Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quarta-feira, 10 de março de 2021
A sentença roubada
Nil sapientiae odiosus acumine nimio.
Sêneca
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A Carta Roubada
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— O ladrão — disse G... — é o Ministro D..., que se atreve a tudo, tanto o que é digno
como o que é indigno de um homem. O roubo foi cometido de modo não só engenhoso como
ousado. O documento em questão...
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(com a prova em local evidente demais para ser percebida)
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Edgar Allan Poe
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(1809 - 1849) / Estados Unidos)
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Em Paris, justamente depois de escura e tormentosa noite, no outono do ano 18...,
desfrutava eu do duplo luxo da meditação e de um cachimbo feito de espuma-do-mar, em
companhia de meu amigo Auguste Dupin, em sua pequena biblioteca, ou gabinete de leitura,
situado no terceiro andar da Rua Dunôt, 33, Faubourg Saint-Germain. Durante uma hora,
pelo menos, mantínhamos profundo silêncio; cada um de nós, aos olhos de algum observador
casual, teria parecido intensa e exclusivamente ocupado com as volutas de fumaça que
tornavam densa a atmosfera do aposento. Quanto a mim, no entanto, discutia mentalmente
certos tópicos que haviam constituído o assunto da conversa entre nós na primeira parte da
noite. Retiro-me ao caso da Rua Morgue e ao mistério que envolvia o assassínio de Marie
Rogêt. Pareceu-me, pois, quase que uma coincidência, quando a porta de nosso apartamento
se abriu e entrou o nosso velho conhecido, Monsieur G..., delegado de polícia de Paris.
Recebemo-lo com cordialidade, pois havia nele tanto de desprezível como de divertido, e
não o víamos havia já vários anos. Tínhamos estado sentados no escuro e, a entrada do
visitante, Dupin se ergueu para acender a luz, mas sentou-se de novo sem o fazer, depois que
G... nos disse que nos visitava para consultar-nos, ou melhor, para pedir a opinião de meu
amigo sobre alguns casos oficiais que lhe haviam causado grandes transtornos.
— Se se trata de um caso que requer reflexão — disse Dupin —, desistindo de acender
a mecha, será melhor examinado no escuro.
— Esta é outra de suas estranhas idéias — comentou o delegado, que tinha o costume de
'chamar "estranhas" todas as coisas que estavam além de sua compreensão e que, desse modo,
vivia em meio de uma legião inteira de “estranhezas”.
— Exatamente — disse Dupiu, enquanto oferecia um cachimbo ao visitante e empurrava
para junto dele uma confortável poltrona.
— E qual é agora a dificuldade? — perguntei. — Espero que não seja nada que se refira a
assassínios.
— Oh, não! Nada disso! Trata-se, na verdade, de um caso muito simples, e não tenha
dúvida de que podemos resolvê-lo satisfatoriamente. Mas, depois, pensei que Dupin talvez
gostaria de conhecer alguns de seus pormenores, que são bastante estranhos.
— Um caso simples e estranho — comentou Dupin.
— Sim, realmente; mas por outro lado, não é nem uma coisa nem outra. O fato é que todos
nós ficamos muito intrigados, pois, embora tão simples, o caso escapa inteiramente a nossa
compreensão.
— Talvez seja a sua própria simplicidade que os desorienta — disse o meu amigo.
— Ora, que tolice — exclamou o delegado, rindo cordialmente.
— Talvez o mistério seja um pouco simples demais — disse Dupin.
— Oh, Deus do céu! Quem já ouviu tal coisa?
— Um pouco evidente demais.
O delegado de polícia prorrompeu em sonora gargalhada, divertindo-se a valer:
— Oh, Dupin, você ainda acaba por me matar de riso!
— E qual é, afinal de contas, o caso em apreço? — perguntei.
— Pois eu lhes direi — respondeu o delegado, refestelando-se na poltrona, enquanto tirava
longa e meditativa baforada do cachimbo. — Direi tudo em poucas palavras; mas, antes de
começar, permitam-me recomendar que este caso exige o maior sigilo. Perderia,
provavelmente, o lugar que hoje ocupo, se soubessem que eu o confiei a alguém.
— Continue — disse eu.
— Ou não diga nada — acrescentou Dupin.
— Bem. Recebi informações pessoais, de fonte muito elevada, de que certo documento da
máxima importância foi roubado dos aposentos reais. Sabe-se quem foi a pessoa que o
roubou. Quanto a isso, não há a menor dúvida; viram-na apoderar-se dele. Sabe-se, também,
que o documento continua em poder da referida pessoa.
— Como se sabe disso? — indagou Dupin.
— É coisa que se deduz claramente — respondeu o delegado — pela natureza de tal
documento e pelo fato de não terem surgido certas conseqüências que surgiriam incontinente,
se o documento não estivesse ainda em poder do ladrão, isto é, se já houvesse sido utilizado
com o fim que este último se propõe.
— Seja um pouco mais explícito — pedi.
— Bem, atrevo-me a dizer que esse documento dá a quem o possua um certo poder, num
meio em que tal poder é imensamente valioso.
O delegado apreciava muito as tiradas diplomáticas.
— Ainda não entendo bem — disse Dupin.
— Não? Bem. A exibição desse documento a uma terceira pessoa, cujo nome não
mencionarei, comprometeria a honra de uma personalidade da mais alta posição, e tal fato
concede à pessoa que possui o documento ascendência sobre essa personalidade ilustre, cuja
honra e tranqüilidade se acham, assim, ameaçadas.
— Mas essa ascendência — intervim — depende de que o ladrão saiba que a pessoa
roubada o conhece. Quem se atreveria.
— O ladrão — disse G... — é o Ministro D..., que se atreve a tudo, tanto o que é digno
como o que é indigno de um homem. O roubo foi cometido de modo não só engenhoso como
ousado. O documento em questão... uma carta, para sermos francos, foi recebida pela
personalidade roubada quando esta se encontrava a sós em seus aposentos. Quando a lia, foi
subitamente interrompida pela entrada de outra personalidade de elevada posição, de quem
desejava particularmente ocultar a carta. Após tentar às pressas, e em vão, metê-la numa
gaveta, foi obrigada a colocá-la, aberta como estava, sobre uma mesa. O sobrescrito, porém,
estava em cima e o conteúdo, por conseguinte, ficou resguardado. Nesse momento, entra o
Ministro D... Seus olhos de lince percebem imediatamente a carta, e ele reconhece a letra do
sobrescrito, observa a confusão da destinatária e penetra em seu segredo. Depois de tratar de
alguns assuntos, na sua maneira apressada de sempre, tira do bolso uma carta parecida com a
outra em questão, abre-a, finge lê-la e, depois, coloca-a bem ao lado da primeira. Torna a
conversar, durante uns quinze minutos, sobre assuntos públicos. Por fim, ao retirar-se, tira de
cima da mesa a carta que não lhe pertencia. Seu verdadeiro dono viu tudo, certamente, mas
não ousou chamar-lhe a atenção em presença da terceira personagem, que se achava ao seu
lado. O ministro retirou-se, deixando sua carta — uma carta sem importância — sobre a
mesa.
— Aí tem você — disse-me Dupin — exatamente o que seria necessário para tornar
completa tal ascendência: o ladrão sabe que a pessoa roubada o conhece.
— Sim — confirmou o delegado — e o poder conseguido dessa maneira tem sido
empregado, há vários meses, para fins políticos, até um ponto muito perigoso. A pessoa
roubada esta cada dia mais convencida de que é necessário reaver a carta. Mas isso, por certo,
não pode ser feito abertamente. Por fim, levada ao desespero, encarregou-me dessa tarefa.
— Não lhe teria sido possível, creio eu — disse Dupin, em meio a uma perfeita espiral de
fumaça —, escolher ou sequer imaginar um agente mais sagaz.
— Você me lisonjeia — respondeu o delegado —, mas é possível que haja pensado mais
ou menos isso.
— Está claro, como acaba de observar — disse eu —, que a carta se encontra ainda em
poder do ministro, pois é a posse da carta, e não qualquer emprego da mesma, que lhe confere
poder. Se ele a usar, o poder se dissipa.
— Certo — concordou G... — e foi baseado nessa convicção que principiei a agir. Meu
primeiro cuidado foi realizar uma pesquisa completa no hotel em que mora o ministro. A
principal dificuldade reside no fato de ser necessário fazer tal investigação sem que ele saiba.
Além disso preveniram-me do perigo, caso ele venha a suspeitar de nosso propósito.
— Mas — disse eu — o senhor está perfeitamente a par dessas investigações. A polícia
parisiense já fez isso muitas vezes, anteriormente.
— É verdade. Por essa razão, não desesperei. Os hábitos do ministro me proporcionam,
sobretudo, uma grande vantagem. Com freqüência, passa a noite toda fora de casa. Seus
criados não são numerosos. Dormem longe do apartamento de seu amo e, como quase todos
são napolitanos, não é difícil fazer com que se embriaguem. Como sabe, tenho chaves que
podem abrir qualquer aposento ou gabinete em Paris. Durante três meses, não houve uma
noite sequer em que eu não me empenhasse, pessoalmente em esquadrinhar o Hotel D...
Minha honra está em jogo e, para mencionar um grande segredo, a recompensa é enorme. De
modo que não abandonarei as pesquisas enquanto não me convencer inteiramente de que o
ladrão é mais astuto do que eu. Creio haver investigado todos os cantos e esconderijos em
que o papel pudesse estar oculto.
— Mas não seria possível — lembrei — que, embora a carta possa estar em poder do
ministro, como indiscutivelmente está, ele a tenha escondido em outro lugar que sua própria
casa?
— É pouco provável — respondeu Dupin. - A situação atual, particularíssima, dos assuntos
da corte e principalmente as intrigas em que, como se sabe, D... anda envolvido, fazem da
eficácia imediata do documento — da possibilidade de ser apresentado a qualquer momento
— um ponto quase tão importante quanto a sua posse.
— A possibilidade de ser apresentado? — perguntei.
— O que vale dizer, de ser destruído — disse Dupin.
— É certo — observei. — Não há dúvida de que o documento se encontra nos aposentos
do ministro. Quanto a estar consigo próprio, guardado em seus bolsos, é coisa que podemos
considerar como fora da questão.
— De acordo — disse o delegado. Por duas vezes, já fiz com que fosse revistado, sob
minhas próprias vistas, por batedores de carteiras.
— Podia ter evitado todo esse trabalho — comentou Dupin. — D..., creio eu, não é
inteiramente idiota e, assim, deve ter previsto, como coisa corriqueira, essas “revistas”.
— Não é inteiramente tolo — disse G... —, mas é poeta, o que o coloca não muito distante
de um tolo.
— Certo — assentiu Dupin, após longa e pensativa baforada de seu cachimbo —,
embora eu também seja culpado de certos versos.
— Que tal se nos contasse, com pormenores. como se processou a busca? — sugeri.
— Pois bem. Examinamos, demoradamente, todos os cantos. Tenho longa experiência
dessas coisas. Vasculhamos o edifício inteiro, quarto por quarto, dedicando as noites de toda
uma semana a cada um deles. Examinamos, primeiro, os móveis de cada aposento. Abrimos
todas as gavetas possíveis, e presumo que os senhores saibam que, para um agente de polícia
devidamente habilitado, não existem gavetas secretas. Seria um bobalhão aquele que
permitisse que uma gaveta "secreta" escapasse à sua observação numa pesquisa como essa. A
coisa é demasiado simples. Há um certo tamanho — um certo espaço — que se deve levar
em conta em cada escrivaninha. Além disso, dispomos de regras precisas. Nem a
qüinquagésima parte de uma linha nos passaria despercebida. Depois das mesas de trabalho,
examinamos as cadeiras. As almofadas foram submetidas ao teste das agulhas. que os
senhores já me viram empregar. Removemos a parte superior das mesas.
— Para quê?
— As vezes, a parte superior de uma mesa, ou de outro móvel semelhante, é removida pela
pessoa que deseja ocultar um objeto; depois, a perna é escavada, o objeto depositado dentro
da cavidade e a parte superior recolocada em seu lugar. Os pés e a parte superior das colunas
das camas são utilizados para o mesmo fim.
— Mas não se poderia descobrir a parte oca por meio de som? — perguntei.
— De modo algum, se quando o objeto lá colocado for envolto por algodão. Além disso,
em nosso caso, somos obrigados a agir sem fazer barulho.
— Mas o senhor não poderia ter removido. . . não poderia ter examinado, peça por peça,
todos os móveis em que teria sido possível ocultar alguma coisa da maneira a que se referiu.
Uma carta pode ser transformada em minúscula espiral, não muito diferente, em forma e em
volume, de uma agulha grande de costura e, desse modo, pode ser introduzida na travessa de
uma cadeira, por exemplo. Naturalmente, o senhor não desmontou todas as cadeiras, não é
verdade?
— Claro que não. Mas fizemos melhor: examinamos as travessas de todas as cadeiras
existentes no hotel e, também, as juntas de toda a espécie de móveis. Fizemo-lo com a ajuda
de poderoso microscópio. Se houvesse sinais de alterações recentes, não teríamos deixado de
notar imediatamente. Um simples grão de pó de verruma, por exemplo, teria sido tão evidente
como uma maçã. Qualquer alteração na cola — qualquer coisa pouco comum nas junturas —
seria o bastante para chamar-nos a atenção.
— Presumo que examinaram os espelhos, entre as tábuas e os vidros, bem como as camas,
as roupas de cama, as cortinas e os tapetes.
— Naturalmente! E, depois de examinar desse modo, com a máxima minuciosidade, todos
os móveis, passamos a examinar a própria casa. Dividimos toda a sua superfície em
compartimentos, que eram por nós numerados, a fim de que nenhum pudesse ser esquecido.
Depois, vasculhamos os aposentos palmo a palmo, inclusive as duas casas contíguas. E isso
com a ajuda do microscópio, como antes.
— As duas casas contíguas?! — exclamei. — Devem ter tido muito trabalho!
— Tivemos. Mas a recompensa oferecida é, como já disse, muito grande.
— Incluíram também os terrenos dessas casas?
— Todos os terrenos são revestidos de tijolos. Deram-nos, relativamente, pouco
trabalho. Examinamos o musgo existente entre os tijolos, verificamos que não havia nenhuma
alteração.
— Naturalmente, olharam também os papéis de D. . . E os livros da biblioteca?
— Sem dúvida. Abrimos todos os pacotes e embrulhos, e não só abrimos todos os
volumes, mas os folheamos página por página, sem que nos contentássemos com uma
simples sacudida, como é hábito entre alguns de nossos policiais. Medimos também a
espessura de cada encadernação, submetendo cada uma delas ao mais escrupuloso exame
microscópico. Se qualquer encadernação apresentasse sinais de que havia sofrido alteração
recente, tal fato não nos passaria despercebido. Quanto a uns cinco ou seis volumes, recémchegados das mãos do encadernador, foram por nós cuidadosamente examinados, em sentido
longitudinal, por meio de agulha.
— Verificaram os assoalhos, embaixo dos tapetes?
— Sem dúvida. Tiramos todos os tapetes e examinamos as tábuas do assoalho com o
microscópio.
— E o papel das paredes?
— Também.
— Deram uma busca no porão?
— Demos.
— Então — disse eu — os senhores se enganaram, pois a carta não está na casa, como o
senhor supõe.
— Temo que o senhor tenha razão quanto a isso, concordou o delegado. E agora Dupin,
que é que aconselharia fazer?
— Uma nova e completa investigação na casa.
— Isso é inteiramente inútil — replicou G. . . — Não estou tão certo de que respiro como
de que a carta não está no hotel.
— Não tenho melhor conselho para dar-lhe — disse Dupin. — O senhor, naturalmente,
possui uma descrição precisa da carta, não e assim?
— Certamente!
E, aqui, tirando do bolso um memorando, o delegado de polícia pôs-se a ler, em voz alta,
uma descrição minuciosa do aspecto interno e, principalmente, externo do documento
roubado. Logo depois de terminar a leitura, partiu muito mais deprimido do que eu jamais o
vira antes.
Decorrido cerca de um mês, fez-nos outra visita, e encontrou-nos entregues à mesma
ocupação que na vez anterior. Apanhou um cachimbo e uma poltrona e passou a conversar
sobre assuntos corriqueiros. Por fim, perguntei:
— Então, Monsieur G. . . , que nos diz da carta roubada? Suponho que se convenceu,
afinal, de que não é coisa simples ser mais astuto que o ministro.
— Que o diabo carregue o ministro! — exclamou.
Sim, realizei, apesar de tudo, um novo exame, como Dupin sugeriu. Mas trabalho perdido,
como eu sabia que seria.
— Qual foi a recompensa oferecida, a que se referiu? — indagou Dupin.
— Ora, uma recompensa muito grande . . . muito generosa. . . Mas não me agrada dizer
quanto, precisamente. Direi, no entanto, que não me importaria de dar, de meu cheque
cinqüenta mil francos a quem conseguisse obter essa carta. A verdade é que ela se torna, a
cada dia que passa, mais importante. . . e a recompensa foi, ultimamente, dobrada. Mas,
mesmo que fosse triplicada, eu não poderia fazer mais do que já fiz.
— Pois sim — disse Dupin, arrastando as palavras, entre as baforadas de seu cachimbo de
espuma —, realmente. Parece-me. . . no entanto. . . G. . . que não se esforçou ao máximo
quanto a este assunto. . . Creio que poderia fazer um pouco mais, bem?
— Como? De que maneira?
— Ora (baforada), poderia (baforada) fazer uma consulta sobre este assunto, hein?
(baforada). Lembra-se da história que se conta a respeito de Abernethy?
— Não. Que vá para o diabo Abernethy!
— Sim, que vá para o diabo e seja bem recebido! Mas, certa vez, um avarento rico
concebeu a idéia de obter de graça uma consulta de Ahernethy. Com tal fim, durante uma
conversa entre um grupo de amigos, insinuou o seu caso ao médico, como se se tratasse do
caso de um indivíduo imaginário.
— “Suponhamos” — disse o avaro — que seus sintomas sejam tais e tais. Nesse caso, que
é que o doutor lhe aconselharia tomar?"
— ”Tomar! Aconselharia, claro, que tomasse um conselho."
— Mas — disse o delegado, um tanto desconcertado — estou inteiramente disposto a
ouvir um conselho e a pagar por ele. Daria, realmente, cinqüenta mil francos a quem quer que
me ajudasse nesse assunto.
— Nesse caso — respondeu Dupin, abrindo uma gaveta e retirando um livro de cheques
— pode encher um cheque nessa quantia. Quando o houver assinado, eu lhe entregarei
a carta.
Fiquei perplexo. O delegado parecia fulminado por um raio. Durante alguns minutos,
permaneceu mudo e imóvel, olhando, incrédulo e boquiaberto, o meu amigo, com os olhos
quase a saltar-lhe das órbitas. Depois, parecendo voltar, de certo modo, a si, apanhou uma
caneta e, após várias pausas e olhares vagos, preencheu, finalmente, um cheque de cinqüenta
mil francos, entregando-o, por cima da mesa, a Dupin. Este o examinou cuidadosamente e o
colocou na carteira; depois, abrindo uma escrivaninha, tirou dela uma carta e entregou-a ao
delegado de polícia. O funcionário apanhou-a tomado como que de um espasmo de alegria.
abriu-a com mãos trêmulas, lançou rápido olhar ao seu conteúdo e, depois, agarrando a porta
e lutando por abri-la, precipitou-se, por fim, sem a menor cerimônia, para fora do
apartamento e da casa, sem proferir uma única palavra desde o momento em que Dupin lhe
pediu para preencher o cheque.
Depois de sua partida, meu amigo entrou em algumas explicações.
— A polícia parisiense — disse ele — é extremamente hábil á sua maneira. Seus agentes
são perseverantes, engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos conhecimentos que seus
deveres parecem exigir de modo especial. Assim, quando G . . . nos contou,
pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas pesquisas no Hotel D . . ., não tive
dúvida de que efetuara uma investigação satisfatória . . . até o ponto a que chegou o seu
trabalho.
— Até o ponto a que chegou o seu trabalho? — perguntei.
— Sim — respondeu Dupin. — As medidas adotadas não foram apenas as melhores que
poderiam ser tomadas, mas realizadas com absoluta perfeição. Se a carta estivesse depositada
dentro do raio de suas investigações, esses rapazes, sem dúvida, a teriam encontrado.
Ri, simplesmente — mas ele parecia haver dito tudo aquilo com a máxima seriedade.
— As medidas, pois — prosseguiu —, eram boas em seu gênero, e foram bem executadas:
seu defeito residia em serem inaplicáveis ao caso e ao homem em questão. Um certo conjunto
de recursos altamente engenhosos é, para o delegado, uma espécie de leito de Procusto, ao
qual procura adaptar à força todos os seus planos. Mas, no caso em apreço, cometeu uma
série de erros, por ser demasiado profundo ou demasiado superficial, e muitos colegiais
raciocinam melhor do que ele. Conheci um garotinho de oito anos cujo êxito como
adivinhador, no jogo de "par ou ímpar", despertava a admiração de todos. Este jogo é simples
e se joga com bolinhas de vidro. Um dos participantes fecha na mão algumas bolinhas e
pergunta ao outro se o número é par ou ímpar. Se o companheiro acerta, ganha uma bolinha;
se erra, perde uma. O menino a que me refiro ganhou todas as bolinhas de vidro da escola.
Naturalmente, tinha um sistema de adivinhação que consistia na simples observação e no
cálculo da astúcia de seus oponentes. Suponhamos, por exemplo, que seu adversário fosse um
bobalhão que, fechando a mão, lhe perguntasse: "Par ou ímpar?" Nosso garoto responderia
"ímpar", e perderia; mas, na segunda vez, ganharia, pois diria com os seus botões: "Este
bobalhão tirou par na primeira vez, e sua astúcia é apenas suficiente para que apresente um
número ímpar na segunda vez. Direi, pois, ímpar". Diz ímpar e ganha. Ora, com um
simplório um pouco menos tolo que o primeiro, ele teria raciocinado assim: "Este sujeito viu
que, na primeira vez, eu disse ímpar e, na segunda, proporá a si mesmo, levado por um
impulso a variar de ímpar para par, como fez o primeiro simplório; mas, pensando melhor,
acha que essa variação é demasiado simples, e, finalmente, resolve-se a favor do par, como
antes. Eu, por conseguinte, direi par”. E diz par, e ganha. Pois bem. Esse sistema de
raciocínio de nosso colegial, que seus companheiros chamavam sorte, o que era, em última
análise?
— Simplesmente — respondi — uma identificação do intelecto do nosso raciocinador
com o do seu oponente.
— De fato — assentiu Dupin — e, quando perguntei ao menino de que modo efetuava
essa perfeita identificação, na qual residia o teu êxito, recebi a seguinte resposta:
"Quando quero saber até que ponto alguém é inteligente, estúpido, bom ou mau, ou quais são
os seus pensamentos no momento, modelo a expressão de meu rosto, tão exatamente quanto
possível, de acordo com a expressão da referida pessoa e, depois, espero para ver quais os
sentimentos ou pensamentos que surgem em meu cérebro ou em meu coração, para combinar
ou corresponder à expressão”. Essa resposta do pequeno colegial supera em muito toda a
profundidade espúria atribuída a Rochefoucauld, La Bougive, Maquiavel e Campanella.
— E a identificação — acrescentei — do intelecto do raciocinador com o de seu
oponente depende, se é que o compreendo bem, da exatidão com que o intelecto deste último
é medido.
— Em sua avaliação prática, depende disso — confirmou Dupin. — E, se o delegado e
toda a sua corte têm cometido tantos enganos, isso se deve, primeiro, a uma falha nessa
identificação e, segundo, a uma apreciação inexata, ou melhor, a uma não apreciação da
inteligência daqueles com quem se metem. Consideram engenhosas apenas as suas próprias
idéias e, ao procurar alguma coisa que se ache escondida, não pensam senão nos meios que
eles próprios teriam empregado para escondê-la. Estão certos apenas num ponto: naquele em
que sua engenhosidade representa fielmente a da massa; mas, quando a astúcia do mal-feitor
é diferente da deles, o malfeitor, naturalmente, os engana. Isso sempre acontece quando a
astúcia deste último está acima da deles e, muito freqüentemente, quando está abaixo. Não
variam seu sistema de investigação; na melhor das hipóteses, quando são instigados por
algum caso insólito, ou por alguma recompensa extraordinária, ampliam ou exageram os seus
modos de agir habituais, sem que se afastem, no entanto, de seus princípios. No caso de D. . .,
por exemplo, que fizeram para mudar sua maneira de agir? Que são todas essas perfurações,
essas buscas, essas sondagens, esses exames de microscópio, essa divisão da superfície do
edifício em polegadas quadradas, devidamente anotadas? Que é tudo isso senão exagero na
aplicação de um desses princípios de investigação baseados sobre uma ordem de idéias
referentes à esperteza humana, à qual o delegado se habituou durante os longos anos de
exercício de suas funções? Não vê você que ele considera como coisa assente o fato de que
todos os homens que procuram esconder uma carta utilizam, se não precisamente um orifício
feito a verruma na perna de uma cadeira, pelo menos alguma cavidade, algum canto escuro
sugerido pela mesma ordem de idéias que levaria um homem a furar a perna de uma cadeira?
E não vê também que tais esconderijos tão recherchés só são empregados em ocasiões
ordinárias e por inteligências comuns? Porque, em todos os casos de objetos escondidos, essa
maneira recherché de ocultar-se um objeto é, desde o primeiro momento, presumível e
presumida — e, assim, sua descoberta não depende, de modo algum, da perspicácia, mas sim
do simples cuidado, da paciência e da determinação dos que procuram. Mas, quando se trata
de um caso importante — ou de um caso que, pela recompensa oferecida, seja assim
encarado pela polícia — jamais essas qualidades deixaram de ser postas em ação. Você
compreenderá, agora, o que eu queria dizer ao afirmar que, se a carta roubada tivesse sido
escondida dentro do raio de investigação do nosso delegado — ou, em outras palavras, se o
princípio inspirador estivesse compreendido nos princípios do delegado —, sua descoberta
seria uma questão inteiramente fora de dúvida. Este funcionário, porém, se enganou por
completo, e a fonte remota de seu fracasso reside na suposição de que o ministro é um idiota,
pois adquiriu renome de poeta. Segundo o delegado, todos os poetas são idiotas — e, neste
caso, ele é apenas culpado de uma non distributio medii, ao inferir que todos os poetas são
idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei que são dois irmãos, e que ambos
adquiriram renome nas letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo
diferencial. É um matemático, e não um poeta.
— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as coisas. Como poeta e matemático,
raciocinaria bem; como mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria, assim, à
mercê do delegado.
— Você me surpreende — respondi — com essas opiniões, que têm sido desmentidas pela
voz do mundo. Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, idéias amadurecidas durante
tantos séculos. A razão matemática é há muito considerada como a razão par excellence.
— “Il y a à parier” — replicou Dupin, citando Chamfort — “que toute idée publique, toute
convention reçue, est une sottise, car elle a convenu au plus grande nombre.” Os
matemáticos, concordo, fizeram tudo o que lhes foi possível para propagar o erro popular a
que você alude, e que, por ter sido promulgado como verdade, não deixa de ser erro. Como
uma arte digna de melhor causa, ensinaram-nos a aplicar o termo "análise" às operações
algébricas. Os franceses são os culpados originários desse engano particular, mas, se um
termo possui alguma importância — se as palavras derivam seu valor de sua aplicabilidade
—, então análise poderá significar algebra, do mesmo modo que, em latim, ambitus significa
ambição, religio, religião, ou homines honesti um grupo de homens honrados.
— Vejo que você vai entrar em choque com alguns algebristas de Paris — disse-lhe eu. —
Mas prossiga.
— Impugno a validez e, por conseguinte, o valor de uma razão cultivada por meio de
qualquer forma especial que não seja a lógica abstrata. Impugno, de modo particular, o
raciocínio produzido pelo estudo das matemáticas. As matemáticas são a ciência da forma e
da quantidade; o raciocínio matemático não é mais do que a simples lógica aplicada à
observação da forma e da quantidade. O grande erro consiste em supor-se que até mesmo as
verdades daquilo que se chama álgebra pura são verdades abstratas ou gerais. E esse erro é
tão grande, que fico perplexo diante da unanimidade com que foi recebido. Os axiomas
matemáticos não são axiomas de uma verdade geral. O que é verdade com respeito à relação
— de forma ou quantidade — é, com freqüência grandemente falso quanto ao que respeita à
moral, por exemplo. Nesta última ciência, não é, com freqüência, verdade que a soma das
partes seja igual ao todo. Na química, também falha o axioma. Na apreciação da força motriz,
também falha, visto que dois motores, cada qual de determinada potência, não possuem
necessariamente, quando associados, uma potência igual à soma de suas duas potências
tornadas separadamente. Há numerosas outras verdades matemáticas que são somente
verdades dentro dos limites da relação. Mas o matemático argumenta, por hábito, partindo de
suas verdades finitas, como se estas fossem de uma aplicabilidade absoluta e geral — como o
mundo, na verdade, imagina que sejam. Bryant, em sua eruditíssima Mitologia, refere-se a
uma fonte análoga de erro, ao dizer que, "embora ninguém acredite nas fábulas do
paganismo, nós, com freqüência, esquecemos isso, até o ponto de fazer inferência partindo
delas, como se fossem realidades vivas". Entre os algebristas, porém, que são, também eles,
pagãos as "fábulas pagãs" merecem crédito, e tais inferências são feitas não tanto devido a
lapsos de memória, mas devido a um incompreensível transtorno em seus cérebros. Em suma,
não encontrei jamais um matemático puro cm quem pudesse ter confiança, fora de suas raízes
e de suas equações; não conheci um único sequer que não tivesse como artigo de fé que x
2 +
px é absoluta e incondicionalmente igual a q. Se quiser fazer uma experiência, diga a um
desses senhores que você acredita que possa haver casos em que x
2+ px não seja
absolutamente igual a q, e, logo depois de ter-lhe feito compreender o que você quer dizer
com isso, fuja de suas vistas o mais rapidamente possível, pois ele, sem dúvida, procurará
dar-lhe uma surra.
— O que quero dizer — continuou Dupin, enquanto eu não fazia senão rir-me destas
últimas observações — é que, se o ministro não fosse mais do que um matemático, o
delegado de polícia não teria tido necessidade de dar-me este cheque. Eu o conhecia, porém,
como matemático e poeta, e adaptei a essa sua capacidade as medidas por mim tomadas,
levando em conta as circunstâncias em que ele se achava colocado. Conhecia-o, também, não
só como homem da corte, mas, ainda, como intrigante ousado. Tal homem, pensei, não
poderia ignorar a maneira habitual de agir da polícia. Devia ter previsto — e os
acontecimentos demonstraram que, de fato, previra — os assédios disfarçados a que estaria
sujeito. Devia também ter previsto, refleti, as investigações secretas efetuadas em seu apartamento. Suas freqüentes ausências de casa, à noite, consideradas pelo delegado de polícia
como coisa que viria contribuir, sem dúvida, para o êxito de sua empresa, eu as encarei
apenas como astúcia, para que a polícia tivesse oportunidade de realizar urna busca completa
em seu apartamento e convencer-se, o mais cedo possível, como de fato aconteceu, de que a
carta não estava lá. Pareceu-me, também, que toda essa série de idéias referentes aos
princípios invariáveis da ação policial nos casos de objetos escondidos, e que tive certa
dificuldade, há pouco, para explicar-lhe, pareceu-me que toda essa série de idéias deveria,
necessariamente, ter passado pelo espírito do ministro. Isso o levaria, imperativamente. a
desdenhar todos os esconderijos habituais. Não poderia ser tão ingênuo que deixasse de ver
que os lugares mais intrincados e remotos de seu hotel seriam tão visíveis como um armário
para os olhos, as pesquisas, as verrumas e os microscópios do delegado. Percebi, em suma,
que ele seria levado, instintivamente, a agir com simplicidade, se não fosse conduzido a isso
por simples deliberação. Você talvez se recorde com que gargalhadas desesperadas o
delegado acolheu, em nossa primeira entrevista, a minha sugestão de que era bem possível
que esse mistério o perturbasse tanto devido ao fato de ser demasiado evidente.
— Sim, lembro-me bem de como ele se divertiu. Pensei mesmo que ele iria ter convulsões
de tanto rir.
— O mundo material — prosseguiu Dupin — contém muitas analogias estritas com o
imaterial e, desse modo, um certo matiz de verdade foi dado ao dogma retórico, a fim de que
a metáfora, ou símile, pudesse dar vigor a um argumento, bem como embelezar uma
descrição. O princípio da vis inertiae, por exemplo, parece ser idêntico tanto na física como
na metafísica. Não é menos certo quanto ao que se refere à primeira, que um corpo volumoso
se põe em movimento com mais dificuldade do que um pequeno, e que o seu momentum
subseqüente está em proporção com essa dificuldade, e que, quanto à segunda, os intelectos
de maior capacidade, conquanto mais potentes, mais constantes e mais acidentados em seus
movimentos do que os de grau inferior, são, não obstante, mais lentos, mais embaraçados e
cheios de hesitação ao iniciar seus passos. Mais ainda: você já notou quais são os anúncios,
nas portas das lojas, que mais atraem a atenção?
— Jamais pensei no assunto — respondi.
— Há um jogo de enigmas — replicou ele — que se faz sobre um mapa. Um dos jogadores
pede ao outro que encontre determinada palavra — um nome de cidade, rio, Estado ou
império —, qualquer palavra, em suma, compreendida na extensão variegada e intrincada do
mapa. Um novato no jogo geralmente procura embaraçar seus adversários indicando nomes
impressos com as letras menores; mas os acostumados ao jogo escolhem palavras que se
estendem, em caracteres grandes, de um lado a outro do mapa. Estes últimos, como acontece
com os cartazes excessivamente grandes existentes nas ruas, escapam à observação
justamente por serem demasiado evidentes, e aqui o esquecimento material é precisamente
análogo à desatenção moral que faz com que o intelecto deixe passar despercebidas
considerações demasiado palpáveis, demasiado patentes. Mas esse é um ponto, ao que parece,
que fica um tanto acima ou um pouco abaixo da compreensão do delegado. Ele jantais achou
provável, ou possível, que o ministro houvesse depositado a carta bem debaixo do nariz de
toda a gente a fim de evitar que alguma daquela gente a descobrisse.
— Mas, quanto mais refletia eu sobre a temerária, arrojada e brilhante idéia de D. . .
pensando no fato de que ele devia ter sempre esse documento à mão, se é que pretendia
empregá-lo com êxito e, ainda, na evidência decisiva conseguida pelo delegado de que a carta
não se achava escondida dentro dos limites de uma investigação ordinária, tanto mais me
convencia de que, para ocultá-la, o ministro lançara mão do compreensível e sagaz
expediente de não tentar escondê-la de modo algum.
"Convencido disso, muni-me de óculos verdes e, uma bela manhã, como se o fizesse por
simples acaso, procurei o ministro em seu apartamento. Encontrei D. . . em casa, bocejando,
vadiando e perdendo tempo como sempre, e pretendendo estar tomado do mais profundo
ennui. Ele é, talvez, o homem mais enérgico que existe, mas isso unicamente quando
ninguém o vê.
"Para estar de acordo com o seu estado de espírito, queixei-me de minha vista fraca e
lamentei a necessidade de usar óculos, através dos quais examinava, com a máxima atenção e
minuciosidade, o apartamento, enquanto fingia estar atento unicamente á conversa.
"Prestei atenção especial a uma ampla mesa, junto à qual ele estava sentado e onde se
viam, em confusão, várias cartas e outros papéis bem como um ou dois instrumentos musicais
e alguns livros. Depois de longo e meticuloso exame, vi que ali nada existia que despertasse,
particularmente, qualquer suspeita.
"Por fim, meus olhos, ao percorrer o aposento, depararam com um vistoso porta-cartas de
papelão filigranado, dependurado de uma desbotada fita azul, presa bem nomeio do consolo
da lareira. Nesse porta-cartas, que tinha três ou quatro divisões, havia cinco ou seis cartões de
visita e uma carta solitária. Esta última estava muito suja e amarrotada e quase rasgada ao
meio, come se alguém, num primeiro impulso, houvesse pensado em inutilizá-la como coisa
sem importância, mas, depois, mudado de opinião. Tinha um grande selo negro, com a inicial
“D” bastante visível, e era endereçada, numa letra diminuta e feminina, ao próprio ministro.
Estava enfiada, de maneira descuidada e, ao que parecia, até mesmo desdenhosa, numa das
divisões superiores do porta-cartas.
"Mal lancei os olhos sobre a carta, concluí que era aquela que eu procurava. Era, na
verdade, sob todos os aspectos, radicalmente diferente da que o delegado nos descrevera de
maneira tão minuciosa. Na que ali estava. o selo era negro e a inicial um "D" na carta
roubada, o selo era vermelho e tinha as armas ducais da família S...
Aqui, o endereço do ministro fora traçado com letra feminina muito pequena; na outra, o
sobrescrito, dirigido a certa personalidade real, era acentuadamente ousado e incisivo.
Somente no tamanho havia uma certa correspondência. Mas, por outro lado, a grande
diferença entre ambas as cartas, a sujeira, o papel manchado e rasgado, tão em desacordo
com os verdadeiros hábitos de D. . ., e que revelavam o propósito de dar a quem a visse a
idéia de que se tratava de um documento sem valor, tudo isso, aliado á colocação bem visível
do documento, que o punha diante dos olhos de qualquer visitante, ajustando-se perfeitamente às minhas conclusões anteriores, tudo isso, repito, corroborava decididamente as
suspeitas de alguém que, como eu, para lá me dirigira com a intenção de suspeitar.
"Prolonguei minha visita tanto quanto possível e, enquanto mantinha animada conversa
com o ministro, sobre um tema que sabia não deixara jamais de interessá-lo e entusiasmá-lo,
conservei a atenção presa á carta. Durante esse exame, guardei na memória o aspecto exterior
e a disposição dos papéis no porta-cartas, chegando, por fim, a uma descoberta que dissipou
por completo qualquer dúvida que eu ainda pudesse ter. Ao observar atentamente as bordas
do papel, verifiquei que as mesmas estavam mais estragadas do que parecia necessário,
Apresentavam o aspecto irregular que se nota quando um papel duro, depois de haver sido
dobrado e prensado numa dobradeira, é dobrado novamente em sentido contrário, embora
isso seja feito sobre as mesmas dobras que constituíam o seu formato anterior. Bastou-me
essa descoberta. Era evidente para mim que a carta fora dobrada ao contrário, como uma luva
que se vira no avesso, sobrescrita de novo e novamente lacrada. Despedi-me do ministro e sai
incontinente, deixando uma tabaqueira de ouro sobre a mesa.
"Na manhã seguinte, voltei à procura de minha tabaqueira, ocasião em que reiniciamos,
com bastante vivacidade, a conversa do dia anterior. Enquanto palestrávamos, ouvimos forte
detonação de arma de fogo bem defronte do Hotel, seguida de uma série de gritos horríveis e
do vozerio de uma multidão. D. . . precipitou-se em direção da janela, abriu-a e olhou para
baixo. Entrementes, aproximei-me do porta-cartas, apanhei o documento, meti-o no bolso e o
substituí por um fac-símile (quanto ao que se referia ao aspecto exterior) preparado
cuidadosamente em minha casa, imitando facilmente a inicial "D" por meio de um elo feito
de miolo de pão.
"O alvoroço que se verificara na rua fora causado pelo procedimento insensato de um
homem armado de mosquete. Disparara-o entre uma multidão de mulheres e crianças. Mas,
como a arma não estava carregada senão com pólvora seca, o indivíduo foi tomado por
bêbado ou lunático, e permitiram-lhe que seguisse seu caminho. Depois que o homem se foi,
D. . .retirou-se da janela da qual eu também me aproximara logo após conseguir a carta.
Decorrido um instante, despedi-me dele. O pretenso lunático era um homem que estava a
meu serviço."
— Mas o que pretendia você — perguntei — ao substituir a carta por um fac-símile?
Não teria sido melhor, logo na primeira visita, tê-la apanhado de uma vez e ido embora?
— D. . . — respondeu Dupin — é homem decidido de grande coragem. Além disso,
existem, em seu hotel, criados fiéis aos seus interesses. Tivesse eu feito o que você sugere,
talvez não conseguisse sair vivo de sua presença "ministerial". A boa gente de Paris não
ouviria mais notícias minhas. Mas, à parte estas considerações, eu tinha um fim em vista.
Você sabe quais são minhas simpatias políticas. Nesse assunto, ajo como partidário da
senhora em apreço. Durante dezoito meses, o ministro a teve à sua mercê. Agora, é ela quem
o tem a ele, já que ele ignora que a carta já não está em seu poder e continuará a agir como se
ainda a possuísse. Desse modo, encaminha-se, inevitavelmente, sem o saber, rumo à sua
própria ruína política. Sua queda será tão precipitada quanto desastrada. Está bem que se fale
do facilis descensus Averni, mas em toda a espécie de ascenção, como dizia Catalani em seus
cantos, é muito mais fácil subir que descer. No presente caso, não tenho simpatia alguma — e
nem sequer piedade — por aquele que desce. És esse monstrum horrendum — o homem
genial sem princípios. Confesso, porém, que gostaria de conhecer o caráter exato de seus
pensamentos quando, ao ser desafiado por aquela a quem o delegado se refere como "uma
certa pessoa", resolva abrir o papel que deixei em seu porta-cartas.
— Como! Você colocou lá alguma coisa particular?
— Ora, não seria inteiramente correto deixar o interior em branco. . . Seria uma ofensa.
Certa vez, em Viena, D. . . me pregou uma peça, e eu lhe disse, bem-humorado, que não me
esqueceria daquilo. De modo que, como sabia que ele iria sentir certa curiosidade sobre a
identidade da pessoa que o sobrepujara em astúcia, achei que seria uma pena deixar de darlhe um indício. Ele conhece bem minha letra e, assim, apenas copiei, no meio da tolha em
branco, o seguinte:
... un dessein si funeste,
s’il n’est digne d’Artrée, est digne de Thyest.
São palavras que podem ser encontradas em Ar trée, de Crébillon.
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file:///C:/Users/TEMP.DESKTOP-OC95VG1.008/Downloads/Poe%20CARTA%20ROUBADA.pdf
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Sabedoria, esperteza e seriedade
Nil sapientiae odiosius acumine nimio.
Sêneca, citado no conto “A Carta Roubada”, de Edgar Alan Poe.
Esta frase sempre foi por nos traduzida como: “Nada é mais odioso à sabedoria que um exagerado rigor.”
Mas no livro “A carta roubada e outras histórias de crime & mistério, da editora L&M, tradução de William Lagos, editado em 2003, a mesma frase é traduzida como:
“Nada é tão prejudicial à sabedoria como a excessiva sagacidade”.
Esta tradução contém um erro e um acerto. O erro é traduzir odiosius por prejudicial. Em latin, odiosius significa odioso, desagradável, importuno, doloroso, funesto. Fica melhor como estava antes, “Nada é mais odioso `a sabedoria...”.
O acerto é a tradução de acumine por sagacidade. Em latim, acúmen é ponta, aguilhão, penetração ou agudeza de espírito, vivacidade ou sutileza. Por sua vez acúmino é tornar agudo, aguçar.
Já nimio é muito, demasiadamente, excessivamente.
Assim, julgo adequada a tradução “Nada é tão odioso à sabedoria como a excessiva sagacidade”. Esta tradução nos permite pensar que sagacidade aqui possa se associar a esperteza, a tentar ser mais esperto que o mais esperto.
Certa vez um amigo, ao estacionar o carro para ir ao teatro, propôs a uma criança, que pediu para tomar conta, que se ela conseguisse uma calota igual à que ele tinha perdido lhe daria 10 reais. Ao sair da peça vê sua roda com a calota, fica todo feliz, dá o dinheiro ao menino e vai embora pra casa. Em casa, ao dar a volta no veículo, para apagar a luz da garagem, percebe que a criança havia tirado a calota de um dos lados do carro e passado para o outro lado.
Meu amigo, espertinho demais que queria ser, encontrou um menino bem mais espertinho que ele.
Contudo, o termo "exagerado rigor", como era traduzido, é interessante ao associar a frase à seriedade. "Nada é tão odioso à sabedoria como o excessivo rigor" nos permite inferir que a seriedade excessiva nos distancia da sabedoria, do saber viver com gosto e sabor, nos tira a flexibilidade, o humor e a graça, que tanto podem nos ensinar.
Enfim, talvez a tradução devesse mesmo é ficar ao gosto e necessidade de cada qual.
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http://blogdonello.blogspot.com/2012/10/sabedoria-esperteza-e-seriedade.html#:~:text=Nil%20sapientiae%20odiosius%20acumine%20nimio,sabedoria%20que%20um%20exagerado%20rigor.%E2%80%9D&text=O%20acerto%20%C3%A9%20a%20tradu%C3%A7%C3%A3o%20de%20acumine%20por%20sagacidade.
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A sentença roubada:
o Sêneca de PoePaulo Butti de Lima
Professor da Universidade de BariTESTE
DISCURSO 41
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A carta roubada (The Purloined Letter), de Edgar Allan Poe, tem como epígrafe uma máxima atribuída a Sêneca: Nil sapientiae odiosius acumine nimio1. Frase que não é atestada nas obras autên-ticas do filósofo ou naquelas transmitidas erroneamente sob seu nome. A figura e o nome de Sêneca “atraíram”, por longo tem-po, considerações morais ou de sabedoria. Há vários exemplos, desde a Antiguidade, de escritores cujas obras foram ampliadas continuamente nesse processo de atribuição, graças ao fascínio exercido pelo autor e pela sua autoridade. Porém, a sentença atri-buída a Sêneca por Poe não está sequer presente nessas emendas e incrustações que às vezes assumem a forma de obras indepen-dentes. Numa época em que o controle crítico pode indicar mais facilmente os limites dos autores e das obras, a atribuição de Poe, naturalmente, não modificou a fisionomia do clássico antigo. Mas este engano, ou falsificação, evoca, mais uma vez, a questão da originalidade, do plágio e da erudição: ainda mais por se tratar de uma expressão cujo tema é a noção de “sabedoria”. Noção que obviamente perdera seu significado antigo para Poe e seus con-temporâneos e que se adaptara à forma “prática” de percepção e raciocínio que interessava particularmente ao escritor.“Nada mais odioso à sabedoria do que o excesso de perspicá-cia”: devidamente adaptado, ficava claro que este era um tema de fundo do conto de Poe e também de outros de seus contos de “raciocínio”. Poe sabia que a sentença não era de Sêneca? Estava, talvez, “jogando” com o acumen e a ingenuidade de seu leitor? Ou Poe foi vítima de um engano, em que caiu por descuido ou porque o autor que ele lia e transpunha se enganou? Nenhum desses elementos – cópia e originalidade, erudição e sabedoria – era estranho a sua reflexão. Poderíamos pensar também que a epígrafe de “Sêneca” fosse uma invenção de Poe. As edições ano-tadas prudentemente advertem os leitores que tal sentença não se 1 Ver CANFORA, L. Convertire Casaubon. Milão: Adelphi, 2002, p. 200.TESTE DISCURSO 41.indd 14302/07/12 13:01
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https://www.revistas.usp.br/discurso/article/view/68370/70895
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Discurso do Método René Descartes RESUMO
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https://www.youtube.com/watch?v=3d8wotYzjaE
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The Purloined Letter
By Edgar Allan Poe
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“The thief,” said G., “is the
Minister D—, who dares all things, those unbecoming as well as those becoming a man.
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Nil sapientiae odiosius acumine nimio.
Seneca.
At Paris, just after dark one gusty evening in the autumn of 18—, I was enjoying
the twofold luxury of meditation and a meerschaum,
in company with my friend
C. Auguste Dupin, in his
little back library, or bookcloset, au troisiême, No.
33, Rue Dunôt, Faubourg
St. Germain. For one hour
at least we had maintained
a profound silence; while
each, to any casual observer, might have seemed intently and exclusively occupied with the curling eddies of
smoke that oppressed the atmosphere of the
chamber. For myself, however, I was mentally discussing certain topics which had
formed matter for conversation between us
at an earlier period of the evening; I mean
the affair of the Rue Morgue, and the mystery attending the murder of Marie Rogêt.
I looked upon it, therefore, as something of
a coincidence, when the door of our apartment was thrown open and admitted our old
acquaintance, Monsieur G—, the Prefect of
the Parisian police. We gave him a hearty
welcome; for there was nearly half as much of
the entertaining as of the contemptible about
the man, and we had not seen him for several years. We had been sitting in the dark, and
Dupin now arose for the purpose of lighting a lamp, but sat down again, without doing so, upon G.’s saying that he had called to
consult us, or rather to ask
the opinion of my friend,
about some official business which had occasioned
a great deal of trouble. “If
it is any point requiring reflection,” observed Dupin,
as he forebore to enkindle
the wick, “we shall examine it to better purpose in
the dark.”
“That is another of your odd notions,”
said the Prefect, who had a fashion of calling
every thing “odd” that was beyond his comprehension, and thus lived amid an absolute
legion of “oddities.” “Very true,” said Dupin,
as he supplied his visiter with a pipe, and
rolled towards him a comfortable chair.
“And what is the difficulty now?” I asked.
“Nothing more in the assassination way, I
hope?”
“Oh no; nothing of that nature. The fact
is, the business is very simple indeed, and I
make no doubt that we can manage it sufficiently well ourselves; but then I thought
Dupin would like to hear the details of it,
because it is so excessively odd.” “Simple and
odd,” said Dupin. “Why, yes; and not exact ly that, either. The fact is, we have all been
a good deal puzzled because the affair is so
simple, and yet baffles us altogether.”
“Perhaps it is the very simplicity of
the thing which puts you at fault,” said my
friend.
“What nonsense you do talk!” replied
the Prefect, laughing heartily. “Perhaps the
mystery is a little too plain,” said Dupin.
“Oh, good heavens! who ever heard of such
an idea?” “A little too self-evident.” “Ha! ha!
ha—ha! ha! ha!—ho! ho! ho!” roared our visiter, profoundly amused, “oh, Dupin, you
will be the death of me yet!” “And what, after
all, is the matter on hand?” I asked. “Why, I
will tell you,” replied the Prefect, as he gave
a long, steady and contemplative puff, and
settled himself in his chair. “I will tell you
in a few words; but, before I begin, let me
caution you that this is an affair demanding
the greatest secrecy, and that I should most
probably lose the position I now hold, were it
known that I confided it to any one.”
“Proceed,” said I.
“Or not,” said Dupin.
“Well, then; I have received personal information, from a very high quarter, that a
certain document of the last importance, has
been purloined from the royal apartments.
The individual who purloined it is known;
this beyond a doubt; he was seen to take it. It
is known, also, that it still remains in his possession.” “How is this known?” asked Dupin.
“It is clearly inferred,” replied the Prefect,
“from the nature of the document, and from the non-appearance of certain results which
would at once arise from its passing out of
the robber’s possession; that is to say, from
his employing it as he must design in the end
to employ it.”
“Be a little more explicit,” I said. “Well,
I may venture so far as to say that the paper
gives its holder a certain power in a certain
quarter where such power is immensely valuable.” The Prefect was fond of the cant of diplomacy. “Still I do not quite understand,”
said Dupin. “No? Well; the disclosure of the
document to a third person, who shall be
nameless, would bring in question the honor
of a personage of most exalted station; and
this fact gives the holder of the document
an ascendancy over the illustrious personage
whose honor and peace are so jeopardized.”
“But this ascendancy,” I interposed,
“would depend upon the robber’s knowledge
of the loser’s knowledge of the robber. Who
would dare—” “The thief,” said G., “is the
Minister D—, who dares all things, those unbecoming as well as those becoming a man.
The method of the theft was not less ingenious
than bold. The document in question—a letter, to be frank—had been received by the
personage robbed while alone in the royal
boudoir. During its perusal she was suddenly
interrupted by the entrance of the other exalted personage from whom especially it was
her wish to conceal it. After a hurried and
vain endeavor to thrust it in a drawer, she
was forced to place it, open as it was, upon a
table. The address, however, was uppermost, and, the contents thus unexposed, the letter
escaped notice. At this juncture enters the
Minister D—. His lynx eye immediately perceives the paper, recognises the handwriting
of the address, observes the confusion of the
personage addressed, and fathoms her secret.
After some business transactions, hurried
through in his ordinary manner, he produces
a letter somewhat similar to the one in question, opens it, pretends to read it, and then
places it in close juxtaposition to the other.
Again he converses, for some fifteen minutes,
upon the public affairs. At length, in taking
leave, he takes also from the table the letter
to which he had no claim. Its rightful owner
saw, but, of course, dared not call attention
to the act, in the presence of the third personage who stood at her elbow. The minister
decamped; leaving his own letter—one of no
importance—upon the table.” “Here, then,”
said Dupin to me, “you have precisely what
you demand to make the ascendancy complete—the robber’s knowledge of the loser’s
knowledge of the robber.” “Yes,” replied the
Prefect; “and the power thus attained has, for
some months past, been wielded, for political purposes, to a very dangerous extent. The
personage robbed is more thoroughly convinced, every day, of the necessity of reclaiming her letter. But this, of course, cannot be
done openly. In fine, driven to despair, she
has committed the matter to me.”
“Than whom,” said Dupin, amid a perfect whirlwind of smoke, “no more sagacious
agent could, I suppose, be desired, or even imagined.” “You flatter me,” replied the Prefect; “but it is possible that some such opinion may have been entertained.” “It is clear,”
said I, “as you observe, that the letter is still
in possession of the minister; since it is this
possession, and not any employment of the
letter, which bestows the power. With the
employment the power departs.”
“True,” said G.; “and upon this conviction I proceeded. My first care was to make
thorough search of the minister’s hotel; and
here my chief embarrassment lay in the necessity of searching without his knowledge.
Beyond all things, I have been warned of the
danger which would result from giving him
reason to suspect our design.” “But,” said I,
“you are quite au fait in these investigations.
The Parisian police have done this thing often before.” “O yes; and for this reason I did
not despair. The habits of the minister gave
me, too, a great advantage. He is frequently absent from home all night. His servants
are by no means numerous. They sleep at a
distance from their master’s apartment, and,
being chiefly Neapolitans, are readily made
drunk. I have keys, as you know, with which
I can open any chamber or cabinet in Paris.
For three months a night has not passed, during the greater part of which I have not been
engaged, personally, in ransacking the D—
Hotel. My honor is interested, and, to mention a great secret, the reward is enormous.
So I did not abandon the search until I had
become fully satisfied that the thief is a more
astute man than myself. I fancy that I have investigated every nook and corner of the
premises in which it is possible that the paper
can be concealed.” “But is it not possible,” I
suggested, “that although the letter may be in
possession of the minister, as it unquestionably is, he may have concealed it elsewhere
than upon his own premises?” “This is barely
possible,” said Dupin. “The present peculiar
condition of affairs at court, and especially of
those intrigues in which D— is known to be
involved, would render the instant availability of the document—its susceptibility of being produced at a moment’s notice—a point
of nearly equal importance with its possession.”
“Its susceptibility of being produced?”
said I. “That is to say, of being destroyed,”
said Dupin. “True,” I observed; “the paper is
clearly then upon the premises. As for its being upon the person of the minister, we may
consider that as out of the question.”
“Entirely,” said the Prefect. “He has been
twice waylaid, as if by footpads, and his person rigorously searched under my own inspection.”
“You might have spared yourself this
trouble,” said Dupin. “D—, I presume, is
not altogether a fool, and, if not, must have
anticipated these waylayings, as a matter of
course.” “Not altogether a fool,” said G.,
“but then he’s a poet, which I take to be only
one remove from a fool.” “True,” said Dupin,
after a long and thoughtful whiff from his
meerschaum, “although I have been guilty of
certain doggrel myself.”
“Suppose you detail,” said I, “the particulars of your search.”
“Why the fact is, we took our time, and
we searched every where. I have had long
experience in these affairs. I took the entire building, room by room; devoting the
nights of a whole week to each. We examined, first, the furniture of each apartment.
We opened every possible drawer; and I presume you know that, to a properly trained
police agent, such a thing as a secret drawer
is impossible. Any man is a dolt who permits
a ‘secret’ drawer to escape him in a search
of this kind. The thing is so plain. There is
a certain amount of bulk—of space—to be
accounted for in every cabinet. Then we have
accurate rules. The fiftieth part of a line could
not escape us. After the cabinets we took the
chairs. The cushions we probed with the fine
long needles you have seen me employ. From
the tables we removed the tops.”
“Why so?”
“Sometimes the top of a table, or other
similarly arranged piece of furniture, is removed by the person wishing to conceal an
article; then the leg is excavated, the article
deposited within the cavity, and the top replaced. The bottoms and tops of bedposts are
employed in the same way.”
“But could not the cavity be detected by
sounding?” I asked. “By no means, if, when
the article is deposited, a sufficient wadding
of cotton be placed around it. Besides, in our
case, we were obliged to proceed without
noise.”
“But you could not have removed—you
could not have taken to pieces all articles of
furniture in which it would have been possible to make a deposit in the manner you
mention. A letter may be compressed into a
thin spiral roll, not differing much in shape
or bulk from a large knitting-needle, and in
this form it might be inserted into the rung
of a chair, for example. You did not take to
pieces all the chairs?”
“Certainly not; but we did better—we
examined the rungs of every chair in the hotel, and, indeed the jointings of every description of furniture, by the aid of a most powerful microscope. Had there been any traces
of recent disturbance we should not have
failed to detect it instantly. A single grain of
gimlet-dust, for example, would have been
as obvious as an apple. Any disorder in the
glueing—any unusual gaping in the joints—
would have sufficed to insure detection.” “I
presume you looked to the mirrors, between
the boards and the plates, and you probed
the beds and the bed-clothes, as well as the
curtains and carpets.”
“That of course; and when we had absolutely completed every particle of the furniture in this way, then we examined the house
itself. We divided its entire surface into
compartments, which we numbered, so that
none might be missed; then we scrutinized
each individual square inch throughout the
premises, including the two houses immediately adjoining, with the microscope, as
before.”
“The two houses adjoining!” I exclaimed; “you must have had a great deal of
trouble.”
“We had; but the reward offered is prodigious!” “You include the grounds about
the houses?” “All the grounds are paved
with brick. They gave us comparatively little
trouble. We examined the moss between the
bricks, and found it undisturbed.”
“You looked among D—’s papers, of
course, and into the books of the library?”
“Certainly; we opened every package and
parcel; we not only opened every book, but
we turned over every leaf in each volume, not
contenting ourselves with a mere shake, according to the fashion of some of our police
officers. We also measured the thickness of
every book-cover, with the most accurate admeasurement, and applied to each the most
jealous scrutiny of the microscope. Had any
of the bindings been recently meddled with,
it would have been utterly impossible that
the fact should have escaped observation.
Some five or six volumes, just from the hands
of the binder, we carefully probed, longitudinally, with the needles.”
“You explored the floors beneath the carpets?”
“Beyond doubt. We removed every carpet, and examined the boards with the microscope.”
“And the paper on the walls?” “Yes.”
“You looked into the cellars?” “We did.”
“Then,” I said, “you have been making a
miscalculation, and the letter is not upon the
premises, as you suppose.”
“I fear you are right there,” said the Prefect.
“And now, Dupin, what would you advise me to do?”
“To make a thorough re-search of the
premises.”
“That is absolutely needless,” replied
G—.
“I am not more sure that I breathe than I
am that the letter is not at the Hotel.”
“I have no better advice to give you,” said
Dupin. “You have, of course, an accurate description of the letter?”
“Oh yes!”—And here the Prefect, producing a memorandum-book proceeded to
read aloud a minute account of the internal,
and especially of the external appearance of
the missing document. Soon after finishing
the perusal of this description, he took his
departure, more entirely depressed in spirits
than I had ever known the good gentleman
before. In about a month afterwards he paid
us another visit, and found us occupied very
nearly as before. He took a pipe and a chair
and entered into some ordinary conversation.
At length I said,—
“Well, but G—, what of the purloined
letter? I presume you have at last made up
your mind that there is no such thing as overreaching the Minister?”
“Confound him, say I—yes; I made
the re-examination, however, as Dupin suggested—but it was all labor lost, as I knew it
would be.”
“How much was the reward offered, did
you say?” asked Dupin.
“Why, a very great deal—a very liberal
reward—I don’t like to say how much, precisely; but one thing I will say, that I wouldn’t
mind giving my individual check for fifty
thousand francs to any one who could obtain me that letter. The fact is, it is becoming
of more and more importance every day; and
the reward has been lately doubled. If it were
trebled, however, I could do no more than I
have done.”
“Why, yes,” said Dupin, drawlingly,
between the whiffs of his meerschaum, “I
really—think, G—, you have not exerted
yourself—to the utmost in this matter. You
might—do a little more, I think, eh?”
“How?—in what way?’
“Why—puff, puff—you might—puff,
puff—employ counsel in the matter, eh?—
puff, puff, puff. Do you remember the story
they tell of Abernethy?”
“No; hang Abernethy!”
“To be sure! hang him and welcome.
But, once upon a time, a certain rich miser
conceived the design of spunging upon this
Abernethy for a medical opinion. Getting up,
for this purpose, an ordinary conversation in
a private company, he insinuated his case to
the physician, as that of an imaginary individual. “ ‘We will suppose,’ said the miser,
‘that his symptoms are such and such; now,
doctor, what would you have directed him to take?’ “ ‘Take!’ said Abernethy, ‘why, take
advice, to be sure.’ “ “But,” said the Prefect,
a little discomposed, “I am perfectly willing
to take advice, and to pay for it. I would really give fifty thousand francs to any one who
would aid me in the matter.” “In that case,”
replied Dupin, opening a drawer, and producing a check-book, “you may as well fill me
up a check for the amount mentioned. When
you have signed it, I will hand you the letter.”
I was astounded. The Prefect appeared absolutely thunder-stricken. For some minutes he
remained speechless and motionless, looking
incredulously at my friend with open mouth,
and eyes that seemed starting from their sockets; then, apparently recovering himself in
some measure, he seized a pen, and after several pauses and vacant stares, finally filled up
and signed a check for fifty thousand francs,
and handed it across the table to Dupin. The
latter examined it carefully and deposited it
in his pocket-book; then, unlocking an escritoire, took thence a letter and gave it to the
Prefect. This functionary grasped it in a perfect agony of joy, opened it with a trembling
hand, cast a rapid glance at its contents, and
then, scrambling and struggling to the door,
rushed at length unceremoniously from the
room and from the house, without having
uttered a syllable since Dupin had requested
him to fill up the check.
When he had gone, my friend entered
into some explanations. “The Parisian police,” he said, “are exceedingly able in their
way. They are persevering, ingenious, cunning, and thoroughly versed in the knowledge
which their duties seem chiefly to demand.
Thus, when G— detailed to us his made of
searching the premises at the Hotel D—, I
felt entire confidence in his having made a
satisfactory investigation—so far as his labors extended.” “So far as his labors extended?” said I. “Yes,” said Dupin. “The measures
adopted were not only the best of their kind,
but carried out to absolute perfection. Had
the letter been deposited within the range of
their search, these fellows would, beyond a
question, have found it.” I merely laughed—
but he seemed quite serious in all that he
said. “The measures, then,” he continued,
“were good in their kind, and well executed;
their defect lay in their being inapplicable
to the case, and to the man. A certain set of
highly ingenious resources are, with the Prefect, a sort of Procrustean bed, to which he
forcibly adapts his designs. But he perpetually errs by being too deep or too shallow, for
the matter in hand; and many a schoolboy is
a better reasoner than he. I knew one about
eight years of age, whose success at guessing
in the game of ‘even and odd’ attracted universal admiration. This game is simple, and is
played with marbles. One player holds in his
hand a number of these toys, and demands
of another whether that number is even or
odd. If the guess is right, the guesser wins
one; if wrong, he loses one. The boy to whom
I allude won all the marbles of the school.
Of course he had some principle of guessing;
and this lay in mere observation and admeasurement of the astuteness of his opponents.
For example, an arrant simpleton is his opponent, and, holding up his closed hand,
asks, ‘are they even or odd?’ Our schoolboy
replies, ‘odd,’ and loses; but upon the second
trial he wins, for he then says to himself, ‘the
simpleton had them even upon the first trial,
and his amount of cunning is just sufficient
to make him have them odd upon the second; I will therefore guess odd;’—he guesses
odd, and wins. Now, with a simpleton a degree above the first, he would have reasoned
thus: ‘This fellow finds that in the first instance I guessed odd, and, in the second, he
will propose to himself, upon the first impulse, a simple variation from even to odd,
as did the first simpleton; but then a second
thought will suggest that this is too simple
a variation, and finally he will decide upon
putting it even as before. I will therefore guess
even;’—he guesses even, and wins. Now this
mode of reasoning in the schoolboy, whom
his fellows termed ‘lucky,’—what, in its last
analysis, is it?” “It is merely,” I said, “an identification of the reasoner’s intellect with that
of his opponent.” “It is,” said Dupin; “and,
upon inquiring, of the boy by what means he
effected the thorough identification in which
his success consisted, I received answer as follows: ‘When I wish to find out how wise, or
how stupid, or how good, or how wicked is
any one, or what are his thoughts at the moment, I fashion the expression of my face, as
accurately as possible, in accordance with the
expression of his, and then wait to see what thoughts or sentiments arise in my mind or
heart, as if to match or correspond with the
expression.’ This response of the schoolboy
lies at the bottom of all the spurious profundity which has been attributed to Rochefoucault, to La Bougive, to Machiavelli, and
to Campanella.” “And the identification,” I
said, “of the reasoner’s intellect with that of
his opponent, depends, if I understand you
aright, upon the accuracy with which the
opponent’s intellect is admeasured.” “For its
practical value it depends upon this,” replied
Dupin; “and the Prefect and his cohort fail so
frequently, first, by default of this identification, and, secondly, by ill-admeasurement, or
rather through non-admeasurement, of the
intellect with which they are engaged. They
consider only their own ideas of ingenuity;
and, in searching for anything hidden, advert
only to the modes in which they would have
hidden it. They are right in this much—that
their own ingenuity is a faithful representative of that of the mass; but when the cunning of the individual felon is diverse in character from their own, the felon foils them, of
course. This always happens when it is above
their own, and very usually when it is below.
They have no variation of principle in their
investigations; at best, when urged by some
unusual emergency—by some extraordinary
reward—they extend or exaggerate their old
modes of practice, without touching their
principles. What, for example, in this case
of D—, has been done to vary the principle
of action? What is all this boring, and probing, and sounding, and scrutinizing with the
microscope and dividing the surface of the
building into registered square inches—what
is it all but an exaggeration of the application
of the one principle or set of principles of
search, which are based upon the one set of
notions regarding human ingenuity, to which
the Prefect, in the long routine of his duty, has
been accustomed? Do you not see he has taken
it for granted that all men proceed to conceal
a letter,—not exactly in a gimlet hole bored
in a chair-leg—but, at least, in some out-ofthe-way hole or corner suggested by the same
tenor of thought which would urge a man
to secrete a letter in a gimlet-hole bored in a
chair-leg? And do you not see also, that such
recherchès nooks for concealment are adapted only for ordinary occasions, and would be
adopted only by ordinary intellects; for, in all
cases of concealment, a disposal of the article
concealed—a disposal of it in this recherchè
manner,—is, in the very first instance, presumable and presumed; and thus its discovery depends, not at all upon the acumen, but
altogether upon the mere care, patience, and
determination of the seekers; and where the
case is of importance—or, what amounts to
the same thing in the policial eyes, when the
reward is of magnitude,—the qualities in
question have never been known to fail. You
will now understand what I meant in suggesting that, had the purloined letter been
hidden any where within the limits of the
Prefect’s examination—in other words,
had the principle of its concealment been comprehended within the principles of the
Prefect—its discovery would have been a
matter altogether beyond question. This
functionary, however, has been thoroughly mystified; and the remote source of
his defeat lies in the supposition that the
Minister is a fool, because he has acquired
renown as a poet. All fools are poets; this
the Prefect feels; and he is merely guilty of
a non distributio medii in thence inferring
that all poets are fools.”
“But is this really the poet?” I asked.
“There are two brothers, I know; and both
have attained reputation in letters. The Minister I believe has written learnedly on the
Differential Calculus. He is a mathematician, and no poet.”
“You are mistaken; I know him well; he is
both. As poet and mathematician, he would
reason well; as mere mathematician, he could
not have reasoned at all, and thus would have
been at the mercy of the Prefect.”
“You surprise me,” I said, “by these
opinions, which have been contradicted by
the voice of the world. You do not mean to
set at naught the well-digested idea of centuries. The mathematical reason has long been
regarded as the reason par excellence.” “ ‘Il
y a à parièr,’ “ replied Dupin, quoting from
Chamfort, “ ‘que toute idèe publique, toute
convention reçue est une sottise, car elle a convenue au plus grand nombre.’ The mathematicians, I grant you, have done their best to
promulgate the popular error to which you
allude, and which is none the less an error for its promulgation as truth. With an art worthy a better cause, for example, they have insinuated the term ‘analysis’ into application
to algebra. The French are the originators of
this particular deception; but if a term is of
any importance—if words derive any value
from applicability—then ‘analysis’ conveys
‘algebra’ about as much as, in Latin, ‘ambitus’
implies ‘ambition,’ ‘religio’ ‘religion,’ or ‘homines honesti,’ a set of honorablemen.” “You
have a quarrel on hand, I see,” said I, “with
some of the algebraists of Paris; but proceed.”
“I dispute the availability, and thus the value,
of that reason which is cultivated in any especial form other than the abstractly logical.
I dispute, in particular, the reason educed by
mathematical study. The mathematics are the
science of form and quantity; mathematical
reasoning is merely logic applied to observation upon form and quantity. The great error lies in supposing that even the truths of
what is called pure algebra, are abstract or
general truths. And this error is so egregious
that I am confounded at the universality with
which it has been received. Mathematical axioms are not axioms of general truth. What
is true of relation—of form and quantity—is
often grossly false in regard to morals, for example. In this latter science it is very usually
untrue that the aggregated parts are equal
to the whole. In chemistry also the axiom
fails. In the consideration of motive it fails;
for two motives, each of a given value, have
not, necessarily, a value when united, equal
to the sum of their values apart. There are numerous other mathematical truths which
are only truths within the limits of relation.
But the mathematician argues, from his finite truths, through habit, as if they were of
an absolutely general applicability—as the
world indeed imagines them to be. Bryant,
in his very learned ‘Mythology,’ mentions an
analogous source of error, when he says that
‘although the Pagan fables are not believed,
yet we forget ourselves continually, and make
inferences from them as existing realities.’
With the algebraists, however, who are Pagans
themselves, the ‘Pagan fables’ are believed,
and the inferences are made, not so much
through lapse of memory, as through an unaccountable addling of the brains. In short, I
never yet encountered the mere mathematician who could be trusted out of equal roots,
or one who did not clandestinely hold it as a
point of his faith that x2+px was absolutely
and unconditionally equal to q. Say to one
of these gentlemen, by way of experiment,
if you please, that you believe occasions may
occur where x2+px is not altogether equal to
q, and, having made him understand what
you mean, get out of his reach as speedily as
convenient, for, beyond doubt, he will endeavor to knock you down.
“I mean to say,” continued Dupin, while
I merely laughed at his last observations,
“that if the Minister had been no more than
a mathematician, the Prefect would have
been under no necessity of giving me this
check. I know him, however, as both mathematician and poet, and my measures were adapted to his capacity, with reference to the
circumstances by which he was surrounded.
I knew him as a courtier, too, and as a bold
intriguant. Such a man, I considered, could
not fail to be aware of the ordinary policial
modes of action. He could not have failed
to anticipate—and events have proved that
he did not fail to anticipate—the waylayings
to which he was subjected. He must have
foreseen, I reflected, the secret investigations
of his premises. His frequent absences from
home at night, which were hailed by the Prefect as certain aids to his success, I regarded only as ruses, to afford opportunity for
thorough search to the police, and thus the
sooner to impress them with the conviction
to which G—, in fact, did finally arrive—the
conviction that the letter was not upon the
premises. I felt, also, that the whole train of
thought, which I was at some pains in detailing to you just now, concerning the invariable
principle of policial action in searches for articles concealed—I felt that this whole train
of thought would necessarily pass through the
mind of the Minister. It would imperatively
lead him to despise all the ordinary nooks of
concealment. He could not, I reflected, be so
weak as not to see that the most intricate and
remote recess of his hotel would be as open
as his commonest closets to the eyes, to the
probes, to the gimlets, and to the microscopes
of the Prefect. I saw, in fine, that he would be
driven, as a matter of course, to simplicity, if
not deliberately induced to it as a matter of
choice. You will remember, perhaps, how desperately the Prefect laughed when I suggested, upon our first interview, that it was just
possible this mystery troubled him so much
on account of its being so very self-evident.”
“Yes,” said I, “I remember his merriment
well. I really thought he would have fallen
into convulsions.” “The material world,”
continued Dupin, “abounds with very strict
analogies to the immaterial; and thus some
color of truth has been given to the rhetorical dogma, that metaphor, or simile, may be
made to strengthen an argument, as well as to
embellish a description. The principle of the
vis inertiæ, for example, seems to be identical
in physics and metaphysics. It is not more
true in the former, that a large body is with
more difficulty set in motion than a smaller
one, and that its subsequent momentum is
commensurate with this difficulty, than it is,
in the latter, that intellects of the vaster capacity, while more forcible, more constant,
and more eventful in their movements than
those of inferior grade, are yet the less readily moved, and more embarrassed and full of
hesitation in the first few steps of their progress. Again: have you ever noticed which of
the street signs, over the shop-doors, are the
most attractive of attention?”
“I have never given the matter a thought,”
I said. “There is a game of puzzles,” he resumed, “which is played upon a map. One
party playing requires another to find a given
word—the name of town, river, state or empire—any word, in short, upon the motley
and perplexed surface of the chart. A novice in the game generally seeks to embarrass his
opponents by giving them the most minutely lettered names; but the adept selects such
words as stretch, in large characters, from
one end of the chart to the other. These, like
the over-largely lettered signs and placards of
the street, escape observation by dint of being excessively obvious; and here the physical oversight is precisely analogous with the
moral inapprehension by which the intellect
suffers to pass unnoticed those considerations
which are too obtrusively and too palpably
self-evident. But this is a point, it appears,
somewhat above or beneath the understanding of the Prefect. He never once thought it
probable, or possible, that the Minister had
deposited the letter immediately beneath the
nose of the whole world, by way of best preventing any portion of that world from perceiving it. “But the more I reflected upon the
daring, dashing, and discriminating ingenuity of D—; upon the fact that the document
must always have been at hand, if he intended
to use it to good purpose; and upon the decisive evidence, obtained by the Prefect, that
it was not hidden within the limits of that
dignitary’s ordinary search—the more satisfied I became that, to conceal this letter, the
Minister had resorted to the comprehensive
and sagacious expedient of not attempting to
conceal it at all.
“Full of these ideas, I prepared myself
with a pair of green spectacles, and called one
fine morning, quite by accident, at the Ministerial hotel. I found D— at home, yawning, lounging, and dawdling, as usual, and pretending to be in the last extremity of ennui.
He is, perhaps, the most really energetic human being now alive—but that is only when
nobody sees him. “To be even with him, I
complained of my weak eyes, and lamented
the necessity of the spectacles, under cover of
which I cautiously and thoroughly surveyed
the whole apartment, while seemingly intent
only upon the conversation of my host.
“I paid especial attention to a large writing-table near which he sat, and upon which
lay confusedly, some miscellaneous letters
and other papers, with one or two musical
instruments and a few books. Here, however,
after a long and very deliberate scrutiny, I
saw nothing to excite particular suspicion.
“At length my eyes, in going the circuit
of the room, fell upon a trumpery fillagree
card-rack of pasteboard, that hung dangling
by a dirty blue ribbon, from a little brass
knob just beneath the middle of the mantelpiece. In this rack, which had three or four
compartments, were five or six visiting cards
and a solitary letter. This last was much soiled
and crumpled. It was torn nearly in two,
across the middle—as if a design, in the first
instance, to tear it entirely up as worthless,
had been altered, or stayed, in the second.
It had a large black seal, bearing the D— cipher very conspicuously, and was addressed,
in a diminutive female hand, to D—, the
minister, himself. It was thrust carelessly,
and even, as it seemed, contemptuously, into
one of the uppermost divisions of the rack.
“No sooner had I glanced at this letter, than
I concluded it to be that of which I was in
search. To be sure, it was, to all appearance,
radically different from the one of which the
Prefect had read us so minute a description.
Here the seal was large and black, with the
D— cipher; there it was small and red, with
the ducal arms of the S— family. Here, the
address, to the Minister, diminutive and feminine; there the superscription, to a certain
royal personage, was markedly bold and decided; the size alone formed a point of correspondence. But, then, the radicalness of these
differences, which was excessive; the dirt; the
soiled and torn condition of the paper, so inconsistent with the true methodical habits of
D—, and so suggestive of a design to delude
the beholder into an idea of the worthlessness
of the document; these things, together with
the hyper-obtrusive situation of this document, full in the view of every visiter, and
thus exactly in accordance with the conclusions to which I had previously arrived; these
things, I say, were strongly corroborative of
suspicion, in one who came with the intention to suspect.
“I protracted my visit as long as possible,
and, while I maintained a most animated
discussion with the Minister upon a topic
which I knew well had never failed to interest and excite him, I kept my attention really
riveted upon the letter. In this examination,
I committed to memory its external appearance and arrangement in the rack; and also
fell, at length, upon a discovery which set at “No sooner had I glanced at this letter, than
I concluded it to be that of which I was in
search. To be sure, it was, to all appearance,
radically different from the one of which the
Prefect had read us so minute a description.
Here the seal was large and black, with the
D— cipher; there it was small and red, with
the ducal arms of the S— family. Here, the
address, to the Minister, diminutive and feminine; there the superscription, to a certain
royal personage, was markedly bold and decided; the size alone formed a point of correspondence. But, then, the radicalness of these
differences, which was excessive; the dirt; the
soiled and torn condition of the paper, so inconsistent with the true methodical habits of
D—, and so suggestive of a design to delude
the beholder into an idea of the worthlessness
of the document; these things, together with
the hyper-obtrusive situation of this document, full in the view of every visiter, and
thus exactly in accordance with the conclusions to which I had previously arrived; these
things, I say, were strongly corroborative of
suspicion, in one who came with the intention to suspect.
“I protracted my visit as long as possible,
and, while I maintained a most animated
discussion with the Minister upon a topic
which I knew well had never failed to interest and excite him, I kept my attention really
riveted upon the letter. In this examination,
I committed to memory its external appearance and arrangement in the rack; and also
fell, at length, upon a discovery which set at rest whatever trivial doubt I might have entertained. In scrutinizing the edges of the paper, I observed them to be more chafed than
seemed necessary. They presented the broken
appearance which is manifested when a stiff
paper, having been once folded and pressed
with a folder, is refolded in a reversed direction, in the same creases or edges which had
formed the original fold. This discovery was
sufficient. It was clear to me that the letter
had been turned, as a glove, inside out, redirected, and re-sealed. I bade the Minister
good morning, and took my departure at
once, leaving a gold snuff-box upon the table.
“The next morning I called for the snuff-box,
when we resumed, quite eagerly, the conversation of the preceding day. While thus engaged, however, a loud report, as if of a pistol,
was heard immediately beneath the windows
of the hotel, and was succeeded by a series of
fearful screams, and the shoutings of a terrified mob. D— rushed to a casement, threw
it open, and looked out. In the meantime, I
stepped to the card-rack took the letter, put
it in my pocket, and replaced it by a fac-simile, (so far as regards externals,) which I had
carefully prepared at my lodgings—imitating
the D— cipher, very readily, by means of a
seal formed of bread. “The disturbance in the
street had been occasioned by the frantic behavior of a man with a musket. He had fired
it among a crowd of women and children. It
proved, however, to have been without ball,
and the fellow was suffered to go his way as
a lunatic or a drunkard. When he had gone, D— came from the window, whither I had
followed him immediately upon securing the
object in view. Soon afterwards I bade him
farewell. The pretended lunatic was a man in
my own pay.” “But what purpose had you,” I
asked, “in replacing the letter by a fac-simile?
Would it not have been better, at the first
visit, to have seized it openly, and departed?”
“D—,” replied Dupin, “is a desperate man,
and a man of nerve. His hotel, too, is not
without attendants devoted to his interests.
Had I made the wild attempt you suggest, I
might never have left the Ministerial presence
alive. The good people of Paris might have
heard of me no more. But I had an object
apart from these considerations. You know
my political prepossessions. In this matter, I
act as a partisan of the lady concerned. For
eighteen months the Minister has had her in
his power. She has now him in hers—since,
being unaware that the letter is not in his possession, he will proceed with his exactions as
if it was. Thus will he inevitably commit himself, at once, to his political destruction. His
downfall, too, will not be more precipitate
than awkward. It is all very well to talk about
the facilis descensus Averni; but in all kinds
of climbing, as Catalani said of singing, it is
far more easy to get up than to come down.
In the present instance I have no sympathy—
at least no pity—for him who descends. He
is that monstrum horrendum, an unprincipled man of genius. I confess, however, that
I should like very well to know the precise
character of his thoughts, when, being defied by her whom the Prefect terms ‘a certain personage’ he is reduced to opening the letter
which I left for him in the card-rack.”
“How? did you put any thing particular
in it?”
“Why—it did not seem altogether right
to leave the interior blank—that would have
been insulting. D—, at Vienna once, did me
an evil turn, which I told him, quite goodhumoredly, that I should remember. So, as I
knew he would feel some curiosity in regard
to the identity of the person who had outwitted him, I thought it a pity not to give
him a clue. He is well acquainted with my
MS., and I just copied into the middle of the
blank sheet the words—“ ‘——Un dessein
si funeste, S’il n’est digne d’Atrèe, est digne de
Thyeste.
They are to be found in Crebillon’s
‘Atrèe.’”
*** ***
file:///C:/Users/TEMP.DESKTOP-OC95VG1.008/Downloads/the-works-of-edgar-allan-poe-081-the-purloined-letter.pdf
*** ***
***
*** ***
https://www.youtube.com/watch?v=45fX6uBFJEY
*** ***
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