Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
BRASIL MERIDIONAL E SETENTRIONAL
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Dorival Caymmi — É Doce Morrer no Mar (1941)
398 visualizações 30 de abr. de 2021 "É Doce Morrer no Mar", toada de Dorival Caymmi com letra de Jorge Amado, surge aqui na gravação original de Caymmi acompanhando-se ao violão, em registro feito em 03.10.1941 para figurar no lado A do 78 rpm. Columbia 55304, lançado naquele mesmo mês.
Uma curiosidade: Dorival Caymmi não sabia nadar. E, mesmo assim, ninguém falou do mar como ele. "Artista é isso", bem disse o jornalista Ruy Castro em texto publicado na Folha de S. Paulo em 16.01.2021.
https://www.youtube.com/watch?v=k_oJ3Tyubso
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É Doce Morrer no Mar
103.435 visualizações 5 de mai. de 2016 É Doce Morrer No Mar
(Dorival Caymmi/ Jorge Amado)
"Café Atlantico" de Cesaria Evora (1999)
Fonograma gentilmente cedido por Lusafrica (P) 1999 Lusafrica
Voz – Marisa Monte e Cesaria Evora
Participação Especial no Bandolim – Armandinho
Baixo – Dadi Carvalho
Violão – Fernando Caneca
Cavaquinho – Alceu Maia
Percussão – Marcos Suzano
Surdo – Gordinho
Arranjo de Cordas – Cristóvão Bastos
Produzido por Marisa Monte
Gravado e Mixado por Márcio Gama no estúdio Mega (Rio)
Música
MÚSICA
É Doce Morrer No Mar
ARTISTA
Cesária Évora
ÁLBUM
Cesaria Evora &...
COMPOSITORES
Dorival Caymmi, Jorge Amado
https://www.youtube.com/watch?v=0VBaOGAsD00
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"democracia é difícil" - Sérgio Buarque de Holanda
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" - O problema do Brasil são os conservadores."
Jovem aluno Fernando Henrique Cardoso
" - O problema do Brasil não são os conservadores, são os reacionários."
Professor Sérgio Buarque de Holanda
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"Pesquisas do 2º turno não podem ser totalmente desvalorizadas” l Dora Kramer
44.330 visualizações 6 de out. de 2022
https://www.youtube.com/watch?v=6ugr5PSBfto
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"Durante os primeiros meses de 1926, mais ou menos na mesma época em que proferi minha conferência em Berlim, Göttingen familiarizou-se pela primeira vez com o trablho do físico vienense Erwin Schrödinger, que vinha abordando os problemas da teoria atômica por um ângulo novo." Werner Heisenberg - A PARTE E O TODO
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O Brasil possui quatro fusos horários, os quais compreendem o intervalo de GMT -2 a GMT -5.[1]
"[1] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (reprodução)"
Veja mais sobre "Fusos horários no Brasil" em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/fuso-horario-brasileiro.htm
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Brasil demora nos hemisférios
"A atitude do educador diante do mundo deve ser sempre investigativa, questionadora e reflexiva, pois os conhecimentos com os quais ele lida em seu exercício profissional estão em permanente mutação."
Lana de Souza Cavalcanti - Geógrafa
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I
Antecedentes indígenas
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Brasil: localização e posição geográfica
Devido à sua posição geográfica, mais de 90% do território Brasileiro encontra-se em áreas de baixa latitude, que compreende a zona intertropical: faixa localizada entre o trópico de Câncer (23°27'N) e o trópico de Capricórnio (23°27'S). Maior país tropical do mundo, o Brasil tem o clima e a vegetação marcada pela tropicalidade.
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Professora Regina Bolico
Professora Regina Bolico : Aspectos gerais do território brasileiro
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A quase totalidade do Brasil demora no hemisfério
meridional, e entre o Equador e o Trópico de Capricórnio alcança o país
as maiores dimensões.
Cercam-no ao sul, a sudoeste, oeste e noroeste as nações castelhanas do continente, exceto o Chile, por se interpor a Bolívia, e o Panamá,
por se interpor a Colômbia. Se confrontará algum dia com o Equador
hão de decidir negociações ainda ilíquidas. Desde o alto rio Branco até beiramar seguem-se colônias de Inglaterra, Holanda e França, ao norte.
Banha-o ao oriente o oceano Atlântico, numa extensão pouco mais ou
menos de oito mil quilômetros. Como o cabo de Orange, limite com a
Guiana Francesa, dista 37 graus do Xuí, limite com o Uruguai, salta logo aos
olhos a insignificância da periferia marítima; repete-se o espetáculo observado na África e na Austrália; nem o mar invade, nem a terra avança; faltam
mediterrâneos, penínsulas, golfos, ilhas consideráveis; os dois elementos coexistem quase sem transições e sem penetração; com recursos próprios o
homem não pôde ir além da pescaria em jangadas.
A borda litorânea dispõe-se em dois rumos principais. Noroestesudeste do Pará a Pernambuco, nordeste-sudoeste de Pernambuco ao
extremo Sul.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1022/201089.pdf?sequence=4&isAllowed=y
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/fuso-horario-brasileiro.htm
https://regininha-atividadesescolares.blogspot.com/2020/01/aspectos-gerais-do-territorio-brasileiro.html
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7:49 PM · 6 de out de 2022
·Twitter Web App
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Felipe Nunes
@felipnunes
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15 h
12/ A pesquisa revela, portanto, que há espaços para movimentação na opinião pública nas próximas semanas. Eleitores mudam seu comportamento de acordo com o humor, a emoção e os cálculos racionais que fazem. Temos que ficar atentos a esses variações de humor e tendências!
Felipe Nunes
@felipnunes
·
15 h
13/ O levantamento ouviu 2.000 pessoas em 120 municípios das cinco regiões do País entre os dias 3 e 5/out. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade de 95%. Pesquisa registrada BR-07940/22.
Felipe Nunes
@felipnunes
·
14 h
14/ Opa! Faltou a rejeição! Ambas caíram: Bolsonaro de 55 para 50 e Lula de 44 para 41. O segundo turno é sobre isso aqui!
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Sequência
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Conversa
Felipe Nunes
@felipnunes
1/ Pesquisa Genial/Quaest para o segundo turno mostra que Lula poderia ter entre 46 e 50% das intenções de voto e Bolsonaro poderia ter entre 39 e 43%. Em votos válidos, Lula poderia ter entre 52 e 56% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro poderia ter entre 44 e 48%.
https://twitter.com/felipnunes/status/1578155617390563330?s=48&t=KIw54225tvticZfu8lB6fA
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O que pode se esperar de Lula e Bolsonaro no segundo turno, por Fernando Abrucio | Conversas
30.011 visualizações Estreou em 5 de out. de 2022 No Conversas com o Meio desta semana, o professor de Ciência Política da FGV, Fernando Abrucio. O segundo turno começou mas muitas perguntas ficam: como será o governo do próximo presidente? Com esse congresso, quais as chances de Jair Bolsonaro refazer a constituição? Como Lula poderá governar? Qual é o possível futuro do Brasil? Os assuntos são vários, vem conferir no programa de hoje.
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CONVERSAS COM O MEIO
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Nas entrelinhas: Os Brasis que vão às urnas com Lula e Bolsonaro no segundo turno
Publicado em 07/10/2022 - 05:55 Luiz Carlos Azedo
Comunicação, Educação, Eleições, Governo, Memória, Partidos, Pernambuco, Política, Política, Rio Grande do Sul
Há muitas leituras para essa divisão entre os Brasis meridional e o setentrional, principalmente o Nordeste. Uma delas é a de que o Brasil moderno apoiaria Bolsonaro, enquanto o atraso está com Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputarão o segundo turno das eleições no dia 30 de outubro, alcançaram 48,43% e 43,20% dos votos no primeiro turno, respectivamente. Lula venceu em 14 estados; e Bolsonaro, em 12, além do Distrito Federal. Esse resultado revela uma profunda divisão do país, que também ocorreu em eleições anteriores.
O petista ficou com a maioria dos votos em todos os estados do Nordeste, enquanto Bolsonaro teve maior adesão em todos os estados do Sul e Centro-Oeste. As regiões Sudeste e Norte ficaram divididas. No Sudeste, Lula venceu em Minas Gerais, mas perdeu nos outros três estados. No Norte, quatro estados ficaram com o presidente; e três, com com Lula, entre os quais o Pará.
Há muitas leituras para essa divisão entre os Brasis meridional e o setentrional, principalmente o Nordeste. Uma delas é a de que o Brasil moderno apoia Bolsonaro, enquanto o atraso está firme com Lula e não abre. Esse tipo de interpretação já se traduziu numa guerra suja de memes nas redes sociais, na qual o preconceito contra os nordestinos revela uma xenofobia estranha e perigosa para a coesão social e a unidade nacional.
Xenofobia é a hostilidade e o ódio contra pessoas por elas serem estrangeiras ou por serem enxergadas como estrangeiras, como às vezes acontece com os nordestinos no Sul do país. Esse sentimento já foi muito comum no Rio de Janeiro, contra os “paraíbas”, e em São Paulo, em relação aos “baianos”, como eram chamados de forma generalizada, durante o processo de urbanização e industrialização do país, que atraiu para essas metrópoles grande número de migrantes, que fugiam da miséria, da fome e da seca do Nordeste. Em Brasília, a expressão “candango”, que era pejorativa em relação aos que trabalharam na construção da nova capital, porém, virou sinônimo de brasiliense.
Autor de Casa Grande & Senzala, o sociólogo Gilberto Freyre foi muito contestado por estabelecer como padrão para a formação do patriarcado brasileiro a composição étnica do Nordeste brasileiro, principalmente de Pernambuco. Em resposta, na conferência “Continente e ilha”, apresentou sua tese de que nos desenvolveríamos social e culturalmente em ilhas, e essas ilhas, em arquipélagos, ou numa enorme ilha-continente. Segundo Freyre, na América Portuguesa haveria uma base cultural lusitana e cristã que nos daria unidade, e, por consequência, seria a chave da brasilidade.
“Desculturização”
Freyre destacou que o “processo sociológico de povoamento” do Sul do país, a partir de Porto Alegre, se desdobrou em dois sentidos: no de ilha e no de continente. Ressaltou, ainda, as contribuições italianas e alemãs à cultura nacional, que chamou de “valores neobrasileiros”, mas que só ganham espaço na medida em que são assimilados pela cultura nacional. Quanto a isso, chamou atenção para o “pangermanismo”, que representaria uma ameaça real, que viria a ser duramente combatida por Getúlio Vargas após o Brasil entrar na guerra contra o Eixo.
Os sentimentos de continente e de ilha seriam antagonismos constitutivos do Brasil e estariam em equilíbrio, uma vez que o contrário disso nos sujeitaria “(…) a uma verdadeira guerra civil, na sua psicologia social e dentro de sua cultura”. É mais ou menos o que está ocorrendo neste momento de radicalização política.
Por outro lado, essa xenofobia reflete um processo regressivo de “desculturização”, que outro genial intérprete do Brasil, Darcy Ribeiro, atribuiu à crueldade, à rigidez e ao autoritarismo com que se deu a associação entre negros, índios e brancos no processo de colonização e que se reproduz em razão do nosso deficit educacional e atraso cultural, inclusive das elites econômicas.
Segundo Darcy Ribeiro, foi dentro dos cenários regionais que a busca de si mesmo se fez necessária para se iniciar o nosso processo civilizatório. A “humanidade” renasceria da extinção de povos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, a partir do surgimento de macroetnias maiores e mais abrangentes. Darcy registra a existência dos Brasis “crioulo”, “caboclo”, “sertanejo”, “caipira” e “sulino”, facilmente identificados, por exemplo, na nossa cultura popular, mas que também têm expressão na forma como se faz política nas diferentes regiões do país.
De certa forma, Lula e Bolsonaro se identificam com maior ou menor facilidade com cada um desses Brasis. Ou seja, a divisão política e ideológica do país tem uma dimensão antropológica que precisa ser levada em conta para que possa ser superada, condição para a construção de qualquer projeto de futuro em bases democráticas e que busca a superação de nossas desigualdades e iniquidades sociais.
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Ruy Castro ocupará a cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras
O escritor Ruy Castro, celebrado tanto no jornalismo quanto na reconstrução literária de fases da cultura nacional e na dedicação a biografias, venceu eleição da ABL por 32 dos 35 votos computados pela instituição
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RD
Ricardo Daehn
postado em 06/10/2022 17:18
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No mesmo ano que foi celebrado pela Academia Brasileira de Letras, com a vitória no prêmio Machado de Assis, o escritor e jornalista Ruy Castro foi o escolhido, nesta quinta (6/10) para ocupar a cadeira de número 13 da instituição — vaga, depois da morte de Sérgio Paulo Rouanet, ocorrida no começo de julho, por reflexos da saúde debilitada frente à síndrome de Parkinson. Rouanet tinha 88 anos.
Antecedido por nomes da estatura de Visconde de Taunay (de obras da estatura de Inocência), Ruy Castro foi destacado por 32 votos favoráveis no pleito da ABL. Com uma carreira iniciada em 1967, no Correio da Manhã carioca, Ruy Castro afunilou o talento numa carreira que enveredou para o exame de costumes e painéis culturais dos brasileiros, em obras como Chega de saudade, publicado em 1992, e que examina a bossa nova. No ano passado, Castro publicou uma edição ampliada de Ela é carioca, um de seus grandes êxitos.
Nascido em Caratinga (MG) — na zona da mata mineira —, Ruy Castro também tem a produção muito vinculada às biografias, tendo cercado, pela literatura, a vida e obra de personalidades como Garrincha e Carmen Miranda. Ainda não há data definida para a tomada de posse por parte do autor.
https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2022/10/5042510-ruy-castro-ocupara-a-cadeira-13-da-academia-brasileira-de-letras.html
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Wikipédia
Leviatã – Wikipédia, a enciclopédia livre
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O Estado
Todas as sociedades são, de alguma forma, politicamente organizadas, mesmo que as mais primitivas. Ou seja, para não perdermos de vista nosso conceito de Política, em toda sociedade há mecanismos estabelecidos, através dos quais as decisões públicas são formuladas e efetivadas. Na linguagem comum, diríamos que toda coletividade tem alguma espécie de "governo", embora, histórica e geograficamente, a estrutura e o funcionamento desses governos variem muito. Em relação a alguns deles, seria necessário abandonar as nossas noções preconcebidas sobre o assunto para reconhecermos sua existência, pois têm muito pouco a ver com o que chamamos hoje de governo. Mas o fato é que não se pode prescindir de um mínimo de organização politica. Uma coletividade sem ela não seria humana, mas animalesca.
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O correto uso do papel higiênico – Último artigo de João Ubaldo Ribeiro
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.
João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras
https://cultura.estadao.com.br/colunas/joao-ubaldo-ribeiro
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CAROLINA BRÍGIDO
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REPORTAGEM
Militares não procuram TSE para comentar resultado do teste nas urnas
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O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, se reuniu com o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e técnico das Forças Armadas em 31 de agosto
Imagem: Alejandro Zambrana/Secom/TSE
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Carolina Brígido
Colunista do UOL
07/10/2022 04h00
Foram meses de pressão e, em 13 de setembro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) resolveu ceder. A pedido das Forças Armadas, a Justiça Eleitoral concordou em realizar um teste na urna eletrônica com a biometria de eleitores reais no mesmo dia da votação. O presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, deu ontem entrevista coletiva à imprensa para anunciar o resultado do experimento: as urnas eletrônicas registraram fielmente os votos digitados nos equipamentos.
Até ontem, nenhum militar tinha procurado o TSE para comentar o relatório final do teste, ou para pedir audiência com Moraes para tratar do assunto. O Ministério da Defesa não deu prazo de quando e se faria isso.
No domingo, a Justiça eleitoral destinou 640 urnas ao teste de integridade, parte delas com biometria. Os equipamentos foram usados em seções eleitorais de cinco capitais de estados e no Distrito Federal. Eleitores foram convidados a participar do teste. “Como só poderia acontecer, todas as urnas conferiram os votos dados com os votos dados em papel”, disse ontem Moraes na coletiva.
O pedido das Forças Armadas do uso da biometria nas urnas destinadas ao teste de integridade foi feito ao TSE no início do ano, quando Edson Fachin presidia a corte. O ministro disse que não seria possível colocar o teste em prática neste ano, por dificuldade técnica e de logística, mas prometeu que o tribunal faria isso no futuro.
Depois que tomou posse na presidência do TSE, em agosto, Moraes se comprometeu com a realização do teste. Seria uma tentativa de apaziguar a relação entre a Justiça Eleitoral e as Forças Armadas. Ontem, fontes no tribunal estranharam o silêncio dos militares depois de divulgado o resultado do teste.
Se no primeiro semestre o TSE resistiu em concordar com a exigência dos militares, nas vésperas da eleição os integrantes da corte trocaram de tática. A ideia era dar corda para as Forças Armadas testarem o processo eleitoral à exaustão, na esperança de não ser encontrada nenhuma falha. O resultado seria usado como propaganda da credibilidade do sistema de votação.
Outra consequência seria fazer os militares admitirem publicamente que a urna eletrônica é confiável. Essa parte do plano, no entanto, ainda não foi concretizada.
Existe expectativa não só no Judiciário, mas no meio político, que o presidente Jair Bolsonaro, em caso de derrota, culpe a urna eletrônica e o sistema de apuração de votos. Diante do resultado do teste pedido pelas Forças Armadas, esse discurso perderia força.
https://noticias.uol.com.br/colunas/carolina-brigido/2022/10/07/militares-nao-procuram-tse-para-comentar-resultado-do-teste-nas-urnas.htm
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“democracia é difícil” – Sérgio Buarque de Holanda – Entrevista de 1976
by Cristiano Bodart
novembro 25, 2012março 18, 2021
A democracia é difícil
Entrevista: Sérgio Buarque de Holanda
A caminho dos 74 anos, que completará em julho, Sérgio Buarque de Holanda é, ao mesmo tempo, um impecável historiador e um fascinante contador de histórias. Grande viajante, entremeia reflexões sobre o exercício da História com finas observações do tipo: “Me diverti muito quando estive na Grécia. Lá, os carregadores de bagagens são chamados metaphoras, e os que esperam na fila do ônibus estão em ekstasis. É agradável, mas também chocante, você se deparar de repente com as palavras sendo utilizadas em seu sentido rigoroso, não é?
Seu primeiro livro, “Raízes do Brasil” (1936), forma, junto com “Casa-Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre, e “Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Jr., o grande tripé básico da cultura brasileira no século XX. Começou a lecionar na Universidade do Distrito Federal, transferindo-se em 1938 para o Instituto Nacional do Livro. Dez anos depois passou a ocupar a cadeira de História Econômica do Brasil na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. A partir de 1956, assumiu o posto de catedrático de História da Civilização na Universidade de São Paulo. Pronunciou conferências e deu cursos nos Estados Unidos, França, Itália, Suíça e Chile. Entre as universidades americanas, lecionou em Colúmbia, Harvard, Califórnia, Indiana, Yale e na New York State University.
Desde 1960 dirige a “História Geral da Civilização Brasileira”, já em seu sétimo volume publicado: “Do Império à República”. Embora negue predileção pelo período do Segundo Reinado, Sérgio diz que “basicamente a coleção é um trabalho de equipe, mas este volume é apenas meu. Eu ia fazer apenas uma resenha do aspecto político do Império, mas ela acabou virando um livro, publicado como último tomo do século XIX. Um pouco cansado com o trabalho de coordenar uma coleção desse porte, pedi um sucessor para a parte da República. E Bóris Fausto foi o escolhido”. Contudo, ainda este ano Sérgio pretende publicar uma nova versão de “Do Império à República”, consideravelmente ampliada.
Confortavelmente sentado em uma poltrona, numa das salas – todas literalmente atulhadas de livros – de sua casa normanda no bairro do Pacaembu, em São Paulo, Sérgio (ou o “pai do Chico Buarque”, como adora ser chamado) falou sobre a História. E também contou muitas outras.
VEJA – O que o senhor modificaria, hoje, em seu livro “Raízes do Brasil“, escrito na década de 30?
SÉRGIO BUARQUE – Muita coisa. Eu escrevi dois de seus capítulos na Alemanha, quando lá morei, entre 1928 e 1931. A ideia básica era a de que nunca houve democracia no Brasil, e de que necessitávamos de uma revolução vertical, que realmente implicasse a participação das camadas populares. Nunca uma revolução de superfície, como foram todas na História do Brasil, mas uma que mexesse mesmo com toda a estrutura social e política vigente.
VEJA – E a ideologia brasileira do homem cordial, que vem da passagem do século e o senhor de certa forma adota, ainda valeria?
SÉRGIO BUARQUE – Critica-se muito, mas poucos entenderam o verdadeiro sentido da expressão homem cordial. Quando falo cordial, não é no sentido de “cordiais saudações”, como Cassiano Ricardo o fez. A cordialidade com que caracterizei o brasileiro pode ocorrer mesmo em situações de confronto, fatos comuns em nossa história. Nesse sentido, ela tem sido incruenta. Tem havido muita discussão, recentemente, a respeito da História do Brasil, se ela é cruenta ou incruenta. Considero esse debate bizantino. É inegável, porém, que a independência, a proclamação da República e mesmo as revoluções de 1930 e 1964 se fizeram sem derramamento de sangue. Portanto, a cordialidade continua valendo para a nossa História.
VEJA – O que o levou a tentar explicar globalmente o caráter nacional brasileiro?
SÉRGIO BUARQUE – Hoje, eu não me aventuraria mais a tentar uma empreitada dessa espécie. Simplesmente porque os tempos são outros. Eu estava muito influenciado pelo sociólogo alemão Max Weber. Aliás, foi naquela mesma década de 30 que surgiram outras obras brasileiras cuja característica também era a de tentar a grande síntese: “Casa Grande & Senzala”, “Formação do Brasil Contemporâneo”. Há pouco tempo uma editora francesa, a Gallimard, me propôs a tradução de “Raízes do Brasil”. Pediram-me também um ensaio, que seria publicado na edição francesa, atualizando minhas ideias. Tentei, mas acabei desistindo. O livro está superado e plenamente datado. Minhas preocupações eram outras. Não tem sentido reescrever eternamente uma mesma obra.
VEJA – Quando o senhor afirma que no Brasil nunca houve democracia, isso talvez signifique que, num certo sentido, as massas populares jamais participaram do jogo político nacional?
SÉRGIO BUARQUE – Claro. No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico, mas em certos momentos, de repente, pode irromper brutalmente.
VEJA – Em quais momentos esse despertar teria ocorrido?
SÉRGIO BUARQUE – Até agora, todas as revoluções dentro da História do Brasil foram de elites, civis ou militares, mas sempre elites. E, quando a questão se restringe a querelas elitistas, o processo caminha como numa briga de família: aparece um primo, um tio, ou um amigo da família com bom relacionamento com ambas as partes capaz de contornar diplomaticamente o confronto direto. E é exatamente no conchavo que pode surgir a figura do homem cordial. Por isso a democracia, que nasceu aqui num mal-entendido, percorreu em nossa História um caminho inusitado. Ou seja, foi murchando aos poucos.
VEJA – Como se deu esse esvaziamento?
SÉRGIO BUARQUE – Pela Constituição de 1824, somente os escravos (porque dependiam do senhor), os religiosos em regime claustral, as mulheres e os menores não votavam. Ela permitia o voto dos analfabetos, dos libertos. O censo pecuniário (mínimo de renda mensal para poder votar) era de 100 mil-réis – esta quantia, só os indigentes não conseguiam obter. Era uma Constituição relativamente democrática. Em 1846, houve uma reforma, mas só para aumentar a renda mínima, devido à desvalorização da moeda, de 100 para 200 mil-réis. Havia duas espécies de participantes do processo eleitoral: os votantes, que tinham o direito de escolher os eleitores; e estes, que, por sua vez, elegiam os deputados e senadores. Os primeiros constituíam toda a massa ativa da população, mal ou bem participando realmente do jogo político. Na década de 70, em pleno Segundo Reinado, os partidos Liberal e Conservador se uniram para lutar por eleições totalmente diretas. Com a passagem dos votantes, grande maioria da população, para a condição de eleitores, entretanto, a democracia sofreu um golpe, pois a renda mínima foi muito aumentada (400 mil-réis, sujeitos a comprovação), que por sua vez era discutível. Isso alijou os antigos votantes e restringiu o número de eleitores de 1,5 milhão para pouco menos de 300 000. Tanto é que um estudo, coordenado por Santana Nery, publicado em Paris, em 1889, afirmava: “O Brasil é o país que tem menor número de votantes: apenas 1,5% da população tem esse direito”. Computando-se as habituais abstenções, não se chegava a 1 %. Somente em 1930, quando a massa popular votava, subiu-se para 5%. Então, veio o freio da revolução, que sustou o processo eleitoral por algum tempo.
VEJA – Seria correto afirmar que no Brasil sempre se confundiram as palavras democracia e liberalismo?
SÉRGIO BUARQUE – Evidente. O liberalismo pode perfeitamente sobreviver sem a prática da democracia, e isso é o que sempre aconteceu no Brasil. O substantivo liberal surgiu nas Cortes de Madrid, entendido como oposto ao servil, ou iliberal. Dicionarizado em 1803, no Brasil ainda significava pessoa generosa, dadivosa. Em toda a História do Brasil, porém, a palavra é freqüentemente usada como sinônimo de concessão por parte das elites dominantes. O próprio dom Pedro I, quando dissolveu a Assembléia Constituinte de 1823, afirmou que a Constituição que outorgaria era duplicadamente mais liberal do que a elaborada pelos constituintes. “Quero uma Constituição para o povo, não pelo povo”, chegou a dizer, deixando claro que apenas com sua permissão se podia praticar a liberdade. Isso pairou idealmente em todo o Segundo Reinado, embora jamais tenha existido na prática.
VEJA – Quer dizer que a democracia sobreviveu no Brasil apenas quando era bom o humor das elites dominantes?
SÉRGIO BUARQUE – Sim. E alguns políticos mais lúcidos perceberam isso já no século passado. Nabuco de Araújo, em 1869, dizia que nós tínhamos liberdade, ou liberalismo, mas só nas capitais. No interior, quem resolvia era o capanga, o prefeito ou o chefe de polícia. Em um discurso particularmente inflamado, chegou a afirmar que “a liberdade existe para nós, homens de gravata lavada, e não para o povo”. Na época, usava-se uma gravata de seda ou linho, com colarinho alto, com um nó triplo bastante saliente, colorindo o peito e forçando a pessoa a uma posição sempre altiva. E a cor, obrigatoriamente branca. Com o calor do Rio de Janeiro e sua situação urbanística (para chegar ao Senado, na antiga rua do Areal, era preciso passar pelo Campo de Santana, onde haviam capim, brejos e burro soltos), o consumo de gravatas diárias chegava a cinco ou seis. E naturalmente era preciso ter dinheiro para manter esse enorme estoque. Outro político contemporâneo de Nabuco de Araújo, Teófilo Otôni, cognominado o “Tribuno Liberal”, numa circular para seus eleitores mineiros, usou expressão semelhante: “O que eu quero é a democracia de classe média, a democracia de gravata lavada”.
VEJA – Ao que parece, eles só pensavam numa democracia higienicamente asseptizada.
SÉRGIO BUARQUE – Na verdade, a palavra democracia era mal vista pelos liberais brasileiros no começo do Império. Talvez devido a uma identificação com os ideais de Robespierre, o que, os levava a associar democracia com anarquia. Quando ganhou status, em meados do Império, a palavra já tinha perdido seu sentido original. E passou a significar liberalismo. Aliás, outro bom exemplo é o de frei Caneca, que em um de seus escritos afirmou: “É impossível viver com esta gentalha composta de mulatos e mestiços”, deixando entrever um nítido desprezo pelas classes populares.
VEJA – E a partir da República? Continuou o processo de esvaziamento da democracia?
SÉRGIO BUARQUE – Sim. O período republicano se iniciou entre nós com uma vitória de Rui Barbosa: o chamado censo literário, com que, finalmente, se barrou o acesso dos analfabetos ao voto. Um dos argumentos constantes do grupo vitorioso era o de que uma parte da população ainda não estava preparada para participar do jogo democrático. Era preciso esperar o progresso, que naturalmente elevaria a massa à condição de ‘alfabetizada e, portanto, apta a votar. Esta, no fundo, é uma ideia reacionária: não é preciso lutar, o progresso há de vir, independentemente de nossa vontade. Mais de oitenta anos se passaram e nem com o Mobral o problema foi resolvido. Aliás, José Bonifácio, “o Moço”, que adotou posição contrária à de Rui Barbosa (um seu ex-aluno a quem muito respeitava) usava argumentos bastante convincentes: “Por que os analfabetos não podem votar? Amanhã vão dizer que os surdos também não podem, depois os mudos, e depois ainda só votarão as pessoas formadas em universidades: depois os epilépticos, conhecidos ou desconhecidos”. Em seguida, dirigiu-se ao governo: “Eu sou a Democracia… fostes para as alturas e eu fiquei. Não vos acuso.., neste país há lugar para todos. Pois bem, deixai também lugar para mim”.
VEJA – Como encarar a história brasileira, de 1930 em diante?
SÉRGIO BUARQUE – Certamente como uma nova versão, modernizada, da democracia de gravata lavada. Falar em democracia, hoje, todo o mundo fala. Inclusive os países comunistas. Até durante o nazismo mais de 90% da população alemã votava. Claro que pressionada e num jogo de cartas marcadas. Mas votava. A fachada da democracia sempre está presente, inclusive nos regimes autoritários e totalitários.
VEJA – Parecem coexistir hoje dois grandes grupos de historiadores preocupados com o Brasil. De um lado, os brasileiros, que, numa posição extremamente critica, procuram, grosso modo, reconstituir o que chamam de história da dependência. E, de outro, os chamados brazilianists, estrangeiros que têm dado preferência a certos temas da nossa História, como por exemplo, a escravidão, o Estado Novo e os governos da Revolução de 1964. Eles se completam, de alguma maneira?
SÉRGIO BUARQUE – Primeiro, é preciso esclarecer que o interesse pelo Brasil não é novo. Na década de 40, quando o presidente Roosevelt pôs em prática o que chamou de política de boa vizinhança, houve muitas teses sobre o Brasil. Até eu fui convidado a visitar os Estados Unidos para participar de um congresso sobre estudos brasileiros, durante três meses. Em 1965, em nova ida aos EUA para dar cursos, vivi como um nababo: me hospedei no Waldorf Astoria, um carro do ano com motorista à disposição, tudo por conta do governo americano. Agora, porém, essa nova vaga parece ter raízes mais profundas e duradouras. Os historiadores Richard Morse, Thomas Skidmore (autor de “De Getúlio a Castello”), Stanley Stein e Richard Graham me parecem os melhores. A explicação para a escolha de determinados temas é relativamente fácil: a escravidão, por exemplo, é um dos temas americanos permanentes. Quando ouviram comentários de que tinha havido no Brasil o bom senhor, e escravos unidos – graças a um livro de Frank Tannembaum, “Slave and Citizen”, e a edição inglesa de “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre -, rapidamente o assunto virou moda. Já quanto aos temas contemporâneos, de Getúlio para cá, tive uma boa resposta quando, na Universidade de Berkeley, Califórnia, fiz esta pergunta a um brazilianist. Sua resposta: “Cuba”. A posição do Brasil como país estratégico, política e militarmente, tem se reforçado cada vez mais nos últimos tempos e por isso é preciso, do ponto de vista americano, conhecê-lo muito bem.
VEJA – Em que consistiu a contribuição dos brazilianists para a historiografia brasileira?
SÉRGIO BUARQUE – Existe um preconceito com relação aos historiadores americanos de que são ingênuos e pouco teóricos. Isso não é muito correto mas tem um fundo de verdade. Um amigo me contou que um dia encontrou um rapaz numa biblioteca americana preparando uma tese sobre o Renascimento. Perguntou-lhe se ele já tinha lido o celebérrimo livro de Jacob Burckhardt a respeito e obteve esta resposta: “Ainda não cheguei lá. Estou nos autores cujos nomes começam por A”. Isso ilustra a capacidade de coleta de material deles, espantosa em seu rigor e meticulosidade.
VEJA – Uma das críticas que se fazem, não somente ao historiador mas ao intelectual brasileiro em geral, é a de que ele tem a obsessão de ultrapassar rapidamente a realidade empírica e partir para a ensaística, ou interpretação teórica, sem bases sólidas.
SÉRGIO BUARQUE – Concordo integralmente, e é por isso que eu jamais escreveria de novo “Raízes do Brasil”. Principalmente porque o livro ficou no nível do ensaio. Não sou contra a ensaística ou a interpretação, mesmo hoje. Mas a pesquisa deve ser rigorosa e exaustiva. Se não, o resultado são apenas elucubrações, às vezes brilhantes, mas desvinculadas da realidade.
VEJA – De qualquer modo, não há jeito de escapar da ideologia?
SÉRGIO BUARQUE – Não. E é engraçado observar como diversas vezes, na História do Brasil, pessoas mascararam suas verdadeiras posições em função do momento político. Quando Dom Pedro I abdicou, devido a inúmeras pressões, no período imediatamente seguinte – a Regência – os grupos dirigentes permaneceram unidos, porque tinham pavor da volta dele ao poder. Somente depois de 1834, quando dom Pedro morreu, é que se revelaram as verdadeiras posições. Tanto que os conservadores fundaram seu partido em 1837, opondo-se aos moderados. O próprio Gilberto Freyre, quando surgiu, era tido como altamente revolucionário apenas porque usava palavrão, falava da vida sexual e era contra os jesuítas e a maçonaria. Grande parte do clero se voltou, decididamente, contra ele e contribuiu para forjar dele uma falsa imagem revolucionária.
VEJA – Os historiadores brasileiros têm tentado detectar as ideologias que determinam os fatos de nossa história e fazer uma revisão de tudo o que já foi dito?
SÉRGIO BUARQUE – A revisão da História não tem que ser absolutamente um momento privilegiado. Ela tem que ser feita a todo instante. A história não é prisão ao passado. Ela é mudança, é movimento, é transformação. E por isso estamos irremediavelmente presos a ideologias que na maioria das vezes são exóticas, pois não nasceram aqui. A atual geração de historiadores considera que a ideologia representa um pensamento falso. Mas eu pergunto: será possível assumir uma ideia que seja válida? Cada um de nós tem, no fundo, uma certa ideologia, um certo conceito de tempo. Para transcender isso, somente um gênio. E não devemos ficar eternamente de braços cruzados à espera desse ser excepcional, devorador de ideologias, que assumiria o ponto de vista da eternidade.
VEJA – Então, fazer história é reescrevê-la perpetuamente?
SÉRGIO BUARQUE – Eu diria, junto com Benedetto Croce, que toda história é história contemporânea. Ou seja, nós sempre privilegiamos um aspecto em função de nossa realidade. Por exemplo, quando Bismarck governava todo-poderoso a Alemanha, a Escola Prussiana de História, ao estudar a Grécia antiga, privilegiou muito as qualidades de Alexandre Magno, o homem forte que dominou toda aquela região por um bom tempo. Tudo isso em função de Bismarck. Nós contamos a história a partir da vivência cotidiana de nossos problemas, de nossa realidade. Os historiadores sempre foram e serão presa fácil de seu tempo.
Publicada originalmente na Revista Veja, em Janeiro de 1976, sendo republicada em Setembro de 2003. Segue uma breve apresentação de Sérgio Buarque de Holanda e a entrevista realizada a ela por João Marcos Coelho:
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