Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quarta-feira, 9 de julho de 2025
A Granada e o Festim: Promessa, Armadilha e Impróprio Planejamento
🗞️ JORNAL DO SERTÃO — CADERNO ESPECIAL | POLÍTICA & SOCIEDADE
Edição de 10 de julho de 2025 | Nova Russas, CE | Ano 39 | Nº 8.429
Back In The U.S.S.R.
The Beatles
De Volta À U.R.S.S.
Back In The U.S.S.R.
DE VOLTA A NOVA RUSSAS
Crônica de uma terra onde as verbas brotam, mas a esperança seca
Por [] | Enviado Especial
Epígrafe:
“— Rende, sente. — Tente! Vende...”
Nova Russas, no Ceará, sempre foi uma cidade pequena, meio esquecida no mapa, meio lembrada em promessas. Tem lá seus 102 anos, o porte altivo das cidades que resistem, e os traços de um Brasil que nunca se deu por vencido, mas também nunca foi muito recompensado.
Com 30 mil habitantes e PIB modesto, Nova Russas nunca viu tanto dinheiro quanto agora. E, como desgraça pouca é bobagem, viu também a polícia federal, o Supremo Tribunal Federal, os repórteres investigativos, e o Brasil todo espiar pela fechadura.
Quem voltou à cidade — e não em busca de raízes, mas de cifras — foi Júnior Mano, deputado federal e, vejam só, marido da prefeita. Homem que já foi de quase todos os partidos (menos do silêncio) e agora figura no centro de um esquema de emendas parlamentares desviadas com capricho de relojoeiro e ares de “companheiro do povo”.
A FESTA DOS MILHÕES
Entre 2021 e 2025, a cidadezinha recebeu R$ 4,4 milhões em emendas. É dinheiro que dá para pintar o céu de azul e ainda comprar umas estrelas. Mas no lugar de saúde, escolas e dignidade, o que se viu foram empresas de fachada, obras mal feitas ou nem feitas, e aquela velha sensação de que o dinheiro público é como garoa fina: cai, mas só molha os mesmos.
Segundo a Polícia Federal, o deputado operava um sistema de repasses com “pedágio” de 12%, contratos dirigidos e campanhas eleitorais irrigadas por caixa dois. Como no samba-canção de Lupicínio Rodrigues, parece que a vingança chegou antes da justiça, e foi doce — ao menos para os envolvidos.
UMA VIAGEM COM ESCALA EM LENINGRADO
A situação lembra, com alguma licença poética e outra dose de ironia, os tempos soviéticos: tudo para o povo, nada com o povo. Voltamos a Nova Russas como os Beatles voltaram à URSS — com a diferença de que lá os trens funcionavam, e aqui, os tratores superfaturados nunca foram entregues.
A música “Back in the U.S.S.R.” pode parecer deslocada, mas fala com precisão de um retorno a um lugar onde a realidade parece teatro, e a plateia já decorou o roteiro. Aqui também há censura — não nos jornais, mas nos orçamentos. Transparência virou palavra decorativa, dessas que ficam bonitas em powerpoints governamentais.
A MISÉRIA COMO SISTEMA
Nova Russas, coitada, nunca foi epicentro de nada além de calor, fé e seca. Agora é vitrine de um Brasil onde a verba vem antes da vergonha, e o futuro chega com protocolo, mas não com propósito. Entre rios que secam e promessas que chovem, o sertanejo continua sendo, como disse Euclides da Cunha, antes de tudo um forte — e, hoje, talvez também um crédulo.
Enquanto isso, no Congresso, os donos das emendas resistem a revelar os nomes por trás dos cheques. Afinal, por que arriscar perder o poder por um detalhe tão trivial quanto o interesse público?
UM POVO QUE TENTA, MAS SEMPRE SENTE
Nova Russas segue seu caminho. Alguns ainda creem que um dia haverá justiça; outros, que o Brasil um dia se lembrará do interior com mais do que frases feitas em campanhas. Por ora, o sertanejo continua tentando, mesmo quando sente. Continua vendendo — a dignidade, o voto, o tempo — por migalhas.
E quem não rende? Esse... esse sente mais que todos.
Porque, no fim, é como diz o velho dito reinventado para os nossos tempos:
“— Rende, sente. — Tente! Vende...”
No Brasil profundo, quem tenta é vencido. Quem vende, é eleito.
E quem sente… é o povo, que já cansou de tentar.
Jornal do Sertão — Palavra escrita com espinho e esperança.
Inquéritos sobre desvios de emendas seguem o rastro do dinheiro
Publicado em 09/07/2025 - 08:00 Luiz Carlos Azedo
Brasília, Ceará, Comunicação, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Política, Política
PF apura desvios de verbas destinadas a prefeituras, em inquéritos a cargo dos ministros do STF Flávio Dino, Carmen Lúcia, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Nunes Marques
A 316km de Fortaleza, a cidade de Nova Russas tem 102 anos e nunca viu tanto dinheiro como agora. Com 742 km² e 30 mil habitantes, no Sertão de Crateús, semiárido nordestino, com um PIB de R$ 118 milhões anuais, ao sopé da Chapada do Ibiapaba, é um “case” de como funcionam os esquemas de desvios de verbas das emendas parlamentares. Às margens dos rios Acaraú, Poti e Curtume, terras que já pertenceram aos tabajaras, caratiú e os temidos tupinambás, a cidade é o principal alvo da Operação Underhand (Desonesto), da Polícia Federal.
Sob autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, a PF cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em Brasília e em outras quatro cidades do Ceará: Fortaleza, Eusébio, Canindé e Baixio, além de Nova Russas. O alvo principal é o deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), suspeito de atuar como cabeça de uma organização criminosa que desviava emendas parlamentares e manipulava eleições municipais em até 51 cidades cearenses.
Casado com a prefeita de Nova Russas, Giordanna Mano (PRD), Júnior Mano já foi do PRB, PSD, MDB, Patriota e do PL, do qual foi expulso por apoiar o candidato do PT em Fortaleza. Desde o ano passado, está no PSB. A PF alega que Júnior Mano teve papel central nos desvios de recursos públicos por meio de licitações fraudulentas, compra de apoio eleitoral e uso de caixa dois em campanhas municipais de 2024. Outros prefeitos estão envolvidos no esquema, a partir do desvio de verbas via emendas, com cobrança de “pedágio” de 12% do valor, repassados para empresas de fachada. Somente Nova Russas recebeu R$ 4,4 milhões em recursos, entre 2021 e 2025, o maior montante destinado por Junior Mano.
Leia também: Após operação da PF, deputado Júnior Mano nega envolvimento em fraudes
Nos últimos anos, as emendas parlamentares — mecanismo legítimo de alocação de recursos do Orçamento da União por deputados e senadores — tornaram-se foco de diversas investigações, seja por suspeitas de corrupção, direcionamento ilegal de verbas, favorecimento político ou uso como moeda de troca entre o Legislativo e o Executivo. O caso mais notório é o das chamadas emendas de relator (RP9), que estiveram no centro do escândalo das emendas do orçamento secreto, revelado a partir de 2020.
Bilhões de reais foram distribuídos com pouca ou nenhuma transparência. O esquema permitia que parlamentares indicassem, por meio de interlocução com os relatores do Orçamento, a destinação de recursos para municípios e estados com os quais mantinham relações políticas, sem registro público formal de autoria. Essas emendas se tornaram um instrumento de compra de apoio eleitoral. Intermediários, incluindo prefeitos, empresas contratadas e operadores políticos formaram um sistema paralelo de liberação orçamentária.
Emendas secretas
Diversos inquéritos foram abertos para apurar fraudes em licitações, sobrepreço em obras, desvios na aquisição de tratores e ambulâncias, e uso de empresas de fachada. Em 2021, o STF, em decisão da ministra Rosa Weber, suspendeu a execução das emendas de relator e exigiu maior transparência. A decisão foi posteriormente referendada pelo plenário da Corte.
Em 2022, porém, o Congresso aprovou resolução estabelecendo novos critérios de publicidade para as emendas RP9, mas o controle ainda é frágil e o sistema foi apenas disfarçado, com parte dos recursos sendo redirecionada para outras modalidades, como as emendas de comissão. Cerca de 20 inquéritos sigilosos estão em pleno curso, investigando o desvio de emendas parlamentares. especialmente no Norte e no Nordeste, onde há maior concentração de recursos dessas emendas. O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que, entre 2019 e 2022, aproximadamente R$ 54 bilhões foram distribuídos por meio das RP9.
Em estados como Maranhão, Piauí, Alagoas e Amazonas, há investigações sobre o superfaturamento de kits de robótica, poços artesianos e retroescavadeiras financiados por essas emendas. Outro foco de investigação envolve as chamadas “emendas Pix”, transferências diretas para contas de prefeituras, sem necessidade de convênios. Criadas em 2019, essas emendas aumentaram a capilaridade dos parlamentares e não são rastreáveis.
Apesar da gravidade dos indícios, em razão do foro privilegiado e da falta de estrutura investigativa autônoma, o Congresso se recusa a revelar a destinação das emendas secretas. Iniciativas da sociedade civil, como o projeto “De Olho nas Emendas”, do portal Congresso em Foco, e ações da Transparência Brasil, têm ajudado a tornar públicas as informações sobre autorias, beneficiários e valores liberados, pressionando por mais prestação de contas.
Leia mais: Governo já reservou R$ 152,1 milhões em emendas parlamentares em 2025
Em 2025, os inquéritos que apuram desvios de emendas para prefeituras foram distribuídos aos ministros do STF Flávio Dino, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Nunes Marques. São investigados parlamentares suspeitos de envolvimento em licitações fraudulentas e superfaturamento, com uso de emendas como moeda de troca. No plano institucional, especialistas defendem a criação de um sistema integrado de rastreabilidade orçamentária, com transparência ativa, indicadores de eficiência e vinculação obrigatória das emendas a metas públicas previamente estabelecidas.
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Asa Branca
Luiz Gonzaga
“Políticos são como noivos: fazem promessas durante a campanha e as esquecem depois.”
— Dick Gregory
Texto com notas de rodapé:
A granada de ar comprimido deixada por Paulo Guedes no bolso de quem o sucedesse.
“Políticos às vezes prometem construir uma ponte onde não há rio.”
— Nikita Khrushchev
Nos debates eleitorais, tentou-se extrair dos demais candidatos a mesma promessa de isenção do Imposto de Renda para todos os trabalhadores que recebessem até cinco salários mínimos. O candidato que viria a sair vencedor não escorregou na casca de banana previamente colocada e, ainda assim, manteve o número “cinco” — só que seguido de mil reais. Adiou, portanto, a explosão da bomba de festim. Agora, manobra para incluir a diferença ad hoc e mantém o marqueteiro da campanha vitoriosa como Ministro da Fazenda, Planejamento e Reclames ad hoc.
Notas de rodapé:
Granada de ar comprimido:
Metáfora usada para descrever uma medida econômica com potencial explosivo retardado. Aparentemente inofensiva no curto prazo, mas com risco fiscal considerável no médio e longo prazos — sobretudo quando envolve perda de arrecadação sem compensações orçamentárias.
Casca de banana:
Expressão popular que indica uma armadilha discursiva ou situação preparada para que alguém cometa um deslize, especialmente em contextos públicos como debates políticos.
Bomba de festim:
Metáfora que sugere algo com aparência de impacto (como uma promessa fiscal ambiciosa), mas que, na prática, não tem efeitos substanciais ou é adiada de forma que sua força se dissipa.
Ad hoc:
Expressão em latim que significa “para isso” ou “para esta finalidade específica”. Em política e administração pública, costuma designar soluções pontuais e improvisadas, que não seguem um planejamento estruturado.
Marqueteiro:
Profissional responsável pela comunicação estratégica de campanhas políticas. No contexto do texto, é usado com conotação crítica para sugerir que a condução da política econômica segue mais uma lógica de imagem e discurso do que de planejamento técnico.
Ministro da Fazenda, Planejamento e Reclames ad hoc:
Uso irônico da nomenclatura ministerial, com a inclusão do termo “Reclames” (referência antiga à publicidade) e repetição de ad hoc, para criticar a gestão orientada pela comunicação de campanha e por medidas improvisadas.
CONSTRUÇÃO - CHICO BUARQUE | CONHEÇA A LETRA
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Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague
#ChicoBuarque #Construçao
Música
1 músicas
Construção
Chico Buarque
VEJA O QUE ESTÁ POR TRÁS DE AÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL CONTRA DEPUTADO
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Transmissão ao vivo realizada há 23 horas #MyNews
No Segunda Chamada desta terça-feira, 8 de julho, a operação da Polícia Federal com mandados de busca e apreensão no gabinete do deputado federal Júnior Mano (PSB-CE). Ele é investigado por suposto envolvimento em esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares no Ceará.
No programa de hoje debateremos:
✅ Caso do deputado Júnior Mano
✅ Emendas parlamentares
✅ Papel do Supremo para dar transparência às emendas
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📰 Assista agora e fique por dentro das atualizações mais relevantes do cenário político nacional.
🗣 Afonso Marangoni recebe Evandro Éboli, diretor de Jornalismo do MyNews; Tereza Cruvinel, comentaria do Portal Brasil 247; e João Paulo Biage, repórter e colunista do jornal O Povo.
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