Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 28 de junho de 2025
TRIÂNGULO ALVI-VERDE-ALVI-NEGRO
Os voos das águias alviverde e alvinegra até a Philadelphia demandaram bicos fortes para suportar novas turbulências.
Por um escriba sob a bênção da pena de Armando Nogueira
Philadelphia, Pensilvânia — Entre as águias metálicas e os degraus sagrados de Rocky Balboa, Palmeiras e Botafogo preparam suas asas para mais um voo. Vinte e dois anos depois de uma queda em sincronia, renascem no coração da América para disputar não apenas um jogo, mas um epílogo redentor de uma saga que mescla tragédia, comédia e epopeia.
Na tarde abafada de 17 de novembro de 2002, o futebol brasileiro vestiu luto duplo. Palmeiras tombava em Salvador. Botafogo escorregava em Niterói. Um abismo os uniu, como se o destino, poeta cruel, resolvesse rimar o infortúnio. Caíram de mãos dadas, e talvez de cabeças erguidas, para a Série B, numa cena que arrancou lágrimas de mascotes e velhos cronistas.
Mas o futebol, como a vida, é caprichoso: não premia os que desistem. Um ano depois, as mesmas mãos que se apoiaram na queda se apertavam na redenção. Palmeiras campeão, Botafogo vice. A volta por cima teve como palco o velho Parque Antártica — a catedral alviverde, então mais templo do que estádio.
Avançamos duas décadas, cruzamos 10 mil quilômetros e aterrissamos em solo estadunidense, onde a águia virou metáfora. Símbolo do anfitrião Philadelphia Eagles, também é agora o emblema do duelo que ecoa dos morros cariocas às alamedas paulistas. Palmeiras e Botafogo aprenderam a voar de novo. E com bicos fortes.
Os caminhos não foram lineares. O Palmeiras provou o amargor da Série B outra vez em 2012. O Botafogo tropeçou três vezes mais na mesma pedra — 2014, 2020… Mas os homens por trás da reconstrução, como pássaros engenheiros, souberam escolher bons galhos. Paulo Nobre, Galiotte e Leila Pereira construíram o ninho alviverde com finanças e fé. John Textor, em General Severiano, apostou na ousadia e no planejamento estadunidense.
Hoje, a águia que sobrevoa o Lincoln Financial Field parece hesitar. Não sabe sobre qual escudo pousar: a cruz de savóia ou a estrela solitária? Ambos a atraem com promessas de grandeza. Abel Ferreira, português destemido, guiou o Palestra pelas rotas do Porto, do Al Ahly e do Inter Miami. O Glorioso, com a camisa negra reluzente, fez história ao calar o PSG de Mbappé e vencer os Sounders. Mesmo derrotado por um Atlético feroz, chegou altivo.
Esse reencontro num estádio de futebol americano, onde a bola não é redonda e os aplausos obedecem a comerciais, é mais que um jogo. É o terceiro ato de um drama dividido por décadas: queda, renascimento, glória. E agora, o confronto. Um seguirá adiante para medir forças com Benfica ou Chelsea; outro voltará, mas não derrotado — apenas convocado a tentar de novo em 2029.
A Copa do Mundo de Clubes se converte, então, em palco shakespeariano. Palmeiras e Botafogo não jogam por pontos. Jogam por páginas na história. E quem vencer, que o faça com poesia.
Como escreveria Nogueira:
“É no coração da águia que mora o espírito do craque. E hoje, o futebol brasileiro, que um dia chorou sua queda, sorri com seus voos.”
MUNDIAL DE CLUBES
De coincidências históricas ao renascimento nos EUA: o voo de Palmeiras e Botafogo
Queda de mãos dadas para Série B em 2002, disputa pelo título em 2003, retomada das glórias e decolagem rumo ao confronto para o mundo inteiro ver: como Palmeiras e Botafogo renasceram juntos até a apoteose na casa do Philadelphia Eagles
esporte 2806 - (crédito: kleber sales)
Philadelphia (EUA) — Entre conosco no túnel do tempo. Estamos em 17 de novembro de 2002. Última rodada da primeira fase do Campeonato Brasileiro. Definição dos oito classificados para o mata-mata — ainda não era pontos corridos — e dos quatro rebaixados para a Série B. Botafogo e Palmeiras vivem dramas idênticos. O time alvinegro, contra o São Paulo, no Caio Martins, em Niterói (RJ). O alviverde enfrenta o Vitória, em Salvador. Ambos são derrotados e rebaixados de mãos dadas pela primeira vez para a segunda divisão na página mais triste de dois patrimônios históricos do futebol nacional.
Um ano depois, em 29 de novembro de 2003, Palmeiras e Botafogo celebravam, no velho Parque Antártica, o fim daquele castigo. A goleada por 4 x 1 na última rodada do quadrangular final deixou Sport e Brasiliense para trás. Encerrou a campanha do título palestrino e homologou o vice do Glorioso. Retornaram juntos para a elite.
Nem o torcedor mais otimista, as piadas futuristas dos Trapalhões, o cientista maluco Doutor Brown do filme De volta para o futuro, a quase sempre certeira série dos Simpsons ou algum desses profetas de plantão projetariam uma data como esta: 28 de junho de 2025.
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Vinte e dois anos, sete meses e 11 dias depois de caírem juntos para a Série B, Palmeiras e Botafogo duelam hoje, às 13h (de Brasília), no Lincoln Financial Field, na Philadelphia, valendo vaga às quartas de final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa.
O palco da partida é inspirador: a mansão do Philadelphia Eagles, atual campeão da NFL, o futebol da bola oval. Os dois times usaram a estrutura de franquias locais no desembarque na cidade para os últimos ensaios. Enquanto os times sentiam a atmosfera da casa dos atuais vencedores do Super Bowl nos corredores repletos de quadros com a trajetória dos Eagles, os torcedores dos dois times subiam e desciam os 72 Degraus de Rocky, em frente ao Museu de Arte da Philadelphia, emulando a cena icônica da série de Sylvester Stallone.
Entre tantos símbolos locais, a águia é a melhor metáfora para o clássico brasileiro em solo estadunidense. Está por toda parte na arena do Philadelphia Eagles. Uma delas, registrada em uma foto exposta em um quadro a caminho do vestiário, é simplesmente encantadora.
A águia tem características marcantes: visão aguçada, bicos fortes, garras afiadas e asas largas capazes de permitir voos poderosos. As reconstruções de Palmeiras e Botafogo têm esses predicados. Visionários, os presidentes Paulo Nobre, Maurício Galiotte e Leila Pereira enxergaram o futuro. O empresário estadunidense John Textor, também, ao comprar a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Glorioso e transformá-lo em uma potência reconhecida no evento da Fifa como atual campeão do Brasileirão e da Libertadores.
Os voos das águias alviverde e alvinegra até a Philadelphia demandaram bicos fortes para suportar novas turbulências. O Palmeiras voltou a cair para a Série B em 2012. O Botafogo desabou novamente em 2014 e em 2020. Coincidentemente, ambos são bi na segundona.
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Glórias
As garras afiadas contribuíram para abraçar com carinho a retomada das glórias. O Palmeiras saiu da fila com autoridade na Série A. São quatro títulos em nove anos. Quebrou o jejum na Libertadores. Tinha uma taça em 1999. Acrescentou duas: 2020 e 2021.
O Botafogo não conquistava o Brasileirão desde 1995. Era o único entre os 12 times mais tradicionais do país sem a Glória Eterna. A encomenda perfeita chegou em General Severiano no fim do ano passado. Inaugurou-se o tempo de Botafogo. Chegavam ao fim a espera de 29 anos pelas hegemonias nacional continental; e as piadas dos antis.
Palmeiras e Botafogo ganharam asas largas capazes de permitir voos poderosos. Por isso estão na Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Sob o comando de Abel Ferreira, o Palestra empatou com o Porto na estreia, foi imponente diante do Al Ahly do Egito e resiliente no duelo com o Inter Miami. O Glorioso encerrou 13 anos de abstinência do futebol brasieliro em duelos com europeus ao derrotar o Paris Saint-Germain, atual campeão da Champions League, por 1 x 0 na segunda rodada. Lavou a alma nacional. Derrotou o Seattle Sounders por 2 x 1 e perdeu para o Atlético de Madrid na saideira da primeira fase, por 1 x 0.
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Toda águia tem seu ninho. Uma delas terá de se despedir da aventura na Copa do Mundo de Clubes, planejar o retorno rumo ao Brasil e arquitetar a volta ao torneio em 2029. O caminho para isso é conhecido: ganhar a Libertadores novamente pelo menos uma vez de 2025 a 2028 ou se manter bem na fita no ranking da Conmebol.
Quem avançar permanecerá na Philadelphia à espera de Benfica ou Chelsea. Os europeus se enfrentam às 17h. Empate no tempo regulamentar nesta fase leva o jogo para a prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Persistindo a igualdade, iremos aos pênaltis.
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10.564 km
Distância de Gaza até Allianz Parque
A distância entre o Lincoln Financial Field na Filadélfia e o Allianz Parque em São Paulo é de aproximadamente 7.830 quilômetros (4.865 milhas). Essa distância é calculada por voo direto e não considera rotas terrestres, que seriam inviáveis para essa distância.
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