Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
KARL MANNHEIM
SÓ VINGAÇA, VINGANÇA, VINGANÇA
***
***
Você há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
LUPICÍNIO RODRIGUES
1º Vingança – Linda Batista
Músicas (canções) mais populares no Brasil em 1951
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O existencialista Albert Camus ilustra a sua idéia de absurdo através do mito de Sísifo. Tendo ofendido os deuses, Sísifo foi condenado a rolar uma pedra enorme ladeira acima. Completada a árdua tarefa, ele era obrigado a rolar a imensa pedra ladeira abaixo. Quando terminasse de empurrar a pedra, recomeçava o trabalho cansativo. A sua punição era subir e descer a pedra eternamente.
Onde está o horror do castigo decretado ao pobre Sísifo? Penso que não está na dureza do castigo. Embora o seu trabalho seja pesaroso e doloroso, não acredito que a crueldade da sua punição resida na arduidade da tarefa. Penso também que o horror do castigo não está na exaustão causada pelo labor. Apesar do esgotameno físíco permanente, a extrema fadiga provocada pelo esforço descomunal não é a razão da monstruosidade da sentença.
Nem a penosidade nem a lassidão. A punição ao coitado do Sísifo não é atroz por ser custosa ou extenuante; ela é hedionda devido a futilidade. O horror do castigo está na nulidade da atividade. O trabalho repetitivo de Sísifo é totalmente vazio – desprovido de qualquer conteúdo. A sua tarefa é insignifcante ou irrelevante – uma ação carente de valor. Não tem propósito nem sentido. Trata-se de um esforço vão – privado de qualquer efeito; um empenho inútil que gera apenas tédio e desespero. Qualquer semelhança com a nossa rotina enfadonha não é mera coincidência!!!
*** *** https://rafadivino.wordpress.com/2010/04/01/o-mito-de-sisifo/ *** ***
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'Mannheim (1972, p. 32) está demonstrando duas formas básicas de agir socialmente no mundo: “Estas pessoas, reunidas em grupos, ou bem se empenham, de acordo com o caráter e a posição dos grupos a que per-tencem, em transformar o mundo da natureza e da sociedade a sua volta, ou, então, tentam mantê-lo em uma dada situação”. Essa localização do sujeito no seu tempo e no seu grupo cria as questões existenciais deste sujeito, as quais serão relevantes para a compreensão dos fatores sociais que determinam as formas de pensamento e conhecimento. Mannheim compreende essas duas formas básicas anteriormente descritas de pensar e agir no mundo como ideologias e utopias, respectivamente.'
Sem Aspas, Araraquara, v. 2, n. 1, 2, p. 187-195, 2013
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Despejo. Erik Henningsen (1855-1930)
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ENTRE SI CONTRA ELES
ENTRE SI CONTRA OS ENTRE SI
ENTRE SI CONTRA ELE
ELE CONTRA ENTRE SI
ENTRE SI CONTRA O OUTRO
O OUTRO CONTRA ENTRE SI
ENTRE SI CONTRA ENTRE SI
ENTRE SI A FAVOR DE TODOS
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'Ele defende em primeiro lugar uma tese “relacionista”: a verdade total seria a síntese dos diversos pontos de vista parciais. E depois, à maneira de Hegel (que alimentava a convicção de que o espírito absoluto era a medula de sua própria fi losofi a), de Marx (para quem o proletariado era o portador de um pensamento autêntico), Mannheim re-conhece aos intelectuais sem grilhões sociais a capacidade de superar o conhecimento do saber e assumir o papel de fi adores de uma verdadeira abertura cognitiva.'
Sem Aspas, Araraquara, v. 2, n. 1, 2, p. 187-195, 2013
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GenJuridico
Conjuntura e Estrutura Política: Os problemas vão além GEN Jurídico
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CONJUNTURA POLÍTICA JURÍDICA ELEITORAL
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Aprovação de Bolsonaro cai para 19%, diz pesquisa
Diretor da consultoria Atlas enxerga ‘cansaço estrutural’ do bolsonarismo
Por Ricardo Mendonça — De São Paulo
29/11/2021 05h00 Atualizado há 7 horas
Aprovação de Bolsonaro cai para 19%, diz pesquisa
NOVEMBER 29, 2021
Pela primeira vez a taxa de aprovação do governo Jair Bolsonaro caiu abaixo do patamar de 20% na série de pesquisas da consultoria Atlas. Segundo levantamento feito entre 23 e 26 de novembro, 19% dos brasileiros classificam a administração como ótima ou boa.
VALOR ECONÔMICO
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Molica: Tendência é que terceira via defina um candidato para disputar a Presidência
No quadro Liberdade de Opinião desta segunda-feira (29), o comentarista analisou a vitória de Dória nas prévias do PSDB
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Da CNN
Em São Paulo
29/11/2021 às 10:03
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No Liberdade de Opinião desta segunda-feira (29), Fernando Molica analisou a vitória do governador de São Paulo, João Doria, nas prévias do PSDB.
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Molica avaliou a entrevista de Doria à CNN, na qual o governador disse ser possível uma aliança com o ex-juiz e pré-candidato pelo Podemos, Sergio Moro. Para o comentarista, há uma tendência de um candidato ser escolhido para representar a terceira via, numa tentativa de chegar ao segundo turno das eleições em 2022.
“Se foram lançadas as candidaturas do Moro, do Doria, da Simone Tebet [MDB], do Rodrigo Pacheco [PSD], a tendência é que haja uma dispersão de votos. A tendência é que um candidato entre esses seja o escolhido para ser o porta-bandeira dessa tal terceira via. Desafio dessa terceira via é escolher quem será o candidato que vai tentar tirar Jair Bolsonaro do segundo turno.”
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Mesmo com a vitória de Doria nas prévias do PSDB, Molica acredita que Moro seja hoje o principal nome para representar a terceira via nas eleições.
“O desempenho de Geraldo Alckmin (PSDB) foi pífio nas últimas eleições. E agora o partido se mostrou muito dividido nas prévias. Nesse momento, a tendência é que o ex-ministro e ex-juiz seja o principal nome, a tendência é que haja um fortalecimento do Moro.”
O Liberdade de Opinião teve a participação de Fernando Molica e Ricardo Baronovsky. O quadro vai ao ar diariamente na CNN.
As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, o posicionamento da CNN ou seus funcionários.
Tópicos
Eleições 2022
João Doria
Liberdade de Opinião
PSDB
Sergio Moro
*** *** https://www.cnnbrasil.com.br/politica/molica-tendencia-e-que-terceira-via-defina-um-candidato-para-disputar-a-presidencia/ *** ***
Baronovsky: Doria e Moro são antagônicos e vão dividir votos antipolarização
No quadro Liberdade de Opinião desta segunda-feira (29), comentarista avalia possibilidade de aliança entre João Doria e Sergio Moro para as próximas eleições
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Fabrizio Neitzkeda CNN
Em São Paulo
29/11/2021 às 10:38 | Atualizado 29/11/2021 às 11:28
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No quadro Liberdade de Opinião desta segunda-feira (25), o comentarista Ricardo Baronovsky analisa uma possível chapa entre João Doria, candidato vencedor das prévias do PSDB, e Sergio Moro, do Podemos, para as eleições presidenciais de 2022.
Em entrevista exclusiva à CNN, o governador de São Paulo destacou a união na chamada terceira via e elogiou o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. “Sim, é possível [unir-se nas eleições]. Tenho uma boa relação com Sergio Moro e tenho respeito por ele. Mantemos boas relações e não teria porque não manter boas relações com alguém que ajudou o Brasil, com alguém que contribuiu com a Lava Jato”, afirmou o tucano.
Para o advogado Ricardo Baronovsky, a possibilidade, porém, é nula. “São dois candidatos antagônicos, totalmente diferentes. São adversários políticos, porque os dois dividem os votos da antipolarização. Tanto o Moro, quanto o Doria e outros candidatos que pulverizam a terceira via, eles dividem os votos”, disse.
Ainda segundo o comentarista, a vitória de Doria nas prévias do PSDB, após problemas com o aplicativo de votação, era previsível. “A campanha intrapartidária do Dória não começou nestas prévias, começou muito antes, já com a bandeira da vacinação. A intenção do Dória de concorrer à Presidência já vem de dois anos, e o resultado nada mais é do que o esperado. Ele é um obstinado.”
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Com a definição no partido, o atual governador precisará deixar o Palácio dos Bandeirantes até abril do ano que vem. Já o registro oficial dos candidatos deve ser feito até 15 de agosto.
Baranovsky destaca, porém, a data de 16 de agosto como momento mais interessante, quando terá início a propaganda eleitoral. Ele rechaçou as acusações de “campanha antecipada” feitas a diversas pré-candidaturas até o momento.
“Muitos candidatos da terceira via estão narrando que há campanha antecipada. Inverdade, não. O artigo 36-A, da lei das eleições, diz que não configura campanha antecipada a exaltação de qualidades pessoais, convenções intrapartidárias… o que não pode ocorrer é o pedido explícito de voto”, explicou.
O Liberdade de Opinião teve a participação de Fernando Molica e Ricardo Baronovsky. O quadro vai ao ar diariamente na CNN.
As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, o posicionamento da CNN ou seus funcionários.
Tópicos
Eleições 2022
João Doria
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PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira)
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Baronovsky: Seria interessante repensar sistema de escolha de ministros do STF
No quadro Liberdade de Opinião desta quinta-feira (25), comentarista avalia a possível marcação da sabatina que pode definir novo ministro do STF
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Gabriel Fernedada CNN
Em São Paulo
25/11/2021 às 10:26
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No quadro Liberdade de Opinião desta quinta-feira (25), o comentarista Ricardo Baronovsky avaliou o imbróglio envolvendo a marcação da sabatina de André Mendonça no Senado para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), sinalizou que pode marcar para a próxima semana a sabatina de Mendonça, ex-ministro da Justiça e ex-Advogado-Geral da União, indicado para a vaga pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para Baronovsky, falta uma lei que regulamente a escolha de ministros do STF e uma possibilidade seria alterar o processo de nomeação.
“São 135 dias aguardando essa sabatina, demora 9 vezes superior ao tempo médio da sabatina. Falta uma lei que regulamente a escolha e nomeação de ministros do STF. Talvez fosse interessante repensar o sistema de escolha. O que se define hoje é uma tradição jurídica.”
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Sinal de Alcolumbre faz André Mendonça estruturar estratégia para reta final
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“Como falta uma lei, talvez até uma Emenda Constitucional regulamentando o tema, uma tradição jurídica se criou para que ele [o presidente] escolha. Mas a tradição jurídica não impõe nenhum prazo para isso acontecer. ”
Segundo Baronovsky, o imbróglio – que resulta em um membro a menos no Supremo – atrapalha a população de forma geral
“O sacrifício acaba sendo de população, já que a Suprema Corte julga muitos casos por dia. Pela falta de uma cadeira, os ministros trabalham de forma sobrecarregada. É muito importante que se acrescente esse 11º membro.”
O Liberdade de Opinião teve a participação de Ricardo Baronovsky e Thiago Anastácio. O quadro vai ao ar diariamente na CNN.
As opiniões expressas nesta publicação não refletem, necessariamente, o posicionamento da CNN ou seus funcionários.
Tópicos
André Mendonça
Davi Alcolumbre
Liberdade de Opinião
STF (Supremo Tribunal Federal)
*** *** https://www.cnnbrasil.com.br/politica/baronovsky-seria-interessante-repensar-sistema-de-escolha-de-ministros-do-stf/ *** ***
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Quarta-feira, 14/04/2010, às 16:31, por Sérgio Nogueira
Dúvidas dos Leitores
113. A dúvida é: Eu fiquei fora de si ou de mim?
A resposta é: Eu fiquei fora de mim.
O pronome reflexivo “si” (quando sujeito pratica e sofre a ação verbal = ideia de “a si mesmo”) é de 3ª pessoa: “Ele ficou fora de si”; “Ela feriu a si mesma”; “Você iludiu a si mesmo”; “Eles ficaram fora de si”; “Elas feriram a si próprias”. Na 1ª pessoa do singular, devemos usar o pronome “mim”: “Eu fiquei fora de mim”; “Eu feri a mim mesmo”.
Pior ainda é “Nós se ferimos”. O sujeito (=nós) está na 1ª pessoa do plural e o pronome “se” é de 3ª pessoa. O certo é: “Nós nos ferimos” e “Ele se feriu”.
Muita gente quer saber quando devemos usar “entre si” ou “entre eles”. A diferença é a seguinte: a) devemos usar “entre si” somente quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal: “Os lutadores brigavam entre si” (= os lutadores, termo que exerce a função de sujeito da oração, pratica e recebe a ação de brigar); b) usamos “entre eles” quando o sujeito é um e o complemento é outro: “Nada existe entre eles” (= o sujeito é “nada” e o complemento é “entre eles”). Vejamos mais exemplos: “Os políticos discutiam entre si”; “Eles repartiram o prêmio entre si mesmos”; “O prêmio foi repartido entre eles”; “O segredo ficou entre eles mesmos”.
114. A dúvida é: Isto ocorreu no verão, onde ou quando o calor é bem mais intenso?
A resposta é: Isto ocorreu no verão, quando o calor é bem mais intenso.
Só devemos usar o pronome ONDE quando houver a ideia de “lugar”: “Isto ocorreu na cidade onde ele nasceu”; “Esta é a sala onde eles trabalham”.
O verão é uma das estações do ano; refere-se, portanto, a tempo, e não a lugar. Quando nos referimos a tempo, devemos usar o pronome “quando”: “Isto ocorreu em janeiro, quando o ministro alterou as regras do jogo”; “Viajou na primavera, quando tudo fica mais florido”.
É interessante notar que tanto o pronome “onde” quanto o pronome “quando” podem ser substituídos por “em que”: “Isto correu na cidade onde (ou em que ou na qual) ele nasceu”; “Isto ocorreu no dia quando (ou em que ou no qual) eles viajaram.”
115. A dúvida é: Mandei eles entrar ou Mandei-os entrar?
A resposta é: Mandei-os entrar.
Após verbos causativos ou sensitivos (=mandar, deixar, fazer, ver, ouvir...), devemos usar pronomes oblíquos (=o, a, os, as) como sujeito do infinitivo.
A tradição gramatical condena o uso dos pronomes retos (ele, ela, eles, elas). Assim sendo: “Deixei-o falar bastante” (em vez de “deixei ele falar”); “O novo diretor ainda não a ouviu cantar” (em vez de “ouviu ela cantar”).
Se o sujeito do infinitivo for um substantivo plural, a concordância é facultativa: “Mandei os alunos entrar ou entrarem”. Segundo a tradição, o infinitivo após verbos causativos deveria ficar não flexionado: “Mandei os alunos entrar”; “Deixai vir a mim as criancinhas”.
Hoje em dia, entretanto, é fato e a maioria dos estudiosos da nossa língua já aceita a concordância do infinitivo no plural quando antecedido de um sujeito plural: “Mandei os alunos entrarem”; “O jogo fez os torcedores vibrarem muito”.
116. A dúvida é: Neste ou nesse inverno fez mais frio que no do ano passado?
A resposta é: Neste inverno fez mais frio que no do ano passado.
Sempre que nos referimos ao "tempo presente", devemos usar os pronomes este, esta, neste, nesta, destes... Se estamos falando do atual inverno, do inverno deste ano, o correto é dizer "neste inverno". Os pronomes esse, essa, nesse, nessa, desses... devem ser usados em referência a alguma coisa citada anteriormente: "Até a vigésima volta, Rubinho liderava a corrida. Nesse momento (=vigésima volta), começou um enorme temporal. Isso (=temporal) provocou a interrupção do grande prêmio".
Qual é a forma correta: "As provas do vestibular serão em dezembro. As inscrições deverão ser feitas neste ou nesse mês"? A melhor resposta seria "depende", pois "neste mês" seria agora, no mês em que estamos; e "nesse mês" seria o mês citado, ou seja, em dezembro. O melhor mesmo é evitar frases em que os pronomes este ou esse possam causar dúvidas ou mal-entendidos.
117. A dúvida é: É esta a teoria onde ou em que o técnico se baseou?
A resposta é: É esta a teoria em que o técnico se baseou.
A palavra onde, como advérbio ou pronome relativo, sempre se refere a "lugar". Significa "em algum lugar": "Esta é casa onde ele viveu seus últimos dias". Casa é lugar, mas teoria não. Não havendo a ideia de "lugar", devemos usar "em que" ou "no qual/na qual": "É esta a teoria em que ou na qual o técnico se baseou".
Só podemos usar onde se houver a ideia de lugar, mas não somos obrigados. É perfeitamente aceitável usar "em que" ou "no/na qual": "Esta é a casa onde ou em que ou na qual ele viveu seus últimos dias".
118. A dúvida é: Realizar-se-ia ou realizaria-se a cerimônia na Catedral?
A resposta é: Realizar-se-ia a cerimônia na Catedral.
Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito do modo indicativo, devemos fazer a mesóclise: usar o pronome átono no meio do verbo: tornar-me-ei, realizar-se-á, manter-se-ia...
Quando o verbo está no futuro do indicativo, a ênclise (pronome átono após o verbo) está sempre errada: "tornarei-me", "realizará-se", "manteria-se"...
Para quem não gosta da mesóclise, a solução é a próclise (pronome átono antes do verbo), desde que o sujeito anteceda o verbo: "Eu me tornarei o líder do grupo"; "A reunião se realizará amanhã"; "A cerimônia se realizaria na Catedral".
Um forte abraço. Até a próxima.
*** *** http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/duvidas-dos-leitores-19.html *** ***
https://valor.globo.com/brasil/
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segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Fernando Gabeira - Democracia brasileira, coitadinha
O Globo
Um relatório divulgado em Estocolmo pelo Idea (Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral) aponta a decadência da democracia brasileira.
Na semana passada, escrevi um longo artigo sobre isso. Reconheço que Bolsonaro é um dos principais responsáveis, da gestão da pandemia aos ataques à imprensa e ao STF. No meu entender, contudo, Bolsonaro não inventou a decadência da democracia brasileira. Apenas aproveitou-se dela para aprofundá-la ainda mais com seus impulsos autoritários.
Gostaria de anotar alguns pontos que escapam ao radar dos grandes observadores internacionais, coisas miúdas do cotidiano, que, de certa maneira, são o dínamo da decadência, pois têm o poder de arruinar o apoio popular à democracia.
O clima de Brasília mudou nos últimos tempos. Formou-se uma frente bastante ampla de parlamentares, e até setores da Justiça, destinada a favorecer a impunidade.
Durante muito tempo, vigorou o orçamento secreto, uma aberração no sistema democrático. Em menos de dois meses, surgiram duas propostas de emenda constitucional com o mesmo apelido: PEC da Vingança. Uma delas visava ao Ministério Público; a outra, ao próprio STF. Nesta última, então, a vingança parecia mais explícita: queriam aposentar exatamente a ministra Rosa Weber, que bloqueou o orçamento secreto.
É vingança, vingança, vingança, como dizia a antiga canção popular. No momento, discutem a vingança que impediu a sabatina de um candidato ao STF: André Mendonça. Foi indicado por ser terrivelmente evangélico, e querem que a sabatina seja realizada no Dia do Evangélico.
Não pode haver impedimento a um evangélico em qualquer cargo do governo. Mas escolher um ministro apenas por sua fidelidade a uma confissão religiosa distorce completamente o sentido de formação de um tribunal superior baseado no saber jurídico.
Por falar em Justiça, aqui e ali surgem casos de pessoas presas por roubar comida. Em Minas, estava presa desde julho uma mulher acusada de roubar água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais.
Enquanto isso, o senador Flávio Bolsonaro consegue no STJ anular todas as provas contra ele acumuladas pelo Ministério Público do Rio. É um trabalho de Sísifo: recolhem-se as provas, e as instâncias superiores mandam jogá-las no lixo.
A própria campanha presidencial, que teoricamente aponta para o futuro, apresentou problemas no trato com a democracia. Bolsonaro visitou os Emirados Árabes e o Bahrein e relativizou as ditaduras do Oriente Médio.
Por sua vez, Lula, em Madri, comparou Daniel Ortega com Angela Merkel e não aceitou a tese de que é possível ser contra o embargo americano a Cuba e, simultaneamente, condenar a repressão às manifestações políticas na Ilha.
Entre os livros que saíram sobre o declínio da democracia, logo após a eleição de Trump, um deles pode ser usado ao alinhar tantas pequenas preocupações. Chama-se “O povo contra a democracia”, de Yascha Mounk. O livro mostra como “o toma lá dá cá” da política exclui o povo da tomada de decisões, criando um sistema de direitos sem democracia.
Aventureiros do tipo Bolsonaro prometem restituir o poder ao povo lutando contra as instituições, dispostos a criar uma democracia sem direitos.
Por isso sempre relembro que a política mesquinha e autorreferenciada que se faz em Brasília é, no fundo, uma política suicida. Favorecer um processo de decadência que coloque o povo contra a democracia cairá na cabeça de todos nós, menos, é claro, na do ditador de plantão e de sua tropa de apoio.
Com as mudanças que uma campanha presidencial promete, será possível reduzir o abismo entre o sistema político e o povo? Uma questão-chave é como se relacionar com o Parlamento sem ser engolido pela voracidade fisiológica ou bloqueado pela sabotagem destrutiva.
É uma linha muito tênue, um desafio a nossa sobrevivência como regime democrático.
*** *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/11/fernando-gabeira-democracia-brasileira.html#more *** ***
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Memória Gabeira 43 - Gabeira x Severino
40.510 visualizações2 de set. de 2010
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gabeira43
857 inscritos
Gabeira 43 -- http://www.gabeira43.com.br Discurso do Deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) para o então Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), agosto de 2005.
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=rGsipC91sSk *** ***
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Sendo ele grande conhecedor da obra do sociólogo húngaro Karl Mannheim, nessa afirmação tem em conta o referencial estudo desse autor sobre “O pensamento conservador”. Nele, Mannheim estabelece as conexões entre as situações sociais dos diferentes grupos, categorias e classes da tradição pré-moderna e as ideias por meio das quais podem expressar seu modo de ser, de conceber e de interpretar a realidade. E assim definir suas próprias necessidades sociais.
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sexta-feira, 26 de novembro de 2021
José de Souza Martins* - A brecha conservadora
Valor Econômico / Eu & Fim de Semana
Tudo sugere que em boa parte a atual crise política brasileira decorre da falta de um partido conservador, no correto sentido da palavra, da tradição e da doutrina
Não faz muito, numa conversação informal sobre o impasse político do momento brasileiro, ouvi de alguém que o país precisa de um candidato de centro que se oponha à direita e à esquerda. Alguém que personifique uma terceira via em relação ao bifrontismo político que nos aprisiona desde que o PT se firmou como partido polarizante do processo político brasileiro. Era ou ele ou mais nenhum. Essa equivocada concepção da política abriu o caminho para a monstruosidade antidemocrática que venceu as eleições de 2018.
Tanto o petismo quanto o bolsonarismo resultam da falta de alternativas ideológicas e partidárias que melhor expressem as identidades políticas socialmente possíveis e autênticas do povo brasileiro. Ou expressem a falta delas no comportamento eleitoral de uma classe média de perfil fragmentário, sem referências sociais determinadas, limitada às amedrontadas urgências do agora.
Se tivéssemos uma estrutura de representação política sem distorções sociais, novos sujeitos políticos, que surgiram no último meio século, teriam se manifestado eleitoralmente de modo diverso. Porém, ideologicamente capturados, eles já vinham sendo diluídos em designações abrangentes e genéricas, em categorias sociais que não são propriamente as suas, identificados no superficial e não no decisivo de seu modo social de ser. Uma falsa consciência autoritária usurpa e define como próprio o que é alheio.
O dilema brasileiro certamente não é o da busca de uma terceira via. É o de construir uma alternativa democrática e autêntica para o autoritarismo que, sob diversas formas políticas, está incrustrado na maioria dos partidos.
A estrutura da sociedade brasileira e a organização política que a expressa estão modeladas para favorecer e multiplicar esse autoritarismo, que é o do mando e da obediência, da renúncia ao que é próprio das personificações das diferentes situações e realidades sociais. Isso nos vem da juridicamente dupla escravidão de nossa formação social, a escravidão indígena e a escravidão africana. As derivadas personalidades formadas nas referências sociais do temer e do obedecer e na única alternativa que as atenua, a do bajular e enganar os que enganam. Ainda é assim na atualidade.
A deformada república oligárquica, instituída por um golpe militar, extinguiu a monarquia polarizada entre o Partido Liberal e o Partido Conservador. Ao menos tínhamos ordem, lembra Alberto Torres, uma referência do pensamento conservador no Brasil. Os dois partidos alternavam-se no poder. O lúcido Euclides da Cunha, com o discernimento de uma vocação de cientista político, assinalou que no Império os liberais propunham inovações sociais e os conservadores, adaptando-as, as executavam em seus governos e mandatos. Nenhum dos dois partidos tinha o monopólio das decisões. Éramos autênticos na unicidade do duplo.
A Lei Áurea foi promulgada num governo conservador, e não num governo liberal, para executar um projeto liberal, o do trabalho livre.
Tudo sugere que em boa parte a atual crise política brasileira decorre da falta de um partido conservador, no correto sentido da palavra, da tradição e da doutrina. Conservador autêntico não significa nem reacionário nem de direita. Para que por meio dele se expressem politicamente aqueles muitos que, na falta dessa alternativa, caíram na armadilha de uma extrema direita ignorante, oportunista e politicamente incapaz. A que desmonta as instituições para impor a ordem social e o poder das improvisações.
O nosso residual conservadorismo doutrinário vem de uma grande tradição europeia, à qual Fernando Henrique Cardoso se referiu em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, em 1986, quando lembrou que “a posição conservadora costuma ter racionalidade e consistência”.
Sendo ele grande conhecedor da obra do sociólogo húngaro Karl Mannheim, nessa afirmação tem em conta o referencial estudo desse autor sobre “O pensamento conservador”. Nele, Mannheim estabelece as conexões entre as situações sociais dos diferentes grupos, categorias e classes da tradição pré-moderna e as ideias por meio das quais podem expressar seu modo de ser, de conceber e de interpretar a realidade. E assim definir suas próprias necessidades sociais.
Aliás, algumas referências fundamentais do pensamento de esquerda procedem da tradição conservadora, a começar da premissa teórica de totalidade e nela a ideia da poesia e da utopia do possível. O que depende, no entanto, da superação do sectarismo ideológico dos seus mediadores e intérpretes, que desconhecem o lugar das ideias, pela mediação dialética da ciência e do retorno à práxis da mudança social, muito diversa e mais completa do que a mera ação eleitoral.
*José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "Sociologia do desconhecimento ensaios sobre a incerteza do instante" (Editora Unesp).
*** *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/11/jose-de-souza-martins-brecha.html *** ***
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Vingança - Linda batista
352.765 visualizações13 de abr. de 2011
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Murilo Caldas
27,5 mil inscritos
Composição: Lupicínio Rodrigues
Interprete: Linda Batista
Eu gostei tanto
Tanto quando me contaram
Que lhe encontraram
Chorando e bebendo
Na mesa de um bar
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz
Não lhe deixou falar
Ai, mas eu gostei tanto
Tanto quando me contaram
Que tive mesmo que fazer esforço
Pra ninguém notar
O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Você deve estar bem consciente
Do que praticou
Ai, me fazer passar essa vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou
Mas enquanto houver força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Você há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
Você há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=YTyRs8krw9s *** ***
Executivo e Legislativo: O Presidente da
Câmara em uma coalizão contraditória*
Felipe Nunes
Thiago
Rodrigues
Silame
Graduandos em
Ciências Sociais/
UFMG.
Palavras-chave:
Relação Executivo
e Legislativo,
Presidência da
Câmara dos
Deputados,
Governo Lula
Key-words:
Executive and
Legislative
branches
relationship, House
of Representatives
presidency, Lula' s
Government.
* Este trabalho foi
apresentado em formato de
pôster na 5' edição da As·
sociação Brasileira de Ciência
Política em Belo Horizonte
no ano de 2006 e recebeu
menção honrosa do prêmio
Maria do Carmo Campello de
Souza. Gostaríamos de agradecer a leitura atenta e aos
comentários de Fátima Anastasia e as contribuições dos
pareceristas da Revista Três
Pontos que muito ajudaram
no esclarecimento de partes
do texto e na melhoria do
mesmo. Evidentemente, as
opiniões expressas neste trabalho são de inteira responsabilidade dos autores ....
RESUMO: Este texto trata das causas e do contexto que culminaram na eleição do Deputado Federal
Severino Cavalcanti CPP-PEJ para a Presidência da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Discutimos
o seu papel na relação do Legislativo com o-Executivo durante os nove meses em que ocupou tal cargo.
Mostramos que o voto secreto foi um fator preponderante na sua eleição, pois permitiu o rompimento
da lógica partidária vigente no interior do Congresso. Ademais. comprovamos nossa hipótese de que
Severino se tornou um aliado do Executivo e não um veto player.
ABSTRACT: This text is about the causes and the context that resulted on Severino Cavalcanti' s election for the presidency of the House of Representatives. We discuss his function on the Executive and
Legislative branches relationship, during the nine months he occupied the position. What we show here
is that the secret vote is a preponderant factor on his election. once that's what had permitted the
rupture with the usual partisan logical inside the Congress. After this. we prove our hypothesis that
what Severino has become is an alley of the Executive branch, not a veto player.
Introdução
Este trabalho pretende contribuir para o debate sobre a relação Executivo e Legislativo no Brasil no período pós-redemocratização. já em voga
na literatura (FIGUEIREDO & LIMDNGI, 1889J. O
objetivo é examinar a relação entre o Presidente
da Câmara dos Deputados e o Executivo no governo do Presidente Lula. Especificamente, consideraremos dois importantes momentos neste
período: a eleição do Deputado Federal Severino
Cavalcanti CPP-PEJ para Presidente da Câmara
dos Deputados e a atuação desse parlamentar à
frente da Mesa Diretora da referida Casa.
Para tanto, adotaremos como argumento que
(1 J o modelo de funcionamento da Câmara dos
Deputados varia de acordo com os recursos envolvidos nos processos decisórios; (2) as instituições afetam o comportamento dos atores políticos de forma a permitir que a lógica partidária
seja rompida; e (3) o Presidente da Câmara pode
atuar como um veto player.
O primeiro pressuposto baseia-se na afirmativa feita por Shesple & Weingast (18841 de que
"a priori. do ponto de vista teórico. os modelos
[de organização dos trabalhos Legislativos] não
são mutuamente excludentes e. ao contrário. podem representar partes importantes e diferentes de um mesmo e complexo quebraccabeça ... [A
Câmara] é uma organização multifacetada, uma
organização que. com pouca probabilidade, pode
ser entendida a partir de um único princípio". Dependendo dos recursos envolvidos no processo
decisório. a escolha racional do ator político pode
ser pautada por uma lógica: distributivista. informacional e/ou partidária. De acordo com o modelo
distributivo, o problema dos parlamentares está
em coordenar os trabalhos Legislativos, de forma
que seus objetivos individuais - essencialmente
distribuir benefícios localizados, tendo em vista o retorno eleitoral - sejam alcançados. Tal
coordenação visa introduzir, num universo competitivo por natureza, elementos de cooperação
que possibilitem aos deputados trocar apoios
em assuntos que não são simultâneos. Caberia
ao sistema de comissões garantir o sucesso do
logrolling ao reduzir os "custos de transação" e
possibilitar "os ganhos de troca". No modelo informacional. as comissões ganham outro papel.
De acordo com Krehbiel (1982), o formato institucional do Congresso Americano reflete a necessidade dos parlamentares em adquirir e processar informações. mais do que resolver problemas
de distribuição. Neste sentido, as comissões
seriam pensadas pelos parlamentares como um
mecanismo institucional que possibilita diminuir a
incerteza - ,tanto no que diz respeito à relação
entre políticas e resultados. como em relação ao
que pensam os eleitores- possibilitando "ganhàs
de informação" à instituição. O modelo partidário
(COX & MCCUBBINS. 1983) substitui as comissões pelos partidos, que seriam uma espécie de
cartel Legislativo. Para os autores. é o partido
majoritário, por meio de seu controle sobre as
Presidências da Casa e das comi~sões. que detém o poder de agenda, coordena o processo e
fornece os meios para a cooperação.
O segundo argumento leva em consideração
o debate teórico entre as obras de Figueiredo &
Limongi (18881 e Barry Ames (20031. Segundo
Figueiredo & Limongi (18881. o funcionamento
da Câmara é regido pela concentração de poderes nas mãos dos líderes partidários. o que faz
com que as orientações do partido se sobreponham sobre a vontade particular do parlamentar.
Já Ames (20031 critica a idéia de uma Câmara
cooperativa. com partidos coesos e deputados
disciplinados. Como ressalta o autor. as características do sistema eleitoral e da organização
federalista produziriam deputados individ~alistas.
"Os deputados desertam da maioria dos seus
REVISTA TRÊS ( ••• ) PONTOS C E N T R O A C A O Ê M I C O O E C I Ê N C I A S S O C I A I S
partidos quando tem motivação e autonomia para O Presidente da Câmara: reletanto" (AMES. 2003J. vância e cenários
Por fim, o terceiro argumento admite a existência potencial de um número excessivo de atores com poderes de veto no sistema político brasileiro. Ames (2003) baseado em Tsebelis (2000J
aponta o Presidente da República, o Senado, a
Câmara dos Deputados e os partidos políticos
com representação no congresso como os agentes que devem ser levados em consideração na
implementação de políticas públicas substanciais,
ou seja, aquelas que alteram o status quo. Admitindo esta teoria, gostaríamos de acrescentar
que líderes partidários e o Presidente da Câmara também devem ser considerados como atores
dotados de poder de veto no sistema político brasileiro. No entanto, vale ressaltar que a possibilidade de entrave não é garantia suficiente de
que estes atores farão uso de suas prerrogativas para impedir a aprovação de uma determinada
agenda.
Na discussão a seguir utilizaremos tais pressupostos para examinar: (a) o contexto e as causas que culminaram com a eleição do Deputado
Federal Severino Cavalcanti (PP-PEJ para Presidente da Câmara dos Deputados e [bJ o novo
padrão de relacionamento entre o Executivo e o
Presidente da Câmara a partir de então. Defendemos o argumento de que o governo perde capacidade de controlar sua base aliada na eleição
do Presidente da Câmara dos Deputados quando
não indica um nome de consenso como seu candidato, principalmente, porque o voto nesta eleição
é secreto. Ademais, testaremos a hipótese de
que Severino Cavalcanti não se configurou como
um veto player à agenda do Executivo durante sua
gestão a frente da Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados.
O presente artigo encontra-se estruturado
em duas partes: na primeira, mostraremos a importância estratégica do cargo de Presidente da
Câmara dos Deputados na atual ordem constitucional, examinando a relação que existe entre
o partido do Presidente da Câmara e o Executivo entre 1988 e 2005. Discutiremos, ainda, a
tentativa frustrada do governo Lula em aprovar
a PEC 101/03 que instituía a reeleição para os
cargos de Presidência da Câmara e do Senado.
Analisaremos, por fim, o processo eleitoral que
empossou o Deputado Severino Cavalcanti como
Presidente da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Na segunda parte, focaremos nossa
atenção neste novo cenário, onde Severino é o
Presidente da Câmara dos deputados. Analisaremos dados da Legislação aprovada pela Câmara
no período que se estende de 2003 a 2005 e da
tramitação dada pela Mesa Diretora aos projetos
do Executivo e do PT tendo em vista o novo contexto criado com a eleição de um outsider, membro de um partido que, nem de longe, expressava
a maior for.:ça no plenário.
Com a promulgação da Constituição de 1988
observamos uma nova lógica de organização do
sistema político brasileiro. Como nos mostra
Santos (19971, algumas regras fundamentais no
que se refere à relação do Executivo com o Legislativo sofreram um impacto significativo devido ao período em que os militares governaram o
país. Entre 1946 e 1964 tínhamos uma "agenda
compartilhada" já que o Legislativo dispunha de
mecanismos institucionais que o capacitavam no
sentido da formulação de uma agenda política.
Além disso, o Executivo tinha um limitado conjunto de poderes Legislativos, o que, obviamente,
restringia sua atuação junto ao Congresso7• Contudo, após o período militar e a partir da vigência
da carta Magna de 1988 passamos a conviver
em uma ordem constitucional onde o Legislativo
delegou2 alguns de seus poderes pró-ativos para
o Executivo (CAREY & SHUGART, 1998; SANTOS,
1997). Este novo sistema político arquitetado
herdou do período de 64 a 85 características que
garantiam ao Presidente da República poder de
agenda que lhe confere uma forte influência sobre
a produção legal3 .
Recorrendo a um verbete do livro Reforma Política no Brasil, citamos uma passagem um tanto
longa, porém, extremamente esclarecedora e objetiva sobre o tema:
':4 ediçfw de legislação por meio de medidas provisórias constitui um dos principais poderes Legislativos do Presidente. O
recurso ao poder de decreto permite ao
mandatário intervir diretamente sobre o
conteúdo e o ritmo dos trabalhos parlamentares já que, além de solicitar urgência
urgentíssima, o Presidente pode trancar
a pauta de votações se as MPs enviadas
não forem votadas no· tempo regimental.
Apesar de a Constituição Federal limitar o
uso dessas medidas às situações de "relevância e urgência", a edição abusiva delas
incentivou mudanças na regulamentação
do dispositivo, embora estas tenham sido
lentas e pontuais" {INÁCIO, 20061.
Inácio {2006) continua explorando o tema da
posição estratégica do Presidente:
':4 participação do Presidente no processo Legislativo é ampliada pela posição
monopólica que este ocupa em relação à
iniciativa de determinadas leis. Cabe privativamente ao Presidente propor legislaçao
sobre matérias orçamentárias e organização da administração pública, relacionadas à criação e extinção de ministérios e
órgãos da administração, à alteração de
efetivos das Forças Armadas, aos servidores públicos da União e dos territórios. A
prerrogativa de vetar total ou parcialmente
os projetos de lei aprovados pelo Legislativo é outro componente crucial do poder
1 Ver mais em Santos
(2003).
2 Ver mais em Carey &
Shugart (1998).
3 No período pós-88,
cerca de 85% das leis federais
sancionadas tiveram origem
no Executivo, segundo dados
de Santos e Neto (2003).
4 No caso do veto parcial, o Executivo consegue verificar as preferências dos deputados, o que pode reforçar
a lógica de funcionamento
partidário do Congresso
5 O Regimento Interno
da Câmara dos Deputados
pode ser acessado pelo site
www.camara.gov.br ..
C E N T R O A C A O E M I C O O E C I E N C I A S S O C I A I S REVISTA TRÊS ( ••• ) PONTOS
de agenda do Presidente. Tais dispositivos
permitem ao chefe do Executivo bloquear
as/eis ou alterá-/as seletivamente, através
da supressão de partes do projeto aprovado" 4 CINÁCIO, 20061.
Para tornar ainda mais complexa este quadro,
as regras eleitorais têm uma lógica própria que
é distinta, portanto, da que opera no interior do
Congresso. Durante o processo eleitoral os candidatos buscam personalizar o voto chamando
atenção para suas qualidades pessoais e para as
atividades que pretendem desempenhar se eleitos. Além disso, se analisarmos a regra eleitoral
que transforma votos em cadeiras veremos que
o cálculo do quociente eleitoral leva em conta os
votos válidos em toda a legenda e não a votação
específica dos candidatos. A legislação eleitoral
também permite coligações entre os partidos
para a disputa dos cargos proporcionais, o que
dificulta ainda mais o entendimento do sistema
de transferência de votos dentro das listas partidárias. No entanto, como demonstraram Figueiredo & Limongi [19991, dentro das Casas Legislativas o que opera é a lógica partidária. As taxas
de disciplina partidária em votações nominais e
os índices de apoio à projetos em que o líder do
governo e das bancadas encaminham votação são
elevados, tanto na situação quanto na oposição.
Uma estratégia adotada pelos Deputados Federais, e que se torna um objetivo estratégicó
- considerando-se a estrutura de funcionamento
do Congresso que concentra poderes nas mãos
das lideranças partidárias _e congressuais, é o
de alcançar postos elevados na hierarquia do Legislativo de forma a garantir recursos políticos
suficientes para ter possibilidades de incluir sua
agenda na pauta Legislativa e obter reconhecimento na arena eleitoral. Os principais cargos
capazes de oferecer tais "ativos institucionais"
(INÁCIO, 2006) aos parlamentares são: Presidente e Relator de Comissão; Líder partidário; Líder
de Governo: Líder da Maioria; Líder da Minoria;
Presidente, Vice e Secretário da Mesa Diretora.
O cargo mais importante da Câmara é o de
Presidente da Mesa Diretora, que tem entre as
suas prerrogativas previstas no Regimento Interno da Câmara substituir o Presidente da República quando o vice-Presidente está também
impossibilitado de comandar o país. Ele tem diversas funções e prerrogativas que se estendem
desde a Presidência das sessões legislativas até
distribuir a legislação entre as comissões. Para
cumprir os objetivos deste texto destacaremos
as principais atribuições que o classificam como
um potencial veto player: "[1 l submeter à discussão e à votação matérias na Câmara: [2) organizar, ouvido o Colégià de· Líderes, a agenda com a
previsão das proposições a serem apreciadas no
mês subseqüente, para distribuição aos Deputados: [3) designar a Ordem do Dia das sessões; [4)
convocar as sessões da Câmara: [5) desempatar as votações, quando ostensivas, e votar em
escrutínio secreto, contando-se a sua presença, em qualquer caso, para efeito de quórum: [6)
proceder à distribuição de matéria às Comissões
Permanentes ou Especiais; [7) deferir a retirada
de proposição da Ordem do Dia: [8) determinar o
arquivamento ou desarquivamento das matérias,
nos termos regimentais" 5 [Regimento Interno,
Sessão 11, Art 1 7)_
Pode-se encontrar uma tendência de que o
Executivo veja com bons olhos que este cargo
seja ocupado por um aliado utilizando dados sobre os parlamentares que foram Presidentes da
Câmara dos Deputados desde o primeiro mandato da Mesa Diretora no pós-88. Como mostra
a Tabela 1 , a grande maioria dos Presidentes da
Câmara pertenciam à base de sustentação do
governo. Cerca de 86% dos parlamentares que
ocuparam aquele cargo estavam filiados a partidos da coalizão governativa. Mais precisamente,
contabilizando até o último Presidente [Deputado
Severino Cavalcanti - PP/PEJ, 18 faziam parte da
coalizão governativa e apenas 3 estavam fora da
ba9e de sustentação do governo.
dos Deputados
Com estes dados podemos supor que o Executivo negocia com as bancadas, ou melhor, com
os líderes partidários, a eleição de um aliado para
ocupar o cargo de Presidente da Câmara projetando a necessidade de um ator que funcione
como facilitador para a aprovação de sua agenda governativa. Se lembrarmos, ainda, dos dados
de Figueiredo & Limongi [19991 sobre a taxa de
sucesso do Executivo no que diz respeito à aprovação de sua agenda, veremos que das 2.074
proposições apresentadas pelo Executivo entre
1989 e 1998, 1. 606 foram t~nsformadas em
lei, o que equivale a um sucesso de 77,4%. Para
alcançar tamanho sucesso é de se esperar que o
Executivo conte com o apoio dos atores institucionais disponíveis. Neste sentido, o Presidente da
Câmara é figura central já que ele é o responsável
pela tramitação inicial e final do processo. Outro
exemplo útil refere-se ao tempo de tramitação
de proposições ordinárias no Congresso Nacional
entre 89 e 94_ Enquanto as leis ordinárias sancionadas de autoria do Legislativo demoram, em
média, 1. 094 dias para tramitar, as do Executivo
se dão, em média, em 412 dias. Mesmo que não
tenhamos evidências mais sólidas para dizer que
o poder do Presidente da Câmara nesse processo é decisivo, podemos observar tal tendência.
Provavelmente, o apoio do Presidente da Câmara
ao Executivo acabou agilizando a tramitação dos
projetos de autoria do segundo pois na maioria
dos casos o partido do primeiro faz parte da base
aliada que sustentava o governo.
REVISTÀ TRÊS (e e e) PONTOS c E N T R O
01,1tro indicativo da importância do cargo de
Presidente da Câmara para o Executivo está no
fato de o Presidente Lula tentar interferir na eleição para este cargo entrando na discussão sobre
a aprovação da PEC 1 O 1/03 que permitia a reeleição para tal cargo em biênios subseqüentes, .
fato que eclodiu no final de 2004. Como demonstraram Nunes & Silame (2006), um dos principais
problemas que Lula enfrentava naquele momento
era a desproporcionalidade existente entre o tamanho das bancadas e a distribuição de ministérios aos partidos - estratégia de patronagem
clássica na política brasileira para que o Executivo
garanta apoio Legislativo. Devido a tais dificuldades, o governo vê na reeleição dos Presidentes
das Casas Legislativas uma oportunidade de garantir uma provável aliança com o Congresso Nacional. Sendo assim, os Presidentes da Câmara .
dos Deputados e do Senado da época viram uma
oportunidade de reapresentar a PEC da reeleição
das Mesas Diretoras. Já que dois aliados ocupavam os respectivos cargos, o Presidente Lula, inicialmente, deu apoio irrestrito à proposição. Lula
afirmava ser uma "heresia política" o Congresso
impedir a reeleição numa mesma legislatura, mas
não em legislaturas diferentes (Folha de São Paulo, 23/09/04).
Contudo, um fato acabou por rearranjar todo
o processo: Renan Calheiros CPMDB-ALJ, líder do
partido no Senado, se mostrou contrário à aprÕvação da PEC. Em meio a uma possível crise de
governabilidade, o Presidente Lula se viu diante
de duas perspectivas: (1 J precisava do apoio do
PMDB e do Presidente do Senado e, ao mesmo
tempo, (2) precisava do apoio do Presidente da
Câmara para aprovar sua agenda de governo.
Caso Lula mantivesse seu apoio a PEC da reeleição das Mesas ele corria o risco de perder parte significativa do PMDB; caso abrisse mão da
reeleição podia perder o apoio do Presidente do
Senado.
No final, o governo abriu mão da aprovação
da PEC para continuar com o PMDB na coalizão
governativa. Tal estratégia parece apontar para
a organização da base aliada no sentido de indicar um nome consensual na disputa da eleição
de Presidente da Câmara. Mesmo no período de
crise do Congresso, Lula tentou manter a frente
das Mesas Diretoras dois aliados. Seu recuo só
se deu porque o risco de perder o PMDB na base
e o apoio do potencial Presidente do Senado, Renan Calheiros, falou mais alto. Além disso, contar
com o PMDB na base "garantiria" a eleição de
um nome aliado para o cargo de Presidente da
ACADÊMICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Câmara. É importante salientar também a reação dos principais partidos da oposição: PSDB e
PFL. Lideranças das duas bancadas acusaram o
Executivo de tentar alterar a regra do jogo em
beneficio próprio, o que poderia despertar a atenção da opinião pública fazendo com que a decisão
tivesse custos elevados. Eleição na Câmara: o dilema interno do PT.
A heterogeneidade estrutural da sociedade
brasileira, associada ao quadro multipartidário
e à representação proporcional contribui para a
fragmentação das bancadas, o que faz com que a
coligação eleitoral vencedora geralmente não obtenha maioria qualificada para aprovar uma agenda de mudanças. Torna-se necessário à inclusão
de outros partidos no governo. Tal inclusão se dá
através da distribuição de pastas ministeriais,
cargos de confiança em empresas estatais e por
outras formas de recursos públicos. A expressão
"Presidencialismo de coalizão" foi cunhada por
Abranches (1989) para analisar tal dinâmica. A
lógica que passa a nortear o comportamento dos
Deputados Federais leva em conta a relação dos
partidos políticos com representação na Casa e
o comando do Executivo Federal (FIGUEIREDO &
LIMONGI, 1999; SANTOS, 2003).
Nunes & Silame (2006) mostram que o Governo Lula não é exceção a regra já que procurou
orgánizar uma coalizão majoritária. Tal coalizão,
operando em um novo cenário onde o PT passa a
ser situação e o PSDB passa a ser oposição, e
auxiliada pela popularidade do recém eleito Presidente da República influenciou positivamente a
aprovação da agenda proposta pelo Executivo no
primeiro biênio do governo Lula.
Contudo, os autores já chamam atenção para
a primeira derrota significativa sofrida pelo governo. Referem-se à tentativa mal sucedida de
aprovar a reeleição imediata para Presidente do
Senado e da Câmara, já mencionada neste artigo.
Dessa forma, dá-se, então, o contexto para a
competição "inusitada" em torno da Presidência
da Câmara no segundo biênio (2005/2006) que
passamos a analisar neste momento.
Como de costume, com a aproximação da data
para inscrição de chapas que concorreriam à cargos na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados,
o governo começou a se organizar para que houvesse um nome indicado por ele a ser referendado pelos parlamentares. A Tabela 2 a seguir
nos mostra a situação da bancada governista até
aquele momento.
6 Luiz Eduardo Greenhalgh ficou conhecido como
advogado do Movimento
Sem Terra, o que faz com que
seu nome sofra uma forte rejeição de partidos que contavam com ruralistas dentro de
seus quadros.
C E N T R O A C A o Ê M I c o o E C I Ê N C I A S S O C I A I S REVISTA TRÊS (e e e) PONTOS
* Tais percentuais expressam tamanho da bancada no momento eleitoral, não incluindo, assim, dados de migração partidária durante o
governo.
** Consideramos a coligação tanto no primeiro quanto no segundo turno das eleições.
*** Mesmo apresentando alta taxa de apoio ao governo nas votações nominais, o PP se dizia um partido independente. Só em julho de 2005
o partido entra no governo oficialmente.
**** Fonte: Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados (Dados oficiais até 30/09/05).
***** Fonte: Presença e ausência em votação nominal na data 23/03/04.
******Apenas consideramos os partidos analisados nesta tabela. Os considerados "outros partidos" que chegam em 2003 à 3,3% da Câmara
não estão na soma total.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados retirados do site da Câmara dos Deputados
Segundo os dados relativos ao tamanho da
bancada do governo na Câmara dos Deputados no
ano da eleição para a Mesa Diretora, o Executivo
contava com o "apoio" de mais de 60% das cadeiras. Note que a entrada do PMOB é que aumenta
significativamente tal percentual. Sem o partido
de centro mais tradicional do Brasil, o Executivo contava, em média, com 45% das cadeiras
na Câmara, percentual que não permitia aprovar
Emendas Constitucionais. Isso mostra, mais uma
vez, que o governo optou pelo retirada da PEC
101/03 da pauta de discussão porque esperava
obter o apoio do PMOB na base aliada, possibilitando maiores chances de eleger um aliado como
Presidente da Câmara, além de manter o Senado sob a chefia do PMOB. Além disso, a questão
era polêmica e caso o governo resolvesse votála poderia acumular uma derrota. Desta forma,
D governo tinha como certa a vitória na eleição
para a Presidência da Câmara, pois contava com
a sustentação de sua base aliada acrescida do
expressivo apoio advindo do PMDB.
No entanto, um fato de certa forma peculiar
modificou este cenário. Começaram os debates
internos no PT para decidir quem seria o candidato do partido ao cargo. Esta agremiação política pretendia trabalhar um nome de consenso. O
perfil do parlamentar deveria favorecer o governo
na tramitação de seus projetos, pelos motivos já
apresentados acima, e ter um bom relacionamento com a oposição. Na discussão da bancada do
PT, ficou decidido que o candidato sairia de uma
votação que deveria ser realizada em três turnos. No dia 22 de dezembro de 2004 a bancada
se reuniu para escolher tal nome. Entretanto, durante tal reunião ficou decidido realizar a votação
em apenas dois turnos, sendo que cada deputado
votaria, no primeiro turno. em três nomes; e já no
segundo turno eles teriam que escolher um nome
entre os três mais votados.
O resultado do primeiro turno foi o seguinte:
o Deputado Virgílio Guimarães (PT-MGJ obteve 47
votos. O mineiro foi seguido pelos paulistas Professor Luizinho e Luiz Eduardo Greenhalgh que
obtiveram, respectivamente, 42 e 39 votos. No
entanto, não ocorreu o segundo turno, conforme
previsto, e na madrugada do dia 23 de Dezembro
de 2004 o PT anunciou através de seus líderes o
Deputado Federal Luiz Eduardo Greenhalgh como
o candidato do partido a Presidência da Mesa da
Câmara dos Deputados. Ou seja, o campo majoritário do partido impôs o nome do deputado
paulista ferindo o processo de prévias que é comumente acionado no PT para a tomada de decisões internas. Configurado tal quadro, Virgílio
lança sua candidatura avulsa atendendo, segundo
ele, a uma demanda de 130 deputados federais.
Este movimento fica conhecido como "Câmara
Forte". Outro argumento que Virgílio utiliza ·para
legitimar sua candidatura avulsa é o indicio de que
o candidato escolhido pelos dirigentes petistas
era fortemente rejeitado pela Câmara dos Deputados. 6
Assim, acreditamos que a candidatura avulsa
de Virgílio Guimarães para o cargo de Presidente
da Mesa da Câmara dos Deputados criou incentivos para a apresentação de outras candidaturas
avulsas. A presença dos dois candidatos do PT
somada à apresentação de outras candidaturas
avulsas concorrendo a tal cargo, criou um cenário
de incerteza à vitória governista. A falta de coesão e disciplina no seio do partido do Presidente,
no que tange à indicação de um nome de consenso para concorrer à eleição para a Presidência da
REVISTA TRÊS (e e e) PONTOS . C E N T R O
Câmara, favoreceu o rompimento da lógica partidária no momento eleitoral como mostraremos
adiante.
Gostaríamos de ressaltar, ainda, que outro fator contribui de forma direta para a não vigência
da lógica partidária no processo aqui analisado.
Como determinado pelo Regimento Interno da
Câmara: "A eleição dos membros da Mesa farse-á por escrutínio secreto, exigida maioria absoluta de votos, em primeiro escrutínio, e maioria simples, em segundo escrutínio" (Art. r do
Regimento Interno). Desta forma, os Deputados
ficam livres para expressar suas opiniões. Como
focado pela literatura (FIGUEIREDO & LIMONGI,
19991, o comportamento disciplinado das bancadas em votações nominais se dá devido a necessidade dos parlamentares declararem abertamente seu voto. Desta maneira, os líderes
partidários dispõem de mecanismos que lhes permitem o controle sobre as baf1cadas. O Deputado
terá acesso a recursos parlamentares, como por
exemplo acesso a cargos nas comissões que lhe
interessam, na medida em que apóia as decisões
indicadas pela liderança de seu partido e, caso
contrário, ele se vê desprovido de "capital distributivista". No entanto, a possibilidade de não
expressar publicamente sua preferência, confere
ao parlamentar menores custos decisórios: ele
não recebe punições nem na dimensão eleitoral
- pois não há possibilidades de accountability vertical - nem na dimensão partidária - já que o líder não sabe qual o posicionamento tomado pelos
Deputados7• O resultado final da eleição deflagrou
a falta de controle do Executivo sobre sua bancada como apresentado na Tabela 3 a seguir. No
primeiro turno, a soma de votos dados aos candidatos petistas é de 324, o que corresponde a
63,15% das cadeiras na Câmara. Este dado nos
indica que, provavelmente, a base aliada do Executivo, que correspondia a 61,4% das cadeiras
na Câmara, votou nos candidatos filiados ao PT.
No entanto, o fato de que havia dois candidatos
que compunham a base aliada na disputa pelo cargo acabou por dividir os parlamentares em torno
dos dois nomes, o que levou um candidato filiado
a um partido que não compunha a base aliada ao
segundo turno da votação.
Quando a disputa se deu entre os nomes de
Greenhalgh e Severino a bancada do governo
mostra, mais uma vez, sua insatisfação com o
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nome imposto pela direção do PT. Este parlamentar, que no primeiro turno havia recebido 207
votos, obtém apenas 195 no segundo. Ou seja,
mesmo sendo o candidato da base aliada no segundo escrutínio, Greenhalgh perde votos de um
turno para o outro. Acreditamos que este fato
se deu devido a dois principais motivos: (1 l as
lideranças da oposição adotam uma estratégia de
concentrar votos na candidatura avulsa de Severino como uma forma de inviabilizar a aprovação
da agenda de governo no segundo biênio; (21 diferentemente do primeiro turno, parte da base aliada deixa de votar no candidato do PT em função
da rejeição atrelada ao nome de Greenhalgh.
Enfim, o Deputado Federal Severino Cavalcanti vence o segundo turno da eleição para Presidente da Câmara dos Deputados com o total de
300 votos e descortine-se um novo cenário para
o Governo Lula: lidar com um Presidente da Mesa
Diretora da Câmara dos Deputados que não é filiado a um partido que faz1 parte de sua coalizão
de governo.
Severino: veto player ou aliado'?
Nesta sessão, vamos colocar frente a frente
duas abordagens diferentes inseridas dentro dos
estudos legislativos no Brasil. Até a primeira metade da década de 1990, eram dominantes diagnósticos negativos sobre o sistema político brasileiro. Os partidos eram vistos pelos políticos,
de acordo com Sartori (19931 como "partidos de
aluguel". Os parlamentares votavam em desacordo com a orientação dos líderes, alegando que
nada poderia "interferir em sua liberdade de representar seus eleitores" (SARTORI, 19931.
Para Mainwarfng (1993, 20011, por exemplo,
a combinação entre presidencialismo e multipartidarismo no Brasil é uma "combinação explosiva". Seus resultados seriam a fragmentação do
sistema partidário, paroquialismo na formulação
de políticas públicas, mandatos parlamentares
personalizados, partidos marcados pela falta de
disciplina e coesão, altas taxas de migração partidária, formação de coalizões de governo ad hoc
pela ampla utilização da patronagem, que seria
a "principal cola (às vezes muito poderosa) que
mantém a sustentação do Presidente unida"
(MAINWARING, 19931. Esse quadro incentivaria
o Presidente a governar por decretos e a assumir
posições autoritárias.
7 Ver Fleury (2006).
8 No primeiro turno,
1 O Deputados deixaram de
votar. No segundo, 18 não
expressaram seu voto. Por
isso, os totais de porcentagem não somam 1 00%.
11
9 O PP entra na base
aliada do governo Lula em
julho de 2005.
1 O Aprovação na Câmara não garante sanção
pelo Presidente imediatamente, já que a proposta
também tem que tramitar
no Senado e voltar a Câmara
caso houvesse alguma emenda. Ver mais em Processo
Legislativo no site da Câmara
dos Deputados.
11
C E N T R O A C A O Ê M I C O O E C I Ê N C I A S S O C I A I S REVISTA TRÊS (e e e) PONTOS
Mais recentemente, Ames [20031 também
chama a atenção para os incentivos que essa
combinação, bem como a cultura política, oferece
aos legisladores. Além de e,stimular o paroquialismo e a indisciplina, o que exigiria do Poder Executivo ampla distribuição de patronagem, o sistema
institucional brasileiro multiplicaria os atores com
poder de veto, tornando alterações substantivas
no status quo altamente improváveis.
Figueiredo & Limongi [19991, analisando o resultado das votações nominais, realizadas pelos
deputados, nos plenários da Câmara dos Deputados e do Congresso, no período de 1989-1999,
constatam um padrão ideologicamente consistente de coalizões partidárias e taxas significativas de disciplina dos deputados e altas taxas
de aprovação das propostas encaminhadas pelo
Executivo, o que refuta a tese de que o sistema
é ingovernável. Os resultados de seu estudo contrariaram fortemente as inferências das análises
brasilianistas até então dominantes na literatura.
Posto este cenário, analisaremos um período peculiar do sistema político brasileiro. O governo Lula tem uma coalizão governativa ampla.
A Câmara dos Deputados rompe a lógica partidária, diretamente influenciada pelo fator "voto
secreto" e elege o Deputado Severino Cavalcanti
[PP-PEJ como Presidente da Mesa. Surge então
a seguinte questão: sendo o Presidente da Câmara um Deputado filiado a uma agremiação que
não faz parte da coalizão de governo9 , e tendo ele
prerrogativas institucionais centrais no processo
Legislativo, ·como será sua atuação? Ele tentará
dificultar a aprovação da agenda do Executivo ou
facilitará o processo? Como se dá a relação deste
ator com o governo no período em que este se
torna Presidente?
Eleito Presidente da Câmara no dia 15 de fevereiro de 2005, o deputado Severino Cavalcanti
CPP-PEJ venceu as eleições como candidato independente obtendo uma vitória inédita nas eleições para a Mesa Diretora da Casa. No primeiro
discurso já promete uma Câmara mais forte. Já
é conhecido por suas posições polêmicas sobre
diversos assuntos, o que desagrada setores da
sociedade: Ele é contrário à prática do aborto·
e à homossexualidade e defendeu durante toda
sua campanha à Presidência o aumento dos salários dos parlamentares e das verbas de gabinete. Essa última, ele conseguiu elevar de R$ 35
mil para R$ 44. 187 no princípio de 2005. Com
a crise política que abateu o Congresso e as denúncias envolvendo o pagamento do "mensalão" a
deputados, o caixa dois nas campanhas eleitorais
e a corrupção nas estatais, as opiniões do Presidente da Câmara passaram a desagradar os parlamentares. No dia 30 de agosto, Severino concedeu uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo
na qual disse que o "mensalão" não existia e que
a prática do caixa dois não justificava a cassação
dos deputados, o que lhe rendeu críticas no plenário de deputados de diferentes partidos.·
A gestão de Severino Cavalcanti na Presidência da Câmara coincidiu com a sucessiva edição
de medidas provisórias. Entre a posse de Severino e sua renúncia, o governo editou 22 MPs,
algumas de teor bastante complexo, o que levou
o ex-Presidente a criticar, mais de uma vez, o uso
desse instrumento legal. Desse modo, os trabalhos na Casa foram marcados pelos sucessivos
trancamentos da pauta por conta de MPs com
prazo de votação vencido. Só no primeiro semestre, para se ter uma idéia, as MPs trancaram as
votações em mais da metade das 38 sessões deliberativas ordinárias, previstas normalmente no
calendário, e em outras 34 sessões delibêrativas
extraordinárias, destinadas justamente a desafogar a pauta. Severino brigou especificamente pela
retirada da MP 232/04, que aumentava impostos
para os setores agrícola e para prestadores de
serviços. Graças às pressões da Câmara sobre o
governo, a MP foi substituída por outra medida,
que aprovou apenas a correção da tabela do Imposto de Renda em 1 0%, desonerando a classe
média. [Site da Câmara dos Deputados).
Entre os 27 projetos de lei aprovados na gestão Severino, destacam-se o que instituiu no
país a Lei de Biossegurança, o que suprimiu do
Código Penal a expressão "mulher honesta" e o
que introduziu o ensino da língua espanhola no ensino médio. Foram aprovados ainda 44 projetos
de decreto Legislativo [PDCsJ e a proposta de
emenda à Constituição que introduziu modificações no sistema previdenciário. Entre os PDCs,
o mais conhecido é o que autorizou o referendo
para decidir se o comércio de armas de fogo deve
ou não ser proibido no País. No caso das MPs, foram aprovadas10 22 e rejeitadas outras duas no
período que Severino esteve à frente da Presidência. Uma das MPs instituiu o Programa Nacional
de Microcrédito. Além disso, houve a criação da
comissão parlamentar de inquérito [CPIJ que investiga o tráfico de armas no País. Ao todo foram
realizadas 56 sessões deliberativas. [Agência Câmara, 21/09/051
Note que mesmo se a mídia da época veiculasse muitas notícias mostrando problemas na
relação do Executivo com a Câmara, os números
mostram que o Executivo mais ganhou do que
perdeu, mesmo no período Severino. Além disso,
como nos mostra a Tabela 4 a seguir, os trabalhos em 2005 não sofreram mudanças radicais
em relação ao período anterior [2003-20041 em
que o Presidente da Câmara era um aliado. Se
compararmos a média de propostas aprovadas
entre os anos de 2003 e 2004 com os números absolutos em 2005 veremos que apenas no
que se refere a leis ordinárias a média anterior
é maior do que a do período Severino. Ou seja, a
Câmara não sofre uma mudança significativa no
padrão de aprovação de Legislação.
REVISTA TRÊS ( 0 00) PONTOS C E N T R O A C A o Ê M 1 c o o E CIÊNCIAS SOCIAIS
*Normas como Decretos Legislativos relativos à concessão e/ou outorga para rdUIIUUtTu"'o
Fonte: Site da Câmara dos Deputados
Contudo estes dados poderiam estar falseando a relação do Presidente da Câmara com o
Executivo porque constam na Tabela 4 dados de
proposições apresentadas não só pelo Executivo
mas também pelo Legislativo. Por isso, é preciso
analisar a Tabela 5 que nos mostra se a Mesa qiretora no período Severino dá ou não tramitação
aos projetos do Executivo ou do partido do Presidente da República.
Como fica evidente, a Mesa diretora encaminha 97% das proposições que nela chegaram durante os nove meses em que Severino esteve a
frente da coordenação dos trabalhos da mesma.
Parece-nos que não há porque afirmar que este
ator age como um veto player.
Ademais, há um fato que nos chama muita
atenção e que reforça o argumento de Santos
(20031 sobre a importância da patrbnagem na
cooptação de partidos para apoiar os projetos do
Executivo. O partido de Severino Cavalcanti em
meados de julho entra formalmente na base aliada
do Governo Lula. Ou seja, ao invés de continuar
independente, o partido opta por apoiar o PT. Seria este outro indício de que Severino configurase como um aliado e não como um veto player.
Enfim, mesmo o voto secreto tendo sido decisivo para o rompimento da lógica partidária e
para a eleição de um não-aliado a um dos cargos
mais estratégicos da Câmara dos Deputados,
ainda assim, o Executivo foi capaz de cooptar tal
ator para sua coalizão governativa. Os recursos
disponíveis nas mãos do Executivo ainda são mais
atrativos para as bancadas partidárias na Câmara do que os custos de se tornar oposição. Desta
forma, colocamos em dúvida o princípio de checks
and balances que deveria imperar na relação do
Executivo com o Legislativo. Mesmo que a concentração de poderes favoreça a governabilidade
como lembrado no debate entre Sartori [19981
e Lijphart (2003), não podemos nos esquecer
que outros princípios democráticos estão sendo
violados devido a esta característica, a saber: a
representatividade e a accountabillity. É preciso
que haja estabilidade governativa, mas também
-controle entre os poderes e que, além disso, se
faça valer a soberania do voto popular.
Consideração Finais
O objetivo deste artigo foi analisar o contexto
e as causas que culminaram na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos
Deputados, e o novo padrão de relacionamento
entre o Executivo e o Presidente da Câmara, tendo em vista o novo cenário criado com a eleição
de um outsider, membro de um partido que, nem
de longe, expressava a maior força no plenário.
Primeiramente chamamos a atenção do leitor
para a derrota sofrida pelo governo na tentativa
de aprovar a PEC da reeleição dos presidentes da
Câmara dos Deputados e do Senado. Controlar
a presidência das Câmara dos Deputados é de
suma importância para o governo, pois.se levarmos a força institucional que o presidente da Câmara tem é importante o Executivo fazer deste
um aliado,· para ver sua agenda aprovada em um
menor espaço de tempo.
Os signatários deste artigo acreditam que a
derrota governista para o cargo da Presidência
da Câmara se dá por causa de dois motivos principais: (1) o governo perde capacidade de controlar sua base aliada na eleição do Presidente
da Câmara dos Deputados quando não indicada
um nome de consenso; e (2) a vigência do voto
secreto, para a escolha do presidente da Câmara
dos Deputados, rompe a lógica partidária do funcionamento dos trabalhos legislativos.
A indisciplina partidária manifesta-se no momento que o deputado federal Virgílio Guimarães
CPT-MGl lança sua candidatura avulsa para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, des-
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respeitando a decisão tomada pela direção dos
Partidos dos trabalhadores em torno do nome de
Luis Eduardo Greenhalgh CPT-SPJ. A presença de
dois candidatos petistas, concorrendo à presidência da Câmara dos Deputados, divide os votos
da base aliada e faz com que a eleição se defina
em dois turnos. Contudo, a disputa do segundo
turno se deu entre o representante do governo,
Luis Eduardo Greenhalgh, e um membro de um
partido que não representava uma das grandes
bancadas da Câmara, Severino Cavalcanti (PPPEJ.
O resultado final da eleição apresenta-nos
·Severino Cavalcanti como o vencedor da disputa.
Acreditamos que a oposição mobilizou todos os
seus recursos em torno do nome do deputado
pernambucano, mas acreditamos também que
houve indisciplina na base aliada do governo. Alicerçamos tal afirmativa verificando a queda no
número de votos recebidos pelo candidato governista do primeiro para o segundo turno da eleição.
O voto secreto, como instituição que define a
forma de escolha do presidente da Câmara dos
deputados também contribuiu significativamente
para a derrota do candidato governista. Os líderes partidários não possuem instrumentos para
punir ou recompensar os membros dos partidos,
levando-se em consideração que os deputados
não precisam tornar pública a sua escolha.
Levando em consideração este novo contexto,
procuramos verificar se Severino Cavalcanti vai
se posicionar ou não como um veto player à agenda do Executivo. Baseado nos dados de produção
legislativa e na tramitação dada aos projetos do
Executivo e aos do partido do Presidente da República, confirmamos a hipótese de que o deputado do PP não atua como um ator com poder de
veto sobre a agenda do Executivo. Severino não
dificulta aprovação da agenda do Executivo e acaba se tornando um aliado. Os dados não permitem dizer que ele facilitou a aprovação da agenda
do Executivo, entretanto podem ser um indicador
de que ·ele não exerceu seus atributos de veto
player. Acreditamos que Severino usou sua posição estratégica de presidente de Câmara dos
Deputados para barganhar recursos para o PP.
Por fim, gostaríamos de ressaltar dois pontos
importantes: ( 1) mostramos neste texto a relevância que a regra do voto secreto teve para o
rompimento da lógica partidária no que se refere
a eleição do Presidente da Câmara. Neste sentido, é assaz pertinente lembrar do debate que
está sendo travado no Congresso sobre a mudança desta regra. A discussão está em torno
da PEC 349/01 que institui o voto aberto para
todas as deliberações do Congresso Nacional. Já
aprovada em primeiro turno, a PEC põe fim, inclusive, a votação secreta para deliberações sobre processos de perda de mandato, eleição da
Mesa, análise de veto presidencial e escolha de
conselheiros do Tribunal de Contas da União. A
análise desenvolvida aqui nos dá subsídios para
afirmar que a aprovação na íntegra de tal medida
acabará por aumentar o poder do Executivo sobre os Legisladores. (2) Abre-se a partir de então
uma nova agenda de pesquisas. É preciso, para
se entender melhor a relação do Executivo com o
Legislativo, e em especial com o Presidente das
respectivas Casas Legislativas, comparar a produtividade dessas em períodos maiores e analisar
os 'dados sobre a ordem do dia estabelecidas pelos Presidentes do Legislativo no período inteiro
no pós-88. E mais, é preciso identificar até que
ponto o fim da votação· secreta impactará a relação do Executivo com o Legislativo, e ainda, os
graus de accountabil/ity e de responsivenes dos
parlamentares.
Submetido para publicação em 12 de setembro de 2006.
Aprovado para publicação em 06 de outubro de 2006.
REVISTA TRêS ( êee) PDNTDS C E N T R O A C A O Ê M I C O O E C 1 Ê N C 1 A S
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