quarta-feira, 11 de junho de 2025

Fidípides venceu o sol

Estátua de Fidípides, a nordeste de Atenas, na Grécia A paz João Donato A paz invadiu o meu coração De repente me encheu de paz Como se o vento de um tufão Arrancasse meus pés do chão Onde eu já não me enterro mais A paz fez um mar da revolução Invadir meu destino a paz Como aquela grande explosão Um bomba sobre o Japão Fez nascer um Japão na paz Eu pensei em mim eu pensei em ti Eu chorei por nós Que contradição só a guerra faz Nosso amor em paz Eu vim vim parar na beira do cais Onde a estrada chegou ao fim Onde o fim da tarde é lilás Onde o mar arrebenta em mim O lamento de tantos ais Composição: João Donato / Gilberto Gil.
A vitória dos atenienses sobre os persas na planície de Maratona é considerada uma das proezas mais espetaculares da história militar
História da Grécia Antiga envolvendo um mensageiro corredor e a cidade de Maratona deu nome a um dos eventos mais extenuantes dos Jogos Olímpicos — mas essa história é verídica? A frase "Fidípides venceu o sol" não é uma frase literal que descreve um acontecimento histórico. No entanto, ela pode ser interpretada como uma metáfora para a história de Fidípides, um mensageiro ateniense que, segundo a lenda, correu de Maratona a Atenas para anunciar a vitória na batalha de Maratona e, ao fazer isso, morreu. Assista à íntegra do depoimento de Paulo Sérgio Nogueira sobre tentativa de golpe Poder360
Resumo do texto: No depoimento ao STF sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro negou envolvimento em qualquer plano golpista, afirmando ter agido sempre dentro da legalidade e da Constituição. Ele minimizou os atos golpistas, alegou perseguição política e transformou o julgamento em palanque para reforçar sua imagem política, mesmo estando inelegível até 2030. Bolsonaro negou ter discutido medidas como estado de sítio e defendeu seus ataques às urnas eletrônicas como preocupações legítimas com a segurança do sistema. Seu depoimento foi marcado por politização, vitimização e uma postura altiva, contestando a delação de Mauro Cid, que o aponta como o centro do esquema golpista. A defesa aposta na ausência de provas diretas, apesar da existência de delações e documentos apresentados pelo Ministério Público. Nas Entrelinhas Análise: Bolsonaro minimiza atos golpistas e politiza julgamento Ex-presidente é apontado pelo Ministério Público como o centro do esquema golpista, com base na delação do tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens
O ex-presidente Jair Bolsonaro, réu na ação sobre trama golpista - (crédito: Fellipe Sampaio/STF) O depoimento de Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, no julgamento que apura sua responsabilidade na tentativa de golpe de Estado foi pautado pela naturalização dos atos golpistas nos quais esteve envolvido e pela politização da ação penal. O ex-presidente aproveitou a transmissão ao vivo da sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para enaltecer o seu governo. Elogiou seu ministério "excepcional", disse que levou água para o Nordeste, dobrou o valor do Bolsa Família, criou o Pix e entregou o Porto de Santos e Itaipu Binacional com superavit. "Quando a gente começa a tapar os ralos da corrupção, aparecem as inimizades", ironizou. Descontraído, Bolsonaro convidou o ministro Alexandre de Moraes para ser seu vice-presidente em 2026. O ex-presidente falava de suas viagens pelo país e anunciou que pretende ir ao Rio Grande do Norte na próxima semana. Nesse momento, perguntou a Moraes se queria que lhe enviasse as imagens da viagem, e o ministro declinou, laconicamente. Bolsonaro então perguntou se poderia fazer uma brincadeira com Moraes, e o ministro sugeriu que perguntasse aos seus advogados antes. Foi aí que Bolsonaro convidou Moraes "para ser meu vice em 2026". Rindo, Moraes respondeu: "Eu declino novamente". O depoimento transcorreu com tranquilidade, mesmo quando inquirido mais incisivamente por Moraes. Bolsonaro sustentou que se manteve na legalidade: "Sempre joguei nas quatro linhas da Constituição". Mais uma vez, afirmou que sofreu perseguição do STF, que o teria impedido de governar, de baixar preços de combustíveis. Minimizou suas suspeitas de fraude em relação às urnas eletrônicas: "Não é algo privativo meu". Disse que o ministro Flávio Dino e Carlos Lupi também questionam as urnas eletrônicas brasileiras. Pediu para passar um vídeo de Dino, mas isso não foi permitido por Moraes. Para justificar seus ataques à urna eletrônica, Bolsonaro alegou que o ex-secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Giuseppe Janino entrou no sistema pela senha do ministro do TSE Sérgio Banhos, o que o fez se preocupar com a segurança dos sistemas da Justiça Eleitoral. Sobre as acusações que fez durante uma reunião ministerial, de que os ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin teriam recebido R$ 30 milhões, e Moraes, R$ 50 milhões, Bolsonaro disse que falou de forma retórica e pediu desculpas, porque ele não tinha indícios que os magistrados receberam esses valores. Na condição de réu, foi o primeiro depoimento de Bolsonaro sobre a tentativa de golpe, o sexto interrogado do chamado "núcleo duro" da trama golpista. Como era de se esperar, negou categoricamente qualquer tentativa de golpe. Disse que nunca cogitou ações extremas como estado de defesa ou sítio; rebateu relatos de interferência militar, dizendo nunca ter sido avisado de prisão por generais, e que "as Forças Armadas sempre primaram pela disciplina". Ao insistir que teria respeitado os limites constitucionais, admitiu diálogos com militares, mas dentro do que ele considerou constitucional. O tempo todo manteve postura altiva e evitou autoincriminação. Palanque político Bolsonaro é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como o centro do esquema golpista, com base na delação do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, que relata ter presenciado Bolsonaro revisar a chamada minuta do decreto para anular o resultado eleitoral e que se recusou a deter manifestações pró-intervenção militar. O ex-presidente contesta e diz que agiu conforme a lei. Não basta ao tribunal a delação de Mauro Cid, é preciso avaliar provas materiais de seu envolvimento nos atos golpistas: documentos, gravações e mensagens. O seu depoimento mostrou o que já era de se esperar: o julgamento será um palanque político para o ex-presidente, sobretudo se avançar no tempo em direção a 2026. Por essa razão, Moraes pisou no acelerador dos depoimentos, como ficou claro desde segunda feira, quando os depoimentos avançaram noite adentro. Embora inelegível até 2030, Bolsonaro segue sendo um grande ator político e dá como favas contadas a derrota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo ano. A chave da estratégia de Bolsonaro é combinar a negação técnica das acusações, refutando o tempo todo ter falado em golpe, com a vitimização, na qual minimiza os fatos e alega perseguição política. A aposta da defesa de Bolsonaro é a falta de provas robustas sobre o envolvimento direto do ex-presidente na tentativa de golpe. Essa tese foi a mesma apresentada pelos demais réus, que também minimizaram os fatos. Entretanto, Bolsonaro e seus ex-ministros enfrentam uma acusação estruturada, com delações, provas documentais e relatos de testemunhas. Resumindo a ópera, Bolsonaro negou qualquer envolvimento em plano golpista, disse que não discutiu medidas como estado de sítio ou defesa e que nunca autorizou nenhum tipo de movimento antidemocrático. Tentou construir a imagem de que teria atuado dentro da legalidade constitucional, ainda que em diálogo constante com militares. Transformou parte do depoimento em discurso político, o que foi interpretado por analistas como tentativa de mobilizar sua base eleitoral mesmo no ambiente judicial. Confronta, porém, as acusações do MPF, de que editou minutas de decreto para intervir no resultado eleitoral; reuniu comandantes militares para tentar apoio à ação golpista; e tinha conhecimento de manifestações golpistas e não agiu para contê-las.
A notícia de uma só palavra que salvou uma cidade FIDÍPEDES VENCEU O SOL Helena, a mulher do soldado Fidípedes, não dormiu um só instante naquela noite de setembro de 490 a. C., em sua pequena casa ao sul de Atenas, próxima do templo de Zeus. O tempo não passava, a madrugada era densa e o amanhecer uma ameaça terrível. A mulher do soldado Fidípedes alternava olhares ansiosos pela janela aberta com a visão terna e aflita de suas crianças dormindo, as duas meninas e o menino, juntos na mesma cama. Aquilo que parecia ser um ruído lá fora sobressaltava seu coração. Mas nada via, talvez fosse apenas um suspiro de sono de um dos três. Em Maraton, a mais de 40 quilômetros dali, o soldado Fidípedes lutava. Sua lança já havia rompido a couraça de pelo menos três inimigos persas. Os gregos do grande líder Milcíades avançam ferozes sobre o exército comandado por Datis. Não bastava derrotar os guerreiros do império aquemênida; era preciso fazer isso rápido. E Fidípedes que, com seus companheiros de Atenas, já havia superado uma chuva de flechas, agora no corpo-a-corpo tinha as maiores razões do mundo para furar tantos persas quanto os que atravessassem seu caminho. O sol nasceria como uma sentença de morte para Helena e seus filhos, os filhos de Fidípedes. Era preciso adiar o raiar do dia, afligia-se a mulher. Ela se recordava do pacto feito entre as mulheres e os homens de Atenas. Se eles não retornassem vitoriosos de Maraton até a manhã que viria, elas deveriam sacrificar suas crianças e se matar em seguida. Pois que os persas tinham jurado aos inimigos que, vencida a batalha, marchariam sobre Atenas, violariam suas mulheres e sacrificariam seus filhos. “Teria coragem?”, perguntava-se Helena, enquanto velava o sono dos três. “Não, não seria preciso; a alvorada traria a boa nova”, repetia para si mesma a cada minuto. “Trair o pacto? Fugir? Esconder-se? Entregar-se ao primeiro soldado persa (talvez o que tenha matado Fidípedes) e implorar desesperada pela vida das crianças? Ou unir-se às suas companheiras na Ágora e cumprir o combinado num cenário de horror?” Lá fora, além da janela, o dia implacável teimava em anunciar suas primeiras cores. Eram dez mil gregos contra vinte mil persas em Maraton. Os invasores haviam chegado em duzentos barcos e desembarcaram na planície quando o exército de Milcíades os cercou. Datis ordenou o disparo das flechas, mas o ataque não foi capaz de conter Fidípedes e seus companheiros. Eles avançaram sobre os inimigos. Estavam protegidos por seus escudos, por uma formação agrupada e disciplinada e por uma mistura de amor e fúria que havia nascido quando olharam nos olhos de suas mulheres e selaram o acordo. Em Atenas, um sol trágico atravessou a janela e feriu os olhos de Helena, que chorou. “Maldito sol, que não se deteve! Maldito sol, que começa a subir a colina, avançar sobre as ruas, subir os muros das casas e que logo vai cobrir a cidade sem deixar sombra, sem deixar dúvida. Maldito sol que não esperou o meu homem voltar”. Helena enxuga as lágrimas, acorda o menino, depois as meninas, serve leite e pão e convida: “Arrumem-se. Vamos para a praça. É um dia de sol”. Quando o mesmo sol iluminou o rosto dos soldados persas, não foi mais possível esconder os olhares de medo. Agora, eles já não eram mais maioria. Recuavam diante das lanças dos guerreiros de Milcíades, tombavam, feridos de morte. Fugiam, que chega uma hora em que o pavor é mais forte que a honra. Os gregos destruíam os barcos para impedir a retirada. Debaixo de um sol inclemente (o mesmo sol de Atenas), a batalha estava perto do fim. Helena reuniu as crianças e saiu sob o sol. Depois de fechar a porta, olhou para sua casa, para a casa de Fidípedes, com uma espécie de saudade antecipada que a gente sente quando sabe que uma história termina. Caminhou com os três em direção à praça. Segurava a mão da menor, enquanto as outras duas crianças iam à frente, pulando, chutando pedrinhas, provocando-se e divertindo-se como dois irmãos indo à praça numa manhã de sol. Aos poucos, seus caminhos se encontravam com os caminhos de outras mães e suas meninas e seus meninos, todos no mesmo rumo. Milcíades chamou Fidípedes quando muito pouco restava do exército persa. A maioria dos soldados havia sido massacrada, alguns conseguiram escapar em poucos barcos que restaram. O comandante vitorioso tinha uma última missão para Fidípedes: correr até Atenas e dar a boa notícia. Fidípedes era veloz. Fidípedes era forte. Fidípedes conhecia bem o caminho entre Maraton e Atenas. Fidípedes tinha Helena e três crianças à esperá-lo. O soldado agradeceu ao general pela nobre missão. Olhou para o céu e seu corpo esgotado de guerra estalou debaixo do sol: era forte. Não importa: era preciso correr. Eram só 40, ou melhor 42, ou melhor 42 quilômetros e 195 metros até Atenas. Ele era veloz, ele era forte, ele conhecia o caminho. Ele tinha Helena, um menino e duas meninas. Ele tinha que chegar antes que ela cumprisse o pacto desgraçado. É preciso correr. É preciso correr. É preciso correr. Correr. Não importa a sandália e os pés rasgados, não importa os braços queimando pelos golpes de lança, não importa o caminho de pedra, de mato, de poeira.   De sol.   É preciso correr, Fidípedes, é preciso correr. Você venceu, nós vencemos, o general venceu. Você vai chegar. Você vai vencer de novo. Você vai chegar antes...   Helena e as mulheres de Atenas estão reunidas na Ágora com suas crianças. Não há notícias da batalha de Maraton. Os homens de Atenas devem estar mortos. Os persas devem estar a caminho. Há um pacto a cumprir. Os filhos de Helena agora já não brincam mais. Os meninos de Atenas agora já não brincam mais. Miraram o olhar sem brilho de suas mães, sob o sol de meio dia.   Tinha que ser Helena a primeira a ver uma pequena nuvem de poeira naquela rua que vem do sul. Ela prende a respiração enquanto resta um sopro de ar a impulsionar Fidípedes naquela subida. Helena grita e, aos poucos, todos aqueles olhares, das mulheres e das crianças, se voltam para aquela rua, para aquele sinal de movimento, para aquela intuída esperança.   Fidípedes chega à Ágora. Sua visão está turva de sol e poeira. Parece enxergar Helena e as crianças, mas não consegue dar mais um passo. É preciso cumprir a missão. O soldado, num último esforço, anuncia:   – Alegrai-vos! Nós vencemos!   E morre.   Fidípedes liberta Helena e as mulheres de Atenas da tragédia.   Fidípedes venceu o sol. Esta é uma história (quase) verdadeira. A prova olímpica da Maratona é disputada desde as Olimpíadas de Londres, em 1908, na distância de 42,195 km, em homenagem à lenda grega do soldado ateniense Fidípedes, mensageiro do exército de Atenas, que teria corrido exatamente essa distância, entre o campo de batalha de Maraton até Atenas, para avisar da vitória dos exércitos atenienses sobre os persas, morrendo de exaustão após cumprir a missão. Rodrigo Barbosa CRÔNICAS ESPORTES PP. 45-49

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