sexta-feira, 1 de abril de 2022

Da natureza das coisas

A “moral da história” não nos é dada pelo narrador; ela deve ser inferida pelo leitor. Através da leitura dos textos de Machado, podemos perceber que para o escritor a tão esperada liberdade dos cativos só se efetivaria com a mudança das mentalidades responsáveis por orquestrar o andamento do curso da história do país. *** *** A Natureza Das Coisas Flávio José https://www.letras.mus.br/flavio-jose/200188/ ************************************************************* “A verdade fala pela boca dos pequeninos” Machado de Assis “A fábula (Mythos) é uma fala (logos) mentirosa que retrata uma verdade” Theon (séc. I d.C.) ***
*** Requiescat in pace. Machado de Assis *** Da natureza das coisas, de Lucrécio *** Mateus Salvadori 64,8 mil inscritos Lucrécio apresenta uma singular síntese de epicurismo e materialismo atomista. Sua obra antecede muitos conceitos da física moderna, também da psicologia contemporânea, enfim, do pensamento científico hoje aceito. Para o autor, o mundo era guiado pela fortuna, não por propósitos divinos. https://www.youtube.com/watch?v=__dCZ_xlLA8 **********************************************
Malu Gaspar: A Petrobras, o povo e a mentira O Globo Toda vez que algo arranha a imagem de um governante, um partido ou um político, a primeira explicação é que o problema está na comunicação. Não falha, basta o sujeito se ver em maus lençóis. De diferentes maneiras, é assim que os dois principais candidatos à Presidência da República, Lula e Jair Bolsonaro, têm justificado suas contradições a respeito da questão mais importante para o jogo eleitoral no momento: a Petrobras e a alta dos combustíveis. Foi assim que Bolsonaro explicou, nas conversas secretas com o economista Adriano Pires, por que precisava trocar o presidente da Petrobras. Segundo ele, era preciso alguém que soubesse se comunicar com a sociedade e com a imprensa. Não é que ele quisesse interferir no preço dos combustíveis, o problema é que a Petrobras “comunica mal”. E Pires, embora não tenha nenhuma experiência como executivo, nem sequer como conselheiro de empresas, sempre esteve disponível aos jornalistas, dando entrevistas em linguagem acessível sobre petróleo, gás e energia. Ou seja: na visão do presidente, comunica bem. É curioso que o presidente da República fale em “comunicar mal”. Foi ele mesmo quem reclamou que a Petrobras não tinha “qualquer sensibilidade com a população”. Contou, ainda, que o Congresso havia feito um pedido à Petrobras para atrasar em um dia o anúncio do reajuste do diesel. Antes, seria aprovado o projeto de lei que zerou impostos federais sobre os combustíveis que poderia neutralizar o efeito negativo sobre sua campanha. Indignado, Bolsonaro desabafou: “É Petrobras Futebol Clube, e o resto que se exploda”. Dias depois, arrematou: “Não tenho ingerência sobre ela, o que a gente puder fazer, a gente faz”. Ou o presidente acha que a população tem problemas cognitivos, ou espera que acreditem em história da carochinha. Está claro que Bolsonaro gostaria, sim, de interferir na presidência da Petrobras para segurar o preço dos combustíveis. Como não consegue, tenta subterfúgios. Um deles é criar uma versão alternativa dos fatos para ver se cola. Agora, vejamos Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve na sede da Federação Única dos Petroleiros (FUP) nesta semana, num evento cheio de simbolismos. Falando a uma plateia escolhida a dedo, que vestia os jalecos laranja famosos em sua gestão, obviamente culpou Bolsonaro pela alta dos combustíveis. Só que, para Lula, as mazelas atuais da companhia decorrem de um único motivo: a elite brasileira teria construído uma mentira sobre os desvios na Petrobras para tirar o PT do governo, porque não queria vê-la “ligada ao desenvolvimento nacional, à ciência e tecnologia e à inovação”. Comparando a Petrobras a Jesus Cristo, Lula disse que a companhia foi crucificada porque usava seu lucro para melhorar a vida dos mais pobres. Para o petista, em última instância, o preço dos combustíveis está aumentando porque inventaram-se os bilhões devolvidos pelos delatores, os bilhões gastos com refinarias que nunca ficaram prontas e os outros bilhões em dívidas que quebraram a empresa para, entre outras coisas, segurar o preço da gasolina. O curioso é que Lula está na frente nas pesquisas e tem larga vantagem sobre Bolsonaro entre os mais pobres. Usando sua lógica, portanto, é possível concluir que o mesmo povo que comprou uma mentira em 2018 agora a esqueceu — ou descobriu a verdade, com a revisão das decisões da Lava-Jato — e votará nele. Ainda assim, o ex-presidente se queixou de que o PT está falando apenas para sua própria base e pediu ao partido que “construa uma narrativa”, ou melhor, “construa a verdadeira história do que está se passando na Petrobras”. No fundo, Bolsonaro e Lula querem a mesma coisa, e não falo de interferir no preço dos combustíveis. O que eles querem é resolver no gogó seus pontos fracos na campanha. Mexer na comunicação para não precisar mexer nos fatos é o que todo candidato quer, mas já era de esperar que dois políticos tão tarimbados como eles tivessem entendido que nem sempre um bom meme ou uma falácia bem construída são suficientes para ganhar a eleição. Parece não ocorrer a eles que o eleitor possa entender perfeitamente o problema dos combustíveis e não gostar das soluções apresentadas — ou não acreditar em tudo o que eles falam. Foi o próprio Lula quem disse, na FUP: "Quando a gente fala uma vez e as pessoas não entendem, é porque as pessoas são burras. Quando você fala a segunda vez e as pessoas não entendem, as pessoas continuam sendo burras. Mas, se você fala a terceira vez e as pessoas não entendem, burro é quem está falando". Agora só falta seguir a lição. https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/03/malu-gaspar-petrobras-o-povo-e-mentira.html *******************************************************************************************
*** Maria Cristina Fernandes: Carteira de clientes Valor Econômico Pires deve informar empresas para as quais prestou serviço Corria o governo Michel Temer e a gestão Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados quando um currículo chegou à Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras. Vinha diretamente do Palácio do Planalto. Era de um advogado, cuja carteira de clientes percorria a linha sucessória da Presidência da República de cima a baixo. Derrotada a turma do deixa-disso, a Petrobras resolveu encarar. Um emissário bateu à porta da subsecretaria de Assuntos Jurídicos da Presidência para tratar do assunto. No primeiro “veja bem” o burocrata deu pra trás. O presidente, disse, já tinha desistido de indicá-lo. Se os procedimentos de governança, como o general Joaquim Silva e Luna garantiu em palestra do Superior Tribunal Militar, estiverem mantidos, Adriano Pires terá que passar pelo mesmo escrutínio. Para se descobrir as causas defendidas por um advogado, porém, há meios relativamente transparentes, como a busca eletrônica nos tribunais. Para fazer o mesmo com um consultor como Pires é preciso que ele forneça as informações. Há setores na empresa determinados a colocar tudo em pratos limpos. Nos mais de 40 anos de consultoria, exercidos paralelamente à docência na UFRJ, acumulou clientes. É sobre eles que o economista deve ser chamado a prestar informações, vide a “Política de Indicação de Membros da Alta Administração e do Conselho Fiscal”. Lá está escrito que os integrantes do conselho devem atender aos critérios de independência descritos no estatuto da empresa. O inciso IX, parágrafo 2 do artigo 21 do estatuto diz que é vedada a indicação, para cargo de administração, de “pessoa que tenha ou possa ter qualquer forma de conflito de interesse com a União ou com a própria Companhia”. O economista está em período de silêncio em função da assembleia de acionistas que deverá aprovar a chapa de conselheiros enviada pela União. O site de sua consultoria, porém, informa que entre seus clientes estão empresas do setor de eletricidade, óleo e gás, álcool. Não há segredo nisso. Tanto que o economista, seis dias antes de sua indicação pelo presidente da República, período em que escolhas do gênero costumam ser marcadas por busca de apoio político por parte dos candidatos, assinou artigo no site “Poder360” em que defende o incentivo aos gasodutos das usinas térmicas. Ora, é exatamente a mesma demanda da bancada do setor, uma das mais operantes na gestão do deputado Arthur Lira (PP-AL) na Câmara. A bancada das térmicas atuou com especial afinco na privatização da Eletrobras, ocasião em que se fixou uma demanda mínima a ser fornecida pelas térmicas, algumas delas instaladas em Estados que não dispõem de gás. Naquela mesma medida provisória tentou-se aprovar a obrigatoriedade de a União bancar a construção de gasodutos, mas os interesses das empresas já estavam tão escancarados que a prebenda não emplacou. Voltou em outra MP, mas também foi derrotada. Agora chegou na forma de jabuti de um projeto de lei (414) que deve entrar em pauta na próxima semana na Câmara. Este PL defende que os gasodutos devem ser financiados pelos recursos do pré-sal. O relator é o ex-ministro do Ministério das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (União Brasil-PE), que já tem um discurso pronto para tirar esta conta do caixa das empresas - “será repassada para o consumidor”. Como Pires não se manifesta, seu artigo é a última opinião expressa sobre o tema. E sugere que os parlamentares contem, também, com seu apoio. É assim que o lobby das térmicas, que já tem uma relação, no mínimo, amigável, com Rodolfo Landim, indicado para a presidência do Conselho, se firma, definitivamente, como o mais poderoso da República. É óbvio que Pires não teria sido escolhido se fosse este seu único atributo. No mesmo artigo, apresenta outro. É favorável à criação de um fundo, com duração de três a seis meses que cubra as oscilações de preço decorrentes da guerra da Ucrânia. Os recursos viriam de dividendos, royalties, participações especiais ou mesmo da venda do óleo. Desde que não se mexa na política de preços, alertou. Este é outro tema que está em tramitação no Congresso. Como nenhum dos fundos em debate agrada ao ministro da Economia, a disposição de Pires para o embate com Paulo Guedes se sobressai como outro de seus atributos. Para o Centrão. Na palestra que fez no STM, Silva e Luna mencionou “autoridades de alto nível” às quais havia tentado explicar que a Petrobras não pode fazer política nem política pública. Esta autoridade entende quando está no modo racional e deixa de entender quando passa para o emocional. Ele levou o braço curvado para cima de sua cabeça para mostrar que se trata de autoridade acima dele. Nem precisava tanto para se referir a Bolsonaro. Nesta mesma palestra, proferida no dia seguinte à indicação Pires, o general disse, duas vezes, que a Petrobras não era lugar para “aventureiros”. Não foi esta a reputação amealhada por Pires até aqui. Mas ele deve fornecer a lista de clientes para mostrar que a carapuça não lhe serve. Rinha de galo Quatro dias depois do festivo pré-lançamento da recandidatura de Jair Bolsonaro pelo PL, as relações do presidente com seu partido já entram em modo combustão. Se a filiação do ministro da Infraestrutura pelo Republicanos para a disputa ao governo paulista já estava acordada, o mesmo não pode se dizer da ficha que será assinada por Damares Alves. Assim como Freitas, a ministra dos Direitos Humanos oficializará a filiação ao Republicanos do deputado Marcos Pereira (SP) para disputar o Senado pelo Distrito Federal. E Damares deverá fazer este anúncio no Amapá, terra do senador Davi Alcolumbre (União Brasil -AP) que, por muito tempo, apavorou-se com a perspectiva de a ministra disputar a cadeira que gostaria de renovar. É um gesto de quem não quer guerra com Alcolumbre, mas abre um contencioso com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e, principalmente, com a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, que também disputará, pelo PL, vaga ao Senado do Distrito Federal. Bolsonaro vale-se de Pereira para conter o avanço do PL, a nova casa de dois ministros: João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). É uma decisão que não apenas opõe os dois caciques como ameaça constranger o apoio amealhado por Flávia Arruda na cúpula do PP. https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/03/maria-cristina-fernandes-carteira-de.html ***************************************************************************************
*** Adriana Fernandes: Mercadante & Arida O Estado de S. Paulo Interesse acontece porque Pérsio Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin É muito mais simbólica do que uma realidade efetiva a aproximação do economista Pérsio Arida com o petista Aloizio Mercadante. Os dois se reuniram por mais de uma hora e meia, na semana passada, e o vazamento do encontro, que ocorreu na Fundação Perseu Abramo (reduto do pensamento econômico do PT), agitou o mundo político e empresarial. O interesse geral em torno dessa liga acontece porque Pérsio Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin nas eleições de 2018, e o ex-governador de São Paulo se mudou para o PSB para ser vice na chapa de Lula, ainda não oficializada. Com a aliança política, é natural imaginar que Alckmin venha a ter influência nas costuras em torno de um acordo programático em temas econômicos. Mas há dúvidas se conseguirá se impor, num ambiente ainda muito hostil a ele dentro do PT, para angariar ascendência na definição das diretrizes de política econômica de um eventual terceiro mandado do ex-presidente Lula. Outra incógnita é se os economistas próximos ao governador se sentirão confortáveis a entrar nas discussões com os economistas do “PT raiz”. Os dois grupos têm pensamentos diferentes e conflitantes em muitos casos. Ao Estadão, Pérsio disse na terça-feira que foi uma conversa de ideias sobre propostas para o País, mas sem nenhum tipo de acerto com a candidatura do ex-presidente Lula nas eleições presidenciais deste ano. Mercadante, por outro, transmitiu a vários jornalistas a mesma mensagem depois que a informação sobre o encontro foi revelada pela agência BAF: “Não há necessariamente compromisso com o programa de governo”. O movimento de Mercadante tem dois endereços. De um lado, condiz com o movimento político que o Lula está construindo para ganhar a eleição diante de um adversário, o presidente Bolsonaro, disposto a tudo e com a chave do cofre na mão. Por outro lado, fala para dentro do PT ao sinalizar que o partido está conversando, mas o programa é do partido, que vai incorporar o que julgar relevante. O segundo recado é importante no momento em que saiu a notícia da colunista Malu Gaspar do jornal O Globo de que o ex-ministro José Dirceu tem mantido reuniões com empresariado e estaria sinalizando que o ministro da Economia seria mesmo político. A intriga que se espalhou nos bastidores em seguida é que não haveria ninguém do PT em postos importantes da equipe econômica. Borbulhas explosivas para o momento atual de pré-candidatura. https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/03/adriana-fernandes-mercadante-arida.html ***************************************************************************************
*** Celso Ming: Troca de Luna por Pires O Estado de S. Paulo Ficou a impressão de que a substituição intempestiva do presidente da Petrobras não passou de uma operação popularmente conhecida como troca de seis por meia dúzia. Adriano Pires, o nome indicado à presidência, que deve tomar posse dia 13, não pensa substancialmente diferente do presidente demitido, o general Joaquim Silva e Luna. Ambos entendem que a interferência do governo nos preços dos derivados de petróleo produz mais distorções do que a manutenção do critério atual, o da Paridade Internacional de Preços, que é determinado pelas cotações em dólares vigentes no mercado internacional convertidas em reais pelo câmbio do dia. Nem mesmo se pode dizer que Pires diverge de Silva e Luna quando recomenda que a Petrobras evite transferir a volatilidade dos preços ao mercado de consumo. O último reajuste no preço dos combustíveis determinado na gestão de Joaquim Silva e Luna, em 10 de março, guardou o espaçamento de 57 dias em relação ao reajuste anterior. Tudo se passa como se o presidente Jair Bolsonaro pretendesse apenas produzir efeito especial para impressionar a plateia. Foi o que fez também em fevereiro de 2021 quando demitiu o presidente anterior, Roberto Castello Branco, supostamente porque não via nele acolhimento às reivindicações dos caminhoneiros. Nesta última terça-feira, Silva e Luna, já na condição de demissionário, advertiu que a Petrobras não pode usar os preços dos derivados para fazer políticas públicas e, muito menos, para fazer política partidária. Ou seja, o pretendido achatamento dos preços dos derivados não cumpriria outra função que não fosse eleitoreira. Mas, se isso é assim, por que nova troca, apenas um ano depois, que se seguiu a uma fritura pública de Silva e Luna, se uma mudança na política de preços continua improvável? Boa hipótese de explicação é de que Bolsonaro finalmente entendeu: o que seu governo obtém da Petrobras em receitas com impostos, royalties, contribuições especiais, dividendos e juros sobre capital próprio proporciona um volume substancial de recursos que podem ser usados para suas políticas sociais. Esses recursos seriam substancialmente mais baixos se os preços fossem achatados. Em outras palavras, o retorno eleitoral do uso político desses recursos é bem mais expressivo do que a redução em alguns centavos no preço do litro da gasolina e do diesel que pudesse obter com a intervenção na política de preços da Petrobras. No ano passado, muito antes da disparada dos preços do petróleo, a Petrobras recolheu aos cofres públicos R$ 203 bilhões em impostos, royalties e participações especiais (incluídas aí as parcelas de Estados e municípios) e R$ 37,3 bilhões apenas em dividendos ao Tesouro Nacional. O salto nos preços ocorrido neste ano deverá aumentar expressivamente esses volumes ao longo de 2022. O resto é encenação. https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/03/celso-ming-troca-de-luna-por-pires.html ************************************************************************************ ELEIÇÕES 2022 A aposta de José Dirceu para o ministério da Fazenda de Lula Por Malu Gaspar 28/03/2022 • 04:30 ****
*** Lula e José DirceuLula e José Dirceu | Gustavo Miranda/7-3-2003 *** Luis Inácio Lula da Silva já declarou mais de uma vez que "não é hora" de conversar com o mercado financeiro. Em fevereiro, rejeitou o convite para o evento anual do BTG do qual participaram os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas. Lula no Rio: Lula fará minicomício em evento com ex-presidentes de esquerda Isso não quer dizer que não haja canais de interlocução com o mercado. Desde o final do ano passado, um grupo de petistas se dedica a enviar recados e sondar o ambiente da Faria Lima para o ex-presidente. José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula, ex-mensalão e ex-petrolão, é um deles. Tem feito conversas com pequenos grupos a convites de corretoras como Guide e XP e pede sempre que os papos fiquem em segredo. Em petit comité, fala como quem ainda faz parte do núcleo decisório da candidatura e não se furta a fazer previsões. Leia também: Por que o futuro vice Braga Netto não foi ao lançamento da candidatura de Bolsonaro O vaticínio que mais chama a atenção é o de que o ministro da Economia de um eventual governo Lula seria um político, muito provavelmente um ex-governador nordestino – Rui Costa, da Bahia, é o mais cotado na bolsa de apostas de Dirceu. Costa, aliás, é também um nome lembrado pelo senador Jaques Wagner, da Bahia, e pelo deputado José Guimarães, do Ceará, pelo ajuste fiscal que ele fez no governo baiano. Crise no MEC: Aliados tentam convencer Milton Ribeiro a pedir licença do governo Quando se pergunta se ele não preferia um economista ou um técnico, Dirceu responde com autoironia. Diz que os quadros do partido ou já estão velhos ou são como ele, que enfrentam problemas com a Justiça. Economistas da Unicamp não teriam espaço num próximo governo Lula, ele afirma. O ex-presidente não confia neles. Dirceu reconhece que a situação que os petistas encontrarão na economia é bem mais crítica do que a que havia quando Lula ganhou a eleição pela primeira vez, em 2002. Leia também: Prefeito que esteve com Milton Ribeiro e pastores consegue liberar verba sem apresentar documento nenhum Mas, apesar de argumentar que o petista não faria nenhum estrago na economia, porque já demonstrou ser um pragmático, Dirceu diz que será o fim de políticas como teto de gastos (regra que impede o crescimento das despesas da União acima da inflação) ou a regra de ouro (que proíbe o governo de se endividar para pagar gastos correntes, como salários). Na prática, elas já vem sendo desrespeitadas no governo Bolsonaro. A ideia no PT, afirma Dirceu, é articular uma solução que acabe com elas sem parecer um desrespeito à responsabilidade fiscal. Guerra na Ucrânia: Comando do Exército tira do ar site que errou previsão sobre queda de Kiev Segundo Dirceu, um futuro mandato de Lula repartiria de novo o ministério da Economia entre Fazenda e Planejamento. Mas nem um nem outro teriam economistas da Unicamp, como Guido Mantega, Marcio Pochmann ou Aloizio Mercadante. Lula não confia neles. No mais, Dirceu e seus colegas vem repetindo o que Lula defende em seus discursos públicos: a revogação de itens da reforma trabalhista (ressuscitando, por exemplo, o imposto sindical); a tributação de dividendos e de grandes fortunas; a retomada do controle de preços de combustíveis praticado no governo Dilma; o investimento em construção de refinarias. Estratégia para 2022: Tarcísio e Damares se filiam ao Republicanos em troca de apoio a Bolsonaro Segundo alguns dos participantes dessas conversas, a reação às propostas listadas por Dirceu varia conforme o interlocutor. Alguns saem apavorados – especialmente quanto às reformas e à Petrobras –, enquanto outros apostam que nada disso será implementado na prática. "Sempre tem os que acreditam que se trata apenas de um discurso para a base", diz um gestor que participou de mais de uma reunião com os emissários de Lula. "Algumas pessoas colocaram na cabeça que Lula ganhando, a bolsa sobe". TAGS: Lula josé dirceu mercado financeiro Jaques Wagner Rui Costa José Guimarães Ministério da Economia teto de gastos COMENTE LEIA TAMBÉM Os sinais trocados de João Doria que acenderam alerta no Palácio dos Bandeirantes Por Malu Gaspar Os sinais trocados de João Doria que acenderam alerta no Palácio dos Bandeirantes As mentiras de Bolsonaro e Lula sobre a Petrobras e o povo Por Malu Gaspar As mentiras de Bolsonaro e Lula sobre a Petrobras e o povo PT e Geddel Vieira Lima se aliam na Bahia Por Mariana Carneiro PT e Geddel Vieira Lima se aliam na Bahia De olho na rejeição de Bolsonaro, Michelle vai rodar o Brasil em eventos para mulheres De olho na rejeição de Bolsonaro, Michelle vai rodar o Brasil em eventos para mulheres https://blogs.oglobo.globo.com/malu-gaspar/post/aposta-de-jose-dirceu-para-o-ministerio-da-fazenda-de-lula.html ******************
*** Reflexões de dois burros falantes: qual é a moral da história nesta crônica fabular de Machado de Assis?* Elisangela Aparecida Lopes1 RESUMO: O objetivo desta comunicação é analisar a crônica de Machado de Assis, publicada a 16/10/1892, na coluna “A Semana”, do jornal Gazeta de Notícias, na qual o diálogo entre dois burros e os ares de fábula que o texto apresenta traz à tona questões relativas à recente liberdade concedida aos negros no Brasil. De forma velada, a crítica aos resquícios da escravidão se faz presente pela boca dos personagens que, a partir de uma visão de “dentro”, analisam a sociedade brasileira dos fins do século XIX. PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis, crônica, alegoria, crítica ao sistema escravocrata. “A verdade fala pela boca dos pequeninos” Machado de Assis “A fábula (Mythos) é uma fala (logos) mentirosa que retrata uma verdade” Theon (séc. I d.C.) Este artigo tem como objetivo apresentar um breve estudo de uma das crônicas machadianas publicadas na coluna “A Semana”, do jornal Gazeta de Notícias, em 16/10/18922. Nela, Machado de Assis nos apresenta uma fábula na qual o escritor vela, desvela, revela reflexões acerca da liberdade dos escravos. Segundo nos alerta David Arrigucci Jr3., a crônica se liga ao resgate da memória, ao “registro da vida escoada”. Sendo assim, pode ser entendida como instrumento que nos proporciona revisitar o passado ou contemplar o presente em seus modos, costumes, trâmites políticos e sociais. Para este crítico, a crônica pode ser encarada como “documento de toda uma época”, “testemunho de uma vida”, “meio de se inscrever a História no texto” (1985, 43). Por esses motivos, as crônicas machadianas se configuram como um importante instrumento capaz de representar uma visão crítica do escritor a respeito dos fatos históricos do final do século XIX. Nos momentos em que detém a conceituar a crônica, Machado de Assis a define como ‘sobremesa’, “uma coisa leve, para adoçar a boca e rebater o jantar” (1970, 80); a fusão do “útil e do “fútil” (1997, 959). Enquanto o folhetinista é tido como um “confeiteiro literário” (1970, 80), e ao mesmo tempo o “colibri” (1997, 959). Machado descreve ainda os cronistas como “beneditinos da história mínima e cavoqueiros da expressão oportuna”. Diante destas definições, não seria a crônica machadiana uma narração de fatos ou de eventos imaginários cujo objetivo seria meramente informar e entreter? Não me parece que a crônica de 16/10/1892, na qual o tema da escravidão e da abolição estão presentes, atenda somente a esses dois propósitos. O humor, a ironia e o tom de fábula impressos ao texto relativizam a crítica feita pelo escritor naquela página de jornal, e ao mesmo tempo promovem o disfarce daquilo que é “sério”, dando ao texto ares de “frívolo”. A fábula, enquanto modo universal de construção discursiva, apresenta como características a presença de animais, dotados de características humanas, enquanto personagens da história; a construção de uma moral da história, que pode ser fornecida textualmente pelo narrador/fabulista ou inferida pelo leitor; a presença do diálogo argumentativo entre dois animais ou dois grupos deles. Segundo o dicionarista Antenor Nascentes, a fábula é definida como “[uma] pequena composição literária em que se narra um fato alegórico cuja verdade moral se esconde sob o véu da ficção e na qual intervêm pessoas, animais e até coisas inanimadas, apresentando ou exemplificando uma máxima”. (1988, 272). Nos dizeres de Maria Celeste Consolin Dezotti4, a fábula é um discurso alegórico ancorado em “outro” significado. No texto machadiano em questão, temos um narrador que presencia um diálogo entre dois burros encarregados de puxar os bondes comuns que estão sendo substituídos pelos elétricos. Eles discutem sobre a liberdade que a adoção do novo meio de transporte poderia lhes proporcionar. Como construção alegórica, o texto pode ser lido enquanto reflexão acerca da liberdade que, há pouco, havia sido proporcionada aos escravos. O narrador inicia o texto justificando o seu silêncio de uma semana a respeito da inauguração dos bondes elétricos na cidade. Afirma que não havia tido, ainda, curiosidade de vê-los e, portanto, não poderia deles falar. Certo dia, estando em um bonde comum, viu passar ao seu lado um elétrico e alguns fatos chamaram a sua atenção. Primeiro, a forma como o cocheiro o manipulava, sentia-se superior por estar à frente da máquina indicativa do progresso. O narrador ficou a ver o bonde passar, este se foi, mas não saiu de sua memória. De repente, viu-se quase sozinho, e enquanto os dois acompanhantes dormiam, ele pensava. Na quase solidão do bonde, o narrador passa a ouvir o diálogo que se estabelece entre os dois burros condutores daquele meio de transporte. Ele só consegue compreender a conversa porque afirmava conhecer a língua dos Houyhnhnms. Em nota, John Gledson5 nos esclarece o sentido do termo ao afirmar que este designaria “os cavalos sábio das Viagens de Gulliver, de Swift” (1996, 135). Sendo assim, nessa narrativa, cavalos e burros falam a mesma língua, o que possibilitou ao narrador entender aquilo que estava sendo dito pelos dois animais. . A partir desse momento da crônica, os burros travam um diálogo sobre a liberdade, seu significado e suas implicações. Os dois personagens, denominados burro da esquerda e burro da direita, devido à posição em que estes se encontravam em relação ao narrador, passageiro do bonde, travam uma conversa enigmática. O diálogo se inicia pela felicitação do burro da esquerda com a chegada da tração elétrica à cidade e com a possibilidade de que esta seja estendida a todos os bondes. Diante disso esse personagem conclui: “estamos livres, parece claro”. A que responde o da direita: “Claro parece, mas entre parecer e ser a diferença é grande” (1996, 136). A voz do burro da direita é representante de uma visão crítica, até mesmo cética, em relação à possível liberdade que seus irmãos poderiam gozar a partir da instalação dos bondes elétricos. Já o burro da esquerda adota um posicionamento discursivo baseado nas aparências dos fatos, através da relação direta entre causa e conseqüência, enquanto o da direita deseja provocar reflexões mais profundas. Assim, dotados de visões de mundo distintas, os dois animais darão início ao diálogo argumentativo que compõem esta crônica machadiana com ares de fábula. Para tanto, parte da própria experiência para concluir que receber pancada sempre foi e continuará sendo o destino dos burros e declara: “Quem nos poupa no dia, vinga-se no dia seguinte” (1996, 136).6 Os comentários feitos pelo personagem não são apreendidos pelo burro da esquerda, incapaz de analisar profundamente os fatos. Depois de ouvir as reflexões do colega, o burro da esquerda indaga o que isto teria a ver com a questão da liberdade. Neste momento, o diálogo é interrompido pelos golpes de chicote deferidos pelo cocheiro no lombo dos dois animais: uma efetivação concreta do que, até então, eram só reflexões e suposições do burro da direita. Nesta narrativa da história dos burros, situados à capital do país, um deles relembra uma ordem que havia sido enviada aos responsáveis pela gerência dos animais de tração: “engorde os burros, dê-lhes de comer, muito capim, muito feno, traga-os fartos, para que eles se afeiçoem ao serviço; oportunamente mudaremos de política, all right!” (1996, 136). A ordem, então, era fazê-los fortes, dar a eles comida, para que assim o trabalho fosse garantido; presos aos seus donos, os burros não quereriam fugir. As próximas passagens do diálogo entre os dois burros são de extrema importância para se entender o caráter alegórico do texto machadiano. Passemos à citação que se inicia com a fala do burro da direita: O bonde elétrico apenas nos fará mudar de senhor. De que modo? Nós somos bens da companhia. Quando tudo andar por arames, não somos já precisos, vendem-nos. Passamos naturalmente às carroças. Pela burra de Balaão! exclamou o burro da esquerda. Nenhuma aposentadoria? Nenhum prêmio? Nenhum sinal de gratificação? Oh! Mas onde está a justiça deste mundo? Passaremos às carroças – continuou o outro pacificamente – onde a nossa vida será um pouco melhor; não que nos falte pancada, mas o dono de um só burro sabe mais o que lhe custou. Um dia a velhice, a lazeira, qualquer coisa que nos torne incapaz, restituir-nos-á a liberdade...(1996, 136-7), [grifo meu] O resumo da referida crônica feito até aqui somado à citação acima já nos permite desvendar o que se encontra por detrás da narrativa aparente e elucidar a alegoria machadiana. Para se revelar os meandros do texto narrativo, faz-se preciso, mais uma vez, assim como o sugere Machado, “catar o mínimo e o escondido” do texto. Assim, passaremos à análise dos termos da crônica que nos permite tecer a relação entre a fábula e a realidade do final do século XIX. O burro da esquerda parece não entender as relações de causa e conseqüência presentes na fala do colega, enquanto acredita que a chegada dos bondes elétricos irá proporcionar a ele e aos demais burros a liberdade. Já o burro da direita retoma o diálogo afirmando que a mudança do sistema de transporte apenas os fará “mudar de senhor”. Este seria, então, o elemento desencadeador da leitura que aqui proponho para este texto de Machado de Assis. O indício textual mais evidente, até este momento da narrativa, da aproximação entre o discurso dos burros, enquanto alegoria da reflexão dos libertos, encontra-se na primeira fala que inicia a passagem citada. A utilização da palavra “senhor”, pelo animal, ao se referir ao seus donos, aponta uma escolha vocabular feita a dedo pelo escritor carioca. Outro elemento textual também deve ser destacado. A fala do personagem revela a condição por ele ocupada no sistema de transporte: “nós somos bens da companhia”. Desta forma, poderiam ser repassados a outros donos e destinados a outros trabalhos, como, por exemplo, puxar carroça. Assim também eram considerados os escravos: bens semoventes a serem transferidos por espólio, doação, compra e venda. O burro, enquanto personagem de uma história, também aparece em outra crônica machadiana publicada em 10/06/1894. Tanto na crônica de 16/10/1892 quanto nesta, os personagens fazem a mesma reivindicação: o direito à liberdade. No texto de 1894, o narrador se depara com um burro, atracado em seu jardim, e a quem chama Lucius de Tessália. O burro, leitor de jornais ingleses, faz-se um exímio orador e solicita ao cronista que interceda pela sua “classe” junto à imprensa fluminense. Indignado com as penalidades legais aplicadas aos homens ingleses que tratavam mal os seus animais de tração, o burro reflete sobre a diferença, perante os olhos da justiça, entre ricos e pobres: “– Um tal John Fearon Bell, convencido de maltratar quatro potros, não lhes dando suficiente comida e bebida, do que resultou morrer um e ficarem três em mísero estado, foi condenado a cinco libras de multa; ao lado desse vinha o caso de Fuão Thompson, que foi encontrado a dormir em um celeiro e condenado a um mês de cadeia” (1997, 612). Desejando ser reconhecido enquanto sujeito, o burro espera que a justiça dos homens não mais se utilize de ‘dois pesos e duas medidas’ para condenar os infratores da lei dos homens e da lei dos burros. A fim de convencer o narrador-cronista a interceder pelos burros junto à imprensa local, o animal faz uso da teoria da evolução das espécies para reclamar o seu parentesco com a raça humana. O animal poliglota é dotado ainda de uma veia poética, já que é dado a fazer versos que saem sem muito esforço de sua parte: “ – (...) às vezes saem-me rimas da boca, e podia achar editor para elas, se quisesse; mas não tenho ambições literárias”, afirma ele (1997, 611). As ambições do nosso personagem são mais concretas, ou melhor, políticas. Na sequência da narrativa, nota-se uma passagem que salta aos olhos devido à maestria da construção discursiva de Machado de Assis e a sua capacidade de dizer o dito pelo não dito. Da mesma forma como ocorre na crônica anterior, de 1892, nesta, alguns indícios textuais permitem-me afirmar que os burros, nestes dois textos, podem ser entendidos enquanto alegorias do escravo e do liberto. Vejamos a passagem: – Ainda uma vez, respeitável senhor, cuide um pouco de nós. Foram os homens que descobriram que nós éramos seus tios, senão diretos, por afinidade. Pois, meu caro sobrinho, é tempo de reconstituir a família. Não nos abandone, como no tempo em que os burros eram parceiros dos escravos. Faça o nosso Treze de Maio. Lincoln dos teus maiores, segundo o evangelho de Darwin, expede a proclamação de nossa liberdade!. (1997, 612-613) [grifo do autor]. O burro, no afã de se libertar do sistema que o oprime e o trata como ser irracional, vê a imprensa como mecanismo de denúncia capaz de amenizar os maus tratos que recebe de seu dono, desejando estender tal benefício a todos os seus irmãos. O narrador-cronista, enquanto homem de imprensa, é visto como o Lincoln brasileiro, devido a sua capacidade de, através da escrita, interceder pelos “seus sobrinhos”. A aproximação entre os burros e os escravos é notória, nesta passagem em destaque. Aqueles eram parceiros destes já que ambos serviam ao sistema de produção escravista enquanto mão-de-obra. Ambos eram considerados seres não dotados de inteligência, além de serem destinados ao trabalho pesado capaz de mover a economia agrária brasileira. Àquela altura da narrativa, a liberdade dos cativos já havia sido proclamada, e enquanto parceiros de um mesmo sistema, o burro aguardava o “Treze de Maio” destinado a sua espécie. A fim de ajudar o burro em seu intento reivindicatório, o narrador-cronista orienta o animal a procurar a Gazeta, jornal no qual saíam os seus textos, e no qual Machado de Assis publicou por quase 15 anos. O burro, enquanto pensador do sistema político e social em que vive, encontra uma saída que julga eficaz para diminuir o tratamento desumano que é dispensado a ele e a seus irmãos de sangue: “– (...) não exijo cadeia para os nossos opressores, mas uma pequena multa e custas, creio que serão eficazes. O burro ama só a pele; o homem ama a pele e a bolsa. Dê-lhe na bolsa, talvez a nossa pele padeça menos” (1997, 612). A comparação com a passagem do conto “Pai contra mãe” dá-se de imediato, já que nele o narrador, enquanto rememora a escravidão, comenta os açoites destinados aos negros, em uma passagem, também ela, recheada de um tom sarcástico capaz de revelar os princípios que fundamentavam a lógica escravocrata: Há meio século, os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e mesmo o dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói (1997, 659) [grifo meu]. Tanto a crônica, quanto o conto, revelam o lado prático da ordem escravista: a inutilização de um escravo eqüivalia à inutilização de um bem. Sendo assim, tanto pagar pelas sovas dadas aos burros, quanto ter um cativo impossibilitado de exercer o trabalho são prejuízos que vão de encontro à lógica comercial. Faz-se necessário destacar, apesar de evidente, que a aproximação entre o burro e o escravo, nas duas crônicas referidas, não está calcada em um tom pejorativo capaz de desvalorizar o negro; ao contrário do que ocorria no senso comum, nos discursos favoráveis à escravidão e na literatura de tese, produzida à época. Ao aproximar o burro e o escravo, Machado de Assis reveste aquele de aspectos positivos: o domínio da linguagem, a capacidade de análise, a reflexão social e política, o dom da oratória, a sabedoria – características humanas que confirmam a uma das características da fábula: a personificação. Ao construir a alegoria dos escravos na figura dos burros, o escritor proporciona que o sistema escravocrata seja desvelado pela voz do cativo. Nesta crônica, o escritor Machado de Assis parece seguir a constatação a que chegara, em texto de 1876: “a verdade fala pela boca dos pequeninos” (1997, 349). Nicolau Sevcenko7, em sua apresentação ao livro de Gledson, após apresentar sucintamente o enredo da crônica de 1892, faz a seguinte afirmação: nem a melhor historiografia pôs a questão da Abolição, do destino dos seres humanos egressos da condição servil, dos paradoxos da imigração, da modernização artificiosa e da exclusão social em termos tão dolorosamente crus quanto essa crônica perdida numa página de jornal (2003, 18). O texto machadiano apresenta uma reflexão dos burros acerca das possibilidades de gozarem da liberdade. Nela alguns indícios textuais apontam para uma construção alegórica que toma os animais de tração enquanto representação dos libertos. Sendo assim, é possível entendê-la como uma reflexão dos ex-escravos, acerca da liberdade que lhes havia sido dada, há quatro anos. Assim como há na crônica uma reflexão entre o ser e o parecer, os escravos, livres após 13 de maio de 1888, foram considerados libertos. Mas havia uma grande diferença entre estar livre e ser livre. Ianni, em seu livro Metamorfose do escravo, irá analisar, por um viés sociológico, a transformação do cativo em negro liberto e a difícil aquisição da condição de homem livre, na cidade de Curitiba. Segundo o sociólogo, a cor da pele, configura-se como uma marca que o liberto “transportará consigo do interior da escravidão, como símbolo desta” (1988, 153). Assim, iniciar-se-ia a metamorfose do escravo em negro, quando este, ainda durante a escravidão, recebia a liberdade. Já a metamorfose do negro, ex-cativo, em homem livre, dependia da condição de cidadania que, por sua vez, requeria atributos psicossociais e culturais aos quais o liberto não tinha acesso. Nas duas crônicas mencionadas, os primeiros momentos em que o narrador se depara com os burros falantes é marcado por um tom galhofeiro, de descrença. Na crônica de 1894, às reflexões do burro visitante do jardim do narrador-cronista é dado um certo tom humorístico, o que confere ao texto um ar de brincadeira por parte do escritor. No de 1892, a conversa entre os dois animais de tração chama a atenção do narrador enquanto este pensava a respeito da chegada da modernidade, representada pelos bondes elétricos. Afinal, a crônica é definida pelo escritor como “uma sobremesa”, “um confeito”, mas também como a fusão do “útil e do “fútil”. Estes dois textos não têm só objetivo de informar e entreter, eles principalmente dariam aos leitores de “2a e 3a edição”, para usarmos uma definição machadiana constante em Memórias póstumas de Brás Cubas, a capacidade do pensamento crítico proporcionado pelas reflexões dos burros falantes. Sendo assim, estas fábulas permitem ao escritor manter sob um véu um assunto caro à época: o destino dos libertos. Especialmente na crônica de 16/10/1892, a visão cética do escritor dá a tônica do texto, os escravos, mesmo livres, sem trabalho, estariam entregues ao ócio e à miséria. O olhar à frente do seu tempo permitiu a Machado de Assis vislumbrar o processo de liberdade dos negros de forma crítica, lançado luz sobre um futuro pouco promissor a que estes estariam destinados. Porém, nada disso é feito de forma panfletária, ao contrário, desvendar as intenções do escritor por detrás do narrador torna-se uma tarefa árdua, que requer escolher passagens e interpretá-las com um olhar desconfiado, a fim de trazer à tona o que, por hora, não se encontrava na superfície do texto. A “moral da história” não nos é dada pelo narrador; ela deve ser inferida pelo leitor. Através da leitura dos textos de Machado, podemos perceber que para o escritor a tão esperada liberdade dos cativos só se efetivaria com a mudança das mentalidades responsáveis por orquestrar o andamento do curso da história do país. Segundo Paulo, personagem do romance Esaú e Jacó: “a abolição é a aurora da liberdade, esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o branco.” Só assim, os burros da direita e da esquerda deixariam de ser “bens da companhia” e exerceriam, de fato, a liberdade desejada. Os disfarces do Bruxo do Cosme Velho são muitos e só podem ser desvendados pelas marcas textuais. Enquanto os burros esperam o Treze de Maio, o escritor carioca se detém a refletir, de forma velada, sobre o day after da escravidão brasileira, fazendo uso da literatura como meio marcado pela arte e pela realidade, instrumento capaz de velar e desvelar as marcas históricas do momento vivido. Referências: ARRIGUCCI JR., Davi. “Fragmentos sobre a crônica” In Boletim Bibliográfico Biblioteca Mário de Andrade. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Bibliotecas Públicas, vol. 46 (n.1/4), jan./dez. 1985. DEZOTTI, Maria Celeste Consolin (Org.). A tradição da fábula: de Esopo a La Fontaine. Brasília: Editora da Univesidade de Brasília. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003. IANNI, Octávio. Metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravatura no Brasil meridional. 2 ed. São Paulo: Hucitec; Curitiba: Scientia et Labor, 1988. MACHADO DE ASSIS, J. M. A reforma pelo jornal. O Espelho, Rio de Janeiro, 23 out. 1859. In COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. III. p.963-965. _______. Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro, 1º out. 1876. “História de Quinze Dias”. In In COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. III, p. 349-352. _______. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 14 jul. 1878. “Notas Semanais”. In Obras completas de Machado de Assis. Rio de Janeiro; São Paulo; Porto Alegre: W.M.Jackson Inc. v.III, 1970. p. 78-90. _______. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 04 ago. 1878. “Notas Semanais”. In COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. III, p. 394-398. _______. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 19 mai. 1888. “Bons Dias!”. In GLEDSON, John (Org.). Bons Dias!: crônicas (1888-1889). São Paulo: Hucitec; Unicamp, 1990. p. 62-64. _______. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 16 out. 1892. “A Semana!”. In GLEDSON, John (Org..). A Semana: crônicas (1892-1893). São Paulo: Hucitec, 1996. p. 135-138. _______. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 10 jun. 1894. “A Semana!”. In COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. III, p. 610-613. _______. “Pai contra mãe”. Relíquias de Casa Velha (1906). In Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. II., p. 659-667. _______. Esaú e Jacó (1904). In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. 1, p. 945-1093. SEVCENKO, Nicolau. A ficção capciosa e a história traída. In GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Reflections of two speaking donkeys: what is the moral of the story in this fabled chronicle by Machado de Assis? Abstract: The aim of this article is the analysis of Machado de Assis’ chronicle, published on 16th October 1892, at the column “A Semana” from the newspaper Gazeta de Notícias, in which the dialogue between two donkeys and the fable aspects that the text presents, raises questions related to the recent freedom given to black people in Brazil. In a hidden way, the criticism towards slavery remains is brought alive through the characters’ mouths who, from an “inner” point of view, analyze the late nineteenth century Brazilian society. Keywords: Machado de Assis, chronicle, allegory, criticism of the slavery system. 1* Artigo publicado originalmente em DARANDINA revisteletrônica – Programa de Pós-Graduação em Letras / UFJF – volume 2 – número 2. Disponível em http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/02/artigo10a.pdf , último acesso em 18/04/2011.  Mestre em Teoria da Literatura; Graduada em Letras pela Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Minas Gerais – FALE/UFMG; Professora do CEFET-MG. 2  Optou-se pela utilização da referida crônica que consta na edição publicada por John Gledson, cujas notas auxiliam muito no entendimento do texto. GLEDSON, John (Org..). A Semana: crônicas (1892-1893). São Paulo: Hucitec, 1996. p. 135-138. 3  “Fragmentos sobre a crônica” In Boletim Bibliográfico Biblioteca Mário de Andrade. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Bibliotecas Públicas, vol. 46 (n.1/4), jan./dez. 1985. 4 DEZOTTI, Maria Celeste Consolin (Org.). A tradição da fábula: de Esopo a La Fontaine. Brasília: Editora da Univesidade de Brasília. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003. 5 GLEDSON, John (Org..). A Semana: crônicas (1892-1893). São Paulo: Hucitec, 1996. p. 135-138. 6 Faz-se importante aqui fazermos uma associação entre a passagem destacada e a crônica de 19 de maio de 1888, publicada em “Bons Dias!”. O personagem Pancrácio é agraciado pelo seu senhor com a sua carta de alforria, no dia 07 de maio de 1888, e no dia seguinte continuava a receber deste o mesmo tratamento: pancadas, petelecos, pontapés, puxão de orelhas etc. Agraciado com a liberdade naquela data, no dia seguinte, ele continua a ser escravo, apesar de liberto. 7 SEVCENKO, Nicolau. “A ficção capciosa e a história traída”. In Machado de Assis: ficção e história. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Texto para download literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha - Belo Horizonte/MG - CEP: 31270-901 +55 (31) 3409-6069 literafro@letras.ufmg.br http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/28-critica-de-autores-masculinos/1018-reflexoes-de-dois-burros-falantes-qual-e-a-moral-da-historia-nesta-cronica-fabular-de-machado-de-assis-elisangela-aparecida-lopes ********************************************
*** CRÔNICA: UM CASO DE BURRO - MACHADO DE ASSIS - COM QUESTÕES GABARITADAS Crônica: Um Caso de Burro Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais. Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente que parecia estar próximo do fim. Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que é que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos. Meia dúzia de curiosos tinham parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para esperta-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente. E diria o burro consigo: “Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade.” “Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direito não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regímen, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei.” “A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia no bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim ...” Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam, não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto. Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. Machado de Assis. Entendendo a crônica: 01 – A crônica correspondeu às expectativas levantadas pelo título? Sim, pois realmente se refere a um burro. 02 – Qual é o foco narrativo? O autor é personagem, usa a primeira pessoa ou não se envolve, apenas conta o que aconteceu com os outros? Foco narrativo: primeira pessoa. O autor apenas conta o que aconteceu como burro. 03 – De que se trata a crônica? Trata-se de uma crítica a sociedade da época, usando principalmente a ironia. 04 – Que tipo de comparação o autor faz na crônica? Compara um burro a um ser humano, provavelmente um negro, denunciando os maus tratos sofridos por eles naqueles tempos. 05 – Que ideias e emoções foram despertadas pela leitura? Pena do burro por morrer praticamente abandonado na rua. E esperança que ele sobrevivesse. 06 – Cite o trecho do texto que mostra as condições físicas do burro, depois de já ter sofrido bastante. “Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente que parecia estar próximo do fim.” 07 – Já no terceiro parágrafo, percebemos uma forte ironia do autor. Cite uma destas citações de ironia. “O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos”. 08 – Para o autor, o burro é metáfora de quem ou de que? Metáfora de um ser humano provavelmente um negro, denunciando os maus tratos sofridos por eles naqueles tempos. 09 – Onde é empregada a figura de linguagem Prosopopeia? Exemplifique. Em todos os pensamentos do burro, por exemplo: “Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa”. 10 – Pesquise o significado da expressão que o autor finaliza a crônica: “Requiescat in pace”. Por que ela foi usada? Significa descanse em paz. Porque o burro morreu às junho 15, 2019 Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no Twitter Compartilhar no Facebook Compartilhar com o Pinterest Marcadores: CRÔNICA https://armazemdetexto.blogspot.com/2019/06/cronica-um-caso-de-burro-machado-de.html *********************************************************************************** *** 1:59 / 5:26 A NATUREZA DAS COISAS | Zélia Duncan e Zeca Baleiro 6.435 visualizações31 de jan. de 2021 *** Zélia Duncan 80,7 mil inscritos "A NATUREZA DAS COISAS", por @Zélia Duncan e @Zeca Baleiro no programa SR. BRASIL Exibido em: 03/05/2015 A NATUREZA DAS COISAS (Accioly Neto) Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, coisa boa é namorar Se avexe não Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada Se avexe não Que a lagarta rasteja até o dia em que cria asas Se avexe não Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa Se avexe não Amanhã ela para na porta da sua casa Se avexe não Toda caminhada começa no primeiro passo A natureza não tem pressa, segue seu compasso Inexoravelmente chega lá Se avexe não Observe quem vai subindo a ladeira Seja princesa ou seja lavadeira Pra ir mais alto, vai ter que suar E vamos cantar Quero ouvir todo mundo Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, coisa boa é namorar Agora vocês cantam e eu respondo pra vocês Vamos lá, eu quero ouvir, como é que é? Se avexe não Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada, como é que é? Se avexe não Que a lagarta rasteja até o dia em que cria asas, outra vez Se avexe não Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa, é com vocês Se avexe não Amanhã ela para na porta da sua casa Bem forte, agora eu quero ouvir como é que é Se avexe não Toda caminhada começa no primeiro passo A natureza não tem pressa, segue seu compasso Inexoravelmente chega lá Se avexe não Observe quem vai subindo a ladeira Seja princesa ou seja lavadeira Pra ir mais alto, vai ter que suar, vamos cantar, 'vamo lá Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, xalalalalalalá Ô, coisa boa é namorar https://www.youtube.com/watch?v=69g54oIUUJA FRUSTRAÇÃO  - 
Silva e Luna, de olhos marejados na entrevista a VEJA: ingerências vistas como ameaça à própria biografia -  Ricardo Borges/VEJA ***

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