Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022
O que é espécie?
Definir o que é espécie não é uma tarefa fácil e requer muito cuidado. Nenhum conceito existente na atualidade é capaz de contemplar todos os seres vivos.
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O cachorro e o gato são exemplos de organismos de espécies diferentes
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Marcus André Melo*: A política do desembarque
Folha de S. Paulo
Se ele é mais um personagem da velha política, as roupas de ditador-em-chefe já não lhe cabem
Paulo Guedes ameaça expor os nomes dos padrinhos dos ocupantes de cargos no governo, o que foi entendido como retaliação a movimentos de desembarque do governo por partidos e parlamentares. Esses movimentos são um fato estilizado do funcionamento das democracias, mas entre nós há singularidades. A principal delas: a abdicação do presidente quanto a seu papel de coordenador político do governo.
Bolsonaro pato manco já era esperado, como discuti neste espaço. Sua ascensão foi produto de circunstâncias extraordinárias e, ao fim e ao cabo, o nosso arranjo institucional acabaria impondo-se. Trata-se de um presidente hiperminoritário, sem partido e contando com apoio modesto na opinião pública para seu unilateralismo; e, mais importante, enfrentando controles constitucionais imperfeitos, mas robustos.
Tendo sido produto de uma maioria negativa, que se forjou pela rejeição da opção rival, sob colossal polarização, não era difícil prever que uma minoria cacofônica não lhe garantiria sustentação extraparlamentar e que as lideranças desses setores evanesceriam.
É certo que um cataclismo sanitário com impactos sistêmicos jogou luz sobre o líder acidental, magnificando sua inépcia. O fator que permitiu a sobrevivência do Executivo, a partir de abril de 2021, foi a formação de uma base parlamentar e escudo legislativo, o que lhe garantiu a presidência das duas casas legislativas.
Mas esse movimento contribuiu para erodir seu apelo, a negação de sua persona e suas bandeiras fortes. A política da autenticidade —que era o seu trunfo— não sobreviveu quando o líder abraçou o que antes renegava. Há incompatibilidade dinâmica entre o que é bom para sobreviver politicamente e para ganhar eleições. O novo personagem matou a persona política. Mas os fatores decisivos foram o recrudescimento e a resiliência da pandemia e seu impacto sobre o nível de preços e desemprego, além da política fiscal temerária, que levaram à reversão dos ganhos políticos obtidos com programas emergenciais.
A falta de competitividade eleitoral do presidente gera incentivos à defecção no seio da base de governo. O equilíbrio é instável e o efeito manada é iminente. O apoio do bloco parlamentar existiu enquanto a popularidade de Bolsonaro claudicava, mas o limiar já chegou.
Se Bolsonaro é mais um personagem carcomido da velha política, as roupas do ditador-em-chefe já não lhe cabem. E a narrativa de ameaça totalitária se enfraquece.
A maior ameaça, no entanto, já se materializou: é sua incompetência em liderar o país na crise sanitária e em cumprir o papel que a Constituição lhe reserva de ator central do sistema político.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/02/marcus-andre-melo-politica-do.html
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Carlos Pereira* - Bolsonaro e Lula não sabem fazer coalizões
O Estado de S. Paulo.
Lula criticou as relações de Bolsonaro com o Congresso classificando-o como “subserviente aos interesses dos parlamentares”. “Criaram o orçamento secreto que é tão secreto que não podemos nem saber o nome de quem recebe uma emenda”, complementou o ex-presidente.
De fato, as relações de Bolsonaro com o Legislativo têm sido um desastre. Uma combinação predatória de falta de transparência, baixo sucesso legislativo e alto custo de governabilidade. Inicialmente ignorou e desenvolveu uma relação adversarial com o Legislativo. Mas, diante de vertiginosa perda de popularidade e de crescentes riscos de ver seu mandato abreviado, se aproximou do Centrão e montou uma coalizão minoritária, mas que lhe garante sobrevivência.
Se observarmos as escolhas de Lula e dos outros governos do PT na montagem e na gerência das suas coalizões, vamos perceber desempenhos igualmente desastrosos. Lula montou coalizões com um número muito grande de partidos e heterogêneos entre si, o que dificultou a coordenação e aumentou os custos de governabilidade.
Ao tomar posse em 2003, Lula expandiu o número de ministérios de 23 postos para 35. Diferentemente de FHC, cujo partido (PSDB) ocupava apenas 26% dos cargos ministeriais, as novas posições criadas por Lula foram ocupadas por integrantes do PT que, mesmo com uma bancada de apenas 18% das cadeiras (91 deputados), ocupou 60% dos ministérios (21 postos). Por outro lado, o PMDB, com 15% das cadeiras (78 deputados), ocupou apenas 6%; ou seja, 2 ministérios.
O governo Lula preferiu alocar os espaços do seu gabinete para várias tendências internas do PT em vez de parceiros de coalizão. Naturalmente que tais parceiros se sentiram excluídos do jogo. Para tentar compensar a progressiva frustração e animosidade decorrente da desproporcionalidade da coalizão, o governo Lula recompensou os aliados por meio de pagamentos ilegais, escândalo que ficou conhecido como mensalão.
O STF, muito antes da atuação do “vilão” Sérgio Moro, condenou 25 dos integrantes do que o PGR da época chamou de uma “sofisticada organização criminosa”, incluindo lideranças do PT como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu; o expresidente da Câmara João Paulo Cunha; o ex-presidente do PT José Genoino; e seu tesoureiro, Delúbio Soares. Curiosamente, Lula foi implicado apenas indiretamente no escândalo, sendo acusado de omissão.
A narrativa de que Lula se relacionou bem com o Legislativo e que soube montar e gerenciar suas coalizões é simplesmente falsa. É o sujo falando do mal lavado. •
Nem Bolsonaro nem Lula sabem montar e gerenciar coalizões
*Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/02/carlos-pereira-bolsonaro-e-lula-nao.html
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Suje-se gordo! (Conto de Machado de Assis - 1906, Relíquias de casa velha). Prof. Marcelo Nunes
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