Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 4 de março de 2021
A casa & a rua
Mais atual, impossível.
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Nas entrelinhas: A política como negócio
Publicado em 03/03/2021 - 07:31 Luiz Carlos AzedoCongresso, Ética, Justiça, Literatura, Memória, Política
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O senador Flávio Bolsonaro acaba de comprar uma casa no Setor de Mansões Dom Bosco, um dos mais valorizados da capital, no valor de R$ 5,7 milhões
Max Weber, em sua antológica palestra A política como vocação, divide os políticos em duas categorias: os que vivem para a política e os que vivem da política. No primeiro caso, estão aqueles que veem a política como bem comum; no segundo, como negócio. As duas espécies se digladiam na democracia, faz parte do jogo na ordem capitalista. Mas no Brasil é diferente: todos dizem defender o bem comum, ninguém assume que está na política para defender interesses empresariais. Como temos um pé no Oriente, em razão de nossas raízes ibéricas, muitos estão na política para formar patrimônio.
Parece o caso do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que acaba de comprar uma casa no Setor de Mansões Dom Bosco, um dos mais valorizados da capital, no valor de R$ 5,7 milhões. O imóvel tem área total de 2,4 mil metros quadrados. O registro em cartório da aquisição do imóvel revela que houve o pagamento de R$ 2,87 milhões à vista, além do valor da parcela do financiamento, entre R$ 18,7 mil e R$ 21,5 mil. Para justificar a operação, o filho primogênito do presidente Jair Bolsonaro disse que vendeu um apartamento na Barra da Tijuca (RJ) e a franquia de sua loja de chocolates para dar a entrada no imóvel na capital federal.
Um blogueiro gozador, rapidamente, fez as contas, comparando o valor do imóvel com a quantidade de Nhá Benta (merengue coberto por chocolate), equivalentes aos R$ 6 milhões: 182.370 caixas de 90 gramas, de acordo com os preços da loja virtual da Kopenhagen. O financiamento obtido no Banco de Brasília (BRB) para aquisição do imóvel foi bem camarada. Pelas regras do sistema financeiro habitacional, a prestação não pode ultrapassar 30% da renda bruta. Do valor total do imóvel, R$ 3,1 milhões foram financiados, em 360 parcelas, a uma taxa de juros de balcão efetivos de 4,85% ao ano. No cartório em Brazlândia, onde foi registrada a operação de compra e venda, consta que Flávio Bolsonaro tem renda de R$ 28,3 mil e sua esposa, R$ 8,6 mil.
A notícia da compra do imóvel pegou de surpresa os aliados do presidente Jair Bolsonaro, pois o senador tem direito a apartamento funcional. Logo, repercutiu nas redes sociais, porque o imóvel havia sido anunciado por corretores e havia abundância de imagens em vídeo da mansão na internet (https://youtu.be/TrzNkaBgYE4). Recentemente, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por 4 votos a 1, havia anulado a quebra de sigilo das contas do senador, que é investigado no escândalo das “rachadinhas” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, supostamente, por ter movimentado cerca de R$ 2,3 milhões. De acordo com a denúncia do Ministério Público, o dinheiro teria sido lavado com aplicação em uma loja de chocolates no Rio, da qual o senador era sócio, e em imóveis.
Preconceitos
Para o senso comum, as pessoas ricas poderiam se dedicar inteiramente à política de forma genuína, pois não teriam interesses econômicos nela. As pessoas que vivem da política seriam aquelas que veem na política sua profissão. Essa é uma visão preconceituosa, que não é bem o que Max Weber quis dizer, porque dá margem à ideia de que pessoas ricas estariam mais habilitadas a entrar na política, pois não roubariam, enquanto uma pessoa pobre não poderia fazer o mesmo, pois veria na política um meio de garantir sua vida financeira.
O que Weber quis dizer é que políticos que vivem para a política atuam em defesa do bem comum, não importa se são ricos ou pobres. A remuneração de um parlamentar existe exatamente para permitir que um assalariado possa exercer seu mandato sem pôr em risco a sobrevivência de sua família. De igual maneira, há pessoas que entram na política não porque vão ganhar um alto salário como deputado, por exemplo, mas, sim, porque esse cargo lhe permitirá participar da cúpula do poder, com a possibilidade de tomar decisões que favoreçam um grupo específico ao qual pertence ou ao qual deva favores, o que é legítimo na democracia. Mas também há inúmeros casos de homens ricos que estão na política para fazer seus próprios negócios e que se notabilizaram como políticos corruptos.
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https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-a-politica-como-negocio/
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DISSERTAÇÃO
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Fonte: Platão & Fiorin
LIÇÕES DETEXTO
leitura e redação
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Observe o texto que segue, extraído da obra Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift:
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiro-ministro. O primeiro
é saber, com prudência, como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o
segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo
furioso, contra a corrupção na corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se
valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e
subservientes à vontade e às paixões do amo. Tendo à disposição todos os cargos, conservam-se
no poder esses ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via
de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantem-se contra futuras
prestações de conta e retiram-se da vida pública carregados com os despojos da nação.
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 234-5.
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Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiro-ministro,
aconselha o príncipe discreto a escolhê-lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e
justifica seu conselho.
A primeira característica desse texto é que ele é temático, pois analisa e interpreta a realidade
com termos abstratos (método, prudência, corrupção, discreto, vontade, paixões etc.). Quando se
vale de termos concretos (homem, primeiro-ministro), toma-os em seu valor genérico. Não fala
de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro-ministro, como seria em uma
narração, mas do homem em geral e dos métodos que qualquer homem utiliza para chegar ao
poder.
A segunda característica é que existe transformação de situação no texto (por exemplo, a
mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte, que, quando chegam ao poder,
tornam-se corruptos).
A progressão dos enunciados obedece a uma relação lógica e não cronológica. Um enunciado
é anterior a outro não por causa de uma progressão temporal, mas por causa de uma
concatenação lógica. Assim, o enunciado que diz que o príncipe discreto escolhe o primeiroministro entre os que clamam contra a corrupção na corte é anterior ao que diz que os que
clamam contra a corrupção são mais obsequiosos e subservientes às vontades e às paixões do
amo, porque o segundo é uma explicação para a afirmação contida no primeiro.
Como o texto pretende falar de algo que ele apresenta como uma verdade válida para todos os
homens, em todos os tempos e lugares, constrói-se com o presente em seu valor atemporal.
Todos os verbos do texto estão nesse tempo.
Esse texto é dissertativo. Dissertação é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia
os dados da realidade.
As características do texto dissertativo são:
a) ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático, ou seja, não trata de episódios
ou seres concretos e particularizados, mas de análises e interpretações genéricas válidas para
muitos casos concretos e particulares; opera predominantemente com termos abstratos;
b) como o texto narrativo, mostra ele mudanças de situação;
c) ao contrário do texto narrativo, cuja ordenação é cronológica, ele tem uma ordenação que
obedece às relações lógicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondência,
implicação etc.;
d) já que a dissertação pretende expor verdades gerais válidas para muitos fatos particulares, o
tempo por excelência da dissertação é o presente no seu valor atemporal; admite-se nela ainda
o uso de outros tempos do sistema do presente, a saber, o presente com valor temporal, o
pretérito perfeito e o futuro do presente.
Cabe agora perguntar por que existem estes três tipos básicos de texto, a narração, a descrição
e a dissertação. Cada um deles tem uma função distinta. Os textos narrativos e descritivos são
figurativos. Eles representam o mundo, simulam-no.
A narração mostra mudanças de situação de um ser particular, com os enunciados dispostos
numa progressão temporal, numa relação de anterioridade e de posterioridade. A narração capta
o mundo em sua mudança, no dinamismo de suas transformações.
A descrição expõe propriedades e aspectos de um ser particular (por exemplo, o céu estrelado
numa determinada noite, um rosto sofrido, a hora do rush, um pôr do sol, uma personagem
qualquer) numa relação de simultaneidade; nela não há mudanças. Ela apresenta, então, um ser
tal como é visto num dado momento, fora do dinamismo da mudança.
O texto dissertativo é temático. Explica, analisa, classifica, avalia os seres concretos. Por isso,
sua referência ao mundo faz-se por conceitos amplos, modelos genéricos, muitas vezes
abstraídos do tempo e do espaço. Por isso, embora apareçam nele mudanças de situação, não
têm maior importância as relações de posterioridade e de anterioridade entre os enunciados, mas
as relações lógicas entre eles. O texto dissertativo é mais abstrato que os outros dois, ele explica
os dados concretos da realidade. Por isso, numa dissertação, as referências a casos concretos e particulares, ou seja, narrações ou descrições que aparecem em seu interior, ocorrem apenas
para ilustrar afirmações gerais ou para argumentar a favor delas ou contra elas. A dissertação
fala também de mudanças de estado, mas aborda essas transformações de maneira diferente da
narração. Enquanto a finalidade central desta é relatar mudanças, a daquela é explicar e
interpretar as transformações relatadas. O discurso dissertativo típico é o da ciência, o da
filosofia, o dos editoriais dos jornais etc.
Geralmente se pensa que é só na dissertação que o produtor do texto expressa seu ponto de
vista sobre o objeto posto em discussão. Isso não é verdade. Também na narração e na descrição
estão presentes os pontos de vista de quem elabora o texto. O que é diferente em cada tipo de
texto é o modo como o produtor apresenta seus pontos de vista. Como a dissertação é um texto
temático, os pontos de vista, nela, são explícitos. Na descrição, o ponto de vista é manifestado,
entre outros, pelos aspectos selecionados para serem descritos e pelos termos escolhidos. Nela, o
produtor do texto transmite, por exemplo, uma visão positiva ou negativa do que está sendo
descrito. Vimos na lição anterior, na descrição da pedreira, que, pela seleção das palavras
referentes à pedreira e aos seres humanos, o descritor mostra que o homem está inferiorizado
em relação à natureza. Na narração, um dos meios mais eficientes de manifestar um ponto de
vista é o encadeamento de figuras, a contraposição de percursos figurativos. A Veja SP, de 19 de
outubro de 1994, publicou uma reportagem sobre Celso Russomano, repórter do Aqui e agora e
candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 1994. Depois de narrar episódios que
mostram sua atuação como defensor dos consumidores, conta o seguinte:
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Os burgueses de Calais, escultura de Rodin, de 1895.
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Retrato de Georges Clemenceau, escultura de Rodin, de 1911.
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O pensador, escultura de Rodin, de 1889.
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Três esculturas criadas pelo mesmo artista, cada uma delas caracterizada por diferentes
ênfases na escolha do tema e no tratamento dado a ele. A primeira peça, no alto à esquerda,
representa uma célebre cena da Guerra dos Cem Anos, no século XIV, na qual um grupo de
burgueses de Calais é obrigado a entregar as chaves da cidade ao vitorioso rei inglês. O
caráter dessa obra é eminentemente narrativo. A segunda peça, à esquerda, é um busto do
estadista francês Georges Clemenceau. Do mesmo modo que os retratos na pintura, bustos são
eminentemente descritivos. A terceira peça, reproduzida acima, intitulada O pensador, é uma
das mais conhecidas obras da história da arte. Ao contrário de representar um determinado
homem pensando, procura qualificar a atitude de pensar como o traço definidor do ser
humano, ou seja, procura transmitir uma mensagem de caráter abstrato e generalizante,
característica da dissertação.
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A casa em que mora, na rua Adalívia de Toledo, perto do Palácio dos Bandeirantes, no
Morumbi, é um espinho na sua biografia de bom moço. Construída no estilo dos anos 60, com
abundância de vitrais e de vãos, a casa tem piscina e dois andares. Pela cotação de mercado,
vale 400 000 dólares. Em dezembro do ano passado, Russomano fechou o negócio por 300 000
dólares, com a facilidade de que a proprietária da casa é mãe do segundo marido de sua sogra,
Márcia Torres. O contrato foi assinado por Berenice Ribeiro, cunhada de Márcia e procuradora
da mãe. A dívida deveria ter sido quitada até junho em cinco parcelas. Nesse período, ele pagou
apenas 10 000 dólares e se recusava a discutir o restante até Berenice ameaçar levar o caso à
imprensa.
Russomano deu mais 34 000 dólares e teria ameaçado matar outro irmão de Berenice, José
Carlos, se o caso se tornasse público (p. 18).
Ao contrapor o percurso figurativo do defensor dos consumidores ao do mau pagador e do
homem que faz toda sorte de violência para manter uma imagem pública, o narrador está
manifestando um ponto de vista sobre a personagem.
Não podemos esquecer-nos de que narrações e descrições são textos figurativos e de que por
trás das figuras existe um tema implícito.
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Fachada do Palácio dos Bandeirantes. Fotos divulgação
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A casa em que mora, na rua Adalívia de Toledo, perto do Palácio dos Bandeirantes, no
Morumbi, é um espinho na sua biografia de bom moço. Construída no estilo dos anos 60, com
abundância de vitrais e de vãos, a casa tem piscina e dois andares. Pela cotação de mercado,
vale 400 000 dólares. Em dezembro do ano passado, Russomano fechou o negócio por 300 000
dólares, com a facilidade de que a proprietária da casa é mãe do segundo marido de sua sogra,
Márcia Torres. O contrato foi assinado por Berenice Ribeiro, cunhada de Márcia e procuradora
da mãe. A dívida deveria ter sido quitada até junho em cinco parcelas. Nesse período, ele pagou
apenas 10 000 dólares e se recusava a discutir o restante até Berenice ameaçar levar o caso à
imprensa.
Russomano deu mais 34 000 dólares e teria ameaçado matar outro irmão de Berenice, José
Carlos, se o caso se tornasse público (p. 18).
Ao contrapor o percurso figurativo do defensor dos consumidores ao do mau pagador e do
homem que faz toda sorte de violência para manter uma imagem pública, o narrador está
manifestando um ponto de vista sobre a personagem.
Não podemos esquecer-nos de que narrações e descrições são textos figurativos e de que por
trás das figuras existe um tema implícito.
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TEXTO COMENTADO
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O texto que segue foi retirado da obra Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda:
Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam
diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do
aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua
predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume
relevância tão capital que chega a dispensar, por secundários, por supérfluos, todos os processos
intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.
Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa
amplitude e onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar
esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes
distantes.
O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o
triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, que, no entanto, mede
todas as possibilidades de desperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem
sentido nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte, maior do que o todo.
Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo
trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e,
inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro — audácia,
imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem — tudo, enfim, quanto se
relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.
Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são
enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e
os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e
desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do
trabalhador.
Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975. p. 13.
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http://www.faberj.edu.br/cfb-2015/downloads/biblioteca/portugues_instrumental/Li%C3%A7%C3%B5es%20de%20Texto%20Leitura%20e%20Reda%C3%A7%C3%A3o%20-%20Fiorin%20e%20Plat%C3%A3o.pdf
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A casa e a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil (Português) Capa comum – 5 maio 1997
por Roberto DaMatta (Autor)
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'(...) Interessa-nos, no momento, seu mais recente livro A casa & a rua- espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil, que acaba de ser lançado pela Editora Guanabara, com 178 páginas.
Neste novo estudo, Roberto Da-Matta não se serve de uma antropologia social "bem comportada". Há um ar de irreverência em seus escritos e um estilo mais solto ao tentar compreender as questões escolhidas como objeto de interpretação. Não é um trabalho de fácil leitura. Pelo contrário, exige grande esforço e, em alguns momentos, as interpretações se tornam até complicadas, pois o autor se utiliza de várias metáforas para sustentar algumas de suas teses. Porém, graças à própria mestria de Roberto DaMatta, não há parágrafos ininteligíveis. Urge, isso sim, atenção na leitura para compreender a Idéia do autor e, também, faz-se necessário antes de mais nada, entender o eixo central de interpretação que norteia este estudo.
Em outras palavras, o ensaísta está analisando o Brasil como uma sociedade relacional. Do ponto de vista de Roberto DaMatta, para entender o Brasil, mais importante do que os elementos em oposição, destacam-se a sua conexão, a sua relação, os elos que conjugam os seus elementos. Assim, a interpretação dos temas (espaço, cidadania, mulher e mortes) neste livro reside naquilo que está "entre" as coisas. É a partir dos conectivos e das conjunções que o ensaísta considera o melhor ângulo para ver as oposições, sem desmanchá-las, minimizá-las ou simplesmente tomá-las irredutíveis. Percebe-se, desta forma, o porquê do & no título do livro - A casa & a rua: um elo que permite balizar duas entidades e que, simultaneamente, inverta o seu próprio espaço.
Nesta perspectiva de análise, nota-se que não estão sendo, neste livro, esvaziadas as contradições. Pelo contrário, estão sendo reveladas as suas naturezas, deixando mas clara a maneira com que cada cultura lida com elas. Cumpre observar, também, que "casa" e "rua" neste estudo são categorias sociológicas fundamentais. Não designam apenas espaços geográficos ou coisas físicas comensuráveis. Referem-se, também, a entidades morais, esferas de ação social, domínios culturais institucionalizados, despertando emoções, reações, leis, orações, músicas e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas.
Um ponto muito interessante, em nossa opnião, é o exame de um triângulo ritual bem típico do Brasil, revelando que mito e realidade são, na sua lógica mais profunda, a mesma coisa. O autor vem, há vários anos, estudando três tipos de rito: o da desordem (carnaval); o da ordem (cívicos); e o dos cerimoniais "neutros" (religiosos). A partir deste triângulo percebem-se várias implicações dentro da sociedade brasileira. E é neste quadro que se compreende mais claramente a perspectiva da análise do ensaísta, entendendo o Brasil como uma sociedade relacional. Tal tese fica assaz evidente quando o autor trata da questão da mulher, ao abordar o romance Dom Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado.
A casa & a rua é um trabalho cuja leitura nos foi sumamente gratificante. Mas, como observa Roberto DaMatta, no início de seu estudo, este livro é o mesmo que uma casa. "Nela, se há regras para o anfitrião, há também normas para a visita. E que até mesmo quando não se gosta, se pode dizer isso educadamente e generosamente. Fique à vontade." '
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Fonte: Rev. adm. empres. vol.27 no.4 São Paulo Oct./Dec. 1987
RESENHA BIBLIOGRÁFICA
Sergio Amad Costa
Professor no Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos de Administração da EAESP/FGV
DaMatta, Roberto. A casa & a rua. Rio de Janeiro, Guanabara, 1987, 178 p.
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901987000400012
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