Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 9 de outubro de 2022
E Agora Nós!
"Jamais fomos modernos, lançado originalmente em 1991, é a principal obra de Bruno Latour, um dos mais prestigiados pensadores franceses e vencedor do Holberg Prize em 2013, considerado o Nobel das ciências humanas. Neste livro-manifesto, Latour procura reconfigurar a tradicional separação “moderna” entre natureza e cultura, de modo a compreender os sujeitos híbridos cada vez mais presentes em nossa sociedade, como os desastres ecológicos, os organismos geneticamente modificados e os robôs dotados de inteligência artificial."
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POEMA: E Agora Jose - Na voz de Carlos Drummond de Andrade
211.662 visualizações 6 de dez. de 2015 POEMA: E Agora Jose - Na voz de Carlos Drummond de Andrade.
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Salão Azul - Salao Azul - Do Senado No Congresso Nacional ...
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“…No meio do ordenamento jurídico havia uma CRFB/88. Havia uma CRFB/88 no meio do ordenamento jurídico. Colocaram um bode no Salão Azul do CN, no 1º turno. Colocaram um cabritinho para pastar e engordar no Salão Verde do CN, no 1º turno. E agora STF? E agora PR? E agora vocês?…” E Agora Nós?
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1:38
YouTube
Brasília - Congresso Nacional salão Verde
Assistir
Enviado por: Ricardo Wegrzynovski, 1 de dez. de 2019
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Brasília - Congresso Nacional salão Verde
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sábado, 8 de outubro de 2022
Oscar Vilhena Vieira* - Por um governo moderado
Folha de S. Paulo
A omissão ou a cegueira deliberada custarão muito às futuras gerações
Caberá aos eleitores que optaram por uma terceira via nestas eleições decidir se o Brasil terá uma nova chance de se reconciliar com a democracia liberal nos próximos anos ou se singrará rapidamente para um regime autocrático. Essas são as opções colocadas frente àqueles que escolheram Simone Tebet ou Ciro Gomes no primeiro turno destas eleições. A omissão ou a cegueira deliberada custarão muito às futuras gerações.
O apoio de adversários históricos, como Fernando Henrique Cardoso, economistas liberais como Arminio Fraga, Pérsio Arida ou Pedro Malan, assim como de juristas não alinhados ao PT, como Miguel Reale Jr., José Carlos Dias e José Gregori, à candidatura do ex-presidente Lula, não me surpreendeu. Afinal, são pessoas historicamente comprometidas com a democracia e com o Brasil, e que têm plena consciência de que o que está em jogo não é apenas a continuidade de um governo desastroso, mas sim a própria sobrevivência do Estado democrático de Direito.
A escolha de um presidente profundamente comprometido com a democracia tornou-se um imperativo ainda mais premente, em face do preocupante crescimento das bancadas parlamentares de extrema direita, assim como a consolidação das bancadas patrimonialistas, vitaminadas pelo orçamento secreto. Esse cenário é particularmente preocupante no Senado Federal.
Como aprendemos nesses últimos quatro anos, o projeto de Jair Bolsonaro de promover uma profunda subversão de nosso patrimônio institucional, que inclui as regras do jogo democrático, bem como valores e políticas públicas estabelecidas pela Constituição de 1988, somente não se realizou por completo graças à intensa atividade de nosso complexo sistema de freios e contrapesos.
A Câmara dos Deputados, durante presidência de Rodrigo Maia, e o Senado Federal serviram como importantes anteparos aos arroubos autoritários de Bolsonaro. Da mesma forma, no plano federativo, os governadores de Estado foram fundamentais para assegurar uma política minimamente consistente de enfrentamento da Covid.
Ao Supremo Tribunal Federal coube, no entanto, um papel central na defesa do Estado democrático de Direito, assim como de grupos vulneráveis e bens de interesse comum, como o meio ambiente, sob constante ataque deste governo. Não surpreende que o Supremo tenha se tornado alvo preferencial das investidas do presidente e de seus apoiadores.
Com a nova composição do Senado, os ministros do Supremo Tribunal Federal serão objeto de intimidações e chantagens. O impeachment de um ministro do Supremo depende apenas da obtenção de maioria simples dos senadores. Como agirão os senadores alinhados com o Planalto em relação a ministros que descontentarem o presidente ou a suas próprias agendas ultraconservadoras?
Caso Bolsonaro seja reeleito, montado sobre uma maioria parlamentar a ele alinhada, o ataque às instituições será incisivo e rápido, como na Rússia e na Venezuela. Virá por meio de reformas constitucionais profundas e abrangentes e da aniquilação da Suprema Corte.
Aos eleitores da terceira via que, por temperamento, precaução ou inclinação liberal democrática, preferem os governos moderados, a única opção, portanto, é derrotar Bolsonaro. A nova composição do Congresso imporá a Lula, por outro lado, a realização de um governo moderado de reconstrução nacional, para o qual as ideias e a disposição dos eleitores e líderes da terceira via serão fundamentais.
*Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP
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DO BREVE SE FEZ LONGO
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PORTO DA MINHA VIDA
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Finalizei o enredo da @GRESUPP, agora é revisar e ajustar. Acho que é o enredo da minha vida. Tá lindo demais! ❤️🐯
2:15 PM · 1 de jun de 2022
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Eclesiastes 2:19 - NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje
E ele poderia ser um sábio ou um tolo—quem é que sabe? No entanto, ele seria o dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão.
(Nova Tradução na Linguagem de Hoje)
E quem pode dizer se ele será sábio ou tolo? Contudo, terá domínio sobre tudo o que realizei com o meu trabalho e com a minha sabedoria debaixo do sol. Isso também não faz sentido.
(Nova Versão Internacional)
E quem sabe se será sábio ou estulto? Contudo, ele se assenhoreará de todo o meu trabalho em que me afadiguei, e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isso é vaidade.
(João Ferreira de Almeida Recebida)
E quem sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará de todo o meu trabalho que realizei e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade.
(João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel)
https://bo.net.br/pt/ntlh/eclesiastes/2/19/
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Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
Ouça Soneto de Fidelidad…
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Ouça Soneto de Fidelidad…
Composição: Vinícius de Moraes.
https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/86563/
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domingo, 9 de outubro de 2022
Paulo Fábio Dantas Neto* - Armadilhas mentais no outubro largo
Há pouco mais de uma semana parecia à grande maioria dos analistas (incluído este que vos escreve) que estava em curso uma onda pelo “voto útil” que poderia levar à vitória de Lula no primeiro turno. Muitos admitiam que a hipótese se tornara provável, alguns mais afoitos a consideravam quase certa. Secundei aqueles que apenas a consideravam mais possível do que antes e resumi o que via, no artigo do dia 01.10, numa disjuntiva: outubro breve ou outubro largo. Argumentei sobre vantagens e desvantagens das duas opções - inclinando-me a preferir a do outubro largo – e sobre a lucidez de uma atitude positiva diante de qualquer desfecho que o eleitor soberano determinasse para o turno do dia 2.
Pois bem, deu outubro largo e cá estamos, a meu ver, ainda em busca da atitude mais positiva possível diante dessa realidade que a democracia engendrou. Mais necessário ainda do que há uma semana retornar à questão de Marco Aurelio Nogueira, que mencionei no artigo passado: “Não se trata só de ganhar eleições, mas de reconstruir a esfera pública. Será possível ter uma normal dialética democrática com uma extrema-direita capaz de mobilizar, pelo que parece, 30 ou 40% dos eleitores em estado de insubmissão latente?”. Abertas as urnas do primeiro turno e embora ainda esteja em aberto a disputa principal, leio com cada vez mais frequência análises que dizem não à pergunta de Marco, partindo da premissa de que sim, a extrema-direita mostrou-se capaz de mobilizar tantos eleitores, que se formou uma gigantesca bancada bolsonarista na Câmara e teria mobilizado até a maioria do eleitorado, a ponto de eleger uma maioria bolsonarista no Senado. São descrições mais ou menos próximas de um apocalipse, absoluto ou relativo, conforme a ponderação do analista. Mas como apocalipse e relatividade não combinam, acaba que, nessas análises, em diferentes graus, qualquer nuance morre no veredicto de que o eleitor brasileiro autorizou uma mais que provável destruição da nossa democracia.
Os resultados das eleições para o Congresso e para a maioria dos governos estaduais - inclusive para os três estados mais importantes da federação - trazem-nos, sim, como fato insofismável, uma vitória da direita e da centro-direita. Usemos esses dois termos para que a discussão prossiga. Porém, sem nos dispensar de concretizá-los através de ideias mais precisas. Para tanto é preciso responder que dose de Bolsonaro há nessa vitória e até que ponto devemos chamar bolsonarismo àquilo que se formou aquém ou além do mito. Basta adicionar um adjetivo ao lado do substantivo abstrato ou será mais prudente evitar recorrer a esse termo fácil que, exatamente por ser fácil, pode ser errôneo?
A Câmara recebeu, é verdade, uma dose extra de bolsonarismo. Isso ajuda a explicar uma renovação de 44% naquele colegiado, o que, aliás, desmente previsões peremptórias de que o fundo partidário e as regras eleitorais novas garantiriam uma altíssima taxa de reeleições. A política "fluida” que o bolsonarismo representa não virou suco nas mãos do centrão.
Prefiro usar aqui um adjetivo menos radical do que o “líquido”, de Zigmut Bauman, que foi aventado, de modo instigante, por uma amiga jornalista, Ana Cecília Andrade, em conversa recente, da qual tiro proveito desde o artigo da semana passada. Vi hoje que Marcelo Tognozzi usou o mesmo insight num artigo no Poder 360, aplicando-o a um tema (as pesquisas de intenção de voto e seus supostos “erros”) que não é meu objeto aqui. Converso com o insight de Ana Cecília para tratar de efeitos atuais do modo pelo qual a extrema-direita mundial serviu-se de um populista do antigo “baixo clero” da política brasileira para atiçar valores reacionários que dormiam em nossa sociedade, sem acesso à esfera política, graças a uma consistente moderação centrista do nosso sistema político democrático. O descentramento desse sistema, após uma série de eventos tendencialmente disruptivos ocorridos no rescaldo da não resposta da elite política às manifestações de 2013, propiciou o encontro de um mito de vocação doméstica com valores de um movimento internacional. Irrompeu então o bolsonarismo, usando a alcunha genérica de “nova política”, usada também por movimentos de outras naturezas. A princípio bicho solto, primário, a política fluida do bolsonarismo vem sendo até aqui contida por uma reação sistêmica que se fez valer desde as eleições municipais de 2020. Mas está viva e prorroga a vigência de suas ameaças à democracia, feitas por dentro mesmo do sistema de representação política. Como movimento antissistêmico que é, terá pé também no parlamento, onde não ficará invisível.
O Congresso eleito não difere, essencialmente, do atual. Para tentar prever sua dinâmica, penso que boa chave é essa da relação da política “sólida” das instituições (poderes do estado, dos orçamentos, das políticas públicas, dos partidos, da representação política, da imprensa, interesses sociais e atitudes permanentes e conflitantes, dos valores e da tradição política) e a política fluida do puro movimento, das narrativas imediatas, emoções fortuitas, que nega o conhecimento social acumulado e experiências coletivas; política de valores desprovidos de passado ou que ao passado acenam como fetiche; política de factoides e fake news, de voluntarismo, individualismo narcisista e identitarismo sem peias.
Esse tema da política fluida é dos mais interessantes no contexto aqui comentado. Vejo que de fato há reação do sistema político e das instituições a essa lógica. Mas a fluidez não cessa, pois reside na sociedade. O voto numa segunda safra de bolsonaristas pops e "temáticos" foi, no último domingo, contrapartida ao voto produzido pelo orçamento secreto. São dois movimentos que se interpenetram. Os bolsonaristas de segunda safra juntam-se àqueles da primeira que se turbinaram eleitoralmente e estruturalmente no governo. E as tropas de Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira e Artur Lira incorporam algo da política fluida ao seu repertório retórico. Algo do movimento primário se institucionaliza e algo que era tradição institucional se desestabiliza.
Interessante é que os dois fenômenos ocorrem no interior do que se pode chamar de "grande direita". São parceiros conflitivos e o desfecho do segundo turno definirá se prevalecerá, entre eles, parceria ou conflito. Com Lula, a banda sólida do centrão terá opções de animação na política doméstica; com Bolsonaro, pode virar suco e diluir-se no movimento ideológico poderoso da extrema-direita mundial.
Daí não ser possível concluir, automaticamente, que a extrema-direita terá hegemonia sobre o conjunto da direita (ainda menos sobre a centro-direita moderada). Isso foi o que se deu, na prática, de 2019 a 2022, mesmo que aparências, em alguns momentos do quatriênio, indicassem coisa diferente. O resultado do segundo turno pode aprofundar o processo de fluidificação política, como lhe dar nova direção, pela qual, no limite, surja, afinal, uma direita mais consistente, dentro dos marcos da democracia. Sem que para isso a extrema-direita desapareça ou se torne socialmente ou eleitoralmente irrelevante. A inclinação do eleitorado à direita foi tal que cabem, dentro dela, diferentes florações.
O desfecho do segundo turno presidencial é uma das variáveis decisivas para haver ou não fluidificação (ou liquefação) democrática da direita no Brasil. A ele está associado o movimento, de desfecho incerto, que pode associar ou opor o PL (hegemonizado pelo bolsonarismo, mas não totalmente identificado com ele) e o PP de Artur Lira e Ciro Nogueira. Se ocorrer, a fusão PP/União Brasil, proposta por Lira, ainda na véspera do primeiro turno das eleições e com o olho na sua reeleição para a presidência da Câmara, será ruim para o já combalido centro democrático, que assim perderá a chance de se articular com o União Brasil. Mas, por outro lado, quer dizer que esse possível novo partido pode disputar a hegemonia da direita com o PL. Essa tende a ser uma disputa interna a um segundo governo Bolsonaro, se houver a reeleição. Caso vença Lula (e nunca é demais lembrar ser esse o cenário mais provável) a fusão pode deixar de ser um caminho, porque União e PP poderão ter diferentes rotas de negociação com um governo que expressa a tradição democrática da política sólida, a qual nada tem a ver com política isenta de surpresas e impurezas. A vitória de Lula será sinal de que o sistema político reagiu. Trocando em miúdos, com Lula, a política fluida perderá espaço em relação ao que hoje já tem. Com Bolsonaro, manterá ou ampliará seu espaço, a depender do que prevaleça na luta interna da direita.
Os problemas para que se forme uma frente resistente da política sólida não se resumem à direita do espectro político. Contam também a estagnação intelectual e moral da esquerda, que parece sobreviver num mundo antigo. E a incipiência do centro democrático, que só agora deu, com a candidatura de Simone Tebet, sinais para o futuro, que são de uma possível reanimação, após a devastação de 2018.
É verdade que a direita derrotou o centro e que daí pode nascer um partido de direita explícita, embora distinta do bolsonarismo. Aqui também, mais uma vez, o desfecho da eleição presidencial será decisivo. É crucial saber se será Bolsonaro ou Lula quem negociará com Lira na Câmara e com alguém de peso no Senado, que certamente será Rodrigo Pacheco, se Lula vencer, mas que não se pode ainda dizer quem será, se houver reeleição de Bolsonaro. O futuro do centro democrático está também amarrado a isso, daí a acuidade e amplitude de visão demonstradas pelo movimento de Simone Tebet em direção a um apoio decidido a Lula no segundo turno. De fato, não se trata de adesão, mas de passo consciente de grande política, dado por uma liderança emergente de um campo cuja reanimação ela representou na campanha do primeiro turno com o efeito admirável de uma flor de lotus. O reconhecimento público de Lula desse fato e do papel positivo da campanha de Simone tem a força da assimilação realista e democrática do voto popular, pela qual o segundo turno deve ser acolhido.
Frisei, desde o artigo da semana passada, a relevância política do segundo turno da eleição presidencial como leito de celebração de um amplo pacto pela democracia, assim como assinalei, parágrafos atrás, o papel decisivo do desfecho dessa eleição para o equacionamento prático da relação entre os poderes da República, hoje mais complexa e delicada do que foi em qualquer momento, desde a vigência da Carta de 88. Quando a campanha de Bolsonaro alega o avanço da direita nas eleições legislativas como sinal de que sua reeleição traria a paz entre governo e congresso oculta o que essa paz pode representar de guerra que dois poderes respaldados numa mesma maioria eleitoral poderão mover contra o Judiciário e, consequentemente, contra a Constituição da qual ele é guardião. É fácil vislumbrar um script húngaro ameaçando converter perigo em realidade apesar da abissal distância que, felizmente, nos separa da Hungria, ou da Turquia, como experiência institucional e cultural de democracia. Mais uma razão para não ver o comportamento do Congresso eleito como variável independente da eleição ainda em aberto.
Mas por outro lado, para que meu próprio argumento não viaje na maionese, convém não cair no extremo oposto, que seria superestimar o resultado da eleição presidencial como se ele pudesse definir se teremos, ou não, democracia após o dia 30 de outubro. Para tanto convém considerar um raciocínio do jornalista William Waack, que é bem expressivo das possibilidades de vida política conservadora nos marcos da democracia política: “Não importa quem se saia vencedor, já dissemos isso aqui mais de uma vez, se for Lula ou Bolsonaro, serão presidentes que terão menos poder frente ao Congresso em relação ao que (tiveram quando) assumiram o cargo pela primeira vez”. Para o bem e para o mal (a meu ver mais para o bem do que para o mal), o protagonismo político do Congresso é algo que veio para ficar, assim como a reestruturação do sistema partidário num sentido contrário ao da política fluida.
Assim, interpreto a afirmação do jornalista em termos de que Bolsonaro não teria a vida fácil no Congresso, que sua campanha passou a enganosamente propagar e como, de certa forma - e de modo certamente involuntário - análises fatalistas confirmam “pela esquerda”. Vida fácil também não terá Lula, cuja eleição, se confirmada, colocará sobre seus ombros a missão de governar democraticamente um país que, como diz o cientista político Jairo Nicolau, consolidou, nessa eleição, sua guinada à direita. Se ler corretamente o que saiu das urnas, Lula presidente precisará de um talento de primeiro-ministro. Se vida fácil não haverá, também não existe fracasso antecipado, graças ao repertório da política.
Mas a vitória da direita na disputa pelo Legislativo e por governos estaduais - onde ela já foi definida até aqui – está nublando a percepção política de que o jogo eleitoral ainda não terminou. Determinismos sociológicos são acionados para decretar, pela enésima vez, a impotência e o fracasso da política representativa. Acontece, repito, que ao decidir se a direita fortalecida nas urnas operará com ou sem Bolsonaro no governo, o eleitor do segundo turno presidencial decidirá se a extrema-direita continuará representando toda a direita. Qualquer avaliação agora sobre a direita ou sobre o bolsonarismo (conjuntos distintos, o segundo embutido no primeiro) é provisória e pode se mostrar perecível com o resultado da eleição. Para decidir isso o eleitor indicou, como pista, um outubro largo. Essa sempre foi uma hipótese, a surpresa foi a votação concreta de Bolsonaro na reta final ir além das intenções de voto.
A prudência analítica provém de que, se a polaridade esquerda-direita não desapareceu, é transpassada por outras. Pela sociologia política, poderemos tentar entender a que ocorre entre movimentos e instituições. Pela análise da política propriamente dita, podemos tentar entender outra polaridade, cada vez mais evidente, entre conservadorismo e voluntarismo, ambos vigentes na esquerda e na direita. O desfecho da eleição presidencial afetará as premissas sociológicas, ou mesmo as da ciência política, mas por si só não desmontará, de modo tão fluido, a solidez sempre relativa de nossa democracia.
Outro problema, além da precipitação analítica, é o do fatalismo político que pode deixar perplexa uma campanha, mesmo a que lidere as pesquisas. É que se pode cair na tentação de crer na narrativa do adversário, que deslegitima, interessadamente, essas pesquisas. O problema não é, por exemplo, o que o general Mourão diz sobre seus planos. Isso é tão somente o ator atuando dentro do seu script. A questão é conhecer o resultado da inevitável interação entre ele e afins, com scripts de outros atores.
Certas análises perdem o foco no sentido político da eleição e fornecem menos elementos de persuasão eleitoral pela democracia e mais estímulos a conclusões sociológicas sobre o fenômeno do avanço da direita, bolsonarização do congresso, ou, seja lá que nome se dê ao resultado da distribuição de poder produzida pelo voto e ao comportamento político dos eleitos. O risco é morrermos de véspera.
Por fim temos o problema do abuso de poder, prática evidente da parte de Bolsonaro. Essa conduta voltou a ser comentada, agora com mais ênfase e como fonte de desequilíbrio da disputa eleitoral. Sem dúvida é, mas esse não é um problema que surge com o segundo turno. Atuou fortemente na eleição para o Congresso e no aumento da votação do presidente, fato que ampliou também as de alguns governadores já eleitos. Tudo isso no primeiro turno. No segundo, é preciso cuidado para que, ao mencionar esse aspecto do contexto, não se resvale para o terreno perigoso de sugeri-lo como indicador de um jogo viciado, com desfecho antecipado. Essa sempre foi a arenga antidemocrática de Bolsonaro. Quando a vitória de Lula parecia ainda mais provável do que é hoje, já havia, da parte não só da oposição, como da imprensa e da sociedade civil, críticas aos métodos abusivos de Bolsonaro de usar indevidamente sua atual posição institucional, inclusive para transgredir a legislação eleitoral. Mas sem tratar a eleição como jogo de cartas marcadas por causa disso. Arriscar esse argumento agora, quando a disputa de tornou mais incerta que antes, pode levar lenha à fogueira da deslegitimação das eleições.
O momento do questionamento prático desses abusos passou. Podia-se ter tentado uma articulação política para resistir ao arrastão que ocorreu no Congresso ou uma ação mais efetiva junto ao Judiciário. Não se fez nem uma coisa nem outra, apostando-se em resolver o nó da coisa no dia 2 de outubro. Ninguém pode ser criticado por isso. Era um raciocínio lógico e a quem o fez não cabe mea culpa.
Mas sua excelência, o eleitor, indicou outro caminho. É preciso aceitar o fato eleitoral e agir de acordo com ele. Incluir como argumento eleitoral um desequilíbrio desde sempre conhecido, pode parecer, ademais, um choro antecipado, que é ainda mais irrazoável pelo fato de Lula continuar sendo o líder nas pesquisas. O candidato demostrou, em falas recentes, que assimilou bem o resultado do primeiro turno. Essa é a atitude política positiva, em vez de se realizar, nessa hora, inventário de explicações e culpas.
Nenhuma democracia do mundo é vacina contra abusos de poder. Já o que vacina a sociedade contra tentações antidemocráticas é a confiança pública no processo, apesar de assimetrias. Nenhuma democracia resiste quando posições sobre a justeza de seus processos variam conforme o andamento de pesquisas eleitorais. Não basta sermos diferentes de Bolsonaro. É opor-se a ele também nas atitudes aparentes, como se exigia da mulher de César. Por isso é bom arquivar esse argumento do desequilíbrio e cuidar do que importa: convencer a maioria sobre a necessidade da mudança e assim vencer a eleição.
*Cientista político e professor da UFBa
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Antigo Testamento
Eclesiastes 2:19
יָדַע חָכָם סָכָל שָׁלַט עָמָל עָמַל חָכַם שֶׁמֶשׁ הֶבֶל
Texto em Hebraico - (HSB) Hebrew Study Bible
E quem pode dizer יָדַע se será sábio חָכָם ou estulto סָכָל? Contudo, ele terá domínio שָׁלַט sobre todo o ganho עָמָל das minhas fadigas עָמַל e sabedoria חָכַם debaixo do sol שֶׁמֶשׁ; também isto é vaidade הֶבֶל.
(ARAi) Almeida Revista e Atualizada Interlinear
Quem sabe se ele será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o meu trabalho com que me afadiguei e em que mostrei a sabedoria debaixo do sol. Também isso é vaidade.
(TB) - Tradução Brasileira
E quem sabe se será sábio ou tolo? contudo, ele se assenhoreará de todo o meu trabalho em que trabalhei, e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade.
(ARC) - 1969 - Almeida Revisada e Corrigida
https://www.nepe.wab.com.br/interlinear/?livro=21&chapter=2&verse=19
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BRASIL
O nó górdio da Presidência da República
A expressão designa problema de difícil solução
Deonísio da Silva
21 AGO 2022 - 11:40
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A cerimônia de posse de Alexandre de Moraes no TSE contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro e de quatro ex-presidentes da República | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE
A cerimônia de posse de Alexandre de Moraes no TSE contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro e de quatro ex-presidentes da República | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE
“O povo finge que manda, os governantes fingem que obedecem, orquestra na qual os músicos regem o maestro”. “Desconfio que nenhum de nós sabe sequer os nomes dos eleitos no último pleito”.
Estas frases abrem Democracia, um mito (Editora Ibis Juris), livro póstumo do juiz aposentado João Uchôa Cavalcanti Neto, criador da Universidade Estácio de Sá. Foi publicado em 2016 por iniciativa da professora Monique Uchôa Cavalcanti de Vasconcelos, sua filha. O autor se referia aos parlamentares: “São eles que ditam todas as leis em vigor”.
“Dr. João”, como era mais conhecido o fundador, costumava reiterar: “Ninguém é insubstituível; se fosse, ninguém morria”. O livro foi publicado em 2016, ano que não terminou como queria a então presidente Dilma Rousseff, deposta por processo de impeachment em 31 de agosto.
Essas lembranças me vieram à mente na posse do ministro Alexandre de Moraes, na terça-feira passada, dia 16. Nunca na história deste país houve tantos ex-presidentes da República ainda vivos e capazes de pôr cartas na mesa. Estavam no mesmo recinto o presidente Jair Bolsonaro e quatro ex-presidentes. Seriam seis, mas os dois Fernandos, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, não compareceram.
Deram o ar de sua graça José Sarney, Michel Temer, Lula e Dilma, que teria ido com a condição de não ter seu assento ao lado de seu outrora vice, cuja companhia certamente foi entretanto muito boa quando indispensável para obter os votos que a elegeram para o primeiro mandato, concluído, e para o segundo, que não concluiu.
Todos os ex-presidentes e o atual também tiveram que desatar nós górdios durante os respectivos mandatos.
A expressão” nó górdio” designa problema de difícil solução. É dos tempos de Alexandre, o Grande (Século IV a.C.), senhor de um império que incluía quase o mundo inteiro. De acordo com a lenda, quem desatasse o nó que atava a canga ao cabeçalho do carro feito por um camponês frígio chamado Górdio, dominaria o Oriente. O carro estava no templo de Zeus, na Frígia, região onde hoje está a Turquia. E Górdio pusera o carro ali para jamais esquecer seu passado humilde: ele tinha sido agricultor antes de tornar-se rei.
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Do nó, feito com perfeição, não se viam as pontas. Alexandre tentou desamarrá-lo e, não conseguindo, cortou-o com a espada. Desde então este gesto tem servido de metáfora para designar ações corajosas com o fim de resolver problemas.
Qual é o nó górdio do presidente da República com a Constituição que temos desde 1988? É uma boa questão, não é? Respondam para a Oeste. Mas, diferentemente de votar, não é obrigatório.
https://revistaoeste.com/brasil/o-no-gordio-da-presidencia-da-republica/
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Cultura
Morre Bruno Latour, um dos maiores intelectuais contemporâneos, aos 75 anos
Pioneiro do pensamento ecológico e autor de textos que alcançaram um público maior durante a pandemia de Covid, o sociólogo, antropólogo e filósofo francês faleceu em Paris
PorAgência O Globo Publicado em 9 de outubro de 2022
Bruno Latour, sociólogo, antropólogo e filósofo francês, considerado um dos maiores intelectuais contemporâneos, morreu em Paris aos 75 anos. O anúncio foi feito por sua editora, Les Editions La Découverte. Foi professor titular do Instituto de Estudos Políticos de Paris e da London School of Economics and Political Science.
“A editora La Découverte recebeu com dor a notícia do falecimento de Bruno Latour, ocorrido ontem à noite em Paris. Todos os nossos pensamentos estão dirigidos à sua família e amigos”, anunciou a editora.
O presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciou no Twitter e elogiou o filósofo: “um espírito humanista e plural, reconhecido em todo o mundo antes de ser reconhecido na França”.
Premiado com o Prêmio Holberg (2013) e o Prêmio Kyoto (2021) pelo conjunto da sua obra, Latour foi um pioneiro e uma das principais figuras do pensamento ecológico. Entre suas principais obras estão “A fábrica do direito. Etnografia do Conselho de Estado”, “Vida de laboratório”, “Nunca fomos modernos”, “Micróbios: guerra e paz” ‘e o mais recente “Onde estou?”, escrito em meio ao auge da pandemia de Covid, que alcançou leitores além do seu público habitual.
Nascido em 22 de junho de 1947 em Beaune, em uma família de comerciantes de vinho da Borgonha, na região central da França, Latour estudou filosofia e depois se formou antropólogo na Costa do Marfim.
No final da década de 1980, tornou-se um grande defensor da teoria ator-rede, juntamente com Michel Callon e John Law. Um de seus primeiros trabalhos teóricos a chamar a atenção é “La Science en action” (“A ciência em ação”).
‘Não são Amélias’: documentário ‘De você fiz meu samba’ retrata viúvas de grandes compositores
Luís Francisco Carvalho Filho: romance ‘Newton’ expõe conflito entre regras sociais e liberdade individual
Latour se inscreveu em uma tradição filosófica que qualifica como não-modernidade, em oposição à modernidade e ao pós-modernismo. Chegou a desenvolver um programa de ecologia política: concebeu uma Constituição que incluía não apenas homens, mas também “não humanos” e propôs a criação de um Parlamento das Coisas, no qual os recursos naturais seriam representados por cientistas ou especialistas.
“Veem a Terra como uma babá que se preocupa e provê seus bebês humanos com o que eles precisam. Isso é perigoso. E não só pessoas comuns, mas cientistas caem nessa armadilha e a disseminam”, disse Bruno Latour em uma entrevista ao GLOBO.
Na ocasião, o pensador falou ainda sobre sua relação com a arte. “É preciso criar instrumentos que nos sensibilizem e que nos levem a pensar, algo que ligue as ‘estatísticas da ciência’ e formas de sensibilização ao que elas indicam”, afirmou Latour, que continuou: “Não há muita gente trabalhando para que nos tornemos mais sensitivos ao que ocorre com Gaia (que é a terra viva, um termo repensado por James Lovelock). Temos de reconstruir a nossa sensibilidade. É preciso dramatizar, considerar o fim do mundo, e então desdramatizar, para analisar criticamente a questão. Na arte, você pode fazer os dois, dramatizar e desdramatizar”.
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Jamais fomos modernos: Ensaio de antropologia simétrica Capa comum – 7 agosto 2019
Edição Português por Bruno Latour (Autor), Carlos Irineu da Costa (Tradutor)
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Nova edição revista de um dos principais clássicos contemporâneos da filosofia, da antropologia e dos estudos da ciência. Jamais fomos modernos, lançado originalmente em 1991, é a principal obra de Bruno Latour, um dos mais prestigiados pensadores franceses e vencedor do Holberg Prize em 2013, considerado o Nobel das ciências humanas. Neste livro-manifesto, Latour procura reconfigurar a tradicional separação “moderna” entre natureza e cultura, de modo a compreender os sujeitos híbridos cada vez mais presentes em nossa sociedade, como os desastres ecológicos, os organismos geneticamente modificados e os robôs dotados de inteligência artificial.
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