Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
600.000 Voltas Que Permanecem
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Na Vanguarda da Globalização do Atraso e Miséria
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CAPA: Apesar da covid em queda, Brasil chega a 600 mil mortos https://bit.ly/3iIlTDn
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Em tom menor
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YouTube
Jorge Ben Jor, George Benson & Al Jarreau - Mas Que Nada - YouTube
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Assista:
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Jorge Ben Jor, George Benson & Al Jarreau - Mas Que Nada
8.758 visualizações6 de dez. de 2012
Música neste vídeo
Música
Mas Que Nada (Live 1993 Version)
Artista
Al Jarreau
Álbum
Tenderness
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=R8VAlDB38lU *** ***
BEN SURREAL
ESCRAVO DE JOR
***
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Franklin
Significado do Nome Franklin
Franklin: Significa “homem livre”.
Tem origem do inglês antigo frakelin, que quer dizer “homem livre”. Inicialmente utilizado como um sobrenome inglês, surgiu no final do século XII.
É comum nos Estados Unidos utilizá-lo para homenagear Benjamim Franklin, cientista, inventor, filósofo e estadista americano, ficou conhecido por liderar a Revolução Americana e por suas experiências com a eletricidade.
*** *** https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/franklin/ *** ***
***
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa o Zambelê ficar...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
***
Escravos de Jó (versão Zambelê)
Possivelmente a versão original da cantiga.[4]
Wikipédia
Escravos de Jó – Wikipédia, a enciclopédia livre
***
De Ben a Ben Jor: hibridismo e trânsitos simbólicos na trajetória do cantor Jorge Ben Jor
***
***
Publicado: Aug 6, 2016
DOI: https://doi.org/10.26512/cmd.v4i1.9180
Palavras-chave:
música popular; cultura popular de massa; mundialização; modernização; memória.
Main Article Content
Marcos Amaral
U
Resumo
Este texto toma o hibridismo estético da obra de Jorge Ben Jor como elucidativo dos trânsitos simbólicos operados pelo cantor brasileiro que, desafiando circunscrições espaço-temporais tradicionais, tornam o artista um emblema do processo de mundialização da cultura, na medida em que conformam uma materialidade estética calcada na superposição entre local, nacional e mundial. Neste sentido, o “caldeirão de referências musicais” que se apresenta como insumo à criatividade artística do cantor ”• estendendo-se da música etíope apresentada pela mãe, chegando ao rock estadunidense de Little Richard e passando pelos sambas-enredos da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro ensinados pelo pai ”• nos servirá de subsídio para problematizarmos o processo de industrialização do simbólico no Brasil e a interface impreterível que forma em relação ao tema da cultura “popular”, que é ressignificada, articulando-se a um folclore aluvial cuja principal característica é a mestiçagem do ambiente urbano. Assim, a trajetória de Jorge Ben Jor, como lugar idiossincrático onde se cruzam o “intimismo civilizado” da bossa nova e a “expansividade festiva” do samba-enredo, aparecerá como figuração da articulação entre o popular e a mundialização da cultura.
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Article Details
Como Citar
Amaral, M. (2016). De Ben a Ben Jor: hibridismo e trânsitos simbólicos na trajetória do cantor Jorge Ben Jor. Arquivos Do CMD, 4(1), 227–239. https://doi.org/10.26512/cmd.v4i1.9180
Edição
v. 4 n. 1 (2016): Dossiê Multimodalidade da Memória: Corpo, Narrativa e Teoria Social
Seção
Arquivos do CMD
Biografia do Autor
Marcos Amaral, U
Aluno de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (PPG-SOL/UnB).
Bolsista CAPES.
0
Referências
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esclarecimento como mistificação das massas. In ADORNO,
Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:
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boca cheia de formiga. Rio de Janeiro: Record, 2011.
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*** *** https://periodicos.unb.br/index.php/CMD/article/view/9180 *** ***
***
Assistir:
***
***
*** *** https://youtu.be/0Iszr6sUDnE *** ***
***
***
2:10
YouTube
Ualá Ualalá - Jorge ben (samba esquema novo)
Assistir
Enviado por: SOL gabriel, 15 de jun. de 2012
***
Uala Uala-la
Jorge Ben Jor
Samba Esquema Novo
Vem vem amor
Vem comigo, vem sambar
Uala uala-la
Eu sei que você vai gostar
Pois você gosta de sambar
Mas ele não espera por ninguém
Pois ele é muito bom também
Ele é um samba diferente
Lá dos tempos de sinhá e de sinhô
É um lamento
Que o negô entoava pelas noites
É um lamento de amor
Agô ôba agô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô
*** *** https://www.vagalume.com.br/jorge-ben-jor/uala-uala-la.html *** ***
***
***
Ouvir:
***
***
Respect (tradução)
Aretha Franklin
A Brand New Me
Respeito
O que você quer? Querido, eu tenho
O que você precisa? Pode deixar comigo
Só peço um pouco de respeito quando você chegar em casa
Ei, baby, quando você chegar em casa, senhor
Eu não vou te fazer mal enquanto você estiver longe
Não vou te fazer mal porque eu não quero
Só peço um pouco de respeito quando você chegar em casa
Ei, baby, quando você chegar em casa, escute
Eu estou a ponto de dar a você todo de meu dinheiro
E tudo o que eu quero é retorno, meu bem
É que você me dê meus lucros quando chegar
É, querido, quando você chegar em casa
Seu beijo é mais doce do que mel
Mas quer saber? O meu dinheiro também
Só peço um pouco de respeito quando você chegar em casa
Baby, quando você chegar em casa, senhor
Conte comigo
R-E-S-P-E-I-T-O
Descubra o que significa para mim
R-E-S-P-E-I-T-O
Cuidado, cuidado
Oh, um pouco de respeito
É, baby, eu quero um pouco de respeito
Agora, eu posso me cansar, mas continuo tentando
Cansei de enganar, não vou mentir
Sim, respeito, só preciso de respeito
Tudo que eu quero, oh yeah, eu quero um pouco de respeito
Sim, baby, um pouco de respeito
Oh, querido, cante comigo
OOh, eu quero um pouco de respeito
Respect
What you want, baby, I got it
What's you need? You know I got it
All I'm askin' is for a little respect when you get home
Hey baby, when you get home, mister
I ain't gonna do you wrong while you're gone
I ain't gonna do you wrong because I don't wanna
All I'm askin' is for a little respect when you get home
Hey baby, when you get home, listen
I'm about to give all of my money
And all I'm askin' in return, honey
You give me my profits when you get there
Yeah baby, when you get home, oh, yeah, ooh
Your kiss is sweeter than honey
Guess what? So here's my money
All I need is just a little respect when you get home
Baby, when you get home
Call on me
R E S P E C T
Find out what it means to me
R E S P E C T
Take care, T C B
Oh, a little respect
Yeah, baby, I want a little respect
Now, I get tired, but I keep on tryin'
Runnin' out of foolin', I ain't lyin'
Yes, respect, all I need is respect
All I want, ooh yeah, I want little respect
Yeah, baby, a little respect
Oh honey, sock it to me
Ooh, I want a little respect
Compositor: Otis Redding
*** *** https://www.vagalume.com.br/aretha-franklin/respect-traducao.html *** ***
***
Wikipédia
Cantiga de roda – Wikipédia, a enciclopédia livre
***
Escravos de Jó
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Esta página cita fontes, mas estas não cobrem todo o conteúdo. Ajude a inserir referências. Conteúdo não verificável poderá ser removido.—Encontre fontes: Google (notícias, livros e acadêmico) (Setembro de 2021)
Partitura musical.
Escravos de Jó[1] é um jogo infantil de cantiga de roda que exige, principalmente, as habilidades de agilidade e concentração. Formada a roda, as crianças (ou jogadores) permanecem paradas, podendo inclusive ficar sentadas, com um objeto igual para todos (pedrinhas, copo, caneca, etc), na mão direita.[2][3]
Ao ritmo da música, marcando os tempos fortes, iniciam a brincadeira de passar o objeto que têm na mão direita para o vizinho da direita, e receber com a mão esquerda o objeto do vizinho da esquerda (se estiver em pé), trocando-o rapidamente de mão.[3][4] Quando a letra diz "zigue, zigue, zá", o objeto é retido na mão direita, e só passado para a pessoa da direita na última palavra.
Índice
1 Letra
1.1 Escravos de Jó (versão Zé Pereira)
1.2 Escravos de Jó (versão Zé Guerreiro)
1.3 Escravos de Jó (versão "tira, põe")
1.4 Escravos de Jó (versão Zambelê)
1.5 Escravos de Jó (versão Cão Guerreiro)
1.6 Escravos de Jó (versão "tira, bota")
1.7 Escravos de Jó (versão "vamos a Belém")
2 Como jogar
3 A Regra Internacional
3.1 Movimento
4 Ver também
5 Referências
Letra
Escravos de Jó (versão Zé Pereira)
Versão popular na região em Minas Gerais, Nordeste, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro.[4]
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar..
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão Zé Guerreiro)
Versão popular na região de Alagoas.[4]
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa o Zé Guerreiro ficar..
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão "tira, põe")
Versão popular na região de São Paulo.[4]
Escravos de Jó, jogavam caxangá.
Tira, põe, deixa ficar...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão Zambelê)
Possivelmente a versão original da cantiga.[4]
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa o Zambelê ficar...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão Cão Guerreiro)
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa o cão guerreiro entrar...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão "tira, bota")
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, deixa ficar...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Escravos de Jó (versão "vamos a Belém")
Versão popular na região de Pará.[5]
Escravos de Jó, jogavam caxangá,
Tira, bota, vamos a Belém, que vai que vem...
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá
Guerreiros com guerreiros, fazem zigue zigue zá.
Como jogar
A cantiga pode ser jogada entre duas ou mais crianças
Quando o jogo é feito sentado (geralmente em torno de uma mesa), pode-se usar somente a mão direita, largando-se o objeto sempre à frente do vizinho da direita.[6][3][1] Vão saindo da roda aqueles que se perderem no ritmo, ou passarem mal o objeto.
Este objeto pode ser uma caixinha de fósforo, ou qualquer outro que seja fácil de tomar com uma só mão.[5] Para super cobras no jogo, pode ser tentada uma rodada especial invertendo o sentido da brincadeira (para a esquerda).[2][4]
A Regra Internacional
As mesas devem estar sempre alinhadas, em caso de mais de uma mesa;
Cada jogador deve ter um objeto nas mãos;
Na primeira vez é cantada a música com a letra tradicional;
Na segunda, a melodia é entoada apenas com os sons de "lá-lá-lá" no mesmo ritmo;
Na terceira vez, os jogadores apenas murmuram a melodia no mesmo ritmo fazendo "Boca Chiusa";
Na quarta vez, os jogadores apenas movimentam os objetos no ritmo, sem nenhum som, de modo que apenas as batidas na mesa deem o ritmo da cantiga;
A partir de então, bem vindo ao nível cinco, onde tudo acontece em ritmo mais acelerado a iniciar pela 3ª regra internacional.
Dispostos ao redor de uma mesa, os jogadores pegam um objeto cada um.
Ao ritmo da música, entregam seu objeto ao companheiro da direita.
Em determinados momentos da letra, não o solta e o trazem de volta.
Movimento
Escravos (entrega a pedra ao jogador à direita e pega a da esquerda) (movimento 1)
de Jó (repete o movimento 1)
jogavam (repete o movimento 1)
caxangá (repete o movimento 1)
Tira (leva a pedra e não a solta) (movimento 2)
bota (traz a pedra de volta) (movimento 3)
deixa (movimento 1)
o zambelê (movimento 2)
ficar (movimento 3)
Guerreiros (movimento 1)
com guerreiros (movimento 1)
fazem zig (movimento 2)
zig (movimento 3)
zá (movimento 1)
Ver também
Cantiga de roda
Brincadeira
Jogo
Referências
Küller, José Antonio (6 de abril de 2011). «Escravos De Jó». Germinal - Educação e Trabalho. Consultado em 18 de março de 2015
«Escravos de Jó (100 Brincadeiras)». IG. Consultado em 18 de março de 2015
Maffioletti, Leda; Jussara H. Rodrigues. «Escravos de Jó (Cantigas de roda)». Jangada Brasil. Consultado em 18 de março de 2011. Arquivado do original em 15 de abril de 2011
«Jó não tinha escravos e ninguém joga caxangá». Super Interessante. Consultado em 18 de março de 2015. Arquivado do original em 8 de outubro de 2009
*** *** *** ***
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Hino Oficial Do Clube De Regatas Flamengo
Jorge Ben Jor
Ouvir "Hino Oficial Do Cl…"
***
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Na regata ele me mata,
Me maltrata, me arrebata
De emoção no coração
Consagrado no gramado
Adorado, o mais cotado
Nos Fla-Flus é o "ai, Jesus"!
Eu teria um desgosto profundo
Se faltasse o Flamengo no mundo
Ele vibra, ele é fibra
Muita libra já pensou
Flamengo até morrer eu sou
Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer
Sempre Flamengo eu hei de ser
É meu maior prazer vê-lo brilhar
Seja na terra, seja no mar
Vencer, vencer, vencer
Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer
Ouvir "Hino Oficial Do Cl…"
Composição: Lamartine Babo.
*** *** https://www.letras.mus.br/jorge-ben-jor/1201658/ *** ***
***
***
Marcos Henrique Amaral
Dossiê Multimodalidade da Memória: Narrativa e Teoria Social
Arquivos do CMD, Volume 4, N.1. Jan/Jun 2016
227
De Ben a Ben Jor: hibridismo e trânsitos simbólicos
na trajetória do cantor Jorge Ben Jor *
Marcos Henrique Amaral**
Resumo: Este texto toma o hibridismo estético da obra de Jorge Ben Jor
como elucidativo dos trânsitos simbólicos operados pelo cantor brasileiro
que, desafiando circunscrições espaço-temporais tradicionais, tornam o artista
um emblema do processo de mundialização da cultura, na medida em que
conformam uma materialidade estética calcada na superposição entre local,
nacional e mundial. Neste sentido, o “caldeirão de referências musicais” que
se apresenta como insumo à criatividade artística do cantor ― estendendo-se
da música etíope apresentada pela mãe, chegando ao rock estadunidense de
Little Richard e passando pelos sambas-enredos da escola de samba
Acadêmicos do Salgueiro ensinados pelo pai ― nos servirá de subsídio para
problematizarmos o processo de industrialização do simbólico no Brasil e a
interface impreterível que forma em relação ao tema da cultura “popular”,
que é ressignificada, articulando-se a um folclore aluvial cuja principal
característica é a mestiçagem do ambiente urbano. Assim, a trajetória de
Jorge Ben Jor, como lugar idiossincrático onde se cruzam o “intimismo
civilizado” da bossa nova e a “expansividade festiva” do samba-enredo,
aparecerá como figuração da articulação entre o popular e a mundialização da
cultura.
Palavras-chave: música popular; cultura popular de massa; mundialização;
modernização; memória.
Arquivos do CMD
1 Texto referente a
comunicação homônima
proferida no dia 10 de
dezembro de 2015, durante o
XIX Seminário Interno de
Pesquisa do Grupo Cultura,
Memória e Desenvolvimento
(CMD/UnB).
1 Aluno de doutorado no
Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da Universidade
de Brasília (PPG-SOL/UnB).
Bolsista CAPES. E-mail:
marcoshenriquesa@gmail.com
Marcos Henrique Amaral
Dossiê Multimodalidade da Memória: Narrativa e Teoria Social
Arquivos do CMD, Volume 4, N.1. Jan/Jun 2016
228
INTRODUÇÃO
É fenômeno mesmo, pois desde há muito não
aparecia ninguém como ele no meio artístico
verde-amarelo. De um único disco de 78 RPM,
irrompeu abruptamente a torrente irresistível do
sucesso. E sucesso bom, sem “apelações”
comerciais ou duvidosas concessões artísticas.
Tudo bem “brasileirão”, tudo autêntico e, o que é
importante, inteligentemente apresentado, dentro
do processo evolutivo por que passa a música
popular brasileira. É o esquema novo do samba.
A epígrafe acima consta na contracapa do disco “Samba
Esquema Novo” de Jorge Duílio Lima Menezes ― Jorge Ben até
1988 e Jorge Ben Jor até os dias de hoje ―, lançado em 1963. O
parágrafo citado é sucedido por uma série de descrições que
buscavam definir, de forma irresoluta, um gênero musical para o
cantor debutante: o artista seria um artífice do “retorno à nossa
música popular primitiva”, porém com “características modernas”. O
texto ainda menciona a influência “negroide” em suas composições,
e afirma que o “samba esquema novo” de Jorge Ben é uma música
moderna diferente da “bossa nova dos primeiros tempos”, cujo
precursor mais célebre é João Gilberto, apesar das semelhanças no
cantar de ambos. A indefinição acerca do estilo musical a qual Jorge
Ben se filiaria é uma constante até mesmo no discurso do próprio
cantor que, em entrevista ao programa televisivo Roda Viva, diz que
sua música é “uma mistura; fui misturando”.
O hibridismo estético ― que também define a
singularidade da obra desta personagem da música brasileira ― já
foi tema, também, de trabalhos acadêmicos, tal qual a dissertação de
mestrado “Para animar a festa: a música de Jorge Ben Jor”, de Alam
D’Ávila do Nascimento (2008) e o artigo “África Brasil: uma análise
midiática do álbum de Jorge Ben Jor”, de Luciana Xavier Oliveira
(2012). O norte de ambos os trabalhos parece ser a compreensão do
estilo composicional-interpretativo do artista, dedicando-se a uma
análise estético-musical que o filia a diversas nomenclaturas: bossanova, samba-jazz, samba, rock, tropicalismo, jovem guarda, pop,
soul, funk, blues, samba-rock. Nascimento (2008, p. 19), ao se referir
sobre o ambiente musical em que Jorge Ben inicia sua carreira
musical, diz que o cantor é influenciado por um “caldeirão de
referências musicais”.
Para além da análise estético-musical, já operada pelos
dois autores supracitados, a dificuldade de se definir um gênero
musical para a obra de Jorge Ben decorre do fato de que tais
categorias ― a despeito de seu didatismo ― acabam por velar o
caráter processual da trajetória artística do cantor (cf. ELIAS, 1970;
1995). Destarte, a multiplicidade de categorias às quais poderíamos
associar a personagem em questão só teria valor sociológico para
apontar o trânsito de referentes simbólicos amalgamados por suas
composições. Trânsito este que elucida processos de longa duração
sócio-histórica tais quais a construção de uma identidade nacional, a
modernização cultural e a industrialização do simbólico ― tomada
como contrapartida da triangulação entre urbanização,
industrialização e incremento no setor de serviços, mas posta no
Marcos Henrique Amaral
Dossiê Multimodalidade da Memória: Narrativa e Teoria Social
Arquivos do CMD, Volume 4, N.1. Jan/Jun 2016
229
plano dos modos de simbolização e expressão, na medida em que se
monta uma sistemática de comunicação massiva no Brasil. Deste
modo, a análise da trajetória de Jorge Ben sai do plano meramente
estético-musical e passa ao plano sócio-histórico: deixa-se de lado a
tentativa de enquadrar uma obra marcadamente híbrida em um
gênero musical, e toma-se o artista como um processo psicossocial,
com uma trajetória-corpo que vai se constituindo a partir de
diversos feixes de processos.
Seguindo o rastro deixado por sociobiografias realizadas
por Elias (1995), Alves (2012) e Amaral (2012), este texto busca
analisar a trajetória de Jorge Ben ― em última instância, sua
biografia ― à maneira de uma personagem paradigmática das tramas
de interdependências sócio-funcionais que envolvem a consolidação
de uma sociedade de consumo e de uma cultura popular de massa no
Brasil, com suas repercussões nas criações de Jorge Ben e, ademais,
com as reverberações da obra do artista na produção cultural
subsequente. Algo em referência à própria relação dialética entre
criação ― o “fluxo-fantasia” ― e produção (MORIN, 2009, p. 140).
Deste modo, retoma-se o próprio caráter processual da configuração
da qual estamos falando e para a qual Elias chama a atenção, em
seus estudos sobre Mozart, mostrando ― a todo instante ― que
mudanças sociais incidem sobre a criação artística, possibilitando
mudanças do padrão de criação/produção artística1
(cf. ELIAS,
1995).
Para fazer este elo entre o caráter subjetivo e objetivo da
vida e da obra de Jorge Ben Jor, este artigo intenta esboçar um
modelo teórico da configuração sócio-histórica que esta personagem
― um músico que inicia sua carreira no Brasil da década de 1950 ―
formava e ainda forma com outras figuras sociais durante sua
carreira. Esta delimitação apresenta, de um lado, o próprio
remanejamento da sociedade nacional como estrutura urbanoindustrial, e a conseqüente consolidação de uma sociedade de
consumidores, nos anos 1960; e de outro lado, a conformação do
espaço social da música popular no Brasil, em que a figura de Jorge
Ben Jor parece catalisar cruzamentos de gêneros tradicionais ―
como os sambas-enredos da Salgueiro e a música etíope apresentada
pela mãe ― com aqueles referentes à tradição do pop ― em especial
o rock. Não importa, portanto, para este trabalho, o quão
incomparáveis são as realizações individuais de Jorge Ben Jor, mas
sim a elaboração de um quadro das interdependências sóciofuncionais que elencam o indivíduo à condição de símbolo perene da
música nacional. Em contrapartida, a construção de sua trajetória
artística pode ser tomada como um processo adjacente e elucidativo
dos processos configuracionais, como a mundialização da cultura e a
hibridização entre topologias locais, nacionais e mundiais.
Trânsitos o nacional-popular e o internacional-popular
1 Do ponto de vista
metodológico, as mudanças no
padrão de criação/produção
artística podem ser
paradigmáticas para elucidar as
mudanças na configuração
sócio-histórica. Ora, é isto que
buscamos fazer: por um lado,
olha-se para a obra de Jorge
Ben Jor e entende-se a
configuração e os processos;
por outro lado, olha-se para a
configuração para entender a
obra.
Marcos Henrique Amaral
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230
Nascido em 1942, quando a capital do país parecia
magnetizar grande parte do potencial de urbanização nacional, Jorge
Duílio Lima Menezes, conhecido popularmente como Jorge Ben ou
Jorge Ben Jor, integrava a população negro-mestiça que habitava o
bairro do Rio Comprido, zona norte carioca. Seu pai, Augusto
Menezes, estivador e feirante, e sua mãe, Silvia Saint Ben de Lima2
são apontados no programa televisivo “Roda Viva” (1995) como
alguns dos responsáveis pelo seu aprendizado musical. Com seu pai
― também pandeirista, cantor e compositor carnavalesco ―
aprendeu a gostar das escolas de samba: “O meu pai me levou pela
primeira vez no Salgueiro para ver, eu gostei, era uma coisa
diferente. Eu sempre gostei de percussão e a primeira vez que eu vi
um maestro de escola de samba, eu achei incrível”. Na mesma
balança das referências musicais, o cantor insere a música do rádio
― ouvia desde o samba de Ataulfo Alves ao baião de Luiz Gonzaga
―, os aprendizados no seminário onde estudara, e a música africana
apresentada pela mãe, filha de etíopes: “(…) eu ouvi muita música
etíope através da minha mãe, com batuques dos parentes. Eu era
menino, criança, e ouvia o som, eles falavam numa língua que eu
não entendia e um batuque, isso foi misturando tudo”. Some-se a
este “caldeirão de referências musicais”, os grandes ídolos do cantor:
João Gilberto ― que no fim dos anos 1950 tornava-se notável pela
mistura que faz entre samba e jazz, apelidada de bossa nova ― e
Little Richards, cantor e pianista negro de rock estadunidense.
A heterogeneidade dos insumos musicais aponta que a
trajetória de Jorge Ben Jor, desde sua infância é marcada pelo
cruzamento de gêneros associados a matrizes assaz distintas. Seu
aprendizado musical é dado sob o registro daquilo que MartinBarbero (2009) chama de “folclore aluvial”, uma espécie de
“folclore urbano”3
que se apresenta como mosaico de inspirações
heterogêneas associadas ao fluxo nacional e transnacional de
referentes simbólicos; uma “mestiçagem” típica do ambiente urbano,
marcada por permanências, novidades e rupturas. É ponto pacífico
na literatura sobre o tema da indústria cultural e da industrialização
do simbólico4
que os anos 1940 e 1950 ― marcados pela
intensificação dos processos de urbanização e industrialização, cujos
epicentros encontram-se no eixo Rio-São Paulo ― registram a
incipiência de uma montagem de uma sistemática de comunicação
massiva no Brasil5
. Estes processos sócio-técnicos de produção e
transmissão de signos, imagens e sons, em larga escala ―
capitaneados especialmente pela indústria fonográfica e pelo rádio,
que Jorge Ben Jor ouvia com seu pai durante a infância, e
posteriormente pela televisão, que tem papel fundamental durante os
anos 1960 ― não apenas se apresentam como “fornecedores” de
novos insumos musicais como aceleram os trânsitos simbólicos de
matrizes locais, nacionais e transnacionais.
Destaco as contribuições de Renato Ortiz (2009) e
Michel De Certeau (1994) que apresentam uma noção de
espacialidade e transversalidade entre os feixes nacional e
2 Não foram encontradas
informações sobre a profissão
da mãe de Jorge Ben Jor. Em
entrevista concedida à Revista
Trip, em novembro de 2009, ao
ser indagado sobre “o que seus
pais faziam”, o cantor é
omisso, limitando-se a
explanar a respeito do pai: “De
meu pai aprendi a
malandragem e o lado filósofo.
Meu pai foi um grande
estivador. Tinha um Ford
bigode, um caminhão, e o
orgulho dele era domingo
levar o pessoal pro futebol e
pra piquenique. Trabalhou de
estivador e quando se
aposentou fez parte do bonvivant da zona sul, morava em
Copacabana, ia à praia
pescar”.
3 Nas leituras em função da
confecção deste projeto
pesquisa, este termo foi
marcadamente usado por
Augusto de Campos (2008)
para referir-se ao popularurbano como cultura: uma
cultura nova que procede por
apropriações polimorfas junto
com o estabelecimento de um
mercado musical onde o
popular em transformação
convive com dados da música
internacional e do cotidiano da
cidade, além dos mecanismos
técnicos de reprodução e
difusão desta cultura. Ele
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transnacional — que em outras obras aparecerão sob alcunhas de
“popular-nacional” e “internacional popular” (ORTIZ, 2006) —
de modo a dar conta de tais trânsitos simbólicos, cuja origem pode
ser encontrada na triangulação entre os processos de urbanização,
industrialização e incremento do setor de serviços, na qual a
industrialização do simbólico constitui justamente o plano dos
modos de simbolização e expressão. O primeiro autor apresenta uma
noção de espacialidade definida pela superposição entre local,
nacional e mundial, que constituem feixes independentes, mas
igualmente interdependentes, cujo relacionamento acontece de
maneira transversal, de modo tal que o espaço ― convertendo-se em
lugar ― deve ser visto a partir do prisma dos atravessamentos
mútuos entre os feixes. Ou seja, o nível do mundial não é
necessariamente totalizador, embora haja desigualdades em sua
conjunção com os níveis local e nacional. Interessa observar que, no
entrelaçamento de tais instâncias, o espaço converte-se em lugar que
é, em si mesmo, o lugar da idiossincrasia, da diferencialidade.
Sumariamente, o autor sugere que:
(…) local, nacional e mundial devem ser vistos no seu
atravessamento. O lugar seria então o cruzamento de
diferentes linhas de força no contexto de uma situação
determinada. (…) situação definida objetivamente pelas forças
sociais, portadoras de legitimidades desiguais, no seio da qual
os homens atuam. Local, nacional e mundial se entrelaçam,
portanto, de formas diversas, determinando o quadro social
das especialidades em conjunto. Este quadro irá variar
segundo os contextos e, sobretudo, em função da prevalência,
ou não, de determinados pré-requisitos tecnológicos e
econômicos ― a modernidade-mundo não se reduz ao
movimento de “modernização” das sociedades, e sim os
acompanha. Com isso, quero dizer que o nacional e o local são
penetrados pela mundialização. Pensá-los como unidades
autônomas seria inconsistente. Porém, como a base material
da modernidade-mundo é desigual, e a expansão da cultura
deve obrigatoriamente levar em conta a diversidade dos
povos, sua conjunção só pode ocorrer como diferencial. O
lugar é o espaço da diferencialidade (ORTIZ, 2009, pp. 65-
66).
Seguindo o rastro deixado por Ortiz, e a título de
organização conceitual, poderemos enxergar o primeiro registro
fonográfico de Jorge Ben Jor, intitulado “Samba Esquema Novo”, a
partir da categoria tática, tal qual pontuada por Michel De Certeau
(1994) na obra “A invenção do cotidiano”. Este recurso conceitual,
nos ajuda a entender como a trajetória de Jorge Ben Jor se apresenta
como ponto de cruzamento entre gêneros de música tão diversos
quanto o samba-enredo, o samba-canção, a bossa-nova, o rock e as
batucadas etíopes que ele “herda” de sua mãe. A categoria aparece
como reaproveitamento simbólico ou ressignificação de símbolos
que, na aparência, podem denotar aceitação dos padrões
hegemônicos, mas que na realidade representam outros valores: aí
está o lugar da idiossincrasia, o ponto de intersecção do
atravessamento entre local, nacional e mundial6
. Ao fazer análise
estético-musical da faixa “Mas que nada”, presente no registro de
1963, Nascimento (2008) observa que há, ali, características típicas
bossa nova, do samba, do rock, do blues e do soul. O pesquisador
também dá relevo ao “sangue africano”, elucidado pelo uso
utiliza a noção de “folclore
urbano” neste sentido,
afirmando que o caminho
tomado pela MPB ― ao tomar
um “folclore artificial” como
insumo de sua obra, buscando
afirmar certa impermeabilidade
nacional face ao movimento
transnacional de símbolos ―
deveria ser revisto neste
sentido, sob pena de perder sua
popularidade face ao “iê-iê-iê”
brasileiro.
4
Para os frankfurtianos
Adorno e Horkheimer (1985),
a indústria cultural nas
sociedades de massa seria o
prolongamento das técnicas
utilizadas na indústria fabril, o
que significa que ela
apresentaria um propósito
fundamental: vender produtos.
Ou seja, ela não apresenta mais
a música ou o cinema com arte
e sim como um negócio,
passando a reger-se pelas leis
do mercado. A arte submete-se
à face comercial da indústria
cultural de maneira tal que
acaba por reduzir-se
5 Cf. Ortiz (2006) e Mira
(2001)
6
Interessante salientar a
interface deste processo de
atravessamento espacial com o
processo de mundialização
cultural, também trabalho por
Ortiz (1996). Neste sentido, a
industrialização do simbólico,
ao acelerar os fluxos
informacionais ― locais,
nacionais e transnacionais ― e
gestar um mercado de bens
simbólicos, aparece como um
agente da mundialização,
Marcos Henrique Amaral
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sistemático modo menor, sobre o qual o cantor viria afirmar, no
programa Roda Viva (1995): “A minha música é sempre triste
porque sempre usei tom menor. Isso é uma coisa que aprendi desde
cedo. O tom menor é melodioso, mas ele é muito triste. Aí você vai
fazendo até achar uma solução”. A solução que ele encontra parece
estar no ritmo do samba-enredo e a forte marca dançante que,
segundo Nascimento (2008), também são constantes na obra do
artista. A hibridização é uma recorrência na trajetória artística de
Jorge Ben Jor ― certamente formada pelas memórias deste folclore
aluvial, que conjuga, initerruptamente, o antigo e o novo, o nacional
e o mundial. Já em 1986, 23 anos após o lançamento do primeiro
disco de Jorge Ben Jor, o New York Times destaca que “desde o
início dos anos 1960, o senhor Ben vem fazendo conexões entre
música brasileira, caribenha, norte-americana e africana ―
adicionando o ímpeto do rock e dos ritmos afro-brasileiros à
cadência sofisticada da bossa nova”7
.
Neste sentido, não seria errôneo afirmar que Jorge Ben
Jor aparece como personagem elucidativa da intensificação dos
trânsitos entre nacional e internacional promovida pela
industrialização do simbólico; com uma criação artística que se
apresenta como tática, contemporizando matrizes culturais
vinculadas a diversas espacialidades, ressignificando-as, criando
idiossincrasia. É neste sentido que Ortiz (2009) e Certeau (1994)
subsidiam a hipótese segundo a qual, a partir de insumos musicais já
existentes e provindos de diversos feixes espaciais, o artista cria uma
diferencialidade: a trajetória de Jorge Ben Jor só poderá ser vista
como resultado deste processo de desencaixe espaço-temporal da
modernidade (GIDDENS,1991), mas simultaneamente como
marcadora do processo de rearticulação das identidades nacionais,
agora necessariamente tributárias do relacionamento entre diversas
espacialidades.
É válido salientar, no entanto, que essa diferencialidade
híbrida não é operada de forma harmoniosa. A despeito da hipótese
contida em obras de frankfurtianos como Lowenthall (1950), Adorno
e Horkheimer (1985), segundo a qual uma suposta univocidade
social seria criada pelo avanço progressivo da racionalidade
tecnomercantil, diversos autores8
― indo na direção inversa ―
apontam que o processo de industrialização do simbólico no Brasil
acaba por fazer visível a música popular e o processo de construção
da identidade nacional como espaços topológico de conflitos
profundos que perduram historicamente na nossa
contemporaneidade, embora de forma “domesticada” (ORTIZ,
2006). Isto porque, no processo de modernização brasileiro, o
avanço dos dispositivos sócio-técnicos de produção e difusão de sons
e imagens não logra êxito imediato em estabelecer uma univocidade
no mercado de bens simbólicos, ou seja, não representa a abolição do
caractere político. É neste sentido que o domínio da técnica, de
pretenso caráter neutro, se converte em um terreno de luta cujos
traços heurísticos são a televisão com os programas “Jovem Guarda”
e “O Fino da Bossa”; e a famigerada “Passeata contra a guitarra
atravessamento espacial com o
processo de mundialização
cultural, também trabalho por
Ortiz (1996). Neste sentido, a
industrialização do simbólico,
ao acelerar os fluxos
informacionais ― locais,
nacionais e transnacionais ― e
gestar um mercado de bens
simbólicos, aparece como um
agente da mundialização,
entendida como a conjunção
idiossincrática dessa
espacialidade multifacetada.
7 Tradução livre para: “Since
the early 1960's, Mr. Ben has
been making connections
between Brazilian, Caribbean,
North American and African
music - adding the kick of rock
and African-Brazilian rhythms
to the sophisticated lilt of the
bossa nova”.
8
cf. Alves (2011); Ulhôa
(1997); Napolitano (2010).
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elétrica”, ocorrida em 1967. Por isso podemos falar em um embate
mercantil-ideológico: é informado simultaneamente pela
racionalidade do mercado e pela batalha em torno da identidade de
um povo que se remaneja enquanto estrutura urbano-industrial e de
serviços.
Neste contexto de embate, a intensificação do processo
de industrialização do simbólico e a consequente expansão dos
mercados de bens simbólicos evidenciam a força dos movimentos
folcloristas, que acabam por potencializar o valor social atribuído a
uma idealizada “pureza” e “autenticidade” nacional9
. Ancorado
ainda nesse “estatuto de pureza nacional”, um grupo de artistas que
fica conhecido a partir da sigla MMPB — a “moderna música
popular brasileira” — insere o caractere de conscientização política,
criando uma hierarquia de legitimidades dentro da música nacional,
em que brasileiro é sinônimo, a um só tempo, de engajamento
político e “brasilidade”, devendo remeter-se ao folclore idealizado de
um Brasil rural10
.
Jorge Ben Jor parece, com sua forma híbrida de criar,
colocar-se numa posição fronteiriça e emblemática neste embate, daí
decorre sua dificuldade em classificá-lo11
e também o fato de ―
ainda hoje ― não haver uma univocidade no recebimento de sua
obra. A análise de Augusto de Campos (2008), que usa o termo
intercomunicação, é bem ilustrativa neste sentido:
(…) há entre a “velha guarda”, a “bossa nova” e a “jovem
guarda” uma espécie de competição natural, amigável quando
o denominador comum é a música “nacional” e apenas cordial
quando a competição se dá entre a música “nacional”
(tradicional ou nova) e música presumidamente “importada”
ou “traduzida”, embora possam ocorrer casos de
intercomunicação, como o do cantor e compositor Jorge Ben,
que passou do “Fino” para a “Jovem Guarda”, do sambamaracatu para o “samba-jovem”, e conseguiu ser (…) um dos
maiores sucessos do programa de Roberto Carlos; por mais
que o seu “iê-iê-iemanjá” desagrade aos puritanos da música
nacional (…), a verdade é que Jorge Ben deglutiu o iê-iê-iê à
sua maneira, sem trair-se a si próprio, e a prova é que o seu
Chorava todo mundo já era um sucesso do “Fino” antes de ser
“uma brasa” da Jovem Guarda (CAMPOS, 2008, p. 52).
Como já dito, o trânsito elaborado por Jorge Ben Jor não
é feito de forma harmoniosa ou sem rusgas. Caetano Veloso, um dos
cantores que admite ser epígono das criações de Ben Jor, é enfático
ao ressaltar que “Jorge Ben, por ter se apresentado uma vez no
Jovem Guarda, se vira posto no índex do Fino da Bossa”
(VELOSO, 2008, p. 191). O próprio Jorge Ben Jor endossa a versão
de Caetano, no documentário “Mosaicos: a arte de Jorge Ben Jor”
(2008): “Eu tenho uma briga com a bossa nova, porque fui
convidado pra fazer o Fino da Bossa. Mas aí eu recebi um convite
do rei Roberto Carlos para participar da Jovem Guarda, que eu
achei que ali era o meu lugar, onde eu cantei a primeira vez e me
senti bem. Aí depois teve aquele problema, né? Nunca mais fiz
outros programas a não ser a Jovem Guarda”.
A digressão feita até aqui dá indícios sobre o lugar da
trajetória de Jorge Ben Jor na conformação do espaço social da
música popular no país, em que a figura do cantor catalisaria o
9
cf. Alves (2011) e Tinhorão
(1998).
10 As “Músicas de Festival” —
assim denominadas por
concorrerem nos festivais
competitivos promovidos pela
emissora televisiva Record —
são os maiores emblemas dessa
estratégia composicional. De
Edu Lobo a Geraldo Vandré,
passando por Chico Buarque,
Elis Regina, Jair Oliveira, entre
outros, há um esforço
sistemático em retomar uma
suposta autenticidade
imaculada brasileira, sem a
“contaminação” da lógica
mercantil da indústria. Não
raro, esses artistas discorriam
sobre os insumos “rústicos” e
“regionais” de suas
composições, sempre aludindo
a gêneros como a toada, o
frevo, o baião, os sambas de
morro e as marchas
carnavalescas. Já em 2010,
Geraldo Vandré viria a declarar
sobre uma de suas mais
célebres criações, cantada por
Jair Rodrigues no Festival da
Música Popular Brasileira em
1966: “Disparada é música
brasileira, tem forma
brasileira mais consequente
com a tradição das formas de
música popular, da moda de
viola” (Programa Dossiê,
Globo News).
11
Sobre esta dificuldade,
Nascimento (2008) afirma que
“(…) é possível perceber que a
música deste compositorintérprete é permeada por
diversas referências e isto faz
com que seja difícil situá-lo em
um gênero específico. Entendo
que dentro desta riqueza de
influências, percebem-se tanto
elementos provenientes do
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cruzamento entre gêneros tradicionais ― à maneira do samba e da
música etíope ensinada por sua mãe ― e gêneros associados aos
processos de mundialização e modernização, como o rock e o soul.
Para figurar este cruzamento de gêneros, a discussão que se levantou
acerca dos atravessamentos espaciais entre o “popular-nacional” e o
“internacional popular” ― subsidiada por Ortiz e Certeau ― aponta
para a interface que há entre o processo de industrialização do
simbólico e a própria rearticulação da identidade nacional, agora
articulada ao folclore aluvial das cidades.
Tudo indica que, a despeito de Jorge Ben Jor navegar por
referentes simbólicos mundiais e nacionais, sua obra é considerada
marcadamente autêntica; uma autenticidade imediatamente associada
a noções como brasilidade e identidade nacional, mas
simultaneamente global. Ora, levanta-se aqui uma questão
fundamental: quais são os elementos da trajetória artística do cantor
que fazem sua síntese musical sobreviver ao processo de seleção de
uma série de gerações, sendo aceita como representante legítima da
música nacional, enquanto outros artistas, a despeito de realizarem
sínteses e hibridismos análogos, não obtêm tal aceite?
12
Uma ruptura na “flecha do tempo”
Para além dos atributos musicais que, até aqui, indicam
que Jorge Ben Jor ocupa uma posição singular no espaço social da
música do país ― justamente em função da originalidade com que
realiza o trânsito entre gêneros como o samba e o pop ―, parece ser
mister elencar os caracteres extramusicais que compõem a trajetória
artística do cantor. Tais caracteres extramusicais aparecem como
chaves de entendimento do forjamento de Jorge Ben Jor como
símbolo de uma autenticidade simultaneamente nacional e global.
Tal hipótese está esboçada na obra “O livro do disco: A Tábua de
Esmeralda” de Paulo da Costa e Silva (2014), na qual o autor faz
uma digressão histórica pelas décadas de 1960 e 1970 para mostrar
que a eclosão mundial do movimento negro incide de forma direta
sobre a criação artística do cantor — “todas as peças começavam a
se mover no tabuleiro”. Segundo ele,
(…) tudo isso tem relevância fundamental na compreensão
dos núcleos poéticos contidos em A Tábua de Esmeralda
[disco de 1974]. Um deles, absolutamente definidor do artista
Jorge Ben, é a luta contra o racismo via afirmação da
negritude: a elaboração de uma mitologia povoada de heróis
negros e de uma identidade coletiva que não mais respeita os
limites nacionais. Esse núcleo (…), anunciado desde os
primeiros trabalhos de Ben, aparece com nitidez acabada e
grande concentração de beleza em pelo menos duas canções
do álbum: na obra-prima “Zumbi” e em “Brother”,
sintomaticamente composta na língua inglesa. De fato, entre
as desigualdades legitimadas pela moldura do mundo
moderno (no caso, pelo positivismo científico) nenhuma
parecia mais inadmissível do que o racismo institucionalizado.
Não à toa, foi uma das primeiras a ser questionada. (…) Jorge
Ben passa a atuar no fio da navalha histórica. Torna-se um
verdadeiro “para-raio”, nas palavras de Caetano Veloso,
incorporando em sua figura e em sua música as descomunais
forças geradas por uma sociedade em frenético movimento
(SILVA, 2014, pp. 45-46).
“(…) é possível perceber que a
música deste compositorintérprete é permeada por
diversas referências e isto faz
com que seja difícil situá-lo em
um gênero específico. Entendo
que dentro desta riqueza de
influências, percebem-se tanto
elementos provenientes do
samba e da bossa-nova, quanto
da música internacional de
massa ― rock’n’roll e soul
music predominantemente”
(NASCIMENTO, 2008, p. 51).
12 Refiro-me especialmente à
trajetória de Roberto Carlos,
objeto da pesquisa de mestrado
“A simplicidade de um rei:
trânsitos de Roberto Carlos em
meio à cultura popular de
massa” (AMARAL, 2012), que
a despeito do reconhecimento
público de sua obra e de sua
popularidade, sempre teve sua
obra taxada ― entre músicos,
críticos e outros enquadradores
da memória da música nacional
― como popularesca,
alienígena ou pastiche de
música estrangeira.
Marcos Henrique Amaral
Dossiê Multimodalidade da Memória: Narrativa e Teoria Social
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235
A partir daí, pode-se propor que estava em questão,
enquanto cantor, sua individualização, mas sobretudo enquanto
artista negro: a afirmação da negritude aparece como uma de suas
pautas temáticas e como referente musical, elucidado pelo uso das
escalas menores, das pentatônicas do blues etc (NASCIMENTO,
2008). Outras temáticas, como a malandragem, o futebol e o
carnaval também indicam sua vinculação às regiões do subúrbio
carioca, de população majoritariamente negro-mestiça. As suas
canções têm forte marca dançante e apelo coloquial. Não por acaso,
durante a leitura de Nascimento (2008) e Oliveira (2012), as
características mais exaustivamente utilizadas para descrever a forma
de composição do cantor são: espontaneidade, displicência,
indisciplina, inconstância, festividade.
Indícios dessas características são elucidados pelas
próprias letras das canções, marcadas pelos desvios de métrica dos
versos, uma característica que Nascimento (2008) chama de
tematização, havendo primazia da narrativa sobre a melodia, mesmo
que isto implique em encaixar uma quantidade de sílabas não
comportada pela melodia. “Ouvindo Jorge Ben Jor cantar suas
músicas, não raro, tenho a sensação de que determinados versos são
maiores do que deveriam ser” (NASCIMENTO, 2008). O próprio
cantor explica que, de fato, esta forma de compor é o seu apelo
coloquial, a vontade de falar em cima da melodia: “Eu queria falar,
como fosse um discurso, mas cantado. Eu sempre fiz isso” (Roda
Viva, 1995). Por outro lado, seus refrães costumam resolver esta
questão, com métricas bem elaboradas, letras pujantes e ritmo
dançante: “Eu faço música alegre, né? As minhas músicas têm
sempre final feliz” (Mosaicos, 2008).
Do ponto de vista sociológico, creio que há uma analogia
entre o modo como o cantor atua na formulação de materialidades
musicais, com forte marca dançante e apelo à irreverência coloquial,
e a própria construção da identidade nacional, processo congruente à
modernização brasileira13
. Jorge Ben Jor conjuga os padrões da
racionalidade tecnomercantil da cultura industrializada, com a
indisciplina e regras mais maleáveis no tangente à composição e à
interpretação. Conjuga o intimismo civilizado da bossa nova à
expansividade de suas canções dançantes/festivas. O trânsito em
polos aparentemente tão opostos operado pelo cantor coloca em
cheque a concepção linear de tempo que orientou o projeto de
modernidade universalizante cuja matriz encontra-se na Europa do
século XIX, quando o industrialismo é tomado como condição sine
qua non para o progresso14
. Assim, a música de Jorge Ben Jor pode
ser tomada como heurística daquilo que Ortiz (2015) chamará de
“quebra da flecha do tempo” para indicar a impossibilidade de
realização da modernidade enquanto rede de sentido capaz de
integrar esferas tão diversas quanto arte e política. Com isso,
progresso tecnológico e econômico não pode ser imediatamente
articulado, de forma causal, às artes que eventualmente aparecerão
para elucidar as fissuras da modernidade.
13 A obra “Identidade
brasileira no espelho
interétinico: essencialismos e
hibridismos em San
Francisco” de Gustavo Lins
Ribeiro (1998) pode ser uma
chave para compreender a
presença deste elemento
“quente” entre aqueles que
compõe a identidade nacional.
14 Cf. Ortiz (2015)
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Em outras palavras, diríamos que a música de Jorge Ben
Jor é “encantada”, em contraponto ao processo de desencantamento
do mundo que acometeria o imaginário civilizatório e modernizante
ocidental15
. Ou seja, sua criatividade artística é eivada por um
misticismo incivilizado e pelo afrouxamento dos mecanismos de
autorregulação típicos do processo civilizador eliasiano16
, o que
pode ser elucidado pelos desvios de métrica, pelo vínculo com o
imaginário medieval e com a alquimia, pelo uso de dissonâncias,
melismas17
e pela própria afirmação da negritude. Ao falar do
“imaginário” que percorre as composições de Jorge Ben Jor, Silva
(2014, p. 19) afirma que “(…) trata-se de um imaginário marcado
pela capacidade de crer nas coisas que é desconcertante para o
espírito cético de nosso tempo. É como se o inconsciente vivesse
livre de qualquer tipo de censura”.
Os caracteres negros entram neste rol de elementos
“antimodernos” por fazerem frente à ideologia do
embranquecimento que, pelo menos até a primeira metade do século
XX, tomava a população negro-mestiça como componente
incivilizada de nossa identidade em contraposição à população
branca de origem europeia, o “elemento civilizador”. O
embranquecimento poderia ser entendido, aqui, para além dos
incentivos à imigração europeia, como a censura “modernizante”
promovida aos elementos negros no período pós-abolicionista. As
pesquisas de Florestan Fernandes (2008) são elucidativas desse fato,
pois trazem à luz as “providências policiais” no sentido de dispersar
e impedir a “revivescência” da cultura negra na cidade de São Paulo,
sob pretexto de manutenção da ordem e da “moralidade dos
costumes”. Assim, a ideologia do embranquecimento verificada
entre os membros da intelligentsia brasileira no final do século XIX
e nos primeiros decênios do século XX contrapunha brancos e
negros como análogos de uma suposta contraposição entre
modernidade e tradição (SCHWARCZ, 1993).
Seguindo esta linha argumentativa, dizemos que Jorge
Ben Jor é figuração do processo de revivescência de uma dimensão
onírico-mítica e festiva que tensiona uma suposta “linha evolutiva”
da música brasileira — termo utilizado por Caetano Veloso,
denotando uma historicidade linear que se inicia com a bossa nova,
passa pela MMPB e pela Jovem Guarda, e chega à “tropicália”
(VELOSO, 1966). Ao unir o “primitivo” e o “moderno” — como
sugere o texto de apresentação de seu primeiro disco, escrito por
Armando Pittigliani —, Jorge Ben Jor não apenas apresenta-se como
elucidativo de processos globais que questionarão a primazia da
racionalidade como pilar da modernidade18
, como também atua na
formulação ou retomada de tradições recalcadas que passarão a
compor algumas das imagens mais fortes do que chamamos de
“brasilidade”. Uma série de práticas que tentou-se suplantar, tais
como a religiosidade, a expansividade dos movimentos corporais e o
samba, outrora associados à incivilidade e tomadas em função de sua
não consonância com o ideário modernizador de matriz europeia, são
ressignificadas na obra do cantor. Daí a perenidade de sua obra
15 Cf. Weber (2004).
16 A expansividade e o apelo
coloquial das canções de Jorge
Ben Jor parecem ir de encontro às
buscas estéticas empreendidas
pelos músicos da bossa nova e da
MPB, marcadas pela consonância
em relação a um modelo
civilizacional ocidental cujo cerne
está no autocontrole, na contenção
dos impulsos e emoções
espontâneas, no controle dos
sentimentos, na ampliação do
espaço mental levando em conta o
passado e o presente: enfim, “uma
mudança civilizadora no
comportamento” (ELIAS, 1993, p.
198) associada ao ideário europeu
de “modernidade”.
17 Gilroy (2012) propõe que as
palavras prolongadas por
melismas, complementadas
pelos gritos e grunhidos típicos
do modalismo africano, fazem
parte de uma política que, a
despeito de desvelarem desejos
e ações sociais
qualitativamente novos de uma
“comunidade racial”,
apresenta-se como resistência
em relação à situação de
opressão encontrada no
passado escravocrata. O
prolongamento vocálico via
melisma seria, de acordo com
sua interpretação, uma tática
indicativa do poder de
resistência da população negra
que, impossibilitada de bradar
em favor de seus direitos
frequentemente violados,
utiliza-se de artifícios nãoverbais como as danças, as
encenações e o canto
melismático para questionar a
condição de opressão e
subalternidade. Afinada com
esse diapasão, sua análise
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enquanto símbolo de uma autenticidade nacional que é, a todo
instante, acionada pelo cantor a partir da retomada da cultura de
matriz afro-brasileira.
Considerações finais: um problema de enquadramento
A despeito do caráter incipiente das reflexões
apresentadas até aqui, a expectativa desta comunicação é contribuir
com a discussão sobre a cultura popular no Brasil e na América
Latina, destacando a relevância dos grandes ídolos de massa para
esta discussão teórica. Araújo (2010) preocupa-se em mostrar a
carência de trabalhos a este respeito a partir das noções de memória
e esquecimento. Segundo este autor, no campo da música brasileira,
a memória se apresenta como objeto de disputa e, com isto,
apresenta seus enquadradores: críticos, pesquisadores, historiadores,
musicólogos. São estes enquadradores de memória que parecem
definir o que se tornará objeto de pesquisa. Neste sentido é que
Araújo (2010) aponta a carência de trabalhos sobre algumas faces da
cultura popular de massas no Brasil como resultado da preferência
musical desses enquadradores da memória da musica brasileira que
são, em sua maioria, pertinentes a uma classe média de formação
universitária. Isto justifica a grande quantidade de trabalhos ―
dissertações, teses e livros ― sobre Chico Buarque, Caetano Veloso,
João Gilberto, a Bossa Nova, a Tropicália.
Por outro lado, justifica também a quantidade pequena de
trabalhos sobre os artistas que não se enquadram nesta “memória
oficial”, caso do cantor Jorge Ben Jor. É o que fica claro na
irresolução do trabalho de Nascimento (2008) que, ao tentar
enquadrá-lo em diversos gêneros musicais, conclui que sua obra
apresenta traços que poderiam perfilá-lo a diversos estilos. De forma
semelhante, Silva (2014, p. 48) aponta que o cantor se apropriou de
um “novo caldo de cultura” temperado pela Jovem Guarda de
Roberto e Erasmo Carlos e pelo tropicalismo de Caetano Veloso
“sem estar propriamente filiado a qualquer grupo”. O caso de Jorge
Ben Jor é então emblemático, pois é “desenquadrado”, transitando
por vários meandros da música popular ― desde as marchinhas,
sambas-canções, boleros e bossa nova, até chegar ao rock e à “black
music” de caráter internacional popular — sem, no entanto, filiar-se
ou criar raízes em qualquer um deles.
Assim, de alguma maneira, essas reflexões — que
compõem a parte inicial de uma tese de doutoramento — sugerem o
“fim da história da música brasileira”, tal qual faz Hans Belting
(2012) ao propor o “fim da história da arte”. Isto não significa que a
música brasileira deverá deixar de ser historicizada. Ao contrário, ao
propor o “fim da história da música brasileira”, o que se quer é fazer
a história de faces negligenciadas em nosso rol de artistas, ou seja,
retomar a história não contada daqueles que não estão enquadrados
que, impossibilitada de bradar
em favor de seus direitos
frequentemente violados,
utiliza-se de artifícios nãoverbais como as danças, as
encenações e o canto
melismático para questionar a
condição de opressão e
subalternidade. Afinada com
esse diapasão, sua análise
indica que esse cantar é um dos
elementos responsáveis por
erigir um imaginário
antimoderno, uma
contracultura que reconstrói a
própria genealogia do
“Atlântico Negro” — uma
esfera pública própria da
população negra —, revelando
as fissuras internas no conceito
de modernidade.
18
Sobre este assunto, é válida a
leitura da obra “Cosmopolis:
the hidden agenda of
modernity”, na qual seu autor,
Stephen Toulmin (1990),
argumenta que a geração do
período pós-guerra,
especialmente a partir da
década de 1960, se reconecta
com valores adormecidos —
ou recalcados — durante o
processo de modernização
europeia. A modernização de
matriz cartesiana, calcada no
ordenamento racional da vida,
viria a repudiar tudo aquilo que
nela não se encaixava: a
emoção, o corpo, o
“encantamento”. Ou seja, tudo
aquilo que “não podia ser
controlado”. Segundo o
Toulmin, a realidade
apresentada pelas Guerras
Mundiais, forjadas em nome da
racionalidade moderna,
fomenta naquela geração a
necessidade de retomar os
valores humanistas do
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no esquema classificatório da “história oficial”. Em outras palavras:
“o discurso do ‘fim’ não significa que ‘tudo acabou’, mas exorta a
uma mudança no discurso, já que o objeto mudou e não se ajusta
mais aos seus antigos enquadramentos” (BELTING, 2012, p. 13).
Em nossa pesquisa bibliográfica preliminar, pudemos
constatar a carência da qual falamos acima. Neste levantamento
inicial, foram encontrados apenas dois trabalhos acadêmicos que
tomam o cantor Jorge Ben Jor como tema: (i) a dissertação de
mestrado “Para animar a festa: a música de Jorge Ben Jor”, de Alam
D’Ávila do Nascimento (2008) e (ii) o artigo “África Brasil: uma
análise midiática do álbum de Jorge Ben Jor”, de Luciana Xavier
Oliveira (2012). Embora o surgimento recente de trabalhos sobre o
cantor seja indício do interesse em escrever sobre nuances
negligenciadas de nossa música, eles recaem, ambos, no esforço
irresoluto de enquadrar Jorge Ben Jor numa história da música
brasileira pretensamente universal e totalizante, o que significaria
adequá-lo a suas regras e modelos estético-musicais. Por outro lado,
a pesquisa ora proposta apresenta o cantor em questão como polo
oposto dos enquadramentos oficiais, pois ele despede-se dessa
consciência histórica linear que poderia constranger-lhe e cercear-lhe
a espontaneidade criativa, libertando-se descompromissadamente das
amarras e da rigidez dos gêneros musicais. Deste modo, o trabalho
apresentado buscou inserir-se nesta lacuna referente à conformação
do espaço da música popular no Brasil, propondo uma história dos
“desenquadrados” que, justamente em função do
“desenquadramento”, tornam-se emblemas de autenticidade e
originalidade.
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ELIAS, Norbert. Introdução a Sociologia. Lisboa: Edições 70, 1970.
______. O processo civilizador: 2. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
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______. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge
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FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de
classes, vol. 1: ensaio de interpretação sociológica. São Paulo:
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emoção, o corpo, o
“encantamento”. Ou seja, tudo
aquilo que “não podia ser
controlado”. Segundo o
Toulmin, a realidade
apresentada pelas Guerras
Mundiais, forjadas em nome da
racionalidade moderna,
fomenta naquela geração a
necessidade de retomar os
valores humanistas do
renascimento. Daí o
surgimento de um movimento
negro de dimensões globais
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