Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 28 de julho de 2025
O ENSAIO DO BLOCO 3
Alvarenga e Ranchinho - Ensaio - Bloco 3
TV Cultura
27 de mai. de 2011
Ranchinho e Alvarenga cantam Seu Condutor e Chapéu de Palha.
Transcrição
Alvarenga e Ranchinho - Trecho de "A farra dos três Patetas"
Memorial da Democracia
🎙️ Apresentação – Introdução ao Vídeo de Interrogatório do Núcleo 3
📜 Reflexão de Abertura – Opinião do Dia: Montesquieu e a Democracia
Segunda-feira, 28 de julho de 2025
Antes de darmos início à exibição do interrogatório dos réus do chamado Núcleo 3, trazemos hoje uma reflexão que dialoga diretamente com o momento histórico que vivemos.
Em seu clássico Do Espírito das Leis, o pensador francês Montesquieu afirma:
“O amor pela república, numa democracia, é o amor pela democracia; o amor pela democracia é o amor pela igualdade... Ao nascer contraímos para com ela uma imensa dívida da qual nunca podemos desobrigar-nos.”
Essa ideia de compromisso inescapável com a pátria e com os princípios democráticos se torna ainda mais relevante diante do processo em curso no Supremo Tribunal Federal. O julgamento dos envolvidos na tentativa de subverter a ordem institucional em 8 de janeiro de 2023 não é apenas sobre responsabilizar indivíduos — é sobre preservar a igualdade, a frugalidade republicana e a própria democracia, como Montesquieu tão bem definiu.
Que essa reflexão nos ajude a compreender o peso do que está em jogo — e o dever de todos os cidadãos, civis ou militares, de defender o Estado de Direito.
Boa [tarde/noite/dia] a todos,
Hoje damos continuidade à cobertura especial sobre os desdobramentos jurídicos da tentativa de golpe de Estado ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023. O vídeo que será exibido a seguir traz os interrogatórios de réus que compõem o chamado Núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Esse grupo é formado por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército, conhecidos informalmente como “kids pretos”, além de um policial federal. Eles são acusados de tentar pressionar o alto comando do Exército para aderir à trama golpista que visava impedir a posse e a continuidade do governo democraticamente eleito.
A oitiva dos réus está sendo conduzida por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Como já é de praxe nesse tipo de audiência, os acusados têm o direito de permanecer em silêncio.
Os investigados que serão ouvidos nesta fase incluem nomes de alta patente militar, como os generais Estevam Theophilo e Nilton Diniz Rodrigues, além de diversos coronéis e tenentes-coronéis.
Vale lembrar que os interrogatórios do Núcleo 3 ocorrem após os depoimentos dos demais núcleos já terem sido colhidos — com destaque para o Núcleo 1, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e já está em fase de alegações finais, com julgamento previsto para o mês de setembro.
Agora, acompanhe conosco os depoimentos dos réus, momento crucial na apuração das responsabilidades e na preservação do Estado Democrático de Direito.
Ao vivo: STF interroga núcleo 3 nesta segunda-feira; acompanhe
Grupo é composto por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército — conhecidos como "kids pretos" — e um policial federal
Depoimentos serão conduzidos por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF - (crédito: Fellipe Sampaio /STF)
Por Correio Braziliense
postado em 28/07/2025 09:21 / atualizado em 28/07/2025 09:24
O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta segunda-feira (28/7) o interrogatório dos réus que integram o chamado Núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo a denúncia, eles atuaram para pressionar o alto Comando do Exército para aderir a trama golpista.
O grupo é composto por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército — conhecidos como “kids pretos” — e um policial federal. Serão ouvidos nesta fase os seguintes investigados:
Bernardo Romão Correa Netto (coronel);
Cleverson Ney Magalhães (tenente-coronel);
Estevam Theophilo (general);
Fabrício Moreira de Bastos (coronel);
Hélio Ferreira (tenente-coronel);
Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel);
Nilton Diniz Rodrigues (general);
Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel);
Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel);
Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel);
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel);
Wladimir Matos Soares (policial federal).
Leia também: Análise: julgamento dos "kids pretos" coloca em questão o papel das Forças Armadas
Os depoimentos serão conduzidos por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Como estão na condição de réus, os acusados têm o direito de permanecer em silêncio diante das perguntas feitas por representantes da PGR e do gabinete do relator.
Leia também: No STF, Mario Fernandes diz ser o autor do "Punhal Verde e Amarelo"
A denúncia apresentada pela PGR sobre a tentativa de golpe foi estruturada em quatro núcleos distintos. Os réus dos núcleos 1, 2 e 4 já prestaram depoimento. O processo mais avançado é o do Núcleo 1, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados. A ação está na fase de alegações finais e deve ser julgada em setembro.
*Com informações da Agência Brasil
Correio Braziliense
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Por Correio Braziliense
postado em 28/07/2025 09:21 / atualizado em 28/07/2025 09:24
Precisamos de um Observatório Nacional dos Supersalários - Bruno Carazza
Valor Econômico
Precisamos de um completo raio-X das folhas de pagamento em todos os níveis e Poderes da República
Supersalários e a Urgência de Transparência
Segunda-feira, 28 de julho de 2025
No país dos privilégios crônicos e da desigualdade institucionalizada, mais uma vez somos confrontados com dados que chocam e, ao mesmo tempo, escancaram a urgência de encarar de frente uma realidade que poucos se atrevem a enfrentar: a farra dos supersalários no setor público brasileiro.
Em artigo publicado no Valor Econômico, o economista e analista político Bruno Carazza retoma, com contundência, uma pauta negligenciada pela política institucional: o custo bilionário dos salários que ultrapassam o teto constitucional, especialmente no Judiciário, no Ministério Público e entre os advogados públicos.
Em 2025, apenas essas três categorias — que somam pouco mais de 40 mil servidores — devem consumir R$ 19,6 bilhões em salários acima do teto, o equivalente, por exemplo, a um novo aumento no IOF que atinge milhões de brasileiros comuns, ou a três vezes o valor perdido em fraudes no INSS ao longo de cinco anos.
Diante da falta de transparência, da conivência dos órgãos de controle e do silêncio da classe política, Carazza propõe algo simples e necessário: a criação de um Observatório Nacional dos Supersalários, um painel público e detalhado de todas as remunerações do funcionalismo em todos os níveis de governo.
É uma ideia poderosa — não apenas por seu conteúdo técnico, mas porque ela atravessa ideologias: indigna tanto a esquerda, que combate desigualdades, quanto a direita, que defende austeridade fiscal.
Logo após esta introdução, você confere a íntegra do texto de Bruno Carazza, uma leitura essencial para quem acredita que a democracia precisa caminhar lado a lado com responsabilidade, justiça fiscal e transparência pública.
O Brasil de chapéu de palha – Ruy Castro
Folha de S. Paulo
Alvarenga e Ranchinho não ficaram ricos; seus sucessores sertanejos são milionários e bolsonaristas
🎙️ Introdução – Ruy Castro e o Sertanejo que Mudou de Rosto
Segunda-feira, 28 de julho de 2025
Em mais uma crônica afiada e nostálgica, o escritor e jornalista Ruy Castro nos convida a revisitar o Brasil sertanejo — não o da ostentação ou da sofrência de hoje, mas aquele das raízes populares, dos chapéus de palha e das camisas xadrez feitas por costureiras anônimas, como vestiam Alvarenga e Ranchinho, ícones da música sertaneja dos anos 1930 e 40.
Ruy contrasta o universo simples e engajado da dupla — que cantava desde o torpedeamento de navios brasileiros na Segunda Guerra até sátiras políticas — com o cenário atual, em que sertanejos milionários, bolsonaristas e de visual texano dominam os palcos, os camarotes e as campanhas eleitorais.
É uma reflexão sobre como a música popular deixou de ser espelho de um povo simples e diverso para se tornar marca de uma elite agropecuária conservadora, cada vez mais distante das origens que a inspiraram. Um olhar crítico, mas também melancólico, sobre o Brasil que trocou o jerico pelo jato executivo — e o chapéu de palha pelo Stetson importado.
A seguir, leia (ou ouça) a crônica completa de Ruy Castro: "O Brasil de chapéu de palha".
O Ser, o Não-Ser e os Monstros do Interregno
Filosofia, privilégio e cultura na encruzilhada brasileira
Por Rafael Andrade | Revista Democracia & Cultura | Julho de 2025
✒️ Epígrafe
"O velho mundo está morrendo, e o novo tarda a nascer. Neste interregno, surgem os monstros."
— Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere
Introdução: o Brasil como problema ontológico
No século V a.C., o filósofo eleata Parmênides cravou a mais radical das afirmações: “O ser é, e o não-ser não é.” Para ele, pensar e ser são a mesma coisa. O que não é, não pode ser pensado. O ser é uno, imóvel e eterno. Tudo o mais — mudança, ilusão, aparência — não passa de engano dos sentidos.
Avancemos para o Brasil de 2025.
Aqui, o que não é se apresenta como sendo, e o que deveria ser desaparece sob o peso de fantasias oficiais, privilégios institucionais e simulacros culturais. O país parece encarnar uma forma perversa de parmenidismo invertido: o que existe é o que se impõe, não o que é verdadeiro. E o que é verdadeiro? A frugalidade republicana virou ficção. A cultura popular foi sequestrada pela indústria. A democracia parece uma peça publicitária.
Neste ensaio, dialogamos com Parmênides, Heráclito e Gramsci para entender essa crise. Em paralelo, buscamos em vozes contemporâneas como Bruno Carazza e Ruy Castro, e na memória musical de Alvarenga e Ranchinho, pistas sobre o que o Brasil foi — e o que ele se recusa a ser.
Parmênides e o Brasil da aparência
A máxima de Parmênides oferece um dilema para o pensamento político: se apenas o ser pode ser pensado, como lidar com o Estado que nega sua própria essência? O funcionalismo público que deveria servir à república, captura orçamentos com supersalários protegidos por opacidade e corporativismo. O Judiciário, o Ministério Público e a elite do serviço público reivindicam prerrogativas do Estado, mas recusam os limites da lei que rege a todos.
Como aponta Bruno Carazza, só em 2025, quase R$ 20 bilhões foram apropriados por pouco mais de 40 mil servidores acima do teto constitucional. Esse “ser funcional” da república transformou-se em não-ser democrático — uma aberração ontológica protegida por blindagens jurídicas e silêncios políticos.
Ruy Castro e o simulacro cultural
Em crônica publicada na Folha de S. Paulo, Ruy Castro evoca a dupla Alvarenga e Ranchinho como símbolo de um sertanejo com raízes: camisas xadrez costuradas por costureiras anônimas, chapéus de palha, repertório politizado, ironia contra ditadores.
Seus herdeiros contemporâneos, diz Castro, vestem Stetsons texanos, jeans importados e ostentam fortunas agropecuárias ao som de refrões vazios. São milionários, bolsonaristas e, ironicamente, se dizem “populares”. O que vemos aqui é o triunfo do não-ser cultural: uma estética fabricada que se traveste de identidade, mas que perdeu o elo com o povo que afirma representar.
Heráclito, fluxo e ruína
Se Parmênides via o ser como estabilidade, Heráclito afirmava: “Tudo flui”. Nada permanece. E, de fato, tudo muda no Brasil — menos quem comanda o fluxo. As elites se transformam, mas seguem no topo. Os símbolos culturais se atualizam, mas seguem reproduzindo os mesmos interesses. O povo dança conforme a música que não compôs.
O devir heraclítico se tornou caos sem direção. Ao contrário da mudança orgânica, hoje vivemos o que Bauman chamou de “modernidade líquida”, mas numa versão estagnada: instabilidade permanente, porém sem mobilidade social, sem reinvenção cultural verdadeira, sem acesso à arena da decisão política.
Gramsci: monstros e hegemonia
Gramsci descreveu com precisão esse tipo de transição degenerada. Em momentos históricos onde o antigo perde legitimidade e o novo ainda não consegue nascer, surgem os monstros. No Brasil, eles se manifestam de diversas formas:
No político que diz combater o “sistema” enquanto o fortalece;
No artista popular que canta a terra, mas serve ao latifúndio;
No servidor público que defende a república apenas como pretexto para blindar seus privilégios.
Gramsci nos ensinou que a luta não se dá apenas no campo econômico ou institucional, mas na cultura, na linguagem, na sensibilidade coletiva. E hoje, o campo da cultura está ocupado — não por acaso — por um projeto ideológico alinhado ao agro, à religião de mercado e ao ressentimento elitista.
A memória de Alvarenga e Ranchinho
Retomar Alvarenga e Ranchinho não é um ato nostálgico, mas político. Sua música "A Farra dos Três Patetas" (1942), que ironizava Hitler, Mussolini e Hiroíto em plena Segunda Guerra, mostra que o humor e a crítica já foram parte viva da cultura popular brasileira. Hoje, essa função foi neutralizada pelo entretenimento vazio, domesticado pela lógica do mercado.
A cultura perdeu sua função gramsciana de disputa pela hegemonia. A canção virou produto, o sertanejo virou grife, a voz do povo foi dublada.
Conclusão: o ser que precisa ser
O Brasil vive um interregno filosófico, político e cultural. Como Parmênides, somos desafiados a pensar o que realmente “é”. Como Heráclito, vemos que tudo muda — mas nem sempre para melhor. E como Gramsci, entendemos que o combate essencial é pela narrativa, pelo imaginário, pela cultura.
O que será o Brasil? Um simulacro de democracia funcional ou um projeto social verdadeiro? Uma estética agro-pop globalizada ou uma cultura popular enraizada? Um Estado-casta blindado ou uma república igualitária?
A resposta não está dada. Ela depende da nossa capacidade de reconstruir o ser — e desmascarar o não-ser.
📚 Referências
Parmênides. Fragmentos do Ser. Tradução de Gilda Mello e Souza.
Heráclito. Fragmentos. Trad. Emmanuel Carneiro Leão.
Gramsci, Antonio. Cadernos do Cárcere. Civilização Brasileira.
Castro, Ruy. O Brasil de Chapéu de Palha. Folha de S. Paulo, 28/07/2025.
Carazza, Bruno. Precisamos de um Observatório Nacional dos Supersalários. Valor Econômico, 28/07/2025.
Alvarenga e Ranchinho. A Farra dos Três Patetas. RCA Victor, 1942.
Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Zahar, 2001.
Deleuze & Guattari. O que é a Filosofia?. Editora 34.
Heidegger, Martin. Ser e Tempo. Vozes.
A Farra Dos Três Patetas
Alvarenga e Ranchinho
O seu Hitler bigodinho
E o japonês Eroíto
Fizeram uma pagodeira
Junto com o seu Benito
Comeram arroz com palito
Sarsicha com talharim
A sobremesa dos dito
Foi alfafa com capim
Comeram e beberam tanto
Que ficaram num pifão
Daí foram todos três
Prum parque de diversão
Brincaram num trem fantasma
Viram muitas carapuça
Porém tremero de medo
Na tar de montanha russa
E a farra continuava
O Benito quis cantar
Seu Hitler e o Eroíto
Garraram a saracotear
Benito quis inzebir
A sua voz de calhorda
Cantou aquela opereta
Vá lavar a face corda
Já com muito carteiraço
Se metero a valentão
E cismaro de lutar
Com o tar caixa-cachocão
Benito estava vestino
Camisa preta e carção
E o tio Hitler e o Hiroito
Tavam de cumbinação
Cabou caixa-cachocão
Ficando os três escrachado
Quando entraro no brinquedo
Foi tão duro pro Aliado
A turminha abriu no pé
Ficando de cor marela
Pois saíram nas carreiras
Passa o sebo nas canelas
Sabe de quem
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