Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
GENUÍNO
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Arnaldo Jabor e Toda Nudez Será Castigada | AURORA DE CINEMA
"Eu não quero é morrer parado na certeza."
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Arnaldo Jabor morre aos 81 anos em São Paulo
Cineasta, cronista e jornalista estava internado Hospital Sírio-Libanês, na região central da cidade, desde dezembro, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Ele morreu na madrugada desta terça (15).
Por g1 SP e TV Globo — São Paulo
15/02/2022 09h06 Atualizado há 7 minutos
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Foto de arquivo de 08/04/2016 do cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, de 81 anos. — Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo/Arquivo
Foto de arquivo de 08/04/2016 do cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, de 81 anos. — Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo/Arquivo
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O cineasta, cronista e jornalista Arnaldo Jabor, de 81 anos, morreu na madrugada desta terça (15) em São Paulo.
Ele estava internado desde dezembro do ano passado no Hospital Sírio-Libanês, na região central da cidade.
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Jabor havia sido hospitalizado após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo a família, ele faleceu por volta da meia-noite, em decorrência de complicações do AVC.
Jabor dirigiu "Eu sei que vou te amar" (1986), indicado à Palma de Ouro de melhor filme do Festival de Cannes. Era colunista de telejornais da TV Globo desde 1991.
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Trajetória
Arnaldo Jabor teve extensa carreira dedicada ao cinema, à literatura e ao jornalismo. No cinema, dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários. Também era cronista e jornalista.
Formado no ambiente do Cinema Novo, Jabor participou da segunda fase do movimento, um dos maiores do país, conhecido por retratar questões políticas e sociais do Brasil inspirado no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa.
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Mesmo antes de se tornar um premiado diretor e roteirista, já mostrava paixão pela sétima arte. Foi também técnico sonoro, assistente de direção e crítico de cinema. Ele se formou pelo curso de cinema do Itamaraty-Unesco em 1964.
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Arnaldo Jabor durante entrevista para falar do lançamento de seu livro "Porno Política" em em São Paulo, em agosto de 2006 — Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo/Arquivo
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Em 1967, produziu o documentário “Opinião Pública”, seu primeiro longa metragem e uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha sua própria realidade.
O primeiro longa de ficção que Jabor produziu, roteirizou e dirigiu foi “Pindorama”, em 1970. Ele tinha um excesso de barroquismo e de radicalismo contra o cinema clássico. No ano seguinte, foi indicado à Palma de Ouro, o maior prêmio do festival de Cannes, na França.
Sucessos de bilheterias e obras premiadas marcaram a carreira do cineasta. Em 1973, fez um dos grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro: “Toda Nudez Será Castigada”, uma adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues. Por ele, Jabor venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1973.
O filme tem críticas à hipocrisia da moral burguesa e de seus costumes. É a história do envolvimento da prostituta Geni, interpretada pela atriz Darlene Glória, com o viúvo Herculano, personagem de Paulo Porto. O papel deu a Darlene o prêmio Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado. O filme também ganhou um troféu no evento.
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Nelson Rodrigues seguiu inspirando Jabor. O filme “O Casamento” (1975) foi adaptado de um romance do escritor e faz uma crítica comportamental da sociedade. Ele premiou a atriz Camila Amado com o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado.
Outro sucesso do roteirista e diretor foi “Tudo Bem” (1978), o início de sua "Trilogia do Apartamento". O filme investiga, num tom de forte sátira e ironia, as contradições da sociedade brasileira que já vivia o fracasso do milagre econômico.
Os protagonistas são Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo. Em atuações consideradas primorosas, eles gravaram em um apartamento de classe média da época. O filme tem um elenco coadjuvante estelar, com Zezé Mota, Stênio Garcia, Fernando Torres, José Dumont, Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, entre outros.
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Arnaldo Jabor posa para foto ao lado da filha Carolina no Conjunto Nacional, em São Paulo, em outubro de 2014 — Foto: Iara Morselli/Estadão Conteúdo
Arnaldo Jabor posa para foto ao lado da filha Carolina no Conjunto Nacional, em São Paulo, em outubro de 2014 — Foto: Iara Morselli/Estadão Conteúdo
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“Tudo Bem” venceu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília e deu a Paulo César Pereio o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante na competição. O longa também foi selecionado para ser exibido no Festival de Berlim e na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
Em 1981, Jabor escreveu e dirigiu o premiado "Eu te amo”, que consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema brasileiro. O Industrial falido pelo milagre dos anos 70 conhece uma mulher e a convida para sua casa, onde vivem um intenso romance em meio às crises existenciais. A produção era de Walter Clark e a fotografia, de Murilo Salles.
Cinco ano depois, voltou com outro sucesso de bilheteria e crítica. “Eu Sei que Vou Te Amar”, de 1986, conta a história de um casal em crise, interpretado pelos jovens Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. Foi mais um sucesso do cineasta gravado entre quatro paredes em uma casa projetada por Oscar Niemeyer, e deu o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres no Festival de Cannes.
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Jabor — Foto: Montagem/g1
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Jornais e livros
Nos anos 1990, Jabor se afastou do cinema por “força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional”, segundo seu site oficial.
A partir de 1991, ele passou a escrever crônicas para jornais e também a fazer comentários políticos em programas de TV da Globo — “Jornal Nacional”, “Bom Dia Brasil”, “Jornal Hoje”, “Fantástico” — e de rádio na CBN.
PLAYLIST: Reveja comentários de Jabor no Jornal da Globo
No “Jornal da Globo”, dividia os comentários com Paulo Francis e Joelmir Beting. A partir dos anos 2000, assumiu sozinho a coluna.
Nela, abordava temas como cinema, artes, sexualidade, política nacional e internacional, economia, amor, filosofia, preconceito.
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O cineasta Arnaldo Jabor é visto acompanhado do ator Thales Pan Chacon, do diretor da Photo Lauro Escorel e da atriz Fernanda Torres para a apresentação de seu filme "Parle-Moi D'Amour", em maio de 1986 durante o Festival Internacional de Cinema de Cannes — Foto: AFP
O cineasta Arnaldo Jabor é visto acompanhado do ator Thales Pan Chacon, do diretor da Photo Lauro Escorel e da atriz Fernanda Torres para a apresentação de seu filme "Parle-Moi D'Amour", em maio de 1986 durante o Festival Internacional de Cinema de Cannes — Foto: AFP
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Nesse tempo, também se dedicou à literatura, com a publicação de oito livros de crônicas. O primeiro deles, “Os canibais estão na sala de jantar”, foi lançado em 1993. Já os dois últimos, “Amor é prosa”, de 2004, e “Pornopolítica” (2006), se tornaram best-sellers.
Em 2010, voltou a filmar depois de 24 anos afastado de uma de suas maiores paixões. Assinou roteiro e direção de “A Suprema Felicidade”, contando a história de Paulo (Jayme Matarazzo), um adolescente que precisa lidar com as frustrações do pai (Dan Stulbach) e se aproxima do avô (Marco Nanini).
Mais uma vez, o filme é indicado e leva categorias técnicas (direção de arte, figurino) em festivais brasileiros e internacionais.
Nem a pandemia parou Arnaldo Jabor – longe da redação, gravava as colunas em casa. Graças ao avanço da vacinação, conseguiu voltar pra redação da TV Globo, em São Paulo.
O último comentário foi no dia 18 de novembro, quando comentou sobre as suspeitas de interferência no Enem.
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O cineasta, escritor, crítico e colunista Arnaldo Jabor posa para foto durante entrevista em São Paulo, em março de 1995 — Foto: Milton Michida/Estadão Conteúdo/Arquivo
O cineasta, escritor, crítico e colunista Arnaldo Jabor posa para foto durante entrevista em São Paulo, em março de 1995 — Foto: Milton Michida/Estadão Conteúdo/Arquivo
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ARNALDO JABOR
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Dreamstime
Pintura ingénua ilustração stock. Ilustração de desenho - 16727884
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genuína, antônimo de ingénua
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Frase com a palavra genuíno
Fonte: Pensador
Todo o conhecimento genuíno tem origem na experiência directa.
- Mao Tse-Tung
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há 1 dia
Folha - UOL
Verdades privadas, mentiras públicas - 14/02/2022 - Marcus Melo - Folha
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"Nas pesquisas de opinião, as respostas expressam a resposta esperada pelo interlocutor ou grupo de referência, mais que a genuína."
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Marcus André Melo*: Mentiras públicas
Folha de S. Paulo
Como explicar mudanças bruscas na opinião pública?
Em 6/10/1989, Erich Honecker, o secretário geral do PC da República Democrática Alemã (RDA), presidiu a celebração de 40 anos do regime, em uma enorme e pomposa cerimônia, simbolizando a força do regime e sua estabilidade. Doze dias depois, demitiu-se. Decorridos 20 dias, o muro de Berlim seria derrubado. Menos de um ano depois, a RDA não existiria mais, dando lugar ao surgimento da nova Alemanha unificada.
Processos semelhantes ocorreram na transição de regimes autoritários para democracias (ex. Primavera Árabe, 2011). Seu traço distintivo é a rapidez. Nenhum analista os havia antecipado malgrado sua enorme importância histórica: havia poucos sinais de mobilização ativa na população ou na opinião pública que pudessem sugerir o que estava para vir.
Timur Kuran foi o primeiro a analisar o fenômeno rigorosamente. https://www.hup.harvard.edu/catalog.php?isbn=9780674707580 Sob o autoritarismo, argumentava, há custos altos para as pessoas manifestarem sua insatisfação. Apenas no âmbito privado essa informação está disponível. Há assim uma assimetria de informação em relação à prevalência da insatisfação coletiva. O que explica a estabilidade e posterior resposta coletiva surpreendente.
É um equilíbrio instável cujo desenlace é o comportamento de manada a partir de "cascatas informacionais". Ele explica a resiliência de estruturas que são rejeitadas coletivamente. Kuran examinou o racismo nos EUA, o sistema de castas da Índia e o apartheid na África do Sul.
O que ele chamou de falsificação de preferências é fenômeno universal em qualquer situação em que estejam presentes custos envolvidos em revelá-la. Nas democracias, o custo pode assumir várias formas: sanções informais, perda de acesso a emprego e oportunidades, e, hoje, cancelamentos. Mas Kuran escreveu nos anos1990, e não poderia imaginar a mudança trazida pelas redes sociais que contribuíram, por outro lado, para quebrar assimetrias de informação.
Na literatura de opinião pública um fenômeno parecido é conhecido como o viés de desejabilidade social. Nas pesquisas de opinião, as respostas expressam a resposta esperada pelo interlocutor ou grupo de referência, mais que a genuína.
No Brasil, pós 1988, há um segmento significativo do eleitorado que não adquirira visibilidade até a chegada de Bolsonaro. Timothy Power https://www.psupress.org/books/titles/0-271-02009-1.html referiu-se a ele como a "direita envergonhada".
Hoje, a real extensão do antipetismo e do antibolsonarismo é difícil de estimar devido ao fenômeno da falsificação de preferências, que é magnificado devido à forte polarização. O mesmo vale para o apoio a candidaturas como a de Moro. Pode-se esperar, portanto, volatilidade maior nos movimentos de opinião pública para além dos efeitos próprios da campanha eleitoral.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA)
genuíno
Significado de Genuíno
adjetivo
Que não sofreu alterações nem falsificações; verdadeiro.
Diz-se da pessoa sincera: expressou-se de modo genuíno.
Puro; cuja fórmula não foi alterada: composto genuíno.
Correto; de sentido exato ou próprio: significado genuíno.
Etimologia (origem da palavra genuíno). Do latim genuinus.a.um.
Sinônimos de Genuíno
Genuíno é sinônimo de: autêntico, estreme, fidedigno, puro, real, verdadeiro, verídico
Antônimos de Genuíno
Genuíno é o contrário de: falso, incorreto, mentiroso
Definição de Genuíno
Classe gramatical: adjetivo
Separação silábica: ge-nu-í-no
Plural: genuínos
Feminino: genuína
Frase com a palavra genuíno
Fonte: Pensador
Todo o conhecimento genuíno tem origem na experiência directa.
- Mao Tse-Tung
Exemplos com a palavra genuíno
Com a força de um genuíno hit, "Você Não Vale Nada.
Folha de S.Paulo, 16/09/2009
Diferentemente dos bancos, elas têm um foco genuíno em ajudar as pessoas a atingir seus objetivos de investimento.
Folha de S.Paulo, 29/10/2012
Regev disse que a manobra unilateral dos palestinos não ajudaria a causa de um acordo de paz genuíno para encerrar o conflito de 62 anos e atender todas as reivindicações.
Folha de S.Paulo, 05/01/2011
https://www.dicio.com.br/genuino/
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Nas entrelinhas: Comandantes militares não vão para Moscou com Bolsonaro
Publicado em 15/02/2022 - 08:11 Luiz Carlos AzedoArgentina, Ciência, Economia, EUA, Futebol, Governo, Itamaraty, Militares, Política, Rússia, Segurança, Tecnologia, Venezuela
A cooperação militar do Brasil com a Rússia é historicamente limitada, por causa da aliança com os EUA e a Inglaterra. Um avanço nessa área, em meio à crise ucraniana, seria um naufrágio
O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, não viajou, ontem, com o presidente Jair Bolsonaro para Moscou, que vai à Rússia a convite do presidente Vladimir Putin. Era o único comandante das Forças Armadas que estava confirmado na comitiva, que inclui os generais do Palácio do Planalto: o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, além do secretário de Assuntos estratégicos, almirante Flávio Rocha. Garnier testou positivo para covid-19. O protocolo russo para a visita exige testes ao longo da viagem de toda a comitiva. Bolsonaro se reunirá com Putin amanhã.
Entre os principais assuntos a serem tratados na viagem, a compra de fertilizantes russos por parte do Brasil é o mais importante. O presidente encontra Putin num momento de grande tensão internacional, na qual o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro britânico, Boris Jonhson, afirmam que existe uma ameaça de invasão iminente da Ucrânia por tropas russas e prometem duras retaliações, se isso ocorrer.
Embora do ponto de vista geopolítico os interesses e alianças estratégicas da Rússia e do Brasil sejam distintos, principalmente na América do Sul, por causa da cooperação entre Putin e Nicolas Maduro, da Venezuela, há muitas afinidades entre os dois países por causa dos BRICs, que também reúne China, África do Sul e Índia, e do Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil agora faz parte como membro temporário. Na quinta-feira, Bolsonaro embarcará para Budapeste, capital da Hungria, onde se encontrará com o primeiro-ministro Viktor Orbán, este sim um aliado ideológico de primeira hora de Bolsonaro.
A viagem foi marcada desde novembro pelo chanceler França, que opera uma estratégia para tirar Bolsonaro do isolamento internacional. De certa maneira, o encontro com Putin, emoldurado pela dramatização da crise ucraniana pela mídia internacional, ao mesmo tempo em que põe o presidente brasileiro no centro das atenções mundiais, pode ter consequências diplomáticas negativas.
O trauma das Malvinas
O assunto cabeludo da pauta de Bolsonaro com Putin é a Defesa. A cooperação militar do Brasil com a Rússia é muito limitada historicamente, por causa da aliança com os Estados Unidos. O sistema antiaéreo Pantsir-S1, oferecido pelos russos, já foi rejeitado pelo comandante da Força Aérea, brigadeiro Carlos Almeida Baptista, por incompatibilidade conceitual. O programa de compra de 12 helicópteros de ataque Mi-35M, iniciado em 2012, foi para a geladeira. Entretanto, o Brasil tem outros interesses que poderiam levar à cooperação militar com a Rússia, como o programa do submarino nuclear (Prosub). É aí que desistência do comandante da Marinha, por razões de saúde, pode ter sido providencial.
A Guerra das Malvinas é um trauma geopolítico no Atlântico Sul, controlado pelo Reino Unido. Uma simples carta náutica mostra a hegemonia britânica, controlando o acesso à Antártica e ao Oceano Índico. As ilhas de Ascensão, Santa Helena, Tristão da Cunha, Gouch, Sandwich do Sul, Geórgia do Sul, Orcadas do Sul e Malvinas são britânicas. A ilha de Martim Vaz foi descoberta em 1501 pelo navegador galego João da Nova. No ano seguinte, o navegador português Estêvão da Gama visitou a ilha vizinha, Trindade. Na independência do Brasil, passaram a ser brasileiras. Em 1890, o Reino Unido ocupou Trindade, mas os ingleses abandonaram-na em 1896, depois de um acordo entre os dois países, que contou com mediação portuguesa.
A devolução de Trindade ao Brasil por meios diplomáticos resolveu um grave problema. O mesmo não ocorreu com as Malvinas. O arquipélago foi disputado por espanhóis, franceses e argentinos. O Reino Unido ocupou o arquipélago em 1833. Em abril de 1982, forças argentinas ocuparam o território. Em dois meses, os britânicos recuperaram a ilha. Com a Guerra das Malvinas, reafirmaram sua hegemonia no Atlântico Sul, com apoio dos Estados Unidos. A guerra pôs de cabeça para baixo a Doutrina Monroe e a antiga Doutrina de Segurança Nacional do regime militar. Nasce daí o conceito de Amazônia Azul, da Marinha do Brasil.
Mas como defender a nossa plataforma continental e suas riquezas? Ora, aumentando o poder de dissuasão por meio de um submarino nuclear, concluíram os nossos estrategistas militares. A construção desse submarino preocupa os Estados Unidos e a Inglaterra. Somente é possível porque o Brasil desenvolveu o reator nuclear e a França ajudou na construção do casco, transferindo tecnologia. Mas há um gargalo tecnológico no sistema elétrico. Se quiser, Putin pode ajudar, mas esse tipo de acordo reposicionaria o Brasil em relação à Otan. Os comandantes militares, que não são bestas, caíram fora da comitiva.
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