segunda-feira, 9 de maio de 2022

INTEREST MODEL

*** Balada Para un Loco Astor Piazzolla *** *** MANO A MANO - ¡Que Sea Tango! ******************************************************************************************************** Você Não Viu Nada Ainda *** *** You Ain't Seen Nothing Yet Bachman-Turner Overdrive ********************************************** interest s —interesse m · juros pl m · juro m · atenção f · participação f · preocupação f · curiosidade f · ação f · consideração f · juros de mora pl m model s —modelo m/f · exemplo m · tipo m · paradigma m · maquete f · Maquete f · maqueta f · manequim m/f model (sth.) v —modelar (algo) v · moldar v · posar v · amoldar algo v · ser modelo v · demonstrar algo v · mostrar algo v · desfilar v · exibir algo v model adj —exemplar adj · modelar adj · ideal adj · perfeito adj interest (sb.) v —interessar v · interessar a alguém v https://www.linguee.com.br/portugues-ingles/search?source=auto&query=INTEREST+MODEL *************************************************************************************
*** segunda-feira, 9 de maio de 2022 Marcus André Melo*: O Brasil está tão polarizado quanto os EUA? Folha de S. Paulo A hiperfragmentação e baixíssimo partidarismo político no Brasil mascaram a escalada da polarização A polarização se intensificou nos últimos anos no Brasil e fora dele. Para os EUA, por exemplo, há evidências que a polarização aumentou tanto no âmbito do eleitorado quanto no Legislativo. Ela também mudou de chave: é "afetiva", tendo por base a rejeição do rival, e não "programática", com base em políticas. No Congresso americano, evidências de série histórica de mais de um século (1879 a 2011) sugerem que, a partir dos anos 1980, os democratas e republicanos votam de forma cada vez mais divergente na Câmara dos Representantes. Uma forma de mensurar a polarização afetiva no eleitorado é através do termômetro do sentimento do eleitor (a): a diferença nos escores atribuídos ao partido com o qual se identifica e a seu rival. O primeiro tem se mantido inalterado, mas o segundo tem crescido monotonicamente: os (a)eleitores (as) rejeitam crescentemente o partido adversário. Outra métrica possível é "a distância social": o sentimento dos indivíduos na interação social com membros ou simpatizantes do partido adversário. Elas cada vez mais não se sentem confortáveis em ter membros do partido rival como vizinho, cônjuge, membro da família estendida, colega de trabalho, ou prestador de serviço. A comparação entre regimes bipartidários e multipartidários requer a ponderação do indicador de rejeição pelo tamanho dos partidos. A polarização é mais clara —e se intensifica— sob os primeiros; enquanto regimes multipartidários tendem a dissipá-la. Em "American affective polarization in comparative perspective", 2020, (A polarização afetiva em perspectiva comparada), Gurion et al examina 20 democracias e conclui que os EUA é menos polarizado que Grécia, Portugal e Espanha; tão polarizado quanto França, Grã-Bretanha, Austrália, Itália e Nova Zelândia e menos polarizado que a Escandinávia e Holanda. Mas argumentam que o recrudescimento recente é "singularmente americano". É provavelmente também brasileiro, eu diria. O Brasil aparece apenas em estudos comparativos realizadas por Reiljan (2020) e João Victor Guedes Neto (2020). No primeiro destes estudos, que utiliza dados para o período 2001-2016, o Brasil e EUA tem escores similares, e estão na mediana da distribuição. A região mais polarizada do planeta é a Europa do Leste seguida da Europa meridional: Estônia, Hungria, Croácia, Bulgária, Sérvia, Eslováquia, Lituânia e Eslovênia estão dentre os 15 mais polarizados dos 40 países. A hiperfragmentação e baixíssimo partidarismo político no Brasil —o mais baixo escore da amostra de Laukas et al (2018)— tem criado um partidarismo negativo assimétrico (envolvendo apenas o PT) e mascaram a escalada da polarização. *Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA). *****************************************
*** Folha - UOL Faltou um pouco de generosidade para o presidente Lula, diz Pedro Malan - 25/08/2018 - Mercado - Folha *** atributos básicos de uma democracia Que, acrescento eu, requer que quem tem armas, em eleições, delas não faça uso. ***
*** domingo, 8 de maio de 2022 Pedro S. Malan*: Faltam cinco meses O Estado de S. Paulo Até lá (e depois), é preciso assegurar os atributos básicos da democracia e que quem tem armas, em eleições, delas não faça uso. Disputar é uma coisa, governar é outra foi o título do artigo publicado neste espaço em 8/4/2018. Pode parecer óbvio, e é, mas no Brasil o óbvio por vezes precisa ser reiterado. Por exemplo, não há razão para esperar 2023 para somente então avaliar o que pretendem fazer o presidente e o Congresso que serão eleitos em outubro próximo. Em 2018 opinei, como opino hoje, que os partidos que se julgam competitivos deveriam definir o teor de seu discurso e de suas promessas de campanha, incluindo as linhas gerais e prioridades do programa de governo. Aparentemente, não é o que pretende Lula, a julgar pela longa entrevista recente à revista Time. Perguntado se não seria mais difícil governar desta vez, afirmou: “Só tem sentido eu estar candidato à Presidência da República porque eu acredito que sou capaz de fazer mais e fazer melhor do que eu já fiz. Eu tenho clareza de que eu posso resolver os problemas (do Brasil)”. Perguntado sobre qual Lula temos hoje, responde: “Sou o único candidato com quem as pessoas não deveriam ter essa preocupação porque eu já fui presidente duas vezes e a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições. Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que precisa fazer”. A estratégia de Bolsonaro, por sua vez, parece estar traçada, com objetivos e métodos definidos. O roteiro estabelecido por Trump/Bannon vem sendo seguido à risca e começou a ficar claro com a divulgação do vídeo sobre a famosa reunião ministerial de 21/4/2020. Sua repercussão obrigou Bolsonaro a fazer aquilo que, na campanha, renegara: aproximar o Executivo do Centrão no Legislativo, que desde então vem marcando presença crescente na condução da política no País. O reiterado questionamento – à moda de Trump – de qualquer resultado das urnas que lhe possa ser desfavorável e a continuada confrontação com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) chegaram ao ponto extremo no último 7 de setembro. Refluíram, dadas as reações, mas o presidencialismo de confrontação e questionamento sobre o processo eleitoral continuam vivos e crescentes. O modelo, uma vez mais, é Trump: até hoje uma maioria de eleitores republicanos considera que as eleições foram fraudadas. “Você ainda não viu nada” (You ain’t see nothing) – esse foi o lema de Ronald Reagan em sua campanha pela reeleição nos anos 80. Reagan era bem avaliado, e a mensagem para o eleitorado era: vocês verão, farei melhor ainda. Bolsonaro, candidato à reeleição como o Reagan de então, promete a seus eleitores mais do mesmo; ou, quem sabe, a exacerbação de seu presidencialismo de confrontação. Bastarão metade mais um dos votos válidos para entender que recebeu um “autorizo” do povo brasileiro. Este artigo foi escrito antes do lançamento da pré-candidatura de Lula à Presidência da República (sábado, 7/5). Será bom se houver um texto básico a ser distribuído. O mais provável é que o candidato faça um de seus improvisos, alguns marcados por equívocos. Cada tropeço é imediatamente utilizado amplamente nas redes sociais que se lhe opõem, compartilhado e comentado por milhões de pessoas em tempo real. O trabalho nas redes sociais deu vitória a Bolsonaro em 2018. O resultado das eleições de 2022 será também marcado, não deve haver dúvida, pela efetividade no seu uso. Fará bem ao País se os debates na TV puderem ter alguma influência; para tanto, deveriam discutir os problemas econômicos e sociais relevantes. O problema para tal é que, como notou Adam Przeworski, “o que os partidos propõem nas campanhas é o que acreditam que tem maior chance de levá-los à vitória e o que tem mais chance de levá-los à vitória é o que a maioria das pessoas quer (...). As plataformas eleitorais se diferenciam apenas na medida da incerteza dos partidos com relação a preferências individuais”. Segundo Marcus A. Mello, esta eleição será decidida pelo eleitor que “votará em quem não aprova para evitar quem rejeita mais”. Em seu belo Trópicos Utópicos, Eduardo Giannetti escreveu: “O Brasil anseia por poetas videntes e profetas analíticos, por estadistas capazes de construir democrática e conscientemente, sem bravatas nem estridências, os sonhos inconscientes da Nação. O Brasil tem fome de futuro” (ênfase minha). Uma fome de futuro que, paradoxalmente, convive com nossa propensão a adiá-lo e, no caso de muitos, com o anseio pela volta a um passado idealizado. À revista Time, Lula afirmou: “Quem tiver dúvida sobre mim, olhe o que aconteceu neste país quando eu fui presidente... ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz”. Lembra Perón, na sua campanha pela volta ao poder no início dos anos 70: “Perón lo hizo – y lo hará” (Perón o fez e o fará, de novo). Não é suficiente no Brasil de hoje, dados os enormes problemas que se acumulam e que tornaram o ato de governar a partir de 2023 muito mais complexo do que há 20 anos. Faltam cinco meses. Até lá – e depois –, é preciso assegurar os três atributos básicos de uma democracia, no dizer de Przeworski: “Eleições competitivas (e quem perde sai pacificamente); direitos liberais de expressão; e Estado de Direito”. Que, acrescento eu, requer que quem tem armas, em eleições, delas não faça uso. *Economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC. ******************************************************************* *** Tango: MANO A MANO (letra e vídeo) com SUZANITO, vídeo MOACIR SILVEIRA Moacir Silveira 368 mil inscritos Desta feita Suzanito se superou na interpretação deste sensacional tango argentino. "Mano a Mano" (Estamos quites) é uma composição de Carlos Gardel, José Razzano e Esteban Celedonio Flores, que o cantor uberabense interpreta, em mais uma produção de VídeoArte Uberaba e com vídeo montagem de Moacir Silveira. Confira a letra: MANO A MANO De: Carlos Gardel, José Razzano e Esteban Celedonio Flores Rechiflao en mi tristeza, te evoco y veo que has sido (Naufragado na tristeza, hoje vejo que tu foste) De mi pobre vida paria, sólo una buena mujer (Em minha pobre vida errante, apenas uma boa mulher) Tu presencia de bacana puso calor en mi nido (Tua presença bacana pôs calor em meu ninho) Fuiste buena, consecuente, y yo sé que me has querido (Fostes boa, conseqüente, e eu sei que me amou) Como no quisiste a nadie, como no podrás querer. (Como jamais quisestes alguém, e nem poderia querer) Se dio el juego de remanye cuando vos, pobre percanta, (Fez o jogo de recusa quando você, pobre mundana) Gambeteabas la pobreza en la casa de pensión: (Diblavas a pobreza em uma casa de pensão) Hoy sos toda una bacana, la vida te ríe y canta, (Hoje posas de bacana, a vida lhe sorri e canta) Los morlacos del otario los tirás a la marchanta (O dinheiro dos otários tirastes aos montes) Como juega el gato maula con el misero ratón. (Como faz o gato malvado com o pobre rato) Hoy tenés el pasajero de infelices ilusiones (Hoje tens por companheiro de infelizes ilusões) Te engrupieron los otarios, las amigas, el gavión (Te enganam os otários, as amigas, o gigolô) La milonga entre magnates con sus locas tentaciones (A malandragem entre magnatas com suas loucas tentações) Donde triunfan y claudican milongueras pretensiones (Onde triunfam e fracassam malandras pretensões) Se te ha entrado muy adentro en el pobre corazón. (Penetrastes muito fundo em meu pobre coração) Nada debo agradecerte, mano a mano hemos quedado, (Nada devo agradecer-te, estamos quites) No me importa lo que has hecho, lo que hacés ni lo que harás; (Não me importa o que fizestes, o que fazes e o que farás) Los favores recibidos creo habértelos pagado (Os favores recebidos creio tê-los pagos) Y si alguna deuda chica sin querer se había olvidado (E se tem alguma coisa que eu esqueci) En la cuenta del otario que tenés se la cargás. (Põe na conta do otário que te sustenta) Mientras tanto, que tus triunfos, pobres triunfos pasajeros, (Entretanto teus triunfos, são triunfos passageiros) Sean una larga fila de riquezas y placer; (Mesmo sendo uma longa fila de riquezas e prazer) Que el bacán que te acamala tenga pesos duraderos (Que o bacana que te protege tenha muito dinheiro) Que te abrás en las paradas con cafishios milongueros (Que te abram as jogadas com grandes cacifes) Y que digan los muchachos: "És una buena mujer". (E que digam os rapazes: "é uma boa mulher") Y mañana cuando seas deslocado mueble viejo (E amanhã quando acabar tua juventude) Y no tengas esperanzas en el pobre corazón (E não tenhas esperanças em seu pobre coração) Si precisás una ayuda, si te hace falta un consejo (Se precisares de ajuda, se lhe faltares um conselho) Acordate de este amigo que ha de jugarse el pellejo (Te lembres deste amigo que se jogará na luta) P'ayudarte en lo que pueda cuando llegue la ocasión. (Para ajudar no possível quando chegar ocasião) https://www.youtube.com/watch?v=LdCtyUKOYjM *************************************************** AN EXACT CONSUMPTION-LOAN MODEL OF INTEREST WITH OR WITHOUT THE SOCIAL CONTRIVANCE OF MONEY*
*** THE JOURNAL OF POLITICAL ECONOMY PAUL A. SAMUELSON Vol. LXVI DECEMBER 1958 Number 6 https://www.jstor.org/stable/1826989 ********************************************** Nobel 1970: Paul A. Samuelson | por Pedro Garcia Duarte Paul A. Samuelson e uma nova ciência econômica no século XX Terraço Econômico21/07/2020 7 minutos de leitura ***
*** Paul Anthony Samuelson (1915 – 2009) foi um economista norte-americano que contribuiu sobremaneira para a reformulação da ciência econômica a partir da segunda guerra mundial e no período da guerra fria, quando os Estados Unidos consolidaram sua posição não apenas de liderança geopolítica mundial como também acadêmica. Samuelson viveu bastante e produziu muito. Tal como colocado por seu aluno Stanley Fischer (2008), ele fez “contribuições fundamentais a praticamente todas as áreas da teoria econômica”. O próprio Samuelson se considerava, “nesta era de especialização”, “o último generalista em economia”, com interesses desde economia matemática até jornalismo econômico, passando por economia do bem-estar, programação linear, economia dinâmica, economia keynesiana, finanças, economia internacional, finanças públicas, teoria da escolha e microeconomia (Samuelson em Lindbeck 1992). A extensa produção de artigos por Samuelson nestas áreas começou inclusive a ser editada em seus Collected Scientific Papers a partir de 1966, quando Samuelson tinha apenas 51 anos de idade, e geraram uma série de sete grandes volumes encerrada postumamente, em 2011. Mas Samuelson fez muito mais. Recebeu a prestigiosa honraria da American Economic Association, a John Bates Clark Medal, logo no primeiro ano desta premiação, em 1947, e o “Prêmio do Banco Central Sueco em Economia em Memória a Alfred Nobel” em 1970, no segundo ano deste novo prêmio. A academia sueca o considerou merecedor do prêmio “por seu trabalho científico pelo qual desenvolveu economia estática e dinâmica e por ter contribuído ativamente a elevar o nível da análise na ciência econômica”. Institucionalmente, Samuelson ajudou a refundar o departamento de economia do MIT (Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, MA, EUA) tendo sido contratado para participar da criação, em 1941, do programa de Ph.D. em economia em um departamento que tinha curso de graduação apenas desde os anos 1930 (ao contrário das universidades de Harvard e Chicago) e mestrado desde 1937. Ademais, tratava-se de um departamento marginalizado em uma escola eminentemente de engenharia, situação esta que ele ajudou a mudar a partir dos anos 1940 com a atração de novos e destacados economistas e a criação do programa de Ph.D. que transformaram o departamento em uma referência mundial na área (ver artigos em Weintraub 2014 e Backhouse 2017). E neste departamento Samuelson permaneceu toda sua carreira (iniciada como professor assistente aos 25 anos e posteriormente como full professor aos 32 anos de idade), tendo sido professor de várias gerações de economistas (com vários de seus alunos também agraciados com o Nobel) e influente na contratação de muitos de seus colegas, como seu vizinho de sala e colaborador próximo, Robert Solow (Nobel em 1987). Não bastassem todos estes feitos deste wunderkind, devidamente celebrados por seus colegas e alunos em várias ocasiões, Samuelson também contribuiu para reformular por completo o ensino de economia no mundo todo através de seu livro introdutório, Economics, publicado pela primeira vez em 1948 e reeditado inúmeras vezes devido ao sucesso de vendas alcançado ao longo de mais de sessenta anos (com dezenove edições). Além disto, foi um comentarista econômico ativo por vários anos em revistas como a Newsweek (onde teve colunas quinzenais, tal como o economista de Chicago, Milton Friedman), foi conselheiro econômico dos presidentes norte-americanos John F. Kennedy (1961-1963) e Lyndon B. Johnson (1963-1969), além de consultor a diversas áreas do governo. Samuelson iniciou seus estudos em economia na Universidade de Chicago em 1932, em meio à Grande Depressão, concluindo em 1935. Obteve uma bolsa de estudos que exigia que ele fizesse sua pós-graduação em outra universidade e dados seus interesses por economia da competição imperfeita que estava sendo desenvolvida na Universidade de Harvard, Samuelson fez lá sua pós-graduação, obtendo os graus de Master of Arts em 1936 e Ph.D. em 1941. Sua tese de doutorado foi tida como a melhor daquele ano, que o fez receber o prêmio David A. Wells do departamento de economia desta universidade. Durante sua estadia em Harvard, Samuelson foi colega de Abram Bergson (que foi para Harvard em 1933 e fez contribuições à economia do bem-estar), e aluno de economistas importantes como Alvin Hansen (com quem interagiria proximamente), Joseph Schumpeter, Wassily Leontief e o físico e economista matemático E. B. Wilson. Sua tese de doutorado de 1941 foi posteriormente transformada em um importante livro publicado apenas após o fim da segunda guerra mundial, o Foundations of Economic Analysis (Samuelson 1947). Neste livro Samuelson deu tratamento definitivo à estrutura matemática básica que ele argumentou estar na base de várias questões econômicas, composta de dois princípios básicos: que os agentes econômicos têm comportamento maximizador (consumidores maximizando utilidade e produtores maximizando lucros), e que o equilíbrio econômico resultante é estável sob certas circunstâncias. Samuelson estabeleceu nesta obra conceitos claros de estática e dinâmica que se tornaram dominantes em substituição aos diversos entendimentos então existentes: equilíbrio estático é o obtido de condições que independem do tempo, e o equilíbrio dinâmico é o resultante de um conjunto de forças que o fazem ser estacionário (não se altera no tempo porque forças diferentes o puxam em direções diferentes sendo nula a força resultante). Com base nesta estrutura básica (estática vs. dinâmica), que proveria uma teoria geral das teorias econômicas de acordo com o autor, ele analisa questões relativas às decisões individuais (microeconomia) na primeira parte do livro, e questões sobre o funcionamento da economia como um todo e as flutuações econômicas (macroeconomia) na parte dois. Seu primeiro e único emprego foi no MIT. Lá, foi professor influente de várias gerações de economistas e também um orientador de alguns destes alunos. Seu primeiro aluno de doutorado foi Lawrence Klein (agraciado com a John Bates Clark Medal em 1959 e o Nobel em 1980). Dos inúmeros alunos de Samuelson (não necessariamente orientados por ele) temos também Avinash Dixit, George A. Akerlof (Nobel em 2001), Joseph E. Stiglitz (Nobel em 2001), Peter Diamond (Nobel em 2010), Robert C. Merton (Nobel em 1997), Stanley Fischer, e William D. Nordhaus (Nobel 2018). Para melhor entender a importância das contribuições de Samuelson e a premiação com o Nobel por suas contribuições à economia matemática e por elevar o nível da análise econômica, é preciso ter clareza das enormes diferenças na forma de pensar dos economistas no século XX com os intelectuais que discutiram questões econômicas nos séculos anteriores. Se nos séculos XVIII e XIX as questões econômicas eram pensadas como sujeitas às leis naturais que regiam todas as outras dimensões da vida humana e do mundo natural, os economistas a partir da segunda metade do século XIX começaram a pensar o mundo econômico como tendo certa autonomia do mundo natural. Mas é apenas no século XX que se consolida a ideia da “economia” (real) como um conjunto de relações sujeitas à deliberação humana (e não mais à leis naturais), na qual podemos intervir e controlar até certo ponto. Além desta enorme transformação que ocorreu gradualmente, no século XX houve duas outras transformações fundamentais para entendermos a ciência econômica praticada hoje, que recebeu de Samuelson importantes contribuições. A primeira delas foi a segunda guerra mundial: uma guerra científica exigiu o recrutamento de cientistas e representou uma grande excepcionalidade que justificava para a sociedade norte-americana, avessa ao intervencionismo estatal e cética quanto à contribuição da ciência para o bem-estar coletivo, o aparato estatal montado como parte do esforço para combater os inimigos. Os economistas não foram recrutados de início, mas durante a guerra foram vistos como cientistas que poderiam contribuir ao trazer suas ideias de escassez e alocação de recursos escassos entre fins alternativos e competitivos. E da interação próxima que eles tiveram com matemáticos aplicados e engenheiros durante a guerra eles aprenderam várias técnicas matemáticas e estatísticas ao passo que ensinaram aos demais cientistas ideias de otimização e escolha. O aparato estatal da grande ciência montado para a segunda guerra não foi imediatamente desmontado com o fim do conflito, mas perpetuou-se, mesmo que em formato um pouco diferente, durante o período da guerra fria. Os economistas saíram da guerra com novas ferramentas e técnicas matemáticas e estatísticas que eles paulatinamente foram utilizando para estudar questões agora não mais ligadas ao esforço de guerra, transformando por completo a maneira de se fazer ciência econômica desde então. A segunda transformação no século XX foi a consolidação do uso de modelos para pensarmos as questões econômicas. Muito embora economistas já tenham feito “modelos” desde pelo menos o século XVIII estes artefatos passaram a fazer parte central do vocabulário dos economistas e de sua ciência somente após os anos 1930 quando a junção de economia, matemática e estatística deu origem à área de econometria (Morgan 2008 e 2012). No período após a segunda guerra mundial o uso de modelos passou a ser a metodologia dominante em economia. E modelos de um tipo particular passaram a dominar: modelos matemáticos e relativamente abstratos, cada vez mais baseado na escolha explícita por parte dos agentes econômicos (modelados, no caso dos consumidores, como maximizadores de utilidade sujeita à restrição orçamentária). As muitas e variadas contribuições de Paul Samuelson à economia seguiram e consolidaram a maioria destas tendências. Ele acreditava que a matemática é uma linguagem poderosíssima que evita as armadilhas e confusões da linguagem falada e escrita e se propôs a traduzir os problemas econômicos em modelos matemáticos que envolviam em grande parte a tomada de decisão racional dos agentes econômicos envolvidos. E ele se dedicou a estudar as propriedades matemáticas das soluções destes problemas e de derivar as implicações qualitativas de modo preciso. Mas ele não era necessariamente adepto da ortodoxia posterior que advogava que um problema que não pudesse ser colocado em termos de maximização condicionada pelos agentes não era suficientemente rigoroso. Ademais, ele fez parte de um grupo de economistas que usavam a análise utilitarista para as decisões individuais, mas que acreditavam que, principalmente no curto prazo, existiam importantes falhas de mercado que requeriam intervenções do governo na economia (economistas que eram keynesianos no curto prazo e neoclássicos – ou utilitaristas – no longo prazo, quando tais falhas deixavam de existir graças à ação governamental). Tanto em seus trabalhos mais técnicos como em seu livro-texto Samuelson deu importante contribuição para o processo de traduzir as ideias de John Maynard Keynes para o contexto norte-americano, juntamente com outros economistas como Alvin Hansen (conhecido como “o Keynes norte-americano”) e John Kenneth Galbraith, ambos professores da Universidade de Harvard, e James Tobin (aluno de Harvard, tendo obtido seu Ph.D. em 1939). Mais tarde, em colunas quinzenais para a Newsweek, ele continuou a influenciar as ideias da sociedade norte-americana sobre a relevância de políticas econômicas e o papel do estado em uma economia de mercado. Pedro Garcia Duarte Senior Research Fellow, INSPER Notas: Backhouse, Roger E. (2017). Founder of Modern Economics: Paul A. Samuelson: Volume 1: Becoming Samuelson, 1915-1948. Oxford: Oxford University Press. Fischer, Stanley (2008). Samuelson, Paul Anthony (1915–2009). Em: Steven N. Durlauf e Lawrence E. Blume (eds.), The New Palgrave Dictionary of Economics. 2a ed. Palgrave Macmillan, 2008. Lindbeck, Assar (ed.) (1992). Nobel Lectures, Economics 1969-1980. Singapore: World Scientific Publishing. Disponível como “Paul A. Samuelson – Biography”, Nobelprize.org: https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/1970/samuelson/lecture/ (consultado em 08 de junho de 2020). Morgan, Mary S. (2008). Models. Em: Steven N. Durlauf e Lawrence E. Blume (eds.), The New Palgrave Dictionary of Economics. 2a ed. Palgrave Macmillan, 2008. Morgan, Mary S. (2012). The World in the Model: How Economists Work And Think. Cambridge: Cambridge University Press. Samuelson, Paul A. (1947). Foundations of Economic Analysis. Cambridge, MA: Harvard University Press. Samuelson, Paul A. (1948). Economics. 1a ed. New York: McGraw-Hill. Samuelson, Paul A. (1966-2011). The Collected Scientific Papers of Paul A. Samuelson. 7 vols. Cambridge, Mass: MIT Press. Vols I-II ed. J. E. Stiglitz, 1966; Vol. III ed. R. C. Merton, 1970; Vol. IV ed. H. Nagatani e K. Crowley, 1977; Vol. V. ed. K. Crowley, 1986; Vol. VI-VII ed. J. Murray, 2011. Weintraub, E. Roy (2014). MIT and the Transformation of American Economics. Suplemento anual da History of Political Economy, vol. 46. Durham: Duke University Press. https://terracoeconomico.com.br/nobel-1970-paul-a-samuelson/ *****************************************************************

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