domingo, 31 de janeiro de 2021

NETWORK / REDE DE INTRIGAS

*** Nas entrelinhas: Rede de intrigas *** O que parecia impensável, passou a ser uma possibilidade, diante do descalabro na saúde: uma aliança entre os partidos de esquerda e o general Mourão contra Bolsonaro *** 31/01/2021 *** Luiz Carlos Azedo *** *** A moral da história não tem muito a ver com o longa-metragem que empresta o título à coluna, por sinal, uma excelente dica para a tarde deste domingo, em tempos de distanciamento social. Lançado em 1976, o filme de Sidney Lumet é uma dura crítica aos meios de comunicação, principalmente a tevê, que arrebatou quatro Oscar: Ator (Peter Finch, entregue de forma póstuma), Atriz (Faye Dunaway), Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Roteiro (Paddy Chayefsky). A trama de Rede de Intrigas é uma pequena obra-prima: Com baixos índices de audiência, o âncora do programa de notícias da rede UBS, Howard Beale (Peter Finch), surta e aparece na televisão afirmando que cometerá suicídio dentro de uma semana, em pleno horário nobre. Seu produtor entra em pânico com a atitude do amigo, acreditando que sua carreira e a de Howard estariam encerradas. Entretanto, o colapso do âncora acaba dando mais audiência ao programa. A ambiciosa diretora de tevê Diana Christensen (Faye Dunaway) e o executivo Frank Hackett (Robert Duvall) não estão nem aí para o surto do apresentador, só querem saber de faturar com o sucesso de público. Rede de Intrigas se passa logo após a Guerra do Vietnã e o escândalo de Watergate, que levou Richard Nixon à renúncia. É um ambiente de muito ceticismo em relação à política e às instituições norte-americanas. Neste cenário, o sisudo âncora Howard Beale se transforma num jornalista sem papas na língua, que não tolera a situação e assume o papel de porta-voz da opinião pública. Controlar o desequilibrado Howard Beale, porém, será bem mais difícil do que qualquer um poderia pensar. Na política brasileira, a intriga da hora é o estresse entre o presidente Jair Bolsonaro e seu vice, general Hamilton Mourão, provocado por inconfidências de um assessor parlamentar, que acabou demitido. Desde o episódio das “rachadinhas” (devolução de parte dos salários dos assessores para o parlamentar que os nomeou) da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, no qual estão envolvidos o senador Flávio Bolsonaro (PR-RJ), seu filho, e a primeira-dama Michele, Bolsonaro está convencido de que o vice sonha com a cadeira de presidente da República. Demitiu dois ministros, logo após o escândalo vir à tona, por acreditar numa conspiração para apeá-lo do cargo: o ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno, já falecido, e o ex-secretário de Governo Carlos Alberto Santos Cruz, um general reformado — respeitadíssimo na caserna, por sua atuação em missões da ONU no Haiti e no Congo —, que hoje lhe faz uma oposição implacável. *** Patente é documento *** A crise sanitária e a recessão econômica, que Bolsonaro tenta mitigar no gogó falando barbaridades, jogaram os indicadores de aprovação do governo para baixo e estão desgastando a imagem do presidente da República de forma muito acelerada. O número de mortes provocado pela covid-19 e a indignação da população com o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS) em Manaus, além de desmoralizar os militares à frente do Ministério da Saúde, sob comando do general Eduardo Pazuello, embalaram a agitação a favor do impeachment de Bolsonaro. O que parecia impensável, passou a ser uma possibilidade, diante do descalabro na saúde: uma aliança entre os partidos de esquerda e o general Mourão, homem sabidamente de direita. Com essa, Bolsonaro não contava. A escolha de Mourão como vice teve por objetivo evitar que a oposição derrotada nas urnas em 2018 embarcasse na canoa do impeachment. A narrativa de que o impeachment de Dilma Rousseff fora um golpe liderado pelo vice Michael Temer, com apoio dos militares, dividia oposição. Mas não é que o impeachment passou a ser o centro da tática tanto da esquerda como dos movimentos cívicos que foram pra rua contra a “presidenta” petista. Bolsonaro trabalha para consolidar sua blindagem no Congresso, com a eleição do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e do deputado Arthur Lira (PP-AL) à Presidência do Senado e da Câmara, respectivamente. É jogo jogado, mas isso não significa corpo fechado. Mesmo que Bolsonaro obtenha uma vitória consagradora na “guerra de posições” para se manter no poder, isso não altera certas características de seu governo nem do Congresso. A maioria formada para apoiá-lo, tanto na Câmara como no Senado, foi obra silenciosa dos militares que controlam o governo, sobretudo do ministro Luiz Ramos, secretário de Governo, e das velhas raposas políticas do Centrão, entre as quais o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, e os ex-deputados Valdemar Costa Neto (SP), do PL, e Roberto Jefferson (RJ)), do PTB, e o ex-prefeito Gilberto Kassab (SP), do PSD, com maior ou menor estridência. São políticos que já apoiaram e abandonaram todos os governos. Por sua vez, os militares têm uma cultura de troca de guarda, ou seja, rodízio nos comandos, que foi uma das características do regime militar. Bolsonaro tem razão ao ver em Mourão uma ameaça. O vice é “imexível” e está preparado para assumir seu lugar em caso de necessidade, com apoio do Centrão e dos militares, caso a popularidade do presidente continue desabando e o impeachment realmente ganhe as ruas, financiado por setores empresariais descontentes com os rumos da economia. Além disso, num governo de características bonapartistas, patente é documento. *** *** FONTE: *** https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-rede-de-intrigas/ *** *** NETWORK / REDE DE INTRIGAS (1976) (I0) (200) ***
*** «Ainda mais empolgante hoje que na época do lançamento, "Rede de Intrigas" é uma denúncia sarcástica e certeira do jornalismo televisivo. Premiado com quatro estatuetas do Oscar, ainda pulsa com "uma combinação sempre rara de vitalidade e verve provocadora" (Los Angeles Times). Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch e Robert Durvall são os astros deste retrato impiedoso da exploração da mídia televisiva. Quando o veterano âncora de jornalismo Howard Beale (Peter Finch) é demitido, ele sofre um violento colapso nervoso diante das câmeras. Mas, depois que os seus enfraquecidos números de audiência sobem por causa das suas críticas ferozes, ele é readmitido e reinventado como o "profeta louco das ondas da TV". Evidentemente, quando o tal "profeta" perde a capacidade de seduzir o público, alguma providência tem que ser tomada contra ele. De preferência, diante das câmeras e com uma plateia dentro do estúdio...» *** *** FONTE: *** MCF - O MODELO COOPERATIVO FAMILIAR https://www.novacomunidade.org/wiki-mcf/network-rede-de-intrigas-1976-i0-200 *** *** REDE DE INTRIGAS *** DIREÇÃO *** Sidney Lumet *** ELENCO *** Faye Dunaway *** Personagem : Diana Christensen *** William Holden *** Personagem : Max Schumacher *** Peter Finch *** Personagem : Howard Beale *** Robert Duvall *** Personagem : Frank Hackett *** Ned Beatty *** Personagem : Arthur Jensen *** Arthur Burghardt *** Personagem : Great Ahmed Kahn *** Lance Henriksen *** Personagem : Network Lawyer at Khan's Place *** Tim Robbins *** Barbara Schlesinger Conchata Ferrell Bill Herron Darryl Hickman Merrill Grant Ken Kercheval Edward George Ruddy William Prince Robert McDonough Lane Smith Louise Schumacher Beatrice Straight Joe Donnelly Ed Crowley *** ROTEIRO *** Roteirista Paddy Chayefsky *** EQUIPE TÉCNICA *** Diretor de fotografia *** Owen Roizman Montador *** Alan Heim *** EMPRESAS ENVOLVIDAS *** Produção *** United Artists Produção *** Metro Goldwyn Mayer (MGM) *** Fonte: *** ADOROCINEMA *** http://www.adorocinema.com/filmes/filme-46077/creditos/ *** *** *** Trailer legendado REDE DE INTRIGAS *** Disponível em: *** https://www.youtube.com/watch?v=9T1rnaFGTeg *** Acesso em: *** 31/01/2021 *** *** Blindagem do centrão inclui veto à CPI da Pandemia e escudo para o Zero Um ***
*** Imagem: UESLEI MARCELINO *** Josias de Souza *** Colunista do UOL *** 31/01/21 *** Com notável sensibilidade para detectar bons negócios, o centrão vislumbrou nas aflições da família Bolsonaro múltiplas oportunidades. Na sucessão interna do Congresso, o acerto que consolidou a aliança com o Planalto não se limita ao bloqueio do impeachment. Inclui o veto à instalação de uma CPI sobre a pandemia e o fornecimento de escudo para o primogênito Flávio Bolsonaro. *** A escolha dos novos comandantes das duas Casas do Legislativo ocorrerá nesta segunda-feira (1º). Pelas contas dos operadores do Planalto, está consolidada a vitória dos preferidos de Bolsonaro: na Câmara, Arthur Lira (PP-AL); no Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O presidente encosta verbas públicas e cargos federais na disputa com o ânimo de quem contrata um seguro contra acidentes. *** De Arthur Lira, espera-se que evite a trombada de Bolsonaro com um dos mais de 60 pedidos de impeachment protocolados na Câmara. Cabe exclusivamente ao presidente da Casa a decisão de arquivar ou abrir o processo legislativo. Dá-se de barato no Planalto que Lira evitará também que o governo seja atropelado por uma CPI sobre a pandemia. *** Numa articulação que entrou pelo final de semana, opositores de Bolsonaro recolhem assinaturas para requisitar à presidência da Câmara, ainda sob Rodrigo Maia, a instalação de uma CPI para escarafunchar as ações e, sobretudo, as omissões do presidente e do seu governo na crise sanitária. De acordo com a Constituição, são necessárias as assinaturas de 171 deputados. *** Além das rubricas, a Constituição estabelece como pré-condição para a abertura de uma CPI a descrição do "fato determinado" a ser investigado. Essa exigência abre espaço para que o presidente da Câmara exercite sua discricionariedade, arquivando requsições de CPI sob o pretexto de que não há "fato determinado". Lira ensaia o argumento segundo o qual uma CPI serviria apenas para politizar ainda mais a pandemia. *** Na avaliação do governo, a oposição não conseguirá recolher as assinaturas. Se conseguir, Rodrigo Maia não ousará colocar a CPI para andar horas antes de deixar o trono. Se ousar, Arthur Lira abortará a iniciativa. *** Vale para o Senado a mesma blindagem negociada na Câmara. Com o acréscimo de um escudo para Flávio Bolsonaro. Está entendido no Planalto que Rodrigo Pacheco, se eleito, garantirá ao primogênito do presidente doses generosas do mesmo refresco que vem sendo servido por Davi Alcolumbre, o atual comandante do Senado. *** Há no Conselho de Ética do Senado um pedido de cassação do mandato do filho Zero Um do presidente. Entretanto, o colegiado está incompleto e com o funcionamento suspenso desde o início da pandemia. Alcolumbre recusou-se a autorizar a realização de sessões remotas, por videoconferência. *** Para Alcolumbre, ainda que não houvesse coronavírus, o Conselho de Ética não teria como punir Flávio, pois o célebre caso da rachadinha refere-se não ao seu mandato de senador, mas à fase em que ele era deputado estadual, no Rio de Janeiro. Antes de apoiar Rodrigo Pacheco, Bolsonaro certificou-se de que ele esgrime a mesma opinião. E não tem a intenção de propor reuniões virtuais do Conselho de Ética. *** Fonte: *** UOL *** https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/01/31/blindagem-do-centrao-inclui-veto-a-cpi-da-pandemia-e-escudo-para-o-zero-um.htm *** ***

Se a Gente Grande Soubesse

António Costa, um político para além da cor da pele *** Será a eleição do novo líder do PS e candidato a primeiro-ministro uma vitória sobre uma barreira de racismo? Especialistas dizem que não. Trata-se de um descendente de goeses brâmanes católicos, os portugueses da Índia. *** São José Almeida *** 24 de Novembro de 2014, 7:42 ***
*** Orlando da Costa e António Costa, com três ou quatro anos, no Jardim Zoológico, em Lisboa DR *** Corria o ano de 1976, Maria Antónia Palla foi buscar o filho António Costa à escola. Raramente o fazia, mas naquele dia chegou à porta da Escola Fernão Lopes, já instalada no Palácio dos Condes de Cabral, no Largo António de Sousa Macedo, em Lisboa, e perguntou pelo filho a um contínuo. Depois de alguma insistência, o homem lá percebeu quem era a criança cuja mãe ali se apresentava e soltou a frase: “Ah, é o preto!” Maria Antónia fica pasmada. Mas também muitíssimo preocupada. À noite, já em casa com o filho, decide falar-lhe sobre o que via como um problema: a hipótese de o seu filho ser vítima de racismo. Com cuidado redobrado, pergunta ao rapaz como é que o tratam na escola. Ele responde pronto: “António!” Ela insiste: Ele acrescenta o apelido e diz que também o tratam por António Costa. Como a conversa não evoluía, Maria António Palla relata ao filho o sucedido à porta da escola e a reacção do contínuo. Tranquilo, António Costa pergunta-lhe: “Ó mãe, tu já olhaste para mim? Já viste a minha cor? Eu sou escuro mesmo.” António Costa nasceu em Lisboa a 17 de Julho de 1961, filho da jornalista Maria Antónia Palla e do escritor Orlando da Costa. E se Maria Antónia era de uma família portuguesa, republicana e laica do Seixal, Orlando era filho de uma família goesa, brâmane e católica de Margão, território que foi integrado na Índia em 1961, com a anexação das possessões portuguesas Goa, Damão e Diu. Filho de uma portuguesa da metrópole, branca, e de um goês de Margão, indiano portanto, António Costa herdou características fenotípicas do pai, ou seja, a cor da sua pele é castanha, como é próprio das populações da Índia. “Nunca me limitou” Hoje, como na sua adolescência, António Costa vive bem com a cor da sua pele. Ao PÚBLICO afirma: “A cor da pele nunca me limitou, nunca.” Perante a pergunta sobre se alguma vez se sentiu discriminado, vítima de racismo, garante: “Eu, pessoalmente, nunca senti. Posso ter ouvido uma ou outra vez chamarem-me 'monhé', mas é episódico.” E explica que a cor da pele sempre foi vivida por si “com normalidade” e sem se sentir diferente ou especial por isso: “Também não era motivo de orgulho.” O candidato a primeiro-ministro diz mesmo que só agora surgiu “um grande interesse dos jornalistas sobre isso”, o que atribui ao facto de a sua vitória nas primárias ter sido noticiada em jornais indianos como o Hindustan Times (29/09/2014) e o Economic Times (30/09/2014), que salientaram o facto de, pela primeira-vez, um candidato a primeiro-ministro no Ocidente ser de origem indiana. “Na Índia o assunto é notícia porque há actualmente uma nova atitude em relação aos goeses”, explica António Costa. “Há uma coisa nova, os indianos têm uma relação mais descomplexada com os goeses e Goa já tem governos hindus.” E sublinha que há um novo interesse “sobretudo em relação aos goeses que tinham vindo para Portugal, que eram mal vistos, havia uma barreira contra os goeses em geral, porque consideravam que eles estavam feitos com os colonialistas”. O secretário-geral do PS considera mesmo que a sua ascensão a este cargo e a sua escolha em eleições primárias como candidato a primeiro-ministro nada têm que ver com a quebra de uma barreira contra o racismo na política portuguesa. Esta posição de Costa é confirmada ao PÚBLICO pelo antropólogo goês e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, Jason Keith Fernandes. “A vitória de António Costa não significa que não há racismo”, afirma este investigador. E lembra: “Os ingleses quase ‘inventaram’ o racismo, mas estavam na Índia com o seu império e tratavam os filhos dos rajás como brancos, estes estudavam em Oxford, como os filhos da elite inglesa, eram completamente ingleses. Em qualquer império as elites dos territórios são tratadas como as elites do centro.” Jason Keith Fernandes afirma que “para perceber o racismo é preciso analisar como são tratados os goeses de classes baixas, onde as pessoas não têm poder, não são especiais”. O facto de um filho de um goês de elite ser candidato a primeiro-ministro não altera nada em relação ao racismo quer seja na política, quer seja na sociedade em geral. E avança com um exemplo: “A Índia teve uma mulher primeira-ministra, Indira Gandhi, e isso nada indica sobre o estatuto da mulher na Índia.” Pelo contrário, este investigador defende que só a existência da dúvida sobre se há diferença em Costa já mostra que o racismo permanece. “Conta-se a história de uma senhora goesa que se ofendeu porque num restaurante de Lisboa ouviu comentar que ela comia como os portugueses e falava como os portugueses”, conta Janson Keith Fernandes. E conclui: “Ela ofendeu-se por terem duvidado. O espanto vem da dúvida de que possa ser verdade. O dilema é esse, a dúvida mostra que não estamos num espaço sem racismo. Estamos todos marcados pelo racismo. Basta o facto de dizermos que não somos racistas para já estarmos a levantar o problema. Há racismo e o que há a fazer é falarmos disso.” Os goeses e os outros Também Sandra Ataíde Lobo, investigadora do Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, adverte que “os goeses para os portugueses são só esta elite, os outros não são vistos como goeses, são vistos como indianos”. E frisa que, “aliás, os próprios goeses não se vêem como indianos”. Os outros indianos que chegam a Portugal após a descolonização de Moçambique é que são os vistos como os “monhés”. Quanto aos goeses, “sempre houve mais curiosidade cultural do que racismo de pele”, defende Sandra Ataíde Lobo, ela também goesa. Assim, embora numa sociedade racista, o que distingue António Costa é o facto de ele ser um português com origem goesa. Logo, integra uma elite que está acima de classificações com base na cor da pele. Como confirma ao PÚBLICO a antropóloga professora no ISCTE e investigadora do Centro de Estudos Internacionais, em Lisboa, e no Indian Institute of Technology, na Índia, Rosa Maria Perez, “há uma componente fenotípica que não tem incidência social; em relação aos goeses em Portugal, quer cultural, quer socialmente, nunca houve uma dicotomia baseada na componente racial ou fenotípica”. E frisa: “Os goeses distinguem-se de todos os indianos. Os goeses eram portugueses, não eram indianos. O racismo é estranheza pela cor. Mas o goês não era visto com a condição estranha de diferença pela cor da pele.” António Costa explicita o que distingue os goeses: “Há logo a distinção social entre os goeses vindos para Portugal continental antes de 1961e os outros indianos que vieram depois, tal como os africanos. A comunidade goesa e indiana cresceu cá, mas apenas com a descolonização a partir de Moçambique.” E acrescenta: “Na Índia, cruzam-se muitas coisas, e os goeses sempre usaram a religião católica e a língua portuguesa como diferença. Os goeses sentem-se tão diferentes que dizem, por exemplo, 'os indianos', quando falam dos outros naturais da Índia.” Apesar de a elite goesa se ver como portuguesa, o próprio António Costa também se identifica com a sua ascendência goesa. “Percebi desde sempre, tanto que em miúdo era chamado babush [garoto]”, afirma o secretário-geral do PS. “Lembro-me da minha avó Amélia. Na altura os goeses eram poucos, eram só a elite, à qual o meu pai pertencia. Ele e alguns amigos como Bruto da Costa, Narana Coisoró e Kalidás Barreto”, conta António Costa. Pela poesia e por Pessoa Orlando da Costa (1929-2006) nasceu em Lourenço Marques quase por acaso. “A minha avó Amélia teve uma doença pulmonar e foi tratar-se na Suíça. No regresso pára em Lourenço Marques para visitar uma irmã. Engravida na viagem e acaba por ficar dois anos em Moçambique para ter o filho.” Cresce em Goa, na cidade de Margão, na casa da família, na “Rua Abade Faria, onde ainda hoje vive Anna Karina Pimpula”, sua prima, adianta António Costa. E Rosa Maria Perez frisa que “a família é da elite local, a casa de família é uma casa indo-portuguesa típica, há ascendentes de António Costa que se destacaram na Escola Médico-Cirúrgica de Goa”. Quando jovem, “Orlando da Costa fez parte do movimento anticolonialista, sai de Goa por isso, chegou a estar preso”, conta Rosa Maria Perez. António Costa acrescenta: “Depois da anexação [1961], o meu pai era um dos únicos – se não o único – que eram considerados freedom fighters [lutadores pela liberdade]”. Assim, aos 18 anos, Orlando da Costa sai de Goa. “O pai queria que ele fosse estudar para Bombaim ou para Inglaterra, mas ele quis vir para Lisboa, pela literatura portuguesa e por Fernando Pessoa”, relata António Costa. E prossegue: "Veio em 1948 e só foi lá em 1975. Esteve muitos anos sem contacto. O irmão, meu tio, voltou a Goa em 1965. Já eu só fui em 1979, tinha 18 anos, e o meu irmão [o jornalista Ricardo Costa] 11 anos.” Em Lisboa, Orlando da Costa adere em 1954 ao PCP, partido de que é militante até morrer. Um ano antes casara-se com Maria Antónia Palla, feminista e militante do PS depois do 25 de Abril. A relação entre ambos já existia antes, mas optam por se casar a seguir à primeira prisão de Orlando da Costa pela PIDE. Casados pelo civil, Maria Antónia poderia visitá-lo, se voltasse a ser preso. O facto de ambos os pais “terem história política em Portugal” é uma das razões pelas quais “não é estranho que António Costa seja secretário-geral do PS”, diz Sandra Ataíde Lobo. Mas o que o distingue acima de tudo Orlando da Costa é ele “pertencer à elite goesa”, sublinha Rosa Maria Perez, insistindo em que “ele não é indo-português, ele é um brâmane católico goês”. E Janson Keith Fernandes precisa: “António Costa é eleito devido ao trabalho dos brâmanes que desde o século XVIII lutaram para que os seus direitos como cidadãos fossem efectivos.” O antropólogo goês explica que “os goeses foram cidadãos portugueses desde o início da soberania portuguesa em Goa” e desde o início há uma fusão da estratificação social europeia com a indiana, dando origem a uma nova elite. Essa elite específica que se formou em Goa “era composta pelos luso-descendentes que eram poucos, eram chamados 'reinóis' e tinham antepassados no reino, mas nessa elite tinham um peso central as elites nativas: os brâmanes e os chardós” – os primeiros são a casta dos sacerdotes, que transportam a palavra sagrada, os segundos os guerreiros, sendo ambas as castas terratenentes. Sandra Ataíde Lobo lembra que “existe todo o tipo de goeses, os goeses não são só uma elite”, mas sublinha também que “as castas que formavam as elites nativas goesas eram os brâmanes e os chardós”. “Para Portugal, o fluxo maior era de brâmanes, que vinham estudar”, adianta. Peso brâmane Num território em que “os indo-portugueses eram poucos, os brâmanes dominaram sempre a sociedade goesa e dominavam o poder em Goa”. De resto, frisa a historiadora, “tinham o domínio da propriedade”. Com a soberania portuguesa sobre Goa, os brâmanes assimilaram o catolicismo e “eram maioritariamente católicos, só no século XVIII é que começa a haver brâmanes hindus em Goa”. Assim, explica historiadora, “é o núcleo de brâmanes católicos que domina sempre e se expande para a metrópole e para as outras colónias”. Também Rosa Maria Perez defende que “uma singularidade do colonialismo português em relação a Goa é que sempre houve uma grande circulação de elites”. E prossegue: “Os goeses de elite estudavam em Lisboa ou Coimbra. Eram as elites administrativas, tanto as elites católicas como as hindus. Em Goa, a elite católica absorveu a casta superior, os católicos são os brâmanes. O colonialismo na Índia discriminou entre católicos e hindus, e brâmanes e outros. Os lugares da administração colonial eram ocupados por brâmanes católicos. A circulação de goeses é antiga, acentua-se com a República e continua no Estado Novo.” Por outro lado, Sandra Ataíde Lobo lembra que os brâmanes “são muito educados": "A educação é para eles um programa de classe. Estudam e através do estudo combatem a discriminação e procuram ter oportunidades. Eram cidadãos do império, tinham direitos e para os usufruir tinham de estudar.” É isso que possibilita a situação excepcional de Goa e das elites goesas em relação aos restantes territórios do império, conclui a historiadora, acentuando o facto de que mesmo em Cabo Verde, onde se salientaram elites criolas, elas não adquirem nunca o estatuto dos goeses. “Os goeses impunham-se como administração local, sempre disputaram com luso-descendentes o espaço político, e em Portugal sempre houve goeses, tiveram margem para conquistar espaço. Sempre houve integração e miscigenação. Em todo o lado há goeses em Portugal”, afirma Sandra Ataíde Lobo. A singulariedade goesa no império era tal que após a revolução liberal de 1820, quando é eleito o primeiro Parlamento, é em Goa que são eleitos os primeiros e únicos, na época, deputados nativos: são eleitos dois brâmanes católicos. “Logo da primeira vez foram eleitos nativos como deputados de Goa. Nas outras colónias eram eleitos brancos. Em Goa, quando eram brancos da metrópole, era negociado com os goeses, com a elite brâmane católica de Goa”, destaca Sandra Ataíde Lobo. Os dois primeiros deputados goeses são Constâncio Roque da Costa, ascendente de Alfredo Bruto da Costa, e Bernardo Peres da Silva. Este último, segundo Sandra Ataíde Lobo, “durante as lutas liberais exila-se no Brasil, acompanha a causa liberal”. E, “quando D. Pedro ascende ao poder, faz uma exposição ao rei sobre o estado da Índia. É nomeado governador. É o primeiro nativo a ser governador – é inédito até então –, embora o seja por pouco tempo, pois, quando chega a Goa, os luso-descendentes fazem uma revolta.” Sandra Ataíde Lobo conclui assim que, “a partir do século XIX, há da parte das elites goesas mais investimento sistemático na educação e nas estruturas de representação liberais”: “Os brâmanes católicos de Goa são formados nas ideias liberais e com o objectivo de retirarem daí consequências.” Janson Keith Fernandes remata: “O facto de António Costa ser candidato a primeiro-ministro é a conclusão de um projecto de poder dos brâmanes desde o seculo XVIII.” *** https://www.publico.pt/2014/11/24/politica/noticia/antonio-costapolitico-para-alem-da-cor-da-pele-1677000 *** *** *** Quem é Kamala Harris, 1ª mulher eleita vice-presidente dos EUA *** Kamala Harris fez história neste sábado (7/11) como a primeira mulher (e que também é negra e de ascendência indiana) eleita vice‐presidente dos EUA, já que sua chapa com Joe Biden conquistou os votos suficientes no colégio eleitoral para vencer o atual presidente, Donald Trump. Filha de pais imigrantes – mãe indiana-americana e pai jamaicano – Harris, de 56 anos, é atualmente senadora democrata pelo Estado da Califórnia. Antes de entrar na chapa de Biden, ela havia tentado, sem sucesso, concorrer ela própria à candidatura democrata à Presidência. Saiba mais sobre Kamala Harris no vídeo. *** https://www.youtube.com/watch?v=1qFRFYKLgJg *** Kamala Harris: as origens e o que pensa a vice-presidente eleita dos EUA *** 7 novembro 2020 *** Kamala Harris fez história neste sábado (07/11) como a primeira mulher (que também é de ascendência negra e indiana) eleita vice‐presidente dos EUA, já que sua chapa com Joe Biden conquistou votos o suficiente no colégio eleitoral para vencer Donald Trump. *** Filha de pais imigrantes - mãe indiana-americana e pai jamaicano - Harris, de 56 anos, é atualmente senadora democrata pelo Estado da Califórnia. Antes de entrar na chapa de Biden, ela havia tentado, sem sucesso, concorrer ela própria à candidatura democrata à Presidência. Conhecida por suas perguntas incisivas nas comissões de que faz parte no Senado, ela tem entre suas prioridades reformar a Justiça criminal dos EUA - projeto visto como uma resposta a críticas de progressistas a seu trabalho como uma dura procuradora-geral da Califórnia. O vídeo mostra o perfil e a trajetória na vice‐presidente eleita. *** Disponível em: *** https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54858251 Acesso em: *** 29/01/2021 *** *** *** SE A GENTE GRANDE SOUBESSE - QUARTETO EM CY *** *** QUARTETO EM CY LP ELENCO 1967 MARÉ DE CY SE A GENTE GRANDE SOUBESSE (Billy Blanco) Participação do menino Billinho ou Billy Blanco Jr. Se a gente grande soubesse o que consegue a voz mansa como ela cai feito prece e vira flor, num coração de criança. A gente grande, que tira o meu brinquedo da mão tirou de um músico a lira interrompeu a canção. De tanto não que eu escuto o não eu vivo a dizer eu não sossego um minuto é natural eu não parei de viver. A gente apenas repete tudo que escuta e que vê Pois gente grande eu queria ser um dia todo igualzinho a você. Se a gente grande soubesse (quanta paz,) o que consegue a voz mansa, (o bem que faz,) como ela cai feito prece e vira flor, num coração de criança. A gente grande, que tira (sem pensar,) o meu brinquedo da mão, (me faz chorar) tirou de um músico a lira, (sem saber,) interrompeu a canção. De tanto não que eu escuto (Não e não,) o não eu vivo a dizer, (que confusão,) eu não sossego um minuto é natural eu não parei de viver. A gente apenas repete (tal e qual,) tudo que escuta e que vê, (não leve a mal,) Pois gente grande eu queria ser um dia todo igualzinho a você. Se a gente grande soubesse o que consegue a voz mansa como ela cai feito prece e vira flor, num coração de criança. A gente grande, que tira o meu brinquedo da mão tirou de um músico a lira interrompeu a canção. De tanto não que eu escuto o não eu vivo a dizer eu não sossego um minuto é natural eu não parei de viver. A gente apenas repete tudo que escuta e que vê Pois gente grande eu queria ser um dia todo igualzinho a você. Se a gente grande soubesse (quanta paz,) o que consegue a voz mansa, (o bem que faz,) como ela cai feito prece e vira flor, num coração de criança. A gente grande, que tira (sem pensar,) o meu brinquedo da mão, (me faz chorar) tirou de um músico a lira, (sem saber,) interrompeu a canção. De tanto não que eu escuto (Não e não,) o não eu vivo a dizer, (que confusão,) eu não sossego um minuto é natural eu não parei de viver. A gente apenas repete (tal e qual,) tudo que escuta e que vê, (não leve a mal,) Pois gente grande eu queria ser um dia todo igualzinho a você Conjunto vocal formado originalmente pelas irmãs Cyva, Cynara, Cybele e Cylene, nascidas em Ibirataia (BA), que se mudaram para o Rio de Janeiro na década de 1960. Nessa cidade, conheceram Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que deram o nome de Quarteto em Cy ao grupo. O primeiro registro do conjunto foi a participação, com Catulo de Paula, na trilha sonora do filme de Alex Viany "Sol sobre a lama" (1963), composta por Pixinguinha e Vinicius de Moraes. No dia 21 de agosto 2014 morreu Cybele no Rio. Vídeo editado por Antônio Augusto dos Santos, sem fins lucrativos ou comerciais, com fotos e imagens da Internet. Antônio Bocaiuva, antaugsan, Divinópolis, Bocaiuva, MG, em 1/1/2016. *** 'Samba que concorreu ao I Festival Internacional da Canção (FIC), promovido em 1966 pela extinta TV Rio (as seis edições posteriores foram promovidas pela Globo), defendido pelo Quarteto em Cy junto com Bilinho, filho do autor, Billy Blanco. A primeira gravação foi feita ao vivo durante o certame, e editada no quarto dos seis LPs que a Secretaria de Turismo da então Guanabara lançou, fora do mercado, com a íntegra sonora desse FIC. A gravação de estúdio só viria no ano seguinte, 1967, pela Philips (selo Elenco), no compacto duplo n.o CED-6 e no LP "De marré de Cy".' *** Fonte: Samuel Machado Filho Disponível em: *** https://www.youtube.com/watch?v=ftg8C0Q0O_0 *** https://www.youtube.com/watch?v=ftg8C0Q0O_0 *** Acesso em: *** 29/01/2021 *** Se a Gente Grande Soubesse *** Billy Blanco *** *** Intro: F#m7 F° Em7(9) G/A F#m7 F° Se a gente grande soubesse Em7(9) G/A o que consegue a voz mansa Am7 D7(9) como ela cai feito prece G7M Gm6 e vira flor,num coração de criança. F#m7 Am7 D7(9) A gente grande, que tira G7M Gm6 o meu brinquedo da mão E7(9) tirou de um músico a lira Em7(9) A7(13) interrompeu a canção. F#m7 F° De tanto não que eu escuto Em7(9) G/A o não eu vivo a dizer Am7 D7(9) eu não sossego um minuto G7M é natural Gm6 eu não parei de viver. F#m7 Am7 D7 A gente apenas repete G7M Gm6 tudo que escuta e que vê F#m7 F° Pois gente grande eu queria Em7(9) G/A Intro ser um dia todo igualzinho a você. F#m7 F° Em7(9) Se a gente grande soubesse (quanta paz,) G/A Am7 o que consegue a voz mansa, (o bem que faz,) D7(9) como ela cai feito prece G7M e vira flor, Gm6 F#m7 num coração de criança. Am7 D7 G7M A gente grande, que tira (sem pensar,) Gm6 o meu brinquedo da mão, (me faz chorar) E7(9) tirou de um músico a lira, (sem saber,) Em7(9) A7(13) interrompeu a canção. F#m7 F° Em7(9) De tanto não que eu escuto (Não e não,) G/A Am7 o não eu vivo a dizer, (que confusão,) D7(9) eu não sossego um minuto G7M é natural Gm6 F#m7 eu não parei de viver. Am7 D7(9) G7M A gente apenas repete (tal e qual,) Gm6 F#m7 tudo que escuta e que vê, (não leve a mal,) F° Pois gente grande eu queria Em7(9) ser um dia G/A D6(9) todo igualzinho a você. *** https://www.letras.mus.br/billy-blanco/608621/ *** *** QUINTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2010 *** OS TERRATENENTES DO BRASIL (18): Termos Pejorativos Usados para Designar os Povos da América *** DESMERECER E DIVIDIR PARA MELHOR GOVERNAR[1] *** Observação: Sem julgamentos inerentes aos termos, não há neste texto conotação alguma de racismo, ou algo pré-concebido, ou divisão de crenças quanto às origens destas construções, mas valendo-se deles para compreensão histórica de valores e como os mesmos foram usados ao longo do tempo pelos do poder para dividir e melhor governar, tanto nas origens da Península Ibérica quanto nas colônias achadas e divididas entre si por Espanha e Portugal, e que os conflitos, quando houve entre ambos, foram contornados pela hegemonia da Península. ***
*** Fuente: Las Castas (anónimo). Siglo XVIII. Museo Nacional del Virreinato, Tepotzotlán, Mexico. *** Palavras chave: Eurocentrismo, Península Ibérica, árabe, mourisco, mudejar, Marranos, Melungeon, Zambo, cafuzo, cambujo, mulato, Cholo, mestizo, castizo, criollo, crioulo, mameluco, caboclo, caipira, matuto Na Europa onde apenas pertencer ao governo e ser cavaleiro das ordens de guerra eram ocupações dignas da nobreza, a aristocracia menor se expandia com os "hijos d’algo". Estes “filhos de algo”, origem da palavra "fidalgo" preenchia todos os cargos administrativos e eclesiásticos, numa Europa de “sangue azul” que mantinham hierarquias de controle e domínio. Eurocentrismo era a prática de ver o mundo de uma perspectiva européia com uma crença implícita, consciente ou inconscientemente, a preeminência dos europeus ocidentais. O termo implica a crítica dos interesses e valores em detrimento dos não-europeus. Os efeitos desta condição de superioridade européia começou lentamente no século 15 e continua no hodierno. O caráter progressivo da imposição da cultura européia foi implantado nas conquistas das Américas, África, Pacífico e Australásia, região da Oceania que compreende a Austrália, Nova Zelândia e ilhas vizinhas, no Oceano Pacífico. *** Fonte: *** Historiador Carlos Fatorelli *** Disponível em: *** http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2010/03/os-terratenentes-do-brasil-18-termos.html *** Acesso em: 29/01/2021 *** ***

sábado, 30 de janeiro de 2021

Epifania do Senhor Deputado Federal Ulysses Guimarães

*** O que acontece quando uma pessoa tem uma epifania *** TRANSFORMAÇÕES *** O dia 2 de dezembro de 1954 marcou uma mudança profunda no perfil político de Ulysses Guimarães. Até então, como haveria de reconhecer mais tarde, fora um parlamentar inexpressivo, que vivia de pegar verbas e de fazer pequenos serviços para seus eleitores. Ele conta como aconteceu o estalo que mudaria sua trajetória, dentro de um Chevrolet preto, quando tinha 38 anos. ***
*** Chevrolet Bel Air 1954 Sunstar 1:18 Preto *** Perfil - Ulisses Guimarães *** 2016 . Ano 13 . Edição 88 - 23/11/2016 ***
*** A longa odisseia pela Democracia *** Símbolo da resistência contra a ditadura e da luta pela Constituição de 1988, combatida pelos arautos do “mercado”, ex‑deputado deixou um legado político sem paralelo Carol Arantes – São Paulo *** Se é verdade que algumas pessoas vêm ao mundo predestinadas a cumprir uma missão, esse foi, seguramente, o caso de Ulysses da Silveira Guimarães, um dos homens públicos mais importantes do Brasil no século passado. Assim como o rei de Ítaca, do poema épico de Homero, ele também enfrentou uma odisseia: a luta incansável, nas águas turbulentas da ditadura militar, para que o país conquistasse as liberdades democráticas. Primeiro dos cinco filhos do coletor federal Ataliba Silveira Guimarães e da professora primária Amélia Correia Fontes Guimarães, Ulysses nasceu em Rio Claro, interior paulista, no dia 6 de outubro de 1916. Estaria. portanto, completando neste ano seu centenário. Dividiu a infância e a adolescência entre o sonho da mãe de vê‑lo se tornar um pianista e o interesse pela política, alimentado nas conversas com o pai, um homem sensível às causas populares. Com o teclado, veio a paixão pela literatura, estimulada por Alzira, a primeira professora de piano. A política, no entanto, haveria de se impor, naturalmente, na vida do ex‑deputado, que desde criança manifestava o dom da palavra. Em seu livro Dr. Ulysses, uma biografia, o jornalista A. C. Scartezini conta que o garoto costumava reunir os primos para exercitar a oratória. “Levava os meninos ao seu quarto, colocava‑os como plateia para ouvir os discursos que ia improvisando”. Depois de formado na Escola Normal de Lins, onde a família se radicara, Ulysses embarcou para a capital e passou no vestibular para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco. Enquanto estudava, dava aulas de latim e história em colégios da cidade. Nas folgas, frequentava a casa do escritor Mário de Andrade, de quem foi aluno de piano. Em 1939, ganhou o título de Maior Prosador das Arcadas em um concurso promovido pela Academia Paulista de Letras. A POLÍTICA Após intensa militância estudantil, como vice‑presidente da UNE, no futebol, como presidente do Santos e como secretário da Federação Paulista de Futebol, ingressou na política no fim do Estado Novo. Elegeu‑se deputado estadual pelo PSD à Assembleia Constituinte de São Paulo, em 1947, e destacou‑se pela defesa dos municípios contra o excesso de arrecadação de tributos estaduais. A projeção nacional veio em 1950, aos 34 anos. Eleito deputado federal, Ulysses conquistou assento em uma Câmara que tinha entre seus integrantes veteranos como Afonso Arinos, Benedito Valadares e Bilac Pinto. Juntamente com o baiano Antônio Balbino e os mineiros Lúcio Bittencourt e Tancredo Neves, atuou na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Vivenciou um dos períodos mais turbulentos da História republicana, que culminaria no suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. ***
*** Tancredo Neves e Ulysses Guimarães em evento do PMDB, em 1984 *** Mortes como as do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho, após serem torturados, comoveram o país. Por outro lado, o milagre econômico chegara ao fim e a crise alimentava a insatisfação social *** TRANSFORMAÇÕES O dia 2 de dezembro de 1954 marcou uma mudança profunda no perfil político de Ulysses Guimarães. Até então, como haveria de reconhecer mais tarde, fora um parlamentar inexpressivo, que vivia de pegar verbas e de fazer pequenos serviços para seus eleitores. Ele conta como aconteceu o estalo que mudaria sua trajetória, dentro de um Chevrolet preto, quando tinha 38 anos. “De repente, tomei consciência do que fazia naquele táxi. Enfrentando o calor do Rio de Janeiro de quase meio‑dia, sobraçava minha pastinha de documentos para mais uma ronda pelos ministérios e repartições públicas, levando pedidos de prefeitos e eleitores. Naquele momento, decidi que não estava na política para ser um despachante, nem o Estado que eu imaginava tinha lugar para aquele tipo de política. Não importava que aquela fosse a medida de presunção brasileira da eficiência dos parlamentares. [...] O que queria da política era coisa bem diferente. Nunca mais voltaria àquelas peregrinações”. Em fevereiro de 1955, casou‑se com Ida de Almeida e Silva, a dona Mora, irmã de um amigo. Mora era viúva e tinha dois filhos: Tito Henrique e Celina, ainda crianças. Brincalhona, dona Mora fazia humor sobre o noivo na frente das amigas, às vésperas do casamento. “Fui casada com um homem bonito, elegante e rico. Não sei como será a vida com um homem feio, pobre e que não liga para a elegância”. TRAIÇÃO Eleito presidente da Câmara dos Deputados no início do governo de Juscelino Kubitschek (JK), Ulysses começou a se articular para disputar, em 1958, o Palácio dos Bandeirantes, primeiro passo para alcançar o sonho de sua vida: a Presidência da República. Enquanto isso, ele comandava um Parlamento dividido – de um lado, PSD e PTB, partidos da aliança governista; de outro, a UDN e sua Banda de Música, bloco parlamentar assim chamado porque, embora em minoria, seus integrantes faziam muito barulho na Casa. A Banda era liderada por Carlos Lacerda. Ulysses integrava a Ala Moça do PSD – um grupo aguerrido de jovens deputados federais de posições nacionalistas e aliados do governo de Juscelino. Por essa época, amargou uma traição de JK. Para fazer média com Jânio Quadros, candidato à sucessão à Presidência da República, Juscelino negou seu apoio a Ulysses, que acabou desistindo da candidatura. O episódio foi relatado pela esposa do ex‑deputado ao jornalista Jorge Bastos Moreno, que o transcreveu em seu livro A História de Mora – A Saga de Ulysses Guimarães. Dois anos antes, Juscelino estimulara Ulysses a disputar o governo paulista. ***
*** Em 2 de fevereiro de 1987 o deputado Ulysses Guimarães foi eleito para presidir a Assembleia Constituinte *** A DITADURA Foi a partir do golpe militar de 1964 que Ulysses viveu os três grandes momentos de sua carreira. Não sem antes se envolver em uma polêmica: a suposta adesão à ruptura institucional. Em seu livro O Governo Castello Branco, o ex‑senador Luiz Viana Filho conta que Ulysses, juntamente com alguns notáveis do Congresso, teria redigido uma proposta para cassar direitos políticos da cúpula janguista por 15 anos. Além disso, votara em Castello Branco no Colégio Eleitoral do Congresso para presidir o país. “O doutor Ulysses morreu negando a participação naquele episódio. Atribuía isso a uma leviandade do Luiz Viana. Quanto ao Castello, ele foi eleito com os votos de praticamente todos os remanescentes do PSD. Naquele momento, Ulysses apoiou um presidente – ele mesmo repetia isso – cujo discurso de posse assinaria até hoje. Porque propunha a democracia, garantindo a sucessão pela via direta. Não era o discurso de um ditador”, justifica o jornalista Jorge Moreno, ex‑assessor de Ulysses. Não houve volta à democracia. Embora tivesse prometido, em seu discurso no Congresso, entregar o comando de “uma nação coesa”, ainda em 1965, a um sucessor “legitimamente eleito”, Castello cedeu às pressões da linha dura das Forças Armadas. O país começava a viver uma longa noite de obscurantismo. Mais de 400 políticos tiveram os mandatos cassados, entre eles João Goulart, Leonel Brizola e JK. Muitos foram condenados a intermináveis dias de exílio. No ano seguinte, os militares extinguiram os partidos políticos e instituíram o bipartidarismo para dar uma aparência de legalidade ao regime militar. A Aliança Renovadora Nacional (Arena) reunia os defensores do regime e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) abrigava diversas correntes políticas de oposição com a proposta de lutar pela redemocratização do país. Era uma “oposição consentida” para legitimar um poder discricionário. A ANTICANDIDATURA Reeleito deputado federal em 1966 e 1970, Ulysses assumiu a presidência do MDB, em 1971, sucedendo o ex‑senador Oscar Passos. Nesse meio tempo, os militares editaram o AI‑5 e endureceram ainda mais o regime. Com a imprensa censurada, telefones eram grampeados e opositores presos, torturados e assassinados nos porões da ditadura. Em protesto contra a farsa da eleição presidencial promovida pelos militares, prevista para janeiro de 1974, Ulysses lançou sua candidatura à sucessão de Garrastazu Médici (1969‑1974), tendo como vice o jornalista Barbosa Lima Sobrinho. “Não havia a menor chance de vencer, pois a Arena tinha mais de dois terços do Colégio Eleitoral. Por isso ele se autodenominou de anticandidato. Queria concorrer apenas para denunciar o sistema ditatorial”, observa o jornalista Elio Gaspari, no livro A ditadura derrotada. Na convenção do MDB, Ulysses emocionou os correligionários ao final de um discurso primoroso. “Senhores convencionais, a caravela vai partir. As velas estão paridas de sonho, aladas de esperanças. O ideal está ao leme e o desconhecido se desata à frente. No cais alvoroçado, nossos opositores, como o velho do Restelo de todas as epopeias, com sua voz de Cassandra e seu olhar derrotista, sussurram as excelências do imobilismo e a invencibilidade do establishment. Conjuram que é hora de ficar e não de aventurar. Mas, no episódio, nossa carta de marear não é a de Camões e sim a de Fernando Pessoa ao recordar o brado: Navegar é preciso. Viver não é preciso. Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo brasileiro: ‘Alvíssaras, meu capitão. Terra à vista!’. Sem sombra, medo ou pesadelo, à vista a terra limpa, abençoada da liberdade”. ***
*** Elio Gaspari, jornalista, no livro A ditadura derrotada *** “Não havia a menor chance de vencer, pois a Arena tinha mais de dois terços do Colégio Eleitoral. Por isso ele se autodenominou de anticandidato. Queria concorrer apenas para denunciar o sistema ditatorial” *** Elio Gaspari, jornalista, no livro A ditadura derrotada *** Não houve terra à vista naquele momento histórico. A chapa governista, encabeçada pelo general Ernesto Geisel (1974‑1979), venceu a eleição, como estava previsto. Mas a anticandidatura de Ulysses uniu e fortaleceu o MDB, que, naquela época, estava dividido em duas correntes – moderados e autênticos –, e encheu de esperanças os brasileiros com a antevisão da democracia. Como efeito colateral daquela anticandidatura, o MDB venceu as eleições legislativas de 1974. E ampliou ainda mais seus quadros no Congresso em 1978. Naquela campanha eleitoral, Ulysses virou símbolo da resistência à ditadura ao enfrentar fuzis, baionetas, os cães da PM da Bahia e os cavalos das forças policiais de Recife. “Amigos, o MDB é como a clara: quanto mais bate, mais cresce. Os cães ladram, mas a caravana passa”, disse ele, na época. AS DIRETAS JÁ A distensão “lenta, segura e gradual” de Geisel não evitou os excessos do regime. Mortes como as do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho, após serem torturados, comoveram o país. Por outro lado, o milagre econômico chegara ao fim e a crise alimentava a insatisfação social. Ressurgia o movimento sindical. Greves agitavam o ABC paulista. O regime dava sinais de exaustão. Ainda assim, Geisel conseguiu fazer o sucessor no Colégio Eleitoral: o general João Batista Figueiredo. A recessão profunda e a ampliação das liberdades democráticas marcaram o governo Figueiredo. A imprensa ganhou liberdade e os exilados voltaram ao Brasil com a Lei da Anistia. Mesmo assim, a linha‑dura militar reagiu à distensão com sequestros e atentados a bomba. O Congresso, com o objetivo de barrar o avanço da oposição, aprovou a Nova Lei Orgânica dos Partidos. MDB e Arena foram extintos e deram lugar ao PMDB e ao PDS. Surgiram novas legendas e emergiram as diferenças ideológicas. Mas ainda havia um adversário comum: a ditadura militar. Sob a liderança de Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, foram organizados comícios pelas eleições diretas para presidente em todas as capitais, com a participação dos partidos de oposição, sindicatos e demais organizações sociais. O comício do Rio de Janeiro, na Candelária, reuniu mais de um milhão de pessoas. O povo voltava às ruas e Ulysses ganhava o carinhoso apelido de Senhor Diretas. Era o segundo grande momento da carreira política do homem que, ainda menino, ficava fascinado ao ouvir o pai contar as histórias dos ex‑presidentes da República. ***
*** Tancredo e Ulysses no plenário da Câmara, durante a campanha das Diretas Já, em abril de 1984 *** Sob a liderança de Ulysses, foram organizados comícios pelas eleições diretas para presidente em todas as capitais, com a participação dos partidos de oposição, sindicatos e demais organizações sociais *** Apesar da grande mobilização popular, a Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições presidenciais pelo voto popular, não passou no Congresso, ainda dominado pelo PDS. Mas estava dado o xeque‑mate na ditadura. No dia 15 de janeiro de 1985, em uma aliança da oposição com a Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS descontentes com a escolha de Paulo Maluf para concorrer ao cargo, o senador Tancredo Neves foi eleito presidente da República no Colégio Eleitoral, tendo como vice o também senador José Sarney, recém‑filiado ao PFL – um partido político da Frente Liberal. Tancredo morreu dias depois, sem tomar posse, e Ulysses, principal articulador da eleição do líder mineiro, resistiu à tentação de sentar na cadeira presidencial. Na ocasião, muitos parlamentares tentaram convencê‑lo a assumir o cargo. Mas o velho democrata, disposto a chegar ao Palácio do Planalto pelo voto popular, defendeu a posse de Sarney. O senador maranhense era malvisto por todos os que se opuseram à ditadura e também pelos militares, que agora o tinham como um trânsfuga, o que o deixava dependente do aval político de Ulysses Guimarães. A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ Dois anos e nove meses depois, o Brasil colheu o primeiro fruto da luta pela volta da democracia. Foi promulgada a Constituição de 1988, a sétima do país, que ganhou o apelido de Constituição Cidadã por ser a mais avançada de todas, com destaque para o capítulo dos direitos sociais e de garantias da cidadania. Na eleição presidencial de 1989, um ano depois, veio a segunda grande frustração da carreira do ex‑deputado. Com apenas 4,4% dos votos, ele terminou a disputa pelo Palácio do Planalto em sétimo lugar. Não conseguiu superar a rejeição de seu partido, o PMDB, desgastado com os naufrágios dos planos econômicos lançados por José Sarney. “A primeira razão da derrota foi a pulverização das forças de esquerda em várias candidaturas. Nunca deveríamos ter nos dividido tanto. Outra foi o fato de que Ulysses, embora político sério e bem intencionado, não tinha o carisma e a aceitação popular que tinha, por exemplo, Lula, já naquela época. O apoio quase unânime da grande mídia ao Collor também contribuiu para o insucesso da candidatura”, lembra Waldir Pires, companheiro de chapa de Ulysses e hoje vereador em Salvador. ***
*** Ulysses Guimarães e o texto consolidado da Constituição, em abril de 1988 O BAQUE DA DERROTA
A derrota foi um baque. No ano seguinte, Ulysses se reelegeu deputado federal, mas teve menos de um décimo dos votos da campanha de 1986. E foi substituído na presidência do PMDB por Orestes Quércia. A recuperação só veio em 1992, no processo que resultou no impeachment de Collor. Não via com bons olhos a cassação do mandato do ex‑presidente, mas mudou de posição com a evidência dos fatos e transformou seu gabinete no quartel‑general da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Empenhou‑se para que a votação fosse aberta. Collor foi afastado do cargo pelo Senado no dia 2 de outubro de 1992. Dez dias depois, o helicóptero em que Ulysses viajava com a esposa, dona Mora, o amigo Severo Gomes e a esposa do ex‑ministro, Anna Maria Henriqueta Marsiaj, caiu em alto‑mar. Todos morreram, mas só o corpo do ex‑deputado nunca foi achado. O mar, onde o Ulysses do poema épico de Homero enfrentou sua Odisseia na volta a Ítaca, negava aos brasileiros o sepultamento do timoneiro que comandou o país, nas águas turvas da ditadura, ao porto seguro das liberdades democráticas. No dia 26 de novembro, pouco mais de um mês depois daquela morte trágica, o peemedebista Pedro Simon fez uma homenagem ao velho comandante que emocionou os colegas no Senado. “Há um grande silêncio neste plenário. Há uma grande ausência nestas salas e corredores. Não obstante o silêncio e a ausência, silêncio que perturba os nossos ouvidos, ausência que fere os nossos olhos, a voz forte de Ulysses Guimarães ecoa na consciência moral deste Parlamento, de nosso povo e do nosso tempo”. ***
*** Ulysses discursa na promulgação da Constituinte, em 5 de outubro de 1988: “A Constituição é caracteristicamente o estatuto do homem. É sua marca de fábrica. O inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de direito, consectário da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria” *** Passados 24 anos de sua morte, o vazio que Ulysses deixou se tornou ainda maior. O enteado Tito Henrique imagina como o ex‑deputado se sentiria diante do atual cenário político do país. “Se estivesse vivo, estaria indignado, como todo mundo, mas estaria empunhando a bandeira da reforma política, a coisa mais necessária hoje”. *** https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3300&catid=52&Itemid=23 *** *** *** Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 1ª Parte *** Câmara dos Deputados *** Dividido em três episódios, o documentário Senhor Deputado Ulysses Guimarães, com direção de Roberto Seabra, narra, na primeira parte, a chegada de Ulysses ao mundo da política, ainda nos anos 1940, até sua consagração como líder da oposição ao regime militar, em meados dos anos 70. *** https://www.youtube.com/watch?v=k7pwh-caifE *** *** Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 2ª Parte *** Câmara dos Deputados *** O segundo dos três episódios do documentário Senhor Deputado Ulysses Guimarães, com direção de Roberto Seabra, mostra a luta de Ulysses e do MDB, partido que presidiu por mais de vinte anos, pela redemocratização. Lembra a campanha pelas Diretas-Já, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral e o drama da morte do presidente eleito. *** https://www.youtube.com/watch?v=LUUfhKG_BWw *** *** *** Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 3ª Parte *** Câmara dos Deputados *** A terceira e última parte do documentário tem início com a Assembleia Nacional Constituinte, da qual Ulysses foi presidente. O episódio mostra também a participação de Ulysses Guimarães nas eleições presidenciais de 1989, quando amargou sua única derrota eleitoral, e sua presença destacada no processo de impeachment do presidente Fernando Collor. *** https://www.youtube.com/watch?v=nYzcYWY26YU *** *** sábado, 30 de janeiro de 2021 *** O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais ***
*** A época da patifaria – Opinião | O Estado de S. Paulo *** Além de conspurcar o exercício da Presidência e dar o governo ao Centrão, Bolsonaro pode ressuscitar a oposição destrutiva, liderada pelo lulopetismo, que floresce no caos. *** Em abril do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, durante um dos tantos protestos golpistas que estimulou, esbravejou contra o Congresso: “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um novo Brasil pela frente. Acabou a época da patifaria!”. Pouco menos de um ano depois, Bolsonaro partiu para a compra explícita de apoio de parlamentares e partidos fisiológicos. Isso nem velha política é, pois no passado, mesmo que a negociação de votos fosse a norma, ainda havia eventualmente algum acordo em torno de projetos em comum. Hoje não mais: o que há é a entrega do governo para a deglutição do Centrão, que se banqueteará de cargos, verbas e poder. Poucas situações representam a época da patifaria como essa. Repórteres do Estado tiveram acesso a uma planilha de negociação do governo com deputados para angariar apoio à eleição, para as presidências da Câmara e do Senado, dos candidatos apadrinhados pelo presidente Bolsonaro. A reportagem mostra que aquela planilha representa a distribuição de cerca de R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores usarem em obras em seus redutos eleitorais. Mas esse é seguramente apenas um fragmento da história. Outras fontes garantem que o total de recursos liberados é de cerca de R$ 16,5 bilhões. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, falou em R$ 20 bilhões. Em qualquer dessas contas, o valor destinado aos parlamentares supera, em vários casos, o limite a que cada um deles tem direito a destinar em emendas ao Orçamento. A reportagem mostra que o gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, tornou-se o quartel-general das candidaturas apoiadas por Bolsonaro. Segundo parlamentares ouvidos pelo Estado, o candidato governista à presidência da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), orienta os deputados a ir ao gabinete do ministro Ramos e acompanha todas as etapas do processo, negociando conforme seus interesses e envolvendo seus apadrinhados, que já estão em vários postos importantes do Ministério de Desenvolvimento Regional, pasta de onde sai o dinheiro. Parlamentares dizem que, a portas fechadas, o ministro Ramos sonda a disposição do deputado de votar em Arthur Lira em troca de verbas; se o deputado indica que votará em Lira, seu nome é incluído imediatamente na planilha. Não há outro critério para a liberação da verba – nem técnico, nem ético, nem de interesse público. Ademais, o mecanismo de liberação dos recursos prima pela falta de transparência – é dinheiro “extraorçamentário”, destinado a obras e convênios cujos contratos, em alguns casos, foram assinados às pressas. Mas a época da patifaria não se limita à transformação do Palácio do Planalto em bodega – onde não se discutem princípios, apenas preços. Bolsonaro está disposto a entregar o próprio governo ao Centrão – e a eleição de Arthur Lira, que na condição de presidente da Câmara terá poder de decidir sobre processos de impeachment e sobre a agenda legislativa, é apenas o primeiro passo dessa rendição. Bolsonaro em pessoa confirmou essa intenção. Segundo ele, se seus candidatos forem eleitos, “a gente pode levar muita coisa adiante”, inclusive, “quem sabe, até ressurgir Ministérios”. O presidente que se elegeu prometendo acabar com o loteamento da máquina pública para ter apoio parlamentar agora acha absolutamente normal e até positivo recriar Ministérios e entregá-los aos partidos que colonizam seu governo. E ainda festejou que Arthur Lira – que só assumiu o mandato de deputado em 2018 por força de liminar judicial, depois de condenações em processo por improbidade administrativa, e ainda enfrenta acusações de corrupção – vai se tornar “o segundo homem na linha hierárquica do Brasil”. Ou seja, Bolsonaro já dispensa o vice-presidente Hamilton Mourão sem a menor cerimônia. A ânsia de Bolsonaro de se manter no poder e de proteger seus filhos encrencados na Justiça já fez muito mal ao País, mas ainda pode fazer muito mais: além de conspurcar o exercício da Presidência e dar o governo ao Centrão, pode ressuscitar a oposição destrutiva, liderada pelo lulopetismo – que sempre floresce no caos. A patifaria, como as desgraças, nunca vem sozinha. *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/01/o-que-midia-pensa-opinioes-editoriais_30.html *** *** O que acontece quando uma pessoa tem uma epifania por *** Rhett Jones *** 18 de abril de 2017 ***
*** Toda a indústria de jogos de quebra-cabeça se vale do prazer e da alta dose de endorfina liberada quando o usuário finalmente descobre como se resolve um problema dentro de uma fase. A ciência sabe pouco sobre esse rápido momento que todos nós experimentamos de vez em quando, e num novo estudo, pesquisadores tentaram descobrir algumas coisas ao observar pessoas tendo epifanias. *** O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, descreve como os pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio estão tentando aprender mais sobre o “aprendizado por epifania”. A maioria das pessoas poderiam descrever em linhas gerais como eles chegaram a uma epifania, mas isso não nos ajuda a realmente entender as milhões de pequenas coisas que nos levam até o momento “a-ha”. Os pesquisadores de Ohio estão utilizando uma combinação de tecnologia de rastreio do movimento dos olhos e de dilatação da pupila para recolher dados objetivos. Eu já posso adiantar para você que os pesquisadores não chagaram um momento epifânico de conclusão sobre a natureza das epifanias com esse estudo. São apenas os primeiros passos. Mas isso não significa que a metodologia utilizada e as conclusões obtidas até agora não sejam interessantes. Utilizando um grupo de controle de 59 estudantes, os cientistas fizeram com que os participantes jogassem um jogo. Ele precisava ser meio complicado para que as pessoas trabalhassem um pouco nele. Basicamente, dois participantes competiam um contra o outro ao escolher um número dentro de 11 opções que estavam organizadas num círculo. O ganhador sempre era a pessoa que escolhia o menor número, então o zero era a melhor opção. *** Os estudantes passavam por 30 rodadas, cada vez com um oponente diferente. Numa rodada, eles viam os números para fazer a seleção. No final, viam a própria escolha, a jogada do oponente e a resposta correta. Então eles tinham a opção de manter a escolha até o final do estudo. Enquanto isso, um rastreador de olhos estava registrando para onde eles olhavam enquanto tentavam resolver o problema. Aqueles que escolhiam o zero no meio do jogo e decidiam se manter com ele, muito provavelmente tiveram o momento de compreensão, e os pesquisadores estudaram os rápidos segundos antes disso acontecer. “Existe uma mudança repentina no comportamento. Eles estão escolhendo outros números e de repente mudam e passam a escolher apenas o zero”, disse o co-autor do estudo, Krajbich, ao Science Daily. “Essa é uma marca distintiva do aprendizado epifânico”. Os pesquisadores descobriram que 42% dos estudos corretamente de decidiram pelo zero, 37% se decidiram pelo número errado, e 20% não chegou a escolher uma resposta sobre a qual estavam certos. *** O que era diferente nas pessoas que experimentaram uma epifania e entenderam o puzzle? Primeiro, eles prestavam mais atenção nas próprias escolhas do que seus oponentes. Krabjich diz que “quando sua pupila dilata, nós vemos que existe uma evidência de que você está prestando bastante atenção e aprendendo”. Entre os ganhadores, suas pupilas iam dilatando enquanto estudavam os resultados de cada rodada. Eles também passavam mais tempo olhando para sua escolha e a escolha correta, em vez de focar no resultado do jogo. Aqueles que perceberam que o zero era a melhor opção aparentemente não construíram essa escolha gradualmente. Embora olhassem para zero mais frequentemente do que os participantes que selecionaram o número errado, eles não ponderavam mais na hora de apertar o botão de confirmação. A partir do momento que eles sabiam, apertavam o botão. E aí a dilatação da pupila sumiu. O aprendizado imediato é uma espécie de lição de vida científica: “É melhor pensar sobre um problema do que simplesmente seguir os outros”, diz Krajbich. [Science Daily, PNAS, PNAS] Imagem do topo: Elisa Riva/Pixabay *** https://gizmodo.uol.com.br/estudo-epifania/ *** ***

Convenções

*** A economia espanhola despencou 18,5% no segundo trimestre, contração superada na Europa apenas pelo Reino Unido. (Foto: Daniel Perez Garcia-Santos / Colaborador via Getty Images) *** “E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” *** (Marcos, 2:27) *** O sábado, nesta passagem evangélica, simboliza as convenções organizadas para o serviço humano. Há criaturas que por elas sacrificam todas as possibilidades de elevação espiritual. Quais certos encarregados dos serviços públicos que adiam indefinidamente determinadas providências de interesse coletivo, em virtude da ausência de um selo minúsculo, pessoas existem que, por bagatelas, abandonam grandes oportunidades de união com a esfera superior. Ninguém ignora o lado útil das convenções. Se fossem totalmente imprestáveis, o Pai não lhes permitiria a existência no jogo das circunstâncias. São tabelas para a classificação dos esforços de cada um, tábuas que designam o tempo adequado a esse ou àquele mister; todavia, transformá-las em preceito inexpugnável ou em obstáculo intransponível, constitui grave dano à tranqüilidade comum. A maioria das pessoas atende-as, antes da própria obediência a Deus; entretanto, o Altíssimo dispôs todas as organizações da vida para que ajudem a evolução e o aprimoramento dos filhos. O próprio Planeta foi edificado por causa do homem. Se o Criador foi a esse extremo de solicitude em favor das criaturas, por que deixarmos de satisfazer-lhe os divinos desígnios, prendendo-nos às preocupações inferiores da atividade terrestre? As convenções definem, catalogam, especificam e enumeram, mas não devem tiranizar a existência. Lembra-te de que foram dispostas no caminho a fim de te servirem. Respeita-as, na feição justa e construtiva; contudo, não as convertas em cárcere. *** 30 Convenções Pão Nosso FEB COLEÇÃO FONTE VIVA 1950 30ª edição - 4ª impressão - 8/2017 Confie em si. A crença em si mesmo vai na frente e abre caminho para a felicidade. *** *** Pai e Mãe *** vivendo filhos. *** O amor continua ardente *** no silêncio das portas fechadas. *** *** O amor é livre, *** sem nunca esquecer o *** o exemplo *** e o respeito. *** André Luiz Gama MINHA HISTÓRIA Uma filosofia para a vida *** *** Piedade filial *** 3. O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade ordena relativamente ao próximo em geral. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento. Deus pune sempre com rigor toda violação desse mandamento. *** Honrar a seu pai e a sua mãe não consiste apenas em respeitá-los; é também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco na infância. Sobretudo para com os pais sem recursos é que se demonstra a verdadeira piedade filial. Obedecem a esse mandamento os que julgam fazer grande coisa porque dão a seus pais o estritamente necessário para não morrerem de fome, enquanto eles de nada se privam, atirando-os para os cômodos mais ínfimos da casa, apenas por não os deixar na rua, reservando para si o que há de melhor, de mais confortável? Ainda bem quando não o fazem de má vontade e não os obrigam a comprar caro o que lhes resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes? Ter-lhes-á a mãe vendido o leite quando os amamentava? Contou porventura suas vigílias, quando eles estavam doentes, os passos que deram para lhes obter o de que necessitavam? Não, os filhos não devem a seus pais pobres só o estritamente necessário, devem-lhes também, na medida do que puderem, os pequenos nadas supérfluos, as solicitudes, os cuidados amáveis, que são apenas o juro do que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Unicamente essa é a piedade filial grata a Deus. Ai, pois, daquele que olvida o que deve aos que o ampararam em sua fraqueza, que com a vida material lhe deram a vida moral, que muitas vezes se impuseram duras privações para lhe garantir o bem-estar. Ai do ingrato: será punido com a ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, algumas vezes já na existência atual, mas com certeza noutra, em que sofrerá o que houver feito aos outros. Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. Se a lei da caridade manda se pague o mal com o bem, se seja indulgente para as imperfeições de outrem, se não diga mal do próximo, se lhe esqueçam e perdoem os agravos, se ame até os inimigos, quão maiores não hão de ser essas obrigações, tratando-se de filhos para com os pais! Devem, pois, os filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável, com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos pais; e que o que talvez *** não passe de simples falta, no primeiro caso, pode ser considerado um crime, no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a ingratidão. 4. Deus disse: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará.” Por que promete Ele como recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: “que Deus vos dará”, as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à situação e às ideias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. Achavam-se eles ainda no deserto; a terra que Deus lhes dará é a Terra da Promissão, objetivo das suas aspirações. Nada mais desejavam do que isso; Deus lhes diz que viverão nela longo tempo, isto é, que a possuirão por longo tempo, se observarem seus mandamentos. No entanto, ao verificar-se o advento de Jesus, eles já tinham mais desenvolvidas suas ideias. Chegada a ocasião de receberem alimentação menos grosseira, o mesmo Jesus os inicia na vida espiritual, dizendo: “Meu reino não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas boas obras.” A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material, transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância daquele mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”, já não é a Terra que lhes promete, e sim o céu. (Caps. II e III.) *** O Evangelho Segundo o Espiritismo ALLAN KARDEC FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Rio - Brasil 1944 Tradução de Guillon Ribeiro da 3ª edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866 https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/WEB-O-Evangelho-segundo-o-Espiritismo-Guillon.pdf *** *** Procure o lado positivo. *** É sábio quem vê alegria até *** no sofrimento. *** *** Para construir o seu progresso *** integral Deus lhe deu o *** majestoso poder da vontade. *** *** Espanha enfrenta problema incomum: como gastar os bilhões em fundos para combater a crise *** A Espanha foi especialmente atingida pela pandemia. O país registrou mais de 640 mil casos de covid-19, o maior número de infecções na Europa Ocidental, e a doença matou mais de 30 mil vidas espanholas *** REUTERS *** 21 SET 2020 - 09H54 ATUALIZADO EM 21 SET 2020 - 09H58 Depois de garantir uma porção generosa dos fundos de recuperação da União Europeia para combate à crise do coronavírus, a Espanha enfrenta um problema inusitado -- como fazer uso de todo o dinheiro, disseram fontes do governo à Reuters. "Esta não é uma crise de dinheiro, é uma crise de ideias", disse uma das fontes, referindo-se a projetos de investimento concretos para ajudar a economia a sair de uma recessão recorde. Em um país que não conseguiu aprovar um orçamento anual desde 2016 por causa de uma prolongada paralisia política, a necessidade de absorver dinheiro extra repentinamente é um desafio, disseram as fontes. A Espanha foi especialmente atingida pela pandemia. O país registrou mais de 640 mil casos de Covid-19, o maior número de infecções na Europa Ocidental, e a doença matou mais de 30 mil vidas espanholas. A economia espanhola despencou 18,5% no segundo trimestre, contração superada na Europa apenas pelo Reino Unido. Para ajudar a Espanha a se recuperar, o país receberá cerca de 140 bilhões de euros em subsídios e empréstimos do pacote de recuperação do coronavírus da UE, de 750 bilhões de euros. Isso inclui 43 bilhões de euros em subsídios apenas nos próximos dois anos -- o equivalente a cerca de 8% das despesas anuais. *** https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2020/09/epoca-negocios-espanha-enfrenta-problema-incomum-como-gastar-os-bilhoes-em-fundos-para-combater-a-crise.html *** ***

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

"Mandetta muito bem."

...a necessidade de uma prática médica impregnada de humanismo. *** “As pessoas não morrem, ficam encantadas” *** Doutor João Guimarães Rosa *** "(...) O que vimos foi uma intervenção militar burra. (...)" *** ex-ministro da Saúde Doutor Luiz Henrique Mandetta *** *** Manhattan Connection | 27/01/2021 *** TV Cultura *** O Manhattan Connection desta quarta-feira (27/1) entrevista o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e a economista Zeina Latif. Na edição inédita, eles falam - respectivamente - sobre a vacina contra a Covid-19 e do cenário econômico brasileiro e mundial, agora e no futuro. Apresentado por Lucas Mendes, Pedro Andrade, Caio Blinder, Diogo Mainardi e Angélica Vieira. O programa também discute a primeira semana de Joe Biden no poder, o possível impeachment de Donald Trump e a pressão pelo afastamento de Jair Bolsonaro. A atração ainda traz a história do filho que denunciou o pai como extremista e recebeu um forte apoio na Internet. *** Disponivel em: *** https://www.youtube.com/watch?v=p_1WGNUE20o&feature=youtu.be *** Acesso em: *** 28/01/2021 *** *** "Viva a velha política" *** 'Mandetta muito bem. Dá a ideia de ser capaz de baixar a bola. Mais "nacional" do que os dois paulistas (Huck e Doria). Discurso pró-Saúde na ponta da língua. *** Não depende só dele, mas está somando pontos para ser o candidato do centro político e evitar a repetição do desastre de 2018 (capitão ou general X Boulos). *** Pode ser. *** Viva a velha política.' *** *** Guimarães Rosa e a medicina ***
*** Luiz Otávio Savassi Rocha *** Palavras-chave: Medicina, Humanismo, Psicopatologia, Tabagismo, Guimarães Rosa *** Resumo *** Guimarães Rosa ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (hoje Faculdade de Medicina da UFMG) com 17 anos incompletos. Em 1926, quando cursava o 2º ano, pronunciou, no anfiteatro da Faculdade, diante do ataúde de um estudante vitimado pela febre amarela, as palavras “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, que, ouvidas na ocasião por seus colegas Alysson de Abreu e Ismael de Faria, seriam repetidas, 41 anos depois, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras. Graduou-se em 1930 e, escolhido orador da turma, chamou a atenção dos doutorandos para a necessidade de uma prática médica impregnada de humanismo. Recém-formado, clinicou, durante cerca de um ano e meio, em Itaguara; em abril de 1933, após ter participado, como médico voluntário da Força Pública, da Revolução Constitucionalista, transferiu-se para Barbacena, na condição de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Em Barbacena, concluiu que deveria abandonar a Medicina, deixando clara sua intenção em carta datada de 20/3/1934, enviada ao amigo Pedro Moreira Barbosa: “Não nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia Don Juan, sempre ‘après avoir couché avec’”. Mas, mesmo abraçando a carreira diplomática – prestou concurso para o Itamaraty em meados de 1934 –, abordou, com maestria, em sua obra literária, temas médicos como a malária (“Sarapalha”), a doença mental (“Soroco, sua mãe, sua filha”), o acidente ofídico (“Bicho mau”) e a miopia (“Campo geral”). Como costuma acontecer com os tabagistas inveterados – máxime se sedentários e de índole emotiva –, morreu subitamente em 19/11/1967. É verdade que, dez anos antes, em carta endereçada a Paulo Dantas, admitira ter parado de fumar, “desafiando a fome-e-sede tabágica das pobrezinhas das células cerebrais”; não obstante, em 1966, ao receber do governador Israel Pinheiro a Medalha da Inconfidência, segurava um cigarro com a mão esquerda. *** Referências *** ARRIGUCCI JR., Davi. Guimarães Rosa e Góngora: metáforas. In: ARRIGUCCI JR., Davi. Achados e perdidos: ensaios de crítica. São Paulo: Polis, 1979. p. 131-137. BECKER, Ernest. O que a psicanálise realizou até agora. In: BECKER, Ernest. A negação da morte. Trad. Otávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976. Cap. 9, p. 205-238. CANNON, Walter Bradford. “Voodoo” death. American Anthropologist. Arlington, VA: American Anthropological Association, v. 44, n. 2, p. 169-181, Abr./Jun., 1942. COUTINHO, Antônio Augusto de Lima. Inexplicável trajeto de uma bala. In: COUTINHO, Antônio Augusto de Lima. A messe de um decênio. Itaúna, 1932. p. 126-134. DANTAS, Paulo. Cartas de J. Guimarães Rosa. In: DANTAS, Paulo. Sagarana emotiva. São Paulo: Duas Cidades, 1975. p. 51-114. DANTAS, Paulo. Humor negro e depressivo no Itamarati. In: DANTAS, Paulo. Através dos sertões. São Paulo: Massao Ohno, 1996. p. 99-101. LANG, Bernhard. Der kranke Prophet. In: LANG, Bernhard. Ezechiel: Der Prophet und das Buch. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1981. Cap. 3, p. 57-76. MELLO, Antônio da Silva. A morte de Guimarães Rosa. Ocidente, Lisboa, v. 75, p. 226- 238, 1968. MONEGAL, Emir Rodriguez. Em busca de Guimarães Rosa. In: COUTINHO, Eduardo de Faria (Org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Brasília: INL, 1983 (Coleção Fortuna Crítica, v. 6). PALMÉRIO, Mário de Ascensão. Errância através do mundo roseano. In: PROENÇA, Ivan Cavalcanti (Org.). Mário Palmério: seleta. Rio de Janeiro: J. Olympio/Brasília: INL, 1973. RODRIGUES, Nelson. Reze menos por mim. In:RODRIGUES, Nelson. O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 21-24. ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1968. ROSA, João Guimarães. Noites do sertão. 4. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1969. ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 8. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972. ROSA, João Guimarães. Ave, palavra. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970. *** Fonte: *** v. 6 n. 10 (2002): Edição especial II Seminário Internacional Guimarães Rosa - Rotas e roteiros *** Disponível em: *** http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12403 Acesso em: *** 28/01/2021 *** *** •••••• [SOBRE JOÃO] •••••• *** UM CHAMADO JOÃO *** Carlos Drummond de Andrade *** João era fabulista? fabuloso? fábula? Sertão místico disparando no exílio da linguagem comum? *** Projetava na gravatinha a quinta face das coisas, inenarrável narrada? Um estranho chamado João para disfarçar, para farçar o que não ousamos compreender? Tinha pastos, buritis plantados no apartamento? no peito? Vegetal ele era ou passarinho sob a robusta ossatura com pinta de boi risonho? *** Era um teatro e todos os artistas no mesmo papel, ciranda multívoca? João era tudo? tudo escondido, florindo como flor é flor, mesmo não semeada? Mapa com acidentes deslizando para fora, falando? Guardava rios no bolso, cada qual com a cor de suas águas? sem misturar, sem conflitar? E de cada gota redigia nome, curva, fim, e no destinado geral seu fado era saber para contar sem desnudar o que não deve ser desnudado e por isso se veste de véus novos? *** Mágico sem apetrechos, civilmente mágico, apelador de precípites prodígios acudindo a chamado geral? Embaixador do reino que há por trás dos reinos, dos poderes, das supostas fórmulas de abracadabra, sésamo? Reino cercado não de muros, chaves, códigos, mas o reino-reino? Por que João sorria se lhe perguntavam que mistério é esse? *** E propondo desenhos figurava menos a resposta que outra questão ao perguntante? Tinha parte com... (não sei o nome) ou ele mesmo era a parte de gente servindo de ponte entre o sub e o sobre que se arcabuzeiam de antes do princípio, que se entrelaçam para melhor guerra, para maior festa? *** Ficamos sem saber o que era João e se João existiu de se pegar. *** (publicado originalmente no Correio da Manhã, em 22/11/1967, três dias após a morte de Guimarães Rosa) ***
*** Casa onde nasceu o escritor, hoje Museu Casa de Guimarães Rosa, em Cordisburgo, MG. *** •••••• [DE JOÃO] •••••• *** REPORTAGEM *** O trem estacou, na manhã fria, num lugar deserto, sem casa de estação: a parada do Leprosário... *** Um homem saltou, sem despedidas, deixou o baú à beira da linha, e foi andando. Ninguém lhe acenou... *** Todos os passageiros olharam ao redor, com medo de que o homem que saltara tivesse viajado ao lado deles... *** Gravado no dorso do bauzinho humilde, não havia nome ou etiqueta de hotel: só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo [ Socorro... *** O trem se pôs logo em marcha apressada, e no apito rouco da locomotiva gritava o impudor de uma nota de alívio... *** Eu quis chamar o homem, para lhe dar um [ sorriso, mas ele ia já longe, sem se voltar nunca, como quem não tem frente, como quem só [ tem costas... *** SARAPALHA *** (trecho inicial) *** Tapera de arraial. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e o cemitério; e a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu. Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para o arroz. E o lugar esteve nos mapas, muito antes da malária chegar. Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou caminho, entrou na boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão da brava — da "tremedeira que não desamontava" — matando muita gente. — Talvez que até aqui ela não chegue... Deus há-de... Mas chegou; nem dilatou para vir. E foi um ano de tristezas. Em abril, quando passaram as chuvas, o rio — que não tem pressa e não tem margens, porque cresce num dia mas leva mais de mês para minguar — desengordou devagarinho, deixando poços redondos num brejo de ciscos: troncos, ramos, gravetos, coivara; cardumes de mandis apodrecendo; tabaranas vestidas de ouro, encalhadas; curimatãs pastando barro na invernada; jacarés, de mudança, apressados; canoinhas ao seco, no cerrado; e bois sarapintados, nadando como búfalos, comendo o mururê-de-flor-roxa flutuante, por entre as ilhas do melosal. Então, houve gente tremendo, com os primeiros acessos da sezão. — Talvez que para o ano ela não volte, vá s'embora... Ficou. Quem foi s'embora foram os moradores: os primeiros para o cemitério, os outros por aí afora, por este mundo de Deus. *** PÍLULAS DO GRANDE SERTÃO *** Coração de gente — o escuro, escuros. *** Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade. *** Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar. *** No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço! *** Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. *** O amor? Pássaro que põe ovos de ferro. *** Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas. *** A colheita é comum, mas o capinar é sozinho. *** O diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! *** O diabo na rua, no meio do redemunho. *** O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos... Pois, não existe! E se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele? *** Quem muito se evita, se convive. *** Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado. *** O que lembro, tenho. *** Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. *** Quem mói no asp'ro não fantaseia. *** Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente. *** Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais. *** Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia? *** Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores. *** Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta. *** Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem. *** Toda saudade é uma espécie de velhice. *** Riu de me dar nojo. Mas nojo medo é, é não? *** Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor. *** Tudo é e não é. *** Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir. *** Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! *** O sertão é do tamanho do mundo. *** Sertão é dentro da gente. *** O sertão é sem lugar. *** O sertão não tem janelas, nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa. *** O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena. *** O sertão é uma espera enorme. *** Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas. *** A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. *** A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver. *** Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso. *** Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo. *** Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... *** Feito flecha, feito fogo, feito faca. *** Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem. *** Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília. // Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor. *** João Guimarães Rosa *** • "Reportagem" In Magma Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1997 *** • "Sarapalha" (trecho) In Sagarana Círculo do Livro, São Paulo, 1984 *** • "Pílulas do Grande Sertão" In Grande Sertão: Veredas Abril Cultural, São Paulo, 1983 Carlos Drummond de Andrade *** • "Um chamado João" In Poesia Completa (seção Versiprosa) Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 2003 *** Fonte: *** poesia.net www.algumapoesia.com.br Carlos Machado, 2005 *** Disponíel em: *** http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet148.htm *** Acesso em: *** 28/01/2021 *** ***