Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 11 de março de 2021
Vontade de vomitar
Por Mario Sabino
09.03.21 17:44
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Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
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Estou com vontade de vomitar.
É só isso o artigo.
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https://www.oantagonista.com/brasil/vontade-de-vomitar/
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LÁ NO MORRO
AVISTEI-O subindo o morro. Mamãe estava junto ao fogareiro. Corri alarmado para avisá-la: “Papai envém aí”. Ela me espetou os olhos apagados e os lábios se moveram lentamente. Não disse nada. Papai atravessou a porta em silêncio e ao invés de chutar o tamborete arredou-o de leve. Observou-me num relance. Depois olhou mamãe que estava de costas, e deixou-se cair no tamborete. A cabeça pendeu sobre o caixote como se se tivesse desprendido do corpo. Não exalava cachaça, desta vez. Surpreendi-me avançando na sua direção. Parei perto do caixote com as pernas trêmulas, e antes que eu percebesse meus dedos já tocavam o ombro de papai. Mamãe permanecia imóvel junto ao fogareiro, como se esperasse que a mão pesada a atingisse a qualquer momento. Angustiava-me um sentimento doloroso por papai: era como se o estivesse descobrindo sob a camada de violência, e agora ali restasse não apenas meu pai, mas a própria criatura humana na sua dimensão essencial e indestrutível. Olhei para mamãe. E gritei-lhe desesperadamente “Mamãe!” sem que ao menos tivesse necessidade de abrir a boca. Afinal mamãe se voltou com o prato de comida e viu minha mão pousada no ombro de papai. Colocou o prato no caixote, perto da cabeça de papai. Ele continuou quieto, a respiração funda e descompassada. Mamãe acendeu a lamparina, e a claridade arredou as primeiras sombras da tarde para os cantos do cômodo. Em seguida, mamãe preparou a minha marmita e por último o seu prato e ambos nos sentamos, eu no chão e ela no outro tamborete. O arfar intenso de papai doía no silêncio. Olhei mamãe. Mamãe me olhou e disse: – Come. Depois fitou papai, de esguelha, e levou até à boca uma pequena porção de arroz. Mas teve logo que deixar o garfo de lado para conter o acesso de tosse com a mão. Papai então levantou a cabeça, encarou-a com os lábios abertos. Seu rosto estava molhado de suor. Abaixou os olhos para mim, fungando, e deixou a cabeça pender novamente sobre o caixote. Ouvimos passos no quintal. Três homens saltaram dentro do barraco e um deles arrancou a cortina que dividia o cômodo. Antes que o coração me socasse o peito e mamãe imobilizasse o garfo e papai erguesse a cabeça, tiraram-no do tamborete, torcendo-lhe os braços. Papai não tentou reagir, sequer parecia surpreso. Era como se já estivesse esperando aquele momento. Nem ao menos olhou para os homens que o subjugavam. Fitava apenas mamãe, imóvel e fria do outro lado do caixote. Um dos homens levantou o punho e bateu-lhe seguidamente na cara. Com a boca ensangüentada, recebia as pancadas sem tirar os olhos de mamãe. Levaram-no, os braços presos às costas. Os socos continuavam no quintal e eram mais nítidos quando pegavam na cara de papai. As batidas foram-se distanciando. Mamãe estava com a cabeça quase dentro do prato e as lágrimas escorrendo de seu rosto pingavam sobre o resto da comida. A marmita ainda tremia em minhas mãos e eu comecei a vomitar. Wander Piroli – 1952 http://books.google.com.br/books?id=m26oZjgr9tAC&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false *** *** WANDER PIROLI (1931 - / Brasil) *** Jornalista e contista mineiro, Wander Piroli é autor de uma obra pequena porém consistente, que inclui A Mãe e o Filho da Mãe, O Menino e o Pinto do Meninso, Os Rios Morrem de Sede (Prêmio Jabuti em 19777), A Máquina de Fazer Amor. Com o conto Os Camaradas e este Lá no Morro - em que a violência da grande cidade e de suas autoridade policiais é vista pelos olhos de um garoto - ele participou de Contos de Repressão (Ed. Record, 1987), a antologia da abertura política organizada por Fábio Lucas. *** https://mdfranceschi.tumblr.com/post/53133191915 *** *** Cenas da favela: as melhores histórias da periferia brasileira ***
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*** O mundo da favela pelos olhos da literatura nem sempre é o mesmo das páginas de jornal. ***
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https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2021/02/la-no-morro.html
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Quanto a você, da aristocracia,
Que tem dinheiro, mas não compra alegria,
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia.
Noel Rosa Filosofia.
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Canción del día: “Filosofia”. Autor Noel Rosa. Traducción al español Aline R. Fagundes
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Canção Filosofia
O mundo me condena, e ninguém tem pena El mundo me condena, y nadie me tiene pena
Falando sempre mal do meu nome Maldeciendo siempre mi nombre
Deixando de saber se eu vou morrer de sede Dejando de saber si voy a morir de sed
Ou se vou morrer de fome O si voy a morir de hambre
Mas a filosofia hoje me auxilia Pero la filosofía hoy me ayuda
A viver indiferente assim A vivir indiferente, así
Nesta prontidão sem fim En esta prontitud sin fin
Vou fingindo que sou rico Voy fingiendo que soy rico
Pra ninguém zombar de mim Para que nadie se burle de mí
Não me incomodo que você me diga No me incomoda que me digas
Que a sociedade é minha inimiga Que la sociedad es mi enemiga
Pois cantando neste mundo Pues cantando en este mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo Soy esclavo de mi samba, aunque vagabundo
Quanto a você da aristocracia En cuanto la burda aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria Que tiene dinero pero no compra alegría
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente Y vivir eternamente siendo esclavo de esa gente
Que cultiva hipocrisia Que cultiva hipocresía
Português:
Noel de Medeiros Rosa (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910 Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro no “asfalto”, ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época – fato de grande importância, não só o samba, mas a história da música popular brasileira
Espanol:
Noel de Medeiros Rosa (Río de Janeiro, 11 de diciembre de 1910 — Río de Janeiro, 4 de mayo de 19371 ) fue un sambista, cantante, compositor, mandolinista y guitarrista brasileño y uno de los mayores y más importantes artistas de la música de su país.
Fue responsable de la unión de la «samba de morro» y la «samba del asfalto», hecho que cambiaría para siempre no sólo la propia samba, sino la historia de la música popular brasileña
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https://ritmoyletras.com/2013/12/09/cancao-filosofia-autor-noel-rosa/
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Reza a lenda, também, que “Com que roupa”, na sua versão original, seria muito parecido com o hino Nacional.
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https://musicaemprosa.wordpress.com/2019/01/06/com-que-roupa-o-primeiro-sucesso-noel-rosa-e-a-historia-por-tras-da-musica/
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Noel Rosa - Com que roupa (Gilberto Gil)
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Noel Rosa - Com que roupa - 1930
Agora vou mudar minha conduta
Eu vou prá luta,
Pois eu quero me arrumar
Vou tratar você com força bruta,
Prá poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa,
E agora, com que roupa, eu vou,
Pro samba que você me convidou, me convidou
Com que roupa eu vou, com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou?
Seu Português agora deu o fora, foi embora,
E levou seu capital
Esqueceu quem tanto amou outrora
E foi no Adamastor prá Portugal.
Pra se casar com uma cachopa
E agora com que roupa, eu vou,
Pro samba que você me convidou, me convidou
Com que roupa eu vou,
Com que roupa eu vou,
Pro samba que você me convidou.
Agora estou pulando feito um sapo
Pra ver se escapo
Dessa praga de urubu
O meu paletó já virou estopa
Eu vou acabar ficando nu
Pois esta vida não está sopa
E eu não sei mais com que roupa, eu vou
Ao samba que você me convidou, me convidou,
Com que roupa, eu vou, com que roupa eu vou?
Ao samba que você me convidou...
Noel de Medeiros Rosa (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910 — Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937) foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e no "asfalto", ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época - fato de grande importância, não só no samba, mas na história da música popular brasileira
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https://www.youtube.com/watch?v=k6BiMxZZQmA
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