quinta-feira, 31 de julho de 2025

Água de Chuva No Mar

"O clarão iluminou A DANÇA DA SOLIDÃO. O brilho da fonte luminosa dourou PAULINHO DA VIOLA, as bordas de sua camisa e chapiscou o seu cabelo. A camisa, com suas golas, ficou ilhada no breu da solidão." Dança da Solidão Paulinho da Viola 🎶 Entre o traço e a melodia, o retrato suave de uma voz que sabe silêncios. Capa do LP A Dança da Solidão (1972), de Paulinho da Viola, escolhida ontem (30/07/2025) durante a Oficina da Autoria. A imagem inspirou um dos quatro textos produzidos na atividade — um mergulho do lirismo ao concreto, sem jamais perder a ternura que marca o samba e a poesia de quem canta para o coração atento.
O silêncio dos pequenos: entre o pelego de luxo e o mercado estrangeiro Em meio a uma crise comercial sem precedentes, provocada pelo tarifaço do governo Trump e agravada pelo novo acordo entre União Europeia e Estados Unidos, o governo federal brasileiro parece mais empenhado em preservar sua popularidade eleitoral do que em defender, com firmeza, os interesses dos que mais precisam. Em nome de uma soberania usada como escudo retórico, o Planalto se acomoda como um intermediário confortável entre os grandes interesses econômicos e os trabalhadores, pequenos produtores e consumidores populares, que não têm lobby em Washington nem voz em Bruxelas. Em vez de liderar uma resposta soberana e democrática à afronta norte-americana — que não é só comercial, mas institucional, como bem apontou a professora Maria Hermínia Tavares — o governo contenta-se em celebrar o “alívio” das exceções negociadas diretamente pelas grandes corporações. O Executivo federal age como se representar Embraer, agronegócio e multinacionais fosse suficiente para representar o povo brasileiro. Mas não é. O povo, que votou esperando um governo para todos, hoje assiste ao abandono silencioso de sua defesa em nome de cálculos eleitorais e relações bilaterais seletivas. As exceções ao tarifaço pouparam os grandes, como mostrou Adriana Fernandes, mas deixaram os pequenos produtores de café, etanol, açúcar e carne — que sustentam comunidades inteiras — sob o peso de uma punição que não provocaram. O Estado, que deveria ser a voz dos invisíveis, delegou a negociação ao poder econômico organizado, desertando de sua missão republicana e democrática. Pior: o governo se posiciona como único defensor possível contra os poderosos internacionais, mas atua, na prática, como pelego institucional, buscando se beneficiar da polarização entre potências estrangeiras, enquanto não mobiliza políticas de proteção real aos que mais sofrem. O discurso de soberania virou palanque, e a estratégia virou marketing. Nas ruas, o custo da crise se mede em inflação de alimentos, incerteza no campo, endividamento das famílias, retração no consumo e precarização do trabalho. Mas esses dados não aparecem nas planilhas de Brasília — apenas nas urnas, quando o povo se dá conta de que foi deixado para trás. É preciso romper com essa lógica que toma o Estado como gestor das vontades de cima e distribuidor de migalhas para os de baixo. O Brasil não pode continuar terceirizando sua dignidade nem tratando os pobres como escada para ambições políticas. O momento exige uma política externa articulada, que represente o interesse nacional em sua totalidade — não só o PIB, mas também o prato de comida, o pequeno agricultor, o operário da indústria e a consumidora da periferia. Ou o governo volta a ser governo de todos, ou confirmará que se tornou apenas o melhor aliado dos grandes — disfarçado de herói dos pequenos. Rochedo Beth Carvalho Está mais pra chorar do que sorrir Está mais pra perder do que ganhar Está mais pra sofrer que se alegrar Está mais para lá do que pra cá Amigo, esta vida não tá boa O sufoco vem à proa Desse barco que é a vida E nessa briga da maré contra o rochedo Sou marisco e tenho medo De não ter uma saída Composição: Noca da Portela / Zé Do Maranhão.
terça-feira, 29 de julho de 2025 Opinião do dia - Nicolau Maquiavel* (ricos e pobres) “Tratemos agora do outro aspecto da questão, isto é, vejamos o que ocorre quando um cidadão torna-se príncipe de sua pátria, não por meio de crime ou de outra intolerável violência, mas com a ajuda dos seus compatriotas. O principado assim constituído podemo-lo chamar civil, e para alguém chegar a governá-lo não precisa de ter ou exclusivamente virtude [virtù] ou exclusivamente fortuna, mas, antes, uma astúcia afortunada. Pois bem, a ajuda nesse caso é prestada pelo povo ou pelos próceres locais. É que em qualquer cidade se encontram estas duas forças contrárias, uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo. Destas tendências opostas surge nas cidades, ou o principado ou a liberdade ou a anarquia. O principado origina-se da vontade do povo ou da dos grandes, conforme a oportunidade se apresente a uma ou a outra dessas duas categorias de indivíduos: os grandes, certos de não poderem resistir ao povo, começam a dar força a um de seus pares, fazem-no príncipe, para à sombra dele terem ensejo de dar largas aos seus apetites; o povo, por sua vez, vendo que não pode fazer frente aos grandes, procede pela mesma forma em relação a um deles para que esse o proteja com a sua autoridade” *Nicolau Maquiavel (1469-1527) filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico de origem florentina do Renascimento. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política. O Principe (1515), Capitulo lX, p. 45. Editora Martins Afonso, 2014.
"O editorial a seguir parece ter adotado um ponto de vista aparentemente favorável aos ricos, considerando a divisão estabelecida no texto anterior 'Opinião do dia – Nicolau Maquiavel (ricos e pobres)'. Vejamos o editorial citado: 'Ao aceitar acordo com Trump, UE traz mais desafios ao Brasil'."* Valor Econômico A UE não sancionou ainda o acordo com o Mercosul e o acerto com os EUA pode dar vantagens aos bens americanos sobre os brasileiros no território europeu Depois que a União Europeia (UE) concordou em fazer um acordo com os Estados Unidos que aumenta as tarifas de importação de seus produtos para 15%, o maior obstáculo à ofensiva comercial do presidente Donald Trump ruiu. Maior bloco econômico mundial e principal parceiro comercial americano, a UE era quem tinha as melhores condições para enfrentar o protecionismo de Trump. No domingo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aceitou os termos americanos, após uma ameaça de taxação de 30% a partir de 1 de agosto. As tarifas cobrirão 70% das exportações para os EUA (US$ 532 bilhões em 2024), e o entendimento prevê compromissos de compra de energia (US$ 350 bilhões) e investimentos (US$ 600 bilhões) no mercado americano. A decisão dividiu a UE, com manifestações de resignação de Alemanha e Espanha, protestos da França e certa indiferença da Itália. A presidente da UE, não à toa, aceitou o asfixiante acordo com Trump logo após uma péssima reunião com a China, o principal destino de suas exportações. Mesmo hostilizado por Trump, Xi Jinping, aliado da Rússia, que trava uma guerra de conquista em solo europeu, não deu o menor sinal de que pretenda aliança com os europeus na atual guerra comercial — um possível prenúncio de que também não a considera essencial na nova reconfiguração geopolítica global em curso. A decisão europeia tem grande importância para os planos de Trump e traz mais desafios para o Brasil no tabuleiro comercial mundial. A UE não sancionou ainda o acordo com o Mercosul, e os entendimentos sobre o acesso americano a seu mercado pode brindar os produtos americanos com vantagens sobre os brasileiros no território europeu. A informalidade dos acordos impede conhecer em detalhes sobre quais bens os Estados Unidos garantiram tarifas zero. Segundo von der Leyen, elas incidirão sobre 70 bilhões de euros em mercadorias estratégicas, não especificadas. As exportações brasileiras de carne para a Europa estão sujeitas a cotas e enfrentam forte oposição da Irlanda e da França, dois dos principais lobistas contra o produto brasileiro. Provavelmente os americanos conseguiram furar esse bloqueio. Além disso, 50% das importações de soja e farelo na União Europeia são provenientes do Brasil, e os EUA são grandes competidores, que podem ter obtido vantagens pelo acordo. Como analistas ressaltaram, o entendimento, como impõe Trump, desrespeita as regras internacionais, deixando de lado a cláusula de nação mais favorecida, que estende aos demais países com que a UE comercia os benefícios obtidos por seu parceiro mais bem aquinhoado. A aceitação do ultimato americano, por outro lado, pode retardar o entendimento da UE com o Brasil. Ao abrir uma brecha no protecionismo europeu, em especial o agrícola, os produtores nacionais tenderão a aceitar o acordo como uma fatalidade e se tornar mais recalcitrantes para sua extensão a outros concorrentes muito competitivos, como o Brasil, por meio do acordo com o Mercosul. A posição de negociação do Brasil pode ficar pior em vários aspectos. A chance de acelerar o acordo com o Mercosul por parte de Bruxelas é uma forma de a UE se reforçar na arena global, hoje dividida entre as duas maiores potências mundiais, EUA e China. A urgência pode ter arrefecido no curto prazo com a anuência ao ultrajante ultimato americano. Se o Brasil deixou para depois a ideia de uma retaliação tarifária aos produtos americanos, ela se tornou agora quixotesca diante das desistências de potências como Europa e Japão. Se os EUA impuserem tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, não só fecharão o maior mercado do mundo ao país como facilitarão claramente seus concorrentes até dentro do Mercosul. A Argentina, cujo presidente, Javier Milei, é um adepto fervoroso de Trump, foi contemplada com taxação de 10% e é um grande exportador rival de soja e carne. Ademais, na exportação de automóveis e autopeças, com tarifas em vigor de 25%, europeus e japoneses entrarão no mercado americano pagando menos, 15%, rebaixando a competitividade do Brasil e criando enorme problema para as próprias montadoras do país, que se abastecem no México e importarão pagando mais que seus grandes concorrentes japoneses e europeus. A equação comercial será hostil com o fechamento do mercado americano e vantagens oferecidas aos EUA no resto do mundo. A exportação de manufaturados terá de bater às portas de outros mercados, depois de rejeitada pelo seu maior comprador. China e países asiáticos são mais competitivos em bens de média e alta tecnologia que o Brasil exporta. Mesmo a bem concebida ideia de retaliar os EUA não elevando as tarifas para seus bens, mas rebaixando a de outros parceiros comerciais (Valor, ontem), não é de fácil execução. Com o Mercosul, o Brasil não pode reduzir sua proteção unilateralmente sem apoio de Argentina, Paraguai e Uruguai. Ações hostis podem ser bloqueadas pela Argentina, que pretende dar benefícios aos EUA e, se pudesse, faria um acordo em separado com Washington. Se os interesses comerciais prevalecerem, o Brasil tem ainda boas chances de negociar condições menos desvantajosas. A lógica de Trump, porém, pode não ser essa." "A seguir, este editorial deve ser emulado por meio de um texto que adote o ponto de vista dos pobres, conforme a divisão estabelecida em 'Opinião do dia – Nicolau Maquiavel (ricos e pobres)', apresentada anteriormente. Para isso, os dois artigos — 1º Texto e 2º Texto, reproduzidos a seguir — servirão como referência para a fundamentação, argumentação, justificação e conclusão, sempre em cotejo crítico com a perspectiva adotada pelo editorial do jornal Valor Econômico, anteriormente citado."*
1º texto: quinta-feira, 31 de julho de 2025 Lista de exceções no tarifaço traz alívio - Adriana Fernandes Folha de S. Paulo Não ocorreu cataclismo, mas não dá para achar que o pior já acabou A lista de exceções à sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump aos produtos importados do Brasil mostrou o peso e a capacidade de mobilização das empresas do setor privado do país. Ela pode ser tão efetiva quanto uma negociação de governo e tende a ser um padrão mais frequente, daqui para a frente, num cenário em que os canais de diálogo estão contaminados pelo ativismo da família Bolsonaro na Casa Branca. A decisão dos EUA de poupar da tarifa adicional produtos da Embraer retira um problema gigantesco para o governo administrar no curto prazo. O impacto de um eventual socorro à empresa traria custo elevado para as contas públicas e não resolveria o problema da empresa. A fabricante de aeronaves é estratégica e faz parte do grupo de empresas que seriam afetadas pelo tarifaço, sem condições de migrar sua produção para outros mercados. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, foi até os Estados Unidos e abriu canais diretos com três secretários do governo Trump: Scott Bessent (Tesouro), Howard Lutnick (Comércio) e Sean Duffy (Transportes). Empresários de outros setores com poder de negociação também trabalharam, com apoio dos seus parceiros no mercado americano, para ficar de fora do tarifaço. A ação foi estimulada pelo governo Lula. As exceções interessaram aos americanos. O sentimento em Brasília é de um certo alívio. O principal ficou de fora: aço, petróleo, derivados, aeronaves, laranja. O que foi atingido é importante, mas globalmente não machuca tanto: café, carne, açúcar e etanol. Não significa que os danos estejam afastados. O governo vai gastar dinheiro para socorrer as empresas afetadas. O "dia D" do tarifaço começou antes. Não ocorreu cataclismo. Mas não dá para achar que o pior já acabou. A disputa com Trump não vai esfriar e podemos ter novas surpresas, inclusive na área financeira. É hora de reunir com inteligência as cartas na manga que o Brasil tem na negociação, sem tirar o foco de quem está fustigando o ataque ao país.
2º Texto: quinta-feira, 31 de julho de 2025 Nossa democracia na mira de Trump - Maria Hermínia Tavares Folha de S. Paulo A afronta à independência nacional visa, mais que tudo, agredir o sistema democrático no Brasil A soberania está em alta, constatou o correspondente do New York Times no Brasil. Afirmá-la com estridência foi a resposta dos governantes de países contra os quais Trump ameaçou aumentar tarifas ou usar a força para exigir decisões de âmbito doméstico, como fez com o Canadá, o México, o Panamá, a Colômbia e o Brasil. Aqui, governo e organizações da sociedade civil abraçaram a defesa da soberania —no discurso presidencial; na comunicação política oficial; em manifestações como a que enlaçou entidades representativas de numerosos setores; e o entusiasmado público que lotou a Faculdade de Direito da USP, na manhã de 25/7. Com o passar do tempo, o presidente americano acrescentou outras "razões", tais como o Pix; a intenção de responsabilizar as big techs por atos criminosos praticados nas redes sociais; o interesse americano por minerais críticos, para impor um tarifaço sem precedentes a todos os produtos nacionais. Mas a motivação principal do ocupante da Casa Branca estava clara desde o início: investir contra a Justiça brasileira em represália ao fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser acusado por crimes contra a democracia e o Estado de Direito. No limite, a afronta à independência do Estado nacional visa agredir o sistema democrático no Brasil. Este, em passado recente, mostrou força e resiliência diante dos reiterados ataques do ex-presidente contra as instituições eleitorais e o resultado das urnas, conspirando para fulminá-lo com um golpe de Estado. O gesto de Trump, embora abominável, tem lógica e propósito: destruir o sistema representativo nos Estados Unidos e dar força aos que contra ele conspiram aqui e pelo mundo afora. Como observou a escritora Anne Applebaum em seu último livro, publicado no Brasil como "Autocracia S.A", hoje em dia governos autoritários trabalham juntos para manter-se no poder e promover globalmente seus sistemas de dominação. É sempre bom lembrar que a soberania não é um valor absoluto, o que tornaria ilegítima qualquer pressão externa. Tampouco são claros seus limites na vida real. Sua defesa, aqui e agora, tem servido para preservar a democracia da aliança obscurantista entre extremistas de direita de dentro e de fora do país. Mas não raro foi utilizada como escudo por governos que perseguem opositores e usam a força para limitar a liberdade de seus cidadãos. Levado ao pé da letra, o respeito ao princípio da soberania não permitiria as sanções impostas à África do Sul, ao tempo do apartheid; ou à Venezuela de Maduro, que forjou resultados eleitorais e persegue opositores; tampouco justificaria as pressões do então presidente americano Jimmy Carter sobre o governo militar brasileiro pelo fim da tortura aos opositores, nos anos 1970; ou a discreta —e bem-vinda— gestão do governo Joe Biden para lembrar aos altos escalões militares os custos envolvidos na aventura golpista de Bolsonaro. Hoje, a soberania está em alta no país, permitindo que em seu nome se juntem brasileiros de diferentes afinidades políticas, isolando a direita radical aliada do trumpismo. Mas, se a derrocada da democracia é o alvo dos extremistas de várias nacionalidades, sua defesa poderá demandar, em algum momento, o apoio e pressão de aliados externos. Água de Chuva No Mar Beth Carvalho O meu coração hoje tem paz Decepção ficou pra trás Eu encontrei um grande amor Felicidade, enfim, chegou Como o brilho do luar Em sintonia com o mar Nessa viagem de esplendor Meu sonho se realizou A gente se fala no olhar (no olhar) É água de chuva no mar (no mar) Caminha pro mesmo lugar Sem pressa, sem medo de errar É tão bonito, é tão bonito o nosso amor A gente tem tanto querer (querer) Faz até a terra tremer (tremer) A luz que reluz meu viver O Sol do meu amanhecer é você Composição: Wanderley Monteiro / Carlos Caetano / Gerson Gomes.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

O Ensaio do Século XXI: A Rebelião dos Generais e o Último Salto da Velha República

"Cid entrega alegações finais e pede absolvição em ação do “golpe” Ex-ajudante de ordens é o 1º réu a se manifestar no processo sobre tentativa de golpe; demais defesas agora terão 15 dias Fernanda Fonseca de Brasília 29.jul.2025 (terça-feira) - 20h44 O tenente-coronel Mauro Cid entregou nesta 2ª feira (29.jul.2025) suas alegações finais no processo que investiga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado depois das eleições de 2022. No documento, a defesa pediu a manutenção dos benefícios da delação premiada firmada com a PGR (Procuradoria Geral da República), na qual Cid detalhou reuniões, articulações e ordens recebidas enquanto atuava como ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/poder-justica/cid-entrega-alegacoes-finais-e-pede-absolvicao-em-acao-do-golpe/) O Grito Silencioso da Farda: Mauro Cid, STF e o Fantasma do Golpe Subtítulo: Das sombras da caserna ao plenário do Supremo — o julgamento que reabre feridas do autoritarismo com um verniz institucional. Epígrafe: “A história não se repete, mas rima.” — Mark Twain Citação de abertura: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.” — Karl Marx, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte Introdução O Brasil assiste, mais uma vez, à colisão entre os pilares de sua frágil institucionalidade e o peso de suas raízes autoritárias. O caso Mauro Cid — um tenente-coronel que cruzou o limiar da lealdade militar para a delação premiada — transformou-se no epicentro de um terremoto político que sacode a narrativa democrática brasileira. E como toda boa história tropical, ela mistura hierarquia, lealdade, conspiração e... um toque de tragicomédia. I. O Teatro Jurídico em Ato Final No dia 29 de julho de 2025, a defesa do ex-ajudante de ordens Mauro Cid apresentou suas alegações finais ao STF. Reivindicando a absolvição com base no histórico de submissão hierárquica, os advogados evocaram o espectro da ditadura militar, alertando para os riscos de se repetir os erros de um passado que confundiu proximidade com culpabilidade. Trecho da defesa: “Durante o regime instaurado em 1964, vimos o sistema judicial ser, em momentos críticos, instrumentalizado para calar dissensos e condenar sem a devida comprovação.” A retórica sugere que, para Cid, ser fiel escudeiro de um presidente golpista não o transforma necessariamente em cúmplice — apenas um peão na engrenagem. Uma linha tênue entre “obedecer ordens” e “compactuar com crimes contra a democracia”. II. O Outro Lado da Balança: A Voz da PGR O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet Branco, respondeu com firmeza. Em documento de mais de 500 páginas, pediu a condenação de diversos nomes ligados ao núcleo duro bolsonarista, incluindo Jair Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira e o próprio Mauro Cid. Principais acusações imputadas: Organização criminosa armada Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito Golpe de Estado Dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado A PGR foi didática: Cid colaborou, sim, mas não plenamente. Teria omitido fatos e retardado revelações, o que justificaria apenas a redução parcial da pena, não o perdão completo. III. A Sutileza das Microfonias e o Peso das Palavras A cena que rodou os noticiários mostra Cid diante do microfone, sob olhar atento e cerrado do ministro Alexandre de Moraes. O ambiente era protocolar, mas as entrelinhas transbordavam tensão histórica. Não era apenas um julgamento de um militar subalterno, mas uma catarse coletiva de uma república militarizada e mal resolvida.
Imagem: Cid em audiência no STF, microfone aceso, tensão no semblante. “Microfone ligado, carreira desligada.” IV. A Teatralidade do Direito e o Ensaio do Poder Entre termos jurídicos e normas penais, o que se desenrola é uma ópera cívico-militar: de um lado, generais estrelados que sonharam com tanques nas ruas; do outro, um tribunal que tenta apagar o fogo institucional com baldes de jurisprudência. A defesa tenta transformar Cid em símbolo da obediência militar mal interpretada. A acusação tenta fixá-lo como engrenagem essencial do plano para desmantelar a democracia. O público — leia-se, o Brasil — segue atônito, dividido entre torcidas organizadas. V. Considerações Finais Este caso não é apenas sobre Mauro Cid. É sobre o Brasil que ainda titubeia diante de seu passado autoritário. É sobre as instituições testando seus limites, e sobre como símbolos (como a farda ou o Planalto) ainda carregam significados capazes de dobrar princípios. O STF precisa decidir não apenas a pena de um homem, mas o destino simbólico de uma era — ou de sua repetição. Conclusão Terminativa Se a democracia brasileira sobreviveu ao teste das urnas, agora ela é colocada à prova em seu sistema de Justiça. Não basta conter o golpe: é preciso julgá-lo, tipificá-lo, condená-lo. Um Estado Democrático não se sustenta apenas pelo voto, mas pela responsabilização daqueles que tentam subvertê-lo. Epitáfio de uma Era? Aqui jaz a ilusão de que a democracia pode conviver com flertes autoritários sem consequências. Data de óbito: a ser definida pelo Supremo Tribunal Federal. Fontes e Referências Documento da defesa de Mauro Cid, alegações finais ao STF (29/07/2025) Documento da PGR – AP 2.668/DF – Paulo Gonet Branco (14/07/2025) CNN Brasil, reportagem de Jussara Soares e Davi Vittorazzi Código Penal Brasileiro (Art. 29, Art. 69, Art. 359-L, Art. 359-M, Art. 163) Lei 12.850/2013 (Organização criminosa) Lei 9.605/1998 (Crimes ambientais) STF (Supremo Tribunal Federal) – Imagem: Gustavo Moreno/STF Site de verificação digital: http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento Se desejar agora, posso: Gerar versão em PDF ou eBook diagramado; Criar uma linha do tempo ilustrada com os principais eventos; Incluir comentários de especialistas simulados para enriquecer o ensaio; Traduzir para o inglês ou espanhol. Como deseja seguir?
quarta-feira, 30 de julho de 2025 A ‘rataria’ quer envolver o Exército - Marcelo Godoy O Estado de S. Paulo. Oficiais tentam constranger generais com o objetivo de colocar a Força Terrestre no golpe Os réus apareceram fardados. E tentaram trazer para o processo da trama golpista os generais Alcides Valeriano de Faria Júnior e Luiz Gonzaga Viana Filho. O primeiro comandava a 6.ª Divisão (6.ª DE) e o outro, o Centro de Inteligência do Exército (CIE) nos messes que antecederam a intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023. Ambos ganharam a quarta estrela na última promoção decidida pelo Alto-Comando da Força. Mais do que comprometer os generais na trama, o que os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Fabrício Moreira de Bastos pretendiam era arrastar o Exército para o banco dos réus, em uma estratégia parecida à do coronel Brilhante Ustra durante seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. A diferença é que Ustra dirigira nos anos 1970 um órgão da Força Terrestre. Não desbordou a hierarquia nem agiu clandestinamente contra o Alto-Comando. Ao depor, Ferreira Lima disse que só produzira “um cenário prospectivo”, a Operação Luneta, que previa a prisão dos ministros do STF. Afirmou que não estava fazendo “nada oculto”. Com certa naturalidade, afirmou que o plano “surgiu numa conversa minha com o meu comandante”. Disse ainda que, ao apresentá-lo ao chefe, este disse que “a prioridade dele era outra”. “Ele mandou eu abandonar isso de lado. Nem olhou, nem abriu computador.” O que o tenente-coronel, que estava na 6.ª DE, com sede em Porto Alegre, não explica é por que um cenário desses seria elaborado no Rio Grande do Sul sobre algo que não tinha nenhuma relação com a divisão? A serviço de quem estava a sua lealdade? O objetivo de Ferreira Lima é evidente: constranger o AltoComando. Manobra idêntica foi tentada por Bastos ao dizer sem provas que a Carta ao Comandante do Exército de Oficiais lhe foi passada por um coronel do CIE. Órgão de assessoria do comando da Força, o centro era chefiado por Viana Filho. Bastos não revelou o nome do tal coronel. As versões dos réus estão cheias de pérolas, como dizer que a reunião na casa do general Walter Braga Netto aconteceu por acaso ou que o plano para matar Alexandre de Moraes foi impresso em três vias, mas só para o general Mário Fernandes ler. Isso mesmo: três vias, mas apenas para os olhos do general. Tentar levar a crise para o CIE é tudo o que os réus desejam. Seria comprometer não só o então comandante do Exército, general Freire Gomes, mas o seu entorno. Eis porque a “rataria” queria depor com uniforme. Não por outra razão, Moraes determinou que os réus não podiam vestir a farda. “A acusação é voltada contra os militares, não contra o Exército.” O ministro pode ser chamado de muitas coisas, menos de ingênuo.
29/7/2025 De Hélio Ferreira Lima, na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023: "Eu não posso deixar o meu comandante ser surpreendido..." Amparado em norma legal? "– Não. Não. Não. Não!" Olímpio Mourão Filho, no Levante Integralista de março de 1938, "também não deixou que seu chefe fosse pego de calças curtas." O resultado dessa mistura é um tocante arrazoado em causa própria, ou uma biografia cujo epicentro foi deslocado para um caso judicial; de qualquer forma, um relato de lutas que aí fica para a História, esta sim, a implacável Juíza dos tribunais. 1981 – 30 de abril A bomba no Riocentro implode o terror militar na noite de 30 de abril de 1981, por volta das 21h20. O coronel Job Lorena de Sant’Anna, que substituiu o coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro — nomeado para presidir o Inquérito Policial-Militar e que renunciou dias depois, quando os indícios contra militares do Exército começaram a ser revelados pela imprensa — entregaria um relatório sustentando a versão do DOI-Codi: contra todas as evidências, o sargento e o capitão teriam sido vítimas de uma bomba colocada no carro, “provavelmente por subversivos”. Job, em seu relatório, fez o seu trabalho preventivo, prospectivamente, no diapasão do tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e do major Olímpio Mourão Filho. "Eu sei o que é certo." – afirmou o Embaixador Plenipotenciário ad hoc do Brasil junto a Washington, nos EUA. "Eu trabalho por princípios." – ecoando o seu Chefe, em julho de 2025.
Bartolomeu Dias ✍️ Epitáfio esperançoso “Aqui repousa o mito da impunidade — Que o Estado de Direito desperte mais vigor do que as sombras da história. Que a democracia floresça, e os direitos humanos sejam lei viva, para que, enfim, justiça encontre morada segura.”

PLANTAR É PRECISO

Plantar é preciso, colher não é preciso. Dindi Tom Jobim Composição: Aloysio de Oliveira / Tom Jobim / Ray Gilbert. De Jobim a Wagner, de Antonio Carlos a Jaques. De pragmatismo responsável a paganismo irresponsável, de classes produtoras a classes plantadoras. Como nossos pais, como nossos avós, como a nós e nós.
Tarifaço: em Washington, senadores pedem mais prazo para negociações A comissão do Senado que está nos EUA reuniu-se, na segunda-feira (28), com representantes de grandes empresas estadunidenses que exportam para o Brasil. Os senadores devem enviar uma carta a autoridades norte-americanas pedindo mais prazo para as negociações e adiamento da entrada em vigor da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros. O grupo coordenado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS), também se encontrou com especialistas em comércio exterior. Nesta terça-feira (29), os senadores têm reuniões com parlamentares estadunidenses. Fonte: Agência Senado 29/07/2025, 12h41 Nas entrelinhas Análise: Lula vive dilema político: resistir ao tarifaço de 50% ou aceitar humilhação O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto O governo brasileiro enfrenta, neste momento, um dos mais complexos dilemas da política externa contemporânea: aceitar a humilhação implícita nas exigências políticas do presidente Donald Trump para suspender o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros ou arcar com as consequências econômicas de uma medida punitiva, injusta e de motivação extra comercial. O retorno do chanceler Mauro Vieira ao Brasil, sem conseguir sequer uma audiência com representantes da Casa Branca, sinaliza o fracasso da última tentativa diplomática de alto nível antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto. O nosso ministro das Relações Exteriores sequer foi recebido pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, um falcão da extrema-direita da Flórida. O silêncio de Washington revela disposição de confronto e chantagem, não de negociação, como aliás vem anunciando o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), interlocutor de Rubio e artífice da crise diplomática e comercial. A principal exigência de Trump é a revisão da inelegibilidade e a suspensão do julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Lula tem reunião com ministros do União Brasil no Planalto A medida já provoca impactos no mercado interno: a retração nas encomendas dos EUA derruba os preços da carne e das frutas no Brasil, o que favorece os consumidores de um modo geral, especialmente os de menor renda, que podem sonhar com a picanha de domingo. Entretanto, como na fábula da cigarra e da formiga, a incerteza sobre o destino das exportações paralisa cadeias produtivas inteiras. O caso do suco de laranja é emblemático: com quase metade de suas exportações indo para os EUA, o setor alerta para uma crise iminente e anuncia que vai deixar as laranjas apodrecerem no pé. Por outro lado, a alta dos contratos futuros de café pode beneficiar alguns produtores no curto prazo, mas não favorece nossos consumidores nem compensa as perdas estruturais de mercados. A indústria sofre os efeitos mais agudos: segmentos como autopeças, aviação e eletroeletrônicos enfrentam o risco de ruptura de contratos e paralisia nos investimentos, diante da insegurança jurídica e comercial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reiterado disposição de negociar, mas as informações recentes de Washington, segundo diplomatas e a missão parlamentar que viajou para Washington, é de que Trump estaria irritado com declarações e comentários irônicos ou desafiadores de Lula e pretende impor uma humilhação ao presidente brasileiro para começar a conversar. Há uma dimensão política e ideológica: ao vincular o fim das tarifas à interrupção do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump rompeu todos os protocolos diplomáticos e expôs a real motivação da medida: pressionar o Brasil a abandonar sua independência institucional e judicial. Trata-se de uma "quase sanção econômica", travestida de disputa comercial, com objetivo explícito de interferir no funcionamento da democracia brasileira. Nas entrelinhas: Contagem regressiva para o tarifaço estressa o mercado Medidas de emergência Nesse cenário, o Brasil precisa combinar firmeza institucional e prudência, com uma estratégia de enfrentamento sofisticada, em níveis diplomático, comercial e financeiro. No plano diplomático, acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e buscar o apoio de parceiros estratégicos — na União Europeia, no Brics e no G20 —, o que não é fácil, diante da natureza extra-comercial da medida americana. A coalizão com países também afetados, como México e Canadá, pode reforçar o desgaste da Casa Branca, mas nada disso muda o fato de que Trump se lixa para as convenções internacionais: usa seu poder econômico e militar de forma imperial. O ultimato de 10 dias que deu ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, para acabar com a guerra da Ucrânia, mostra que quem pode mais, pode menos. No plano comercial, a diversificação dos mercados torna-se urgente. Produtos como café, carne e minério podem ser redirecionados, em parte, para a China, porém, a preços menores. Entretanto, produtos industrializados, como aviões e autopeças, não encontrarão substitutos fáceis de mercado. Por essa razão, o governo terá de adotar medidas de emergência, como na crise financeira de 2008 e durante a pandemia. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já anunciou que essas medidas estão sendo preparadas e serão indispensáveis para amortecer os impactos sobre a produção e o emprego. Para além da lógica da compensação, o Brasil precisa fortalecer sua soberania produtiva, ampliar o financiamento às exportações com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco do Brics, estimular acordos bilaterais com moedas locais e incentivar a substituição de insumos importados. A crise tarifária é uma armadilha de Trump, que pretende testar os limites do governo Lula, humilhá-lo publicamente ou empurrá-lo para uma espiral de retaliações que comprometam a recuperação econômica brasileira. Por isso mesmo, o Brasil deve seguir em busca do diálogo, com altivez, dignidade e disposição para negociar. Saiba Mais Política Tebet diz que estará no palanque de Lula em 2026 e vê Trump mais focado em Moraes Política Cid diz que foi 'traído' pela PGR que o mandou para o 'fuzilamento' e pede absolvição Política Motta aguarda posicionamento do MJ e da Itália para decidir sobre cassação Correio Braziliense Tags governo lula Tarifaço Trump PRI-3007-ENTRELINHAS - (crédito: Maurenilson Freire) Jornalista Jamil Chade é o convidado do Dando a Real com Leandro Demori TV Brasil Compartilhar Estreou em 17 de jun. de 2025 #DRcomDemori Este #DRcomDemori recebe o jornalista e correspondente internacional Jamil Chade para uma conversa sobre história, geopolítica e atualidade. Destaque para a situação de Gaza, a extrema-direita no governo Trump e a tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023 no Brasil.
Antonio Carlos Jobim (Um Homem Iluminado) Resumo: O arquivo de Antonio Carlos Jobim, assim como todo arquivo pessoal, foi colecionado e mantido para satisfazer o desejo de um homem que sempre se preocupou com sua imagem. Este trabalho demonstra a história da construção e organização desse acervo, além de fortalecer a hipótese de que o arquivo, em sua integridade, configura-se como uma escrita autobiográfica. Abordo a organização arquivística do fundo Antonio Carlos Jobim, dentro do Instituto que leva seu nome, e dou ênfase na subsérie Cadernos de anotações, da série Produção Intelectual do Titular. Esses cadernos são um tipo de documento singular, quer pelo uso que deles fazia o maestro, quer pela sua prática memorial. O estudo destas fontes primárias nos permite inferir a imagem construída pelo próprio titular, e também evidencia o plano dos guardiões dessa memória em perpetuá-la: Jobim decidiu manter um arquivo pessoal com o claro propósito de preservar sua obra e projetá-la para o futuro. Esse cuidado foi transmitido para seus herdeiros, que além das obras musicais, cuidam, hoje, de seu legado arquivístico dentro do Instituto Antonio Carlos Jobim. Abstract: Antonio Carlos Jobim archive as well as his personal archive was collected and arranged to fulfill the desire of a man concerned with his image. This work reveals the history underneath the organization of his private documents. Also, it presents proofs of an autobiographical intent. I approach the construction of Jobim archives at Instituto Antonio Carlos Jobim and I emphasize the sub series Caderno de Anotações Notebooks in the serie Produção Intelectual do Titular; those notebooks can be considered unique documents and they are an important evidence of his daily use and memorial practice. The study of primary sources of this nature allows us to infer the image constructed by Jobim as well as the plans of the guardians of his legacy. The maintenance of his personal and musical archive highlights the composer's purpose of preserving his works to future generations. Jobim´s musical and personal archives are under his family responsibility at Instituto Antonio Carlos Jobim in Rio de Janeiro. Waters Of March Tom Jobim A stick, a stone, it's the end of the road It's the rest of a stump, it's a little alone It's a sliver of glass, it is life, it's the Sun It is night, it is death, it's a trap, it's a gun The oak when it blooms, a fox in the brush The knot in the wood, the song of a thrush The wood of the wind, a cliff, a fall A scratch, a lump, it is nothing at all It's the wind blowing free, it's the end of the slope It's a beam it's a void, it's a hunch, it's a hope And the river bank talks of the waters of march It's the end of the strain, it's the joy in your heart The foot, the ground, the flesh and the bone The beat of the road, a slingshot's stone A fish, a flash, a silvery glow A fight, a bet, the range of a bow The bed of the well, the end of the line The dismay in the face, it's a loss, it's a find A spear, a spike, a point, a nail A drip, a drop, the end of the tale A truckload of bricks in the soft morning light The shot of a gun in the dead of the night A mile, a must, a thrust, a bump It's a girl, it's a rhyme, it's a cold, it's the mumps The plan of the house, the body in bed And the car that got stuck, it's the mud, it's the mud A float, a drift, a flight, a wing A hawk, a quail, the promise of spring And the river bank talks of the waters of march It's the promise of life, it's the joy in your heart A snake, a stick, it is john, it is joe It's a thorn in your hand and a cut in your toe A point, a grain, a bee, a bite A blink, a buzzard, a sudden stroke of night A pin, a needle, a sting, a pain A snail, a riddle, a wasp, a stain A pass in the mountains, a horse and a mule In the distance the shelves rode three shadows of blue And the river bank talks of the waters of march It's the promise of life in your heart, in your heart A stick, a stone, the end of the road The rest of a stump, a lonesome road A sliver of glass, a life, the Sun A knife, a death, the end of the run And the river bank talks of the waters of march It's the end of all strain, it's the joy in your heart Composição: Antonio Carlos Jobim.
CulturaAlemanha O que Richard Wagner ensina sobre o jeito alemão de ser Elizabeth Grenier | Augusto Valente 17/04/202217 de abril de 2022 Mostra em Berlim examina "sentimento alemão" a partir de uma figura controversa. O músico e dramaturgo do século 19 incorporou o melhor e o mais assustador da nação alemã.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Entre o Absurdo e a Denúncia:

Coração TranquiloWalter Franco Tudo é uma questão de manterA mente quietaA espinha eretaE o coração tranquilo
Cotovelo ao AlvoRenato Švejk Tudo é uma questão de manterCotovelo quietoCotovelo ao coldreE cotovelo ao alvo Título: Entre o Absurdo e a Denúncia: Um Diálogo Literário entre “Erro Judiciário” e “As Aventuras do Bom Soldado Švejk” Título: Entre o Absurdo e a Denúncia: Um Diálogo Literário entre “Erro Judiciário” e “As Aventuras do Bom Soldado Švejk” Resumo: Este artigo propõe uma leitura comparativa entre Erro Judiciário – A História do Tenente Mattosinhos (1998), de Renato Mattosinhos, e As Aventuras do Bom Soldado Švejk (1923), de Jaroslav Hašek. Embora oriundas de contextos e gêneros distintos, as duas obras compartilham uma temática comum: a crítica às instituições militares e à lógica absurda do poder autoritário. Através da sátira ou da autobiografia-denúncia, ambas revelam o sofrimento humano em meio ao autoritarismo, à burocracia e ao fracasso da justiça. 1. Introdução A literatura sempre foi um dos instrumentos mais potentes de resistência ao arbítrio. Em Erro Judiciário, Renato Mattosinhos relata sua própria experiência como vítima de um sistema militar que o condenou injustamente, enquanto Jaroslav Hašek, em Švejk, recorre à ficção satírica para retratar o absurdo da guerra e da hierarquia militar durante o Império Austro-Húngaro. Este artigo propõe um diálogo entre essas duas formas de expressão da crítica à autoridade: o testemunho direto e o cômico subversivo. 2. A figura do militar: entre a vítima e o dissimulado Mattosinhos surge em sua obra como o militar honrado que sofre a perseguição do sistema que jurou defender. Ele é retratado como o inocente condenado, à semelhança do Capitão Dreyfus (aludido no trecho de Émile Zola incluído no prefácio). Em contraste, Švejk é a figura do soldado que "joga o jogo" das instituições absurdas, fingindo-se de idiota para sobreviver à insanidade da guerra. Ambos, por caminhos diferentes, expõem o colapso da racionalidade militar. 3. As instituições como espaços de opressão As obras revelam, com estilos opostos, como a estrutura hierárquica e autoritária pode tornar-se instrumento de injustiça. No caso de Mattosinhos, a persecução institucional culmina em um processo judicial arbitrário. Em Hašek, a guerra e a administração militar são uma engrenagem cega, onde a vida humana tem pouco valor. Ambas as obras retratam essas estruturas como espaços onde a lógica se dissolve. 4. Humor e tragédia: diferentes estéticas, mesma crítica Hašek escolhe o riso para criticar. O humor é seu modo de revelar o horror. Mattosinhos escolhe a gravidade, pois sua experiência é real, marcada por dor e injustiça. A escolha do gênero (ficção cômica vs. autobiografia) condiciona o tom, mas a crítica à autoridade é comum. 5. A palavra como forma de resistência Ambos os autores utilizam a escrita como meio de resistir. Para Hašek, escrever é zombar do sistema. Para Mattosinhos, é denunciar o sistema. Em ambos os casos, a obra deixa de ser apenas um relato e torna-se um documento histórico e político.
Os horrores da guerra, o remédio possível. Futebol entre soldados amputados, Ucrânia, 2023. Fonte: Editoriale Domani (https://www.editorialedomani.it/fatti/ucraina-campionato-calcio-amputati-guerra-trauma-pallone-cura-db66isoj) 6. Considerações finais Erro Judiciário e Švejk são obras profundamente distintas, mas convergem na intenção de expor o absurdo e o sofrimento provocados pelo poder autoritário. Ao confrontarmos essas obras, somos lembrados de que a literatura, seja pela dor ou pelo riso, é uma das formas mais poderosas de buscar justiça e preservar a dignidade. Referências: MATTOSINHOS, Renato. Erro Judiciário – A História do Tenente Mattosinhos. 1998. HAŠEK, Jaroslav. As Aventuras do Bom Soldado Švejk. Trad. Luís Carlos Cabral. São Paulo: Alfaguara, 2014. ZOLA, Émile. J’Accuse...! Paris, 13 jan. 1898. Coração Tranquilo Walter Franco Tudo é uma questão de manter A mente quieta A espinha ereta E o coração tranquilo Cotovelo Ao alvo Renato Švejk Tudo é uma questão de manter Cotovelo quieto Cotovelo ao coldre E cotovelo ao alvo Jaroslav Hašek - The good soldier Švejk and his fortunes in the World War Radio Prague International 19 de fev. de 2020 Jaroslav Hašek’s The Good Soldier Švejk is a classic of not just Czech but world literature. Is soldier Josef Švejk employing exaggerated zeal to mock the Austro-Hungarian army’s war effort? Or is he a genuine imbecile? The 1920s comic anti-war masterpiece leaves it up to the reader to decide. Pessoas mencionadas 2 pessoas
Francisco Ferdinando da Áustria-Hungria
Jaroslav Hašek Transcrição

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O ENSAIO DO BLOCO 3

Alvarenga e Ranchinho - Ensaio - Bloco 3 TV Cultura 27 de mai. de 2011 Ranchinho e Alvarenga cantam Seu Condutor e Chapéu de Palha. Transcrição Alvarenga e Ranchinho - Trecho de "A farra dos três Patetas" Memorial da Democracia
🎙️ Apresentação – Introdução ao Vídeo de Interrogatório do Núcleo 3 📜 Reflexão de Abertura – Opinião do Dia: Montesquieu e a Democracia Segunda-feira, 28 de julho de 2025 Antes de darmos início à exibição do interrogatório dos réus do chamado Núcleo 3, trazemos hoje uma reflexão que dialoga diretamente com o momento histórico que vivemos. Em seu clássico Do Espírito das Leis, o pensador francês Montesquieu afirma: “O amor pela república, numa democracia, é o amor pela democracia; o amor pela democracia é o amor pela igualdade... Ao nascer contraímos para com ela uma imensa dívida da qual nunca podemos desobrigar-nos.” Essa ideia de compromisso inescapável com a pátria e com os princípios democráticos se torna ainda mais relevante diante do processo em curso no Supremo Tribunal Federal. O julgamento dos envolvidos na tentativa de subverter a ordem institucional em 8 de janeiro de 2023 não é apenas sobre responsabilizar indivíduos — é sobre preservar a igualdade, a frugalidade republicana e a própria democracia, como Montesquieu tão bem definiu. Que essa reflexão nos ajude a compreender o peso do que está em jogo — e o dever de todos os cidadãos, civis ou militares, de defender o Estado de Direito. Boa [tarde/noite/dia] a todos, Hoje damos continuidade à cobertura especial sobre os desdobramentos jurídicos da tentativa de golpe de Estado ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023. O vídeo que será exibido a seguir traz os interrogatórios de réus que compõem o chamado Núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Esse grupo é formado por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército, conhecidos informalmente como “kids pretos”, além de um policial federal. Eles são acusados de tentar pressionar o alto comando do Exército para aderir à trama golpista que visava impedir a posse e a continuidade do governo democraticamente eleito. A oitiva dos réus está sendo conduzida por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Como já é de praxe nesse tipo de audiência, os acusados têm o direito de permanecer em silêncio. Os investigados que serão ouvidos nesta fase incluem nomes de alta patente militar, como os generais Estevam Theophilo e Nilton Diniz Rodrigues, além de diversos coronéis e tenentes-coronéis. Vale lembrar que os interrogatórios do Núcleo 3 ocorrem após os depoimentos dos demais núcleos já terem sido colhidos — com destaque para o Núcleo 1, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e já está em fase de alegações finais, com julgamento previsto para o mês de setembro. Agora, acompanhe conosco os depoimentos dos réus, momento crucial na apuração das responsabilidades e na preservação do Estado Democrático de Direito. Ao vivo: STF interroga núcleo 3 nesta segunda-feira; acompanhe Grupo é composto por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército — conhecidos como "kids pretos" — e um policial federal Depoimentos serão conduzidos por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF - (crédito: Fellipe Sampaio /STF) Por Correio Braziliense postado em 28/07/2025 09:21 / atualizado em 28/07/2025 09:24 O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta segunda-feira (28/7) o interrogatório dos réus que integram o chamado Núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo a denúncia, eles atuaram para pressionar o alto Comando do Exército para aderir a trama golpista. O grupo é composto por 11 militares do Batalhão de Forças Especiais do Exército — conhecidos como “kids pretos” — e um policial federal. Serão ouvidos nesta fase os seguintes investigados: Bernardo Romão Correa Netto (coronel); Cleverson Ney Magalhães (tenente-coronel); Estevam Theophilo (general); Fabrício Moreira de Bastos (coronel); Hélio Ferreira (tenente-coronel); Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel); Nilton Diniz Rodrigues (general); Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel); Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel); Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel); Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel); Wladimir Matos Soares (policial federal). Leia também: Análise: julgamento dos "kids pretos" coloca em questão o papel das Forças Armadas Os depoimentos serão conduzidos por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Como estão na condição de réus, os acusados têm o direito de permanecer em silêncio diante das perguntas feitas por representantes da PGR e do gabinete do relator. Leia também: No STF, Mario Fernandes diz ser o autor do "Punhal Verde e Amarelo" A denúncia apresentada pela PGR sobre a tentativa de golpe foi estruturada em quatro núcleos distintos. Os réus dos núcleos 1, 2 e 4 já prestaram depoimento. O processo mais avançado é o do Núcleo 1, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados. A ação está na fase de alegações finais e deve ser julgada em setembro. *Com informações da Agência Brasil Correio Braziliense Tags interrogatório PGR stf Por Correio Braziliense postado em 28/07/2025 09:21 / atualizado em 28/07/2025 09:24
Precisamos de um Observatório Nacional dos Supersalários - Bruno Carazza Valor Econômico Precisamos de um completo raio-X das folhas de pagamento em todos os níveis e Poderes da República
Supersalários e a Urgência de Transparência Segunda-feira, 28 de julho de 2025 No país dos privilégios crônicos e da desigualdade institucionalizada, mais uma vez somos confrontados com dados que chocam e, ao mesmo tempo, escancaram a urgência de encarar de frente uma realidade que poucos se atrevem a enfrentar: a farra dos supersalários no setor público brasileiro. Em artigo publicado no Valor Econômico, o economista e analista político Bruno Carazza retoma, com contundência, uma pauta negligenciada pela política institucional: o custo bilionário dos salários que ultrapassam o teto constitucional, especialmente no Judiciário, no Ministério Público e entre os advogados públicos. Em 2025, apenas essas três categorias — que somam pouco mais de 40 mil servidores — devem consumir R$ 19,6 bilhões em salários acima do teto, o equivalente, por exemplo, a um novo aumento no IOF que atinge milhões de brasileiros comuns, ou a três vezes o valor perdido em fraudes no INSS ao longo de cinco anos. Diante da falta de transparência, da conivência dos órgãos de controle e do silêncio da classe política, Carazza propõe algo simples e necessário: a criação de um Observatório Nacional dos Supersalários, um painel público e detalhado de todas as remunerações do funcionalismo em todos os níveis de governo. É uma ideia poderosa — não apenas por seu conteúdo técnico, mas porque ela atravessa ideologias: indigna tanto a esquerda, que combate desigualdades, quanto a direita, que defende austeridade fiscal. Logo após esta introdução, você confere a íntegra do texto de Bruno Carazza, uma leitura essencial para quem acredita que a democracia precisa caminhar lado a lado com responsabilidade, justiça fiscal e transparência pública.
O Brasil de chapéu de palha – Ruy Castro Folha de S. Paulo Alvarenga e Ranchinho não ficaram ricos; seus sucessores sertanejos são milionários e bolsonaristas
🎙️ Introdução – Ruy Castro e o Sertanejo que Mudou de Rosto Segunda-feira, 28 de julho de 2025 Em mais uma crônica afiada e nostálgica, o escritor e jornalista Ruy Castro nos convida a revisitar o Brasil sertanejo — não o da ostentação ou da sofrência de hoje, mas aquele das raízes populares, dos chapéus de palha e das camisas xadrez feitas por costureiras anônimas, como vestiam Alvarenga e Ranchinho, ícones da música sertaneja dos anos 1930 e 40. Ruy contrasta o universo simples e engajado da dupla — que cantava desde o torpedeamento de navios brasileiros na Segunda Guerra até sátiras políticas — com o cenário atual, em que sertanejos milionários, bolsonaristas e de visual texano dominam os palcos, os camarotes e as campanhas eleitorais. É uma reflexão sobre como a música popular deixou de ser espelho de um povo simples e diverso para se tornar marca de uma elite agropecuária conservadora, cada vez mais distante das origens que a inspiraram. Um olhar crítico, mas também melancólico, sobre o Brasil que trocou o jerico pelo jato executivo — e o chapéu de palha pelo Stetson importado. A seguir, leia (ou ouça) a crônica completa de Ruy Castro: "O Brasil de chapéu de palha".
O Ser, o Não-Ser e os Monstros do Interregno Filosofia, privilégio e cultura na encruzilhada brasileira Por Rafael Andrade | Revista Democracia & Cultura | Julho de 2025 ✒️ Epígrafe "O velho mundo está morrendo, e o novo tarda a nascer. Neste interregno, surgem os monstros." — Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere Introdução: o Brasil como problema ontológico No século V a.C., o filósofo eleata Parmênides cravou a mais radical das afirmações: “O ser é, e o não-ser não é.” Para ele, pensar e ser são a mesma coisa. O que não é, não pode ser pensado. O ser é uno, imóvel e eterno. Tudo o mais — mudança, ilusão, aparência — não passa de engano dos sentidos. Avancemos para o Brasil de 2025. Aqui, o que não é se apresenta como sendo, e o que deveria ser desaparece sob o peso de fantasias oficiais, privilégios institucionais e simulacros culturais. O país parece encarnar uma forma perversa de parmenidismo invertido: o que existe é o que se impõe, não o que é verdadeiro. E o que é verdadeiro? A frugalidade republicana virou ficção. A cultura popular foi sequestrada pela indústria. A democracia parece uma peça publicitária. Neste ensaio, dialogamos com Parmênides, Heráclito e Gramsci para entender essa crise. Em paralelo, buscamos em vozes contemporâneas como Bruno Carazza e Ruy Castro, e na memória musical de Alvarenga e Ranchinho, pistas sobre o que o Brasil foi — e o que ele se recusa a ser. Parmênides e o Brasil da aparência A máxima de Parmênides oferece um dilema para o pensamento político: se apenas o ser pode ser pensado, como lidar com o Estado que nega sua própria essência? O funcionalismo público que deveria servir à república, captura orçamentos com supersalários protegidos por opacidade e corporativismo. O Judiciário, o Ministério Público e a elite do serviço público reivindicam prerrogativas do Estado, mas recusam os limites da lei que rege a todos. Como aponta Bruno Carazza, só em 2025, quase R$ 20 bilhões foram apropriados por pouco mais de 40 mil servidores acima do teto constitucional. Esse “ser funcional” da república transformou-se em não-ser democrático — uma aberração ontológica protegida por blindagens jurídicas e silêncios políticos. Ruy Castro e o simulacro cultural Em crônica publicada na Folha de S. Paulo, Ruy Castro evoca a dupla Alvarenga e Ranchinho como símbolo de um sertanejo com raízes: camisas xadrez costuradas por costureiras anônimas, chapéus de palha, repertório politizado, ironia contra ditadores. Seus herdeiros contemporâneos, diz Castro, vestem Stetsons texanos, jeans importados e ostentam fortunas agropecuárias ao som de refrões vazios. São milionários, bolsonaristas e, ironicamente, se dizem “populares”. O que vemos aqui é o triunfo do não-ser cultural: uma estética fabricada que se traveste de identidade, mas que perdeu o elo com o povo que afirma representar. Heráclito, fluxo e ruína Se Parmênides via o ser como estabilidade, Heráclito afirmava: “Tudo flui”. Nada permanece. E, de fato, tudo muda no Brasil — menos quem comanda o fluxo. As elites se transformam, mas seguem no topo. Os símbolos culturais se atualizam, mas seguem reproduzindo os mesmos interesses. O povo dança conforme a música que não compôs. O devir heraclítico se tornou caos sem direção. Ao contrário da mudança orgânica, hoje vivemos o que Bauman chamou de “modernidade líquida”, mas numa versão estagnada: instabilidade permanente, porém sem mobilidade social, sem reinvenção cultural verdadeira, sem acesso à arena da decisão política. Gramsci: monstros e hegemonia Gramsci descreveu com precisão esse tipo de transição degenerada. Em momentos históricos onde o antigo perde legitimidade e o novo ainda não consegue nascer, surgem os monstros. No Brasil, eles se manifestam de diversas formas: No político que diz combater o “sistema” enquanto o fortalece; No artista popular que canta a terra, mas serve ao latifúndio; No servidor público que defende a república apenas como pretexto para blindar seus privilégios. Gramsci nos ensinou que a luta não se dá apenas no campo econômico ou institucional, mas na cultura, na linguagem, na sensibilidade coletiva. E hoje, o campo da cultura está ocupado — não por acaso — por um projeto ideológico alinhado ao agro, à religião de mercado e ao ressentimento elitista. A memória de Alvarenga e Ranchinho Retomar Alvarenga e Ranchinho não é um ato nostálgico, mas político. Sua música "A Farra dos Três Patetas" (1942), que ironizava Hitler, Mussolini e Hiroíto em plena Segunda Guerra, mostra que o humor e a crítica já foram parte viva da cultura popular brasileira. Hoje, essa função foi neutralizada pelo entretenimento vazio, domesticado pela lógica do mercado. A cultura perdeu sua função gramsciana de disputa pela hegemonia. A canção virou produto, o sertanejo virou grife, a voz do povo foi dublada. Conclusão: o ser que precisa ser O Brasil vive um interregno filosófico, político e cultural. Como Parmênides, somos desafiados a pensar o que realmente “é”. Como Heráclito, vemos que tudo muda — mas nem sempre para melhor. E como Gramsci, entendemos que o combate essencial é pela narrativa, pelo imaginário, pela cultura. O que será o Brasil? Um simulacro de democracia funcional ou um projeto social verdadeiro? Uma estética agro-pop globalizada ou uma cultura popular enraizada? Um Estado-casta blindado ou uma república igualitária? A resposta não está dada. Ela depende da nossa capacidade de reconstruir o ser — e desmascarar o não-ser. 📚 Referências Parmênides. Fragmentos do Ser. Tradução de Gilda Mello e Souza. Heráclito. Fragmentos. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Gramsci, Antonio. Cadernos do Cárcere. Civilização Brasileira. Castro, Ruy. O Brasil de Chapéu de Palha. Folha de S. Paulo, 28/07/2025. Carazza, Bruno. Precisamos de um Observatório Nacional dos Supersalários. Valor Econômico, 28/07/2025. Alvarenga e Ranchinho. A Farra dos Três Patetas. RCA Victor, 1942. Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Zahar, 2001. Deleuze & Guattari. O que é a Filosofia?. Editora 34. Heidegger, Martin. Ser e Tempo. Vozes. A Farra Dos Três Patetas Alvarenga e Ranchinho O seu Hitler bigodinho E o japonês Eroíto Fizeram uma pagodeira Junto com o seu Benito Comeram arroz com palito Sarsicha com talharim A sobremesa dos dito Foi alfafa com capim Comeram e beberam tanto Que ficaram num pifão Daí foram todos três Prum parque de diversão Brincaram num trem fantasma Viram muitas carapuça Porém tremero de medo Na tar de montanha russa E a farra continuava O Benito quis cantar Seu Hitler e o Eroíto Garraram a saracotear Benito quis inzebir A sua voz de calhorda Cantou aquela opereta Vá lavar a face corda Já com muito carteiraço Se metero a valentão E cismaro de lutar Com o tar caixa-cachocão Benito estava vestino Camisa preta e carção E o tio Hitler e o Hiroito Tavam de cumbinação Cabou caixa-cachocão Ficando os três escrachado Quando entraro no brinquedo Foi tão duro pro Aliado A turminha abriu no pé Ficando de cor marela Pois saíram nas carreiras Passa o sebo nas canelas Sabe de quem

domingo, 27 de julho de 2025

HISTORIADORES... BAH... CONTADORES DE UMA FIGA!

Mar de Espanha "Historiadores... tsc... meros contadores tendenciosos!" Falar de mim Falar de minas Falar de estranho ausente mar Onde navega a minha sina Desde menina pirata do ar Falar de ti Falar do mundo Do meu destino atravessar O teu amor, o teu silêncio Onde alucina Ausente amar Mares da índia, mares da china São tantos mares a saquear Mares de Espanha, mares de minas As fantasias do navegar Estrela Dalva, estrela guia Sei que a minha travessia É calmaria São tempestades do sonhar Mar de Espanha · Aline · Sueli Costa · José Capinan Mares de Minas Aline - Tema 13 de jan. de 2022 Provided to YouTube by ONErpm E o Mundo Não Se Acabou Paula Toller Composição: Assis Valente. A História concede a seus personagens um tratamento no qual não podem sair em defesa própria, pela inevitável barreira espaço-temporal, mas que são revisitados pelos historiadores. O Que É Que A Bahiana Tem? (part. Dorival Caymmi) Carmen Miranda
Opinião do dia – Norberto Bobbio* (sobre incompletitude em Gramsci) “Não, Gramsci não é um escritor fragmentário; para quem escreve fragmentos, o fragmento é um fim em si mesmo. Nas notas gramscianas, aquilo que parece ser um fragmento para o leitor de hoje nada mais é do que a peça de um mosaico cujo desenho final o autor jamais perde de vista. O que dá um caráter fragmentário às notas dos Cadernos é pura e simplesmente a incompletitude, isto é, o fato de que o mosaico, ou melhor, os mosaicos (pois as pesquisas empreendidas por Gramsci eram diversas, ainda que coligadas entre si), permaneceram incompletos. Se Gramsci tivesse sido verdadeiramente um escritor fragmentário, seria ilegítima toda e qualquer extrapolação de teses gerais, ou mesmo de teorias, das suas notas. Em vez disso, a importância da obra gramsciana está precisamente no fato de que a recomposição dos assim chamados fragmentos possibilitou a reconstrução de verdadeiras teorias (ainda que às vezes mais esboçadas do que finalizadas) sobre a relação entre filosofia e política, entre teoria e práxis, entre Estado e sociedade civil, entre partido e massa, entre intelectuais e política etc.; estas teorias ou esboços de teorias constituem a novidade e ao mesmo tempo o interesse de uma leitura global e sistemática de suas notas do cárcere. Excetuando o fato de que Gramsci jamais escreve o fragmento pelo fragmento, algumas notas por si mesmas já contêm teorias in nuci, para as quais faz-se necessário um estilo sintético, em que Gramsci é mestre.” *Norberto Bobbio (1909-2004), “Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade civil”, p. 136. Editora Paz e Terra, S. Paulo, 2002
Resenha: A incompletitude sistemática de Gramsci segundo Norberto Bobbio No trecho extraído da obra Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade civil, Norberto Bobbio discute a natureza da escrita de Antonio Gramsci nos Cadernos do Cárcere, contrapondo a ideia de que o pensador italiano seria um autor fragmentário. Para Bobbio, essa é uma leitura equivocada. Ele argumenta que, ao contrário do que muitos possam pensar, Gramsci não escrevia fragmentos no sentido estrito — como peças isoladas e autônomas — mas sim partes de um mosaico maior, que, embora inacabado, revela um esforço sistemático de elaboração teórica. A fragmentariedade aparente de seus escritos decorre, segundo Bobbio, da incompletitude forçada pela prisão e pelas condições adversas sob as quais Gramsci produziu seus textos, e não de uma opção estética ou metodológica. Bobbio destaca que os chamados "fragmentos" gramscianos revelam um pensamento coerente e orientado por objetivos teóricos definidos, permitindo a reconstrução de teses fundamentais sobre temas como filosofia e política, Estado e sociedade civil, partido e massas, entre outros. Mesmo nas notas mais concisas, o autor encontra teorias "in nuci", isto é, em estado germinal, que exigem — e ao mesmo tempo revelam — um estilo sintético do qual Gramsci era profundo conhecedor. Essa qualidade exige do leitor um olhar atento, capaz de recompor o todo a partir das partes. A leitura de Bobbio, portanto, reabilita o valor sistemático da obra gramsciana, reforçando que sua importância reside justamente na possibilidade de extrair dessas notas um corpo teórico denso, inovador e interligado. Gramsci, longe de ser um pensador disperso, é apresentado como um autor rigoroso, que mesmo diante da adversidade, manteve a consistência de seu projeto intelectual.
Padroeiro dos Contabilistas – São Mateus. São Mateus foi um contabilista. Atuava na área da Contabilidade Pública, pois era um rendeiro, isto é, um arrendatário de tributos. O exercício da sua profissão exigia rígidos controles, os quais se refletiam na formulação do documentário contábil, sua exibição e sua revelação. Símbolos do Contabilista ::Conselho Federal de Contabilidade:: | https://cfc.org.br › biblioteca › simbolos-do-contabilista São Mateus Padroeiro dos Profissionais da Contabilidade O apóstolo Mateus, filho de Alfeu, e também conhecido por Levi, era de origem judaica. Exerceu na juventude o cargo de publicano, ou seja, o de cobrador de impostos, na cidade de Carfarnaum. Dentro de suas atribuições – idênticas às dos publicanos da velha Roma –, estavam a elaboração da escrita e a formulação dos principais documentos de receita. Atraído pela palavra de Cristo, Mateus deixou o telônio e dedicou-se à evangelização, deixando uma grande obra como escritor evangelista. Foto: reprodução Proclamado “Celeste Patrono dos Contabilistas”, em 6 de agosto de 1953, por iniciativa dos Colégios de Contabilistas italianos, São Mateus é venerado pela igreja, como mártir, em 21 de setembro (São Mateus [...], 1998, p. 9).
– Por isso que ele é meu "senseio". 👆 Na nossa Primeira Turma – Presidente, estou só para fazer uma retificação: um dia, eu me dirigi ao Ministro Flávio Dino, logo que ele assumiu, na nossa Primeira Turma, e disse a ele: "Vossa Excelência devia estar aqui há muito tempo." Então, eu não poderia esquecer isso. – Mas por remoção ou promoção? – Por merecimento. Por merecimento. – Obrigado. [risos] – Por merecimento. – Ah! Obrigado. – Por merecimento. – Por isso que ele é meu "senseio".
[先生 xiān shēng] Em japonês, sensei (先生) significa professor, mestre, ou alguém com grande conhecimento e experiência em uma determinada área. É um termo de respeito usado para se dirigir a quem ensina, seja em contexto formal — como escolas e universidades — ou em áreas como artes marciais, medicina, ou mesmo nas artes em geral. CARMEN MIRANDA | E o mundo não se acabou (1938) Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar E até disseram que o Sol ia nascer antes da madrugada Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar E até disseram que o Sol ia nascer antes da madrugada Por causa disso nessa noite lá no morro não vai ter batucada Acreditei nessa conversa mole Pensei que o mundo ia se acabar E fui tratando de me despedir E sem demora fui tratando de aproveitar Beijei na boca de quem não devia Peguei no pau de quem não conhecia Dancei pelada na televisão E o tal do mundo não se acabou Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar E até disseram que o Sol ia nascer antes da madrugada Por causa disso nessa noite lá no morro não vair ter batucada Chamei um cara com quem não me dava E perdoei a sua ingratidão E festejando o acontecimento Gastei com ele mais de quinhentão Agora eu soube que esse cara anda Dizendo coisa que não se passou Vai ter barulho, vai ter confusão Porque o mundo não se acabou Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar, ai E até disseram que o Sol ia nascer antes da madrugada Por causa disso nessa noite lá no morro não vair ter batucada Chamei um cara com quem não me dava E perdoei a sua ingratidão E festejando o acontecimento Gastei com ele mais de quinhentão Agora eu soube que esse cara anda Dizendo coisa que não se passou Vai ter barulho, vai ter confusão Porque o mundo não se acabou Vai ter barulho, vai ter confusão Porque o mundo não se acabou Xiii, vai ter barulho, vai ter confusão Porque o mundo não se acabou (ui) Composição: Assis Valente. Gilberto Gil se despede de Preta Gil em post: ‘Até os próximos 50 bilhões de anos’ Terra Brasil 26 de jul. de 2025 #terranoticias Gilberto Gil se despede de Preta Gil em post: ‘Até os próximos 50 bilhões de anos’. O pai da artista se manifestou neste sábado, 26, um dia após o velório e cremação do corpo da filha no Rio de Janeiro. “Até os próximos 50 bilhões de anos… Onde houver alegria e amor, haverá Preta”, escreveu o cantor e compositor ao publicar fotos onde beijava a cantora no caixão. Gilberto Gil também republicou imagens de sua chegada no velório, onde aplaudia os fãs que ali se aglomeravam para se despedir da artista, que morreu no domingo, 20. #terranoticias
No dia 2 de julho de 1944, o primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB), composto por 5.075 militares, embarcou no navio norte-americano General Mann no porto do Rio de Janeiro com destino à Itália, marcando o início da participação efetiva do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados; após cerca de duas semanas de viagem, os soldados desembarcaram em Nápoles para combater o avanço nazifascista na Europa, um feito histórico que inseriu o Brasil no cenário internacional e mobilizou mais de 25 mil brasileiros nos meses seguintes. Um foi escalado com a missão de perder, nacional e regionalmente. Outro, intimado a ser missionário fracassado, regional e nacionalmente. Ambos são úteis para a guerra de posições, visando movimentos futuros. Quem viveu, já viu. Quem vive, ainda verá. Quem viver, verá. Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar; Valente e Preta não acreditaram. Filho, pai e avô seguem não acreditando no fim — por bilhões de anos. Título da Resenha: “Fragmentos, Contabilidade e Batucada: Notas sobre História, Memória e Resistência” Ilustração pictórica (imagem sugerida): Uma colagem digital que conecta: A figura de Carmen Miranda em traje típico; O rosto pensativo de Norberto Bobbio; Um quadro clássico de São Mateus, com livro contábil em mãos; Um frame estilizado da interface de uma rede social com ícones de curtidas, comentários e compartilhamentos pairando sobre os rostos citados. Essa ilustração simboliza o cruzamento entre história, cultura popular, espiritualidade profissional e crítica política — tudo em rede. Epígrafe: “Se Gramsci tivesse sido verdadeiramente um escritor fragmentário, seria ilegítima toda e qualquer extrapolação de teses gerais [...] Em vez disso, a recomposição dos fragmentos possibilitou a reconstrução de verdadeiras teorias.” — Norberto Bobbio, sobre Gramsci Citação de apoio: “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar... e o tal do mundo não se acabou.” — Assis Valente, na voz de Carmen Miranda Corpo da Resenha (Resumo Argumentativo com Costura): A provocação inicial — “Historiadores... bah... contadores de uma figa!” — ecoa como crítica e ironia frente à função de quem narra, reconstrói e julga o passado. A desconfiança na figura do historiador espelha uma tensão antiga: a autoridade de quem escreve a história versus os silêncios dos que a viveram. Contudo, a presença de Norberto Bobbio ilumina uma via alternativa. Ao resgatar os escritos de Antonio Gramsci, Bobbio desmantela a acusação de “fragmentação” como fraqueza, e propõe a ideia de incompletitude sistemática: não há falta de coesão, mas sim interrupção forçada, o que exige do leitor um esforço crítico, quase detetivesco. Assim, o historiador verdadeiro não é contador enviesado, mas tecelão de sentidos interrompidos. Neste mesmo jogo entre rigor e subjetividade, emerge São Mateus, padroeiro dos contabilistas. Sua trajetória revela o valor simbólico e documental da escrita — aqui, a contabilidade não apenas organiza receitas, mas cria um testemunho de tempo e ordem, ecoando o trabalho de memória da história. Há uma comunhão entre fé e método: o escriba evangelista também era um auditor da alma pública. Em meio a essa seriedade, Carmen Miranda irrompe com sarcasmo e resistência tropical: a canção “E o Mundo Não Se Acabou” explode em festa e afronta. O gesto da artista, que beija “na boca de quem não devia” e dança “pelada na televisão”, é uma micropolítica de sobrevivência — resposta corporal à profecia do fim. Riso, desejo e confusão emergem como ferramentas de resistência. A inclusão da expressão “senseio” — mescla bem-humorada entre “sensei” e “seu” — marca outra camada da costura: a afetividade, a pedagogia e a reverência aos mestres, mesmo nas instituições formais de poder. É nesse ponto que o vídeo do Supremo Tribunal Federal (com a presença de Flávio Dino) e a cultura japonesa se entrelaçam, mostrando como gestos simbólicos e culturais podem tensionar ou suavizar estruturas duras. O texto final, quase críptico, sugere personagens “escalados para perder”, usados em jogos maiores. Retoma Gramsci (a guerra de posições) e Valente (o mundo que não acaba) para afirmar que nem todo fracasso é inútil — alguns são ensaios, resistências silenciosas, fragmentos úteis para futuros mosaicos. Considerações Finais: Nesta colagem interpretativa de imagens, músicas, citações e vídeos, percebe-se que toda forma de registro — seja contábil, histórico, musical ou oral — é, ao mesmo tempo, construção e disputa. O historiador, como o contabilista ou o artista, precisa encarar o risco de ser lido como tendencioso. Mas é nesse risco que reside o poder de construir sentidos. A incompletude não é falha, mas convite. Sugestões para Aprofundamentos: Leitura dos Cadernos do Cárcere de Gramsci à luz da obra de Bobbio; Estudo sobre o papel dos contabilistas na história da administração pública e na construção documental do Estado moderno; Análise da obra e da persona de Carmen Miranda como símbolo de resistência e carnavalização da ordem; Discussão sobre formas não-acadêmicas de transmissão do saber, como memes, vídeos, músicas e ritos populares; Pesquisa sobre a noção de “sensei” na cultura japonesa aplicada ao ensino e à política. Conclusão: Se “anunciaram que o mundo ia se acabar”, o que vemos nesta costura é justamente o oposto: um mundo em expansão, em reinvenção permanente. Por trás da aparência fragmentária, pulsa uma teia — entre saberes, afetos e resistências. Se “anunciaram que o mundo ia se acabar”, o que vemos nesta costura é justamente o oposto: um mundo em expansão, em reinvenção permanente. Por trás da aparência fragmentária, pulsa uma teia — entre saberes, afetos e resistências. Essa teia, no entanto, está sob cerco. Como observa Luiz Sérgio Henriques, ao evocar Orwell, o mundo atual já ensaia sua dança distópica entre impérios ansiosos, slogans invertidos e cidadãos esmagados pelo peso de guerras simbólicas. O futuro totalitário de 1984 não é mais profecia — é cartilha em curso.
Lembrando Orwell - Luiz Sérgio Henriques* O Estado de S. Paulo Com seu ressentimento maciço, o ‘hegemon’ suicida propicia o declínio acelerado do próprio país e, mais do que isso, das liberdades liberais domingo, 27 de julho de 2025 Como lembra Luiz Sérgio Henriques, ao evocar a distopia de Orwell, vivemos sob o risco de que a manipulação ideológica, a pós-verdade e o ressentimento do “hegemon suicida” convertam-se em motores de destruição das liberdades e da memória. Oceânia, Lestásia, algoritmos, conspirações e revisionismos se entrelaçam na arquitetura do esquecimento. Ao mesmo tempo, como alerta Luiz Carlos Azedo, a retórica nacional-populista — encarnada no trumpismo e reverberada em suas ramificações brasileiras — transforma a diplomacia em chantagem e a soberania em mercadoria. Traidores e heróis são relidos no teatro do agora, onde o gogó substitui o poder real e a História vira moeda política.
Sem poder dissuasório, Lula depende da força das instituições – Luiz Carlos Azedo Correio Braziliense A crise só escalou no gogó do presidente Lula; nos bastidores, o governo tenta abrir as negociações com Trump, por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin domingo, 27 de julho de 2025 Opinar sem ler é só isso: 'não li e achei. Ponto.' Respeita-se, claro — como se respeita um chute no escuro. Só não espere debate sério sobre o que sequer se tocou. Cabe a nós, leitores, historiadores, artistas e contadores, continuar tecendo — mesmo quando o mosaico parece incompleto, mesmo quando tentam arrancar-lhe as peças. "Mares de Espanha, mares de Minas": Essa justaposição entre o real e o imaginado reforça a tensão entre o que se tem e o que se deseja. "Estrela Dalva, estrela guia / Sei que a minha travessia / É calmaria / São tempestades do sonhar": Fecha com um lindo paradoxo — o navegar da vida pode ser sereno ou turbulento, mas é sempre marcado pelo sonho. Curiosidade: O título “Mar de Espanha” remete tanto a um local geográfico real (há uma cidade com esse nome em Minas Gerais) quanto à ideia de mares históricos e míticos, por onde passavam as caravelas, os sonhos coloniais, os encontros e desencontros culturais.