Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 11 de julho de 2025
NOTA DE RODAPÉ
Impacto negativo do tarifaço de Trump pôs a oposição na defensiva
Publicado em 11/07/2025 - 08:07 Luiz Carlos Azedo
Brasília, Comunicação, Economia, Ética, EUA, Exportações, Governo, Imposto, Itamaraty, Justiça, Partidos, Política, Política, Trump
O que era uma acusação da oposição contra Lula, a partidarização e a contaminação ideológica da política externa, voltou-se contra Bolsonaro e Tarcísio
Não durou 24 horas a euforia da oposição com o apoio dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) por causa do julgamento do ex-chefe do Planalto, e impôs uma tarifa de mais 50% sobre os produtos brasileiros em retaliação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por sua atuação nos Brics.
A repercussão foi muito negativa, inclusive, para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que havia responsabilizado o PT pela decisão absurda e sem precedentes do norte-americano. A reação formal do governo a Trump ocorreu em nível diplomático, a carta foi devolvida, e no plano político, com o presidente Lula refutando suas alegações em nota oficial firme, porém, moderada. Nas redes sociais, entretanto, houve uma forte mobilização política dos brasileiros, que criticaram Trump no seu próprio perfil do X.
Leia também: Lula cobra respeito a Trump e reitera taxação recíproca
Na política interna, sobrou principalmente para Bolsonaro e Tarcísio, que apoiam incondicionalmente os EUA e tentam culpar Lula pelo tarifaço. A resposta veio na linha do secretário de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, que não deixou por menos: “Lula quer taxar os super-ricos, Bolsonaro quer taxar o Brasil”.
O governo surfou a onda da rejeição popular à decisão de Trump. Levantamento da AP Exata, feito com base em 260 mil publicações, revela que 59% criticaram a medida e cobraram uma reação do Brasil. Apenas 22% manifestaram apoio à decisão dos Estados Unidos, enquanto 18% mantiveram tom neutro, mas pediram que o governo atue com racionalidade. Entre os que discutem solução para o problema, 61% defendem acionar a Organização Mundial do Comércio. Outros 24% preferem o uso da reciprocidade de forma limitada, somente após o fracasso de negociações. Há ainda 15% que rejeitam qualquer tipo de retaliação, por temerem uma escalada prejudicial à economia brasileira.
A guerra de narrativas sobre a responsabilidade de cada um na crise também está sendo prejudicial a Bolsonaro e Tarcísio, que inicialmente culparam Lula pelo tarifaço, mas esse não é o entendimento da maioria: segundo a AP Exata, para 48%, a culpa é de Trump e de sua política protecionista; um terço responsabiliza a polarização brasileira entre lulismo e bolsonarismo. Somente 11% culpam exclusivamente Lula e outros 9% apontam as pressões da direita brasileira sobre os Estados Unidos como responsável pela medida.
O que era uma acusação da oposição contra Lula, a partidarização e a contaminação ideológica da política externa, voltou-se assim contra Bolsonaro, por causa da atuação de seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA. O parlamentar articulou as pressões da extrema-direita republicana para que Trump aplicasse sanções contra o Brasil, por causa do julgamento de seu pai. Ao anunciar o tarifaço, a Casa Branca exigiu que o STF encerre o julgamento de Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado.
Sanção política
Ao agradecer publicamente a Donald Trump, Bolsonaro fomentou essa percepção e deu de bandeja a bandeira do patriotismo para Lula, o que era um monopólio da oposição. O governador de São Paulo, chamuscado, também começou a mudar sua narrativa. Admitiu que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros terá impacto “negativo” para São Paulo. Disse ainda que a medida do governo dos EUA é “deletéria” para o estado, porque “pega empresas importantes, como, por exemplo, a Embraer, que fechou grandes contratos recentemente”.
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O governador paulista afirmou que a sua gestão já está “conversando com a embaixada” americana, mas que cabe ao governo federal estabelecer uma mesa de negociação, deixando as “questões ideológicas de lado”. Na quarta-feira, o governador disse em suas redes sociais que “a responsabilidade é de quem governa” e que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. Agora, se deu conta de que o estado mais prejudicado com as sanções é São Paulo, nosso maior exportador de produtos industrializados e alimentos para os Estados Unidos.
Os principais produtos exportados para os EUA são óleos brutos e combustíveis de petróleo, produtos de ferro e aço, aeronaves, café e celulose. Os mais importados pelo Brasil são motores e máquinas não elétricos, óleos combustíveis e brutos de petróleo, aeronaves e gás natural. A balança comercial entre Brasil e EUA ficou positiva para os americanos em cerca de US$ 300 milhões, pois compraram US$ 40,4 bilhões em produtos do Brasil (12% das exportações brasileiras) e nos venderam US$ 40,7 bilhões (15,5% das importações do Brasil).
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A taxa determinada para o Brasil é a maior anunciada pelo presidente Trump. Entre os países já notificados, estão Japão e Coreia do Sul, ameaçados com uma tarifa extra de 25%. Trump também apresentou na segunda-feira planos para uma tarifa de 40% sobre produtos de Mianmar e Laos, de 36% sobre o comércio de Tailândia e Camboja, de 35% sobre produtos da Sérvia e Bangladesh, de 32% sobre a Indonésia, de 30% sobre itens da África do Sul e de 25% sobre Malásia e Tunísia. As Filipinas terão uma tarifa de 20%. Entretanto, todas as decisões fora de natureza econômica. O tarifaço aplicado ao Brasil é uma sanção de natureza política.
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Da crítica da crítica da crítica da crítica...
— ou o velho truque de achar culpado na sala de espelhos da política externa tropical
Segundo Sidônio Palmeira (SP), a taxação de Lula é seletiva, elitista, discricionária e restrita — como um jantar na Faria Lima: poucos convidados e todos se conhecem. Já o tarifaço de Trump, segundo o mesmo SP, é de uma beleza republicana: pega aqui, pega acolá, não discrimina ninguém. Uma surra comercial democrática. O tarifaço não olha cor, credo ou CNPJ. É ampla, geral e irrestrita. Igual chicote de senzala: pega todo mundo.
Assim nasce o " neoreformista trumpezinho ", um tipo de líder que impõe sanções como quem reforma um porão com martelo de guerra, em contraste com o " guia revolucionário do céu e da terra ", baixado de Garanhuns com selo divino e barba profética, para redimir pobres e espantar banqueiros — tudo em nome da mais pura " alma ", como bem lembrou o cronista do Mensalão.
No palco desta tragicomédia, o ex-presidente Bolsonaro e o governador Tarcísio tentam transferir a conta do tarifaço para Lula. Mas o enredo escapa-lhes das mãos como sabonete molhado: a sanção vem em resposta ao Brasil nos BRICS e ao STF no banco dos réus da política trumpista — com Eduardo Bolsonaro agindo como embaixador informal do ressentimento internacional.
Enquanto isso, SP, com sua verve entre o marketing e a malícia, crava no peito da oposição:
"Lula quer taxar os super-ricos. Bolsonaro quer taxar o Brasil."
E assim o governo surfa a rejeição popular ao imperialismo tarifário de Trump, com 59% dos internautas exigindo reação, 61% defendendo recorrer à OMC e 0% dispostos a pagar mais caro pela piada dos outros.
A crítica à crítica da crítica volta como bumerangue. O discurso da contaminação ideológica da política externa — antes jogado contra Lula — cai como luva no campo bolsonarista, que agora lida com o constrangimento de ser punido por seu patrono internacional, enquanto ainda tenta agradecer-lhe em público.
No velho e descascado Quartel de Abranches, só resta rir. Afinal, como dizia o outro: no Brasil, até a política externa é um reflexo de nossas neuroses internas — com direito a tarifa, meme, nota oficial e live.
TÂNIA ALVES - FUNERAL DE UM LAVRADOR
Paulo Brasil
13 de jun. de 2020
Da Obra Morte e Vida Severina
Compositores: Francisco Buarque De Hollanda e Joao Cabral Melo Neto
Essa cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo nem fundo
É a parte que te cabe nesse latifúndio
É a parte que te cabe nesse latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas tarás mais ancho que estavas no mundo
Estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a parte que te cabe nesse latifundio
È a terra que querias ver dividida
È a terra que querias ver dividida
É a parte te cabe neste latifundio
Transcrição
Elba Ramalho - 08- Funeral de um Lavrador - 2015
Coqueiro Verde
“Coisas de mafiosos”, disse, em editorial, o insuspeito Estadão. Em resposta, o líder do Foro de Teresina comentou que era curiosa essa indignação ‘insuspeita’ — enquanto sua própria crítica, por suposto, seria recebida como suspeita. Uma dança de máscaras e projeções dentro da lógica contemplada pelo próprio comentarista.”
Música e Trabalho: Funeral De Um Lavrador (Chico Buarque)*
Centro de Memória Sindical Música e Trabalho
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Clipe
245.410 visualizações 22 de set. de 2012
A luta pela reforma agrária no Brasil é uma das bandeiras do Movimento Social. O poeta retrata de forma triste e melancólica, em que momento o agricultor consegue seu pedaço de terra.
Funeral de um Lavrador
(Composição: João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque/1966)
Intérprete: Chico Buarque
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.
Na atualidade, (…) as pessoas também se tornaram mercadorias, estando dispostas a qualquer sacrifício para aparecerem na mídia ao menos por alguns segundos. (…). Parece estranho o fato de que essas pessoas, depois de um tempo, paradoxalmente, começam a reclamar da mídia, protestando contra o desrespeito à sua privacidade. Os políticos também são conscientes de que os meios de comunicação podem elegê-los ou não, ao conseguir transformar heróis em vilões e vice-versa num curto espaço de tempo (FERNANDES, 2012, p. 373).
⚰️ Nota de rodapé para o teatro da crítica em cadeia
(a ser lida com a voz pausada de um Severino indignado, que já não tem mais palavras, só ironias)
"Coisa de mafioso", disse o editorialista com gravata de luto,
num raro espasmo de vergonha cívica —
vindo justo do Estadão , tão sóbrio, tão insuspeito,
que até quando grita, grita em latim.
E a palavra caiu como pedra no espelho:
no estúdio do Foro, soou risível.
Pois se o “insuspeito” agora urra,
o “suspeito”, por contraste, silva.
E o que era crítica virou eco.
E o que era eco virou alfinete.
E o que era alfinete virou palanque.
E o palanque tombou — sobre os suspeitos de sempre.
Disse o comentarista:
“Quando o Estadão critica Trump, é patriotismo.
Quando nós criticamos Trump, é ideologia.”
Riram. Mas não muito.
Porque o féretro já vinha descendo a ladeira.
Um caixão de denúncias e editoriais,
carregado por colunistas,
seguido por analistas,
e empurrado, no fundo, por um algoritmo cansado.
E nesse teatro de cadáveres reanimados,
tudo se encena com voz solene e véu opaco:
— O governo reage.
— A oposição acusa.
— A mídia comenta.
— O podcast duvida.
— O povo... paga.
Até que, de tanto espelho partido,
só reste uma pergunta retórica,
balbuciada por Severino:
“E quem é o culpado, se todos já têm sua crítica crítica da crítica crítica?”
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