Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
A GÊNESE DE UM CAUDILHO
"Caudilho por caudilho, ficaria com Brizola." Suposta declaração de Fernando Lyra, deputado federal do PMDB, para Ulysses Guimarães, também do PMDB, então presidente da Câmara, presidente da Constituinte e Presidente do PMDB, ao justificar seu apoio ao então Governador de Minas, Tancredo Neves, a candidato do PMDB em eleição indireta para a presidência da República na transição do poder dos militares para um governo civil, com um presidente civil, contra a candidatura de Paulo Maluf, do próprio partido que sustentava o regime militar.
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Simone Tebet sobre impeachment: "Não é hora de trazer problemas ao país"
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Imagem: Kleyton Amorim - 28.nov.2019/UOL
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Camila Brandalise
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De Universa
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25/01/2021 04h00
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Primeira presidente mulher da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, considerado o colegiado mais importante da casa, Simone Tebet (MDB-MS) começou sua vida política como deputada estadual, há 18 anos. Primeira prefeita de Três Lagoas (MS), também se elegeu como vice-governadora do estado e é senadora desde 2015.
Agora, como candidata à presidência do Senado, é, de novo, primeira: nunca havia tido representante feminina na disputa. Mesmo com sua experiência política, é considerada a "zebra" da lista de candidatos que visam o posto. O nome mais cotado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cujo primeiro mandato político foi o de deputado federal em 2014, é o favorito de Jair Bolsonaro (sem partido) e de siglas da oposição - o PT já declarou apoio a ele. A eleição ainda não tem data definida, mas deve ocorre a partir de 1º de fevereiro.
"Os adversários tendem a diminuir o oponente", diz, sobre a tentativa de desqualificá-la. Em entrevista a Universa, Simone fala sobre representação feminina na política, sobre a crise sanitária provocada pela pandemia e sobre impeachment.
Ela acredita que "não é hora de trazer problemas ao país" e se esquiva quando questionada sobre eventuais erros de Bolsonaro. "Prefiro acreditar que o presidente, que negou a gravidade da pandemia, agora parece que já percebe a importância e começa a fazer esforços da vacinação em massa", diz.
Leia a seguir os principais trechos da conversa da senadora com Universa, feita na quinta e sexta-feira por meio de trocas de mensagens via aplicativo.
UNIVERSA - A senhora foi deputada estadual há 18 anos, depois prefeita, vice-governadora e é senadora desde 2015, onde preside a principal comissão da casa. Mesmo assim, chegou a ser apontada como "zebra" na eleição para presidência do Senado. Por quê?
SIMONE TEBET - Isso faz parte do jogo político. Os adversários tendem a diminuir o oponente. Eu prefiro, ao contrário, não pensar no meu oponente e apresentar proposta para o país, que precisa sair unido desta que é a maior crise política, econômica e humanitária da história do Brasil.
Em relação à crise, quais são os assuntos mais urgentes que pretende tratar caso seja a escolhida para comandar o Senado Federal?
Neste momento o Brasil precisa, com urgência, de planejamento para imunizar a população contra a covid-19. A vacina finalmente chegou, mas de maneira ainda muito incipiente, com poucas doses. Temos de buscar soluções para garantir a universalização dos imunizantes. A pandemia deixou de legado o arrefecimento das desigualdades sociais. Ampliou desemprego. Parou o país. A vacinação da população certamente trará impactos positivos para a nossa economia e para a retomada do desenvolvimento.
Outros temas fundamentais são as reformas tributária e administrativa. Precisamos encarar esses projetos de frente e parar de dar voltas de 360 graus para chegar ao mesmo lugar. Especialmente em relação à reforma tributária, temos de aprovar um texto que garanta justiça, sem aumentar impostos para a população mais pobre e a classe média.
O senador mais cotado para a presidência do Senado, Rodrigo Pacheco, tem o apoio de Bolsonaro. Se considera a candidata da oposição?
Minha candidatura não é nem de oposição nem de situação. É de independência e harmonia a favor do Brasil. Um Legislativo independente para aprovar o que julgar necessário, sem amarras ou compromissos pouco republicanos.
Eleição para presidente do Senado
Como está a disputa para o comando da Casa
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Como está a disputa para o comando da Casa
Alinhamento Bancada
Rodrigo Pacheco (DEM-MS) 45
Simone Tebet (MDB-MS) 34
Outros 2
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Apoios confirmados, sem contar as traições*
Rodrigo Pacheco (DEM-MG): 45 votos
(DEM: 5; PDT: 3; PT: 6 votos; PSD: 10; Republicanos: 3; PSC: 1; Pros: 3 votos; PP: 7 votos; PL: 3 votos; PSDB: 4)
Simone Tebet (MDB-MS): 34 votos
(MDB: 15 votos; Podemos: 9 votos; Cidadania: 3 votos; PSL: 2 votos; Rede: 2 voto; PSDB: 3 votos)
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Outros candidatos:
Major Olimpio (PSL-SP), Jorge Kajuru (Cidadania-GO)
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A votação:
Quando: Sem data definida (se houver 2º turno, deve ocorrer no mesmo dia)
Quórum: a maioria absoluta (41 votos)
Quem ganha: o candidato que obtiver a maioria absoluta (41)
Voto: presencial e secreto
Cargos em disputa: presidente, 2 vice-presidentes, 4 secretários e 4 suplentes
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De maneira geral, como avalia a gestão do presidente Bolsonaro?
Prefiro falar dos acertos. Acho que temos de pensar na união em favor do Brasil. Prefiro acreditar que o presidente Bolsonaro, que negou a gravidade da pandemia, agora parece que já percebe a importância e já começa a fazer esforços para a vacinação em massa. Lembrando que temos um problema de insumos e vamos precisar unir Congresso Nacional e Executivo para que possamos conseguir junto à Índia e à China, o mais rápido possível, insumo para produzir as vacinas sem as quais nós não teremos condições de vacinar. As vacinas existentes mal cobrem os profissionais de saúde.
A negação da gravidade da pandemia rendeu ao presidente mais pedidos de impeachment. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem sido pressionado para colocar o tema em pauta. Se a senhora fosse presidente da Câmara, abriria o processo?
Agora não é hora de trazer problemas e sim soluções para o país. Temos uma questão muito maior, que é uma política nacional de imunização. Temos de vacinar em massa para as pessoas voltarem ao mercado de trabalho, para voltarem a ter salário e renda e temos de avançar com as reformas sem as quais o país não vai deslanchar. O impeachment não pode ser bandeira de um presidente da Câmara e do Senado.
A senhora foi a primeira prefeita mulher de Três Lagoas, primeira senadora a presidir a CCJ e, agora, pode se tornar a primeira a presidir o Senado. O que isso representa?
Não é com satisfação que carrego esse título de ter sido a primeira mulher em tantos cargos públicos porque isso representa, também, a tão reduzida participação da mulher na política de modo geral. Claro que o pioneirismo me dá orgulho. Sou consciente do meu papel nessa luta.
O aumento da participação feminina na política é recente e gradativo. Por que, na sua opinião, tem levado tanto tempo para termos mais igualdade de gênero no Congresso?
Estamos no final da fila entre os países do mundo em termos de participação feminina na política. Já superamos diversas barreiras. Aprovamos a política de cotas e conseguimos a garantia de fatia maior dos recursos do financiamento de campanha. Mas os resultados das urnas demonstram que precisamos de mais. Nas eleições municipais de 2020, as mulheres conseguiram apenas 12% das prefeituras e 16% dos cargos de vereadoras. É mais do que o resultado das eleições anteriores, mas ainda é pouco. Números que demonstram o quanto ações de conscientização e valorização do papel da mulher nos postos de comando são importantes.
Ainda sobre isso, há uma proposta que deve ser votada na Câmara dos Deputados para garantir uma porcentagem mínima de 16% de mulheres eleitas nas diferentes instâncias do Legislativo. É a favor dessa medida?
Sim. Quando esse projeto passou pelo Senado, a bancada feminina atuou com afinco para conseguir a aprovação do texto. Agora, entendo que a Câmara está madura para aprová-lo. Queremos a garantia das vagas e não apenas a possibilidade de concorrer. Isso fará com que os partidos sejam mais criteriosos na escolha de mulheres realmente capacitadas e competitivas para ganhar as eleições.
Este ano eu apresentei um projeto de lei que prevê que, ao menos, 30% dos diretórios dos partidos sejam compostos por mulheres. Nas juventudes partidárias, proponho a paridade de gêneros. Entendo que assim, ao longo dos anos, conseguiremos ir mudando a cara da política por dentro. Quando você permite que mulheres participem desse processo de escolha, elas lutarão por candidaturas com real potencial de vencer.
O que uma mulher pode trazer de inovador para o cargo de presidente do Senado que os homens até hoje não trouxeram?
Dizem que as mulheres são mais criativas. Certamente, são mais estudiosas e abertas à negociação e ao diálogo. Eu posso dizer que me considero uma pessoa bem organizada, focada e disciplinada. A mulher tem um olhar diferente, daí o porquê da importância de homens e mulheres na política. Lutamos para que ambos tenham oportunidades iguais de acesso a estruturas de campanha, com condições de visibilidade em rádio e televisão para poderem realmente chegar ao poder. Nesses dois anos como presidente da CCJ, qual diria que foi o maior desafio enfrentado? Colocar em votação e garantir a aprovação rápida da Reforma da Previdência. Tema complexo, que mexeu com a vida de milhões de brasileiros, mas necessário ao país.
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https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/01/25/simone-tebet-sobre-impeachment-nao-e-hora-de-trazer-problemas-ao-pais.htm
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Roda Viva | Leonel Brizola | 1987
O Roda Viva recebeu, em 1987, Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-governador do Rio de Janeiro.
Participaram da bancada de entrevistadores Lenildo Tabosa, do Jornal da Tarde; Nino Carta, da revista Senhor; Clovis Rossi, da Folha de São Paulo; Willian Wasck, do Jornal do Brasil; Richard House, do The Washington Post; Mauro Chaves, do O Estado de S. Paulo; Tao Gomes Pinto, do Correio Brasiliense; e o brasilianista Thomaz Skidmore, além do cartunista Paulo Caruso.
O programa não contém edição e foi ao ar em 1987.
https://www.youtube.com/watch?v=q8-vawm_apM
Crusoé
UMA ILHA NO JORNALISMO
EDIÇÃO SEMANA 143 REPORTAGEM
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O mineiro Rodrigo Pacheco articulou um projeto que beneficia sua empresa de ônibus
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Pachequismo em causa própria
Rodrigo Pacheco, favorito para suceder Davi Alcolumbre na presidência do Senado,é mais um exemplar do que há de pior na política brasileira: na essência ele usa o mandato para defender os próprios negócios.
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22.01.21
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HELENA MADER
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https://crusoe.com.br/edicoes/143/pachequismo-em-causa-propria/
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Brasil
O QUE HÁ DE PIOR
22.01.21 08:49
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Rodrigo Pacheco, o candidato de Jair Bolsonaro para o comando do Senado, é “exemplar do que há de pior na política brasileira”, diz a Crusoé.
“Na essência, ele usa o mandato para defender os próprios negócios”.
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A reportagem da Crusoé é devastadora. Leia um trechinho:
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“Empresário do setor de transporte rodoviário, Pacheco fez acordo com o governo para conseguir aprovar um projeto de lei que fecha o mercado de ônibus, elimina pequenas e médias empresas do segmento, reduz em três vezes o valor máximo das multas aplicadas, cancela a concessão de todos os seus novos concorrentes e, pasmem, anula sumariamente todas as sanções aplicadas até hoje pela ANTT, a Agência Nacional de Transportes Terrestres. Trata-se de um mimo de pelo menos 2 bilhões de reais para o setor. No pacote do acordão com o Planalto, há outras obscenidades. O senador indicou um assessor do próprio gabinete para dirigir a agência que fiscaliza as suas empresas. O escolhido de Pacheco para a ANTT é dirigente do DEM, não tem experiência na área e ainda é condenado por improbidade administrativa.”
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https://www.oantagonista.com/brasil/o-que-ha-de-pior/
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SUCESSÃO
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Bolsonaro rompe neutralidade e vai apoiar Rodrigo Pacheco para presidir o Senado
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Parlamentar mineiro é apadrinhado pelo atual presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP)
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PUBLICADO EM 09/01/21
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Folhapress
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https://www.otempo.com.br/super-noticia/super-tv/bolsonaro-rompe-neutralidade-e-vai-apoiar-rodrigo-pacheco-para-presidir-o-senado-1.2433213
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CONGRESSO NACIONAL - Publicada em 03h00min, 11/01/2021.
Bolsonaro confirma apoio a candidato de Alcolumbre
Durante reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) na sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou que rompeu sua neutralidade na eleição para a presidência do Senado e que vai apoiar Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Pacheco é apadrinhado pelo atual presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se engajou na candidatura e inclusive havia levado o parlamentar mineiro para um almoço com o presidente no Palácio da Alvorada, no fim do ano.
BRIZOLA: A GÊNESE DE UM CAUDILHO - EDUARDO BUENO
Nesse primeiro episódio sobre um dos mais importantes e controversos políticos brasileiros do século 20, você vai conhecer o início da trajetória do “engenheiro “ Leonel de Moura Brizola, de jeito que jamais vai cair no Enem. Ainda mais agora...
https://www.youtube.com/watch?v=QNYe8cKrG0I
BAÚ DO BRIZOLA: O COMEÇO, O FIM E O MEIO - EDUARDO BUENO
Finalmente chega ao canal Buenas Ideias a prometida e tão esperada continuação da história da trajetória de um dos políticos mais icônicos do Brasil, da época que ícones ainda faziam política... para o bem e para o mal. Venha conhecer melhor o inflamado Leonel de Moura Brizola, com o também inflamado Eduardo Bueno contando tudo de um jeito que jamais cairá no Enem! Esperamos que goste, apesar do áudio ruim.
https://www.youtube.com/watch?v=J5tbQ6KC1z0
Roda Viva | Fernando Lyra | 1987
Em 1987, o Roda Viva recebeu Fernando Lyra, um dos articuladores da candidatura de Tancredo Neves e ex-ministro da Justiça, na época. Ele disputou a presidência da Câmara com Ulysses Guimarães e afirmava representar o desejo de mudança do país.
Participaram como entrevistadores Lenildo Tabosa Pessoa, do Jornal da Tarde; Augusto Nunes, do Jornal do Brasil; Mauro Martins Bastos, jornalista da TV Cultura; Nirlando Beirão, jornalista da revista Senhor; Roberto Lopes, jornalista da Folha de S. Paulo; e Izalco Sardenberg, jornalista da revista Visão.
https://www.youtube.com/watch?v=IW5-z2k8uLY
Roda Viva | Luís Carlos Prestes | 1986
Recebemos no Roda Viva, em 1986, o ex-secretário do Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes.
Nascido em Porto Alegre no ano de 1898, Luís Carlos Prestes se tornou conhecido por liderar nacionalmente a 'Coluna Prestes', movimento político-militar brasileiro ocorrido entre 1924 e 1927. Ex-militar e fundador do Partido Comunista Brasileiro, do qual foi secretário-geral de 1943 a 1980, Prestes discute a Constituinte e os rumos do Brasil em um contexto de reformulação política e social em sua entrevista ao programa.
Participaram da bancada de entrevistadores Wladir Nader, jornalista e escritor; Luiz Gonzalez, jornalista da TV Globo de São Paulo; Armando Sartori, jornalista do jornal Retrato do Brasil; Maria Angélica de Oliveira, da TV Cultura; Marcos Faermann, da Rádio Cultura; Luiz Fernando Emediato, de O Estado de S. Paulo; Armando Figueiredo, da TV Cultura; Cláudio Abramo, da Folha de S. Paulo; o poeta Mário Chamie; o historiador Marco Aurélio Garcia e o sociólogo Otacvio Ianni.
https://www.youtube.com/watch?v=q8-vawm_apM
caudilho
Significado de Caudilho
substantivo masculino
Capitão, cabo-de-guerra.
Chefe de facção política.
[Figurado] Ditador.
Sinônimos de Caudilho
Caudilho é sinônimo de: autocrata, chefe, dirigente
Definição de Caudilho
Classe gramatical: substantivo masculino
Flexão do verbo caudilhar na: 1ª pessoa do singular do presente do indicativo
Separação silábica: cau-di-lho
Plural: caudilhos
Feminino: caudilha
Exemplos com a palavra caudilho
Críticos detectaram paralelos entre Trujillo, conforme descrito no livro, e Fujimori, o grande adversário de Vargas Llosa --o caudilho que deve seu poder ao fato de ludibriar seus súditos.
Folha de S.Paulo, 19/06/2012
O oficialismo deve, no primeiro momento, cerrar filas em torno do vice-presidente Nicolás Maduro, que passou as últimas semanas no exercício do papel de caudilho, com cadeias obrigatórias de rádio e TV e acusações pueris aos EUA.
Folha de S.Paulo, 07/03/2013
Substituir um caudilho é operação complexa em qualquer circunstância, até porque não me lembro de "ismo" que tenha sobrevivido a seu criador.
Folha de S.Paulo, 09/10/2012
https://www.dicio.com.br/caudilho/
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domingo, 24 de janeiro de 2021
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Entrevista | Yascha Mounk: 'Conflito com a democracia persistirá'
Yascha Mounk, cientista político alemão e autor do livro 'O Povo Contra a Democracia'
Para escritor, disputa entre líderes populistas e democráticos é um fenômeno que deve durar décadas
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- Paulo Beraldo / O Estado de S. Paulo
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As disputas políticas entre líderes populistas e democráticos são parte de um fenômeno que deve persistir por muitas décadas, avalia o cientista político alemão e autor do livro O Povo Contra a Democracia, Yascha Mounk.
Para o escritor, a invasão ao Capitólio dos EUA é símbolo de ataques contínuos de Donald Trump, mas pode servir de alerta para outros líderes populistas por não ter tido o resultado esperado – impedir a ratificação da vitória de Biden. Ele entende que o descontentamento com a democracia é fruto da estagnação do padrão de vida de muitos americanos, de uma guerra cultural fomentada pelo sistema político, pela mídia e também pelas mudanças culturais e demográficas pelas quais os EUA passaram. Ele afirma que o populismo é um fenômeno global e uma das principais forças políticas da atualidade.
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Qual o significado da invasão ao Capitólio dos EUA para o futuro da democracia no país?
A invasão foi fruto de 4 anos de ataques à democracia liberal dentro dos EUA. Em muitos aspectos, é o resultado inevitável de se eleger um populista em tempo integral como Donald Trump, que sempre acreditou que ele, e apenas ele, representa verdadeiramente o povo americano. Portanto, para ele era inaceitável o resultado de uma eleição que perdeu.
Na cabeça dele, só pode ter sido ilegítimo, já que entra em conflito com a verdade óbvia de que ele seria a personificação de um país. Mas, ao mesmo tempo, pode ser o início de uma virada, de um enfraquecimento desse discurso, e o triunfo de um consenso mais amplo sobre os perigos que a democracia enfrentou e sobreviveu nos últimos 4 anos.
Essa invasão pode se tornar o símbolo de um movimento iliberal que está crescendo? Ou foi um episódio específico?
Ela foi a ponta de lança de um movimento trumpista maior que prioriza apoiar tudo que ele diz ou faz acima de alguns dos princípios mais fundamentais da democracia e da Constituição dos EUA. Também acho que ela continuará a ser o símbolo da presidência de Trump e ajudará a consolidar seu lugar nos livros de história.
Muitos dos ataques às instituições eram complicados de explicar às pessoas, violavam normas complicadas, eram conjuntos de fatos difíceis de rastrear. Mas as fotos de uma invasão ao Capitólio, à Câmara, ao Senado, são fáceis para qualquer um entender.
Serão o símbolo desse momento histórico e tenho certeza que Trump será lembrado da maneira certa. Mas é importante deixar claro que foram algumas milhares de pessoas que invadiram a capital. Elas têm raízes em um movimento mais amplo, mas não representam todos os eleitores de Trump, nem mesmo a maioria da população.
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Quais são as raízes do descontentamento com a democracia?
Em primeiro lugar, há uma estagnação real do padrão de vida dos cidadãos comuns. A economia cresceu nos últimos 30 anos, mas a renda do cidadão americano médio avançou pouco. Portanto, falta confiança de que o sistema econômico esteja trabalhando pelos cidadãos. Antes, os cidadãos podiam não amar os políticos em Washington, mas pensavam que, no fim, estavam fazendo algo por eles. Isso começou a erodir.
O segundo aspecto são as mudanças culturais e demográficas muito rápidas, que levaram a uma variedade de medos e paranoias e uma espécie de triunfalismo. Uma forma de ver isso é uma guerra cultural contra as elites.
E em terceiro lugar, os atores políticos e as mídias pensaram que podiam aprofundar a polarização e usar essa divisão em seu benefício. Isso culminou com esse ódio e esse desdém mútuo que são típicos do espectro político americano hoje.
Se juntarmos falta de confiança em um sistema funcional, mudanças reais que ameaçam o status de parte da população, atores políticos e a elite em todos os lados do espectro achando que a guerra cultural pode ser vantajosa para eles, você tem a receita e os ingredientes para a raiva e o ódio que agora guiam a política americana.
A invasão pode servir como um ‘modelo’ para os iliberais em todo o mundo, quando um movimento que repele a democracia invadiu o Congresso na democracia mais simbólica do mundo?
Certamente os políticos iliberais leram do manual de Trump nos últimos tempos e podem usar isso como modelo para minar a confiança e a fé na integridade das eleições no futuro. Por isso é importante que o ataque tenha falhado. Eles não tiveram sucesso em minar a ratificação da eleição que colocou Biden na Casa Branca. Espero que esse momento forneça um ponto de referência de que pessoas de ambos os lados concordem pelo menos que um ataque para acabar com a legitimidade da eleição era inaceitável. Então, isso também pode acender uma espécie de alerta aos políticos no mundo todo.
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Como Joe Biden pode trabalhar pela pacificação e pela união que prometeu na campanha?
Não é possível simplesmente contornar a polarização na política americana. Biden não vai conseguir superar completamente a polarização que conhecemos na sociedade americana há muitas décadas. Ele precisa se manter firme em sua linha de que muitas pessoas que votaram em Trump não são ruins, apenas têm divergências políticas profundas.
Não são todas pessoas terríveis que precisam ser expulsas do sistema político. Biden precisa deixar claro que sua voz é forte nesse tom, mais forte do que a daqueles que querem colocar metade dos seus compatriotas em um lugar considerado irremediável.
Biden precisa também trabalhar com muita firmeza em políticas que farão o país realmente avançar – iniciativas econômicas, luta contra a pandemia, construir infraestruturas – e trazer melhorias reais para os EUA. Se Biden se concentrar nisso e não em gastar seu tempo brigando com Trump, pode se tornar mais popular.
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E qual seria a outra alternativa possível?
Que Biden e os democratas passem grande parte dos próximos anos perseguindo processos contra Trump, processos de impeachment, colocando-o no centro das atenções e dando-lhe algumas vitórias no momento em que ele saiu da cena política como um perdedor, tirado da Casa Branca pela vontade de 81 milhões de americanos, mostrando que agiu como uma criança que não conseguia aceitar a derrota. Esse último ato (invasão no Capitólio) é mais importante que uma possível segunda derrota do impeachment no Senado (Trump já foi alvo de um processo de impeachment no fim de 2019).
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Como restaurar a fé na democracia e no sistema político?
Há um bom número de reformas institucionais concretas que a política americana poderia adotar para elevar a fé e a confiança nas eleições. Existem muitos abusos do sistema político a prática de desenhar distritos eleitorais de forma a dar vantagem a um partido político resultando em regiões sem nenhum sentido geográfico.
É preciso profissionalizar isso com comissões de especialista, algoritmos, para não beneficiar nenhum lado. Esse é só um dos exemplos, mas a confiança no sistema democrático é outro ponto. Esse tipo de crise vem, em grande medida, pela dificuldade de aprovar o necessário e pelas divisões profundas da sociedade americana.
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Quando essa onda populista que domina os EUA começou?
É preciso ver essa situação de maneira mais ampla. Vemos o avanço do populismo na Polônia, Turquia, Filipinas, no Brasil, por uma série fatores específicos. Um dos motivos tem a ver com a internet e as mídias sociais, que tornaram muito mais fácil com que políticos outsiders conseguissem controlar o sistema político. A vitória de Biden é um grande motivo para acreditar que está havendo uma luta contra esses populistas.
Mas o populismo continua no poder em muitos países, como Narendra Modi na Índia e Jair Bolsonaro no Brasil. Só esses dois já são exemplos muito importantes. E é muito possível que continuemos a ver esse conflito fundamental entre democracias e ditaduras, populismos e democracias iliberais, por muitos anos.
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https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/01/entrevista-yascha-mounk-conflito-com.html#more
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No Roda Viva, a jornalista Vera Magalhães recebe o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), candidato à presidência da Câmara.
Em disputa acirrada com o candidato apoiado pelo governo Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), Rossi é presidente nacional do MDB. Deputado federal por São Paulo, iniciou a carreira em Ribeirão Preto, onde sua família tem longa atuação política e empresarial.
Arthur Lira também foi convidado para ser entrevistado no mesmo programa, mas não aceitou.
O cargo de presidente da Câmara dos Deputados tem grande importância estratégica. Além de controlar a pauta dos temas que entram em votação, ele tem poder para engavetar ou não os pedidos de impeachment entregues na Casa. No discurso que fez, ao anunciar a candidatura, Rossi declarou que as legendas que o apoiam, embora tenham posições políticas divergentes em vários temas, decidiram se unir em defesa da democracia e da liberdade do Parlamento.
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Fonte:
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https://www.youtube.com/watch?v=4Vo-KiAYTQI
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