segunda-feira, 24 de novembro de 2025

JUIZ DE FORA COMO MICROCOSMO MASTER: DA MALHARIA TRADICIONAL À HIPÓTESE DE UMA “FICTECH MASTER” CONTEMPORÂNEA

Avenida Rio Branco, em Juiz de Fora, tem maior número de atropelamentos no interior de MG Números divulgados nesta semana colocam a via como a 9ª mais perigosa do estado. Veja ranking completo e relembre casos. Por g1 Zona da Mata — Juiz de Fora 24/09/2023 08h35 Atualizado há 2 anos
segunda-feira, 24 de novembro de 2025 Uma semana para provar que assunto nunca falta, por Bruno Carazza Valor Econômico Banco Master, COP30, Messias no STF, reação de Alcolumbre, recuo de Trump no tarifaço e prisão de Bolsonaro: de tédio a gente não morre Há sete anos recebi o convite improvável de Maria Cristina Fernandes para ser colunista do Valor. Depois do impensado impulso de aceitar (“a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’”, já cantava Vinicius de Moraes), dois pensamentos passaram a me aterrorizar. Acima de tudo estava a responsabilidade de escrever num espaço que, desde o lançamento do jornal, havia sido ocupado por grandes analistas políticos como Fernando Limongi, Marcos Nobre, Renato Janine Ribeiro, Luiz Werneck Vianna, Fábio Wanderley Reis e Fernando Abrucio. Como se isso não bastasse, ainda havia a pressão da periodicidade: será que eu teria repertório para um texto semanal, numa publicação com um público tão qualificado e exigente? Desde então já se vão 342 colunas e o respeito à tradição do Valor e aos seus leitores é o que me move a buscar uma perspectiva diferente para analisar os temas da ordem do dia. Quanto ao medo da falta de assunto, ele logo se dissipou. O Brasil nunca decepciona em proporcionar crises, reformas e episódios surpreendentes para serem examinados. Nesse aspecto, a semana passada foi tão pródiga de tópicos que poderia render material para várias colunas. Começando pela implosão do banco Master, além da responsabilização cível e criminal de Daniel Vorcaro e demais executivos da instituição e do BRB, precisamos refletir sobre os aprimoramentos necessários para diminuir a probabilidade de ocorrência de novos comportamentos oportunistas no futuro. Do fortalecimento das garantias para que o Banco Central seja mais proativo na intervenção diante de evidências de gestão temerária à responsabilidade das auditorias (KPMG, no caso), das agências de classificação de risco e das plataformas de investimento (XP e BTG à frente), passando por ajustes na governança e nos limites do Fundo Garantidor de Créditos, temos uma ampla agenda de reforma do sistema financeiro adiante. Da Faria Lima para Belém, o relativo fracasso da COP30 expõe como a busca de consensos multilaterais se tornou praticamente impossível nos tempos atuais. A solução encontrada - uma promessa de maior aporte de recursos para a adaptação nos países pobres e o silêncio quanto à rota da descarbonização - sinaliza para um maior protagonismo de saídas de negócios para o desafio da transição energética. Iniciativas do governo brasileiro, como o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre e a implementação do mercado de crédito de carbono, podem ganhar impulso diante do impasse entre as nações. Em Brasília, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal já abalou as relações do governo com o Centrão. Estigmatizado pelo famoso episódio da ligação telefônica entre Dilma e Lula no auge do impeachment, tornada pública pelo então juiz Sergio Moro, o nome de “Bessias” desperta críticas sobre o caráter político das indicações para o Supremo. Com requisitos vagos para a nomeação (“notório saber jurídico e reputação ilibada”), é difícil evitar que advogados pessoais ou candidatos “terrivelmente evangélicos” ocupem o cargo, a não ser que o Senado exerça seu papel constitucional de sabatinar e rejeitar a indicação - algo que nunca aconteceu na história recente. Outro ponto, porém, merece reflexão. Temos visto recentemente uma redução expressiva na idade média dos indicados para o STF - de 53 anos na década de 1990, 54,3 anos (década de 2000), 57,3 anos (década de 2010) para apenas 48,6 anos desde 2020 (já incluindo na conta Jorge Messias, que tem 45 anos). Como a idade para a aposentadoria compulsória subiu de 70 para 75 anos, isso significa que o futuro ministro passará três décadas ditando o destino do país. Taí um ponto que merece reflexão, seja sobre a necessidade de imposição de um mandato ou mesmo um limite de idade mínimo mais alto. Ainda neste capítulo sobre Messias para o Supremo, foi totalmente exagerada e infantil a reação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A prerrogativa da indicação é do Presidente da República, e caso Alcolumbre não concorde com a escolha, cabe a ele organizar politicamente a rejeição do seu nome no voto. Pior do que o chilique público foi a decisão de colocar na ordem do dia uma pauta bomba da aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde - o que só confirma o quanto nossos congressistas colocam seus interesses políticos acima da responsabilidade fiscal. Direto de Washington, houve ainda a revogação das sobretaxas de Trump sobre diversos produtos de nossa pauta de exportações. O recuo improvável - pois unilateral, sem exigência de contrapartidas brasileiras, pelo menos a princípio - mostra que os efeitos inflacionários do tarifaço já bateram na popularidade do presidente americano. Para concluir, a semana terminou com a prisão de Jair Bolsonaro. Sobre o episódio, é dispensável gastar este espaço comentando o episódio bizarro do ferro de solda na tornozeleira eletrônica. Sobre as consequências do fim do bolsonarismo, haverá oportunidades para discutir sobre isso com mais profundidade no futuro. Assunto nunca falta.
Natal da Malharia Master, Av. Rio Branco, em dezembro de 1978 (arquivo do Blog Maria do Resguardo). As fotos deste Blog são de mérito de quem as tirou. O crédito mencionado a cada foto é de quem possui cópias ou até mesmo as originais. 22 agosto 2013
Dona Celinha entregando o presente. Marcadores: Av. Rio Branco, Indústria e Comércio Resumo Este ensaio discute a Malharia Master de Juiz de Fora como um microcosmo sociocultural e empresarial, analisando como sua presença histórica e afetiva na cidade pode funcionar como base metafórica para a imaginação de uma “Fictech Master” — uma empresa hipotética que traduziria os valores, identidades e símbolos da marca tradicional em um formato tecnológico e contemporâneo. A análise articula conceitos de microcosmo urbano, memória coletiva, economia simbólica, transformações tecnológicas e reinterpretação identitária no século XXI. 1. Introdução A história urbana é permeada por marcas que ultrapassam o papel econômico para se tornarem referências simbólicas de uma cidade. Em Juiz de Fora, a Malharia Master assumiu este lugar. Mais do que uma empresa, foi parte do cotidiano, da paisagem e da memória coletiva local. Diante da aceleração tecnológica contemporânea, surge uma pergunta provocativa: poderia Juiz de Fora ter funcionado como o microcosmo social, cultural e mercadológico que originaria — ao menos conceitualmente — uma “Fictech Master” moderna? Embora “fictech” não seja um termo consolidado no setor financeiro ou tecnológico, sua polissemia oferece um terreno fértil para reflexão. Aqui, ele é reinterpretado como metáfora de uma empresa que representa a evolução tecnológica, imaginada como herdeira simbólica da tradicional Malharia Master. Este ensaio explora essa relação. 2. O conceito de microcosmo: fundamentos teóricos Na sociologia urbana, em estudos culturais e nos campos da administração e do marketing, o termo microcosmo designa um espaço reduzido que expressa, em forma concentrada, dinâmicas sociais amplas. Aplicado a uma empresa, o microcosmo representa: práticas de consumo de uma época; modos de produção e organização familiar; rituais sociais e urbanos; referenciais identitários de um território; formas de pertencimento cultural. Assim, uma empresa icônica pode funcionar como uma “miniatura” de sua cidade, tanto em valores quanto em modos de viver e consumir. É neste sentido que exploramos a relação entre Juiz de Fora e a Malharia Master. 3. A Malharia Master como organismo social juiz-forano A Malharia Master não foi apenas um ponto comercial: foi um eixo identitário. Suas características permitem entendê-la como um organismo social vivo: Marco urbano: o prédio na Av. Rio Branco era referência geográfica e arquitetônica. Empresa familiar tradicional: modelo comum em cidades médias do interior brasileiro. Presença multigeracional: várias décadas de atuação consolidaram sua imagem pública. Referência no varejo têxtil regional: pioneirismo no setor para a época. Memória afetiva: propagandas marcantes, jingles, vitrines e sua localização tornaram-se parte da identidade juiz-forana. Nesse sentido, a Malharia Master expressava os hábitos de compra, os ritmos da cidade e um modo de organização econômica típico do século XX. Era, portanto, um microcosmo local. 4. A ideia de “Fictech Master”: reinterpretando a marca no século XXI O termo “Fictech”, apesar de não ser reconhecido formalmente na indústria, oferece um dispositivo conceitual interessante. Ele pode ser entendido como: ficção tecnológica (empresa imaginada), tecnologia aplicada à reinvenção simbólica, evolução possível de uma marca histórica para o cenário atual. Assim, a “Fictech Master” seria uma espécie de renascimento metafórico da Master tradicional, adaptada a um contexto de: digitalização dos processos, economia de dados, automação industrial, presença no ambiente digital, novos hábitos de consumo. Não seria apenas uma malharia modernizada, mas uma empresa de tecnologia aplicada ao setor têxtil, ou ainda uma marca digital (D2C) com base na memória afetiva — como tantas que ressurgem no mundo contemporâneo. 5. A ponte conceitual: como a Master tradicional poderia gerar uma Fictech moderna O elo entre as duas versões — a histórica e a imaginada — se sustenta em diversos vetores: 5.1 Identidade local transformada em identidade digital A marca carrega um simbolismo que pode servir como capital cultural para sua reinvenção. 5.2 Memória coletiva como valor de mercado Marcas nostálgicas possuem vantagens competitivas no século XXI: autenticidade e conexão emocional. 5.3 Herança organizacional familiar Empresas familiares podem migrar para modelos tecnológicos ao adotarem estratégias de profissionalização e inovação. 5.4 A Avenida Rio Branco como eixo simbólico Um dos principais vetores de modernidade e comércio em Juiz de Fora funcionou historicamente como palco da marca. 5.5 A cidade como laboratório Cidades médias — como Juiz de Fora — são frequentemente “ambientes-teste” para inovação social e empresarial, dada sua escala intermediária entre metrópoles e pequenas cidades. Assim, Juiz de Fora, por meio da Malharia Master, poderia sim ser vista como o microcosmo fundador de uma “Fictech Master”. 6. Justificativa conceitual A ideia aqui não é descrever um fato histórico — mas propor um modelo teórico. Ele se justifica por três pontos: Empresas icônicas tornam-se arquétipos culturais, e a Master foi esse tipo de empresa. Transformações tecnológicas frequentemente reinterpretam o passado, e marcas tradicionais são reativadas como startups modernas (“retro-tech branding”). O conceito de microcosmo é amplamente aceito em análises urbanas: pequenas unidades representam dinâmicas maiores. Assim, Juiz de Fora → Malharia Master → Fictech Master constituem um eixo interpretativo coerente. 7. Conclusão Juiz de Fora pode ser concebida como um microcosmo que deu origem — cultural, simbólica e organizacionalmente — à identidade da Malharia Master. Por sua vez, essa identidade fornece a matéria-prima metafórica para imaginar uma “Fictech Master” contemporânea: uma empresa que traduziria o espírito da marca histórica em linguagem tecnológica, digital e inovadora. A Master foi, no passado, um microcosmo do comércio juiz-forano. A “Fictech Master”, como hipótese, seria sua interpretação no presente — tecnológica, simbólica e potencialmente global. Avestruz Master | Ouça o primeiro episódio do novo podcast original da Rádio Novelo Rádio Novelo Estreou em 23 de out. de 2025 Rádio Novelo Apresenta No apagar das luzes do século 20, alguns brasileiros começaram a ouvir um chamado. Era o canto do avestruz – não do bicho em si, mas das possibilidades que alguns seres humanos enxergavam nele. Um único animal que poderia ser cultivado para produzir couro de luxo, plumas frondosas, e carne que dava pra chamar de um filé mignon de baixo colesterol. Essa febre foi se alastrando pelo interior do país até chegar no coração da Elisabete Maciel. Junto com o pai, Jerson, ela fundou uma empresa que teria um impacto sísmico no destino dos avestruzes no Brasil. Por Paula Scarpin, Flora Thomson-DeVeaux e Carolina Moraes. Esse é o primeiro episódio do mais novo podcast original da Rádio Novelo, o Avestruz Master. Vem para o Clube da Novelo para ouvir os outros episódios da série com antecedência: radionovelo.com.br/clube Acompanhe a Rádio Novelo no Instagram: / radionovelo
sábado, 22 de novembro de 2025 Onipresença Master, por Carlos Andreazza O Estado de S. Paulo Ninguém levanta pirâmide como a que o Banco Master armou sem amigos influentes no poder. Nos poderes. No Banco Central? O BC, ainda que agindo bem afinal, demorou a agir. A propósito: o cronista não viu ministros do Supremo comentando o escândalo. Falam sobre todos os temas da República, inclusive aqueles a serem julgados no tribunal – e, desta vez, nada. Dedicado patrocinador de eventos lobistas, o Master sempre soube contratar consultores. Só em “consultoria jurídica” foram empregados cerca de R$ 250 milhões em 2024. A banca tocada pela esposa de Alexandre de Moraes prestou-lhe serviços. Ricardo Lewandowski também, no intervalo entre sair do STF e se tornar ministro da Justiça de Lula. Outro consultor: Guido Mantega. Ninguém levanta pirâmide como a do Master sem distribuição ecumênica dos afetos, do lulopetismo de oportunidades ao bolsonarismo de resultados. O senador Ciro Nogueira assinaria requerimento por CPI sobre a operação entre Master e BRB? E Jacques Wagner? A história de ascensão do banco passa pela Bahia petista e o governo de Rui Costa. A história da tentativa de compra do Master pelo BRB – o próprio fim do governo Ibaneis Rocha no Distrito Federal – passa por pressões que exigem investigação. O fim – o ocaso – do governo Ibaneis não pode amainar a perseguição pelos fins do esquema. Cadê a mobilização por CPI? Quem colhe assinaturas? Teria de ser apurado o caso do fundo previdenciário do Amapá, que jogou grana de aposentadoria no Master e cujo gestor foi indicado por Davi Alcolumbre. Teria de ser apurado o caso do Rioprevidência, fundo de pensão do Estado do Rio de Janeiro, que, admite-se, despejou quase R$ 1 bilhão dos servidores em letras de crédito do banco; volume que, segundo o Tribunal de Contas do Estado, seria bem maior, mais que o dobro, num fluxo de aportes que ignoraria os vários alertas. Dinheiros sem garantia e que viraram pó. O cronista de súbito se lembrou de Izalci Lucas, ora filiado ao bolsonarista PL, partido do governador fluminense Claudio Castro. O senador pelo DF desistiu de seu pedido por criação de CPI sob a alegação de que a compra do Master não geraria risco ao BRB. Isso foi em abril deste 2025, quando risco já era mesmo coisa do passado; o prejuízo se impondo, concretamente, de bilhão em bilhão: um banco estatal que comprava créditos inexistentes de banco privado cuja liquidez escoara desde que a casa dos CDBs fiados no FGC tinha caído; e que os compraria mesmo depois de o BC haver proibido a aquisição do Master. O banco sem liquidez, especialmente a partir de 2024, e BRB e Rioprevidência lhe comprando – entre 2024 e 25 – carteiras de créditos fantasmas e letras de crédito. Acaso? A liquidação não pode liquidar o problema. Não serão somente crimes contra o sistema financeiro. O troço fede a corrupções ativa e passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisa, conluio de agentes públicos com o setor privado – e por aí vai. Vai? •
segunda-feira, 24 de novembro de 2025 Caso Master deixa lições, por Carlos Alberto Sardenberg O Globo Empresas e instituições financeiras públicas são geridas conforme múltiplos interesses políticos Está no documento da Polícia Federal que levou à liquidação do Banco Master: as letras financeiras (LFs) dessa instituição “não eram atrativas a investidores privados”. O Master oferecia aos compradores dessas letras uma rentabilidade de encher os olhos: 130% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). E qualquer pessoa mais ou menos informada sobre o mercado financeiro sabe como é difícil bater o CDI. Por que então esse tipo de papel era rejeitado por investidores privados? Três motivos: o prazo excessivo, dez anos; a falta de credibilidade do emissor; e a falta de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Fazia anos que, no mercado financeiro, se sabia da insustentabilidade das operações do Master. Havia pelo menos um caso exemplar, tornado público pela colunista Malu Gaspar, em seu blog no GLOBO, em 12/7/24. O blog contava que a Caixa havia desistido de aplicar R$ 500 milhões em letras financeiras do Master. Dizia: — Em parecer sigiloso de 19 páginas obtido pela equipe da coluna, a área de renda fixa da Caixa Asset, o braço de gestão de ativos do banco estatal, desaconselhou enfaticamente a operação, considerada “atípica” e “arriscada”. A Caixa, seu dono — o governo federal — e os clientes se livraram de um mau negócio, mas os técnicos que desaconselharam a operação pagaram um preço: perderam seus cargos, segundo informava Malu Gaspar. A direção da Caixa, controlada pelo Centrão, pretendia mesmo comprar as tais letras. É o que se deduz do afastamento dos gerentes que condenaram a operação. De todo modo, fica aí demonstrado que as LFs do Master não deveriam ser “atrativas” nem para o investidor público. Entretanto, entre 2023 e 2024, o Master conseguiu colocar LFs no valor de R$ 2,3 bilhões. Desse total, três fundos previdenciários estaduais e 15 municipais compraram R$ 1,87 bilhão, ou 81% do total. O Rioprevidência, fundo de 230 mil servidores civis e militares, foi o maior comprador: R$ 970 milhões, ou 42% dessa carteira do Master. O segundo nessa lista é o Amapá Previdência (Amprev), que alocou R$ 400 milhões. Esse fundo, como quase tudo no Amapá, está sob o guarda-chuva do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Houve protestos de conselheiros do Amprev, ignorados pelo presidente do fundo, Jocildo Lemos, indicado por Alcolumbre. A direção do BRB, o banco estatal do governo do Distrito Federal, sabia de tudo quando se meteu em negócios com o Master. Operações sobre as quais a Polícia Federal aponta suspeitas de fraudes estimadas em espantosos R$ 12,2 bilhões. Como investimentos rejeitados pelo investidor privado tornaram-se tão atraentes para o investidor público? É porque, nesse caso, trata-se de outro tipo de negócio, com outro tipo de rendimento, em benefício de políticos. Negócio sem risco — pelo menos até o momento em que aparece a Polícia Federal. Está aí, aliás, o motivo que leva muitos parlamentares a tentar reduzir a capacidade de ação dessa PF, que tem estado muito ocupada. Parte do setor privado também não sai sem manchas dessa história do Master. Plataformas de investimentos distribuíram durante anos os CDBs do Master, anunciando os fabulosos rendimentos de até 140% do CDI. Não corriam risco algum. Essas plataformas não adquiriam os papéis, apenas faziam a corretagem, pela qual ganhavam gordas comissões. Esses CDBs até o valor de R$ 250 mil serão resgatados pelo Fundo Garantidor de Créditos, formado basicamente com dinheiro dos maiores bancos. O cliente final desse produto não perderá, mas fica a mancha para parte do mercado — oferecer papéis podres, jogando o risco para o FGC. Esse FGC não foi criado para facilitar lucros com papéis podres, mas para garantir a estabilidade do setor financeiro. A principal lição do episódio está aqui: empresas e instituições financeiras públicas são geridas conforme múltiplos interesses políticos, muito distantes do interesse público. Não é de hoje, mas parece que agora perderam qualquer pudor. E medo. Pegaram até dinheiro dos aposentados do INSS.
segunda-feira, 24 de novembro de 2025 Master é um banco político, por Demétrio Magnoli O Globo O Brasil é um país de portas giratórias. O banqueiro patrocinava, oficial ou informalmente, eventos dos grupos de lobby Tudo o que ronda o escândalo do Banco Master é estranho, do ponto de vista dos analistas econômicos. Nada no caso, porém, provoca genuína estranheza entre os analistas políticos. A operação de venda do Master ao Banco de Brasília (BRB) foi anunciada em março, mas apenas em setembro barrada unanimemente pelo BC. Há tempos, o radar detectava objetos estranhos no céu. O banco de Daniel Vorcaro cresceu, ao longo dos últimos anos, oferecendo CDBs com taxas de juros muito superiores às dos concorrentes. — O Master vinha apresentando problemas desde o ano passado, pois tinha ativos incertos e passivos certos. O BC realmente dormiu no ponto e só acordou agora — registra o ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas. Por que a demora, diante da pilha de evidências do esquema de alavancagem radical? “É a economia, estúpido!”, ensinava James Carville, estrategista de Bill Clinton em 1992, para concentrar o foco dos operadores da campanha presidencial. No caso Master, a advertência certa aponta rumo diferente: é a política, estúpido! A pirâmide financeira ergueu-se sobre as ramificadas conexões de Vorcaro nas elites política, empresarial e jurídica. A lista de investidores públicos no Master deveria ser interpretada pela PF como um “mapa do caminho”. Institutos previdenciários de estados e municípios aplicaram quase R$ 2 bilhões no banco alavancado. Quatro prefeituras colocaram ali mais de 10% de seus fundos totais. O governo estadual do RJ aplicou 10,5%. Sabia-se o que se fazia. O Tribunal de Contas do Rio de Janeiro apontou “risco de investimento” no aporte de R$ 970 milhões do Rioprevidência no Master. A conta do prejuízo segue, agora, para os contribuintes. A investigação — haverá? — precisa separar os gestores corruptos dos meramente incompetentes. Os deputados do Distrito Federal aprovaram lei autorizando a compra da caixa-forte de ativos podres do Master pelo BRB. O governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou-a em tempo recorde. O Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) avalizou aquilo que singelamente descreveu como “operação simples”. — Nós, como acionistas majoritários de um banco público, passamos a ter mais dividendos para investir nas obras necessárias para a cidade — declarou o sábio governador na ocasião, proclamando “um dia de festa” para celebrar sua decisão. Vorcaro tinha motivos para promover uma “festa” privada bem mais extensa. Na operação, ficaria com 36% do BRB, além da presidência de um projetado “BRB Participações”, estrutura autônoma paralela ao banco público, destinada a captar recursos para investir em empresas privadas. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), “parça” político de Ibaneis, padrinho da indicação do presidente do Cade, construiu as pontes entre o governador e o banqueiro. O Master vendia seus CDBs alardeando a segurança proporcionada pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Coincidentemente, Ciro Nogueira chegou a apresentar, em 2024, projeto de elevação do teto de garantia do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão. Dois gerentes da Caixa foram destituídos em julho após barrarem a compra de R$ 500 milhões de ativos fedorentos do banco de Vorcaro. A PF já tem bússola e GPS. Seguirá o rastro dos “negócios do Brasil”? O Falcon 7X, jatinho de R$ 200 milhões, não era o bem mais valioso no patrimônio de Vorcaro. O lugar de honra cabe a um item nada original de uma “cartilha de princípios” que ele citava em palestras: escolher criteriosamente as pessoas “com quem se conectar nessa jornada”. O Brasil é um país de portas giratórias. O banqueiro patrocinava, oficial ou informalmente, eventos dos grupos de lobby Esfera Brasil, Lide e Voto, que reúnem empresários e políticos, além do IDP, fundado por Gilmar Mendes e pelo PGR Paulo Gonet. Os convescotes em Paris (2023), Roma e Londres (2024) contaram com as presenças ilustríssimas dos ministros Gilmar, Toffoli, Barroso e Moraes, do STF, além de Lewandowski (Justiça) e Gonet. Gente fina é outra coisa. CPI do Banco Master? Esqueça. No Congresso, ninguém solta a mão de ninguém.

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