Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 8 de julho de 2025
“Granbery: Entre a Dúvida e a Elegância”
Quem foi Joaquim Nabuco, abolicionista que defendia a monarquia
Ele foi amigo de Machado de Assis e convenceu um papa a apoiar o abolicionismo. Conheça a história de um dos maiores intelectuais e políticos brasileiros
POR TAÍS ILHÉU
15 SET 2023, 17H38
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Washington, 15 de Julho de 1904
Ilustríssimo Senhor M.A.,
no Rio de Janeiro
Permita-me Vossa Senhoria que, nestas linhas traçadas sob o silêncio reflexivo desta capital da União Americana, eu me dirija a Vossa inteligência clara e espírito patriótico, a fim de compartilhar breves ponderações acerca da presente configuração das relações exteriores do Brasil.
O influxo da civilização americana, vigorosa em sua expansão material e sedutora em seus costumes, ainda repercute nas formas da nossa cultura nacional, como eco de um velho tratado de afinidades ideais. Contudo, o concerto das nações transformou-se sob o ímpeto das novas forças comerciais e industriais que, por via da globalidade dos mercados, conferem ao Brasil um papel autônomo e, quiçá, estratégico.
A soberania — esse princípio sagrado do direito das gentes — há de permanecer inviolável. E se porventura se levantarem vozes que pretendam submeter a nossa vontade à órbita de interesses estranhos, saibam todos que a República Brasiliana não se curva senão diante da justiça e da razão. Jamais será satélite de império algum, pois nasceu para ser estrela em seu próprio firmamento.
Com as homenagens do mais sincero apreço e respeito, subscrevo-me,
De Vossa Senhoria, atenciosamente e sempre ao dispor,
J.B.
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Joaquim
Nabuco com
Graça Aranha
e Carlos
Magalhães de
Azevedo,
Roma, 1904
Da Abolição
à diplomacia,
um liberalismo
multifacetado
REVISTA USP, São Paulo, n.83, p. 24-41, setembro/novembro 2009
Quase cem anos depois de sua morte
– ocorrida em janeiro de 1910,
quando era embaixador brasileiro
nos Estados Unidos –, Joaquim
Nabuco permanece a despertar
interesse, a nos intrigar. Como
compreender isso?
Quem foi exatamente ele, como político, diplomata, intelectual e pessoa?
Que dimensão de sua complexa e sinuosa
biografia deve ser tomada como base para
um diálogo teórico com aquilo que pensou,
escreveu e realizou? Que papel efetivo
desempenhou na história brasileira, que
legado nos deixou?
Agitador e ideólogo abolicionista,
deputado liberal monarquista, diplomata
pan-americanista, Nabuco equilibrou-se
sobre múltiplas pernas, cumprindo distintas
tarefas e abraçando causas aparentemente
contraditórias. Ainda em vida, deu margem
a interpretações conflitantes de sua trajetória
e de suas escolhas. Foi visto como “incendiário” na campanha pela Abolição, como
reacionário pelos republicanos empolgados
com o golpe de 15 de Novembro, como europeísta e aristocrata – um inglês em terras
tropicais – e como porta-voz ingênuo dos
interesses estratégicos dos Estados Unidos,
um “pan-americanista do Norte”, na frase
cortante de Oliveira Lima. Depois da morte,
e sobretudo mais tarde, com a expansão das
pesquisas acadêmicas dedicadas à sua contribuição, as águas continuaram turbulentas,
ainda que embaladas por uma mesma onda
forte de respeito e admiração.
Com quantos Nabucos temos de lidar?
Como compreendê-los e unificá-los? Com
qual Nabuco devemos dialogar?
MARCO AURÉLIO
NOGUEIRA
é professor
de Teoria Política
da Universidade
Estadual Paulista.
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WW - MESMO ESVAZIADA, REUNIÃO DO BRICS PROVOCA OS EUA - 07/07/2025
CNN Brasil
Transmissão ao vivo realizada há 16 horas #CNNBrasil
Assista ao WW desta segunda-feira, 07 de julho de 2025. #CNNBrasil
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Trump mete a colher, Lula rebate com soberania
Por Luiz Carlos Azedo, versão condensada
Na cúpula do Brics no Rio, Lula respondeu duramente à declaração do presidente norte-americano Donald Trump, que saiu em defesa de Bolsonaro, alegando “caça às bruxas” no Brasil. Lula foi direto: “A democracia brasileira pertence aos brasileiros. Não aceitamos tutela. Ninguém está acima da lei.”
A fala de Trump — que ameaçou até impor tarifas aos países do Brics — é fruto da articulação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que segue atuando nos bastidores dos EUA contra o governo brasileiro e o STF. Lula reagiu com firmeza: “O mundo mudou. Não queremos imperadores.”
O pano de fundo é mais denso: há uma crescente tensão entre EUA e o grupo Brics, ampliado com novas adesões e maior peso econômico. No entanto, as contradições internas do bloco, que reúne aliados dos EUA e da China, limitam sua coesão política.
O Brasil, tradicionalmente ligado aos EUA, viu sua pauta de exportações migrar para a China — e isso mudou a geopolítica brasileira. A relação com Pequim é pragmática, impulsionada por commodities, mas incomoda Washington, especialmente com a volta de Trump, que mistura protecionismo econômico com interferência ideológica.
O americanismo ainda pulsa na cultura brasileira, mas a globalização reposicionou o Brasil. A soberania virou bandeira retórica e geoestratégica. O recado de Lula: o Brasil não aceita ser satélite — nem de Trump, nem de ninguém.
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Na reunião do Brics, Lula reage à interferência indevida de Trump
Publicado em 08/07/2025 - 07:34 Luiz Carlos Azedo
China, Comunicação, Cultura, Economia, EUA, Europa, Exportações, Governo, Índia, Política, Política, Putin, Rio de Janeiro, Rússia, Trump, Xi Jinping
Somos um país do Ocidente, porém, com a globalização, nossa vocação natural de produtor de commodities de minérios e alimentos fez da China nosso principal parceiro comercial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu, ontem, a declaração feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em prol do ex-presidente Jair Bolsonaro. O petista disse que “a defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito”.
Trump havia publicado um texto em defesa de Bolsonaro no final da manhã. Segundo ele, o ex-presidente brasileiro e seus parentes sofrem uma “caça às bruxas”. Para o norte-americano, ele “não é culpado de nada”. Disse: “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil – chama-se eleição. Deixem o Bolsonaro em paz!”. De pronto, o ex-chefe do Executivo agradeceu o apoio.
O comentário de Trump é resultado do trabalho de convencimento que vem sendo realizado pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O filho do ex-presidente está morando nos EUA e articula ações do governo trumpista e de parlamentares contra o governo brasileiro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do processo no qual o ex-presidente e aliados são réus, acusados de liderarem a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023.
Donald Trump meteu a colher na política brasileira e ameaçou aumentar as tarifas para os países integrantes do Brics, cuja reunião se realizou no Rio de Janeiro, sob a presidência de Lula. “Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador”, rebate Lula, após o encerramento da reunião da cúpula.
“Somos países soberanos. Se ele achar que ele pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. As pessoas precisam aprender que respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber, e é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”, disse o petista. O presidente brasileiro havia proposto a adoção de uma moeda alternativa ao dólar nas transações entre seus integrantes.
Por trás da troca de declarações, há dois aspectos a se considerar: um é o lugar do Brasil no mundo, hoje politicamente mais próximo aos países do chamado Sul Austral do que dos Estados Unidos, o que não se sustenta historicamente; o outro, é a interferência direta da Casa Branca na política interna brasileira, o que não é novidade nas relações do Brasil com os EUA. Num país dividido e radicalizado ideologicamente, essa interferência pode ser muito mais eficaz.
EUA versus China
Desde novembro de 2024, Trump ameaça os países do Brics com aumentos de tarifas caso optem por outras moedas em vez do dólar nas suas transações comerciais. A reunião do Rio de Janeiro não contou com a presença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, nem do presidente da China, Xi Jinping. Por essa razão, foi considerada esvaziada.
Além do Brasil, originalmente o grupo reunia China, Índia e Rússia. A África do Sul foi o quinto país a ingressar, em 2011. Ano passado, mais cinco nações aderiram ao bloco: Irã, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Arábia Saudita. Ainda em processo de confirmação, a Arábia Saudita tem participado das reuniões do bloco. Jogando parado, o Brics representa 40% da população mundial, 37% do PIB global, 26% do comércio mundial, 44% das reservas de petróleo, 53% das reservas de gás natural do planeta, 72% das terras raras e produzem 43% do óleo, 35% do gás e 70% da produção de carvão mineral do mundo.
O acrônimo Bric criado pelo economista Jim O’Neill, em 2001, ao apontar promissores mercados emergentes no início do milênio, mas não foi pensado como um grupo político. É aí que está o problema do grupo: seus integrantes têm muitos interesses econômicos em comum, porém, não formam um bloco político homogêneo. Índia, Emirados Árabes e Arábia Saudita, por exemplo, são aliados incondicionais dos Estados Unidos. Rússia e Irã, da China. Russos, chineses e indianos são potências nucleares. Isso explica as ambiguidades das declarações conjuntas.
A participação do Brasil no Brics é um dos eixos de sustentação da política externa brasileira, ao lado das relações com a Europa e a América Latina. Historicamente, os laços dos brasileiros com os Estados Unidos são muito fortes, tanto na cultura como nos padrões de comportamento. O “americanismo” foi o principal vetor de desenvolvimento do país desde a 2ª Guerra Mundial.
Somos um país do Ocidente, porém, com a globalização, nossa vocação natural de produtor de commodities de minérios e alimentos fez da China nosso principal parceiro comercial. Essa aproximação é inevitável e atrai grandes investimentos em logística, pois somos um país atlântico cujo comércio se voltou para o Pacífico. Essa contradição, com a volta de Trump ao poder, se tornou um fator de tensão com a Casa Branca, até porque o presidente norte-americano e Bolsonaro são aliados de natureza ideológica. Sua interferência na política interna brasileira está escrita nas estrelas.
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Crônicas de dois ex-alunos e uma estrada que não foi para Coimbra
Granbery em duas lições
Ou: como duvidar em bom inglês e com bons modos
“Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são atitudes igualmente cômodas: ambas nos dispensam de pensar.”
— Henri Poincaré
🖋️ 1. A grafia das coisas
(Por um ex-aluno em dia de chuva)
A primeira vez que escrevi “Granbery” com “n” me senti traindo o livrinho do pastor. Aquele manual meio gasto que nos ensinava que antes de “b” se usa “m”. Era uma daquelas verdades simples, como “não cuspir no chão” ou “respeite os mais velhos” — coisas que pareciam imutáveis até o dia em que você descobre que os adultos também mentem e que “Granbery” se escreve com “n” porque sim. Ou melhor, porque é nome próprio. Anglo. Protestante. Resistente às normas lusitanas.
O pastor protestante que tentava nos ensinar ortografia provavelmente não contava com a teimosia dos nomes próprios. E, no caso do Granbery, não era só teimosia. Era tradição, daquelas que vêm embaladas em sotaque americano e café morno servido em xícaras da cantina. “Granbery” vem de John Cowper Granbery, um nome que jamais se curvaria à reforma ortográfica, ao Acordo de 1943, nem mesmo ao de 1990.
Mas a alma do colégio, ao menos quando eu estudava ali, não era o nome. Era o reitor. Mister Moore. Alto, de ternos escuros e gestos leves, parecia flutuar pelos corredores — ou talvez fosse apenas o meu olhar de aluno querendo flutuar dali. O fato é que, durante a enchente, dizem que salvou livros, crianças, móveis e um cachorro — embora, sinceramente, o cachorro possa ter sido uma metáfora em alguma redação.
Hoje, ele virou rua. “Rua Mister Moore”. Uma dessas placas que passamos rápido, sem pensar no quanto de história cabe em cinco palavras. Talvez ele merecesse mais. Talvez uma ponte — daquelas que ligam não apenas margens, mas épocas. Ou, quem sabe, uma nova regra gramatical:
“Antes de b, usa-se m, exceto quando for nome de metodista americano que salvou crianças na enchente.”
E assim seguimos. Na cidade em que o colégio se chama “Granbery”, mas o povo insiste em dizer “Grâmberi”. E eu, do meu lado, sigo grafando com “m” nos cadernos da memória. Porque, como dizia aquele professor que não conheci, mas ouvia falar: as palavras têm corpo, mas a gente insiste em lembrar da alma.
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🖋️ 2. Ateu com diploma e sotaque de Oxford
(Causo contado em entrevista com vontade de fazer piada, mas escapou um elogio)
Entrei no Granbery com a alma leve e o ceticismo em dia. Ateu desde os doze, convicto desde os quinze. Me matricularam no colégio metodista como quem joga um gato dentro de uma igreja — esperando que ele se converta ou, no mínimo, pare de miar.
Mas o gato saiu falando inglês. Com sotaque britânico, talvez texano em certos dias. E o mais curioso: saiu ainda ateu. Só que agora um ateu polido, disciplinado, e — Deus me perdoe — respeitador.
Aprendi a abrir a porta para as senhoras, a ouvir sem interromper, a citar Emerson e a conjugar o verbo to doubt com elegância filosófica. O maior milagre do Instituto, se me permitem a ironia, foi me ensinar a não mentir sobre o que eu penso, mesmo quando isso significava desapontar os manuais de fé que vinham com o uniforme.
Fiz a ficha pastoral, estudei os Salmos, participei de assembleias em que a moral parecia mais importante que a teologia. E foi aí que me traí. Ou melhor: fui salvo da hipocrisia pela ética protestante que tanto negava.
Porque no fundo — e aqui o elogio se esgueira entre os dentes cerrados de quem queria fazer uma piada — o Granbery ensinava, mais que fé, uma certa elegância da dúvida. Lá dentro, a gente aprendia que o mundo era maior do que o catecismo, e que a honestidade intelectual valia tanto quanto qualquer versículo. Saí de lá com um diploma, um Cambridge Proficiency e um certo desconforto com a mentira — mesmo as piedosas.
Na entrevista em que contei isso, queria fazer graça. Quis parecer cínico, dar aquele tom blasé de ex-aluno crítico. Mas escapou-me um elogio. Não pela fé que não adquiri, mas pela verdade que me ensinaram a sustentar.
Ateu, sim. Mas em inglês fluente. E sincero — como manda a cartilha de um bom metodista.
***
HINO GRANBERYENSE
Cleber Paradela
🎶 Hino Granberyense
(Letra oficial, tradicionalmente entoada nas cerimônias e eventos do Instituto)
Salve! Salve! Granberyense,
Nobre estirpe de valor!
Teu brasão é luz imensa,
Fulgurando em nosso amor.
Tua bandeira gloriosa,
Simboliza a educação,
Alma livre, mente honrosa,
Com saber e retidão.
CORO:
Granbery! Granbery!
Sempre firme a trabalhar,
Granbery! Granbery!
Nosso lema é estudar.
Granbery! Granbery!
Para o bem do nosso lar.
Granbery! Granbery!
Teu futuro é sempre amar!
No labor da mocidade,
És escola, és ideal.
Forjas homens na verdade,
De caráter moral.
Canta o jovem tua história,
Que é de luta e devoção,
E te guarda na memória
Com suprema gratidão.
***
Hino Afetivo-Irônico do Granbery (versão apócrifa para ex-alunos já iniciados no mundo real)
Uma releitura lírica e afetuosa do hino, cantada pelos que deixaram o uniforme, mas não a memória.
🎭 Hino Afetivo-Irônico do Granbery (versão apócrifa para ex-alunos já iniciados no mundo real)
Salve, salve, oh Granberyense,
Filho ilustre do calor —
De manhã, sol e presença,
À tarde, prova e suor.
Tua torre altiva acena
Para a ética em construção.
Na lousa, além do teorema,
Teu legado: educação.
CORO:
Granbery! Granbery!
Uniforme a nos moldar,
Granbery! Granbery!
E a cantina a alimentar.
Granbery! Granbery!
Fiz amigos, fiz pensar.
Granbery! Granbery!
Nunca soube se era lar...
Nos ensaios da verdade,
Fomos versos sem final.
Desenhamos liberdade,
Entre a capela e o jornal.
Se um dia fomos doutrina,
Hoje somos contradição.
Mas guardamos tua esquina,
Num cantinho da razão.
***
🌫️ Intermezzo: O Nome das Coisas (e das Dúvidas)
Por Clarice, se tivesse lido Granbery pelos olhos de dois meninos
Não conheci nenhum dos dois. Mas conheço bem o que é não saber o nome das coisas — ou saber demais, e desconfiar delas.
Um escreveu que o colégio não seguia as regras gramaticais. O outro que não seguia as regras da fé. Ambos tinham razão. E o mais bonito é que nenhum dos dois tentou vencê-la.
De onde olho — que não é de cima nem de fora, é só um canto mais escuro do mesmo corredor de infância —, vejo dois meninos que cresceram em desacordo com o mundo, mas em acordo com eles mesmos. Um queria entender a letra. O outro queria entender o espírito. E, como em todo bom conto de escola, nenhum dos dois entendeu tudo. Mas levaram o essencial: a dúvida.
E também o gesto. O gesto de abrir a porta, o gesto de dizer “bom dia” mesmo sem acreditar no Pai Nosso. A fé, talvez, fosse essa.
O colégio chamava-se Granbery. Mas alguém escreveu Grâmberi — com acento e um “m” entre os dentes da infância. Como se dissesse: não importa como você escreve. Importa que você se lembre.
E que você, mesmo ao duvidar, permaneça justo.
Não sei se Mister Moore acreditava em anjos. Mas acreditava em salvar. E isso me basta.
Os dois rapazes saíram do colégio com línguas diferentes: um com a do Brasil corrigido, outro com a da Inglaterra fluente. Mas ambos carregavam o mesmo sotaque: o de quem não sabe fingir.
Chamam isso de ética. Talvez seja só amor em silêncio.
***
📌 Nota de rodapé
(de origem lusitana, com lição universal)
— Minha senhora, esta estrada vai para Coimbra?
— Não sei! Mas se ela for, vai fazer aqui muita falta.
— Ó velha desgraçada…
Como quem diz: a lógica pode ser fria, mas nunca é neutra.
Entre 2002 e 2025, passaram-se 23 anos — o tempo exato para a maioridade do raciocínio.
Porque, afinal, como já disse o outro:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”
“Nota de rodapé realmente útil”
***
“A verdadeira educação não é a que te faz acreditar, mas a que te dá coragem para dizer que não crê — sem perder o respeito por quem crê.”
— Anônimo, talvez metodista
***
Aqui jaz a dúvida.
Criada no colégio, nutrida pela ética, e eternamente viva nos que pensam em voz alta.
In memoriam, não da fé perdida, mas da honestidade encontrada.
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