Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 24 de janeiro de 2021
Povo e sociedade civil: prudência e vontades; voto e palavras de ordem
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Vacina, emprego, liberdade, sossego. Essas palavras criam pontes e derrubam muros. É preciso elegê-las, priorizá-las, ao nos comunicar, responsavelmente, com o público mais amplo, seja usando um microfone, apertando uma tecla ou participando de uma carreata. São palavras mais eficazes que o “Fora Bolsonaro” para nos livrar do desgoverno. Com a vantagem de que não só nos libertam, mas constroem algo bom para o lugar da tragédia.
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Permitam-me, essa semana, fazer pouca análise. Há momentos em que de tão abundantes, elas se tornam contraproducentes, em seu objetivo de criar uma base racional comum para a discussão política. Quero, como muitos de nós neste instante, fazer uma exortação. Parto da premissa de que a mensagem pode se dirigir tanto a governantes quanto a governados, sem minimizar a óbvia diferença de papeis de uns e outros. Numa república democrática, todos fazem escolhas políticas, embora sejam bem distintas suas aplicações.
Faz menos de dois meses que brasileiros e brasileiras foram às urnas e deixaram um claro recado. Valorizaram bom governo em suas cidades e a política da moderação. Puseram em segundo plano a retórica e as performances populistas, bem como a polarização ideológica.
O que fazer diante disso? Seguir o recado ou tentar modificá-lo? Ambas as opções são possíveis e têm sua legitimidade e sua justificação racional. Seguir o recado das urnas tem como argumento o respeito a um senso comum, que deve orientar a conduta de qualquer democrata genuíno e dotado de bom senso. Tentar modificá-lo pode ter como argumento a razão fundada num dever ser alternativo a tudo isso que aí está a exigir mais contestação que moderação, e o objetivo, derivado dessa razão, de mobilizar a sociedade para essa luta.
Optar por um caminho ou outro depende, é claro, de circunstâncias. Mas não só. Existem diferentes modos de encarar a política que, uma vez adotados por uma pessoa, ou por uma organização, levam essa pessoa, ou organização, a tender para esse ou aquele caminho. Há quem deseje realizar suas ideias no mundo e, assim, encara a política como instrumento de uma causa projetada ao futuro, como alternativa abrangente aos males do presente. Há quem assume, como causa, a preservação do nosso mundo construído em comum, sendo a política uma atividade mais contida, capaz, porém, de aperfeiçoá-lo, de modo sustentável. Para os primeiros a palavra-chave é vontade. Para os segundos, prudência. O que não quer dizer que toda vontade política é imprudente nem que todo prudente abdica da vontade.
Para entender isso, distingamos o que são visões sobre a política (como instrumento de uma causa ou como ferramenta de melhoria), do que são atitudes políticas - modos, prudente ou voluntarista, de intervir politicamente, decidindo ou influindo sobre decisões. Assim, a visão política pode ser cheia de vontade, no sentido forte do progressismo e isso levar, de fato, a uma atitude voluntarista, mas é possível que um progressista adote uma atitude prudente, submetendo sua vontade a uma gradação, para mudar construindo. Já uma visão política de conteúdo prudencial pode assumir um sentido conservantista, até reacionário, o que constitui atitude política imprudente quando uma situação clama por mudanças. E pode ser prudencial no sentido moderado, acolhendo a mudança sustentável, aquela que não destrói o edifício, caso em que se combinam visão e atitude prudentes.
Imaginemos a diferença que faz a escolha entre essas duas atitudes (prudente e voluntarista) ser feita por quem governa e por quem faz oposição, não vindo ao caso aqui se cada um dos dois pode ser classificado como de direita, de esquerda ou de centro. É intuitivo esperar de quem governa uma atitude mais prudente e da oposição uma atitude mais animada pela vontade política. Mas é próprio da atividade e da vocação política, em ambos os campos, buscar o equilíbrio entre os dois impulsos. Pois nada muda, sempre que a vontade política da oposição é anulada. E nada funciona, sempre que a prudência falta no palácio. O recado das urnas de 2020 foi exatamente no sentido desse equilíbrio. Oposição sim, polarização forte não, para que as coisas mudem sem pararem de funcionar.
Prometi pouca análise, logo, não discutirei aqui se as elites políticas (governo e oposições) estão atendendo ao recado das urnas ou tentando alterar o script. No caso do governo, porque é óbvio, no das oposições, porque é controverso e espicharia demais a conversa. Vou tratar é de outra grande diferença que há em a atitude prudencial ou voluntarista ser adotada, não por políticos, de governo ou oposição, mas por cidadãos comuns, que pertencem à classe dos governados, em seu papel bem mais limitado de influir sobre decisões políticas. Sendo ainda mais preciso, vou me referir ao caso da opção por uma das duas atitudes ser feita por cidadãos quase comuns, isto é, governados que não são apenas eleitores - como todos os demais governados são – mas que, além disso, possuem situação social, e/ou informação cultural, e/ou organização política que lhes permitem tomar parte da chamada sociedade civil. É a essas pessoas que a exortação se dirige. Antes dela, porém, vamos pensar em mais um aspecto do problema da decisão sobre qual das atitudes tomar.
É intuitivo, mais uma vez, que se espere mais prudência dos governantes do que dos governados, pelo fato óbvio de que na mão dos governantes é que estão os principais instrumentos de poder. O fato de que numa democracia esse poder é legitimado pelo voto e limitado por uma Constituição só aumenta essa expectativa quanto à atitude política de quem governa. Mas, ai da república democrática que se fiar apenas nessa expectativa racional! É preciso que instituições constranjam a vontade política e obriguem os políticos a serem prudentes, do ponto de vista das atitudes. A vontade dos governos precisa ser sempre contida para que as de todos os governados sejam respeitadas. E a vontade das oposições também limitadas pela lei, para que a vontade da maioria seja cumprida.
Por fim, é intuitivo também que o mundo dos governados seja a residência das vontades saídas do livre pensar e do agir sem a responsabilidade de governar. E é bom que assim seja. Por ter sido delegado poder a representantes, a cidadania consiste em lembrá-los sempre desse laço original da representação, para que representantes não se sintam donos do poder político, não natural nem hereditário, mas criatura histórica da República. A mobilização de vontades, no eleitorado comum ou na sociedade civil (relembro aqui a distinção, que devo ao professor Cícero Araújo), não é alvo dos mesmos freios institucionais. Sua liberdade é regrada também, mas aí as regras são para assegurar seu exercício, não para limitá-lo. O que limita é outra coisa, chamada pluralidade social, aliada a pluralismo político, que todos são obrigados a respeitar, para que nenhuma organização social ou visão de mundo possa legitimamente pretender o timbre de estatal, ou oficial.
De tudo isso resulta legítimo e mesmo vital que eleitores e sociedade civil se manifestem com ampla liberdade e de modos distintos daqueles, mais forçosamente moderados, que se deve impor a políticos e mais ainda aos que ocupam governos. A radicalidade das manifestações não pode variar segundo o desejo de quem representa e governa e sim de acordo com o grau de satisfação dos governados. Se satisfeitos, calam; contrariados, reclamam; indignados, gritam. Contudo, todos os cidadãos, sem exceção, precisam ter responsabilidade social e lei como limites, a segunda comparecendo para coagir, caso falte a primeira. Vale tanto para crimes ambientais de empresas, como para greves selvagens.
A responsabilidade social varia também de acordo com a capacidade, de quem se manifesta, de afetar a vida e a opinião dos demais e de influir sobre decisões políticas. Participantes da sociedade civil têm uma responsabilidade a mais do que o eleitor comum. Esse algo mais tem um significado político que não é institucional, mas é importante como contribuição ao fomento de uma atitude cívica prudencial ou voluntarista, na medida em que são, ou podem ser, formadores de opinião. Não no sentido hierárquico, ultrapassado pela horizontalidade das redes, mas no de uma interação onde níveis de informação e experiências de organização podem ser trocados, em benefício maior de quem, a princípio, possua menos de ambas as coisas. Aqui começa, enfim, a prometida exortação.
Retorno ao recado das urnas, que é o meio primordial, senão o único, pelo qual o eleitor comum pode se manifestar. Penso ser animador que, em 2020, ele tenha valorizado a experiência política e administrativa, ao lado do equilíbrio e da moderação política. O desgoverno federal - que a pandemia escancarou - e a polarização extrema que grassava no país desde 2014, cobraram seus mais altos preços sobre o cotidiano dos cidadãos comuns, dentre eles os mais pobres, que são também pretos. Historicamente desprivilegiados no acesso a políticas financiadas pelo fundo público, distantes de redes de autoproteção social difusas na sociedade civil, são eles que morrem mais de Covid e são eles os que mais sofrem com as lacunas de ação resultantes do desvio de energias da política para embates ideológicos e guerras culturais. É racional que queiram mudanças na saúde, no emprego e na segurança e que esse seja um querer pragmático, próprio de quem, prudentemente, quer preservar seu mundo comum, tão duramente sustentado por uma labuta cotidiana, em ambiente inóspito. E que sua indignação cívica mais genérica se oriente menos a conflitos institucionais e mais a temas como desigualdade social e racial.
Sabemos que esse modo do mundo popular sentir a crise que atravessamos não coincide em muitos pontos com aquele que predomina na chamada sociedade civil. Mais uma vez nos pouparei de análise e me aterei ao explicitamente óbvio. No mundo da sociedade civil o que mais conta é o dever ser. Visões de mundo alternativas alimentadas por mentalidades progressistas, bastante inclinadas a ver política como vontade. Sentem os políticos e seu pragmatismo como adversários, ou melhor, concorrentes bem estabelecidos que não deixam os projetos alternativos vingarem. Gente empoderada que chegou antes e maneja os instrumentos que poderiam – imaginam - concretizá-los. Trata-se de conflito de interesses, mas a sociedade civil é também uma usina ideológica e, assim, nas universidades e em outras agências, vigoram teorias de que se trata só de bem comum.
Nesse terreno ativo e imaginativo, que se encontra a uma distância mediana e não a anos-luz dos centros de decisão, prospera, no momento, a ideia de que as 200 mil mortes que a incúria programada do governo provocou exigem a remoção imediata do chefe da organização criminosa. Acompanho sem ressalvas o diagnóstico, embora não essa conclusão política que dele vem sendo deduzida. Aqui não farei a discussão desse ponto porque não faltará oportunidade, uma vez que a palavra impeachment e o comando “Fora Bolsonaro” (ambos acompanhados do advérbio já) demorarão, pouco ou muito, na agenda do debate nacional. O que quero enfatizar neste texto é o desencontro entre essa leitura política da conjuntura, que avança na sociedade civil e busca pressionar a sociedade política, e o recado moderado das urnas, ainda fresco, de menos de dois meses atrás. Em si mesmo esse desencontro preocupa, ainda que seja possível e legítimo contra-argumentar que a posição do eleitorado pode mudar, seja pelo agravamento da crise, seja pelas luzes de uma sociedade mobilizada. Preocupa porque a experiência brasileira ensina que esse tipo de desencontro costuma dar em soluções autoritárias. É o tipo do jogo bruto, entre poderosos e desvalidos, no qual não se deve pagar para ver, muito menos blefar.
Friso (não devia ser preciso, mas é) que simpatizo muito com a ideia de impedir Bolsonaro de prosseguir destruindo e matando. Mas se ele me responder “e daí?”, não sei como poderia treplicar sem ser bravata. Ainda assim não me fecho à possibilidade de que o aceno, hoje inconsequente, possa vir a ser consequente amanhã. Mas aqui se trata de exortar, não de especular e a minha exortação é para que não se queime as pontes entre a vontade política que esquenta seus motores e o recado prudencial que recebemos das urnas. Que venham carreatas, mas não em detrimento da energia pacificadora que precisa ser prioritariamente carreada para a decisiva eleição, daqui a pouco mais de uma semana, da Mesa da Câmara dos Deputados, palco aliás de um virtual início de processo de impeachment. Quem disser que é briga de branco ou, mais educadamente, trabalho para a política “tradicional” e não para cidadãos ativos, está cego à alma participativa da democracia brasileira pós 88, comprovada em vários episódios cruciais. E quem candidamente disser que não há risco de uma coisa empatar a outra, pois, ao contrário, a campanha pelo impeachment só pode ajudar a vitória da frente democrática na Câmara, respondo com um “depende”. A justificativa dessa resposta é o arremate da exortação.
Carreatas estão programadas para esse final de semana. Se forem grandes e unitárias, na composição e no sentido das mensagens deixadas no trajeto, podem mesmo ajudar, de algum modo. Se forem pequenas, apenas deixarão de ajudar, mas não farão mal. Mas há uma hipótese em que podem atrapalhar não apenas ajudando a encalhar a baleia no seco como armando nuvens no horizonte que as eleições de 2020 começaram a desanuviar.
Manifestações por impeachment atrapalharão se essa palavra der lugar a gestos políticos paralelos ou concorrentes, manifestações da “esquerda” e da “direita”, tal como cogitado na imprensa. Implicará em que o restante das palavras proferidas, bem como as intenções comunicadas pelos gestos permaneçam opostas. Os discursos sobre o presente são ambos ácidos, mas não se entendem sequer sobre o passado, recente ou remoto, muito menos sobre o futuro. Os dois campos ideológicos exibirão suas feridas. Mas irão à rua como água e óleo, como se estivessem medindo forças para um confronto entre si, daqui a pouco.
Que País resultará disso senão o da reiteração da tragédia que vivemos hoje? País ao molde de estádios de futebol que só se pode frequentar conferindo a cor da camisa de quem se senta ao lado. Mundos demarcados por paralelas, sem ângulos, vértices, intersecções. Cada qual procura sua turma e grita, não importa se o grito lhe une ou lhe separa do irmão, do filho, do vizinho, do colega de trabalho, do conterrâneo, do concidadão. Do outro enfim, sem o qual você não pode viver.
Vacina, emprego, liberdade, sossego. Essas palavras criam pontes e derrubam muros. É preciso elegê-las, priorizá-las, ao nos comunicar, responsavelmente, com o público mais amplo, seja usando um microfone, apertando uma tecla ou participando de uma carreata. São palavras mais eficazes que o “Fora Bolsonaro” para nos livrar do desgoverno. Com a vantagem de que não só nos libertam, mas constroem algo bom para o lugar da tragédia.
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- Paulo Fábio Dantas Neto*
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*- Cientista político e professor da UFBa.
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domingo, 24 de janeiro de 2021
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Fonte:
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https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/01/paulo-fabio-dantas-neto-povo-e.html
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Recado
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Recado - Nara Leão
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Leva o recado
a quem me deu tanto desabor
diz que eu vivo bem melhor assim
e que no passado fui
um sofredor
e agora já não sou
o que passou, passou (2x)
Vá dizer à minha ex amada
Que é feliz meu coração
Mas que nas minhas madrugadas
Eu não me esqueço dela não
Leva o recado
a quem me deu tanto desabor
dia que eu vivo bem melhor assim
e que no passado fui
um sofredor
e agora já não sou
o que passou, passou
e agora já não sou
o que passou, passou
e agora já não sou
o que passou, passou
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Composição: Paulinho Da Viola-Casquinha.
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https://www.cifraclub.com.br/nara-leao/710244/letra/
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PROTESTO
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Marcha em Brasília transforma a expressão criada pelo presidente em uma ironia com o governo
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"Voz rouca das ruas" vira-se contra FHC
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CLÓVIS ROSSI
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do Conselho Editorial
A "Marcha dos 100 Mil" acaba sendo o instrumento para uma tremenda ironia: de alguma forma, coloca o governo Fernando Henrique Cardoso como prisioneiro de uma expressão ("a voz rouca das ruas") que o próprio presidente criou, em janeiro de 1997, para pedir ao Congresso que apressasse a votação das reformas constitucionais, entre elas a que permitia a reeleição.
Supunha, então, o presidente que a "voz rouca das ruas" pedia que lhe fosse concedido o direito de disputar a reeleição, em um momento de alta popularidade de quem era identificado como o vencedor do dragão da inflação. Ganhou.
Agora, até aliados do governo, como o presidente da Câmara, Michel Temer, insinuam que a "voz rouca das ruas" está pedindo mudanças, se não no comando do governo pelo menos na política econômica.
É claro que seria um exagero confundir a manifestação de ontem, organizada pelos partidos de oposição, com a totalidade da "voz rouca das ruas". Militantes oposicionistas se manifestam contra o governo por definição, ainda que não tenham necessariamente o respaldo dos demais.
Mas os políticos, com antenas sempre ligadas para captar os sinais da rua, por necessidade de sobrevivência, sabem que os manifestantes de ontem (qualquer que seja o número que cada um preferir aceitar como mais próximo da verdade) são a expressão objetiva, para câmeras de TV e fotógrafos, da massa amorfa que, majoritariamente, considera "ruim/péssimo" o governo FHC, conforme mostram todas as pesquisas recentes.
Daí a traduzirem o inexequível "fora FHC" ou "basta de FHC" por "mudanças-já" é um passo. No fundo, o que está em jogo é menos o impeachment e, muito mais, a política econômica e seus efeitos sociais.
"O presidente não tem por que não ouvir o que foi dito sobre saúde, educação, desemprego", afirma, por exemplo, o deputado Inocêncio Oliveira (PE), líder na Câmara do maior partido de sustentação do governo, o PFL.
De certa forma, é a repetição, em ponto infinitamente menor, é claro, do que ocorreu com a campanha das "Diretas-Já" de 1984-85. Pedia-se a volta das eleições diretas como instrumento para mudanças nas políticas.
Tanto que se aceitou, derrotado o movimento no Congresso, a mudança pela via indireta mesmo, na forma da candidatura de Tancredo Neves.
Agora também, como admitiram reservadamente os líderes da "Marcha" a dirigentes do Congresso, o objetivo é mais o de praticar "um gesto político", o que foi conseguido, do que obter a CPI sobre a privatização das teles e, por meio dela, tentar abrir um processo por crime de responsabilidade contra o presidente.
De todo modo, o fato de o "gesto político" ter tido êxito não esconde a dificuldade de soldar a oposição em um bloco de fato coeso e, ao mesmo tempo, conseguir para futuros "gestos" a adesão de entidades da sociedade civil (como a OAB e a ABI) que foram importantes nas "Diretas-Já" e no movimento pelo impeachment de Fernando Collor.
Setores ou lideranças oposicionistas, como Leonel Brizola e o MST, insistem em pedir a renúncia de FHC.
A maioria do PT entende, no entanto, que não se pode cobrar o que é ato unilateral de vontade do presidente, sob pena de o movimento se esterilizar.
Agora, oposição e governo cuidarão, cada um a sua maneira, de entender o recado dado pela "voz rouca das ruas", que criou o primeiro fato político relevante de parte da oposição nos quatro anos, sete meses e 26 dias do reinado de FHC.
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Texto Anterior: Para Itamar, ato deve gerar "lição"
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Próximo Texto: Cinco anos depois, presidente vê "o outro lado da moeda"
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Índice
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Fonte:
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FOLHA DE S.PAULO
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São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc27089913.htm
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Mascarada/ Minhas Madrugadas/ Injúria/ Recado/ O Sol Nascerá (A Sorrir)/ Jurar com Lagrimas/ Rosa de Ouro
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Lyrics from “Mascarada” by Zé Kéti and Élton Medeiros (1964)
Vejo agora esse teu lindo olhar/ I see your beautiful gaze
Olhar que eu sonhei/ A sight I dreamed of
E sonhei conquistar/ And dreamed of winning over
E que num dia afinal conquistei, enfim/ And that in the end one day I won over at last Findou-se o carnaval/ Carnival ended
E só nos carnavais/ And only during Carnivals
Encontrava-me sem/ I’d find myself unable
Encontrar este teu lindo olhar, porque/ To find your beautiful gaze, because
O poeta era eu/ I was the poet
Cujas rimas eram compostas/ Whose rhymes were composed
Na esperança de que/ Of the hope that
Tirasses essa máscara/ You’d remove that mask
Que sempre me fez mal/ That always caused me pain
Mal que findou só/ Pain that ended only
Depois do carnaval/ After Carnival
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Lyrics from “Minhas Madrugadas” (Paulinho da Viola/ Candeia, 1965)
Vou pelas minhas madrugadas a cantar/ I go along through my late nights, singing
Esquecer o que passou/ To forget all that happened
Trago a face marcada/ I show wear and tear
Cada ruga no meu rosto/ Every wrinkle on my face
Simboliza um desgosto/ Represents a hardship
Quero encontrar em vão o que perdi/ I want to find in vain what I lost
Só resta saudade/ Only saudade remains
Não tenho paz/ I have no peace
E a mocidade/ And my youth
Que não volta mais/ That will never return
Quantos lábios beijei/ How many lips I kissed
Quantas mãos afaguei/ How many hands I caressed
Só restou saudade no meu coração/ Only saudade is left in my heart
Hoje fitando o espelho/ Looking in the mirror today
Eu vi meus olhos vermelhos/ I saw my bloodshot eyes
Compreendi que a vida/ And understood that the life
Que eu vivi foi ilusão/ I lived was an illusion
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Lyrics from “Injúria” by Élton Medeiros and Cartola
Pois é/ That’s right
Tudo começou assim/ That’s how it all started
Alguém se vingou em mim/ Someone took revenge on me
Inventando o que eu não pratiquei/ Making up something I hadn’t done
Pois é/ That’s right
Só deus sabe o quanto amei/ Only god knows how much I loved
Por te amar tanto chorei/ For loving you how I cried
E chorando levo a coisa até o fim/ And crying I take the thing to its end
Não sei como foste acreditar/ I don’t know how you came to believe
Em mentira tão vulgar/ In such a vulgar lie
De um sujeito tão vulgar também/ From such a vulgar guy what’s more
Sofri a maior decepção/ I’ve suffered the greatest disillusion
Tentarei te esquecer/ I’ll try to forget you
Pois te amar foi ilusão/ Because loving you was an illusion
Não sei porque foste derrubar/ I don’t know why you went and knocked down
O castelo que eu fiz/ The castle I built
Em meu castelo era tão feliz/ In my castle I was (or you were) so happy
—
Lyrics from “Recado” by Paulinho da Viola and Casquinha (1965)
Leva um recado/Take a note
A quem me deu tanto dissabor/ To the one who caused me such bitterness
Diz que eu vivo bem melhor assim/ Say that I live much better like this
E que no passado fui um sofredor/ And that in the past I was a wretch
E agora já não sou/ And now I’m not anymore
O que passou, passou/ The past is the past
E agora já não sou/ And now I’m not anymore
O que passou, passou/ The past is the past
{bis}
Vai dizer à minha ex-amada/ Go and tell my ex-love
Que é feliz meu coração/ That my heart is happy
Mas que nas minhas madrugadas/ But that in my late nights
Eu não esqueço dela, não/ I haven’t forgotten her
Leva um recado!/ Take a note
—
Lyrics from “O Sol Nascerá (A Sorrir)” by Cartola and Élton Medeiros (1963)
A sorrir/ Smiling
Eu pretendo levar a vida/ I intend to lead my life
Pois chorando/ Because crying
Eu vi a mocidade/ I saw my boyhood
Perdida/ Lost
Finda a tempestade/ Once the storm’s over
O sol nascerá/ The sun will come out
Finda esta saudade/ Once this saudade is over
Hei de ter outro alguém para amar/ I’ll find someone else to love
—
Lyrics from “Jurar Com Lágrimas” by Paulinho da Viola (1965)
Jurar com lágrimas/ Swearing with tears
Que me ama/ That you love me
Não adianta nada/ Won’t get you anywhere
Eu não vou acreditar/ I won’t believe it
É melhor nos separar/ It’s better for us to split up
Não pode haver felicidade/ There can’t be bliss
Se não há sinceridade/ If there’s no sincerity
Dentro do nosso lar/ In our home
Se aquele amor não morreu/ If that love hasn’t died
Não precisa me enganar/ You don’t need to try to fool me
Que seu coração é meu/ That your heart is mine
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Lyrics from “Rosa de Ouro” by Paulinho da Viola, Élton Medeiros and Hermínio Bello de Carvalho (1965)
Ela tem uma rosa de ouro nos cabelos/ She has a golden rose in her hair
E outras mais tão graciosas;/ And others too so lovely
Ela tem outras rosas que são os meus desvelos/ She has other roses that are my devotion
E seu olhar faz de mim um cravo ciumento/ And her gaze turns me into a jealous thorn
Em seu jardim de rosas/ In her garden of roses
Rosa de ouro, que tesouro/ Golden rose, what a treasure
Ter essa rosa plantada em meu peito!/ To have this rose planted in my heart
Rosa de ouro, que tesouro/ Golden rose, what a treasure
Ter essa rosa plantada no fundo do peito!…/ To have this rose planted deep in my heart…
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Paulinho da Viola and Élton Medeiros. Photo via Instituto Moreira Salles.
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I translated all of these together because they’re all recorded as a single medley track on the album Samba na Madrugada (1966). In April 1966, just before leaving for the First Festival of Black Arts in Dakar, Senegal, Paulinho da Viola and Élton Medeiros hurriedly recorded the album, which became an enduring samba classic. (It was supposed to be called Na Madrugada, but the record company misprinted the name, and it stuck.)
According to Élton Medeiros, in an interview recorded in 1985 for the General Archive of the City of Rio de Janeiro, he and Paulinho recorded the album in a single night on the eve of their trip to Africa, from 9 p.m. to 6 a.m. Medeiros laughed as he recalled the other musicians joking that “Benil [Santos, the album’s producer] thinks you’re going to die on that plane,” because Santos was in such a rush to record everything before they left.
Medeiros said that by the middle of the night he was exhausted, and the album included moments of him falling asleep, including at the beginning of the first song in this ‘potpourri,’ or medley, “Mascarada.” He said he could be heard nodding off as the song began but that they were in too much of a rush to do a retake.
In 1968, the renowned music critic Luiz Carlos Maciel wrote in the Rio daily Correio da Manhã that the album transmitted a “pleasant spontaneity,” with performances offering the “freshness of improvisation”; Medeiros’s description of the recording session helps to explain that vibe. Maciel praised Samba na Madrugada as a model samba album, beginning, “O samba carioca has its traditions. And almost all of them can be found on this LP by Paulinho da Viola and Élton Medeiros.” He wrote that the collection of sambas revealed “roots on the morro” — the favela — “but a trunk nurtured by the asphalt,” or more refined city below.
Medeiros recalled that he and Paulinho were in a bit of a fight at the time with Zé Kéti, with whom they had been performing and recording as A Voz do Morro since they all began to frequent Cartola’s restaurant Zicartola together in 1964. So they abandoned A Voz do Morro and decided, upon Benil Santos’s urging, to record an album on their own.
The trombonist on the album is Raul de Barros, who also traveled with the Brazilian delegation to the festival in Senegal. Élton Medeiros played trombone as a teenager, and had always been a vocal admirer of the instrument. He stopped playing when the friend whose trombone he had borrowed asked for it back; after that, he said he went into a botequim and bought a matchbox — a cheaper and more portable instrument. He can be heard playing matchbox on this recording.
A couple notes on the other songs here: “Recado” was the first samba Paulinho da Viola played when he went in late 1964 to Portela Samba School. When the composers there asked him to show them one of his compositions, he played the first part of “Recado” twice and recalls that Casquinha jumped in with the second part on the spot.
Cartola and Élton Medeiros also composed “O Sol Nascerá (A Sorrir)” on the spot when challenged to compose a samba one night at the house on Rua das Andradas that prefigured Zicartola.
Main source for this post: Élton Medeiros depoimento para o Projeto Memória Músical Carioca, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 4 July 1985.
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fONTE:
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Published by lyricalbrazil
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My name is Victoria Broadus and I'm currently living in Washington, D.C., pursuing a PhD in History at Georgetown University. I learned Portuguese while working toward a Master's degree at Georgetown back in 2008/09, which is also when I began traveling to Brazil. I started this site in late 2011 when I was living in New York City, missing Brazil but fortunate to be surrounded by lots of great opportunities to hear Brazilian music. I wanted to share that music with friends and family and any other readers out there who wonder what the songs they're listening to are saying, and why. From 2012-2017 I lived in Brazil -- first São Paulo for a year, then Rio for nearly five -- before coming back to the United States for my PhD program. Because of the demands of the PhD program, I haven't been able to post as frequently as I'd like, but am still writing whenever I can and when inspiration strikes! Please let me know if there is a song you would like translated or would like to hear more about. You can leave a comment here or anywhere else on the site, or on the Facebook page. You can follow the blog by clicking "Follow" at the bottom of the main page, and follow blog posts and other updates on Facebook: www.facebook.com/lyricalbrazil. View all posts by lyricalbrazil
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