Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
"Mandetta muito bem."
...a necessidade de uma prática médica impregnada de humanismo.
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“As pessoas não morrem, ficam encantadas”
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Doutor João Guimarães Rosa
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"(...) O que vimos foi uma intervenção militar burra. (...)"
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ex-ministro da Saúde Doutor Luiz Henrique Mandetta
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Manhattan Connection | 27/01/2021
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TV Cultura
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O Manhattan Connection desta quarta-feira (27/1) entrevista o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e a economista Zeina Latif. Na edição inédita, eles falam - respectivamente - sobre a vacina contra a Covid-19 e do cenário econômico brasileiro e mundial, agora e no futuro. Apresentado por Lucas Mendes, Pedro Andrade, Caio Blinder, Diogo Mainardi e Angélica Vieira.
O programa também discute a primeira semana de Joe Biden no poder, o possível impeachment de Donald Trump e a pressão pelo afastamento de Jair Bolsonaro. A atração ainda traz a história do filho que denunciou o pai como extremista e recebeu um forte apoio na Internet.
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Disponivel em:
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https://www.youtube.com/watch?v=p_1WGNUE20o&feature=youtu.be
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Acesso em:
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28/01/2021
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"Viva a velha política"
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'Mandetta muito bem. Dá a ideia de ser capaz de baixar a bola. Mais "nacional" do que os dois paulistas (Huck e Doria). Discurso pró-Saúde na ponta da língua.
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Não depende só dele, mas está somando pontos para ser o candidato do centro político e evitar a repetição do desastre de 2018 (capitão ou general X Boulos).
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Pode ser.
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Viva a velha política.'
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Guimarães Rosa e a medicina
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Luiz Otávio Savassi Rocha
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Palavras-chave: Medicina, Humanismo, Psicopatologia, Tabagismo, Guimarães Rosa
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Resumo
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Guimarães Rosa ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (hoje Faculdade de Medicina da UFMG) com 17 anos incompletos. Em 1926, quando cursava o 2º ano, pronunciou, no anfiteatro da Faculdade, diante do ataúde de um estudante vitimado pela febre amarela, as palavras “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, que, ouvidas na ocasião por seus colegas Alysson de Abreu e Ismael de Faria, seriam repetidas, 41 anos depois, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras. Graduou-se em 1930 e, escolhido orador da turma, chamou a atenção dos doutorandos para a necessidade de uma prática médica impregnada de humanismo. Recém-formado, clinicou, durante cerca de um ano e meio, em Itaguara; em abril de 1933, após ter participado, como médico voluntário da Força Pública, da Revolução Constitucionalista, transferiu-se para Barbacena, na condição de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Em Barbacena, concluiu que deveria abandonar a Medicina, deixando clara sua intenção em carta datada de
20/3/1934, enviada ao amigo Pedro Moreira Barbosa: “Não nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia Don Juan, sempre ‘après avoir couché avec’”. Mas, mesmo abraçando a carreira diplomática – prestou concurso para o Itamaraty em meados de 1934 –, abordou, com maestria, em sua obra literária, temas médicos como a malária (“Sarapalha”), a doença mental (“Soroco, sua mãe, sua filha”), o acidente ofídico (“Bicho mau”) e a miopia (“Campo geral”). Como costuma acontecer com os tabagistas inveterados – máxime se sedentários e de índole emotiva –, morreu subitamente em 19/11/1967. É verdade que, dez anos antes, em carta endereçada a Paulo Dantas, admitira ter parado de fumar, “desafiando a fome-e-sede tabágica das pobrezinhas das células cerebrais”; não obstante, em 1966, ao receber do governador Israel Pinheiro a Medalha da Inconfidência, segurava um cigarro com a mão esquerda.
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Referências
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ARRIGUCCI JR., Davi. Guimarães Rosa e Góngora: metáforas. In: ARRIGUCCI JR., Davi. Achados e perdidos: ensaios de crítica. São Paulo: Polis, 1979. p. 131-137.
BECKER, Ernest. O que a psicanálise realizou até agora. In: BECKER, Ernest. A negação da morte. Trad. Otávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976. Cap. 9, p. 205-238.
CANNON, Walter Bradford. “Voodoo” death. American Anthropologist. Arlington, VA: American Anthropological Association, v. 44, n. 2, p. 169-181, Abr./Jun., 1942.
COUTINHO, Antônio Augusto de Lima. Inexplicável trajeto de uma bala. In: COUTINHO, Antônio Augusto de Lima. A messe de um decênio. Itaúna, 1932. p. 126-134.
DANTAS, Paulo. Cartas de J. Guimarães Rosa. In: DANTAS, Paulo. Sagarana emotiva. São Paulo: Duas Cidades, 1975. p. 51-114.
DANTAS, Paulo. Humor negro e depressivo no Itamarati. In: DANTAS, Paulo. Através dos sertões. São Paulo: Massao Ohno, 1996. p. 99-101.
LANG, Bernhard. Der kranke Prophet. In: LANG, Bernhard. Ezechiel: Der Prophet und das Buch. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1981. Cap. 3, p. 57-76.
MELLO, Antônio da Silva. A morte de Guimarães Rosa. Ocidente, Lisboa, v. 75, p. 226- 238, 1968.
MONEGAL, Emir Rodriguez. Em busca de Guimarães Rosa. In: COUTINHO, Eduardo de Faria (Org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Brasília: INL, 1983 (Coleção Fortuna Crítica, v. 6).
PALMÉRIO, Mário de Ascensão. Errância através do mundo roseano. In: PROENÇA, Ivan Cavalcanti (Org.). Mário Palmério: seleta. Rio de Janeiro: J. Olympio/Brasília: INL, 1973.
RODRIGUES, Nelson. Reze menos por mim. In:RODRIGUES, Nelson. O óbvio ululante: primeiras confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 21-24.
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1968.
ROSA, João Guimarães. Noites do sertão. 4. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1969.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 8. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972.
ROSA, João Guimarães. Ave, palavra. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970.
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Fonte:
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v. 6 n. 10 (2002): Edição especial II Seminário Internacional Guimarães Rosa - Rotas e roteiros
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Disponível em:
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http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/12403
Acesso em:
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28/01/2021
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•••••• [SOBRE JOÃO] ••••••
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UM CHAMADO JOÃO
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Carlos Drummond de Andrade
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João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?
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Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?
***
Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
ciranda multívoca?
João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada?
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bolso,
cada qual com a cor de suas águas?
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gota redigia nome,
curva, fim,
e no destinado geral
seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus novos?
***
Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamado geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?
***
E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
Tinha parte com... (não sei
o nome) ou ele mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?
***
Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar.
***
(publicado originalmente no Correio da Manhã, em 22/11/1967, três dias após a morte de Guimarães Rosa)
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Casa onde nasceu o escritor, hoje Museu Casa de
Guimarães Rosa, em Cordisburgo, MG.
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•••••• [DE JOÃO] ••••••
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REPORTAGEM
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O trem estacou, na manhã fria,
num lugar deserto, sem casa de estação:
a parada do Leprosário...
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Um homem saltou, sem despedidas,
deixou o baú à beira da linha,
e foi andando. Ninguém lhe acenou...
***
Todos os passageiros olharam ao redor,
com medo de que o homem que saltara
tivesse viajado ao lado deles...
***
Gravado no dorso do bauzinho humilde,
não havia nome ou etiqueta de hotel:
só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo
[ Socorro...
***
O trem se pôs logo em marcha apressada,
e no apito rouco da locomotiva
gritava o impudor de uma nota de alívio...
***
Eu quis chamar o homem, para lhe dar um
[ sorriso,
mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,
como quem não tem frente, como quem só
[ tem costas...
***
SARAPALHA
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(trecho inicial)
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Tapera de arraial. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e o cemitério; e a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu.
Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para o arroz. E o lugar esteve nos mapas, muito antes da malária chegar.
Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou caminho, entrou na boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão da brava — da "tremedeira que não desamontava" — matando muita gente.
— Talvez que até aqui ela não chegue... Deus há-de...
Mas chegou; nem dilatou para vir. E foi um ano de tristezas.
Em abril, quando passaram as chuvas, o rio — que não tem pressa e não tem margens, porque cresce num dia mas leva mais de mês para minguar — desengordou devagarinho, deixando poços redondos num brejo de ciscos: troncos, ramos, gravetos, coivara; cardumes de mandis apodrecendo; tabaranas vestidas de ouro, encalhadas; curimatãs pastando barro na invernada; jacarés, de mudança, apressados; canoinhas ao seco, no cerrado; e bois sarapintados, nadando como búfalos, comendo o mururê-de-flor-roxa flutuante, por entre as ilhas do melosal. Então, houve gente tremendo, com os primeiros acessos da sezão.
— Talvez que para o ano ela não volte, vá s'embora...
Ficou. Quem foi s'embora foram os moradores: os primeiros para o cemitério, os outros por aí afora, por este mundo de Deus.
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PÍLULAS DO GRANDE SERTÃO
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Coração de gente — o escuro, escuros.
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Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
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Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.
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No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço!
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Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de
estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.
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O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.
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Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
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A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.
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O diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!
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O diabo na rua, no meio do redemunho.
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O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos... Pois, não existe! E se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele?
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Quem muito se evita, se convive.
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Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.
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O que lembro, tenho.
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Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.
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Quem mói no asp'ro não fantaseia.
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Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o
sentir da gente.
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Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.
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Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?
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Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores.
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Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.
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Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.
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Toda saudade é uma espécie de velhice.
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Riu de me dar nojo. Mas nojo medo é, é não?
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Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.
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Tudo é e não é.
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Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.
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Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!
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O sertão é do tamanho do mundo.
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Sertão é dentro da gente.
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O sertão é sem lugar.
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O sertão não tem janelas, nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.
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O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena.
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O sertão é uma espera enorme.
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Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.
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A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.
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A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver.
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Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso.
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Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.
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Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...
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Feito flecha, feito fogo, feito faca.
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Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.
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Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília. // Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor.
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João Guimarães Rosa
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• "Reportagem"
In Magma
Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1997
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• "Sarapalha" (trecho)
In Sagarana
Círculo do Livro, São Paulo, 1984
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• "Pílulas do Grande Sertão"
In Grande Sertão: Veredas
Abril Cultural, São Paulo, 1983
Carlos Drummond de Andrade
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• "Um chamado João"
In Poesia Completa
(seção Versiprosa)
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 2003
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Fonte:
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poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2005
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Disponíel em:
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http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet148.htm
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Acesso em:
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28/01/2021
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