segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Coisas do Mundo, Paulinho

@LoBorgesOficial‬, ‪@orquestrapaganini‬ e ‪@filarmonicamg‬ - Um Girassol da Cor do Seu Cabelo (Ao Vivo)
A imagem mostra uma tela da CNN Brasil exibindo uma notícia de última hora (“Breaking News”). O texto no rodapé diz: “MORRE LÔ BORGES, AOS 73 ANOS, EM BELO HORIZONTE Compositor foi um dos fundadores do Clube da Esquina” A legenda indica que o cantor e compositor Lô Borges, conhecido como um dos criadores do movimento musical Clube da Esquina, faleceu aos 73 anos em Belo Horizonte. 🎵 Morre Lô Borges, ícone do Clube da Esquina, aos 73 anos em Belo Horizonte
Por Tonho e Cacau Belo Horizonte – 3 de novembro de 2025 | Atualizado às 12:12 horas O cantor, compositor e multi-instrumentista Lô Borges, um dos fundadores do lendário Clube da Esquina, morreu na noite deste domingo (2), aos 73 anos, em Belo Horizonte (MG). A informação foi confirmada por meio de boletim médico divulgado pelo Hospital Unimed – Unidade Contorno, onde o artista estava internado. Segundo o comunicado, o falecimento ocorreu às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos. “O Hospital Unimed – Unidade Contorno informa com pesar o falecimento do músico, cantor e compositor Lô Borges, aos 73 anos, na noite de ontem, 2 de novembro de 2025, às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos”, diz a nota oficial divulgada pela instituição. Trajetória e legado Nascido Salomão Borges Filho em 1952, em Belo Horizonte, Lô Borges começou a carreira ainda adolescente, demonstrando desde cedo uma sensibilidade musical incomum. Aos 19 anos, ganhou projeção nacional ao lançar, ao lado de Milton Nascimento, o histórico álbum “Clube da Esquina” (1972), considerado um dos marcos da música brasileira. O disco mesclava influências do rock progressivo, jazz, MPB e da sonoridade típica de Minas Gerais, inaugurando uma nova estética musical no país. Entre suas composições mais conhecidas estão “O Trem Azul”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Paisagem da Janela”, “Para Lennon e McCartney” e “Cravo Canela” — canções que se tornaram símbolos de uma geração. Mesmo após cinco décadas de carreira, Lô Borges mantinha intensa atividade artística, com novos discos e turnês pelo Brasil e exterior. Em suas últimas apresentações, o músico celebrava o legado do Clube da Esquina com arranjos contemporâneos e parcerias inéditas. Repercussão e homenagens A morte de Lô Borges provocou comoção nas redes sociais e em todo o meio cultural. Artistas como Milton Nascimento, Beto Guedes, Samuel Rosa, Flávio Venturini e Nando Reis manifestaram pesar e lembraram a influência do músico na formação da música popular brasileira. O Ministério da Cultura e o governo de Minas Gerais também divulgaram notas de pesar destacando a relevância de sua obra. “Lô Borges foi um dos grandes arquitetos da sonoridade mineira. Sua obra permanece viva e inspira gerações de músicos e ouvintes”, afirmou o ministro da Cultura em nota oficial. Velório e despedida Segundo familiares, o velório ocorrerá nesta segunda-feira (3), em Belo Horizonte, com cerimônia aberta ao público. O sepultamento será realizado no final da tarde, em local ainda não divulgado oficialmente. O Clube da Esquina O Clube da Esquina foi um dos movimentos mais inovadores da música brasileira, surgido no início dos anos 1970 em Minas Gerais. Unindo juventude, poesia e experimentação, o grupo reuniu nomes como Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Tavito e Fernando Brant. O álbum “Clube da Esquina” (1972) é considerado um divisor de águas na MPB, elogiado por sua harmonia sofisticada e fusão entre o regional e o universal. 🎧 Ouça o álbum completo no YouTube: 👉 🎵 Assista Lô Borges interpretando “O Trem Azul”: 👉 Referências e fontes CNN Brasil: Morre Lô Borges, fundador do Clube da Esquina, aos 73 anos Metrópoles: Hospital confirma causa da morte de Lô Borges O Tempo: Cultura lamenta a morte de Lô Borges Edição: Tonho Borges Revisão: Cacau Nascimento Foto: Reprodução / Clube da Esquina (1972) Créditos: Hospital Unimed – Unidade Contorno / Acervo Lô Borges
Coisas do Mundo, Paulinho *As coisas estão no mundo, minha nega. Um país em silêncio diante do asfalto. Paulinho da Viola e Graciliano Ramos encontram-se na esquina de 2025.* Por Graça de Ramos — Publicado em 3 de novembro de 2025 I. O país que desaprendeu de se espantar Em 2025, acanallaram. O país, cansado de seus próprios fantasmas, aprendeu a conviver com a barbárie como quem suporta o calor. Não se espanta mais. Só transpira. Na rua estreita, os corpos foram estendidos um ao lado do outro, cobertos com panos coloridos. Os vivos observavam os mortos com a serenidade que se reserva ao costume. Alguém filmava com o celular. Outro, calado, contava quantos eram. Nenhum pranto alto — apenas o murmúrio da vizinhança. O país virou isso: uma sequência de tragédias documentadas, esquecidas no dia seguinte. A multidão fotografa, comenta, compartilha — e segue. A violência se tornou o idioma nacional, e já ninguém estranha a gramática do sangue. II. Paulinho da Viola e o espanto que ainda havia Lembrei de Paulinho da Viola: “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender.” Em 1968, ele escreveu sobre um corpo iluminado, uma discussão banal, um pandeiro no chão. Falava da vida e da morte com a delicadeza que só os poetas do morro conhecem. Era outra violência — mais íntima, menos institucionalizada. Ainda havia espanto. Havia música. Hoje, minha nega, as coisas continuam no mundo — mas desaprendemos a vê-las. A morte perdeu o peso. A notícia virou ruído. E a compaixão, luxo. III. Graciliano e a secura deste tempo Graciliano diria que o país se acostumou ao suplício. Que o povo, esfolado pela rotina e pela polícia, aprendeu a sobreviver sem esperança. Ele entenderia a secura deste tempo, em que os vivos andam de cabeça baixa e os mortos se alinham em fila no asfalto. O samba de Paulinho ecoa como oração laica, lembrando que ainda há algo por aprender. Talvez o gesto de não desviar o olhar. Talvez o dever de sentir vergonha. IV. Epílogo As coisas estão no mundo, minha nega. Mas parece que o mundo desaprendeu de sentir.
Cena urbana no Brasil, 2025

Foto: AFP / 2025 — Brasil diante do asfalto

🎧 Ouça a música original Paulinho da Viola — “Coisas do Mundo, Minha Nêga” (1968) 📀 Versão do álbum “Memórias Cantando” (1976 / Remaster 2012) 👉 Ouça no Spotify (link opcional) Ficha técnica Voz e violão: Paulinho da Viola Piano: Cristovão Bastos Violão: Cesar Faria Flauta e clarinete: Copinha Bandolim: Chiquinho Baixo elétrico: Dininho Pandeiro: Elton Medeiros Bateria: Hércules Pereira Nunes Chocalho: Chaplin Tamborim: Rafael Arranjo: coletivo Direção artística: Milton Miranda Produção: Paulinho da Viola e Mariozinho Rocha Arte da capa: Elifas Andreato Selo: EMI — LP 1976 / CD 1996 Capa do álbum Paulinho da Viola — “Memórias Cantando”

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