sábado, 2 de dezembro de 2023

PRAÇAS, PODERES E FORÇAS

'Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, como disse certa vez o ex-Ministro da Fazenda Pedro Malan, “no Brasil, até o passado é imprevisível”.' ----------- -------------- Cabo Laurindo Autores: Wilson Batista e Haroldo Lobo Intérprete: Jorge Veiga Ano de lançamento: 1945 [...] Laurindo voltou coberto de glória, Trazendo garboso no peito a cruz da vitória. Salgueiro, Mangueira, Estácio e Matriz estão agindo Para homenagear o bravo cabo Laurindo. As duas divisas que ele ganhou, mereceu: Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu! [...] Jorge Veiga canta "Cabo Laurindo", de Wilson Batista e Haroldo Lobo, em gravação de 1945 Jorge Veiga - CABO LAURINDO - Haroldo Lobo-Wilson Batista. Gravação de 1945. "Gravação Continental de 18 de junho de 1945, lançada em julho seguinte, disco 15381-B, matriz 1172. Ao mesmo tempo em que exaltava a bravura dos pracinhas da FEB que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial na Itália, refletia uma dúvida da época: se eles tinham ido lutar contra ditaduras estrangeiras no exterior, por que manter uma dentro do próprio país, no caso o Estado Novo? " samuel63867 - Samuel Machado Filho. _________________________________________________________________________________________________________
----------- Praça dos Três Poderes Praça ___________________________________________________________________________________ Cancelamento como forma de censura Rachadinha como maneira de peculato Lobby como jeito de corrupção Autoritarismo como simulacro de ditadura Democracia como antídoto à demagogia Pacificação, antípoda ao discurso de guerra. _________________________________________________________________________________________________________ -------------
------------ Praça dos Três Poderes é desocupada após vandalismo - Folha Folha de S.Paulo https://www1.folha.uol.com.br › poder › 2023/01 › fo... 8 de jan. de 2023 — Forças de segurança conseguem desocupar praça dos Três Poderes após tarde de vandalismo. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro depredaram ... _________________________________________________________________________________________________________ ------------ ----------- Praça dos Três Poderes no centro de JF, recebe os cuidados da Operação Boniteza Prefeitura Juiz de Fora 9 de fev. de 2021 PRAÇA DOS TRÊS PODERES Praça dos Três Poderes no centro de JF, recebe os cuidados da Operação Boniteza ----------
------------ Praça dos Três Poderes ----------- Parque Memorial "Sras e Srs , a praça dos 3 poderes está sendo fechada hoje . Esta obra será importante para melhoria da segurança de todos . No entanto, os moradores de rua que lá habitam , dependentes químicos e muitos, autores de crimes contra o patrimônio, migrarão para outros locais. Por gentileza, redobrem as atenções e nos avisem sobre qualquer anormalidade. Estamos a disposição." _________________________________________________________________________________________________________ ----------
------------ Praça do Parlamento em 1980 Praça do Parlamento é uma praça no extremo noroeste do Palácio de Westminster, na cidade de Westminster, no centro de Londres. Possui uma grande área verde aberta no centro, com árvores a oeste, e contém doze estátuas de estadistas e outros indivíduos notáveis.[1][2][3] Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- Margaret Thatcher foi a primeira-ministra do Reino Unido pelo Partido Conservador durante a década de 1980, de 1979 a 1990. Ela foi uma figura marcante da política britânica, conhecida por suas políticas econômicas e sociais, que influenciaram significativamente o país durante seu mandato. Durante seu período como primeira-ministra, implementou políticas de liberalização econômica, privatização de indústrias estatais e medidas de redução do papel do Estado na economia. No Reino Unido, o poder é dividido entre três poderes principais: o poder legislativo, executivo e judiciário. No entanto, é importante mencionar que o Reino Unido não tem uma separação de poderes tão rígida quanto alguns sistemas, como o dos Estados Unidos. Poder Legislativo: O Parlamento é o órgão legislativo do Reino Unido e é composto por duas câmaras: a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes. A Câmara dos Comuns é composta por membros eleitos e é onde a maior parte da legislação é debatida e aprovada. Os distritos de Londres estão representados na Câmara dos Comuns por diversos membros eleitos. A Câmara dos Lordes é constituída por membros não eleitos, incluindo nobres hereditários, bispos e membros vitalícios nomeados. Poder Executivo: O poder executivo é exercido pelo governo, liderado pelo primeiro-ministro, que é o chefe de governo do Reino Unido. O primeiro-ministro e outros membros do governo são geralmente escolhidos entre os membros do partido que detém a maioria na Câmara dos Comuns. Poder Judiciário: O sistema judicial do Reino Unido é independente e não está diretamente integrado ao Parlamento. O mais alto tribunal do Reino Unido é a Suprema Corte, que atua de maneira independente do Parlamento e do governo. Nos distritos de Londres, o Parlamento é representado por membros eleitos para a Câmara dos Comuns, que buscam representar os interesses e preocupações dos eleitores desses distritos no processo legislativo do Reino Unido. Estes membros desempenham um papel vital no debate, na formulação e na votação de leis que afetam não apenas Londres, mas também todo o país. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- _________________________________________________________________________________________________________ A recente decisão do STF acerca da responsabilidade da imprensa por declarações de terceiros impõe uma autocensura preventiva aos veículos jornalísticos. Essa medida não só ameaça a liberdade de imprensa, mas também restringe a esfera de debate público essencial à formação de opiniões autônomas dos cidadãos. Ao estabelecer uma falsa simetria entre liberdade de expressão e direitos de personalidade, o Supremo limitou a proteção da liberdade de expressão, desviando-se do princípio constitucional que preconiza a não interferência na liberdade de informação jornalística. A ausência de critérios rígidos para responsabilização dos veículos de comunicação por informações falsas compromete a robustez da liberdade de imprensa. Seria benéfico que o Supremo reavaliasse essa decisão, evitando a redução da liberdade de expressão e o amedrontamento da imprensa, elementos prejudiciais à democracia brasileira. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- Oscar Vilhena Vieira* - Censura nunca mais Folha de S. Paulo Decisão do STF impõe ao jornalismo o dever de se autocensurar preventivamente O Supremo decidiu nesta semana que os veículos de imprensa poderão ser responsabilizados por declarações feitas por seus entrevistados, caso não tomem o devido cuidado na verificação dos fatos por esses divulgados. Essa decisão impõe aos meios jornalísticos o dever de se autocensurarem preventivamente. Mais do que ameaçar a liberdade de imprensa, atinge um dos pilares fundamentais do regime democrático, que é a existência de uma ampla e desimpedida esfera de debate público, essencial para que os cidadãos possam formar suas próprias opiniões e exercer de maneira autônoma o direito de escolher e julgar os seus governantes. Embora a liberdade de imprensa seja um dos temas mais espinhosos do direito constitucional, o Supremo parece ter caído, desnecessariamente, em uma armadilha pueril, ao assumir como premissa de sua decisão a ideia de que "a plena proteção constitucional à liberdade de expressão é consagrada pelo binômio liberdade com responsabilidade". Ao estabelecer uma falsa simetria entre liberdade de expressão e diretos de personalidade (no campo do debate político), constrangeu indevidamente a proteção da liberdade de expressão. A Constituição de 1988 adotou um regime de primazia da liberdade de imprensa ao definir que a "lei não pode estabelecer qualquer embaraço à plena liberdade de informação jornalística". Não pode o Supremo, portanto, obstruir a liberdade da imprensa ou atribuir aos veículos a obrigação de realizar a censura prévia do debate político, sob a pena de serem responsabilizados caso não cumpram essa tarefa. Nesse sentido, o Supremo cometeu um grave equívoco ao permitir a responsabilização dos veículos de comunicação por eventuais informações falsas prestadas por um entrevistado, sem aferir, no momento da publicação, "indícios concretos da falsidade" ou observar o "dever de cuidado na verificação dos fatos". Como corretamente afirmou o ministro Barroso logo após o julgamento, o veículo de comunicação só deveria ser responsabilizado quando tivesse agido "com dolo, má-fé ou grave negligência". Infelizmente, a tese aprovada pelo Supremo não incorporou o rigoroso teste articulado por Barroso. O "dever de cuidado" ou a existência de "indícios de falsidade" são parâmetros muito fluidos e tênues, incapazes de assegurar uma proteção robusta à liberdade de imprensa. Conforme estabelecido pelo canônico caso New York Times v. Sullivan, decidido pela Suprema Corte norte-americana em 1964, a responsabilização do veículo de imprensa apenas deveria ocorrer quando ficasse demonstrado a existência de "malícia" ou "grave negligência" na publicação de fatos falsos e difamatórios divulgados por terceiros. Dada a centralidade da questão da proteção da liberdade de imprensa para o bom funcionamento da democracia, assim como o compromisso da maioria dos ministros com a nossa Constituição, seria muito positivo que o Supremo reconsiderasse a sua decisão. Na forma como ficou redigida, a tese fixada pelo Supremo servirá apenas para restringir ainda mais a liberdade de expressão e intimidar os veículos de imprensa. A democracia brasileira não precisa nem merece isso. Essa e outras questões difíceis passarão a fazer parte do cotidiano do ministro Flávio Dino caso sua indicação seja ratificada pelo Senado. Flávio Dino tem não apenas um sólido lastro reputacional como também um amplo domínio das diversas áreas do direito, sedimentado por suas passagens marcantes pelo Judiciário, Legislativo e Executivo. Poucos "juristas de Estado" congregam a experiência e o talento do ministro Flávio Dino para contribuir com uma corte que tem por missão a guarda da Constituição. *Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP. Autor de "Constituição e sua Reserva de Justiça" (Martins Fontes, 2023) _________________________________________________________________________________________________________
----------- _________________________________________________________________________________________________________ O livro "Balão Cativo" de Pedro Nava revela a influência do barão Rio Branco na seleção de diplomatas, priorizando não apenas talento, mas também aparência. O poeta Antônio da Costa e Silva, apesar de suas qualificações, foi recusado por ser considerado fisicamente inadequado. Seu filho, Alberto da Costa e Silva, tornou-se diplomata em parte para vingar a rejeição do pai. A história revela a discriminação baseada na aparência e a persistência de preconceitos até tempos recentes. Alberto, renomado historiador, destacou a importância da África em sua obra, mas ressaltou que o Brasil ainda mantém resquícios de exclusivismo observado nos tempos do barão. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- Alvaro Costa e Silva - No país dos macaquitos e dos barões Folha de S. Paulo Alberto da Costa e Silva foi diplomata para desforrar-se de Rio Branco, que barrava os feios No seu livro "Balão Cativo", Pedro Nava conta que nos tempos de Rio Branco não havia concurso para ingressar na "carrière". Era ele próprio, o barão, quem dava a palavra final na escolha dos futuros diplomatas, em geral pessoas de família influente e bem-apresentadas. O poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, apesar de candidato dos mais qualificados, não deu nem para a saída. Na descrição de Nava, a face de Da Costa e Silva "parecia um bolo de miolo de pão com os furos dos olhos, das ventas e da boca". Depois de almoçar com Rio Branco, ele ouviu a sentença antes da sobremesa: "Até gosto dos seus versos e aprecio seu talento. Contra sua pretensão o que está é seu físico. Eu só deixo entrar na carreira homens de talento que sejam também belos homens. A diplomacia exige isso. Desejo-lhe boa sorte em tudo. Agora, no Itamaraty, não! O senhor aqui não entra". O historiador e africanista Alberto da Costa e Silva, filho do poeta tão rudemente preterido, tornou-se diplomata para tirar uma desforra do barão. Numa entrevista, ele me contou mais detalhes da história familiar: "Nascido no Piauí, meu pai era um mestiço indefinido. Rio Branco primeiro o elogiou, o considerou inteligente, preparado ao extremo, bom conversador em francês, conhecedor de inglês, alemão e espanhol. Depois foi cruel, ao dizer na cara de meu pai que ele era feio e que, lá fora, já chamavam o Brasil de país dos macaquitos". Alberto morreu no domingo (26), aos 92 anos. Ainda me lembro da sua voz emocionada ao relatar o episódio. Perguntei se Da Costa e Silva era realmente feio. "Ele tinha mãos bonitas. De perfil, era um homem passável". Com sua produção historiográfica, Alberto da Costa e Silva explicou, como ninguém antes dele, a importância da África e da diáspora africana para que possamos entender um certo país do outro lado do Atlântico, que continua tão exclusivista como nos tempos do barão. _________________________________________________________________________________________________________ ---------- _________________________________________________________________________________________________________ O uso do cancelamento como forma de censura, a prática da rachadinha como maneira de peculato e o lobby empregado como jeito de corrupção são distorções que minam os alicerces da integridade e da ética na sociedade. Quando o autoritarismo se disfarça de simulacro de ditadura, ameaça-se não apenas a liberdade individual, mas a estrutura fundamental do Estado de Direito. É na defesa da democracia que encontramos o antídoto à demagogia e a essência da verdadeira pacificação. A democracia não é apenas um sistema político, é um escudo contra a tirania, um anteparo contra o despotismo disfarçado. A paz, irmã inseparável da democracia, é constantemente ameaçada quando o autoritarismo e a corrupção encontram espaço para florescer. Portanto, é vital reafirmar o compromisso com a democracia e o Estado de Direito. É por meio desses pilares que a paz é preservada, e as ameaças de guerras, internas e externas, são derrotadas. A democracia é a voz do povo, a garantia da justiça e da igualdade. É na sua proteção que a primeira vítima, a democracia, e a derrota da paz são evitadas. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- Wilson Cid ---------- Era censura mesmo, para valer, de vez em quando a gente conseguia burlar. A Polícia Federal entrava na redação e dizia assim: “Quem é o chefe aqui?” é o fulano de tal, “Faça o favor de ler o telegrama” você lia o telegrama, um, por exemplo, eu li: ‘Proibido qualquer informação sobre o pronunciamento do Dom Helder Câmara,’ “Leu? Então assina aqui ciente atrás” você não ficava com esse papel, só tem um caso, que está comigo, se nós fizermos uma hora o museu da imprensa, que eu estou sonhando com isso, esse é um dos documentos que vai estar lá. “O filho do ministro Alfredo Buzaid, acusado de assassinar uma moça em Brasília não pode ser publicado, leu?” Leu, agora assina aqui e pronto, está encerrado, você não ficava com documento disso não. Mas a censura era brava, nossa senhora! E depois também vale citar, fora a censura praticada pelos agentes do governo, havia também a censura da própria empresa, que queria se preserva com poder, então não queria se arriscar também, não vamos dar uma notícia aqui para desagradar o governo, não tem nada disso, nós tínhamos esses dois tipos de censura, sendo que no caso do Diário Mercantil, Diário da Tarde, da PRB3, que era os órgãos dos Associados, acrescia o fato de ser uma organização muito simpática ao governo, muito simpática, esse foi o nosso sofrimento na época. Wilson Cid nasceu em Três Rios, no dia 8 de agosto de 1940 e veio para Juiz de Fora quatro anos mais tarde. Seu primeiro emprego foi como office boy no Sindicato da Fiação e Tecelagem, posteriormente, trabalhou já como jornalista na rádio “Difusora”, depois na “Industrial”. Em Belo Horizonte, trabalhou na rádio “Itatiaia” e em seguida na “Sociedade”. Voltou para Juiz de Fora, onde se ocupou no “Diário Mercantil” e no “Diário da Tarde”. Também trabalhou no jornal “Hoje em Dia” e foi correspondente de “O Globo”. no “Diário Regional”, “Panorama” e “JF Hoje”. Participou da “TV Mariano Procópio” e do jornal “Ter Noticias”. Hoje possui um blog com mais de 63 mil seguidores. Confira a entrevista completa aqui. https://memoriasdaimprensajf.files.wordpress.com/2016/01/wilson-cid.pdf _________________________________________________________________________________________________________ -----------
---------- A fama dos nossos copos Wilson Cid, jornalista Foi em meados de 1979. Estava na Editoria do Diário Mercantil, e andava empenhado em contar mais coisas sobre os tempos idos de Juiz de Fora. Sentia que mergulhar em temas do passado mantinha o interesse de leitores fiéis, o que, de certa forma, talvez se possa explicar pelo fato de ser o jornal mais antigo da cidade, circulando desde 1912. Surgiu então a ideia – melhor não podia haver – de uma visita ao memorialista Pedro Nava, no Rio de Janeiro, o que ocorreria poucas semanas depois. E lá fomos. Paulino de Oliveira, Dormevilly Nóbrega, Almir de Oliveira e eu. Murilo Badaró veio de Belo Horizonte para se juntar ao grupo. É de se imaginar a beleza de toda uma tarde de sábado, no Largo São Francisco, com Nava e Paulino remexendo lembranças de fatos e gentes que a poeira do tempo confiou às páginas da história municipal. Lembro-me como se fosse hoje. Em dado momento, o grande memorista interpelou Paulino: - E essa conversa que leio por aí, de que Juiz de Fora é onde mais se bebe no Brasil?! De quando em vez surge essa campanha, e, com a mesma facilidade que vem, vai embora. Mas não totalmente. É uma onda que passa, mas sempre deixa alguma coisa no ar. Imita as águas do Paraibuna, que são assim também. Passam, mas ficam, tal como os grandes amores. De pronto, Paulino interveio: - Isso não passa da associação de maldades e desinformação. Não há estatística minimamente confiável para se concluir que lá se bebe mais que em qualquer outra parte do Brasil. Não procede essa campanha de maldades etílicas. Fato é que isso vem de longe. Remonta mais de século, quando a cidade chegou a ter funcionando, simultaneamente, dez fábricas de cerveja artesanal, o que se deveu à operosidade de famílias germânicas de São Pedro, Borboleta e Villagem. Era o suficiente para as más línguas sentenciarem: são necessárias dez fábricas para matar a sede daquela gente!… Acrescia que os padres redentoristas da Glória sempre produziram excelente cerveja. Segundo a boca do povo, ela já saía abençoada da igreja: bebiam o pai, o filho e ainda sobrava para suprir o Espírito Santo, estado fiel importador. Certo é que foi fazendo história. Na noite de 15 de novembro de 1889, no Rio, a chegada da República foi saudada com vinhos e a cerveja José Weiss. Os monarquistas, que eram numerosos (aqui chegaram a morar 29 barões e viscondes!) saudosos no adeus ao imperador, faziam pouco- caso da festa. Republicazinha vagabunda essa, que toma cerveja de subúrbio de Juiz de Fora… Pior para nossas famas foi quando veio o Congresso Mineiro de 1893, convocado para se debater a localização da nova capital de Minas, porque a velha Ouro Preto não tinha mais como suportar a carga da administração pública. É sabido que a comissão para definir a mudança, criada pelo engenheiro Aarão Reis, indicara cinco como os pontos mais adequados: Curral de Rei; Curvelo, centro geodésico do estado; Vale do Marçal, nas proximidades de São João Del Rei; Barbacena e Juiz de Fora. Os ouropretanos, prestes a ficar sem a sede da capital, cismaram que a principal concorrente era Juiz de Fora, e abriram campanha ferocíssima. O pároco, padre Veloso, distribuía panfletos e fazia sermões conclamando a população a não consumir nossa cerveja, fabricada, segundo inventara, com água de esgoto ou do Paraibuna, já naquela época de águas pouco recomendadas. Além do mais, para o reverendo, Juiz de Fora era terra de analfabetos, desdentados e beberrões. A campanha difamatória só foi terminar quando se decidiu que a capital iria, como de fato foi, para o Curral de Rei. ooo Quando era retomada a velha onda da cidade dos beberrões, sempre aparecia alguém com o cuidado de traça o imaginário roteiro dos copos. Principiava-se bebendo a cerveja de São Pedro. Descendo-se pelo Morro da Glória, provava-se o áraki dos sírio-libaneses da Marechal Deodoro, o champanhe dos ricaços do Clube Juiz de Fora, depois o vinho que os jornaleiros guardavam na Casa D’Italia. Rumo à zona Sul, subindo, osanas ao bom uísque jamais ausente no Bom Pastor, e, para terminar a escala, o toque nacional da cachaça da Vila Olavo Costa. Se de La Mancha andasse por aqui, haveria de testemunhar Dom Quixote nossos copos nunca ociosos... Pois bem. Além da cerveja, que via a cidade dar os primeiros passos, outros produtos haveriam de concorrer para consolidar a fama que despertara a preocupação de Nava. Basta citar dois entre os principais. Primeiro, a caipirinha, que fez história no antigo Bar do Neca, na Galeria João Beraldo. Para que se faça ideia do potencial de consumo, basta lembrar que Neca e seu auxiliar, que, se não há engano, chamava-se Orlando, tinham o braço direito atleticamente musculoso, desproporcional em relação ao esquerdo, resultado do febricitante exercício de passar o dia esmagando limões, gelo e açúcar na cachaça. Há quem advogue inclusão da caipirinha na vasta galeria dos pioneirismos de Juiz de Fora, ao lado da eletricidade de Bernardo. Mas há muitos que contestam, porque seria de outras plagas a invenção. O segundo desses produtos divulgadores foi o Coquinho do Gaudêncio, inventado na década de 50; aliás, a década de ouro para muitos saudosistas. Cachaça curtida dentro de coco da Bahia, sem outras misturas, mas o coco também tinha tratamento externo, levemente envernizado, antes de permanecer por alguns dias enterrado no quintal. Arrastava multidões para o Alto dos Passos, onde “seu” Gaudêncio mantinha o bar em que pontificavam algumas das melhores expressões da boêmia local. Sobre a história que se guarda desse coquinho, uma quase inconfidência: antigo arcebispo, dom Juvenal, disse certa vez o levaria a Roma, para o papa João Paulo experimentar. Não se sabe se isso de fato aconteceu. ooo Não raro, alguns casos pitorescos. Quase sempre para dar força e graça à denúncia de que aqui se bebia em quantidades que nada tinham a ver com a virtude abstêmia. Nosso Murilo Mendes, que engrandeceu a poesia e a prosa nacionais, foi contar para o resto do Brasil e aos europeus algumas das aventuras vividas pelo maior entre os boêmios da cidade, o advogado Amanajós Vilhena de Araújo. Ninguém teria ousado beber mais que ele neste vale do Paraibuna. Pois certa noite, depois de consumir desgarrafadamente na zona boemia, em companhia de senhoritas pouco gentis e nada senhoritas, Amanajós, de volta para casa, atravessou os terrenos do Tupi, onde se armara um circo. Sem suportar o peso da carga etílica, teve de parar e adormecer vizinho do leão, que se chamava Marrusko. Não percebeu que um dos braços tendia para dentro da jaula. Amanheceu ali, sem a tragédia que seria inevitável. Murilo atribui à Providência o fato de o leão ser um velho desdentado e vegetariano… Bastou que essa história corresse um pedaço do mundo para a maldade ressuscitar a fantasia do nosso ânimo para a bebida. O que se dizia? Em Juiz de Fora tanto se bebe, que se até dá bom dia a leão… Outra história, esta importada da primeira metade do século 19, vai nos colocar diante do grande cronista e naturalista Richard Burton, autor de Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Passou por aqui, e descansou dos estudos por uma semana, acampado mais ou menos onde hoje está o Vitorino Braga. É de se imaginá-lo próximo ao Paraibuna, dias frios de junho, sob friagem e os ventos gelados soprando, nas madrugadas, as águas do rio. Não haveria de ser de outra forma: percebeu logo que era intenso o consumo de aguardente entre os mais pobres. Os menos pobres se valiam de algum vinho, que não raro se deslocava das mulas que passavam por ali, carregando riquezas rumo às festas nababescas do Barão de Catas Altas. Democraticamente todos bebiam. Não é que o notável viajante seguiu viagem para o Morro Velho, não sem antes deixar valiosa contribuição, líquida e certa – mais líquida que certa – para engrossar a onda contra a cidade bêbada. Pois, numa página que depois enviou a um jornal da corte, disse Burton que, pelo que viu, em Juiz de Fora só não bebem o ovo e o sino: o ovo porque já nasce cheio; o sino porque tem a boca virada pra baixo… ________________________________________________________________________________________________________ ------------
----------- ________________________________________________________________________________________________________ O texto discute o delicado cenário fiscal brasileiro, destacando três pontos críticos: o novo regime fiscal com meta de déficit zero em 2024, a Reforma Tributária e as medidas para aumentar a arrecadação. A Instituição Fiscal Independente (IFI) revisa projeções macroeconômicas, prevendo crescimento do PIB em declínio e inflação convergindo à meta. Há incertezas locais e externas impactando cenários. A previsão de receitas orçamentárias é conservadora, considerando a dificuldade em estimar os efeitos da Reforma Tributária e a queda nos ganhos das commodities. As despesas primárias têm risco baixo de descumprimento em 2023, mas o déficit previsto pode superar 1% do PIB. Gastos com precatórios aliviam a curto prazo, mas podem sobrecarregar no futuro se não houver resolução. A IFI projeta déficits primários para 2024 e identifica desafios para atingir metas futuras, especialmente no desempenho das receitas. A dívida pública deve aumentar significativamente, atingindo 78,1% do PIB em 2024, com a necessidade de um resultado primário de 1,4% para estabilizá-la. Há uma probabilidade considerável de a dívida cruzar 90% do PIB entre 2024 e 2028. A IFI reforça a importância de um horizonte fiscal consistente para o desenvolvimento sustentado, enfatizando a necessidade de esforços institucionais no Brasil para alcançar essa estabilidade. ________________________________________________________________________________________________________ ----------- sábado, 2 de dezembro de 2023 Marcus Pestana* - Momento decisivo para a política fiscal -----------
------------ Cumprindo sua missão institucional, nos termos do disposto na Resolução 42/2016 do Senado Federal, a Instituição Fiscal Independente (IFI) entregou o seu 82º. Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), relativo ao mês de novembro de 2023. ​​Trata-se de um momento decisivo para a política fiscal brasileira em função especialmente de três eventos paralelos com profundos impactos nas finanças públicas. Em primeiro lugar, a implantação do novo regime fiscal previsto na recém aprovada Lei Complementar 200/2023 e da meta enviada no texto do PLDO/2024, fixando déficit primário zero já no próximo ano. A declaração do próprio presidente da República, em entrevista coletiva, onde afirmou: “... Quero dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero”, fortaleceu incertezas já presentes e desencadeou diversas iniciativas visando a mudança da meta fiscal para 2024. O Ministério da Fazenda reafirmou o compromisso com o déficit primário zero no próximo ano e parece ter pacificado a questão. ​​Em segundo lugar, a iminente aprovação, pelo Congresso Nacional, da Reforma Tributária. Embora seu foco não seja o ajuste fiscal, e sim a simplificação do sistema e o aumento da eficiência e produtividade geral da economia, certamente poderá produzir efeitos positivos no aumento das receitas públicas, assim como gera pressão por novas despesas primárias através dos fundos criados e autorizados. Neste momento é difícil mensurar estes impactos porque o texto constitucional ainda poderá ser alterado na Câmara dos Deputados e ainda restará uma longa caminhada nas votações das leis complementares e ordinárias, que detalharão a reforma. ​​Por último, a tramitação do conjunto de iniciativas legais do governo federal visando o aumento de arrecadação necessário para o cumprimento da meta de resultado primário zero. Ainda é difícil antever quais as medidas receberão ou não aprovação parlamentar. E posteriormente, quais ensejarão questionamentos judiciais. Constam deste rol de propostas a tributação federal sobre subvenções econômicas oferecidas pelos estados, apostas eletrônicas de quota fixa, fundos fechados e offshores (aprovada esta semana) o fim da dedutibilidade de Juros sobre o Capital Próprio, o Novo Regime de Tributação Simplificada sobre importações (RTS), além da recuperação de créditos no âmbito do CARF. ​​A IFI, mesmo diante deste quadro volátil povoado de incertezas, faz através do RAF 82 sua revisão de cenários, com a atualização das projeções de curto e médio prazos, sempre trabalhando com um cenário base, um cenário otimista e outro pessimista. A IFI projeta um crescimento real do PIB no cenário base, este ano, de 3,0%, declinando em 2024 para 1,2% e situando-se nos anos subsequentes no patamar médio de 2,0%. Quanto à inflação, a IFI projeta um IPCA de 4,6% em 2023, 4,0% em 2024, e nos anos subsequentes, uma suave convergência em direção ao centro da meta. Pesam sobre estes cenários delineados as incertezas no plano doméstico e os elementos criticamente adversos do cenário externo (política monetária americana, desaceleração do crescimento chinês, conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, crise na Argentina, etc.). ​​O novo cenário macroeconômico revisado pela IFI necessariamente impactará no comportamento das receitas orçamentárias do OGU. Mesmo considerando a elasticidade receita/PIB, o RAF 82 identifica uma perda de impulso advindo do movimento virtuoso do aumento dos preços das commodities, elemento decisivo para os ganhos em 2021 e 2022, e a impossibilidade de aquilatar, neste momento, os efeitos da reforma tributária. Considera, ainda, os impactos da renovação da desoneração da contribuição previdenciária, aduzida da redução de alíquota para municípios menores, introduzida pelo Congresso Nacional. A IFI projeta um resultado muito mais conservador para as novas receitas advindas do conjunto de projetos de lei e medidas provisórias em apreciação pelo Congresso Nacional; realça os efeitos da queda da produção e dos preços do petróleo nas receitas orçamentárias; indica a queda da receita de dividendos e participações, em função da estratégia de retenção de fundos pelas estatais para suportar o aumento de investimentos; detecta o aumento das transferências já que haverá incremento das receitas compartilhadas; e, prevê a convergência da arrecadação líquida do RGPS para o eixo de 5,7% do PIB. Como cenário de médio prazo, a IFI estima que as receitas estarão cada vez mais alinhadas com a evolução do PIB nominal. ​​Em relação ao desempenho das despesas primárias e sua repercussão no resultado fiscal, a IFI considera baixo o risco de descumprimento dos limites fixados para 2023, graças as flexibilizações introduzidas pela Emenda Constitucional no. 126, conhecida como a “PEC da Transição”. Dentro disto, a meta de déficit para 2023 é de 65,9 bilhões de reais. O déficit primário efetivo, no entanto, deverá se situar, segundo a IFI, acima de 1% do PIB. A arrecadação vem tendo um desempenho abaixo do previsto, mas as despesas também caíram em relação à estimativa de maio. As despesas com pessoal e encargos caíram em relação a previsão anterior. Já os desembolsos do INSS (RGPS) e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) observaram um discreto aumento. O Programa Bolsa Família, após sua ampliação, deverá consumir 167,3 bilhões em 2023. A IFI destaca que a limitação dos gastos com precatórios deriva em um alívio no curto prazo e uma sobrecarga à médio prazo. A situação poderá ser invertida se a AGU obtiver êxito em sua consulta ao STF, o que permitirá a regularização do fluxo de pagamentos dos precatórios e honrar estes passivos através de créditos extraordinários. A IFI identifica elevado risco de descumprimento das metas de resultado primário a partir de 2024. O ajuste é desafiador e está centrado principalmente no desempenho das receitas primárias. A IFI projeta déficits primários em 2024 de 0,9% do PIB no cenário otimista, 1,1% do PIB no cenário base e 1,5% no cenário pessimista, como uma melhoria a médio e longo prazos nos cenários otimista e base. Além disso, a IFI aponta que a Reforma Tributária gerará impactos adicionais na ampliação das despesas primárias graças à criação do Fundo de Desenvolvimento Regional e do Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais e da autorização de criação de dois outros fundos voltados para o desenvolvimento da Amazônia. ​​Por último, o RAF 82 trata da dinâmica da dívida pública. A IFI realça que a Dívida Bruta deve subir a 75,1% do PIB em 2023 e 78,1% em 2024, permanecendo em trajetória ascendente nos anos subsequentes. No cenário base revisto, a IFI identifica que o resultado primário necessário para estabilizar a dívida é de 1,4% do PIB. Na atualização dofan chart, a partir de diferentes mil e quinhentos cenários estocásticos, a IFI projeta que a probabilidade de a DBGG cruzar o patamar de 90% do PIB, entre 2024 e 2028, é de 38,7%. ​​Com a atualização de cenários feita neste RAF 82, a IFI reafirma sua percepção de que o cenário fiscal de curto e médio prazo é extremamente delicado e que as instituições brasileiras têm que redobrar esforços para garantir um horizonte fiscal consistente como elemento essencial do processo de desenvolvimento sustentado. *Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010). Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado. ________________________________________________________________________________________________________ --------------
---------- Câmara dos Deputados: funções, organização, resumo ---------- CÂMARA DOS DEPUTADOS PRAÇA DO TRÊS PODERES DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 014.4.55.O DATA: 27/02/18 TURNO: Vespertino TIPO DA SESSÃO: Deliberativa Ordinária - CD LOCAL: Plenário Principal - CD INÍCIO: 14h TÉRMINO: 19h59min DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO Hora Fase Orador Obs.: Incluídos os seguintes discursos: do Deputado Claudio Cajado proferido na Sessão Deliberativa Extraordinária da Câmara dos Deputados nº 379, realizada em 06 de dezembro de 2017; dois do Deputado Claudio Cajado proferidos na Sessão Deliberativa Extraordinária da Câmara dos Deputados nº 388, realizada em 11 de dezembro de 2017; do Deputado Paes Landim proferido na Sessão Deliberativa Extraordinária da Câmara dos Deputados nº 388, realizada em 11 de dezembro de 2017; do Deputado Paes Landim proferido na Sessão Deliberativa Extraordinária da Câmara dos Deputados nº 398, realizada em 18 de dezembro de 2017. Ata da 14ª Sessão da Câmara dos Deputados, Deliberativa Ordinária, Vespertina, da 4ª Sessão Legislativa Ordinária, da 55ª legislatura, em 27 de fevereiro de 2018. Presidência dos Srs.: Rodrigo Maia, Presidente. JHC, 3º Secretário. Pedro Uczai, 3º Suplente de Secretário. Carlos Manato, 4º Suplente de Secretário. Erika Kokay, Arnaldo Jordy, Delegado Edson Moreira e Luiz Couto, nos termos do § 2º do artigo 18 do Regimento Interno. ÀS 14 HORAS COMPARECEM À CASA OS SRS.: Rodrigo Maia Fábio Ramalho André Fufuca Giacobo Mariana Carvalho JHC Rômulo Gouveia Dagoberto Nogueira César Halum Pedro Uczai Carlos Manato CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 3 I - ABERTURA DA SESSÃO O SR. PRESIDENTE (Pedro Uczai) - A lista de presença registra na Casa o comparecimento de 66 Senhoras Deputadas e Senhores Deputados. Está aberta a sessão. Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos trabalhos O SR. PRESIDENTE (Pedro Uczai) - Concedo a palavra ao Deputado Pompeo de Mattos, do PDT do Rio Grande do Sul. O SR. POMPEO DE MATTOS (PDT-RS. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, nós estamos assistindo a uma espécie de ciranda de crimes cibernéticos, de crimes na Internet, referentes à disseminação de ódio, rancor, racismo, por meio de notícias falsas sobre as pessoas e sobre a política. Trata-se das chamadas fake news, que, aliás, influenciaram, de forma praticamente definitiva, a eleição americana, com a intervenção dos russos. A Alemanha já avança na sua legislação sobre este tema. Para tanto, apresentei o Projeto de Lei nº 9.554, no início deste ano de 2018, exatamente para tipificar como crime a disseminação das chamadas fake news. Neste final de semana, eu assisti ao Fantástico, da Rede Globo, que demonstrou que há um verdadeiro conjunto de bandidos que montam aparatos e esquemas para divulgar notícias falsas, ódio, rancor, a fim de denegrir a imagem das pessoas. Nós estamos vivendo um período pré-eleitoral. Vai começar tudo de novo! Eu quero aperfeiçoar a legislação pátria, a legislação brasileira, para que o cidadão de bem, ao ler as notícias na Internet, saiba o que é fake news, o que é mentira, e também saiba o que é fato, o que é verdade. Nós precisamos dessa realidade e dessa transparência. O povo não aceita a mentira. O povo não aceita a inverdade. O povo não aceita o absurdo das acusações falsas simplesmente para defenestrar a vida de pessoas honradas. Precisamos separar o joio do trigo; ver o que é bom e o que é ruim, o que é certo e o que é errado; dar nome aos bois; ver quem é quem. Nós precisamos de uma legislação séria. Essa é a proposta que estou apresentando ao País. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 26 O SR. PRESIDENTE (Pedro Uczai) - Obrigado, Deputado Pompeo de Matos. PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, as chamadas notícias falsas ou fake news são conteúdos produzidos com o objetivo de disseminar mentiras sobres pessoas e acontecimentos, enganando a população e influenciando a opinião pública. A temática vem ganhando visibilidade no mundo e no Brasil, nos últimos anos. Nas eleições presidenciais nos Estados Unidos, por exemplo, as interações de usuários de redes sociais foram maiores com conteúdos considerados falsos do que com notícias de veículos tradicionais, segundo levantamento do site BuzzFeed. Da mesma forma, em relação à votação do impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousseff, na Câmara, em abril de 2016, levantamento do portal BBC Brasil revelou que a maioria dos textos mais compartilhados não tinha base factual. Com o seu amplo alcance, essas notícias se transformaram em uma fonte de renda para pessoas que criam sites para publicar especialmente mentiras que foram criadas propositalmente. O sucesso das informações falsas gera muitos acessos, que se transformam em renda para os donos dessas páginas. O tema é de extrema importância e vem sendo discutido no mundo todo. Um estudo realizado pela ONG SaferNet, em novembro de 2017, identificou que não existia, na época, nenhuma legislação em vigor específica sobre o assunto em outros países. Em janeiro de 2018, entrou em vigor na Alemanha uma nova legislação obrigando redes sociais com mais de 2 milhões de membros a remover, em até 24 horas, conteúdos apontados por usuários como impróprios, como discursos de ódio CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 27 e notícias falsas. A empresa que não atender à exigência pode ser multada em até 50 milhões de euros. Diante disso, apresentei, nesta Casa, o Projeto de Lei nº 9.554, de 2018, a fim de tipificar o crime de divulgação de informação falsa e inibir sua disseminação. Esta é uma medida importante, sobretudo em razão do período eleitoral que se aproxima. Precisamos debater o tema e dar uma resposta à sociedade. A questão, que também vem sendo bastante discutida na sociedade brasileira, foi tema de recente reportagem do site G1 e do Fantástico, que trouxeram considerações relevantes sobre o assunto e deram dicas que podem ajudar a inibir o compartilhamento dessas notícias. REPORTAGEM A QUE SE REFERE O ORADOR As notícias falsas são apontadas como um dos principais desafios das eleições de 2018. Como conter os boatos na web? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou um conselho consultivo para estudar soluções para o problema. O conselho é composto por representantes do Ministério da Justiça, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, SaferNet e Fundação Getúlio Vargas. Para o Ministro Luiz Fux, que assumiu a presidência do TSE, o combate às notícias falsas é prioridade. Em entrevista ao Fantástico, ele diz que o TSE vai agir. "O TSE não pretende assistir passivamente ao cometimento desses ilícitos. O TSE criou um grupo de inteligência formado por uma elite da inteligência da ABIN, do Exército. A todos aqueles que pretendem usar as fake news para obtenção de um resultado político ilícito, que coloquem suas barbas de molho." Entidades que defendem a liberdade de expressão temem que a ideia de combate às fake news acabe dando espaço para a censura, o que também consideram um risco para a democracia. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 28 O TSE diz que a função do conselho é "desenvolver pesquisas e estudos sobre as regras eleitorais e a influência da Internet nas eleições, em especial o risco das fake news e o uso de robôs na disseminação das informações, além de opinar sobre as matérias que lhe sejam submetidas pela presidência do TSE e propor ações e metas voltadas ao aperfeiçoamento das normas". Deputados e Senadores propõem tornar crime a criação e a disseminação de notícias falsas. Tramita no Senado o Projeto de Lei nº 473/2017, do Senador Ciro Nogueira (PP-PI), que prevê prisão de seis meses a três anos e multa para quem divulga notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou corromper a verdade. A justificativa do projeto diz que, quando a vítima pode ser identificada, a divulgação de fake news, via de regra, configura crime contra a honra (calúnia, injúria ou difamação). No entanto, aponta que há situações em que a lei penal não prevê qualquer tipo de punição para os casos em que a notícia falsa prejudica o direito da população de receber informações verdadeiras e não corrompidas. A ideia, segundo ele, é criar um tipo penal que, em linhas gerais, puna a divulgação de notícia falsa que atinge interesse público relevante, prevendo pena mais grave para a divulgação feita pela Internet e uma causa de aumento de pena quando o agente visa a obtenção de vantagem para si ou para outro. A Câmara dos Deputados também analisa o Projeto de Lei nº 6.812/17, do Deputado Federal Luiz Carlos Hauly, que torna crime a divulgação ou o compartilhamento na Internet de "notícia que seja falsa ou prejudicialmente incompleta", sob pena de detenção de dois a oito meses e pagamento de 1,5 mil a 4 mil dias-multa. Já o Deputado Jorge Côrte Real (PTB-PE) propõe no PL 8592/2017 detenção de um a dois anos para quem divulgar ou compartilhar, por qualquer meio de comunicação social, informação falsa. O Deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) propõe, no PL9554/2018, teor semelhante ao da proposta de Ciro Nogueira, mas o tempo de prisão pode chegar a até seis anos e meio. Francisco Floriano (DEM/RJ) propõe, no PL 9533/2018, aplicar em dobro a pena prevista na Lei nº 7170/1983 (que define os crimes contra a CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 29 segurança nacional) quando a disseminação de fake news for realizada por meio de redes sociais. Como identificar uma notícia falsa? 1 - Você conhece o site da notícia? Você conhece o site? Sabe que tem uma equipe responsável por ele? Segundo material produzido pelo Instituto Poynter, entidade americana que analisa e estuda a imprensa, quando você acessa um site, a primeira coisa que deve fazer é verificar onde está e quem está por trás das páginas que está lendo. Se não conseguir encontrar nenhuma informação sobre o autor ou nenhuma seção que explique o que é o site, é melhor ficar atento. "É importante prestar atenção na página para saber que tipo de site é aquele e pensar se já leu coisas sobre aquela publicação", diz Fabio Goveia, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo. "Às vezes, são sites que espelham o jornalismo, copiam nome e tipo de página de sites grandes, como o próprio G1, mas é um jornalismo fake news, um jornalismo de paródia, e a pessoa compartilha como se fosse verdade". É o caso também de sites de humor, que usam a estética e a linguagem jornalísticas para brincar com as informações. O problema é que um leitor não atento pode acreditar e compartilhar o humor como sendo verdade. Pablo Ortellado, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que deve-se olhar para o histórico do veículo com uma perspectiva "não política". "Numa situação polarizada, as pessoas acreditam em qualquer coisa que confirme sua opinião." 2 - Dá pra saber de quando é a notícia? Geralmente, notícias falsas não indicam quando o fato narrado aconteceu — se nesta semana, se neste ano, se há dez anos. Por isso, é muito fácil que boatos antigos voltem a circular nas redes de tempos em tempos. Como não há indicação de tempo, aquela “notícia” pode sempre ser atual. Por isso, veja se a notícia é datada de alguma forma. Caso o texto tenha uma data de publicação, busque por ela — pode ser que aquele link seja antigo. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 30 Muitas vezes, uma notícia de anos antes viraliza em um momento específico. Foi o que aconteceu há uns anos com uma notícia verdadeira sobre o cancelamento do ENEM. Um link de uma reportagem sobre o assunto foi difundido às vésperas do Enem de 2012, provocando pânico nos candidatos. Só que o link era de uma notícia de 2009, quando o ENEM foi adiado para todos os inscritos após a notícia do furto de provas. O caso foi parar na Polícia Federal, e o Ministério da Educação convocou uma coletiva para desmentir o cancelamento. 3 - A notícia é assinada? Por quem? Não, você não precisa conhecer todos os jornalistas do mundo pelo nome. Mas, segundo especialistas, a maioria das notícias falsas compartilhadas nas redes sociais não tem um autor identificado, principalmente quando são apenas textos repassados por WhatsApp e não estão hospedados em sites. Em outros casos, os textos são “assinados” por personalidades conhecidas, como o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso ou o jornalista Arnaldo Jabor. Nesses casos, é importante ligar o “desconfiômetro”. É muito fácil escrever uma mensagem de cunho político, colocar que o autor é alguém conhecido e repassar no WhatsApp. Caso aquela mensagem seja verdadeira, uma rápida busca on-line pode levar rapidamente a sites repercutindo as informações. Caso a busca não traga nada claro, tudo indica que é mentira. 4 - Você consegue identificar a fonte das informações? Pode até ser que a notícia esteja datada e assinada, mas as informações do texto são creditadas a alguém? "Esse texto está citando um documento? Ele cita uma fonte? Fez uma entrevista com um dono de empresa, com um porta-voz do Governo? Ou é apenas uma afirmação forte, sem nenhum embasamento? É apenas a voz de quem está relatando aquela notícia?", elenca Ortellado. Caso seja difícil identificar a fonte das informações, você já tem outro sinal amarelo de que aquela notícia pode ser falsa. É fácil inventar um texto e não ter que deixar claro para o seu leitor de onde ele veio. Isso possibilita que as pessoas escrevam qualquer coisa, já que não precisam provar nada para ninguém. Em muitos casos, porém, órgãos e nomes bastante conhecidos são usados para dar credibilidade à informação. Correntes de e-mail e do WhatsApp circulam frequentemente com a assinatura completa de um médico, um funcionário público ou CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 31 outro especialista. Se a suposta fonte de informação é um órgão público, basta encontrar o site oficial e checar as últimas notícias — a maior parte deles mantém assessorias de imprensa dedicadas a publicar esse tipo de comunicado. Também é possível fazer uma busca on-line do nome da pessoa que assina a informação, o que pode levar a desmentidos. Caso isso não aconteça, será possível comprovar, com a busca, se a pessoa efetivamente existe, se trabalha na empresa envolvida, entre outras informações. 5 - A notícia é “bombástica”? Aqui entra a questão de bom senso: se uma notícia parecer, à primeira vista, “inacreditável”, talvez seja justamente porque ela não existe. Segundo especialistas, em geral, quem tenta enganar os leitores escolhe exagerar ou inventar eventos absurdos para mexer com a emoção do público, principalmente quando as opiniões estão polarizadas. A tendência é que as pessoas aceitem como verdade até informações flagrantemente falsas porque elas estão de acordo com o que acreditam. Por isso, segundo Ortellado, vale pensar duas vezes e dar uma busca na Internet para ver se a mesma notícia está sendo repercutida em outros lugares. Um exemplo dado por ele é a morte de Teori Zavascki, Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que cuidava dos casos da Operação Lava-Jato e que sofreu um acidente de avião em Paraty (RJ). Pouco depois do acidente, os boatos já começaram a circular. “Se alguém tivesse descoberto realmente que um sargento da Aeronáutica tinha dado instruções falsas para o avião do Teori, isso estaria em todos os veículos”, explica Ortellado. “Se não está, é um forte indício de que essa notícia não foi verificada: ou ela é falsa, ou é um boato.” Também é comum que notícias falsas usem recursos para parecer ainda mais "bombásticas", como colocar o título em caixa alta. Segundo o Instituto Poynter, esse recurso costuma ser usado por caça-cliques, ou seja, pessoas que tentam chamar a atenção para conseguir cliques do leitor. Dica bônus: Eu penso, logo compartilho. Por fim, mas não menos importante, os especialistas destacam a importância de exercitar o senso crítico e tentar deixar de lado a ansiedade que o rápido compartilhamento das notícias nas redes sociais traz. "As pessoas tendem a CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 32 compartilhar essas informações como se estivessem fazendo uma coisa muito boa, protegendo seus familiares e seus amigos. E nesse afã de querer compartilhar logo, de ser o primeiro a passar aquela notícia, a pessoa acaba dando mais munição para quem está por trás dessas publicações falsas", diz Goveia. Segundo ele, ironicamente, essa cultura da velocidade vem do próprio jornalismo , pois a forma atual de repassar informações do setor é tão objetiva que as pessoas buscam sempre essa objetividade e essa rapidez. "Assim como no jornalismo, agora toda a sociedade tem essa relação com a notícia, de que é quente, rápida. Além disso, o breaking news é mais simples, então as pessoas conseguem reproduzir com facilidade. Por isso, tanto para o jornalismo como para o leitor, essa preocupação de observar outros elementos além daqueles que costuma ter na mão, no celular, tem que estar presente." O senso crítico também vale para o teor das notícias. Em uma época em que as opiniões políticas estão tão polarizadas, é mais fácil cair nas notícias falsas sobre políticos que circulam pela Internet, já que as pessoas já estão predispostas a acreditar em certas coisas. "As pessoas acabam vivendo em uma bolha, isoladas em um grupo que só fala de um partido A ou de um partido B. Isso acaba impedindo que elas tenham acesso a informações contraditórias. Como a pessoa já está predisposta a ter uma opinião, a corrente de informações falsas funciona como um reforço do que ela acredita. Por isso, acaba circulando mais forte", diz Goveia. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 33 O SR. PRESIDENTE (Pedro Uczai) - Concedo a palavra ao Deputado Marcus Pestana, por 1 minuto. Há três Deputados inscritos pelo tempo de 1 minuto. Depois, passarei a palavra ao Deputado Afonso Motta e a V.Exa., Deputado. O SR. MARCUS PESTANA (Bloco/PSDB-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu gostaria de deixar registrada nos Anais desta Casa uma série de reflexões acumuladas no período do recesso e do carnaval. Nós teremos enormes desafios este ano. Esperamos que o País se reencontre com o seu destino, com o seu futuro; que a crise política seja superada, com a remoção do abismo que separa a sociedade e o sistema político. Temos tarefas imensas: uma recuperação econômica, mas com fôlego curto, se não fizermos o ajuste fiscal e a retomada de investimentos; uma revolução educacional; um novo modelo de segurança pública a ser erguido; e a saúde, com os seus dilemas. E tudo isso passa pela sucessão presidencial. O radicalismo não é bom conselheiro, não é bom caminho o dos extremos. Esperamos a sensatez, a experiência, a serenidade, enfim, essas características de sabedoria, de equilíbrio, de capacidade de diálogo. O caminho não é a intolerância; o caminho não é a violência; o caminho não é o radicalismo. Nós precisamos de um líder que consiga galvanizar um grande projeto nacional, dialogar com todas as forças sociais e políticas e restabelecer aquilo que é fundamental na vida de uma Nação: a esperança, a confiança no futuro e a capacidade de sonhar. O SR. PRESIDENTE (Pedro Uczai) - Obrigado, Deputado Marcus Pestana. PRONUNCIAMENTOS ENCAMINHADOS PELO ORADOR CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 34 Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a vida é feita de sonhos, desafios, decepções, oportunidades, riscos, incertezas e ameaças. Aí residem a dor e a delícia da existência humana. Crises, tragédias, guerras, revoluções, epidemias dividem a cena com grandes descobertas, feitos heroicos, inovações, gestos comoventes, eventos empolgantes. É a eterna busca da felicidade na trajetória da civilização, entremeada por acontecimentos que parecem transformar a vida numa busca sem sentido e lógica. Basta ver as escaramuças entre o líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou a assombrosa desfaçatez dos líderes políticos brasileiros corruptos que levaram a corrupção à sua expressão máxima de cinismo para suspeitar que alguma coisa deu errado na construção humana. Mas o combustível da construção do futuro são a fé e a esperança. O período de festas de final de ano é propício à sua renovação. É como se os primeiros dias de janeiro trouxessem novas energias que alterassem por si o rumo das coisas. É preciso dar razão ao poeta mineiro: “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite de exaustão”. Já que assim é, vamos lá imaginar novos horizontes. A liberdade humana não é absoluta, e o papel dos líderes não é ilimitado. As escolhas se dão dentro das margens das condições objetivas historicamente determinadas. Os processos coletivos demandam líderes que interpretem valores e projetos, mas estes só são eficientes se as condições sociais, culturais e CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 35 econômicas soprarem a favor. A acidentalidade tem um papel importante, mas o destino é feito de escolhas e processos conscientes. O ano de 2017 deixa para trás a maior crise de nossa história, iniciada nos Governos Lula e Dilma. Agora em 2018, podemos abrir janelas para a renovação do Brasil, que tem dois desafios centrais. O primeiro deles é continuar reformando a economia, no sentido de garantir um horizonte de crescimento sustentado que gere renda para a população e bons empregos. Para isso, a tarefa número um é reequilibrar as finanças públicas, sem o que não haverá inflação baixa, juros civilizados, dívida sustentável, crescimento econômico. Isso depende fundamentalmente das políticas governamentais. O segundo desafio é eleger um Presidente da República e um Congresso Nacional que devolvam a confiança e a tranquilidade, para a criação do clima ideal que, somado à experiência política e gerencial, nos permita superar uma crise complexa como a que vivemos. Não há soluções fáceis para problemas complexos. O populismo e a demagogia devem ser repudiados. Em pleno século XXI, precisamos de mais sociedade, mais mercado, mais empreendedorismo, menos Estado, menos tutela. Mas tudo começa por boas escolhas nas eleições de outubro, e isso não depende dos governos; está em nossas mãos. A esperança e a fé no País podem ser restabelecidas. Basta acertarmos em nossas decisões coletivas. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na segunda-feira passada, fomos madrugada adentro na Câmara dos Deputados, discutindo e deliberando sobre o CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 36 decreto presidencial que determinou a intervenção federal na área da segurança pública do Rio de Janeiro. Foi uma medida extrema e polêmica diante das cenas chocantes e dramáticas que aconteceram nas semanas próximas ao carnaval. O Rio, símbolo do Brasil no exterior, parecia uma cidade sitiada pelo crime organizado. Chegamos ao extremo absurdo de existir um aplicativo de Internet sobre zonas com tiroteio e vias principais ilhadas pela ousadia e agressividade do tráfico. A insegurança hoje é um dos principais problemas nacionais, principalmente nos grandes centros urbanos, mas que também envolve pequenas e médias cidades e a zona rural. A população brasileira reclama medidas urgentes e eficazes de combate à violência. Os cidadãos de bem exigem o fim da retórica vazia de planos que não saem do papel e a retomada do controle da situação através de ações efetivas que gerem resultados concretos. A intervenção, aprovada pelo Congresso — a primeira desde a redemocratização —, é uma medida de caráter excepcional e grave. A polêmica foi grande, diante da existência de Estados da Federação com índices de criminalidade piores do que os do Rio e do fato de que as Forças Armadas são treinadas para a guerra, e não para ações de segurança pública. Mas, devido à falência do poder público estadual do Rio e à realidade única da existência de territórios vivendo à margem da ordem constitucional e do controle do Estado, não restou alternativa. A intervenção federal foi uma resposta correta e necessária. A situação da violência não é homogênea no Brasil. Pegando o principal indicador, o número de homicídios, vemos que, enquanto temos no País a média de CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 37 28,9 mortos por cada 100 mil habitantes, o Rio de Janeiro tem 30,6; Sergipe, 58,1; Alagoas, 52,3; e Ceará, 46,7. Existem políticas de segurança sérias e consistentes que têm alcançado resultados positivos, como a liderada pelo Governo de São Paulo, que reduziu de 35 homicídios por cada 100 mil habitantes em 2001 para 8,02, em 2017. A intervenção no Rio pode se transformar num laboratório para uma nova política nacional de segurança pública. Mas isso demandará criatividade, competência e ousadia. Não pode ser apenas a presença temporária das Forças Armadas nas ruas. Há muito a ser feito. Não existem saídas simples para problemas complexos. Saídas simplistas, como armar indiscriminadamente a população, não ajudam, e a experiência dos EUA bem demonstra isso. Nas próximas semanas, o Congresso mergulhará nessa discussão. Temos que rever a legislação penal, criar o Sistema Único de Segurança, rever criteriosamente a maioridade penal, reformular a estrutura penitenciária, fechar as fronteiras para o contrabando de armas e drogas, minar a economia do crime organizado. Ou o Brasil derrota o tráfico e as milícias, ou o futuro será, no mínimo, nebuloso. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a sabedoria mineira sempre indicou que paciência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. A ansiedade e a pressa não são boas conselheiras. Digo isso a propósito das intensas especulações sobre a sucessão presidencial, alimentadas a cada pesquisa de opinião divulgada. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 38 É verdade que faltam apenas 10 meses paras as eleições, mas há tanta coisa para acontecer que parece equivaler a um século. O Brasil deverá reencontrar seu destino e seu futuro, após um longo período de divórcio entre sociedade e representação política, resultante da profunda crise ética, econômica, social e política. Só as urnas poderão devolver ao Governo a força, a credibilidade, a confiança e o ambiente imprescindíveis para a modernização da economia, o ajuste das contas públicas, a retomada do crescimento e a geração de renda, emprego e bem-estar. Mas, a nos separar das eleições de outubro, há um longo caminho, cheio de acidentes e nebulosidade. É impossível saber qual será o estado de espírito da população na hora do voto. Hoje uma parte da sociedade mergulha de cabeça num mar de intolerância, radicalismos, intransigências, xingamentos recíprocos. Outra parte é abraçada por um sentimento de desânimo e desesperança, vocalizando ideias do tipo “todos são iguais”, “não acredito mais em políticos e na política”, “não vou votar em ninguém”. Na democracia, o futuro é produto das escolhas coletivas, soma do posicionamento de cada um. Virar as costas para isso e renunciar ao direito de escolha é também um posicionamento político que gera consequências. Se você não quiser participar da decisão, alguém vai decidir por você. Você pode não querer mexer com política, mas inevitavelmente a política irá mexer com a sua vida. Será que o atual clima político vai carregar a maioria dos brasileiros para os votos branco e nulo e para a abstenção? Será que surgirá um outsider, como Luciano Huck? Ou a escolha se dará em torno de lideranças experimentadas e testadas? Difícil antever. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 39 Hoje o quadro esboça uma decisão entre duas perspectivas radicalizadas, encarnadas na candidatura de Bolsonaro, de um lado, e na de Lula, Ciro Gomes e o PT, de outro. Mas o centro político democrático começa a se organizar e discutir a construção de uma candidatura calçada na experiência, no equilíbrio e no compromisso reformista. Surgem os nomes do Governador Geraldo Alckmin, do Ministro Henrique Meireles e do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Mas o cenário ainda é imprevisível. As eleições de 2018 se assemelham até agora a uma verdadeira loteria. E muitos fatos determinantes podem alterar as tendências: julgamento de Lula, decisão do TSE sobre o uso do Fundo Partidário, prévias do PSDB, mudanças partidárias e filiações até abril, recuperação ou não da economia, alianças partidárias, condenações da Lava-Jato. Portanto, vamos “devagar com o andor que o santo é de barro”. Quem disser que sabe exatamente o que ocorrerá em outubro é mentiroso ou desinformado. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, como disse certa vez o ex-Ministro da Fazenda Pedro Malan, “no Brasil, até o passado é imprevisível”. Nosso País foi uma máquina de crescimento no pós-guerra. De 1945 a 1978, tivemos a economia com a maior taxa média de crescimento de todo o mundo, cerca de 7% ao ano. Recentemente vivenciamos a maior recessão de nossa história nos 3 últimos anos do Governo Dilma. O PIB, que representa toda a riqueza criada no País a cada ano, cresceu apenas 0,1% em 2014 e caiu 3,8% e 3,6% em 2015 e 2016, respectivamente. A renda per capita despencou 9,1%. Ou seja, em bom português: ficamos mais pobres. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 40 É preciso de vez por todas que a sociedade brasileira encare sua crise estrutural, aproveitando o debate nas eleições presidenciais de 2018 para decifrar seu “enigma da Esfinge” econômico, do tipo decifra-me ou devoro-te. Para além do blá-blá-blá de populistas, demagogos ou mistificadores, é preciso nos atermos às evidências apresentadas pela realidade para mudarmos os rumos do País. Para isso, basta um simples exercício; basta enfrentar uma pergunta direta: por que o Brasil e a Coreia do Sul tinham em 1960 o mesmo PIB per capita e hoje o dos coreanos é o triplo do nosso? Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita da Coreia do Sul em 2016 foi de US$ 27.538,81 e o do Brasil, de US$ 8.649,95. Ao lado de superar a instabilidade política dos últimos tempos, a maior tarefa do próximo Presidente da República do Brasil será continuar a introduzir reformas, ajustes e mudanças que nos devolvam o horizonte de retomada de crescimento e ampliação contínua do emprego e da renda. O Governo de transição de Michel Temer tem produzido mudanças relevantes: alteração na regulação do pré-sal, reestruturação do setor elétrico, Taxa de Longo Prazo (TLP), reforma trabalhista, regulamentação da terceirização, teto do gasto público, discussão da reforma da Previdência. O crescimento da economia deverá ser de 0,9% em 2017 e de 3% em 2018. A inflação de 2017 foi a menor desde 1998, 2,95%, favorecendo os mais pobres, que são os que mais sofrem com a inflação alta. Foi o menor índice desde que foi implantado o sistema de metas inflacionárias. Os juros alcançaram o menor patamar da história da SELIC, a taxa básica de juros. O desemprego continua caindo, embora ainda esteja muito alto. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 41 Apesar disso tudo, uma das três principais agências de classificação de risco, a Standard & Poor´s, rebaixou a nota brasileira. Isto é péssima sinalização para a retomada dos investimentos. E o problema central é o desequilíbrio orçamentário do setor público. Só a reforma do Estado, diminuindo seu tamanho e cortando gastos, principalmente nas despesas correntes e previdenciárias, pode assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento. O atual Governo e o próximo Presidente da República têm um inevitável encontro marcado com o ajuste fiscal. Sem isso, a inflação, o desemprego, os juros e a desconfiança em relação à economia brasileira voltarão a crescer. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, aproximam-se as eleições estaduais. Daqui a poucos meses elegeremos o novo Governador de Minas. Em geral, os processos eleitorais são marcados por um turbilhão de promessas, mas o próprio processo de aprendizagem vacina a população contra a demagogia e as promessas mirabolantes. O agravamento sem precedentes da crise fiscal recomenda muita atenção ao eleitor e uma boa dose de prudência aos futuros candidatos. Na última campanha, em 2014, o atual Governador prometeu, entre outras coisas, concluir os hospitais regionais, reabrir usinas de álcool no Triângulo, implantar UMEIs (Unidades de Educação Infantil) nos 853 Municípios, criar o Bilhete Único na RMBH, construir as Linhas 2 e 3 do Metrô, criar 77 centros de especialidades médicas. Nada disso saiu do papel. Ao contrário, assistimos a um Governo Estadual capenga, em situação préfalimentar, confiscando recursos das Prefeituras, atrasando salários dos servidores, CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 42 perdendo credibilidade junto a fornecedores. Isso, sem falar na inexistência de um programa de obras relevante. Os atrasos na folha e o não pagamento integral do 13º são os melhores termômetros do estrangulamento vivido pelo Tesouro Estadual. Todos os sinais amarelos se acenderam. Caminhamos a passos largos para uma situação semelhante à vivida recentemente pelo Rio de Janeiro. Na campanha, é de se esperar profunda autocrítica do atual Governador e muita ponderação dos outros candidatos. A sociedade está cansada de ilusões. A situação de desequilíbrio orçamentário é tão profunda que a equipe econômica estadual lançou mão de arriscadas gambiarras. A primeira foi a apropriação dos depósitos judiciais. A última, o confisco de recursos dos Municípios. O Governo Estadual está desorganizando o planejamento dos administradores municipais. São bilhões de reais do ICMS, do IPVA, do transporte escolar, do FUNDEB e da saúde que deixam de ser repassados e, assim, jogam as Prefeituras em desesperadora situação. A Associação Mineira dos Municípios (AMM) tem liderado uma luta heroica em defesa dos Municípios. O PSDB nacional entrou com ação no Supremo Tribunal Federal com o mesmo objetivo. O diagnóstico da crise demanda uma discussão séria e clara sobre o ajuste inevitável. É preciso gerar soluções não com o aumento da carga tributária, mas com o aumento da receita, via atração de novos investimentos e resistência ao esvaziamento econômico de Minas, como o que houve quando o Governo Lula estimulou a transferência progressiva de atividades da Fiat para Pernambuco. O fim da recessão dos anos Dilma também ajudará. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 43 No que diz respeito às despesas, é imperativa a reforma do Estado, com a diminuição e a mudança da estrutura de gastos. É fundamental enfrentar a questão previdenciária, que resulta em déficit anual de R$ 15 bilhões como principal componente de um déficit orçamentário projetado de R$ 8 bilhões para 2018. Sem isso, as políticas públicas continuarão a ver despencar sua qualidade, e o Governo de Minas será cada vez mais irrelevante. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o filósofo espanhol Ortega y Gasset celebrizou uma frase lapidar: “Eu sou eu e a minha circunstância, e, se não a salvo, não salvo a mim mesmo”. Já Napoleão Bonaparte cravou: “Um líder é um vendedor de esperança”. O processo de evolução civilizatória não é obra solitária; é construção coletiva de gerações. Mas o papel do líder nas grandes transformações históricas é inegável. Hoje vivemos uma profunda crise de liderança. O sistema político está contaminado por sua desconexão com a cidadania e pelo festival de corrupção desnudado pela Lava-Jato. O líder tem que servir de espelho para as novas gerações, deve ser admirado e respeitado. O Brasil produziu grandes líderes, mas é preciso constatar que, no entardecer da Nova República, um enorme vácuo de liderança se abre no horizonte. Luiz Inácio Lula da Silva é o mais importante líder popular da história recente do Brasil. Tinha uma trajetória admirável: retirante nordestino, metalúrgico, líder sindical, protagonista político, caminho que o levou à Presidência. Hoje vive talvez seu ocaso, como o retrato mais acabado da decadência do sistema político brasileiro. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 44 A primeira vez que ouvi falar de Lula foi quando ele visitou a minha Juiz de Fora, em 1975, acompanhando o então Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Paulo Vidal, que iria dar uma palestra sobre direitos trabalhistas, organizada pelo DCE/UFJF. A cultura sindical, na época, era inspirada no sindicalismo americano. Isso mesmo. Lula nunca foi de esquerda. Era e sempre foi um pragmático. A grande ilusão de intelectuais e militantes de esquerda e de lideranças ligadas à Teologia da Libertação é que finalmente tinham encontrado um líder operário para chamar de seu e iriam manipulá-lo a serviço da revolução socialista. Hoje o popular Presidente da República se tornou símbolo e pivô do maior escândalo da história brasileira. Sou da escola do velho PSD mineiro. Tancredo Neves certa vez disse que adversário político não é inimigo pessoal. Não fico feliz com o triste fim de Lula. Ele foi ator central na redemocratização. Mas a Lei é pra todos. Ninguém deve se julgar acima dela. As instituições, a Constituição e as leis são as âncoras da República. O fundamento da democracia e da vida republicana é a separação, autonomia e soberania dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. As sentenças do Juiz Sergio Moro e dos três Desembargadores da 8ª Turma do TRF da 4ª Região foram técnicas, com fundamentos jurídicos e baseadas nas provas e evidências presentes nos autos. Não há dimensão política no comportamento dos juízes, embora seja inegável que a decisão tem profundas consequências políticas. Mas não vamos embaralhar o que tão bem Montesquieu separou. Não devemos politizar o Poder Judiciário e muito menos judicializar a política. Líderes são vendedores de esperança, mas, às vezes, ao maltratarem suas circunstâncias, acabam produzindo decepção e desencanto. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 45 Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em boa hora a Câmara dos Deputados firmou acordo de cooperação técnica com os governos espanhol e português para troca de experiências sobre a gestão de seus sistemas de saúde. Resultado disso foi o envio de uma delegação a Madri e Lisboa para estudar os impactos da recente crise europeia na saúde pública. Digo que isso ocorreu em boa hora porque a política brasileira tem andado mais perto dos constantes casos de corrupção e mais distante daquilo que interessa a todos: a melhoria da qualidade de vida a partir de políticas públicas consistentes. Vamos às semelhanças entre Brasil e Espanha. Os dois países ergueram sistemas de saúde gratuitos baseados no Estado de bem-estar social, lançando os dois pilares da organização da atenção à saúde: a universalidade (o acesso é para todos, sem restrições) e a integralidade (a carteira de serviços deveria cobrir integralmente as necessidades da população). A configuração dos dois foi expressão da transição para a democracia após ditaduras. A Espanha, em 1978, e o Brasil, com a Constituição de 1988. Mas há diferenças importantes. Primeiro, os padrões de financiamento. Enquanto cada região autônoma espanhola tem para investir na saúde pública, em média, 1.300 euros por habitante/ano, no Brasil temos apenas 300 euros per capita. Em segundo lugar, na Espanha há uma carteira de serviços definida em um decreto real e em normas ministeriais. Um exemplo: aparelhos para correção de problemas de audição só são ofertados até os 16 anos. Resultado: não há judicialização como no Brasil. Outra diferença, somente 8% da população tem algum tipo de assistência privada. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 46 Visitamos o Hospital Universitário Puerta de Hierro Majadahonda, referência para 380 mil pessoas, mas que também atende a outras regiões em segmentos de complexidade como transplante, oncologia e cirurgia cardíaca. Confesso que a estrutura arquitetônica me surpreendeu. Mais parece um shopping, tão espaçoso que é e tal a qualidade do acabamento. O modelo de construção e gestão é uma parceria com o setor privado. O setor público cuida de saúde; o setor privado, de construir, “alugar” e prover serviços de apoio. Fomos também ao Centro de Salud Fuentelarreina conhecer o fantástico trabalho de atenção primária. Lá, dez médicos e dez enfermeiros cuidam de 22 mil vidas. É interessante observar que os médicos espanhóis ganham, por 7 horas de trabalho e dedicação exclusiva, de 3 mil a 4 mil euros, ou seja, de R$ 12 mil a R$ 16 mil mensais. Nem tudo são flores. A profunda crise espanhola de 2008 impactou a saúde: salários foram rebaixados, fornecedores enfrentaram enormes atrasos, carreiras profissionais ficaram congeladas. A principal medida foi o copagamento dos medicamentos. O cidadão banca até 60% do custo dos remédios, conforme a situação financeira individual. O restante continua gratuito. O SUS, apesar de enormes avanços, no formato atual é insustentável e precisa de mudanças. E nada como conhecer experiências avançadas para não reinventar a roda a cada minuto. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já virou lugar comum dizer que o ano só começa depois do carnaval. Parece um processo catártico coletivo que CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 47 compreende a metabolização da herança do ano anterior e a explosão das expectativas para o ano que se inicia. Isso transborda no carnaval, quando cada um pode ser o que não é, fantasiar a realidade e esculachar autoridades, pop stars e adversários eleitos como alvo. No sambódromo do Rio, poesia, lirismo, tradições e sátiras políticas levantam as arquibancadas. Este ano, a sensação de orfandade da sociedade nos dias atuais ganhou uma tradução no belíssimo samba enredo da Beija Flor. Mas, tiradas as fantasias, na quarta-feira de cinzas, não há como não encarar nossa complexa realidade. É evidente que é melhor viver de fantasia, sonho e poesia, mas é preciso navegar. Menos de 8 meses nos separam da mais complicada e misteriosa eleição da história recente do Brasil. Será um divisor de águas. A Nova República encontrará seu fecho. Não aquele sonhado por seus fundadores — Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Franco Montoro —, mas aquele resultante de nossas mazelas e erros acumulados nas últimas décadas. A Constituição Cidadã, como quis Ulysses, completa 30 anos, mas nem por isso consolidamos o Brasil justo, democrático e próspero com que sonhávamos. O fundamental é que superemos a profunda instabilidade política que presidiu nossas vidas desde 2015 e transformemos o caldo de cultura de intolerância que resultou em reconstrução dos canais de diálogo. Que coxinhas e mortadelas, bolsomitos e comunistas, tucanos, liberais, conservadores e petistas consigam se xingar menos, ouvir e dialogar mais a partir das diferenças legítimas. O Brasil precisa de um pouco de paz e calma para trabalhar e enfrentar desafios como o ajuste fiscal inadiável e a revolução educacional. O futuro CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 014.4.55.O Tipo: Deliberativa Ordinária - CD Data: 27/02/2018 Montagem: 5199 48 Presidente, mais do que ser um super-homem, tem que ter serenidade, capacidade de diálogo e experiência para liderar um novo ciclo na história brasileira. Faltam menos de 8 meses. Não sabemos ainda se haverá candidatos outsiders, nem qual será a escolha do PT. Muito menos se o fenômeno Bolsonaro se sustentará. E ainda ignoramos se o centro político democrático se unificará. Mas é daí que nascerá nosso futuro. Nas redes sociais, cenas explícitas de pugilato virtual predominam, e esculhambar os políticos é o esporte predileto. Mas sem política não existe democracia. Sem democracia não há esperança e futuro possível. A representação é um raio X imperfeito — mas o possível — da opinião da sociedade. No exercício radical da malhação de Judas permanente contra as lideranças políticas, esquece-se de que todos estão lá pelo voto da população. É um narcisismo invertido. Olhamos para os representantes que elegemos e não gostamos e preferimos não enxergá-los como espelho de nossas decisões. O ano de 2018 pede passagem! Que das nossas mãos sábias e serenas nasça um Brasil tão generoso como aquele sonhado pelos fundadores da Nova República, que agora se despede. https://www.camara.leg.br/internet/plenario/notas/ordinari/2018/2/V2702181400.pdf ________________________________________________________________________________________________________

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