Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 30 de janeiro de 2021
Epifania do Senhor Deputado Federal Ulysses Guimarães
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O que acontece quando uma pessoa tem uma epifania
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TRANSFORMAÇÕES *** O dia 2 de dezembro de 1954 marcou uma mudança profunda no perfil político de Ulysses Guimarães. Até então, como haveria de reconhecer mais tarde, fora um parlamentar inexpressivo, que vivia de pegar verbas e de fazer pequenos serviços para seus eleitores. Ele conta como aconteceu o estalo que mudaria sua trajetória, dentro de um Chevrolet preto, quando tinha 38 anos.
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Chevrolet Bel Air 1954 Sunstar 1:18 Preto
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Perfil - Ulisses Guimarães
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2016 . Ano 13 . Edição 88 - 23/11/2016
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A longa odisseia pela Democracia
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Símbolo da resistência contra a ditadura e da luta pela Constituição de 1988, combatida pelos arautos do “mercado”, ex‑deputado deixou um legado político sem paralelo
Carol Arantes – São Paulo
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Se é verdade que algumas pessoas vêm ao mundo predestinadas a cumprir uma missão, esse foi, seguramente, o caso de Ulysses da Silveira Guimarães, um dos homens públicos mais importantes do Brasil no século passado. Assim como o rei de Ítaca, do poema épico de Homero, ele também enfrentou uma odisseia: a luta incansável, nas águas turbulentas da ditadura militar, para que o país conquistasse as liberdades democráticas.
Primeiro dos cinco filhos do coletor federal Ataliba Silveira Guimarães e da professora primária Amélia Correia Fontes Guimarães, Ulysses nasceu em Rio Claro, interior paulista, no dia 6 de outubro de 1916. Estaria. portanto, completando neste ano seu centenário. Dividiu a infância e a adolescência entre o sonho da mãe de vê‑lo se tornar um pianista e o interesse pela política, alimentado nas conversas com o pai, um homem sensível às causas populares. Com o teclado, veio a paixão pela literatura, estimulada por Alzira, a primeira professora de piano.
A política, no entanto, haveria de se impor, naturalmente, na vida do ex‑deputado, que desde criança manifestava o dom da palavra. Em seu livro Dr. Ulysses, uma biografia, o jornalista A. C. Scartezini conta que o garoto costumava reunir os primos para exercitar a oratória. “Levava os meninos ao seu quarto, colocava‑os como plateia para ouvir os discursos que ia improvisando”.
Depois de formado na Escola Normal de Lins, onde a família se radicara, Ulysses embarcou para a capital e passou no vestibular para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco. Enquanto estudava, dava aulas de latim e história em colégios da cidade. Nas folgas, frequentava a casa do escritor Mário de Andrade, de quem foi aluno de piano. Em 1939, ganhou o título de Maior Prosador das Arcadas em um concurso promovido pela Academia Paulista de Letras.
A POLÍTICA Após intensa militância estudantil, como vice‑presidente da UNE, no futebol, como presidente do Santos e como secretário da Federação Paulista de Futebol, ingressou na política no fim do Estado Novo. Elegeu‑se deputado estadual pelo PSD à Assembleia Constituinte de São Paulo, em 1947, e destacou‑se pela defesa dos municípios contra o excesso de arrecadação de tributos estaduais.
A projeção nacional veio em 1950, aos 34 anos. Eleito deputado federal, Ulysses conquistou assento em uma Câmara que tinha entre seus integrantes veteranos como Afonso Arinos, Benedito Valadares e Bilac Pinto. Juntamente com o baiano Antônio Balbino e os mineiros Lúcio Bittencourt e Tancredo Neves, atuou na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Vivenciou um dos períodos mais turbulentos da História republicana, que culminaria no suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954.
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Tancredo Neves e Ulysses Guimarães em evento do PMDB, em 1984
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Mortes como as do jornalista
Vladimir Herzog e do operário
Manuel Fiel Filho, após serem
torturados, comoveram
o país. Por outro lado, o
milagre econômico chegara
ao fim e a crise alimentava
a insatisfação social
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TRANSFORMAÇÕES O dia 2 de dezembro de 1954 marcou uma mudança profunda no perfil político de Ulysses Guimarães. Até então, como haveria de reconhecer mais tarde, fora um parlamentar inexpressivo, que vivia de pegar verbas e de fazer pequenos serviços para seus eleitores. Ele conta como aconteceu o estalo que mudaria sua trajetória, dentro de um Chevrolet preto, quando tinha 38 anos.
“De repente, tomei consciência do que fazia naquele táxi. Enfrentando o calor do Rio de Janeiro de quase meio‑dia, sobraçava minha pastinha de documentos para mais uma ronda pelos ministérios e repartições públicas, levando pedidos de prefeitos e eleitores. Naquele momento, decidi que não estava na política para ser um despachante, nem o Estado que eu imaginava tinha lugar para aquele tipo de política. Não importava que aquela fosse a medida de presunção brasileira da eficiência dos parlamentares. [...] O que queria da política era coisa bem diferente. Nunca mais voltaria àquelas peregrinações”.
Em fevereiro de 1955, casou‑se com Ida de Almeida e Silva, a dona Mora, irmã de um amigo. Mora era viúva e tinha dois filhos: Tito Henrique e Celina, ainda crianças. Brincalhona, dona Mora fazia humor sobre o noivo na frente das amigas, às vésperas do casamento. “Fui casada com um homem bonito, elegante e rico. Não sei como será a vida com um homem feio, pobre e que não liga para a elegância”.
TRAIÇÃO Eleito presidente da Câmara dos Deputados no início do governo de Juscelino Kubitschek (JK), Ulysses começou a se articular para disputar, em 1958, o Palácio dos Bandeirantes, primeiro passo para alcançar o sonho de sua vida: a Presidência da República. Enquanto isso, ele comandava um Parlamento dividido – de um lado, PSD e PTB, partidos da aliança governista; de outro, a UDN e sua Banda de Música, bloco parlamentar assim chamado porque, embora em minoria, seus integrantes faziam muito barulho na Casa. A Banda era liderada por Carlos Lacerda. Ulysses integrava a Ala Moça do PSD – um grupo aguerrido de jovens deputados federais de posições nacionalistas e aliados do governo de Juscelino.
Por essa época, amargou uma traição de JK. Para fazer média com Jânio Quadros, candidato à sucessão à Presidência da República, Juscelino negou seu apoio a Ulysses, que acabou desistindo da candidatura. O episódio foi relatado pela esposa do ex‑deputado ao jornalista Jorge Bastos Moreno, que o transcreveu em seu livro A História de Mora – A Saga de Ulysses Guimarães. Dois anos antes, Juscelino estimulara Ulysses a disputar o governo paulista.
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Em 2 de fevereiro de 1987 o deputado Ulysses Guimarães foi eleito para
presidir a Assembleia Constituinte
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A DITADURA Foi a partir do golpe militar de 1964 que Ulysses viveu os três grandes momentos de sua carreira. Não sem antes se envolver em uma polêmica: a suposta adesão à ruptura institucional. Em seu livro O Governo Castello Branco, o ex‑senador Luiz Viana Filho conta que Ulysses, juntamente com alguns notáveis do Congresso, teria redigido uma proposta para cassar direitos políticos da cúpula janguista por 15 anos. Além disso, votara em Castello Branco no Colégio Eleitoral do Congresso para presidir o país.
“O doutor Ulysses morreu negando a participação naquele episódio. Atribuía isso a uma leviandade do Luiz Viana. Quanto ao Castello, ele foi eleito com os votos de praticamente todos os remanescentes do PSD. Naquele momento, Ulysses apoiou um presidente – ele mesmo repetia isso – cujo discurso de posse assinaria até hoje. Porque propunha a democracia, garantindo a sucessão pela via direta. Não era o discurso de um ditador”, justifica o jornalista Jorge Moreno, ex‑assessor de Ulysses.
Não houve volta à democracia. Embora tivesse prometido, em seu discurso no Congresso, entregar o comando de “uma nação coesa”, ainda em 1965, a um sucessor “legitimamente eleito”, Castello cedeu às pressões da linha dura das Forças Armadas. O país começava a viver uma longa noite de obscurantismo. Mais de 400 políticos tiveram os mandatos cassados, entre eles João Goulart, Leonel Brizola e JK. Muitos foram condenados a intermináveis dias de exílio.
No ano seguinte, os militares extinguiram os partidos políticos e instituíram o bipartidarismo para dar uma aparência de legalidade ao regime militar. A Aliança Renovadora Nacional (Arena) reunia os defensores do regime e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) abrigava diversas correntes políticas de oposição com a proposta de lutar pela redemocratização do país. Era uma “oposição consentida” para legitimar um poder discricionário.
A ANTICANDIDATURA Reeleito deputado federal em 1966 e 1970, Ulysses assumiu a presidência do MDB, em 1971, sucedendo o ex‑senador Oscar Passos. Nesse meio tempo, os militares editaram o AI‑5 e endureceram ainda mais o regime. Com a imprensa censurada, telefones eram grampeados e opositores presos, torturados e assassinados nos porões da ditadura.
Em protesto contra a farsa da eleição presidencial promovida pelos militares, prevista para janeiro de 1974, Ulysses lançou sua candidatura à sucessão de Garrastazu Médici (1969‑1974), tendo como vice o jornalista Barbosa Lima Sobrinho. “Não havia a menor chance de vencer, pois a Arena tinha mais de dois terços do Colégio Eleitoral. Por isso ele se autodenominou de anticandidato. Queria concorrer apenas para denunciar o sistema ditatorial”, observa o jornalista Elio Gaspari, no livro A ditadura derrotada.
Na convenção do MDB, Ulysses emocionou os correligionários ao final de um discurso primoroso. “Senhores convencionais, a caravela vai partir. As velas estão paridas de sonho, aladas de esperanças. O ideal está ao leme e o desconhecido se desata à frente. No cais alvoroçado, nossos opositores, como o velho do Restelo de todas as epopeias, com sua voz de Cassandra e seu olhar derrotista, sussurram as excelências do imobilismo e a invencibilidade do establishment. Conjuram que é hora de ficar e não de aventurar. Mas, no episódio, nossa carta de marear não é a de Camões e sim a de Fernando Pessoa ao recordar o brado: Navegar é preciso. Viver não é preciso. Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo brasileiro: ‘Alvíssaras, meu capitão. Terra à vista!’. Sem sombra, medo ou pesadelo, à vista a terra limpa, abençoada da liberdade”.
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Elio Gaspari, jornalista, no
livro A ditadura derrotada
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“Não havia a menor chance
de vencer, pois a Arena
tinha mais de dois terços
do Colégio Eleitoral. Por
isso ele se autodenominou
de anticandidato. Queria
concorrer apenas para
denunciar o sistema ditatorial”
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Elio Gaspari, jornalista, no
livro A ditadura derrotada
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Não houve terra à vista naquele momento histórico. A chapa governista, encabeçada pelo general Ernesto Geisel (1974‑1979), venceu a eleição, como estava previsto. Mas a anticandidatura de Ulysses uniu e fortaleceu o MDB, que, naquela época, estava dividido em duas correntes – moderados e autênticos –, e encheu de esperanças os brasileiros com a antevisão da democracia. Como efeito colateral daquela anticandidatura, o MDB venceu as eleições legislativas de 1974. E ampliou ainda mais seus quadros no Congresso em 1978.
Naquela campanha eleitoral, Ulysses virou símbolo da resistência à ditadura ao enfrentar fuzis, baionetas, os cães da PM da Bahia e os cavalos das forças policiais de Recife. “Amigos, o MDB é como a clara: quanto mais bate, mais cresce. Os cães ladram, mas a caravana passa”, disse ele, na época.
AS DIRETAS JÁ A distensão “lenta, segura e gradual” de Geisel não evitou os excessos do regime. Mortes como as do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho, após serem torturados, comoveram o país. Por outro lado, o milagre econômico chegara ao fim e a crise alimentava a insatisfação social. Ressurgia o movimento sindical. Greves agitavam o ABC paulista. O regime dava sinais de exaustão. Ainda assim, Geisel conseguiu fazer o sucessor no Colégio Eleitoral: o general João Batista Figueiredo.
A recessão profunda e a ampliação das liberdades democráticas marcaram o governo Figueiredo. A imprensa ganhou liberdade e os exilados voltaram ao Brasil com a Lei da Anistia. Mesmo assim, a linha‑dura militar reagiu à distensão com sequestros e atentados a bomba. O Congresso, com o objetivo de barrar o avanço da oposição, aprovou a Nova Lei Orgânica dos Partidos. MDB e Arena foram extintos e deram lugar ao PMDB e ao PDS. Surgiram novas legendas e emergiram as diferenças ideológicas. Mas ainda havia um adversário comum: a ditadura militar.
Sob a liderança de Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, foram organizados comícios pelas eleições diretas para presidente em todas as capitais, com a participação dos partidos de oposição, sindicatos e demais organizações sociais. O comício do Rio de Janeiro, na Candelária, reuniu mais de um milhão de pessoas. O povo voltava às ruas e Ulysses ganhava o carinhoso apelido de Senhor Diretas. Era o segundo grande momento da carreira política do homem que, ainda menino, ficava fascinado ao ouvir o pai contar as histórias dos ex‑presidentes da República.
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Tancredo e Ulysses no plenário da Câmara, durante a campanha das
Diretas Já, em abril de 1984
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Sob a liderança de Ulysses,
foram organizados comícios
pelas eleições diretas para
presidente em todas as capitais,
com a participação dos
partidos de oposição, sindicatos
e demais organizações sociais
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Apesar da grande mobilização popular, a Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições presidenciais pelo voto popular, não passou no Congresso, ainda dominado pelo PDS. Mas estava dado o xeque‑mate na ditadura. No dia 15 de janeiro de 1985, em uma aliança da oposição com a Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS descontentes com a escolha de Paulo Maluf para concorrer ao cargo, o senador Tancredo Neves foi eleito presidente da República no Colégio Eleitoral, tendo como vice o também senador José Sarney, recém‑filiado ao PFL – um partido político da Frente Liberal.
Tancredo morreu dias depois, sem tomar posse, e Ulysses, principal articulador da eleição do líder mineiro, resistiu à tentação de sentar na cadeira presidencial. Na ocasião, muitos parlamentares tentaram convencê‑lo a assumir
o cargo. Mas o velho democrata, disposto a chegar ao Palácio do Planalto pelo voto popular, defendeu a posse de Sarney. O senador maranhense era malvisto por todos os que se opuseram à ditadura e também pelos militares, que agora o tinham como um trânsfuga, o que o deixava dependente do aval político de Ulysses Guimarães.
A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ Dois anos e nove meses depois, o Brasil colheu o primeiro fruto da luta pela volta da democracia. Foi promulgada a Constituição de 1988, a sétima do país, que ganhou o apelido de Constituição Cidadã por ser a mais avançada de todas, com destaque para o capítulo dos direitos sociais e de garantias da cidadania.
Na eleição presidencial de 1989, um ano depois, veio a segunda grande frustração da carreira do ex‑deputado. Com apenas 4,4% dos votos, ele terminou a disputa pelo Palácio do Planalto em sétimo lugar. Não conseguiu superar a rejeição de seu partido, o PMDB, desgastado com os naufrágios dos planos econômicos lançados por José Sarney.
“A primeira razão da derrota foi a pulverização das forças de esquerda em várias candidaturas. Nunca deveríamos ter nos dividido tanto. Outra foi o fato de que Ulysses, embora político sério e bem intencionado, não tinha o carisma e a aceitação popular que tinha, por exemplo, Lula, já naquela época. O apoio quase unânime da grande mídia ao Collor também contribuiu para o insucesso da candidatura”, lembra Waldir Pires, companheiro de chapa de Ulysses e hoje vereador em Salvador.
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Ulysses Guimarães e o texto consolidado da Constituição,
em abril de 1988
O BAQUE DA DERROTA A derrota foi um baque. No ano seguinte, Ulysses se reelegeu deputado federal, mas teve menos de um décimo dos votos da campanha de 1986. E foi substituído na presidência do PMDB por Orestes Quércia. A recuperação só veio em 1992, no processo que resultou no impeachment de Collor. Não via com bons olhos a cassação do mandato do ex‑presidente, mas mudou de posição com a evidência dos fatos e transformou seu gabinete no quartel‑general da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Empenhou‑se para que a votação fosse aberta.
Collor foi afastado do cargo pelo Senado no dia 2 de outubro de 1992. Dez dias depois, o helicóptero em que Ulysses viajava com a esposa, dona Mora, o amigo Severo Gomes e a esposa do ex‑ministro, Anna Maria Henriqueta Marsiaj, caiu em alto‑mar. Todos morreram, mas só o corpo do ex‑deputado nunca foi achado. O mar, onde o Ulysses do poema épico de Homero enfrentou sua Odisseia na volta a Ítaca, negava aos brasileiros o sepultamento do timoneiro que comandou o país, nas águas turvas da ditadura, ao porto seguro das liberdades democráticas.
No dia 26 de novembro, pouco mais de um mês depois daquela morte trágica, o peemedebista Pedro Simon fez uma homenagem ao velho comandante que emocionou os colegas no Senado. “Há um grande silêncio neste plenário. Há uma grande ausência nestas salas e corredores. Não obstante o silêncio e a ausência, silêncio que perturba os nossos ouvidos, ausência que fere os nossos olhos, a voz forte de Ulysses Guimarães ecoa na consciência moral deste Parlamento, de nosso povo e do nosso tempo”.
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Ulysses discursa na promulgação da Constituinte, em 5 de outubro de 1988: “A Constituição é caracteristicamente
o estatuto do homem. É sua marca de fábrica. O inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de direito,
consectário da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais miserável do que os miseráveis é a
sociedade que não acaba com a miséria”
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Passados 24 anos de sua morte, o vazio que Ulysses deixou se tornou ainda maior. O enteado Tito Henrique imagina como o ex‑deputado se sentiria diante do atual cenário político do país. “Se estivesse vivo, estaria indignado, como todo mundo, mas estaria empunhando a bandeira da reforma política, a coisa mais necessária hoje”.
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https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3300&catid=52&Itemid=23
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Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 1ª Parte
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Câmara dos Deputados
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Dividido em três episódios, o documentário Senhor Deputado Ulysses Guimarães, com direção de Roberto Seabra, narra, na primeira parte, a chegada de Ulysses ao mundo da política, ainda nos anos 1940, até sua consagração como líder da oposição ao regime militar, em meados dos anos 70.
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https://www.youtube.com/watch?v=k7pwh-caifE
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Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 2ª Parte
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Câmara dos Deputados
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O segundo dos três episódios do documentário Senhor Deputado Ulysses Guimarães, com direção de Roberto Seabra, mostra a luta de Ulysses e do MDB, partido que presidiu por mais de vinte anos, pela redemocratização. Lembra a campanha pelas Diretas-Já, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral e o drama da morte do presidente eleito.
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https://www.youtube.com/watch?v=LUUfhKG_BWw
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Documentário | Senhor Deputado Ulysses Guimarães - 3ª Parte
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Câmara dos Deputados
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A terceira e última parte do documentário tem início com a Assembleia Nacional Constituinte, da qual Ulysses foi presidente. O episódio mostra também a participação de Ulysses Guimarães nas eleições presidenciais de 1989, quando amargou sua única derrota eleitoral, e sua presença destacada no processo de impeachment do presidente Fernando Collor.
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https://www.youtube.com/watch?v=nYzcYWY26YU
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sábado, 30 de janeiro de 2021
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O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais
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A época da patifaria – Opinião | O Estado de S. Paulo
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Além de conspurcar o exercício da Presidência e dar o governo ao Centrão, Bolsonaro pode ressuscitar a oposição destrutiva, liderada pelo lulopetismo, que floresce no caos.
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Em abril do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, durante um dos tantos protestos golpistas que estimulou, esbravejou contra o Congresso: “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um novo Brasil pela frente. Acabou a época da patifaria!”.
Pouco menos de um ano depois, Bolsonaro partiu para a compra explícita de apoio de parlamentares e partidos fisiológicos. Isso nem velha política é, pois no passado, mesmo que a negociação de votos fosse a norma, ainda havia eventualmente algum acordo em torno de projetos em comum. Hoje não mais: o que há é a entrega do governo para a deglutição do Centrão, que se banqueteará de cargos, verbas e poder. Poucas situações representam a época da patifaria como essa.
Repórteres do Estado tiveram acesso a uma planilha de negociação do governo com deputados para angariar apoio à eleição, para as presidências da Câmara e do Senado, dos candidatos apadrinhados pelo presidente Bolsonaro. A reportagem mostra que aquela planilha representa a distribuição de cerca de R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores usarem em obras em seus redutos eleitorais.
Mas esse é seguramente apenas um fragmento da história. Outras fontes garantem que o total de recursos liberados é de cerca de R$ 16,5 bilhões. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, falou em R$ 20 bilhões. Em qualquer dessas contas, o valor destinado aos parlamentares supera, em vários casos, o limite a que cada um deles tem direito a destinar em emendas ao Orçamento.
A reportagem mostra que o gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, tornou-se o quartel-general das candidaturas apoiadas por Bolsonaro. Segundo parlamentares ouvidos pelo Estado, o candidato governista à presidência da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), orienta os deputados a ir ao gabinete do ministro Ramos e acompanha todas as etapas do processo, negociando conforme seus interesses e envolvendo seus apadrinhados, que já estão em vários postos importantes do Ministério de Desenvolvimento Regional, pasta de onde sai o dinheiro.
Parlamentares dizem que, a portas fechadas, o ministro Ramos sonda a disposição do deputado de votar em Arthur Lira em troca de verbas; se o deputado indica que votará em Lira, seu nome é incluído imediatamente na planilha. Não há outro critério para a liberação da verba – nem técnico, nem ético, nem de interesse público. Ademais, o mecanismo de liberação dos recursos prima pela falta de transparência – é dinheiro “extraorçamentário”, destinado a obras e convênios cujos contratos, em alguns casos, foram assinados às pressas.
Mas a época da patifaria não se limita à transformação do Palácio do Planalto em bodega – onde não se discutem princípios, apenas preços. Bolsonaro está disposto a entregar o próprio governo ao Centrão – e a eleição de Arthur Lira, que na condição de presidente da Câmara terá poder de decidir sobre processos de impeachment e sobre a agenda legislativa, é apenas o primeiro passo dessa rendição.
Bolsonaro em pessoa confirmou essa intenção. Segundo ele, se seus candidatos forem eleitos, “a gente pode levar muita coisa adiante”, inclusive, “quem sabe, até ressurgir Ministérios”.
O presidente que se elegeu prometendo acabar com o loteamento da máquina pública para ter apoio parlamentar agora acha absolutamente normal e até positivo recriar Ministérios e entregá-los aos partidos que colonizam seu governo. E ainda festejou que Arthur Lira – que só assumiu o mandato de deputado em 2018 por força de liminar judicial, depois de condenações em processo por improbidade administrativa, e ainda enfrenta acusações de corrupção – vai se tornar “o segundo homem na linha hierárquica do Brasil”. Ou seja, Bolsonaro já dispensa o vice-presidente Hamilton Mourão sem a menor cerimônia.
A ânsia de Bolsonaro de se manter no poder e de proteger seus filhos encrencados na Justiça já fez muito mal ao País, mas ainda pode fazer muito mais: além de conspurcar o exercício da Presidência e dar o governo ao Centrão, pode ressuscitar a oposição destrutiva, liderada pelo lulopetismo – que sempre floresce no caos. A patifaria, como as desgraças, nunca vem sozinha.
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https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/01/o-que-midia-pensa-opinioes-editoriais_30.html
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O que acontece quando uma pessoa tem uma epifania
por
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Rhett Jones
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18 de abril de 2017
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Toda a indústria de jogos de quebra-cabeça se vale do prazer e da alta dose de endorfina liberada quando o usuário finalmente descobre como se resolve um problema dentro de uma fase. A ciência sabe pouco sobre esse rápido momento que todos nós experimentamos de vez em quando, e num novo estudo, pesquisadores tentaram descobrir algumas coisas ao observar pessoas tendo epifanias.
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O estudo, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, descreve como os pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio estão tentando aprender mais sobre o “aprendizado por epifania”. A maioria das pessoas poderiam descrever em linhas gerais como eles chegaram a uma epifania, mas isso não nos ajuda a realmente entender as milhões de pequenas coisas que nos levam até o momento “a-ha”. Os pesquisadores de Ohio estão utilizando uma combinação de tecnologia de rastreio do movimento dos olhos e de dilatação da pupila para recolher dados objetivos.
Eu já posso adiantar para você que os pesquisadores não chagaram um momento epifânico de conclusão sobre a natureza das epifanias com esse estudo. São apenas os primeiros passos. Mas isso não significa que a metodologia utilizada e as conclusões obtidas até agora não sejam interessantes.
Utilizando um grupo de controle de 59 estudantes, os cientistas fizeram com que os participantes jogassem um jogo. Ele precisava ser meio complicado para que as pessoas trabalhassem um pouco nele. Basicamente, dois participantes competiam um contra o outro ao escolher um número dentro de 11 opções que estavam organizadas num círculo. O ganhador sempre era a pessoa que escolhia o menor número, então o zero era a melhor opção.
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Os estudantes passavam por 30 rodadas, cada vez com um oponente diferente. Numa rodada, eles viam os números para fazer a seleção. No final, viam a própria escolha, a jogada do oponente e a resposta correta. Então eles tinham a opção de manter a escolha até o final do estudo. Enquanto isso, um rastreador de olhos estava registrando para onde eles olhavam enquanto tentavam resolver o problema. Aqueles que escolhiam o zero no meio do jogo e decidiam se manter com ele, muito provavelmente tiveram o momento de compreensão, e os pesquisadores estudaram os rápidos segundos antes disso acontecer.
“Existe uma mudança repentina no comportamento. Eles estão escolhendo outros números e de repente mudam e passam a escolher apenas o zero”, disse o co-autor do estudo, Krajbich, ao Science Daily. “Essa é uma marca distintiva do aprendizado epifânico”.
Os pesquisadores descobriram que 42% dos estudos corretamente de decidiram pelo zero, 37% se decidiram pelo número errado, e 20% não chegou a escolher uma resposta sobre a qual estavam certos.
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O que era diferente nas pessoas que experimentaram uma epifania e entenderam o puzzle? Primeiro, eles prestavam mais atenção nas próprias escolhas do que seus oponentes. Krabjich diz que “quando sua pupila dilata, nós vemos que existe uma evidência de que você está prestando bastante atenção e aprendendo”. Entre os ganhadores, suas pupilas iam dilatando enquanto estudavam os resultados de cada rodada. Eles também passavam mais tempo olhando para sua escolha e a escolha correta, em vez de focar no resultado do jogo.
Aqueles que perceberam que o zero era a melhor opção aparentemente não construíram essa escolha gradualmente. Embora olhassem para zero mais frequentemente do que os participantes que selecionaram o número errado, eles não ponderavam mais na hora de apertar o botão de confirmação. A partir do momento que eles sabiam, apertavam o botão. E aí a dilatação da pupila sumiu.
O aprendizado imediato é uma espécie de lição de vida científica: “É melhor pensar sobre um problema do que simplesmente seguir os outros”, diz Krajbich.
[Science Daily, PNAS, PNAS]
Imagem do topo: Elisa Riva/Pixabay
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https://gizmodo.uol.com.br/estudo-epifania/
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