de Poder (SPTP)?

No pára-raios? No cabo de conexão com o terra? Ou na haste no próprio aterramento?

O senhor, como especialista em Segurança, trabalhando nessa área desde anteontem, pode me informar se isso é apenas uma contingência, ou se já entramos num transitório caminhando para um regime permanente?

Os elos do SPTP vão se sustentar com o enfraquecimento de sua interligação com os sistemas isolados e alternativos que compõem o pool no poder?

Se no diagnóstico se quiser avançar para trás um pouco mais para integrar os estresses sobre o sistema que enfraqueceram a segurança e a estabilidade do complexo nacional por onde deve-se atacar, com que retro-estratégia ou com que lanterna na popa?

Por sua história, tanto acadêmica como político-sindical, crê-se ser a pessoa mais indicada para subsidiar os neófitos na área.

O esvaziamento e a privatização do antigo CEPEL (Centro de Pesquisas em Eletricidade da Eletrobrás), com pesquisadores tendo sido, praticamente, forçados a abraçar seus projetos pessoais privados antes mesmo de se desligarem daquele centro de pesquisas público, e de qualidade, seria uma boa pista?

As greves abruptas de pesquisadores de relevo internacional devidas a aviltamentos das condições de trabalho, naquele mesmo Centro, não vulnerou ainda mais o sistema por deixar de se realimentar com massa crítica politicamente consciente tal qual a sua própria geração?

E last but not least, uma pergunta que espera-se não ferir sua sensibilidade e ética: a sua substituição como presidente da Eletrobrás, em 2004, no primeiro governo Lula, porque, segundo ele divulgou na época, o senhor não tinha votos no senado federal, coisa que o seu substituto aparentemente trazia para dentro da estatal, não é hoje saboreada como agradecimento pela deferência pessoal do ex-presidente, para com o senhor, numa atitude de premonição de amigos?

Que continue ousando com toda a sua capacidade de comunicação e influência junto a quem pode pelo menos improvisar uma gambiarra para que o Sistema Nacional Brasil (SNB) volte à zona de segurança esperada por todos os que ajudaram a construir o que pode se transformar num castelo de areia fragilizado para uma simples brisa de outono.

Com um grande abraço.

Do seu

Mundo em mutação

Mundovelhomundonovo.blogspot.com.br

De Volta Ao Começo

Gonzaguinha


12/10/2014 • O Estado de S. Paulo

SUELY, CALDAS - O Estado de S.Paulo

12 Outubro 2014 | 02h 05

"Já estou de saco cheio. Todo ano é a mesma coisa", reagiu o ex-presidente Lula às denúncias feitas à Justiça pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. Os dois acusaram o PT, o PMDB e o PP de receberem dinheiro desviado da Petrobrás.

"Que me desculpe o Pinguelli, mas ele não tem um único voto no Senado" foi a explicação dada pelo ex-presidente Lula, em 2004, para demitir da presidência da Eletrobrás o professor da UFRJ Luiz Pinguelli Rosa e substituí-lo por Silas Rondeau, afilhado político do ex-senador José Sarney. Pinguelli durou 16 meses na estatal e voltou a dar aulas, Rondeau saiu três anos depois, acusado de corrupção na Operação Navalha, da Polícia Federal. Começava aí, na demissão de Pinguelli, em abril de 2004, a montagem de um extenso esquema de loteamento de cargos públicos entre os partidos aliados do governo que não ficou restrito aos ministérios - foi estendido às estatais e às agências reguladoras e, ao longo das gestões Lula e Dilma, causou graves prejuízos ao País, impostos por políticos ou seus emissários que assumiam fatias do poder para dali extrair dinheiro, favores e vantagens para seus partidos.

Esse esquema não foi pontual nem episódico, espalhou-se por toda a administração pública e chegou à Petrobrás, maior empresa do País, orgulho dos brasileiros. Também não era um complemento, era o próprio mensalão. Se no Congresso o mensalão se expressava em mesadas aos parlamentares para deixarem os partidos da oposição ou aprovarem propostas do governo, nas estatais e nas agências ele era operado por políticos e apadrinhados a serviço dos partidos da base aliada.

Lula e o PT passaram a defender tal esquema como necessário à governabilidade. E, quando começaram a pipocar casos e casos de corrupção, justificaram-se buscando companhia: sempre foi assim, em todos os governos, e no de FHC foi pior, diziam. Acertavam no diagnóstico, mas erravam na medida. No Brasil a corrupção esteve presente em sucessivos governos (que o digam Sarney e Collor), mas nunca na história deste país ela alcançou dimensões tão abrangentes. Parece mesmo ter sido tudo planejado a partir do mapeamento de cargos e favores para serem oferecidos aos partidos políticos. Em troca, o PT construiria maioria no Congresso, ganharia tempo na TV em campanhas eleitorais e concretizaria seu projeto de longa vida no poder.

Na Petrobrás, o primeiro a cair foi o diretor de Abastecimento Rogério Manso, funcionário de carreira, de competência técnica reconhecida e respeitada na empresa. Manso foi demitido em abril de 2004 (logo depois de Pinguelli da Eletrobrás) para dar lugar ao hoje delator e alvo da Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa. Segundo registros da imprensa na época, o então presidente da estatal, José Eduardo Dutra (ex-senador pelo PT, ex-presidente da Petrobrás e depois do PT e hoje diretor da área de serviços da estatal), teria resistido a substituir Manso por Paulo Roberto, mas acabou por ceder às pressões de Lula e do PP.

Em sua coluna de 1/5/2004 no jornal O Globo, o jornalista Jorge Bastos Moreno publicou oportuno diálogo entre Lula e o líder do PP na Câmara, Pedro Henry, que mostra a avidez do PP pelo cargo, a resistência de Dutra e o estilo fanfarrão de Lula quando dialoga com a classe política entre quatro paredes.

Em café da manhã com a bancada do PP, Lula teria dito: "Ninguém cumpre minhas decisões. Eu não vou mais pedir, vou determinar. Quem não cumprir, demito!". Ouviu de Pedro Henry: "O senhor determinou que ao PP fosse entregue a diretoria de Abastecimento da Petrobrás. Mas liguei para um tal de Diego (Diego Hernandez, chefe de gabinete de José Eduardo Dutra) e ele disse 'não é bem assim. Tem de passar antes pelo Conselho e por uma série de procedimentos burocráticos'". E Lula: "Quem nomeou esse conselho fui eu! Eu posso demitir esse conselho! Eu posso demitir esse Diego".

Hoje Lula se diz "de saco cheio" com o doleiro Youssef, lembrando seu empenho em atender o PP e nomear Paulo Roberto. E como anda o "saco" dos brasileiros, Lula?

É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR




 O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Senador Antonio Carlos Magalhães, V. Exª traz uma reflexão muito significativa. Segundo a imprensa, o Presidente estaria considerando substituir Luís Pingueli Rosa, pessoa de extraordinário conhecimento e competência e que tem realizado uma administração importante na Eletrobrás. Entretanto, ouvi o comentário: será que ele não dá votos no Senado? Ora, se ele está administrando bem a Petrobras, então tenho a convicção de que os que defendem, aqui no Senado, o interesse público jamais deixariam de votar no Presidente com a continuação de Luiz Pinguelli Rosa na administração. Eu queria apenas reforçar a recomendação que V. Exª faz sobre o tema. O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL – BA) – Eu diria: Presidente Lula, ouça os seus correligionários, ouça os partidos aliados, mas faça sempre o que for melhor para o Brasil. Não é por pressão ou por ganhar uma votação, na Câmara ou no Senado, que o Governo vai ficar mais forte. Não. O Governo ficará mais forte se ganhar a opinião pública com um trabalho digno, decente, sobretudo na área social, que vive muito abandonada. Se isso for feito, não tenho dúvidas de que o Presidente vai crescer, como também crescerão Câmara e Senado. E ele terá o apoio indispensável de todos os partidos ou de todos os Senadores ou Deputados. Os que ficarem contra o povo não terão o apoio popular. Daí eu apelar para o Presidente, com toda a energia: Presidente, pense no Brasil e não aceite imposições de quem quer que seja. Não digo que não faça pessoas de partidos políticos. Pode fazer, mas escolha os bons, com folha corrida decente, para que possamos ficar felizes, e, certamente, o Presidente com a sua consciência mais leve em relação ao votos que recebeu dos brasileiros. O Sr. Heráclito Fortes (PFL – PI) – Senador, permita-me V. Exª um aparte? O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL – BA) – Com muito prazer. O Sr. Heráclito Fortes (PFL – PI) – Gostaria apenas de fazer uma correção, para colaborar inclusive com o Senador Suplicy e com V. Exª. A frase “o Pinguelli é um grande homem público, mas não me traz um voto, nem no Senado nem na Câmara” foi do próprio Presidente Lula – evidentemente que em um momento de desabafo. Peço que isso fique registrado, para que a História tome conhecimento disso e guarde para as análises do futuro. A frase partiu do próprio Presidente Lula. O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL – BA) – Segundo li, é verdade a afirmativa do Senador Heráclito e a crítica, justa, do Senador Eduardo Suplicy. Sr. Presidente, vou finalizar. V. Exª sempre é generoso. Todos aqui estão de acordo com esta idéia, e duvido que neste plenário uma voz se levante contra ela, inclusive o nosso querido Líder do Governo, Aloizio Mercadante: todos nós queremos um Governo competente, independentemente de barganhas ou de forças políticas, que estão a exigir aquilo que o povo não quer, que é a incompetência dominante atualmente, em grande parte, do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o meu apelo, Sr. Presidente. Tenho certeza de que, se o Presidente não ouvir, V. Exª fará com que ele ouça, com a chegada do meu discurso ao Palácio do Planalto.


ENERGIA

Para ex-presidente da estatal, governo intervém em excesso e trata a empresa apenas como "geradora de superávit"

Falta autonomia à Eletrobrás, diz Pinguelli

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO 

O ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa, 62, defendeu que o governo dê mais autonomia à estatal de energia e deixe de intervir no "dia-a-dia" da empresa, que precisa ter "autonomia".
Em sua primeira entrevista exclusiva desde que foi demitido do cargo, entregue a Silas Rondeau, indicado pelo PMDB, Pinguelli afirmou que a Eletrobrás é tratada como "uma geradora de superávit", e não de energia, e por isso é impedida de investir e liderar a expansão do setor.
Segundo ele, o Planalto tem a "ilusão" de que a iniciativa privada fará todos os investimentos necessários no setor elétrico.
"O que predomina é a política macroeconômica: vamos catar dólares, vale qualquer coisa, até urânio", disse Pinguelli, referindo-se a um suposto acordo, depois negado pelo governo brasileiro, para a exportação do minério para a China.
Pinguelli narrou discussões com a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) e com Joaquim Levy (secretário do Tesouro), com quem "saiu no pau".
Para o físico, que voltou à Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) após deixar a estatal, o governo Lula não tem uma política energética. O novo modelo é apenas um marco regulatório. Falta olhar "adiante", afirmou na entrevista.
Embora diga continuar apoiando o governo, ele responsabiliza o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos obstáculos que encontrou ao dirigir a Eletrobrás. "A responsabilidade é do presidente Lula. Eu cobro tudo do Lula. Ele foi o eleito." Abaixo, os principais trechos da entrevista.
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Folha - Qual foi o motivo de sua saída da Eletrobrás?
Luiz Pinguelli Rosa - 
Houve toda uma cronologia. Numa reunião com todos os diretores de estatais [em setembro do ano passado] e com a ministra Dilma [Rousseff, de Minas e Energia], surgiu uma questão entre um colega [de direção da Eletrobrás] e o ministério. Eu saí em defesa dele. Isso me levou a um confronto com a Dilma. Naquele instante, declarei que por causa do incidente estava "pedindo as contas" da Eletrobrás.

Folha - Qual foi o ponto de discórdia?
Pinguelli - 
Tinha relação com o novo modelo, particularmente com as federalizadas, empresas [distribuidoras das regiões Norte e Nordeste] provisoriamente incluídas no grupo Eletrobrás que são deficitárias e não tiveram nenhum plano de salvamento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social].

Folha - Na sua visão, o que faltou ao novo modelo?
Pinguelli - 
Seria uma medida complementar, mas eu queria uma solução para a perda de receita de Furnas [causada pela descontratação de energia, imposta pelo modelo anterior, que liberava 25% dos contratos bilaterais com as distribuidoras a cada ano]. Isso poderá dificultar muito até o superávit primário deste ano e os investimentos de Furnas.

Folha - A descontratação é o grande problema do setor?
Pinguelli - 
Não. O grande erro de todo o governo, e a Dilma e o ministério estão dentro do governo, é a crença de que o investimento privado por si só basta para a expansão do setor, deixando o maior grupo do país [Eletrobrás] em uma posição indefinida. Obviamente que a maior empresa elétrica do país tem de puxar os investimentos. A Eletrobrás tem de ser idêntica à Petrobras, o que significa menor intervenção do governo no dia-a-dia da empresa. Tem de blindar a empresa. Os órgãos de Estado, inclusive as estatais, têm de ter missão e autonomia.

Folha - Quem mais intervinha?
Pinguelli - 
O governo todo. Mas o pior problema era com o Tesouro Nacional. Quando eu tive uma reunião com o presidente Lula e a Dilma, saí no pau com o Joaquim Levy. Ele não considerava [na meta de superávit] a parte de Itaipu transferida ao Tesouro, que foi de US$ 1 bilhão no ano passado. É como se essa parte não fosse da Eletrobrás. Daí eu disse: "Vem cá, em primeiro lugar, eu sou contra o superávit primário, me desculpe, presidente. Eu cumpro porque sou da sua equipe e a ordem é essa. Mas devo declarar que a minha empresa, que é uma geradora elétrica, parece que é só uma geradora da superávit primário".

Folha - E qual foi a posição da ministra Dilma?
Pinguelli - 
A Dilma é uma pessoa disciplinada. Ela encara a posição do governo.

Folha - O senhor chegou a balançar na reforma ministerial ocorrida em janeiro?
Pinguelli - 
Com a idéia de mudança do ministério, eu fui procurado, em nome do governo, para saber se aceitaria um ministério da reforma universitária. Eu disse que não. Depois [no mês de abril], houve o final feliz, como todo mundo sabe, quando houve a reunião com o PMDB e o presidente declarou... [que gostava muito do Pinguelli, mas que ele não dava nenhum voto no Senado].

Folha - Depois disso, o senhor falou com o presidente Lula?
Pinguelli - 
Estamos para conversar agora. Deve ser no dia 9.

Folha - O que o senhor vai falar ao presidente?
Pinguelli - 
Vou falar tudo o que penso, das realizações da Eletrobrás no ano passado, se ele abrir espaço. O detalhe técnico que o governo não faz idéia. O governo nutre a ilusão de que pode deixar a Eletrobrás na geladeira que o setor privado, em particular o estrangeiro, vai fazer todo o investimento.

Folha - O senhor crê no discurso de que só uma política fiscal austera e inflação controlada é que darão as bases para um crescimento sustentado?
Pinguelli - 
A intenção é boa. Eles acham que isso é a solução. Mas o perigo é o doente morrer antes de o remédio fazer efeito. Há outros problemas. Por exemplo: não temos problemas de energia elétrica porque a economia não está crescendo. Na medida em que a indústria e a renda cresçam, vai faltar energia. Já estamos no limite para fazer novos investimentos. Sem energia, há um gargalo no desenvolvimento e pode até ser gerada uma recessão.

Folha - Quando o senhor diz "matar o doente", imagina que o país possa caminhar para uma moratória?
Pinguelli - 
Não. Deixa eu falar da minha especialização. O Brasil, por exemplo, não tem política energética. Só tem uma política macroeconômica bem-sucedida do ponto de vista do controle da moeda. Tem também uma política externa e de comércio exterior. Mas em muitas áreas não tem.

Folha - E o que o governo fez durante esse ano e meio?
Pinguelli - 
O governo faz muita coisa. Teve um trabalho monstruoso para fazer o novo modelo [do setor elétrico], mas ele perdeu um pouco a visão estratégica.

Folha - O senhor se sente decepcionado com o governo Lula?
Pinguelli - 
Decepcionado não é a palavra. Fico pensando que faltou alguma coisa, que poderia ser melhor. E poderia. O caso da energia é um bom exemplo. Não pode ficar segurando a Eletrobrás. Não pode ser o Joaquim Levy que pensa a energia no Brasil.
Folha - Foi ele quem mais colocou obstáculos?

Pinguelli - 
O Levy cumpre uma missão. A responsabilidade é do presidente Lula. Eu cobro tudo do Lula. Ele foi eleito. Deram a tarefa a ele [Levy] de segurar o dinheiro. E ele segura.
Folha - Como o senhor viu a história do suposto acordo, que depois ficou só na intenção, de exportar urânio para a China?

Pinguelli - 
Exportar urânio natural [não-enriquecido] é um negócio mixuruca, vagabundo. Depois, o ministro [Eduardo Campos, de Ciência e Tecnologia] declarou que não havia acordo nenhum. Não há como ganhar muito dinheiro com isso. O que interessa [ao governo brasileiro] é ganhar. É uma política de exportação. O que predomina é a política macroeconômica: vamos catar dólares, vale qualquer coisa, até urânio.


REFÉM DA BASE

Pinguelli anuncia saída do cargo, reivindicado pelo partido

Governo cede ao PMDB e tira o presidente da Eletrobrás
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO 

O presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, anunciou ontem no Rio de Janeiro sua saída do cargo, que ocupa desde janeiro de 2003. O motivo da demissão, segundo ele, foi a necessidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover "uma composição política" com o PMDB.
Pinguelli Rosa afirmou que soube da demissão na manhã de ontem. Primeiro, pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Mais tarde, pelo ministro José Dirceu (Casa Civil).
"Os dois falaram que o presidente precisou do cargo por causa de negociações que estão em curso para a composição da base do governo", disse Pinguelli, que foi coordenador do programa de governo de Lula na área energética.
Deve ocupar o seu lugar o atual presidente da Eletronorte (subsidiária da Eletrobrás), Silas Rondeau, embora o Ministério de Minas e Energia não confirme a indicação. Rondeau tem ligações com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que foi fundamental para evitar a instalação de uma CPI do caso Waldomiro Diniz no Congresso.
A demissão teria sido acertada na noite de quinta-feira, num jantar em Brasília entre Lula e a cúpula do PMDB, que cobrava indicações de cargos em estatais.
Pinguelli evitou atacar o presidente, de quem se diz amigo há 15 anos. Mas, fez uma crítica: "Eu não tenho votos no Senado, mas tenho bastante na área acadêmica". Foi uma reação a uma suposta declaração de Lula, que teria dito que gostava muito dele, mas que ele não tinha voto no Senado.
Não há ainda uma data para a troca de comando na estatal, que só ocorrerá após uma assembléia geral de acionistas convocada pelo Conselho de Administração. Pinguelli Rosa disse que voltará a dar aulas na Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"Cronologia"
Ele contou como foi a suposta "cronologia" da sua demissão. Começou em janeiro, quando ficou vaga a diretoria financeira da estatal. Pinguelli Rosa queria um nome e havia uma outra indicação política. Não houve acordo.
Ainda em janeiro, na semana da reforma ministerial, ele disse ter negado uma oferta feita por Dilma para a vaga de ministro especial da reforma universitária.
Pinguelli deixa o cargo com uma vitória -a saída das empresas do grupo do PND (Programa Nacional de Desestatização)- e uma derrota -os critérios de contabilidade do superávit primário da estatal não mudaram.
O superávit foi motivo de briga com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Pinguelli Rosa queria que a meta de Itaipu, que contribuiu com US$ 1 bilhão em 2003, fosse incorporada à da Eletrobrás. Assim, sobrariam mais recursos para investimentos.
Para 2004, o orçamento da estatal prevê investimentos de R$ 4,9 bilhões. Esse valor pode ser alterado, dependendo da meta de superávit, "que neste ano está difícil de cumprir", segundo Pinguelli.
A Eletrobrás lucrou R$ 323 milhões em 2003. Influenciado pela queda do dólar no ano passado, o resultado é 70% menor do que o de 2002: R$ 1,1 bilhão.
Pinguelli disse não estar feliz com o desfecho, mas evita "personalizar" a discussão. "É difícil opinar numa entrevista quando você é o objeto. Se ainda fosse objeto sexual vá lá, mas objeto político? Digo bem: objeto de mulher e não do presidente da República."

20 de abril de 2004


Dispensar uma pessoa da respeitabilidade do Dr. Pinguelli do já combalido setor elétrico é lamentável. O ILUMINA vê com muita preocupação esse episódio, pois, mais do que um rearranjo político, pode ser um redirecionamento de uma política, o que é muito grave. Examinando o panorama do que ocorreu nesse setor nos últimos tempos, cujas consequências estaremos pagando por muitos anos, não se pode entender que racionalidade poderia justificartal substituição. Perde o posto logo um dos principaisdenunciantes das políticas que não serviram ao interesse da sociedade brasileira nos últimos 10 anos.Foi em nome dessa denúncia e da proposta de mudança que seelegeu o governo Lula.



27/10/2003
Especialista em planejamento energético, o então presidente da Eletrobrás fala da crise no setor e trata de questões controversas sobre o uso de energia nuclear e de energias renováveis


Apêndice

domingo, 22 de março de 2015

Quando a expulsão de um revoltado ou a prisão de um revolucionário por um “filho da puta” pode ser mais digno que uma demissão de um gabola por um “denunciado por achaque”.


Tacioli – O que você fez pra ser expulso do Colégio Militar?
Jards – Briguei com um dos maiores torturadores da lista do Tortura Nunca Mais!, que era capitão da minha companhia, o Capitão Zaniti. Ele é o terceiro da lista de torturadores. Ele era o capitão da companhia, eu era interno da IV Companhia. Eu vivia tocando violão, brincando. Eu, o Castrinho, o Agildo Ribeiro. Só tinha filho-da-puta lá dentro. E eles não foram expulsos, muito pelo contrário. O Exercito não queria botar o Agildo Ribeiro lá dentro porque era filho do Agildo Barata. A família dele entrou com um processo e ele acabou ingressando no Colégio. Mas o único expulso daquela tropa fui eu. Uns entraram antes, outros entraram depois. O Ivan Lins também, mas o Ivan Lins era caretinha. [risos ] Enfim, o cara chamou a minha mãe pra se queixar. Minha mãe, uma viúva nova, coitada, via ali um bom lugar, porque era um belo colégio, professores ótimos, roupa lavada, cama, comida, disciplina. Era tudo que ela imaginava que era bom. Passei dois anos vagabundeando lá dentro. E preso. Eu não era desse sistema: marchava pra acordar, marchava pra tomar café, marchava pra ir pra sala de aula, marchava pra almoçar, marchava pra ir jantar, marchava pra marchar. De noite, quando deitava na cama, as perninhas ficavam assim. Sonhava que estava marchando pelo mundo afora em quinhentos mil dias. Um negócio maluco! E todo fim de semana, sábado, domingo, os internos iam pra casa. Mas aí havia um negócio: quem se comportasse mal durante a semana e tirasse nota não sei das quantas, ficava com estudos obrigatórios aos sábados e aos domingos. Bom, sábado, domingo, rarará! A gente saía pela janela, pulava o muro junto ao morro da Babilônia, atravessava uma trilha do morro que acabava na praça Nossa Senhora da Paz e íamos paquerar as meninas do Instituto de Educação. Curtinhas, sempre curtinhas, todas. “Ah, calcinha branca! Aquela é vermelhinha! E a rosinha tá ali!” Aí paquerava a menina e levava pra o Metro pra ver um filme. Eu lembro que o meu primeiro namoro no cinema foi com Pillow talk [n.e. Comédia romântica de 1959, dirigida por Michael Gordon, e estrelada por Rock Hudson e Doris Day. No Brasil o filme recebeu o nome de Confidências à meia-noite] Aquilo pra mim foi um filme de sacanagem. A Doris Day no banheiro e o Rock Hudson com os pezinhos assim, somente roçando e falando sacanagem pelo telefone. Pra mim é Hot sex [n.e. Referência a um dos programas eróticos exibidos pela TV por assinatura, o Sexy hot], Playboy pra caralho! E a gente voltava à noite, quando havia um guarda. Em colégios militares o sentinela não pode ter bala na agulha. A gente sabia disso; era somente bala de festim. Aí quando voltávamos o guardinha dizia: “Quem vem lá?”. “Vai tomar no cu, babaca! Enfia esse fuzil no rabo!”. E o cara, “Porra, mas você querem me sacanear?”. “Queremos, sim!” “Vou contar!” “Vai contar? Como você vai contar que deixou a gente sair e agora a gente já está voltando?” “Porra, cara, é mesmo!” Bom, aí o capitão chamou a minha mãe e a deixou no gabinete dele. Eu cheguei junto à porta e ele… “Sentido!”. Pum! Fiquei em posição de sentido. Aí ele bateu a porta na minha cara. Fiquei a uns quatro dedos da porta, com ela fechada na minha cara, em posição de sentido. Já não gostei. Houve uma hora, muito tempo depois, ele abriu a porta e a minha mãe estava chorando, toda triscada e tal. Aí falou: “Veja o que você fez com a sua mãe!”. “Eu fiz com a minha mãe, não, seu filho-da-puta! O que você fez com a minha mãe?!” “Você não pode me tratar assim. Sou seu superior!” “Uma pessoa que faz isso é superior? Seu inferior!” “Só não acabo com você”, disse ele, “porque estamos fardados”. E eu disse: “Não seja por isso”. E fiquei nu no corredor; tirei tudo. Fiquei nu e parti pra cima dele. Foi uma merda! Todas as companhias aproveitaram e tiraram casquinha uns dos outros. O ódio que havia por baixo brotou. Foi uma bosta!
ASSUNTOS RELACIONADOS
Eu tinha a carteirinha do Partidão!

Sivuca

Aí, separa daqui, separa dali, e o comandante, o General Magela, um bom sujeito, me chamou à sala de comando. “Jards, todo mundo gosta de você aqui no Colégio. Há esse negócio de teatro, música, cinema. Agora, você fez a única coisa que não podia ter feito, que é quebrar a hierarquia. Você é um aluno e ele é o comandante da sua companhia.” Não o cagüetei, não, porque não sou dedo-duro. Deixei rolar, estava louco pra sair… Aí ele: “Não vai constar expulsão na sua ficha para não atrapalhar a sua vida civil”. Eu nem pensei nisso… “Vida civil?!” Eu nem sabia de vida militar, quanto mais vida civil. Aí, pronto, botou “Jubilado” que, na verdade, é “Expulso”, essa é a palavra certa. Depois da tortura, minha mãe começou achar que aquilo não era pra mim mesmo. Se eles a sacanearam tanto, imagine a mim, um menino, um garoto cheio de energia. Resultado: você vai à Internet e procure pelos ex-alunos do Colégio Militar, ex-alunos famosos. Vou estar lá, eu como músico, entre um brigadeiro-do-ar e um general-de-brigada. Jards Macalé, músico.



Revolta: 3º Regimento de Infantaria e Escola de Aviação Militar
(102 - No 3º Regimento de Infantaria...)
Obus = peça de artilharia em forma de morteiro, para lançar granadas.
Se até aquele momento o governo não tinha utilizado a aviação para desalojá-los do 3ºRI, isto podia ser um indício de que a Escola Estivesse sob o controle dos rebeldes.
Um oficial que acompanhava Dutra não conteve a provocação e perguntou:
"Quem é o filho da puta do Agildo Barata?" - o capitão revolucionário respondeu, furioso: "O Agildo Barata sou eu! O filho da puta és tu?"


'Prefiro ser mal-educado a acusado de achaque', diz Cid Gomes a Cunha

CIDGOMES ATACA PRESIDENTE DA CÂMARA

O ministro Cid Gomes (Educação) pediu desculpas nesta quarta-feira (18) por uma declaração contra deputados federais, mas atacou o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque", disse Cid, apontado para a Mesa Diretora onde estava Cunha.
Após a fala, Cunha encerrou a o tempo concedido a Cid. O ministro foi convocado pela Câmara para explicar a declaração dada na Universidade Federal do Pará em que disse: "Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas".
"Me perdoem. Não tenho nenhum problema em pedir perdão para os que não agem desta forma. Aos que não se comportam deste jeito, me desculpem, não foi minha intenção ofender ninguém individualmente", explicou Cid sobre a declaração.
O ministro também cobrou fidelidade ao governo dos deputados da base. "Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo", disse Cid.
Cid também questionou a comissão de deputados que foi, na semana passada, verificar o seu estado de saúde quando ele estava internado. "Quem custeou o gasto desses deputados que foram lá? Ao que me consta, não houve aprovação regimental", afirmou o ministro.
O presidente da Câmara rebateu o questionamento de Cid.
"O requerimento da comissão foi feito sem ônus, às expensas dos parlamentares, porque esta Casa se dá ao respeito", disse Cunha.
Durante a audiência, Cunha solicitou à polícia legislativa que retirasse manifestantes das galerias do Plenário que aplaudiram o ministro durante sua explanação. "Plenário da Câmara dos Deputados não é lugar de claque", criticou Cunha.
Deputados protestaram e alguns membros da oposição chegaram a pedir a saída do ministro.


terça-feira, 17 de março de 2015

Velho sim, velhaco não. Ulysses Guimarães

Seg, 16/03/15

De: Ulysses Guimarães 
Para: Michel Temer

Zé, ministro da justiça, com Dilma, em 2015, assim como o seu par, Tancredo, ministro da justiça, com Getúlio, em 1953; portaram-se dignamente em situações de crises envolvendo seus respectivos presidentes.

Sem querer atirar pedras, não pode afirmar o mesmo do neto do ex-ministro da justiça, nosso colega e amigo Tancredo, morto, na véspera de sua posse para a presidência da república eleito pelo colégio eleitoral, após a nossa gloriosa luta pelas diretas já, infelizmente sem sucesso, naquele momento; ora ocupada por nossa amiga, agora eleita diretamente pelo povo, como era o nosso sonho, a presidente Dilma; substituído que foi pelo seu vice, também eleito pelo o mesmo colégio eleitoral, o nosso amigo Sarney, que ocupava, originalmente, a função que atualmente você ocupa, mas agora eleito diretamente pelo povo, mas sempre pelo nosso imortal MDB.

Submerso nas águas de Angra, me quedo.

Que a Presidente Dilma, ao contrário, supere as águas de março, incólume e forte.

Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçado por tempestades. 
Ulysses Guimarães


“Em 1953, eu recebi o Ministério da Justiça já no começo da crise que iria ter o seu desfecho no suicídio de Getúlio Vargas. O período de crise começou com os problemas da Última Hora, cuja Comissão Parlamentar de Inquérito ainda não tinha concluído os seus trabalhos.

Eu tive que enfrentar o problema na sua fase final, para não só precipitar e acelerar os trabalhos da comissão, como depois fazer face às consequências dos trabalhos da comissão. Mas já era o começo de uma agitação muito séria. Eu mantive o Estado e o país em perfeita ordem. As instituições funcionando em toda a sua plenitude.

O caso da Última Hora já estava totalmente superado, quando começou a ascensão do Carlos Lacerda no Rio de Janeiro. O lacerdismo começava a ganhar relevo, ganhar volume e ganhar força. Ele falava em clubes, colégios e associações e a pregação era sempre a mesma: a necessidade de derrubar.

Até que veio um belo dia e ele me pediu garantias pessoais para continuar o exercício do que ele chamava de suas atividades democráticas. Eu dei a ele a garantia, pedi a ele que escolhesse os policiais da confiança dele. Ele escolheu os policiais da confiança dele. Mas alguns dias depois recebo notícias que ele estava sendo acompanhado por oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, nestas suas andanças pelo centro do Rio e pelos seus bairros.

Veio o caso deplorável da rua Toneleros. Um dos homens que acompanhava Lacerda, o major Vaz, foi alvejado por um pistoleiro que estava nas imediações do apartamento de Lacerda e vinha com disposição de eliminá-lo. O fato é que daí a Nação, até então em plena calma, se transformou bruscamente numa nação profunda conturbada. A Aeronáutica se rebelou, criando ali um regime à margem da lei, do governo, das autoridades, a famosa República do Galeão.

As reuniões nos clubes militares se faziam seguidamente, até que, num determinado momento, o Vargas sentiu que era preciso uma reação. Mas já era tarde. Desde o primeiro momento da crise eu o adverti de que a situação era grave e de que ele tinha que tomar providências enérgicas. Ele não só não as tomou como não deixava ninguém tomá-las.

A ordem pública para ele tinha que ser mantida de qualquer maneira. A Constituição tinha que ser respeitada. Mas ele tinha contra si a unanimidade da imprensa escrita no país, numa campanha feroz. A mais violenta que um homem público já experimentou no Brasil.

Quando surgiu o primeiro Manifesto dos Brigadeiros pedindo a renúncia dele, era o momento que ele tinha para passar para uma contraofensiva. Ele então reuniu os ministros militares. Os ministros militares desaconselharam qualquer repressão, qualquer medida punitiva. Diziam que aquele manifesto não tinha importância nenhuma, que cairia no vazio. Meu parecer era de que era chegado o momento de um posicionamento mais enérgico. Mas ele preferiu ficar com a opinião dos generais, sobretudo do general Zenóbio da Costa.

O fato é que na semana seguinte surgiu o Manifesto dos Almirantes, na mesma linha do Manifesto dos Brigadeiros. Aí a coisa se agravou precipitadamente, Getúlio convocou uma reunião ministerial à noite para uma tomada de posição. Mas já a esta hora, dezoito generais também lançaram manifesto de solidariedade aos brigadeiros e almirantes e o governo se sentiu impotente para tomar as medidas necessárias ao estabelecimento da disciplina e da ordem constitucional.

Se Getúlio tivesse, naquela ocasião, seguido o meu conselho e solicitado ao Congresso o Estado de Sítio, a crise teria sido aplacada, e o simples fato dele solicitar a decretação do Estado de Sítio, a imprensa e os parlamentares mais exaltados ficariam mais dóceis, mais prontos ao entendimento. E a repressão no meio militar seria muito mais eficiente. Bastava que Getúlio pedisse o Estado de Sítio e pusesse a tropa na rua. Era o bastante para ter restaurado a sua força naquele momento.”

Depoimentos de Tancredo Neves:
A amizade com Getúlio Vargas


Sex, 29/10/10
por Geneton Moraes Neto

Do caderno de anotações imaginário:
Quando, no dia 17 de janeiro de 1976, o operário Manoel Fiel Filho foi morto sob tortura nas dependências do II Exército, em São Paulo, o deputado  Ulysses Guimarães, presidente do MDB e, portanto, chefe da oposição, estava no Recife.
O “Doutor Ulysses” – era assim que todos o chamavam – tinha feito uma tumultuada viagem a Caruaru, no agreste do Estado, para participar de uma espécie comício fora de época.  Não deu certo. Por ordem do Ministério da Justiça, o governo de Pernambuco mandou avisar que estavam proibidas reuniões políticas em praça pública. Assim, o tal comício foi transferido, às pressas, para um ambiente fechado – um auditório que ficou superlotado.
Eu me lembro de que Ulysses Guimarães, um orador que produzia frases de efeito em série,  levou o auditório ao delírio ao lançar o nome do senador Marcos Freire como candidato das oposições ao governo de Pernambuco. Todos sonhavam com uma eleição direta em 1978. Não houve eleição direta em 1978 : os governadores só voltariam a ser escolhidos pelo voto do povo em 1982. ( Tempos depois, ao entregar ao país uma nova Constituição, ele diria: “Político, sou caçador de nuvens. Já fui caçado por tempestades”). As ruas do centro de Caruaru ficaram povoadas de guardas, equipados com armas e cães.
De volta ao Recife, depois da aventura em Caruaru, o “Doutor Ulysses” estava se preparando para embarcar para Sergipe quando estourou a notícia de que o presidente Ernesto Geisel tivera uma reação surpreendente diante da morte do operário :  decidira punir,com demissão, o comandante do II Exército, general Ednardo D`Ávila.  Havia, obviamente, uma crise militar no ar.
Repórter da sucursal Recife do jornal “O Estado de S.Paulo”, fui convocado, às pressas, para embarcar no avião que, dali a minutos, levaria o Doutor Ulysses para Aracaju, a próxima parada do périplo nordestino.
Fiz a primeira abordagem ainda no corredor do Aeroporto. O Doutor Ulysses leu,com ar grave, o telex que eu lhe entregara, com informações sobre a demissão do comandante do II Exército. Disse que falaria a bordo.
Depois do embarque, pegou um jornal para ler. Vi perfeitamente quando, ao tentar atravessar os parágrafos de  um editorial, Doutor Ulysses tropeçou – e caiu gloriosamente nos braços de Morfeu. Pegou no sono, sem largar o jornal.
Desde então, uma dúvida incendiária passou a agitar minhas florestas interiores : para que servem, realmente, os editoriais dos jornais, além de provocar um desabamento incontrolável das pálpebras de quem os lê ?  Sono,sono, sono.
Quanto à declaração : raposa, o Doutor Ulysses sentiu a gravidade do momento. Quando acordou, me pediu que o procurasse depois do pouso. Lá embaixo, iria falar. Uma multidão o aguardava no Aeroporto. O homem escapou. Durante a coletiva, ninguém tocou no assunto da demissão do general. Fiz a pergunta, porque já estava, literalmente, “correndo contra o relógio”. Doutor Ulysses respondeu com frases cuidadosas. Disse que o MDB não tinha prevenção contra militares. Fez questão de lembrar que o partido já tinha sido presidido por um general  reformado, o senador Oscar Passos. Ou seja: o comandante da oposição pisava em ovos, porque sabia que, em época de crise militar, o terreno estava minado.  O homem não queria, ali, atiçar a fúria do Olimpo verde-oliva.
Ao deixar a sala onde dera a entrevista coletiva, na Assembléia Legislastiva de Sergipe, Doutor Ulysses apertou minha mão e cochichou, no meu ouvido, uma frase que, até hoje, não sei se foi uma queixa ou um cumprimento: “Você soltou o seu petardo !”. 
De madrugada, quando chegou ao hotel, Ulysses foi cercado de novo pelo matilha de repórteres que seguiam seus passos – o locutor-que-vos-fala, inclusive. Topou falar, à beira da piscina deserta. Disse que temia que, se houvesse uma crise, a oposição poderia ser levada a recorrer a “soluções de força”.
Horas depois, ao sair do hotel bem cedo, em direção ao aeroporto, Doutor Ulysses pediu à recepção que um dos repórteres – que também estavam hospedados ali – fosse chamado.  Um colega, a serviço do Jornal do Brasil, foi acordado. Ouviu,então, um apelo do Doutor Ulysses: por favor, ele pedia, retirem do texto da entrevista a expressão “soluções de força”. O pedido foi retransmitido a todos os repórteres. Assim foi feito.
Nem faz tanto tempo: o Brasil era um país em que o comandante da oposição enfrentava, literalmente, cães no meio da rua. Não se podia promover aglomeração política em praça pública. Não se votava nem para governador. O que dirá para Presidente da República ?   (tempos depois do entrevero em Caruaru, cães avançariam sobre o comandante do MDB em Salvador. Lá, ele pronunciaria a frase célebre: “Baioneta não é voto! Cachorro não é urna!”).
Independentemente de qualquer coisa, é sempre bom saber que, já há um quarto de século, o país vive numa democracia em que cenas como aquelas -  o presidente do partido da oposição se refugiando num auditório para escapar dos cães da polícia – só teriam lugar num roteiro de ficção.
Então: às urnas, cidadãos ! 
E “atenção para o refrão” :  numa democracia, independentemente de coloração ideológica, a única coisa que não se pode tolerar é a intolerância com adversários. Ponto.
Longa  vida às urnas !