Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 8 de maio de 2022
CHEGA, EUFEMISMO PARA BASTA
Figuras de pensamento
As figuras de pensamento são elementos da língua que servem para criar diferentes efeitos de sentido, com intuito de impactar, sensibilizar ou convencer o leitor.
https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/figuras-pensamento.htm
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Brasil
Eufemismo sim, mas com senso de ridículo
Bem empregado, na medida certa, na ocasião adequada, o eufemismo é mais do que bem-vindo. É civilizadíssimo. Esse recurso de linguagem que contorna formas de expressão duras, grosseiras ou chocantes ganhou seu nome na Grécia antiga – euphemismós, de eu (bom) + phemi (dizer) – e certamente já existia antes disso, mesmo sem nome, no […]
Por Sérgio Rodrigues Atualizado em 31 jul 2020, 13h19 - Publicado em 19 dez 2010, 08h30
Bem empregado, na medida certa, na ocasião adequada, o eufemismo é mais do que bem-vindo. É civilizadíssimo. Esse recurso de linguagem que contorna formas de expressão duras, grosseiras ou chocantes ganhou seu nome na Grécia antiga – euphemismós, de eu (bom) + phemi (dizer) – e certamente já existia antes disso, mesmo sem nome, no discurso dos primeiros seres humanos que descobriram as vantagens de azeitar os mecanismos da vida em sociedade.
O limite do eufemismo é o senso de ridículo. Quando se espalha pela cultura com tanto sucesso uma expressão bocó, paternalista e mentirosa como “melhor idade” – que vem substituindo a mais aceitável “terceira idade” como eufemismo de velhice –, deve-se ver nisso um sinal de alerta.
Mas o eufemismo excessivo pode fazer mal? Claro que pode. Basta que comece a...
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Imagem_Elyeser Szturm
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Paulo Fábio Dantas Neto*: Política anti-pane: visões laterais contra o fatalismo e o negacionismo
Foi-se o pior da pandemia e teremos eleições, notícias que trariam, respectivamente, alívio e esperança. No entanto, novos riscos se apresentam. Os ventos guerreiros pesados que sopram do exterior nesse momento sinalizam perigo ainda maior para a humanidade do que aquele que ainda mal vencemos. A eles agregam-se outros, domésticos (ou emanações domésticas de um infortúnio mundial), que rarefazem o ar em todo o Brasil, desde Brasília, trazendo maus presságios quanto ao futuro imediato. Como não podia deixar de ser, as recepções, quase sempre atônitas, dessa energia negativa variam e ainda mais variam as muitas vezes afoitas prescrições de solução. Um norte com que contamos para calçar a resistência é a consciência da força da incerteza. Consciência que pede gestos afins.
A sociedade brasileira fica inquieta quando assiste cada enésimo episódio de boçalidade a conta-gotas, como, por exemplo, um alpinista social medíocre sair do justo anonimato para um cargo de governo na área da cultura, insultar artistas consagrados numa semana e, na outra, cercado de outros rapazes zombeteiros, anunciar, como política libertária, o uso espúrio de recursos públicos para fomentar a “cultura” do armamento de milÍcias contra o Estado. De inquieta, a sociedade passa a ficar perplexa quando nenhuma autoridade aparece para enquadrar o preposto nos limites da lei e destinar-lhe a punição devida pela porciúncula de terrorismo de Estado que ele protagoniza nesses dias de fama fácil.
Diante de tais situações insólitas, que vão se tornando rotina, a política não vem produzindo vacinas nem abrindo horizontes amplos para deter a estratégia golpista. Limita-se ao varejo de arregimentações e dispersões eleitorais parciais, supondo que o básico (as eleições) está garantido e que tudo será uma questão de tempo até que as urnas resolvam as pendências e nos redimam. Até lá cada qual faz seu jogo como quer. Buscar unidade ou demarcação na oposição, diante do abismo; opor-se ou compor-se com o governo, diante do golpismo; e diante da polarização instalada, apostar na razão, na emoção, no escárnio ou na ameaça, tudo isso seria do jogo (“em qual eleição não foi e em qual não será sempre assim?”). Esse cinismo impune dissolve, melancolicamente, em mentes crentes na vida pública, a aspiração de reverter o estado crítico de equilíbrio instável em que ataques antidemocráticos e antirrepublicanos proliferam. Nessa morte civil, a hipótese de manter o estado crítico pelos próximos quatro anos parece, a corações apertados, um “menos mal’, quando comparada à da corda partir, afinal.
Vamos lá, usemos o jargão da moda e digamos, com algum otimismo, que outra narrativa é possível, a partir de um exemplo concreto. A exposição, neste sábado, da convergência quase completa de partidos de esquerda e centro-esquerda em torno da candidatura do ex-presidente líder das pesquisas é, em si, animadora. Oxalá seja um marco para que a aliança avance mais e passe a ser eixo da reunião do maior número possível de partidos, políticos e eleitores democratas, também fora da esquerda.
Para se chegar a esse tanto necessário os percalços abundarão. Há muito o que mudar no discurso e nos métodos de campanha de Lula e na sinalização da atitude política de um futuro governo que surja de seu sucesso nas urnas. Frisar isso não é ocioso nem sinal de má vontade, expressa uma pré-condição. Para se propor reconstrutor do país após a devastação bolsonarista, Lula precisará se conciliar com a parte da sociedade atual que herdou a decepção que ele causou em parte dos seus eleitores de 2002. Ao se apresentar, no momento, como a única opção competitiva para evitar a permanência de Bolsonaro, sua candidatura passa a ter uma função social que transcende o interesse de seus proprietários originários. É interesse nacional que ela se oriente para um objetivo cívico, por maior que seja a tensão entre esse objetivo, de um lado e, do outro, as disposições íntimas do protagonista e a argamassa política estruturadora do seu partido. Sua celebrada vocação de ator precisará provar que ainda pode prevalecer hoje sobre as feridas existenciais do seu ego e sobre o desejo de revanche que pulsa no seu entorno, do qual talvez se veja devedor. Um líder político da nação precisará domar o chefe de facção. O fracasso ou sucesso de Lula na lida com esse script conciliador será vivido não só por ele, mas pelo país.
Olhos que veem esperança na aglutinação eleitoral parcial até aqui obtida precisam vê-la também, por exemplo, na conduta do presidente do Senado, a fincar estacas republicanas no terreno movediço em que o Poder Legislativo se converteu de um ano e meio para cá. Acenos positivos em sua direção são mais apropriados agora do que disparar críticas – por mais justas que sejam – à fronda reacionária que Arthur Lira comanda na Câmara. Um aceno positivo a ser feito ao roteiro do presidente do Senado em torno da defesa das instituições ajudará a aglutinar o campo democrático. A interpelação frontal a Lira, feita em torno do tema do orçamento e do sistema de governo, ajuda a aglutinar o campo oposto. Tropeços tais podem perenizar a fronda que até aqui é, basicamente, um pragmático consórcio eleitoral.
Outra visão lateral importante na condução de uma campanha eleitoral democrática nas presentes circunstâncias nacionais e internacionais requer sintonia reciprocamente solidária com o Poder Judiciário. O coro dos candidatos e partidos não pode se desviar da reiteração explícita do pacto constitucional de 1988 no que concerne à prerrogativa do STF de falar por último em matéria constitucional (inclusive sobre conflito entre poderes) e ao reconhecimento da Justiça Eleitoral como instância organizadora e fiadora da legitimidade das eleições e da representação política que produzem. Meias palavras derivadas de controvérsias factuais, ressalvas doutrinárias, ou cautelas analíticas podem caber em conversas de cozinha ou em seminários especializados. Os espaços amplos, da grande imprensa ao tik tok, precisam ser vias para exprimir e expandir esses dois consensos mencionados. E a veiculação adquirir sentido de campanha, através de recados explícitos, em arenas antigas e novas, de entidades icônicas da tradicional sociedade civil (OAB, ABI, CNBB e outras), organizações cívicas, personalidades famosas, movimentos sociais (corporativos ou não). Toda a rede associativa não desprezível que tem sustentado por valor e/ou por interesse a nossa democracia precisa estar ativa e articulada, inclusive profissionalmente, do ponto de vista da comunicação, em tono dos dois consensos.
Tudo isso pode parecer óbvio, mas não como lembrança daquilo que se espera ouvir de quem pretenda liderar uma frente democrática. A convergência pode ser pouca se com esse clamor civil não estiverem alinhadas, com ênfases análogas, as campanhas das candidaturas democráticas, especialmente a principal delas, que tem nome sabido de cor por adeptos, simpatizantes e mesmo por tradicionais adversários - que exigências do momento perigoso podem converter em aliados - como está sendo o caso de Geraldo Alckmin. As aspirações presentes na corporação militar (e não só entre os militares palacianos) de se constituir, fora da Constituição, como poder moderador da República, devem ser refratadas, contra a obstinada atitude do presidente em atiçá-las. Imprescindível essa solidariedade entre sociedade política e sociedade civil, tanto quanto a firmeza do próprio Poder Judiciário. Carta constitucional na mão, essas instituições, movimentos e candidaturas precisam dizer mais do que um não à pretensão guardiânica de militares. É preciso demonstrar sem “veja bem” que não existe vácuo e que é do STF essa missão. Além disso não render qualquer conversa que politize, como quer Bolsonaro, o assunto Forças Armadas. Decididamente não precisamos adicionar às difíceis questões do momento, uma questão institucional militar que só emergirá de fato se a pregação autocrática fomentar um pânico que desague em leniência do poder civil. Saber que esse risco existe é primeiro passo para afastá-lo.
Terceira visão lateral é para o papel da imprensa, o que inclui jornalistas e empresas, as mais expressivas das últimas e a grande maioria dos primeiros que denunciam, há quatro anos, o desgoverno cotidiano e desnudam para o grande público, com firmeza e empenho pedagógico, a natureza golpista do populismo presidencial. As preferências políticas de linhas editoriais perdem intensidade face ao objetivo de defender as instituições liberal-democráticas, por convicção e por instinto de sobrevivência. Sem tais aliados a defesa das instituições e a reconstrução do país serão missões impossíveis. Esse fato demonstra o diversionismo suicida que é incluir sua regulação estatal na pauta da campanha eleitoral.
Por fim, visão lateral para fora do Brasil, terreno que a de Lula não costuma ignorar, mas no qual carece, talvez, de ajuste de foco para, como nos demais terrenos, o líder da nação emergir no lugar do chefe de facção. Bom senso, além de pesquisas sobre como o cidadão brasileiro está vendo a guerra na Ucrânia, aconselham não simplesmente fazer coro à beligerância com que se apoia as vítimas da agressão russa. Fazer da paz, como Lula tem feito e não da guerra “justa”, o horizonte normativo do discurso, é algo a se elogiar, dentro, porém, de um limite em que não apresente agressor e agredido como sócios. Esse limite foi ultrapassado na entrevista à Time, embora, do ponto de vista eleitoral, por mais que esse ponto da entrevista possa ter, supostamente, repercutido de modo negativo, não se pode desconsiderar a suposição, ainda mais razoável, de que há ganhos compensadores no fato de ser capa daquela revista.
É outro, no entanto, o ponto muito mais relevante a ser captado pela visão lateral. São cada vez mais evidentes os sinais (já em forma de notícias) de que o governo norte-americano não ficará neutro, para além da conveniência diplomática, diante da estratégia golpista de Bolsonaro para converter o Brasil em cabeça de ponte de uma internacional populista, iliberal e anti-globalista. É algo a saudar, sem cerimônias, num momento em que o globalismo está sob ameaça de explodir colorido. As atenções que Lula sempre recebe na Europa não bastam para sugerir um apoio internacional contra um golpe, nesse momento em que a fragmentação é um espectro cada vez mais forte. Para além da relevante questão da consciência ambiental – que é um ponto concreto de conexão e resistência cosmopolita à devastação dos belicismos e xenofobias - tende a se impor um diálogo mais intenso da oposição brasileira em torno de uma pauta de defesa da democracia representativa, particularmente com o governo Biden, o elo mais fático da corrente globalista, que corre o risco de recuar para o mundo das ideias. Nós e o “ocidente” é pauta urgente para Lula tratar, com companheiros de partido, sobre viagens ideológicas pretéritas. Urgência em sentido nada figurado, porque Bolsonaro irá aos EUA em junho. Ouvirá severos alertas oficiais, é certo, mas também verá a quantas anda o estado das artes da oposição local. Não é certo, porém, como reagirá ao conjunto da obra. Pode voltar tocando trompete para a sua Internacional ou dedilhando outra partitura, no pianinho. A depender disso facilitará a fala de Lula ou roubará seu léxico.
Nada do que comentei a respeito do que vejo como necessárias visões laterais ao foco eleitoral decorre de uma avaliação pessimista sobre a disposição dos brasileiros e brasileiras de usarem seu voto para melhorar essa situação que se atravessa. Os ajustes de foco não se dirigem a motivar os eleitores que, apesar da pobreza política do cardápio eleitoral, mostram-se capazes de mobilização. Os números referentes ao conjunto de eleitores inscritos apresentados pelo TSE expressam adesão significativa, o que atesta confiança num sistema eleitoral altamente inclusivo. É importante o êxito do Tribunal na campanha de mobilização, especialmente dos jovens, campanha que realizou com apoio da imprensa e de segmentos da sociedade civil, num momento em que se levanta uma onda de suspeitas infundadas contra a Justiça Eleitoral e as próprias eleições.
As ponderações em favor da conveniência das visões laterais também não se relacionam às chances eleitorais de Lula. As quatro visões laterais que discuti – e outras que certamente convém ter - não são imperativas para que ele vença as eleições, embora também possam, ao meu ver, facilitar esse objetivo. Excluo-me do grupo (crescente) de observadores do quadro que vislumbra uma ascensão consistente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto e até predizem uma inversão de posições a médio prazo, após um empate técnico em poucas semanas. Acaba de sair mais uma pesquisa do Ipespe e, como outras dos institutos mais relevantes e bem reputados, indica variações sim, mas dentro de um quadro cujo traço principal é estabilidade. A âncora mais importante dessa estabilidade é a rejeição imensa a Bolsonaro, que se mantém impávido colosso, apesar de suas bondades e das suas ousadias, da manipulação de instituições do Executivo, feita em sociedade com parte do mundo político (graças à qual neutraliza o Legislativo para emparedar o Judiciário) e das ostentações intimidadoras que, com a cooperação de comandantes do Exército, emprestam força de realidade ao seu ânimo golpista.
Tudo isso atua, assim como atuam os erros de Lula e o bate-cabeça entre partidos e lideranças que inviabiliza, até aqui, uma terceira via eleitoralmente consistente (na qual residiria uma ameaça à ampliação do eleitorado de Bolsonaro ao centro), mas nada disso mostra – também até aqui - real perigo à liderança do maior adversário do atua presidente na corrida eleitoral.
As visões laterais tornam-se imprescindíveis é pela delicadeza do quadro institucional, que se tornará cada vez mais instável à medida em que fique mais patente a impossibilidade de Bolsonaro se manter no governo através das urnas. O líder das pesquisas não pode esperar que a faixa lhe seja transmitida de modo tranquilo. A violência política já ronda diretamente o processo eleitoral, como mostra a intercepção do carro de Lula em Campinas. Atentados tendem a ocorrer e a se suceder numa crescente se não aparecer a autoridade para garantir a eleição livre. Nesse momento, as instituições policiais estão infiltradas pelo veneno miliciano, o Exército sendo atiçado e a Justiça inibida no exercício das suas funções de organizar e dirigir as eleições e na de julgar e punir o ativismo golpista. Para tornar tudo mais complexo, alguns segmentos sociais com potencial explosivo (como caminhoneiros e policiais) são permeáveis à subversão das instituições, a turba bolsonarista está literalmente armada e parte dela organizada como milícia. O risco real não é Bolsonaro vencer as eleições e sim a perturbação grave do processo eleitoral, na sequência, da posse dos eleitos, por fim, do próprio exercício do futuro governo.
Esses riscos não serão afastados por declarações de intenção ou por apelos à moderação. O banho de urna é o caminho para sairmos do impasse. O primeiro passo – apenas o primeiro – para se sair da crise. Mas depois há que governar e não se fará nem a eleição nem o governo se não houver paz, por sua vez só possível com o respeito às regras da República e à decisão dos eleitores. A democracia, para ser respeitada, precisará da força objetiva do Estado que - não nos iludamos -, ao que tudo indica, infelizmente, não poderá ficar apenas latente, mas terá que se mostrar objetivamente e ostensivamente. Sem isso teremos que lidar com o medo como variável independente. Partidos e candidatos não estarão seguros para fazer campanha, muito menos os eleitores se sentirão seguros no ato de votar. Uma desmobilização perversa pode se estabelecer na contramão do êxito recente da campanha do TSE.
Para que todos esses condicionantes sejam atendidos é preciso convocar para concretizá-los as autoridades institucionais que a Constituição determinou como garantidoras do estado de direito. Essas atribuições são intransferíveis e consistiria em imprudência imperdoável confiá-las a um consenso político ad hoc, a ser obtido pela negociação do inegociável. O resultado – caso houvesse algum – seria, além de espúrio, enganoso, pois a essa altura da escalada que tensiona as instituições, não há consenso possível, porque uma das partes resolveu denunciar o jogo. Maus litigantes terão que ser constrangidos a aceitá-lo, caso contrário, terminarão vencendo, de algum modo, ainda que percam as eleições.
O raciocínio completa-se com o que segue: a convocação permanente das autoridades constituídas para cumprirem seu dever constitucional de propiciar segurança pública para as eleições não dispensa os partidos políticos e suas respectivas candidaturas presidenciais da obrigação de respaldarem politicamente a missão dessas autoridades institucionais, colocando a convergência republicana e democrática no centro dos seus discursos. Nada impede que campanhas se diferenciem no tratamento daquelas questões cruciais que preocupam e mobilizam a maioria dos eleitores. Diferentes visões sobre como baixar o custo da vida, produzir emprego e renda através de política econômica, propor políticas públicas socialmente avançadas, mostrar preocupação e ideias sobre segurança alimentar e ambiental. Mas o momento pede que se traga ao centro do palco também o que há alguns anos era óbvio e hoje deixou de ser. A continuidade democrática está ameaçada e tem de ser comunicado ao povo quem a ameaça e por que. Nesse ponto não cabe debate, mas a difusão de um consenso que supere feridas.
A cinco meses das eleições, as campanhas são as instâncias de mobilização política mais concretas para providenciar também o devido apoio social para as instituições funcionarem. Não é possível entrar nesta campanha de 2022 disposto só a vencer a eleição, ou a perde-la com glória de vítimas, sem política ampla e responsável para com o país que se pretende governar depois. Que não se deixe a defesa da democracia em segundo plano, recurso retórico tardio para censurar terceiros e tentar salvar a pele e a responsabilidade do próprio grupo, em caso de derrota. Deu-se isso com os vencidos de 2018. É isso que os democratas, especialmente o ex-presidente Lula, têm obrigação política de evitar agora.
A ausência de um impulso agregador maior em pré-campanhas até aqui movidas por meros cálculos aritméticos num contexto perigoso de desdobramentos imprevisíveis é que respalda a percepção pessimista, talvez fatalista, que registrei nos três primeiros parágrafos do texto (e nos três primeiros minutos do áudio) desta coluna. Pessoas órfãs de um desejo de moderação que não comparece à realidade, em cada vez maior número cogitam fugir dela de diversas maneiras, como se ela não fosse nos atormentar embaixo da cama ou em qualquer redoma ou pais em que nos refugiarmos.
Deixei de lado, por mais essa semana (a cada dia a sua agonia), essa percepção pessimista, para tentar prospectar algum argumento que anime, apesar de saber que o Brasil está vivendo uma das variantes mais malignas da crise que adoece o mundo. Mas é inquietante ver, na bolha dos otimistas, predominar um voluntarismo imprudente. Muitos dos que não se sentem contaminados pela moléstia do pessimismo e esperam milagres do seu umbigo estão a se distrair com números, ignorando os perigos. Entre o fatalismo e esse negacionismo, é difícil achar caminho. Se queremos que a vida civil prossiga, todos temos que deixar nossas áreas de conforto e mobilizar visões laterais para encarar os outros. Nesse sentido, a nota do Cidadania (“Cidadania se solidariza com PT e repudia o fundamentalismo religioso”), assinada pelo seu presidente Roberto Freire, é um alento e tanto. Que o exemplo semeie!
(Obs: esta coluna foi escrita antes do autor conhecer o teor da fala de lula no lançamento da sua chapa. Espera que tenha sido digno de um sábado de aleluia. Precisamos de alegrias)
*Cientista político e professor da UFBa
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— É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência. Sem exorbitar, sem extrapolar, sem interferir nas atribuições alheias. Chega de ameaças, chega de suspeições absurdas, chega de chantagens verbais, chega de tensões artificiais. O país precisa de calma e tranquilidade para trabalhar e vencer as dificuldades atuais. E decidirá livremente, no momento que a lei determina, quem deve governá-lo.
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Basta Um Dia
Bibi Ferreira
Bibi Ferreira, de Chico Buarque, BASTA UM DIA.
Album: Bibi Ferreira - Gota d'Água - de Chico Buarque e Paulo Pontes.
Ano de 1977.
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Ouça Basta Um Dia
Pra mim
Basta um dia
Não mais que um dia
Um meio dia
Me dá
Só um dia
E eu faço desatar
A minha fantasia
Só um
Belo dia
Pois se jura, se esconjura
Se ama e se tortura
Se tritura, se atura e se cura
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia
Só um
Santo dia
Pois se beija, se maltrata
Se come e se mata
Se arremata, se acata e se trata
A dor
Na orgia
Da luz do dia
É só
O que eu pedia, viu
Um dia pra aplacar
Minha agonia
Toda a sangria
Todo o veneno
De um pequeno dia
Composição: Chico Buarque
https://www.letras.mus.br/bibi-ferreira/1747600/
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Clara Nunes
Basta um dia
Chico Buarque/1975
Para a peça Gota d´água de Chico Buarque e Paulo Pontes
https://www.letras.mus.br/clara-nunes/120359/
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ATRAÇÕES
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A PARTIR DE
12
OUT
GOTA D’ ÁGUA [A SECO]
ADULTO
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Em dezembro de 1975, Bibi Ferreira subia ao palco do Teatro Tereza Rachel (Rio de Janeiro) para estrear Gota D’Água, transposição da tragédia grega Medeia, de Eurípedes, para a realidade de um conjunto habitacional do subúrbio carioca. Com um arrojado texto em versos de Chico Buarque e Paulo Pontes e canções como Basta um Dia, o espetáculo marcou época e se tornou um clássico moderno do Teatro Brasileiro.
Mais de quatro décadas depois, a história voltou à cena com uma adaptação absolutamente inédita do diretor Rafael Gomes. Batizada de Gota D’Água [a seco], a nova versão estreou no Rio de Janeiro em maio de 2016. Contemplado pelo edital da BR, o espetáculo chega em Campinas dias 12, 13 e 14 de outubro, no Teatro Iguatemi. No palco, Laila Garin e Alejandro Claveaux são acompanhados por cinco músicos sob a direção musical de Pedro Luís.
Como ‘a seco’ do título já indica, a montagem busca chegar à essência da história, através dos embates entre os protagonistas, Joana e Jasão, ainda que outros personagens do original também apareçam na adaptação. Mesmo com parte da trama sociopolítica reduzida na versão, Rafael Gomes reitera que a sua leitura da peça é focada em sua natureza política, cruelmente atual.
“A Gota D’Água original possui uma trama política bastante latente em seu embate entre opressores e oprimidos. Ao concentrar a história em Joana e Jasão, em suas ideologias, ações e sentimentos, eu gostaria ainda assim de falar sobre essa política mais essencial da vida, do dia a dia, essa que a maioria das pessoas sublima, esquece ou finge que não é com elas, achando que ser político é somente saber apontar o dedo para o adversário e se manifestar eventualmente por aquilo que interessa, de forma um tanto o quanto individualista”, afirma o diretor, que manteve toda a estrutura formal da peça e inseriu novas canções e pequenas citações de letras de Chico Buarque em algumas passagens do texto.
Gota D’Água [a seco] é o primeiro espetáculo que Rafael Gomes dirigiu fora de sua companhia, a Empório de Teatro Sortido, de onde trouxe alguns colaboradores para esta montagem, como o cenógrafo André Cortez (Prêmio Shell por Um Bonde Chamado Desejo, 2015) e o iluminador Wagner Antônio. Rafael foi convidado pela produtora Andréa Alves, da Sarau Agência, e por Laila Garin para embarcar no projeto.
Estrela de Elis – A Musical, Laila experimenta agora um novo desafio em cena: além de interpretar a mítica personagem eternizada por Bibi Ferreira, dá voz a músicas que não faziam parte da peça original, como Eu Te Amo, Baioque e Cálice. Revelado no projeto Clandestinos, Alejandro Claveaux interpreta o personagem que já foi de Roberto Bonfim e Francisco Milani (na temporada paulistana, em 1977).
Uma tragédia carioca, embates universais
Chico Buarque e Paulo Pontes começaram a trabalhar no texto original a partir de uma transposição que Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) havia feito para a televisão. A feiticeira Medeia virou Joana, moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, mãe de dois filhos, frutos de seu casamento com Jasão, alguns anos mais novo do que ela. Compositor popular, Jasão é cooptado pelo empresário Creonte, que o ajuda a fazer sucesso, e termina por largar Joana para se casar com a filha do milionário. A trama passional – que culmina na vingança de Joana – tem como pano de fundo as injustiças sociais pelas quais os moradores do local passam, vítimas da exploração de Creonte, todo-poderoso da região.
Por conta deste acúmulo de tensões, Rafael Gomes elegeu o embate como o conceito central de sua montagem. Não somente o embate amoroso, que está no cerne da trama do casal, mas também o social, em um sentido mais amplo, e, principalmente, o íntimo. “São as batalhas internas a que as circunstâncias externas nos sujeitam. Jasão no conflito entre o que está ganhando e o que está deixando para trás, assim como Joana na decisão entre ir às últimas consequências para se vingar ou simplesmente seguir vivendo – o embate entre o humano e o divino, o terreno e o espiritual’, conclui o diretor.
Com esta nova e enxuta adaptação, as músicas que não estavam no original entram justamente para servir à dramaturgia, ao contar partes da história, revelar melhor o caráter e as contradições das personagens, além de amplificar alguns contextos e situações que precisaram ser sumarizados. A entrada de Pedro Luís na direção musical vem ao encontro da vontade de não fazer necessariamente um musical tradicional. “É um arejamento, um olhar diferente. Pedro fez com as canções, todas já tão conhecidas e consagradas, o que eu pretendo fazer com a dramaturgia: dar uma nova dimensão, jogar uma luz por um lado que não estamos acostumados a ver. Isso não implica em uma ambição de ‘melhorar’ nada, apenas de tentar pensar e criar por um caminho menos óbvio”, ressalta Rafael.
Música, letra e teatro
Laila Garin sempre teve a carreira teatral atravessada pela música, seja em shows paralelos ou na série de espetáculos musicais que protagonizou recentemente. Após ter iniciado a vida artística em Salvador, sua cidade natal, ela se mudou para o São Paulo e trabalhou com Luiz Carlos Vasconcelos, a Cia. Piolim, antes de ficar por sete anos na Casa Laboratório, dirigida por Cacá Carvalho e a Fondazione Pontedera. Após o período na capital paulista, fixou residência no Rio de Janeiro, onde estrelou Eu Te Amo Mesmo Assim (2010), musical supervisionado por João Falcão, diretor de Gonzagão – A Lenda (2012), do qual Laila fez parte por algumas temporadas.
A sua recriação do mito Elis Regina em Elis – A Musical (2013) provocou um verdadeiro fenômeno teatral de público e crítica, coroado com todos os principais prêmios de atuação do País: APCA, APTR, Bibi Ferreira, Cesgranrio, Quem, Reverência e Shell. No último ano, ainda esteve em O Beijo no Asfalto, versão musical de Claudio Lins para o clássico de Nelson Rodrigues, e estreou na TV na novela Babilônia, de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.
Andréa Alves abraçou a empreitada de revitalizar a tragédia e as canções de Gota D’Água após produzir a recente montagem de Ópera do Malandro, em cartaz por quase dois anos com enorme sucesso popular. À frente da Sarau Agência desde a sua fundação, em 1992, também é a responsável pelo Festival Villa-Lobos e os musicais Grande Otelo – Eta Moleque Bamba!, Gonzagão – A Lenda e Auê, nova criação da Cia. Barca dos Corações Partidos.
Da mesma forma, a música sempre foi um elemento determinante no teatro de Rafael Gomes. Seu texto de estreia, Música Para Cortar os Pulsos (prêmio APCA de Melhor Peça Jovem, 2010), era estruturado a partir de citações musicais e trechos de letras, enquanto nos espetáculos seguintes a trilha sonora sempre exerceu um relevante diálogo com a dramaturgia, caso de Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes (2014) e Um Bonde Chamado Desejo (2015), que acaba de lhe render o Prêmio Shell de Melhor Direção. Ele considera Gota D’Água [a seco] o seu primeiro musical, embora prefira pensar na montagem como uma “peça com música”.
“Quando Andréa e Laila me convidaram para este trabalho, para além de todo deleite imediato que seria trabalhar com ambas, a ‘questão Chico Buarque’ também calou fundo. Não só pelos motivos óbvios, de Chico ser esse artista gigante, mas porque minha trajetória no teatro está carimbada pela obra dele. A primeira peça que fiz na vida foi como assistente de direção e dramaturgista de Calabar, em 2008, numa montagem dirigida por Heron Coelho. E já dirigi uma releitura de Cambaio, que chamamos também de Cambaio [a seco], em caráter de evento, com apenas sete apresentações”, conta Rafael, que sempre foi admirador de musicais, “de Brecht a Sondheim, passando pelos filmes da Disney e Bob Fosse. Espero que este seja o primeiro de vários”, ressalta.
FICHA TÉCNICA:
Classificação: 16 anos.
Duração: 100 minutos.
Gênero: Musical.
GOTA D’ÁGUA [A SECO]
De Chico Buarque e Paulo Pontes.
Adaptação e direção: Rafael Gomes.
Com Laila Garin e Alejandro Claveaux.
Músicos: Pedro Silveira, Elcio Cáfaro, Marcelo Muller, Diogo Sili e Dudu Oliveira.
Direção Musical: Pedro Luís.
Cenografia: André Cortez.
Iluminação: Wagner Antônio.
Figurinos: Kika Lopes.
Direção de Produção: Andréa Alves.
Diretor assistente e direção de movimento: Fabrício Licursi.
Design de som: Gabriel D’angelo.
Preparação e arranjos vocais: Marcelo Rodolfo e Adriana Piccolo.
Assistente de direção musical: Antônia Adnet.
Assistente de cenografia: Rodrigo Abreu.
Coordenação de Produção: Leila Maria Moreno e Vivi Borges.
Este projeto foi aprovado pelo edital de circulação da BR e se apresentará nas cidades de Campinas, Fortaleza e Recife.
SERVIÇO
Data: dias 12(sexta), 13(sábado) e 14(domingo) de outubro.
Horário: às 17h na sexta-feira, 21h30 no sábado e às 17h30 e 20h no domingo.
Local: Teatro Iguatemi 3º piso do Iguatemi Campinas – End: Av Iguatemi, 777 – Vila Brandina
Telefone: (19) 3294-3166 – www.teatrogt.com.br
VALORES
Inteira: R$ 25,00
Meia-Entrada: R$ 12,50,00
VENDAS
Bilheteria do Teatro: 3294-3166 (segunda a sábado das 10h às 22h | domingo das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingressorapido.com.br
REGRAS PARA MEIA-ENTRADA
Estudantes (Com Cartão da Instituição Educacional com data de validade ou Boleto – Atestado de Matricula do mês vigente)
Idosos e Terceira Idade (Cartão de Aposentado ou RG para maiores de 60 anos)
Professores Rede Pública (Holerite ou Documento que comprove)
Crianças de 02 a 12 anos de idade têm direito à meia-entrada. A partir dos 12, meia-entrada apenas com apresentação de carteira de estudante.
REGRAS PROMOCIONAIS
CLUBE GT – Os sócios do Clube GT tem 50% de desconto mediante cartão.
Clientes Oba Hortifrúti – 50% de desconto nos ingressos. Para garantir esse benefício, é necessária a apresentação do cupom fiscal com o valor mínimo de R$ 30,00, que deve ter sido emitido no máximo 30 dias antes da data do espetáculo escolhido. As compras deverão ser realizadas nas lojas Oba Hortifrúti de Campinas.
http://www.teatrooficinadoestudante.com.br/atracoes/gota-d-agua-a-seco/
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Basta um dia (Mônica Salmaso)
27.806 visualizações3 de ago. de 2015
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Biscoito Fino
835 mil inscritos
DVD, ao vivo, gravado em março de 2008 no teatro Fecap em São Paulo, registra o show homônimo, que já passou pelas principais capitais do país. Ao lado do quinteto Pau Brasil, formado por Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violão e cavaquinho), Teco Cardoso (sax e flautas), Ricardo Mosca (bateria) e Rodolfo Stroeter (baixo), Mônica Salmaso contempla diversas fases do autor Chico Buarque.
https://www.youtube.com/watch?v=k7UcVOdTe34
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"O que são figuras de pensamento?
As figuras de pensamento trabalham com o campo mental e imagético dos interlocutores.
As figuras de pensamento são recursos linguísticos que servem para enfatizar e/ou criar efeitos estéticos e semânticos, com intuito de impactar o leitor/ouvinte, gerando maior poder de convencimento ou emoção. São figuras caracterizadas como do pensamento, pois apelam a movimentos mentais e imaginários do leitor, sendo, portanto, mais conectadas à interpretação do que com a materialização do texto.
Esses elementos linguísticos provocam reflexões e leituras criativas, pois exigem do leitor/ouvinte uma interpretação deslocada. O efeito da figura de pensamento não está diretamente relacionado com as palavras utilizadas ou com a organização estrutural do texto, mas com a capacidade de encontrar um sentido “oculto” ou “novo”.
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Ironia
A ironia é a figura do pensamento responsável por dizer o contrário do que se quer expressar. Ela se utiliza de palavras e expressões que signifiquem um sentido diferente ou oposto ao que se deseja dizer. A revelação da oposição ocorre, principalmente, por marcações na oralidade, como entonação da voz, expressões faciais e outros.
Exemplo:
“Nossa! Como chegou pontual!”
(quando se deseja dizer que está atrasado)
Para saber mais detalhes sobre essa figura de linguagem, leia o texto: Ironia.
Hipérbole
A hipérbole é a figura de pensamento responsável por intensificar o sentido do enunciado, muitas vezes a um nível impossível, para expressar uma condição com força expressiva. Utiliza palavras ou comparações absurdas para simbolizar o sentido.
Exemplo:
“Nossa! Tá um dilúvio lá fora!”
(quando se deseja dizer que está chovendo muito)
Saiba mais sobre essa figura de pensamento e veja mais exemplos em: Hipérbole.
Eufemismo
O eufemismo é a figura de pensamento responsável por atenuar ou amenizar uma informação, por meio da substituição de termos considerados fortes ou impactantes por expressões mais formais e neutras. Pode ser utilizado para expressar algo positivo, para evitar uma informação assustadora ou ainda para amenizar uma situação grosseira.
Exemplo:
“Ela não é horrível, só tem uma personalidade forte.”
(“personalidade forte” vem amenizar “horrível”)
Personificação ou prosopopeia
A personificação ou prosopopeia é a figura de pensamento que atribui características, aspectos e funções considerados humanos a elementos não humanos e/ou não vivos. Quando narrativas literárias, por exemplo, constroem personagens que são objetos, animais ou elementos da natureza, ocorre a prosopopeia.
Exemplo:
“O Sol me olhou nos olhos e disse que eu precisava ter fé.”
(“O Sol”, elemento inanimado, “olha” e “diz” como os humanos)
Para saber mais sobre essa figura de linguagem, leia o texto: Personificação (prosopopeia).
Antítese
A antítese é a figura de pensamento responsável por relacionar elementos que possuem diferença ou oposição semântica em uma mesma frase, para produzir um efeito de sentido. Não há uma anulação de sentido, pois a antítese apenas relaciona elementos aparentemente opostos em um mesmo enunciado.
Exemplo:
“Todo dia ela vai arrumada e colorida, e também com aquela sua cara pálida.”
Nesse caso, a antítese ocorre pela relação entre “arrumada e colorida” e “cara pálida”, referidos ao mesmo sujeito. Saiba mais sobre essa figura de pensamento e leia mais exemplos em: Antítese.
Paradoxo ou oxímoro
O paradoxo ou oxímoro é a figura de pensamento que une elementos opostos, que aparentemente se contradizem, em um novo sentido, no qual atuam juntos. A sua diferença com relação à antítese é que o paradoxo trabalha com contradições anulatórias ou impossíveis, mas que, no discurso, ganham a possibilidade simbólica de coexistir.
Exemplo:
“Todo dia eu morro, para poder renascer.”
Nesse caso, o paradoxo ocorre, pois é logicamente impossível que uma pessoa todo dia morra para renascer. Os termos não são apenas diferentes, pois também se contradizem na realidade. Saiba mais sobre essa figura de pensamento lendo nosso texto: Paradoxo.
Gradação ou clímax
A gradação é a figura de pensamento responsável por enumerar as ideias em uma ordem que se direcione em movimento crescente ou decrescente. A gradação crescente produz o clímax, que é o ápice da enumeração. A gradação decrescente se direciona até o anticlímax, o mais fundo ou fechado da enumeração.
Exemplos:
- “Entrei pela porta dos fundos, adentrei a cozinha, direcionei-me à sala e comecei a subir os degraus. A vista foi se ampliando, vi o chão, o pé do sofá, a mesa de centro, a janela e, de repente, ela.” (gradação crescente até o encontro com “ela”, momento clímax)
- “Primeiro ele se internou, depois precisou de cirurgia, começou a enfraquecer, até que faleceu.” (gradação decrescente até o falecimento do sujeito, momento anticlímax)
Apóstrofe
A apóstrofe é a figura de pensamento que indica um chamamento ou invocação do interlocutor ou de outro sujeito para o discurso. Sintaticamente, a apóstrofe corresponde ao vocativo.
Exemplo:
“Atenção todos, preciso falar com vocês!”
A expressão “Atenção todos” é a apóstrofe e serve para chamar a atenção para a mensagem que será comunicada.
Litote
Litote é a figura de pensamento que ocorre quando o enunciado apresenta uma negação, mas o sentido apresenta uma afirmação implícita. O texto externo apresenta uma mensagem que, internamente, carrega outra.
Exemplos:
- “Você não parece passar bem.”
(quando se deseja dizer “você está passando mal”)
- “Você não é nada bobo.”
(quando se deseja dizer “você é esperto”)
- “Você não parece nada calmo.”
(quando se deseja dizer “você parece nervoso”)
Exercícios resolvidos
Analise as frases das questões abaixo e identifique a figura de pensamento presente em cada uma.
Questão 1 – “Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso.” (Machado de Assis)
A) Paradoxo
B) Prosopopeia
C) Antítese
D) Apóstrofe
Resolução
Alternativa C. A antítese ocorre na relação entre “corcel do cego desejo” e “asno da paciência”.
Questão 2 – “Jurema partiu dessa para melhor”.
A) Antítese
B) Paradoxo
C) Hipérbole
D) Eufemismo
Resolução
Alternativa D. O eufemismo ocorre em “partiu dessa para melhor” no lugar de “morreu”.
Questão 3 – “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente”. (Luís de Camões)
A) Antítese
B) Paradoxo
C) Prosopopeia
D) Eufemismo
Resolução
Alternativa B. O paradoxo ocorre nas relações “arde” e “sem se ver”; “dói” e “não se sente”.
Questão 4 – “A lua me traiu.”
A) Prosopopeia
B) Eufemismo
C) Paradoxo
D) Antítese
Resolução
Alternativa A. A prosopopeia ocorre pela atribuição do aspecto traição, elemento humano, à “Lua”, elemento da natureza.
Questão 5 – “João, o que você está fazendo aí na sala?!”
A) Prosopopeia
B) Antítese
C) Apóstrofe
D) Eufemismo
Resolução
Alternativa C. A apóstrofe ocorre na expressão “João”, que serve para chamar a atenção do interlocutor.
Por Talliandre Matos
Professora de Redação
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
MATOS, Talliandre. "Figuras de pensamento"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/figuras-pensamento.htm. Acesso em 08 de maio de 2022.
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Lista de exercícios
Exercício 1
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(Fuvest) A catacrese, figura que se observa na frase “Montou o cavalo no burro bravo”, ocorre em:
a) Os tempos mudaram, no devagar depressa do tempo.
b) Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo esplendor e sepultura.
c) Apressadamente, todos embarcaram no trem.
d) Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal.
e) Amanheceu, a luz tem cheiro."
Veja mais em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/figuras-pensamento.htm
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