Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 3 de dezembro de 2023
NATUREZA HUMANA
"Nada do que é humano me é estranho" disse o sábio Terêncio, na antiguidade. Sua frase nos ajuda a pensar que toda criação ou produção humana, por mais estranha que nos pareça, é feita por nós. É nossa a glória da sua criação e também é nossa a responsabilidade por tê-la criado.
Colocando em debate a escola, a ética e a violência
Texto produzido para a Série "Debates contemporâneos: escola e violência", veiculada pela TVE-Brasil em setembro de 1999. www.tvebrasil.com.br/salto
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Conceito de Natureza Humana «Definição e o que é»
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"Muita gente nem lembra que foi marxista, ou pensa no marxismo como um pecado de juventude. Mas o marxismo tornou o Brasil mais inteligente, criou uma ordem do dia substanciosa e produziu uma reflexão histórica original, que não se esgotou, embora tenha perdido muito de seu pique. A moda atual é reduzi-lo ao doutrinarismo, que de fato o acompanhou e é muito negativo. Tenho a convicção, porém, de que há um estudo importante parado no ar, à espera de alguém que articule sem sectarismo os livros-chave do nosso estruturalismo histórico, de intenção transformadora." Roberto Schwarz
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Roberto Schwarz | Edição 207, Dezembro 2023
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UMA ACLIMATAÇÃO DO MARXISMO NO BRASIL
Os trajetos de uma geração e de um projeto de transformação do país
ROBERTO SCHWARZ
Em 2004, o crítico Roberto Schwarz, autor de obras que redefiniram o entendimento da literatura e da cultura brasileira, como Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis e Cultura e política: 1964-1969, concedeu uma longa entrevista sobre o impacto do marxismo em sua obra e na sua geração. O debate foi conduzido pelos economistas José Márcio Rego e Luiz Gonzaga Belluzzo, a professora de literatura Maria Elisa Cevasco, o sociólogo Eduardo Kulgemas (1940-2006), a socióloga Roseli Martins Coelho e o professor de história Jorge Grespan. Também participou Grecia de la Sobera, estudante de filosofia. A conversa permaneceu inédita e foi revista e ampliada pelo entrevistado duas vezes – em 2019 e neste ano. O texto a seguir é a íntegra do depoimento de Schwarz, a partir das questões propostas pelos entrevistadores.
anais da dialética
piauí_207
piauí_dezembro
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/uma-aclimatacao-do-marxismo-no-brasil/
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A comitiva de peso que acompanhará Lula na COP28 em Dubai | VEJA
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"Ontem eu estava dizendo para a companheira Marina. Quando eu fui entrar no sindicato, em 1969, os meus companheiros que pertenciam ao Partido Comunista Brasileiro diziam assim para mim: ô Lula, você não pode entrar no sindicalismo. O sindicato é pelego. Você não vai conseguir mudar nada, você vai virar pelego. E o que aconteceu? Nós mudamos a cara do sindicato e do sindicalismo brasileiro. Em 78 nasceu o novo sindicalismo brasileiro." Presidente Luiz Inácio da Silva
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Mauro Vieira diz que brasileiros voltarão a se orgulhar do país
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Conversa do presidente Lula e do ministro Mauro Vieira com a imprensa na partida da COP28
Transcrição integral da conversa com a imprensa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro Relações Exteriores, Mauro Vieira, na partida da 28ª sessão da Conferência das Partes (COP28) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), no dia 3 de dezembro de 2023
Publicado em 03/12/2023 09h59 Atualizado em 03/12/2023 12h30
Ministro Mauro Vieira — Bom dia a todos. Queria dizer, em nome do presidente, que o presidente Lula está encerrando hoje, então, a participação nesse segmento de alto nível, no segmento de chefes de Estado da participação brasileira na 28ª Conferência dos Estados-Partes do Acordo Quadro de mudança Climática da ONU.
Os trabalhos da COP continuarão ainda pelos próximos 10 dias, só se encerrarão no dia 12, ao longo desse tempo haverá negociações de vários temas, acordos e ajustes importantes a serem feitos até o dia 12. Nós, é importante dizer que a participação do presidente Lula nessa 28ª COP representa a volta do Brasil a um dos símbolos da volta do Brasil ao mundo e a volta também da... do que se fazia no passado, nos governos dele, da presidente Dilma, de se credenciar, além da delegação governamental, também a sociedade civil na discussão da COP.
É importante dizer também que o presidente Lula teve uma participação no ato de abertura da COP, junto com o presidente dos Emirados Árabes, o Sheikh Mohammed, o secretário-geral da ONU, o rei Carlos, da Inglaterra, e o presidente Lula. Essa individualização de quatro oradores mostra o papel relevante que o Brasil tem tido, liderando pelo exemplo em todas as iniciativas de combate à mudança climática e preservação ambiental.
O presidente Lula participou também de vários outros eventos ao longo desses dois dias. Ele participou dessa abertura que eu já falei, depois fez um pronunciamento importante também, um discurso de muita substância no segmento de alto nível, e no dia de ontem ele participou da cúpula do G77 e China e também do evento sobre "Florestas: protegendo a natureza, para o clima, vida e subsistência". Além disso, o presidente teve também uma série de encontros bilaterais com outros chefes de Estado. Ele se reuniu com o primeiro-ministro do Reino Unido, ele se reuniu com o secretário-geral da ONU, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e também com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.
No segundo dia, ele se encontrou com o presidente de Cuba, Miguel Días-Canel, com o presidente da França, Emmanuel Macron, e o presidente da União Africana, Moussa Faki, que trouxe ao presidente um convite para que ele participe da próxima Assembleia Geral da União Africana, que se realizará em Addis Abeba, na Etiópia, em fevereiro do próximo ano, em torno dos dias 17 e 18.
O presidente também participou do lançamento da iniciativa "Florestas Tropicais Sempre" e do lançamento do "Programa de Transformação Ecológica". É importante dizer também que a COP 28 é um importante marco no processo do acordo de Paris. Quando vai haver uma avaliação, agora, que será completada na COP 30, que se realiza em Belém do Pará — a candidatura de Belém foi proposta pelo presidente Lula ainda ano passado, na COP 27 — quando nesse momento os países deverão apresentar suas novas contribuições nacionalmente determinadas para justamente reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
O Brasil já anunciou, o presidente já anunciou a mudança, a revisão dessas metas passando de 37% para 48%, em 2025, e de 50% a 53% até 2030. Portanto, é importante dizer também que o presidente destacou ao longo do seu pronunciamento que é importante proteger com justiça a floresta, promovendo o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e protegendo, sobretudo, os habitantes desse bioma amazônico, em que mais de 40 milhões de pessoas vivem nos oito países membros do Tratado de Cooperação Amazônica.
Isso tudo também é uma consequência, é um resultado da Cúpula da Amazônia, organizada no Brasil, por iniciativa do presidente, no mês de agosto último, em que estiveram presentes os oito chefes de estado dos países amazônicos. Com isso, presidente, dei uma ideia geral do que aconteceu nesses dois dias e da importância da sua presença com uma delegação, com um conjunto, a participação do Brasil se refletiu através de uma importante participação do Governo Federal, da sociedade civil e do empresariado. É uma ação conjunta dessas três grandes unidades da sociedade brasileira na COP.
Presidente Lula — Uma coisa que eu queria lembrar a vocês é o seguinte: ontem, no encontro com o movimento social brasileiro, eu alertei as pessoas para que ninguém fique imaginando que vai ser possível em algum lugar repetir uma COP como essa com, sabe, o luxo, a riqueza das coisas, ou seja, a importância. Não é possível fazer isso em outro país do mundo, eu não sei. A não ser que seja em outro país árabe, quem sabe no principado de Mônaco, ou sei lá aonde. Mas nós vamos fazer uma COP com a cara do Brasil, com o povo brasileiro, num estado amazônico que vai ser a grande novidade.
Eu disse ontem que se a gente não tiver o palácio que tem aqui para a gente fazer uma reunião, a gente pode fazer embaixo de uma copa de uma árvore e discutir os assuntos do mesmo jeito, ou fazer em uma canoa no igarapé. Essa vai ser a nossa COP no Brasil em 2025. Mas dizer para vocês que eu volto agora para Alemanha, e depois para o Rio de Janeiro, para reunir o Mercosul, eu volto muito feliz. Muito feliz porque nós estamos saindo de um encontro internacional que a cada ano que passa ganha mais envergadura, ganha mais responsabilidade, e ganha mais representatividade.
O Brasil é um país que ninguém hoje, no planeta, pode discutir a questão do clima sem levar em conta a existência do nosso país, sem levar em conta a nossa experiência, e sem levar em conta o que vai acontecer no Brasil nessa questão da transição energética. Eu tenho dito que não existirá nenhum país do mundo em condições de oferecer ao planeta a quantidade e as variáveis de opção de energia limpa que o Brasil pode oferecer. É uma coisa impressionante.
Nós achamos que é uma oportunidade que o Brasil está tendo no século 21 de fazer uma revolução econômica a partir da chamada "bioeconomia", a chamada "economia verde", a chamada "renovação energética" que o mundo está passando. E foi isso que nós vimos mostrar aqui. Vocês viram ontem que eu me emocionei na questão da floresta. Todo mundo fala da Amazônia.
Há 30 anos atrás tinha gente que comprava terra na Amazônia. Um tempo desse eu conversei com uma jornalista, ela me disse que ela era criança quando o pai dela pediu para ela comprar um pedaço de terra na Amazônia. Então, todo mundo fala da Amazônia. Então ontem, nessa COP, foi a primeira vez que a floresta amazônica e outras florestas falaram o que querem, como querem e pra que querem.
Daí porque é a minha emoção. Até porque eu estava falando da Amazônia, eu sou de Pernambuco, com uma ministra que nasceu na Amazônia, que foi seringueira no estado do Acre, que se alfabetizou aos 16 anos e que, portanto, ela era a que tinha que falar. Ou seja, foi um gesto de reconhecimento e de mostrar ao mundo que o Brasil está levando essa questão muito a sério. Muito a sério.
Ou seja, nós queremos convencer. Nós não queremos brigar. Nós queremos convencer as pessoas que investem em agricultura, as pessoas que investem em indústria de imóveis, as pessoas que investem na criação de gado. Nós queremos mostrar que é plenamente possível a gente manter a floresta intacta e a gente ter terra pra gente plantar o que quiser. Com o avanço da genética, com o avanço da engenharia, a gente pode produzir muito mais na mesma quantidade de hectares se a gente discutir o melhoramento da terra.
Nós estamos agora com um programa muito sério, que é a recuperação de quase 40 milhões de hectares de terras degradadas. Isso é praticamente quase o que nós temos hoje de plantado, portanto, a gente vai poder dobrar a produção do que a gente quiser sem mexer em nenhum bioma nosso. Nós precisamos manter a Caatinga, nós vamos manter o Cerrado, manter a Mata Atlântica, manter o Pantanal, manter a Amazônia, tudo, tudo, tudo, tudo, sabe, intocável. Sem precisar mexer, preservando, porque aí é que está a riqueza dessa combinação, sabe, de melhorar a qualidade da vida das pessoas que estão lá.
As pessoas que estão lá, na verdade, são os principais homens e mulheres, guardiãs da manutenção dos nossos biomas, e nós temos que fazer disso não um santuário, nós temos que fazer disso um modelo de desenvolvimento, porque as pessoas que destruíram o planeta, as pessoas que mais emitiram gás de efeito estufa ao longo de todo o processo da industrialização do mundo têm uma conta para pagar com a humanidade. Não é a partir de agora, é a partir do passado, e, portanto, nós vamos transformar a preservação numa fonte de recursos constantes, não é apenas o financiamento para não desmatar. Ao não desmatar temos que cuidar e ao olhar para uma copa de uma árvore nós temos que lembrar a riqueza da biodiversidade e nós temos que ligar que lá embaixo tem um indígena, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um ribeirinho, tem um pequeno trabalhador rural. Então, essa gente faz parte da biodiversidade do nosso planeta e da Amazônia.
Então, é isso que nós viemos falar aqui. Eu saio daqui muito satisfeito. Inclusive, o maior presente que a minha delegação leva ao embarcar para Berlim é o carinho com que nós fomos tratados, o respeito com que todos os governantes de todos os países nos trataram e eu saio daqui com a certeza de que nós vamos chegar na COP30 altamente preparados. Possivelmente seja a maior COP já realizada em todos os tempos porque vai ser na Amazônia. Eu sinto a expectativa de muita gente querer ir para a Amazônia, quer conhecer a Amazônia, ver a riqueza, a beleza da Amazônia. Eu acho que a gente então vai ter um outro patamar nas discussões da COP.
Vocês viram o meu discurso inicial, era tentando mostrar que nós temos que fazer uma combinação da questão ambiental com a mudança governamental, porque é preciso que a gente tome decisões e essas decisões sejam implementadas. Os países ricos muitas vezes acham que o problema é só dinheiro, então para qualquer coisa eles oferecem dinheiro. Mas não é só dinheiro. Eles também têm responsabilidade de diminuir as emissões de gás de efeito de estufa.
Todo mundo sabe que uma pessoa que trabalha numa sala com ar-condicionado e que depois sai no seu carrão para ir para casa, todo mundo sabe que ele emite mais gás de efeito de estufa do que centenas de pobres que moram na periferia, que não andam de carro, sabe? Então é esse mundo que tem que ser compreendido. Nós temos que tentar diminuir o pensamento da individualidade, tentar mostrar a necessidade de pensar coletivamente, porque é um mundo só. Não tem dois planetas, não descobriram vida na lua, não descobriram em Marte, não descobriram em Plutão, não descobriram em nenhum outro planeta. Então, nós temos que cuidar de nós mesmos aqui. Então, essa é a riqueza desse encontro. O Brasil acho que está com a maior delegação de todos os países, muita gente do movimento social, muita gente de ONGs. Eu acho isso extraordinário.
Eu saio daqui muito satisfeito, muito realizado, com muito mais responsabilidade, porque a partir de agora até 2025 é um passo. Parece que está longe, mas quando a gente tem mais responsabilidade o tempo passa muito mais rápido e aí nós vamos ter que trabalhar muito. Então, eu quero agradecer inclusive a cobertura de vocês e quero que vocês continuem cobrindo isso, porque a informação que vocês passarem para a sociedade vai ajudar ela a pensar melhor ou pensar pior. Eu acho que nós temos que passar mensagens construtivas daquilo que nós queremos que o mundo seja daqui para frente.
Pergunta — Bom dia, presidente. Presidente, não é contraditório? Ontem o senhor confirmou que a gente vai entrar na OPEP+. A gente participando numa COP, falando justamente da diminuição de combustíveis fósseis e o Brasil anunciando numa COP que a gente vai entrar na OPEP+?
Presidente Lula — Primeiro, o nome é tão chique que só por ser chique o Brasil deveria entrar. A "OPEP Plus"... Poderia ser observador. O observador ele vai para ouvir e vai para dar palpite. E por que é importante o Brasil participar? O Brasil é observador do G7. Eu sou convidado, desde que eu ganhei o primeiro ano de 2003 eu sou convidado. Eu sou observador. Nós convidamos para o Mercosul observadores. Nós convidamos para o G20 observadores. Nós convidamos para os BRICS observadores. As pessoas que vão muitas vezes até podem falar, mas não tem poder nenhum de decisão. O que nós queremos? É verdade que nós precisamos diminuir o combustível fóssil. Mas é verdade que nós precisamos criar alternativa. Então, antes de você acabar, por sectarismo, você precisa oferecer à humanidade a opção. E a nossa participação na OPEP Plus é para a gente discutir com a OPEP a necessidade dos países que têm petróleo e que são ricos começar a investir um pouco do seu dinheiro para ajudar os países pobres do continente africano, da América Latina, da Ásia a investir em combustíveis fósseis... eles podem financiar. Eles podem financiar o etanol, podem financiar o biodiesel, podem financiar a eólica, podem financiar solar, podem financiar hidrogênio verde. Esse é o nosso papel.
Ontem eu estava dizendo para a companheira Marina. Quando eu fui entrar no sindicato, em 1969, os meus companheiros que pertenciam ao Partido Comunista Brasileiro diziam assim para mim: ô Lula, você não pode entrar no sindicalismo. O sindicato é pelego. Você não vai conseguir mudar nada, você vai virar pelego. E o que aconteceu? Nós mudamos a cara do sindicato e do sindicalismo brasileiro. Em 78 nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Eu acho que é participando desse fórum que a gente vai convencer as pessoas que uma parte dos recursos ganho com o petróleo deve ser investido para a gente ir anulando o petróleo, criando alternativas. É isso que nós vamos fazer. É isso. É muito importante. Não tem nenhuma contradição. O Brasil não será membro efetivo da OPEP nunca, porque nós não queremos. O que nós queremos é influir.
Pergunta — Presidente, bom dia. Presidente, o Jean-Paul Prates anunciou ontem que a Petrobras está criando uma subsidiaria aqui no Oriente Médio, a Petrobras-Arábia. Eu queria saber do senhor qual a importância estratégica dessa subsidiária para o Brasil e também nesse momento em que se fala de descarbonização? Porque a Petrobras-Arábia vai investir em petróleo, né?
Presidente Lula — Olha, primeiro você deve fazer essa pergunta para o Jean-Paul Prates. Você deve fazer a pergunta para ele, porque eu não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui. Como a cabeça dele é muito fértil e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1 e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer. Se a Petrobras tem algum investimento para fazer aqui, eu não sei no quê. Mas a Petrobras não vai deixar de prospectar petróleo. É importante lembrar isso. Porque o combustível fóssil ainda vai funcionar durante muito tempo na economia mundial.
Enquanto ele funcionar, nós vamos conseguir pegar petróleo, nós vamos melhorar a qualidade da gasolina. É importante vocês lembrarem que não é de hoje. A gasolina brasileira já tem 27% de etanol misturado a ela. Já não é poluente como as outras. O nosso diesel já tem 12% de biodiesel. Quando a gente fala de combustível no Brasil, vocês têm que lembrar que nós estamos um passo à frente dos outros. Então, o nosso petróleo já tem uma mistura. Eu descobri recentemente que o empresário brasileiro comprou 100 caminhões novos na Saab Scania e esses 100 caminhões novos vão utilizar 100% de biodiesel. Essa é uma novidade que a indústria automobilística europeia não falava para nós. Eles diziam 'não, só pode usar B12, B11, porque senão corrói o motor' e a Scania vendeu 100 caminhões 0 km que vão utilizar 100% de biodiesel.
Então, eu vou conversar com a indústria automobilística europeia. Por que eles dizem que corrói? Certamente porque eles querem vender o modelo de caminhões deles, que cada vez que eles fazem o modelo que eles chamam de Euro 4, Euro 5, cada vez que eles aumentam a queda, aumenta 20% dos caminhões no Brasil. Então, o Brasil não precisa seguir o modelo, o padrão deles, porque nós temos um combustível diferente. Nós temos uma mistura mais saudável, menos poluente.
E, portanto, nós vamos utilizar esse potencial que o Brasil tem. Agora, a Petrobras, enquanto empresa, ela vai ter que fazer o que precisar fazer para ela poder se transformar numa grande empresa e ajudar o Brasil a crescer. Mas, ao mesmo tempo, a Petrobras vai se transformar numa empresa não de petróleo apenas, uma empresa, sabe, que vai cuidar da energia como um todo.
Pergunta — E a Arábia, o senhor vai conversar com ele?
Presidente Lula — Eu vou conversar com ele. Você me deu uma bela informação.
Secretário José Chrispiniano — Pessoal, só tem mais uma pergunta porque o slot do avião a gente tem pouco tempo.
Presidente Lula — Aqui também tem slot. Se eu não embarcar, eu não desço lá.
Pergunta — Presidente, a fala do presidente Emmanuel Macron ontem indica que o acordo com a União Europeia não será fechado durante a presidência brasileira do Mercosul e o senhor acabou não se reunindo com o presidente da Guiana. Como é que está a intermediação desse esse conflito? O senhor tem temor de que ele se escale?
Presidente Lula — Primeiro, a posição do nosso companheiro presidente da França é conhecida historicamente. A França sempre foi o país que criou o obstáculo no acordo do Mercosul com a União Europeia, porque a França tem milhares de pequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. É isso. Agora, o que eles não sabem é que nós também temos 4 milhões e 600 mil pequenas propriedades, até 100 hectares, que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimento de qualidade e que nós também queremos vender.
Eles têm que saber que nós também temos indústrias, que nós queremos crescer, e que nós não vamos facilitar as compras governamentais porque nós queremos que a nossa indústria cresça. Então a posição do Macron já era conhecida por mim. Ontem, eu fiz uma reunião com o Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei: ‘Macron, quando você voltar para a França, abre o seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul, pensa no Mercosul. Nós somos países pobres, temos países pequenos. Bom, me parece que ele não pensou. Ele não deu nem tempo para o coração dele, porque ele já foi comunicar vocês.
Mas nós vamos ter uma reunião do Mercosul no dia 7. No dia 6, nós vamos ter uma reunião com os ministros do Mercosul. Eu estou pedindo para o Celso Amorim ir na frente e fazer uma reunião com o movimento social brasileiro, porque também os sindicatos, os pequenos produtores, também me parece que não estão gostando da proposta feita. Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade.
A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais. E nós não somos mais colonizados. Nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes, que temos coisas para vender e as coisas que nós temos para vender tem preço. O que nós queremos é um certo equilíbrio.
Então, eu acho que nós vamos ter uma conversa. Eu tive uma grande conversa com a Ursula von der Leyen, que é a presidenta da Comissão Europeia, e vamos ver como é que vai acontecer na sexta-feira. Se eu não der acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo.
Pergunta — Eu a Guiana, presidente?
Presidente Lula — A Guiana eu conversei por telefone com o presidente da Guiana já duas vezes. O Celso já foi à Venezuela conversar com o Maduro. Teve um referendo, acho que é hoje o referendo, mas obviamente que o referendo vai dar o que o Maduro quer, porque é um chamamento ao povo para aumentar aquilo que ele entende que seja o território dele. Ele não acata um acordo que o Brasil já acatou, porque não só a decisão de 1887, como a decisão de 1965, em que houve um acordo, houve um tratado, que o Brasil aceitou. E eles agora estão dizendo que não aceitam. Então, vamos ver o que vai dar.
Eu acho que só tem uma coisa que o mundo não está precisando. Só tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora é de confusão. Se tem uma coisa que nós precisamos para crescer e para melhorar a vida do nosso povo é a gente "baixar o facho", trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo, e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Então, eu espero que o bom senso prevaleça. Do lado da Venezuela e do lado da Guiana.
Pergunta — Você tem medo de uma guerra aqui no continente? Pode chegar nesse ponto?
Presidente Lula — Quem é que não tem medo de guerra, cara? Eu toda vez que vejo uma coisa daquela explodindo na Faixa de Gaza eu fico imaginando se fosse na minha cabeça. É uma contradição a gente fazer um encontro dessa magnitude para discutir a diminuição de emissão de gás de efeito estufa e os caras jogando bomba. É uma contradição. Então eu acho que a humanidade deveria ter medo de guerra. A humanidade! Porque só faz guerra quando falta o bom senso. Quando o poder da palavra se exauriu por fragilidade dos conversadores. Eu acredito muito nisso. Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra.
Um abraço, gente. Obrigado.
Tags: COP28
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Parece que o debate sobre o papel da mídia na sociedade contemporânea foi o foco desse programa. Os professores Vitor Blotta e Bruno Paes Manso destacaram alguns pontos cruciais.
Blotta enfatizou que culpar a mídia por todos os problemas sociais não é justo, apontando que essa visão é muitas vezes trazida por pessoas que têm uma perspectiva muito centrada nos meios de comunicação. Ele também mencionou a desigualdade de acesso à informação, destacando que, apesar da disseminação da internet no Brasil, há disparidades significativas de acesso em áreas mais distantes das grandes cidades.
Manso realçou a importância do jornalismo na construção de uma sociedade democrática forte, salientando que os veículos de comunicação têm o papel de fiscalizar os órgãos públicos e expor eventuais desvios de poder em nome daqueles que não têm voz.
Ambos os professores parecem concordar que, apesar dos benefícios e problemas das mídias sociais, o jornalismo continua a ser um pilar essencial para a sociedade. Manso expressou preocupação com a falta de recursos financeiros para o jornalismo, sugerindo que isso pode comprometer a capacidade de produção de notícias de qualidade.
O debate parece girar em torno da dualidade da mídia: por um lado, sua importância na manutenção da democracia e na divulgação de informações relevantes, e por outro, os desafios que enfrenta, como a falta de recursos e a influência das redes sociais na disseminação de informações confiáveis.
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A mídia é essencial para a manutenção da democracia
Vitor Blotta e Bruno Paes Manso ressaltam a importância dos veículos de comunicação para a sociedade
Post category:Atualidades / Diálogos na USP / Programas / Rádio USP / TV USP
https://jornal.usp.br/?p=252123
14/06/2019 - Publicado há 4 anos
Por André Netto
É inegável o papel que as mídias têm hoje na sociedade. Seja para o bem ou para o mal, em suas mais variadas formas – falada, escrita, televisada e até aquela feita pelos meios virtuais e outros meios que sejam possíveis – inspiram discussões, ajudam a forjar ou a fortalecer um ponto de vista, informam e, muitas vezes, desinformam.
A mídia é essencial para a manutenção de uma democracia. No entanto, isso não significa que às custas deste argumento ela possa manipular, ainda que de forma velada, tudo aquilo que é veiculado, a fim de movimentar a massa social num determinado caminho, como muitos a acusam de fazer.
Nesse contexto, qual é o papel real da mídia na sociedade? Até que ponto deve atuar e quais os seus limites em um Estado verdadeiramente democrático? Ela merece ser demonizada, como muitos fazem? Ou deve ser vista como um instrumento essencial para a manutenção do Estado democrático de direito, mesmo com suas falhas?
Para responder a essas e outras questões sobre mídia e sociedade, o Diálogos na USP recebeu os professores Vitor Blotta, da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenador do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade do Instituto de Estudos Avançados da USP, e Bruno Paes Manso, economista e jornalista, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.
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Diálogos na USP - Mídia e Sociedade (Bloco 1)
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O programa Diálogos na USP debate sobre mídia e sociedade com os professores Bruno Paes Manso (NEV) e Vitor Blotta (ECA), apresentação Marcello Rollemberg – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
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O programa Diálogos na USP debate sobre mídia e sociedade com os professores Bruno Paes Manso (NEV) e Vitor Blotta (ECA), apresentação Marcello Rollemberg – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
Para Vitor Blotta, a mídia não pode ser condenada por todos os malefícios da sociedade. “Quem normalmente propõe esse argumento são aquelas pessoas que acabam trazendo, pelo papel que elas exercem na sociedade, uma perspectiva midiacêntrica”, afirmou o professor. Esta visão é configurada quando se observa tudo pelas lentes da mídia, de modo que “acaba-se amplificando as possíveis relações da mídia”.
Bruno Paes Manso ressaltou a importância dos veículos comunicacionais, argumentando que “o jornalismo é uma das soluções para uma sociedade democrática mais forte”. Ele também apontou para a importância da mídia como reguladora dos órgãos públicos, sempre atenta para “revelar os desvios para constranger os poderosos em nome de quem não tem poder”.
Blotta apontou que no Brasil atual há mais aparelhos celulares do que pessoas e, sendo assim, podemos considerar a internet como disseminada no País. Ainda assim, ele relembrou que há um grande porém: “Há uma desigualdade de distribuição e de acesso à rede. Em lugares mais distantes dos centros das grandes metrópoles do Brasil, a maioria dos planos de internet são pré-pagos e muitos desses com acesso apenas a WhatsApp e Facebook”, que não são fontes confiáveis de informação.
Manso destacou que, independentemente de seus efeitos serem bons ou ruins, as redes sociais já se afirmaram e não há como voltar ao passado. “A grande discussão é o jornalismo mesmo. Qual é o papel do jornalismo nisso?”, questionou. O professor também se demonstrou preocupado com a diminuição das verbas, alegando que “hoje não existe mais dinheiro para se fazer jornalismo, fora algumas exceções, não há mais capacidade econômica de bancar a produção de notícias, que é muito cara”.
Acompanhe a íntegra do programa pelos links acima.
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Diálogos na USP - Mídia e Sociedade (Bloco 2)
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"The Hamas organization is designated as a terrorist group by several countries, including the United States, Israel, the European Union, Canada, and others."
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Lourival Sant’Anna - Interesses mais fortes que a violência
O Estado de S. Paulo
O Oriente Médio vive uma distensão movida por interesses políticos e econômicos
As atrocidades cometidas pelo Hamas no dia 7 de outubro e a brutal resposta de Israel na Faixa de Gaza mobilizaram a Arábia Saudita e o Catar para evitar a escalada do conflito e demonstrar o valor estratégico de sua diplomacia.
A 10 de outubro, apenas três dias depois dos ataques e tomada dos reféns pelo Hamas, o governo do Catar contactou o dos EUA, para formarem uma força-tarefa para negociar sua libertação e tréguas nos combates. O esforço contou com o máximo sigilo, uma equipe muito pequena, e o acompanhamento constante do presidente Joe Biden e do emir Tamim bin Hamad alThani. Egito e Israel também foram envolvidos.
No dia seguinte, Riad foi sede de uma reunião de cúpula extraordinária da Organização de Cooperação Islâmica sobre a situação em Gaza. Ebrahim Raisi foi convidado, na primeira visita de um presidente iraniano ao reino saudita em mais de uma década. O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman (MBS), reuniu-se com ele. Irã e Arábia Saudita são rivais regionais.
PACTO. De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg, MBS ofereceu investimentos sauditas no Irã, em troca de o regime evitar que as milícias próiranianas no Líbano, Síria, Iraque e Iêmen entrassem na guerra contra Israel. Todos esses grupos intensificaram os ataques contra Israel, mas não em uma escala que pudesse ampliar a guerra.
O Irã está sob sanções de EUA e Europa e precisa desesperadamente de receitas em moeda forte. Sua maior fonte de recursos é a China, que compra seu petróleo a um preço abaixo do mercado. A Rússia emprega drones e foguetes iranianos na agressão contra a Ucrânia, em troca de alimentos e tecnologia de defesa.
A queda no poder aquisitivo da classe média, combinada com a repressão crescente, sobretudo contra as mulheres, tem ampliado o descontentamento e os confrontos com a polícia que abalam a imagem da teocracia iraniana.
Os dois movimentos, o catariano e o saudita, levam a marca da ambiguidade. O Catar tem mantido boas relações com o Irã, que o levaram a ser suspenso entre 2017 e 2021 do Conselho de Cooperação do Golfo, liderado pela Arábia Saudita.
AJUDA. O emirado tem dado ajuda financeira à Faixa de Gaza, governada pelo Hamas desde 2007, calculada em US$ 1 bilhão. Eu mesmo presenciei, em 2014, funcionários palestinos com coletes da agência catariano de cooperação internacional, avaliando os danos causados pelos bombardeios israelenses, de modo que o rico emirado pudesse enviar os recursos para a reconstrução. O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, vive em Doha.
Tudo isso vinha sendo feito em coordenação com Israel, que precisa de uma válvula de escape para as frustrações dos palestinos, e de uma ponte de interlocução com o Hamas. Catar e Israel não têm relações diplomáticas formais, mas há um escritório para assuntos catarianos no governo israelense. Atletas israelenses participam de eventos esportivos no Catar. Voos Tel-Aviv-Doha foram criados para a Copa de 2022.
Essas ligações se tornariam problemáticas depois dos ataques de 7 de outubro. O Catar se moveu rapidamente para transformá-las num ativo diplomático.
Quando o Hamas acusou Israel de não cumprir sua parte no acordo que possibilitou a trégua, um avião levando representantes do governo do Catar pousou sigilosamente no Aeroporto Ben Gurion em Tel-Aviv. O acordo foi salvo.
Desde 2014, Irã e Arábia Saudita travam uma guerra por procuração no Iêmen, considerada pela ONU a maior tragédia humanitária. Estima-se que ela tenha matado 377 mil pessoas: 150 mil diretamente e o restante de fome e doenças.
MILÍCIAS. O Irã patrocina a milícia dos houthis, minoria xiita no Iêmen. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU) apoiam o governo sunita. O presidente Abd Rabbu Mansour Hadi está exilado no reino saudita desde 2015.
Em março de 2022, a China mediou uma aproximação entre Arábia Saudita e Irã, visando à retomada de relações diplomáticas. No mês seguinte, sauditas e iranianos articularam uma trégua entre o governo iemenita e a milícia houthi. Hadi aceitou o acordo mediante a promessa de ajuda humanitária de US$ 3 bilhões. A trégua foi mantida mesmo depois de expirar o prazo do acordo, em outubro de 2022.
Como parte dessa estratégia, a China trouxe Irã, Arábia Saudita, EAU e Egito para o Brics, contra a vontade de Brasil e Índia. A guerra no Iêmen é um constrangimento para os EUA, fornecedores de armas para Arábia Saudita e EAU. Ao assumir o governo, em 2021, Biden suspendeu a venda de armas para os dois países, selada por seu antecessor, Donald Trump. Isso levou à aproximação entre Arábia Saudita e China. Apesar de sua aliança com o Irã, os chineses negociam a venda de armas à Arábia Saudita e ao Egito, ambos adversários da teocracia xiita, e rivais entre si.
DIPLOMACIA. Desde o governo Trump, os EUA realizam um pivô para o Oriente Médio, por meio dos Acordos de Abraão. EAU, Bahrein, Marrocos e Sudão normalizaram relações com Israel. Agora seria a vez dos sauditas. O ministro do Turismo de Israel, Haim Katz, visitou Riad no dia 26 de setembro, seguido pelo ministro da Comunicação, Shlomo Karhi, no dia 3 de outubro.
Quatro dias depois, o Hamas lançou seus ataques, destinados a interromper esse processo. O acordo incluía concessões de Israel para a Autoridade Palestina na Cisjordânia, rival do Hamas. Como se vê, o Oriente Médio vive um momento de distensão, movido por interesses econômicos e geopolíticos. Essa dinâmica se mostra mais forte do que o trauma causado pelas atrocidades do Hamas e pela resposta brutal de Israel.
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Neste artigo, Dorrit Harazim aborda a morte de Henry Kissinger, um arquiteto da política externa dos EUA, destacando sua influência no cenário global e sua insensibilidade em relação a países do "Sul" global. Harazim critica o legado de Kissinger, apontando seu envolvimento em ações questionáveis em várias partes do mundo, incluindo apoio a regimes repressivos e a queda de governos democraticamente eleitos. O artigo menciona seu suposto envolvimento em atrocidades no Chile, Vietnã, Camboja, Laos, Timor-Leste, entre outros países, ressaltando sua falta de consideração pelas vítimas dessas ações. A obra "The trial of Henry Kissinger" de Christopher Hitchens é citada como um libelo que o acusa de crimes de guerra, e Dorrit Harazim conclui que é hora de a opinião pública julgar o legado de Kissinger diante das homenagens póstumas.
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Dorrit Harazim - O lado B de Dr. K
O Globo
É imperativo computar na biografia de Kissinger horrores praticados no Vietnã, Camboja, Laos, Timor-Leste...
“Eu não desejo que Henry Kissinger descanse em paz”, fez saber ao mundo o dramaturgo de cidadania tripla (argentino-chileno-americano) Ariel Dorfman. Em artigo sobre a morte do artífice da realpolitik que moldou o mundo, Dorfman lamenta Kissinger ter podido morrer em paz, ainda influente aos 100 anos, na Washington que tanto o idolatrou e adulou, fora do alcance de qualquer tribunal internacional. “Espero, ao contrário, que os fantasmas das multidões por ele desgraçadas atormentem sua memória e persigam sua biografia”, escreveu o autor de “A morte e a donzela”.
Formalmente, Kissinger comandou a política externa dos Estados Unidos por menos de dez anos (1969 a 1977), mas suas pegadas na cartografia político-mundial são indeléveis. Primeiro como assessor de Segurança Nacional, depois como secretário de Estado nos governos Richard Nixon e Gerald Ford, dedicou seu formidável intelecto e exercitou todo o seu poder na busca de ordem entre as grandes potências. O mundo ao sul do Equador lhe foi meramente acessório.
— Não tenho qualquer interesse, tampouco tenho conhecimento da porção do mundo situada abaixo dos Pirineus — comentou em 1969 por ocasião de uma recepção em embaixada sul-americana.
A um diplomata chileno, explicou por que pouco entendia do país do interlocutor:
— Nada de importante pode vir do Sul. O eixo da História começa em Moscou, passa por Bonn, cruza o Atlântico até Washington e segue para Tóquio. O que acontece no Sul não tem importância.
Essa dicotomia fez com que ele conseguisse analisar de perto o mundo que lhe interessava. Manteve até o fim da vida clarividência sobre grandes questões como o futuro da Europa, a questão Rússia x Ucrânia, China x Taiwan, até mesmo Israel x palestinos. Em contrapartida, nunca estendeu sua visão realista da História para além do nariz. Kissinger considerava movimentos de protesto uma ameaça à estabilidade global, justificando assim seu apoio a regimes e métodos ignóbeis de repressão mundo afora.
— Não vejo por que devemos ficar parados e observar um país se tornar comunista pela irresponsabilidade de seu povo — foi seu resumo à derrubada do presidente chileno, democraticamente eleito, Salvador Allende.
Até hoje, passados 50 anos, ainda não se tem rastro de 1.162 desaparecidos no Chile, sem contar os mortos e torturados no arrastão empreendido pelos militares vitoriosos. No lado B da biografia de Kissinger, é imperativo computar horrores praticados no Vietnã, no Camboja e Laos, no Timor-Leste e Chipre, no Uruguai e Argentina, na Nova Guiné e Bangladesh, na África do Sul e Angola... A lista é extensa. As vítimas, sempre cidadãos do Sul global, não tinham peso moral ou político no “eixo da História” que interessava a Kissinger.
De início, sua corresponsabilidade nesses horrores respingou só de leve em sua extraordinária trajetória. Com o passar dos anos, porém, e à medida que documentos sigilosos do governo americano foram se tornando públicos, as manchas deixadas por suas pegadas aumentaram. Hoje tornaram-se indissociáveis de seu legado.
Data de 2001 a publicação do mais contundente livro-libelo contra o personagem. Intitulada “The trial of Henry Kissinger”, do polemista britânico Christopher Hitchens, a obra pretende demonstrar que o estadista mais relevante do século XX é, também e sobretudo, um criminoso de guerra. Na escrita ácida de Hitchens, sua realização maior e mais singular “foi conseguir ser chamado de doutor por meio mundo”. Data também de 2001 o primeiro sinal de limites à vida do ex-estadista tornado consultor da elite global. Na manhã de 29 de maio daquele ano, hospedado numa suíte do Hotel Ritz, em Paris, recebeu uma indigesta intimação judicial. O juiz Roger Le Loire o convidava a comparecer como testemunha ao tribunal, a pedido do advogado de vários cidadãos franceses desaparecidos no Chile da era Pinochet. Kissinger preferiu partir no mesmo dia para a Itália e deixou a cargo da embaixada americana a tarefa de se entender com a Justiça francesa. Por via das dúvidas, o célebre globetrotter nunca mais pisou na Europa. Sempre que participava do convescote anual de Davos, que a cada mês de janeiro reúne líderes mundiais, aspirantes à fama e elenco variado, se fazia presente via Zoom.
Ariel Dorfman, que acaba de publicar novo romance intitulado “The suicide museum”, uma investigação fictícia da morte de Allende, lamenta: “Eu sustentava um sonho impossível: ver Kissinger atrás das grades, responsabilizado por tanta dor. Com sua morte, meu sonho foi varrido”. Ele conclui que agora é o momento de a opinião pública fazer seu julgamento. Que cabe a cada um de nós, viventes, em nome da Humanidade, ouvir os murmúrios das vítimas de Kissinger em meio ao inevitável dilúvio de louvores e homenagens que falarão alto.
Que assim seja.
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Este artigo destaca a tensão entre Venezuela e Guiana em relação ao território de Essequibo, que vai às urnas em um referendo para decidir sobre a anexação à Venezuela. O texto menciona o aumento da presença militar brasileira na fronteira com a Venezuela para evitar uma invasão, ressaltando a renovação militar da Venezuela e sua capacidade estratégica na região, mas levanta dúvidas sobre a eficiência operacional desses equipamentos.
Destaca-se que a disputa sobre Essequibo remonta ao colonialismo na Amazônia, com argumentos de ambos os lados baseados em acordos históricos e laudos territoriais. O artigo indica que a crise se agravou com a descoberta de reservas de petróleo na região, aumentando o interesse econômico sobre Essequibo. O referendo sobre a anexação de Essequibo à Venezuela é parte da estratégia de Maduro para manter-se no poder, mas a consulta é questionada devido à falta de liberdade nas eleições venezuelanas.
O presidente guianês condenou as medidas tomadas pela Venezuela, enquanto o Brasil expressa o desejo de uma solução diplomática e pacífica para a controvérsia. O artigo alerta que um conflito na região pode suspender as eleições na Venezuela, revelando o verdadeiro objetivo de Maduro com a crise.
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Luiz Carlos Azedo - Maduro ameaça ir à guerra para adiar eleições
Correio Braziliense
Vive-se um clima de pré-eleitoral no país de Maduro, que tem se envolvido pessoalmente na campanha pelo “sim” para anexar pela força a região petrolífera de Essequibo
Para evitar que a Venezuela invada a Guiana pelo caminho mais fácil, a fronteira de Roraima com os dois países, o Ministério da Defesa aumentou a presença militar na região entre Bonfim, que dá acesso à Essequibo, e Pacaraima, porta de entrada dos venezuelanos no Brasil. A Venezuela vai às urnas neste domingo para votar em um referendo sobre a anexação pela força da região de Essequibo, que representa cerca de dois terços do atual território da antiga colônia inglesa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um papel importante para evitar o conflito, mas precisa impedir a passagem de tropas estrangeiras pelo território brasileiro.
A Venezuela reforçou sua capacidade militar nas últimas décadas, com destaque para a aquisição de armamentos russos, como caças Sukhoi Su-30MK2V, helicópteros Mil Mi-17, assim como baterias de mísseis S-300, carros de combate T-72, entre outros. Além disso, o país ainda adquiriu alguns aviões de transporte chineses Shaanxi Y-8, que se adicionaram a frota de helicópteros Cougar e Super Puma, franceses, caças F-16 norte-americanos, e tucanos, brasileiros, adquiridos bem antes.
Do ponto de vista militar, a Venezuela tem vantagem estratégica na Amazônia. Os jatos Su-30Mk2 tem poder de fogo, manobrabilidade, autonomia e alto desempenho; mísseis antiaéreos russos e radares chineses lhe conferem o melhor sistema de defesa aeroespacial da América do Sul. A força naval de Puerto Cabello também foi renovada. Há dúvidas sobre a capacidade operacional desses armamentos, por falta de manutenção. Cuba, Rússia e China são aliados do regime bolivariano. Apesar disso, se for à guerra, o presidente da Venezuela, Nícolas Maduro, embarcará numa aventura solitária, sem chance de final feliz.
Mais ou menos como os militares argentinos, no governo do tenente-general Leopoldo Galtieri, ao ocuparem as Ilhas Malvinas, controladas pelo Reino Unido. Era uma derrota anunciada. Em vez de arbitrar uma negociação, os Estados Unidos deram apoio logístico às forças armadas do Reino Unido, que retomaram as ilhas e infringiram uma derrota à Argentina que resultou no fim do regime militar. Vale lembrar que a Guiana, como ex-colônia, faz parte da Comunidade Britânica.
Com 160 mil km² e uma população de 120 mil pessoas, Essequibo é alvo de disputa desde 1899, quando esse espaço foi oficialmente entregue pela Holanda à Grã-Bretanha, que controlava a Guiana. A Venezuela, no entanto, não reconhece essa decisão e considera a região “em disputa”. Entretanto, a Guiana entrou com uma liminar na Corte Internacional de Justiça, em Haia, para suspender o referendo deste domingo e teve ganho de causa, mas a Venezuela não aceita a jurisdição da CIJ nesse caso e evoca o Acordo de Genebra de 1966 como único instrumento válido para resolver a controvérsia.
Colonialismo
É um conflito cuja origem é o colonialismo na Amazônia, com a divisão da Guiana em três: a francesa, que existe até hoje como departamento da França; a holandesa, que se tornou o Suriname; e a inglesa, que também se tornou independente. A Guiana afirma que existe um laudo de 1899, feito em Paris, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Na época, a Guiana era um território do Reino Unido. Já a Venezuela alega que o território é seu, porque assim consta em um acordo firmado em 1966 com o próprio Reino Unido, antes de a Guiana se tornar independente, no qual o laudo arbitral foi anulado e se estabeleceram bases para uma solução negociada.
A crise se intensificou em setembro, quando a Guiana resolveu explorar intensamente o petróleo na região. Essequibo tem uma floresta densa, que não despertava grandes interesses econômicos, até 2015, quando foi descoberto petróleo na região. São reservas estimadas em de 11 bilhões de barris, a maior parte “offshore”, ou seja, no mar, perto de Essequibo. A Guiana é o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
Neste domingo, a população do país dirá se quer que o território de Essequibo seja incorporado à Venezuela. Se disser não, será a maior derrota de Maduro, mas isso é muito difícil, porque as eleições na Venezuela não são livres. A consulta terá cinco perguntas, uma delas explicitamente sobre a anexação de Essequibo. Como sempre acontece em regimes autoritários, Maduro usa Essequibo como bandeira nacionalista para se manter no poder.
Depois de anos em crise, o país espera uma melhora econômica com a retirada das sanções econômicas dos Estados Unidos, sob condição de realizar eleições presidenciais limpas em 2024. O presidente guianês, Irfaan Ali, afirmou que as medidas tomadas pela Venezuela, como o referendo, são agressivas, infundadas e ilegais. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, declarou, ao fim da reunião que o Brasil deseja uma solução diplomática e pacífica para a controvérsia.Em caso de conflito, não haverá eleição na Venezuela, o verdadeiro objetivo de Maduro com a crise.
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