Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 14 de março de 2022
ATORMENTA, TENEBROSAS
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O MAR TENEBROSO, MONSTROS E O ACIDENTE DA AIR FRANCE, POR TASSO FRANCO
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A gente nunca deveria esquecer, né?!
Let's Play That
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Tweet
Conversa
Lilian Ribeiro
@eulilianribeiro
Hoje eu acordei com alguns fios curtinhos, porém despenteados. Usei um pente depois de alguns meses. O corriqueiro pra uns pode ser o extraordinário pra outros. A gente nunca deveria esquecer, né?! Bom domingo!
11:26 AM · 13 de mar de 2022·Twitter for Android
https://twitter.com/eulilianribeiro/status/1503014605077065731?s=24
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Let's Play That
Torquato Neto
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Ouça Let's Play That
quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let's play that
Ouça Let's Play That
Composição: Jards Macalé / Torquato Neto.
?Ler o livro de Luigi Del Re é lutar com nossos próprios fantasmas, eventualmente realidades. É doloroso mas não opressivo, é de fazer refletir, mas sem amargura. Não é um livro sobre a morte: é uma obra sobre o amor de um pai. E, como tal, faz parte dos livros que devem ser lidos porque, de certa forma, tornam a gente melhor?, diz Lya Luft, escritora.
Luigi Del Re homenageia o filho Bruno em livro
por Redação O Estado Do Paraná
14/01/07 00h00 - Atualizado: 19/01/13 23h09
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CULTURA
Primo Levi, os 100 anos de uma testemunha do Holocausto
Nadine Wojcik av
31/07/201931 de julho de 2019
Para o judeu italiano a literatura foi a forma de conviver com o destino de sobrevivente de Auschwitz. A visão precisa de cientista torna preciosos e únicos seus relatos sobre o horror indescritível.
Primo Levi sobreviveu à estada no campo de concentração de Auschwitz só graças ao acaso e à sorte. Ele viu outros seres humanos sendo degradados, humilhados, destruídos e aniquilados, e escreveu suas vivências em 1947, logo após retornar ao seu país natal, a Itália. Era um dos primeiros testemunhos literários dos abismos de desumanidade do Holocausto.
No entanto, seu pesadelo de detento de campo de concentração tornou-se realidade: ninguém acreditava nele, nem queria ler sua história. Por muito tempo, Levi não encontrou uma editora. A primeira tiragem de seu relato autobiográfico foi de apenas 1.400 exemplares.
Hoje, É isto um homem? é uma das grandes obras da literatura mundial. Após o lançamento pela conceituada editora italiana Einaudi, em 1958, a tradução para o alemão chegou três anos mais tarde. Foi necessário, portanto, uma década e meia até o mundo da literatura reconhecer o valor extraordinário das palavras desse sobrevivente.
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"Sou um sobrevivente do Holocausto"
22/07/201922 de julho de 2019
Kurt Marx, de 94 anos, escapou do Holocausto, mas seus pais não tiveram a mesma sorte. Ele foi uma das cerca de 10 mil crianças transportadas ao Reino Unido e salvas graças à operação de resgate "Kindertransport". O alemão diz não ter ódio no coração, mas alerta contra o ressurgimento da direita na Europa.
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"Sou um sobrevivente do Holocausto"
02:00
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Levi nasceu em 31 de julho 1919 e cresceu em Turim, numa família judaica liberal e culta. Sua paixão pela literatura era grande: antes mesmo de entrar para a escola, já sabia ler. Químico formado, combinava, na elaboração de suas vivências, o olhar do cientista e o do literato.
"Autor à revelia" para livrar-se do "fardo de lembranças pavorosas", ele observou e descreveu em É isto um homem? o que atravessara em seus 11 meses em Auschwitz: frio, fome, privação de sono e higiene, trabalho escravo, sofrimento físico extremo. O tom narrativo é frio, sem comentários, sem jamais perder o controle.
O autor não acrescenta nenhuma poesia, renuncia a manifestações emocionais, colocando-se, em vez disso, no papel de pesquisador, que ele bem conhecia. Sua descrição não visa expressar o próprio horror – isso cabe ao leitor. Essa objetividade seca o distingue de outros escritos autobiográficos sobre o Holocausto, tornando-o um escritor admirado.
A vergonha da sorte
Logo depois de Primo Levi começar o estudo de química na Universidade de Turim, o governo fascista promulgou a lei racial proibindo os cidadãos judeus de estudarem em faculdades públicas. Apesar de tudo, formou-se em 1941, com mérito – embora seu diploma trouxesse a ressalva "de raça judaica".
Em 1943 se juntou à resistência, lutou ao lado dela no noroeste da Itália, mas foi preso pela milícia fascista poucas semanas mais tarde. "Nós congelávamos e passávamos fome, éramos os partigiani mais indefesos de todo o Piemonte, e provavelmente os mais ingênuos, também." Temendo ser fuzilado como combatente, revelou sua origem judaica, sendo deportado para Auschwitz em fevereiro de 1944.
O trem transportava 650 homens, mulheres e crianças. Apenas 120 foram internados no campo, os demais, imediatamente executados nas câmaras de gás. Ao fim da guerra, Levi seria um de apenas cinco sobreviventes desse transporte.
Os nazistas recrutaram o químico de 25 anos para trabalhos forçados em uma unidade da empresa química IG Farben que funcionava no campo. Graças a esse acaso, ele sobreviveu o duro inverno nos galpões da fábrica. Quando contraiu escarlatina, porém, foi transferido para a "ala dos doentes", onde ficou abandonado à própria sorte.
Primo Levi sobreviveu também graças à doença, pois, pouco antes da libertação de Auschwitz foi deixado para trás, não tendo que participar das "marchas da morte". "O detento típico morria no decorrer de poucas semanas ou meses, de exaustão ou moléstias causadas pela desnutrição e carência de vitaminas", escreveria numa carta, na década de 70. "Cada um de nós, sobreviventes, é um favorecido pela sorte."
Lorenza Indovina e John Turturro em cena de Lorenza Indovina e John Turturro em cena de
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Lorenza Indovina e John Turturro em cena de "A trégua" (1997), de Francesco Rosi, baseado no romance de LeviFoto: picture-alliance/United Archives/Impress
Após a libertação do campo de extermínio, passaram-se quase nove meses até ele conseguir retornar a Turim, com a ajuda do Exército Vermelho. Antes, uma odisseia dos libertadores o enviou até Minsk, então capital da República Soviética da Bielorrússia. Essa visão de uma Europa destruída está descrita em A trégua, de 1963. O romance autobiográfico, filmado por Francesco Rosi em 1997, é em parte uma leitura leve, embora termine com pesadelos no campo de concentração.
De volta a Turim, Primo Levi trabalhou como químico, fez nome na técnica de isolamento de cerâmica e tornou-se diretor executivo de sua firma, continuando a atuar como consultor no setor, mesmo após a aposentadoria. Enquanto isso, perseguia sua segunda profissão, a literatura, experimentando com sucesso em diversos gêneros, de contos e romances à poesia, em parte sob pseudônimo.
Ao fim da vida, voltou a dedicar-se às traumáticas lembranças: "Minha verdadeira universidade foi Auschwitz", dizia. Em 1975, lançou Il sistema periodico (A tabela periódica), em que cada uma das 21 narrativas autobiográficas é dedicada a um elemento químico cujas características são parte da história. Numa votação do público, o Imperial College London escolheu a antologia de contos como "melhor livro de ciência popular de todos os tempos".
Em 1986, meio ano antes da morte de Levi, foi publicado I sommersi e i salvati (Os afogados e os salvos), em que ele retorna a sua definidora experiência em Auschwitz, 40 anos mais tarde, resumindo os temas de sua vida de sobrevivente. De forma pungente, ele reflete sobre o ato de recordar "o maior crime da história da humanidade".
Como em seus escritos anteriores, revela-se o quanto lhe pesa a "vergonha" de ter sobrevivido por mero acaso e sorte. "Não somos nós, os sobreviventes, as verdadeiras testemunhas. Essa é uma constatação incômoda de que me conscientizei lentamente, ao ler as lembranças de outros e reler as minhas próprias, passados anos."
"Nós, sobreviventes, somos uma minoria não apenas insignificantemente pequena, mas também anômala; somos aqueles que, por faltar com o dever, por destreza ou sorte, não tocamos o ponto mais profundo do abismo. Quem o tocou, não pôde mais voltar para contar, ou ficou mudo."
I sommersi e i salvati termina com uma série de cartas que ele recebeu dos leitores alemães de seu primeiro relato sobre Auschwitz, nos anos 60. Elas documentam o recalcado e fraturado sentimento de culpa das testemunhas da época.
E assim o pesadelo de Primo Levi acabou não se tornando realidade: até sua morte, em 1987, aos 67 anos, o italiano manteve a fama de admoestador respeitado e incansável, lutando de forma engajada contra o fascismo e o nacional-socialismo, participando regularmente de conversas com escolares e escrevendo artigos memoriais para jornais.
Seus relatos contribuíram também para as investigações contra o comandante de Auschwitz, Rudolf Höss; o médico do campo, Josef Mengele; e o arquiteto da "solução final", Adolf Eichmann.
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https://www.dw.com/pt-br/primo-levi-os-100-anos-de-uma-testemunha-do-holocausto/a-49816303
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Ida (2013), de Pawel Pawlikowski | Crítica
Filme revisita feridas do Holocausto através dos olhos de uma “inocência que morre”
By Mara Vanessa Torres
ida-2013-pawel-pawlikowski-critica-posterUma das melhores sensações que eu tenho experimentado na partilha física e mental que acontece nas salas de cinema – basta observar como todos os espectadores parecem estar ligados minimamente pelos acontecimentos que transcorrem na tela – é perceber o exato momento em que um filme hipnotiza toda a plateia, alterando comportamentos e prendendo respirações. Esse é o pêndulo mesmerizador de Ida (2013), filme do diretor polonês Pawel Pawlikowski. O longa conquistou inúmeros prêmios, incluindo European Film Awards e Associação Americana dos Diretores de Fotografia, além de duas indicações ao Oscar 2015 nas categorias “Melhor filme em língua estrangeira” e “Melhor Fotografia”, vencendo na primeira.
Filmado em preto e branco, Ida revisita as máculas do Holocausto através da história de vida da noviça Anna (Agata Trzebuchowska) e sua recém-descoberta tia Wanda (Agata Kulesza). Antes de confirmar os votos no convento onde vive, Anna é enviada pela madre superiora à casa da tia, para que saiba mais sobre a própria vida e decida entrar para a comunidade religiosa de forma consciente. Para Anna, o mundo começa e termina nas paredes do convento e é com insatisfação resignada que ela vai ao encontro da tia.
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Wanda é uma mulher dominada por fantasmas amargos, pelo vício do álcool, por amantes passageiros e um secreto histórico de tristezas. No passado, ela integrou a luta do movimento antinazista, tornando-se depois juíza e condenadora implacável dos torturadores/assassinos de judeus. Esse universo é extremamente oposto ao de Anna que, sem eufemismos, descobre que tudo o que conhecia sobre sua vida não passa de um rosário de mentiras. Na verdade, a noviça chama-se Ida Lebenstein e foi entregue na porta do convento quando ainda era bebê. Sem saber do paradeiro dos pais, Ida e a tia partem em busca de respostas; cada qual com suas angústias, medos e dores.
A história se passa em 1962, onde os resquícios da Segunda Guerra Mundial ainda despontavam como feridas abertas, fustigando os espíritos dos sobreviventes e de seus familiares. É nesse mundo novo que Ida mergulha com toda a sua inocência, experimentando a malícia e as chagas emocionais que fazem parte da história de sua família.
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O longa-metragem faz uso de uma câmera quase estática, apostando em close-ups. Outro elemento interessante em Ida é a opção pelo formato 4:3 e em preto e branco, apesar da gravação com câmera digital, uma clara referência aos filmes em 16mm. Outra curiosidade é que o filme também foi convertido para película 35mm, sendo exibido nas poucas salas de cinema que ainda suportam esse tipo de película. Com fotografia de cair o queixo – assinada por Ryszard Lenczewski e Lukasz Zal -, o longa revela a atmosfera silenciosa do interior de seus personagens, enfatizada também pela ausência de trilha sonora e passagens só com sons do ambiente. Como o público brasileiro – do qual posso falar baseada em minha vivência — não está acostumado com a linguagem do silêncio, é difícil manter uma constante em salas de exibição. Por isso, foi emocionante presenciar a interrupção imediata do frisar de sacos de pipoca, papéis de bombom, latas de refrigerante e murmúrios eternos. Naquela sessão, a plateia estava hipnotizada: Ida não faz ruídos, comunica-se pela atenção do olhar. É com esse andar sem deixar rastros que a jovem noviça aprende como lidar com a inocência que vai morrendo aos poucos.
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Mistura de reflexão e memória, o filme consegue alcançar a poesia que não grita, não gesticula e não balbucia: ela expressa com olhares e não-ditos. Destaque para a atuação das atrizes Agata Trzebuchowska e Agata Kulesza, intérpretes de Ida e Wanda, respectivamente. Como iniciante, Trzebuchowska comprova seu empenho – que vai além da semelhança física com a atriz Sissy Spacek (conhecida pela atuação em “Carrie, A Estranha” – 1976). Já Agata Kulesza recria as dores de inúmeras mulheres judias, guerrilheiras ou não, que viram suas famílias serem despedaçadas pelo horror nazista e tiveram que olhar para o abismo, evitando mirar em seus próprios reflexos.
Trailer:
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Mara Vanessa Torres Jornalista, escritora e crítica cultural. Apaixonada por literatura, história, cinema, música e ficções-reais. Aprendeu que existem verdades que mentem.
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Unisinos
Por que a memória e a verdade? : Núcleo de Direitos Humanos – Unisinos
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Fórum de Direito à Memória e à Verdade promove Semana de Resistência
O Fórum Direito à Memória e à Verdade (FMV) vai promover a partir desta segunda-feira (1) a Semana da Resistência. Na semana de aniversário do golpe militar de 1964, os integrantes do Fórum vão d REDAÇÃO
30/03/2013 00:00 | Atualizado 08/03/2020 05:00
O Fórum Direito à Memória e à Verdade (FMV) vai promover a partir desta segunda-feira (1) a Semana da Resistência. Na semana de aniversário do golpe militar de 1964, os integrantes do Fórum vão debater e celebrar a memória daqueles que desapareceram durante o período da ditadura militar, entre 1964 e 1985, que usurpou direitos fundamentais de cidadãos.
Na segunda-feira vai ser realizado o encontro “Lembrar para não repetir”, pela manhã, na Universidade Federal do Estado (Ufes), e no fim da tarde na Praça Costa Pereira. Já na terça-feira (2), o Fórum vai promover a exibição de um filme e debate sobre a vida de Orlando Bonfim Junior, militante capixaba desaparecido em 1975 por forças da ditadura militar.
O FMV foi criado para ser espaço de debate e articulação permanente, aberto às questões relacionadas ao período da ditadura militar, bem como ao resgate dos episódios ocorridos durante o período.
O Espírito Santo tem, proporcionalmente, o maior número de desaparecidos políticos durante a ditadura militar com casos que jamais foram solucionados, como Orlando Bonfim Júnior e Arildo Valadão, visto pela última vez em 1971.
Comissão da Verdade
Na última semana o governador Renato Casagrande deu posse aos membros da Comissão Estadual da Memória e da Verdade, que tem o objetivo de apurar os casos de violação dos direitos humanos ocorridos durante o período da ditadura militar.
Durante solenidade ocorrida no Palácio Anchieta, foram nomeados o advogado Agesandro da Costa Pereira, a assistente social Eugênia Célia Raizer, juiz de direito João Baptista Herkenhoff, os professores universitários Júlio Pompeu e Sebastião Pimentel Franco, a jornalista Jeane Bilich e o escritor Francisco Aurélio Ribeiro responsáveis por apurar os crimes que ainda hoje se encontram sem solução.
https://www.seculodiario.com.br/direitos/forum-de-direito-a-memoria-e-a-verdade-promove-semana-de-resistencia
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Bonfim, Orlando
(1915-1975): Nome completo Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior, militante do Partido Comunista Brasileiro - PCB, Advogado, Jornalista. Foi eleito vereador em Belo Horizonte nas eleições de 1946, tendo sido líder do seu partido, o PCB. Foi um dos signatários do Manifesto dos Mineiros e passou a dirigir jornais partidários e a advogar gratuitamente. Em 1958 mudou-se para o Rio de Janeiro, e começou a trabalhar na "Imprensa Popular". Uma das participações mais marcantes de Orlando foi na greve dos Operários do Morro da Mina, que durou 43 dias. Orlando atuou como advogado dos operários, morou com eles e foi lá que, procurado vivo ou morto, conseguiu cobertura de casa em casa, escondendo-se da polícia. Desapareceu no dia 8 de outubro de 1975, tendo sua familia recebido um telefonema anônimo, em que alguém, dizendo-se tratar de "um amigo de seu pai", comunicava a um dos filhos a prisão de Orlando e pedia que a família contratasse um advogado e comunicasse o fato à ABI. Imediatamente, os filhos e o Comitê Central do PCB mobilizaram-se para localizá-lo. No mesmo dia, foi feito contato com uma autoridade em Brasília, que prometeu elucidar o desaparecimento de Orlando em 72 horas. Passaram-se as horas, os dias, os anos e Orlando nunca foi encontrado, apesar dos esforços de partidos políticos e entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Comitê Brasileiro pela Anistia, Comissão de Justiça e Paz e OAB. Seu corpo nunca foi encontrado e de acordo com declarações do ex-sargento do DOI-CODI/SP, Marival Dias Chaves do Canto, em declarações à revista "Veja" de 18/11 /92, Orlando Bonfim Júnior, como pertencente à cúpula do PCB, foi morto com injeção para matar cavalo. Foi capturado no Rio de Janeiro pelo Destacamento de Operações e de Informações de São Paulo e levado para o cárcere Castello Branco. Foi morto e jogado no Rio Avaré, no trecho entre a cidade de Avaré/SP e a rodovia Castelo Branco.
foto
Orlando Bonfim
Fonte: Movimento Tortura Nunca Mais
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/b/bonfim_orlando.htm
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Cecília Coimbra e Flora Abreu consultando dossiês no Arquivo Público do Rio de Janeiro
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DOSSIÊS | DESPARECIDOS-RJ
Dossiês de Mortos e Desaparecidos Políticos
Triste memória a de um povo que tem que lembrar dos que morreram ou desapareceram sob o jugo de torturadores não confessos, não publicizados, não responsabilizados!
https://www.torturanuncamais-rj.org.br/dossie-mortos-desaparecidos/desparecidos-rj/
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Sequência
Ciro Gomes
@cirogomes
·
7 h
Há datas de celebração e orgulho, também datas – como a de hoje – de luto e vergonha. Quatro anos atrás, Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados. Até hoje, forças poderosas impedem o esclarecimento destes crimes brutais.
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Ciro Gomes
@cirogomes
Que Brasil é este, onde milicianos e seus chefes, encastelados em altos postos, aparentam ser mais fortes que o clamor popular? Lutemos para apagar esta vergonha e fazer prevalecer a justiça.
6:29 AM · 14 de mar de 2022·Twitter Web App
https://twitter.com/cirogomes/status/1503302207214657539?s=24
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há 2 dias
G1 - Globo
Assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes completam 4 anos ainda sem solução
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Caso Marielle: quatro anos após o crime, o que falta responder e quais os próximos passos da investigação
Quatro anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a Polícia Civil e o Ministério Público dizem que ainda não há prazo para a conclusão da investigação.
Por Bette Lucchese, Márcia Brasil e Cláudia Loureiro, TV Globo e g1 Rio
14/03/2022 00h01 Atualizado há 3 horas
Assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes completam 4 anos ainda sem solução
Assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes completam 4 anos ainda sem solução
Os assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes completam 4 anos nesta segunda-feira (14) sem que se saiba quem são os mandantes do crime.
Ao longo desse tempo, houve troca-troca no comando das investigações. Três grupos diferentes de promotores ficaram à frente do caso no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Na Polícia Civil, o quinto delegado assumiu há pouco mais de um mês.
A força-tarefa que investiga o crime afirma ter encontrado os executores e descoberto a dinâmica da noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, na região central do Rio.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como os assassinos de Marielle e de Anderson. Os ex-PMs, presos em penitenciárias federais fora do RJ, vão a júri popular, ainda não marcado.
Mas a polícia e o MP ainda buscam outras respostas:
Quem mandou matar Marille?
Por que Marielle foi morta?
O crime teve motivação política?
Onde está a arma do crime?
Por que a demora para concluir o caso?
Quais são os próximos passos da investigação?
Existe um prazo para a conclusão do caso?
Veja abaixo um resumo do que falta esclarecer e quais são os próximos passos da investigação.
Marielle Franco — Foto: Fantástico/ Reprodução
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Marielle Franco — Foto: Fantástico/ Reprodução
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Quatro anos após morte de Marielle, MP não analisou parte das provas
Veja notícias e detalhes da investigação
1. Quem mandou matar Marielle?
As investigações seguiram diferentes linhas, mas até o momento nenhuma foi adiante. Quatro anos depois dos assassinatos, a dúvida permanece.
2. Por que Marielle foi morta?
Para a o MP, a resposta depende da identificação do mandante do crime.
“Essa é a pergunta que a gente só vai conseguir responder quando a gente conseguir identificar o mandante”, diz o coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ, Bruno Gangoni.
3. O crime teve motivação política?
MP e a Polícia Civil divergem sobre a questão.
Para o MP, essa é a principal linha de investigação por se tratar de uma vereadora com expressiva votação, mas nenhuma outra está descartada.
Alguns nomes citados durante a apuração, como Cristiano Girão e Domingos Brazão, ainda são analisados.
Cristiano Girão é ex-vereador, ex-chefe da milícia da Gardênia Azul e está preso. Ele foi acusado de ser o mandante de outro homicídio, que teria a participação de Ronnie Lessa.
Domingos Brazão é conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado. Em 2019, a Procuradoria Geral da República apresentou denúncia contra ele, que foi acusado de obstruir as investigações do Caso Marielle.
Quase um ano depois, o Superior Tribunal de Justiça mandou o processo para o Tribunal de Justiça do Rio, onde está sob sigilo.
Já a Polícia Civil diz que a investigação está sob sigilo, mas é tratada como um duplo homicídio.
“Não se trata de questão política na ótica da polícia. Nós encaramos como um crime seríssimo, um crime absolutamente covarde em que duas pessoas perderam a vida. O que existe é um caso complexo”, afirmou Henrique Damasceno, diretor do Departamento de Homicídios.
*O que dizem as defesas de Brazão e Girão:
A defesa de Domingos Brazão disse que ele não responde a nenhuma ação ou inquérito sobre as mortes de Anderson e Marielle Franco, "por quem Brazão tinha carinho muito grande". Disse ainda que tem todo interesse no esclarecimento do crime.
A defesa de Girão disse que ele não tem nenhuma relação com os fatos e que, assim que o nome de Girão foi mencionado como um possível suspeito, pediu informações ao MP e à DH, perguntando se ele era formalmente investigado. A defesa diz que tem as duas certidões negando que ele seja alvo de investigação.
4. Onde está a arma do crime?
Policiais da Delegacia de Homicídios e o Ministério Público não conseguiram até hoje descobrir onde está a arma utilizada para matar Marielle e Anderson.
A perícia apontou que o assassino utilizou uma submetralhadora MP-5 com munição UZZ-18. Mas os investigadores não sabem o destino da arma.
Investigações mostram que fuzis foram jogados ao mar no dia seguinte à prisão de Lessa, em março de 2019. No entanto, qualquer arma jamais foi encontrada. Nem o MP afirma, categoricamente, que o MP-5 do atentado estaria entre o material jogado.
Uma testemunha contou que foram jogados ao mar seis armas, uma bolsa e uma caixa lacrada.
A Marinha fez buscas no oceano, na Barra da Tijuca, na tentativa de encontrar o armamento. Foi em vão.
Equipes de mergulhadores também chegaram a fazer buscas nas cisternas e em bueiros do condomínio onde Lessa morava, na Zona Oeste do Rio, mas a arma não foi encontrada.
Mergulhador entra em bueiro de condomínio para tentar encontrar armas usadas na morte de Marielle — Foto: Reprodução
Mergulhador entra em bueiro de condomínio para tentar encontrar armas usadas na morte de Marielle — Foto: Reprodução
5. Por que a demora para concluir o caso?
Para o coordenador Gaeco, Bruno Gangoni, o profissionalismo dos executores torna mais difícil a elucidação do crime.
“Se os executores fossem amadores, a gente certamente já teria chegado no mandante. A gente continua otimista e eu acredito sinceramente que a gente vai conseguir elucidar”.
6. Quais são os próximos passos da investigação?
O MP recebeu da Polícia Civil 1.300 imagens (fotos e vídeos) novas do caso na última terça-feira (8). Esse material foi incorporado a outros 1.500 arquivos que já estavam com os promotores desde 2018.
São imagens de câmeras de segurança — da Prefeitura, de prédios e hotéis — da época do crime.
O material apreendido na casa de Ronnie Lessa, quando ele foi preso em março de 2019, também só foi repassado ao MP somente na última terça-feira (8). São documentos, notebooks e cartões de memória.
Além disso, o MP voltou a investigar uma antiga informação descartada no início do caso. A possibilidade de que um segundo carro tenha dado apoio ao veículo modelo Cobalt usado pelos criminosos.
Existe a suspeita de que os réus — Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz — tenham trocado de carro para dar sequência à fuga.
7. Existe um prazo para a conclusão do caso?
Não.
Segundo o MP, porque existem linhas de investigação e diligências a serem feitas no futuro. “É preciso que aconteçam fatos da vida para que a gente não queime cartucho. Então, o timing para essas diligências ainda não chegou”, diz Gangoni.
“A investigação tem um tempo próprio. São as provas que serão coletadas no decorrer das investigações e os resultados delas que determinarão quando as conclusões virão”, fala Damasceno.
Manifestação
Familiares e amigos da vereadora e do motorista fizeram, na manhã desta segunda-feira (14), em frente à Câmara Municipal, um ato para marcar os quatro anos dos assassinatos e também para cobrar soluções das autoridades.
Logo cedo, uma faixa com a pergunta "Quem mandou matar Marielle?" também foi estendida em frente ao Palácio Pedro Ernesto, sede da câmara.
Além disso, os parentes e amigos farão, também na manhã desta segunda, uma missa em memória das duas vítimas.
MORTE DA VEREADORA MARIELLE FRANCO
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MARIELLE FRANCO
RIO DE JANEIRO
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questões latino-americanas
SEM GRAVATA, NUM CHILE DE PORTAS ABERTAS
Ex-líder estudantil, Gabriel Boric assume comando do país em posse marcada pela presença de ativistas de direitos humanos
Carolina Rojas
|
11 mar 2022_18h56
Gabriel Boric chegou ao Congresso do Chile às 11h26, num terno sem gravata e de mãos dadas com a namorada, Irina Karamanos. Aos 36 anos, seria empossado presidente do Chile e se transformaria no mais jovem chefe de Estado da América do Sul. Diante da entrada principal, Boric fez um gesto no qual nem todos repararam: olhou para o teto do prédio do Congresso, em Valparaíso, e se deteve por alguns segundos. Foi como se tivesse que se convencer do que estava acontecendo.
Três meses antes, no domingo, 19 de dezembro, passava das cinco e meia da tarde e já havia saído a terceira parcial de votos na eleição presidencial. Os números confirmavam que Gabriel Boric, o candidato da esquerda, ex-líder estudantil, seria o próximo presidente do Chile. A população celebrava nas ruas e os jornalistas esperavam na saída do comitê. Simón Boric, 33 anos, timbre de voz idêntico ao do irmão Gabriel, apareceu nervoso diante das câmeras.
— Estou feliz — e sua voz ficou trêmula.
Mais tarde, numa terça-feira de março, a três dias da posse, Simón admitiu que naquele dia estava à beira das lágrimas, transbordando daquela felicidade palpável pelo sonho cumprido – o próprio ou o de alguém que amamos. Mas, além de felicidade, havia medo. O triunfo de José Antonio Kast, representante da extrema direita chilena, significaria o retrocesso em temas como políticas migratórias, o futuro do feminismo e questões LGBTQIA+, para citar apenas alguns.
— Gabriel saiu da outra sala e disse: “Quero dizer que estou preparado e que estamos preparados.” Ali nos chamou para que nos juntássemos: meus pais, Irina, meu irmão Tomás, nossas companheiras, e nos abraçamos em círculo — conta Simón, fazendo o gesto com os braços, como fazem os jogadores de futebol americano.
Na cabeça de Simón também passaram outras lembranças, muitas da infância em um território a 3 mil km de Santiago: Punta Arenas, a entrada do continente Antártico. Há uma foto de ambos, no meio da neve, em que Gabriel Boric abraça seu irmão num gesto protetor. Na escola, Gabriel também protegia o irmão mais novo, contou Simón, que se preparou para levar à transmissão de cargo uma bandeira de Magalhães, a região onde a família nasceu.
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Gabriel Boric com o pai, a mãe e os irmãos Simón e Tomás — Crédito: Foto cedida por Simón Boric
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Gabriel e seu irmão Simón quando crianças, na neve — Crédito: Foto cedida por Simón Boric
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Na véspera da transmissão de cargo, no Centro de Santiago, havia carabineiros em cada esquina. Chegavam as primeiras comitivas internacionais.
Numa das mesas de um café do Barrio Bellas Artes encontrei Javier Velasco, 35, amigo de universidade de Gabriel Boric e militante, como ele, da antiga Esquerda Autônoma. Velasco, advogado, com mestrado em direito em UC Berkeley, também foi candidato a conselheiro regional pela Zona Norte de Santiago. Disse que ainda lhe parecia meio surreal pensar numa pessoa tão próxima de si com a faixa presidencial. Gabriel Boric foi seu confidente na Faculdade de Direito da Universidade do Chile. Velasco lembra que o amigo é um leitor voraz e que isso o formou como orador. Destacou sua capacidade de observação, algo que o converte em alguém muito lúcido. Tudo isso, em sua opinião, pavimentou seu caminho à presidência.
Poderia dizer muitas coisas do companheiro. Há lembranças de passeios, das ocupações… Mas decide contar primeiro como ambos, assim como o amor pela política, compartilham o gosto pela poesia.
– Algo muito característico de nossa geração é o romantismo, muito da América Latina. Era o Chile de 2004, um país que estava muito adormecido, e vivíamos a política com muita paixão — lembra.
Uma das lembranças que o fazem sorrir é a da ocupação da faculdade em 2009, com Gabriel Boric à frente, como presidente do centro de estudantes. Durou 42 dias, e seu objetivo era que a escola recuperasse seu papel na produção de conhecimento e na atuação política. E que, em definitivo, investisse em livros.
Eram de uma geração de transição. Por um lado, tinham o olhar bem posto no futuro; por outro, ainda eram jovens tentando se desvencilhar do medo dos pais da militância, dos enfrentamentos com a polícia. Pais que falavam de tiroteios e desaparecidos.
— Quando estive em Punta Arenas, uma vez a mãe do Gabriel me perguntou se eu não achava muito perigosa nossa militância em Santiago. Respondi que não, nem um pouco, mas agora, olhando para trás, sinto que a violência que vivíamos era muito invisível.
A mãe de Gabriel, María Soledad Font, é uma figura forte na família. Na véspera da posse, disse à piauí que entregou à divindade o destino do filho.
– Eu pedi a ela que seja o melhor para o Gabriel e o melhor para o Chile. Aceitei tudo com humildade, não sei se com alegria ou com tristeza. Simplesmente aceitei.
Antes mesmo de tomar posse, Gabriel Boric teve sua primeira reunião, na manhã desta sexta, com dirigentes sociais de Viña del Mar, num aceno aos movimentos sociais e ressaltando a importância de “abrir as portas”, que é a marca que ele quer dar ao novo governo. No Congresso, as pessoas o aguardam com cartazes e bandeiras alusivas a ele e à Convergência Social. Muitos jovens e pessoas da terceira idade.
Enquanto isso, a televisão fala dos convidados. Longe de todo esse glamour também estão os marginalizados de sempre da quinta região, os moradores dos morros e das ocupações: Manuel Bustos e Felipe Camiroaga em Viña; Violeta Parra e Newen Curruf em Valparaíso. Para Javier, essa assimetria de poder se rompe quando “os meninos” — ou seja, “os estudantes” — entram no Congresso. Entre eles Camila Vallejo, uma das líderes dos protestos estudantis junto com Boric.
Para Velasco, é uma sinalização de mudança na forma de conduzir o país. Ele disse que, há alguns dias, quando Boric foi se despedir dos funcionários do Congresso, mostrou a ruptura dos esquemas formais e o fim da verticalidade.
— Eu trabalhei quatro anos no Congresso, e lá contavam que antigamente os deputados nem sequer cumprimentavam os funcionários quando entravam e tinham um elevador só para eles. Todos esses hábitos vão sendo removidos — diz.
A uma semana do fim do prazo de inscrição da candidatura de Boric, ainda faltavam 10 mil assinaturas para ele poder participar das primárias. Ao lado — e não atrás dele — estavam também mulheres como Antonia Orellana (atual ministra da Mulher), Javiera Cabello e Constanza Martínez, feministas e companheiras militantes.
Finalmente superaram o desafio e as assinaturas chegaram. Até mais que o esperado.
Às 12h30 desta sexta, Gabriel Boric recebeu a faixa presidencial e a medalha de Bernardo O’ Higgins, que o ungem como novo presidente do Chile. Levantou a mão esquerda ao término do hino nacional, e a mão direita pousou sobre o coração. Depois do hino, de máscara, abraçou os presidentes de Argentina, Alberto Fernández, Paraguai, Mario Abdo Benítez, Bolívia, Luis Arce, Uruguai, Luis Lacalle Pou e Equador, Guillermo Lasso. O vice-presidente Hamilton Mourão representou o governo brasileiro, e a ex-presidente Dilma Rousseff, o PT. Na posse estavam ativistas de direitos humanos, líderes de organizações não governamentais e representantes de povos originários, além da escritora Isabel Allende, sobrinha do presidente Salvador Allende, derrubado pelos militares em 1973. Uma neta de Allende, Maya Fernández Allende, assumirá a pasta da Defesa. O ministério de Boric terá mais mulheres que homens.
Na Avenida Morris, mulheres, adultos e jovens esperam Boric com bandeiras. Três adolescentes, duas garotas e um rapaz, parecem ansiosos e perguntam aos carabineiros se o novo presidente passará por ali no Ford Galaxie presidencial – pela primeira vez dirigido por uma mulher. Esperam como se se tratasse de uma banda de K-pop. Para muitos é rara a proximidade de Boric com os jovens; para outros é parte de sua juventude e de certo charme. Os adolescentes correm até a Avenida Argentina para esperá-lo.
— Ai, eu o amo! — diz uma jovem morena com cabelo liso.
Corre e se perde pela Avenida Morris.
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Tradução: Rubia Goldoni e Sergio Molina
Carolina Rojas
Jornalista chilena, dedicada a temas de direitos humanos e violência de gênero. É autora de Abandonados – Vida y muerte al interior del Sename
https://piaui.folha.uol.com.br/sem-gravata-num-chile-de-portas-abertas/
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O dia em que Henry Sobel enfrentou a ditadura militar
Felipe Souza - @felipe_dess
Da BBC News Brasil em São Paulo
22 novembro 2019
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Rabino Henry Sobel
CRÉDITO,GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Legenda da foto,
Rabino Henry Sobel se negou a enterrar o jornalista Vladimir Herzog como um suicida
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No dia 27 de outubro de 1975, o corpo do jornalista Vladimir Herzog era levado para ser enterrado como o de um suicida no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.
Segundo o judaísmo, a causa da morte previa que ele fosse sepultado às margens do local.
Mas Henry Sobel, na época com 31 anos, se negou a aceitar a versão oficial de que Herzog tinha tirado a própria vida. O Exército afirmou que o jornalista tinha cometido suicídio em sua cela, no dia 24, e divulgou uma foto na qual ele aparecia pendurado por um cinto amarrado ao pescoço.
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Sobel tinha visto o corpo — e as marcas de tortura, conforme relatou mais tarde. Ele decidiu, então, confrontar as autoridades, contrariar pressões internas da comunidade judaica e enterrar Herzog no centro do cemitério. O ato foi um desafio aberto à versão oficial contada pela ditadura sobre a morte do jornalista.
Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil pelo assassinato de Vladimir Herzog.
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Fim do Talvez também te interesse
Vladimir Herzog
CRÉDITO,INSTITUTO VLADIMIR HERZOG
Legenda da foto,
Herzog morreu sob tortura nas instalações do DOI-CODI do Exército em São Paulo em outubro de 1975, aos 38 anos
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Henry Sobel morreu nesta sexta-feira (22/11) em Miami, nos Estados Unidos, por complicações causadas por um câncer no pulmão. Ele deixa a esposa e uma filha. O religioso nasceu em Portugal e ainda na infância se mudou com a família para Nova York. Na década de 1970, ele aceitou o convite para se tornar rabino na Congregação Israelita Paulista.
Em entrevista à BBC News Brasil, o filho mais velho de Vladimir Herzog, Ivo Herzog, disse que as ações de Sobel logo após a morte de seu pai, especialmente um ato ecumênico na praça da Sé, foram cruciais para mudar o rumo histórico da morte do jornalista e para o enfrentamento da ditadura.
"Ele (Sobel) faz parte da história da nossa família. Foi a primeira pessoa que denunciou o assassinato do meu pai. Algumas horas depois da morte ele dizia que ele tinha sido um assassinato. Na mesma semana, eles fizeram um ato ecumênico na praça da Sé, que marcou o início do fim da ditadura no Brasil", afirmou.
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Rabino Henry Sobel
CRÉDITO,AGÊNCIA BRASIL
Legenda da foto,
Rabino se negou a aceitar a versão do Exército de que Herzog tinha se matado enforcado
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Sobel liderou, ao lado de dom Paulo Evaristo Arns, à época arcebispo de São Paulo, e o pastor Jaime Wright um ato ecumênico em homenagem a Herzog. A catedral da Sé e a praça à sua frente ficaram tomadas por uma multidão numa manifestação silenciosa no dia 31 de outubro de 1975.
"Aquele grande ato foi marcante pela grandiosidade que teve, com o governo fechando acessos à praça e pronto para reprimir a chegada de mais pessoas. Foi o início do fim da ditadura porque ele foi pacifista, causado pelo assassinato de uma pessoa também pacifista", disse Ivo Herzog.
Herzog morreu nas instalações do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna) do Exército, em São Paulo.. Ele havia comparecido voluntariamente ao órgão para prestar esclarecimentos sobre vínculos com o PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Relação com a família
Rabino emérito da Congregação Israelita Paulista, Sobel ficou conhecido no Brasil por sua atuação na defesa dos direitos humanos. De acordo com o filho de Herzog, a relação com o rabino não era muito próxima, principalmente nos últimos anos, por conta da distância entre as famílias.
"A gente nunca teve uma relação muito próxima. Nos encontrávamos em eventos políticos e em incontáveis cerimônias de entrega do prêmio Vladimir Herzog. Nos últimos anos ele estava mais recluso porque mesmo antes de se mudar para Miami em 2013 ele já estava doente e se preservava muito", afirmou Ivo Herzog.
Mesmo não tão próximos, o filho do jornalista diz que o rabino sempre demonstrava muito carinho quando os encontrava.
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Mulher de Vladimir Herzog com Henry Sobel
CRÉDITO,ACERVO INSTITUTO VLADIMIR HERZOG
Legenda da foto,
Clarice Herzog, mulher de Vladimir, durante cerimônia em homenagem a Henry Sobel no Memorial da América Latina em 2013
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"Ele foi uma pessoa muito acolhedora. Tinha o jeito dele de falar, com sotaque muito forte. Me chamava de 'meu amigo'. Ele nunca demonstrou distanciamento. Sempre foi muito genuíno e acolhedor não só com a gente. Hoje, estou recebendo muitas manifestações de apoio e todos dizem que têm uma lembrança de um grande ser humano."
Por conta da distância, nenhum familiar de Herzog deve comparecer ao sepultamento do rabino, que será nos EUA.
Antes de Sobel se mudar para os Estados Unidos, o Instituto Vladimir Herzog fez uma cerimônia de despedida, que contou com a presença de cerca de 500 pessoas, entre autoridades e líderes de diversas religiões. O evento foi descrito como "emocionante" pelo filho de Herzog.
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Henry Sobel e Ivo Herzog
CRÉDITO,ACERVO INSTITUTO VLADIMIR HERZOG
Legenda da foto,
Henry Sobel com Ivo Herzog no lançamento do Instituto Vladimir Herzog em 2009 na Cinemateca Brasileira
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Ivo fez questão de lembrar que Sobel era muito querido, mas também sofria resistência dentro da própria comunidade judaica. Entre os argumentos usados para criticá-lo estava o fato do rabino ter sido preso em 2007 após ter furtado cinco gravatas de uma loja de grife nos Estados Unidos.
Sobel justificou ter cometido o crime porque na época passava por transtornos psiquiátricos. Posteriormente, afirmou que foi uma "falha moral".
"Ele (Sobel) é uma figura que recebeu apoio da comunidade judaica, mas muitos não simpatizavam com ele. (Eles falam) desde o ato das gravatas... que é uma situação ridícula. E essa posição dele de desafiar o status quo também vai contra uma parte mais conservadora da comunidade", afirmou.
Morte de Herzog
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Herzog nasceu em 1937 na Croácia (na época, Iugoslávia), morou na Itália e se mudou para o Brasil com os pais em 1942.
Formado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), o jornalista trabalhou no serviço da BBC em Londres de 1965 a 1968, quando retornou ao Brasil. Em 1975, foi escolhido para dirigir a TV Cultura, em São Paulo, no mesmo ano em que foi morto.
Ao examinar os laudos da morte de Herzog, peritos contratados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) negaram a versão oficial. Eles identificaram que haviam "dois sulcos" no pescoço do jornalista. Os especialistas afirmaram que as marcas indicam que Herzog foi estrangulado e depois amarrado em um cinto para simular um suicídio.
Membros da Congregação Israelita Paulista, que foram responsáveis pelo funeral de Herzog, também foram ouvidos pela CNV. Os funcionários também disseram ter identificado "evidências concretas" de outros sinais de tortura no corpo de Herzog.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50511776
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Primer discurso de Gabriel Boric como presidente de Chile, revívelo completo
181.170 visualizações11 de mar. de 2022
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CNN en Español
2,98 mi de inscritos
Mira completo el primer discurso del presidente Gabriel Boric tras asumir la presidencia de Chile y quédate al comentario del analista político Patricio Navia.
Con 36 años, Gabriel Boric es el presidente más joven en asumir el cargo en la historia de Chile. Boric reconoció en su primer discurso, ya vistiendo la banda presidencial, que le espera un camino complejo por la situación económica tras la pandemia: "Cuando la riqueza se concentra solo en unos pocos, la paz es muy difícil. Necesitamos redistribuir la riqueza que producen los chilenos y chilenas". Cristopher Ulloa con el reporte de lo más destacado de la asunción de Boric.
https://www.youtube.com/watch?v=Mo-QMxJCXME
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El País
Primo Levi, un escritor necesario, otros 100 años más | Cultura | EL PAÍS
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Os tormentos da memória: trauma e narrativa nos escritos de Primo Levi
The torments of memory: trauma and narrative in Primo Levi's writings
Geraldo Antonio Soares
Professor do Departamento de História, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Av. Fernando Ferrari, 514, Campus Universitário de Goiabeiras, CEP 29075-910 Vitória ES, geraldosoares12@gmail.com
RESUMO
O escritor e químico italiano Primo Levi passou um longo ano de sua vida no campo de concentração de entre 1944 e 1945. Uma vez liberto do campo, ele começa a escrever suas memórias deste período e publica seu primeiro livro É isto um homem? em 1947, seguido de outras obras, inclusive de ficção. Mas ele sempre se questionou se valia a pena resgatar e registrar o que viveu no campo. Pensava que havia uma espécie de dever de memória que poderia resultar num legado para as gerações futuras, evitando que barbáries como essa voltassem a ocorrer. Mas sentia também a necessidade do esquecimento, tamanho foi o trauma vivido e a vergonha daquilo que os seres humanos chegaram a fazer com outros seres humanos. Examinando o conjunto de sua obra, trataremos aqui desta complexa relação entre memória, esquecimento e narrativa e de sua importância para a história.
Palavras-chave: memória, narrativa, Primo Levi
ABSTRACT
The Italian writer and chemist Primo Levi spent a long year of his life at the Auschwitz concentration camp between 1944 and 1945. Once freed from the camp, he starts to write his memoirs of this period and publishes his first book "If this is a man" in 1947, followed by others, including fiction. However, he always questioned whether it was worthwhile to recover and leave records of what he witnessed in the camp. If, on the one hand, he thought of his writing as some sort of duty of memory that could result in a legacy for future generations thus preventing barbarities of this kind to repeat, on the other, he felt the need to forget, given the trauma experienced and the shame at what human beings were capable of doing to other human beings. By examining his work as a whole, we will take a closer look at the complex relation between memory, forgetting, narrative and their importance to history.
Keywords: memory, narrative, Primo Levi
No campo de concentração de Monowitz, pertencente ao complexo de campos de concentração de Auschwitz, na Alta Silésia, a aproximadamente 60 km a oeste da cidade polonesa de Cracóvia, no qual foi um dos prisioneiros entre fevereiro de 1944 e janeiro de 1945, o químico e escritor italiano Primo Levi (1919-1987) fez amizade com um ex-sargento do exército austro-húngaro, Cruz de Ferro da Primeira Guerra Mundial, de nome Steinlauf. Este seu amigo o exortava sempre a se manter limpo, tomando banho, mesmo com água suja, sem ter sabão e toalha e tendo que se enxugar com o próprio casaco. Não para atender a disciplina imposta pelos alemães e sim para dar um sentido à vida que levavam ali. Justamente pelo fato de ter sido o campo de concentração concebido como uma grande engrenagem para transformar os prisioneiros em animais, eles não deviam permitir isto. Não deviam se entregar e dar o seu consentimento. Até num lugar como aquele era possível sobreviver para relatar a verdade, para darem seus testemunhos, de acordo com Steinlauf. Era então necessário resistir. Embora Primo Levi reconheça que esta foi uma lição essencial para sua sobrevivência, a dúvida sempre o assaltava. Será mesmo necessário elaborar um sistema e observá-lo? E se tudo aquilo não possuísse sentido algum?
Notamos que esta era uma angústia que sempre o acometia. Se por um lado é necessário testemunhar, por outro, fica sempre a dúvida se o que se diz corresponde inteiramente ao ocorrido, tamanho é o trauma. Esta angústia se revela como nunca no sentimento de estar sendo injusto com os que morreram porque só eles é que estariam autorizados a testemunhar a imensidão do sofrimento. Os que sobreviveram não teriam vivido plenamente a realidade do campo, caso em que, como a quase totalidade dos judeus que por ali passaram, teriam também sucumbido. Mas justamente ao falar pelos companheiros mortos, é que se revela a função primordial do testemunho, já que aqui, mais do que nunca, aparece um dos sentidos do discurso da história, qual seja, o de que "é de qualquer modo a função do discurso como lugar da palavra oferecer aos mortos uma terra e um túmulo".1
Se, a partir de suas dúvidas sobre se devia ou não narrar tudo que passou no campo, Primo Levi tivesse optado pela busca do esquecimento e da refutação da memória, ele provavelmente encontraria uma razão a mais para considerar os alemães como vencedores em seu projeto de extermínio na medida em que eles também visavam o desaparecimento completo de suas vítimas. É o que nos diz Hannah Arendt: "Nos países totalitários, todos os locais de detenção administrados pela polícia constituem verdadeiros poços de esquecimento onde as pessoas caem por acidente, sem deixar atrás de si os vestígios tão naturais de uma existência como um cadáver ou uma sepultura".2
O sobrevivente dos campos passa a viver com um sentimento de culpa difuso e insuperável. Convivem também com uma vergonha injustificável para nós, mas nem por isto menos real para eles que pode ser definida a partir dos seguintes componentes, segundo Tzvetan Todorov: primeiro, a vergonha da lembrança ou, na medida em que fica privado de sua vontade e que é reduzido à impotência, de realizar uma série de atos visando a sobrevivência, que julga abjetos e indignos de um ser humano; há também a vergonha por sobreviver ou de ter ocupado o lugar de outro melhor do que ele, já que aquele não teria usado os mesmos expedientes que ele condena para sobreviver; e, enfim, a mais abstrata, a vergonha de ser humano, o sentimento de que "pertencemos a uma espécie cujos representantes realizaram atos atrozes e sabemos que não podemos nos proteger contra as implicações deste fato declarando que estas pessoas são loucas e monstruosas; não, somos feitos do mesmo barro".3
Em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que se propõe exatamente a produzir um relato sobre a banalidade do mal, Hannah Arendt chama atenção para o fato de que o réu, que foi o responsável direto pela deportação dos judeus de territórios ocupados da Áustria, Polônia e Hungria para os campos de concentração, não era nenhum monstro. Era o que poderíamos considerar como um homem comum, não muito diferente da maioria das pessoas que viviam na Alemanha na época do Terceiro Reich. Mas ali, na Alemanha nazista, a vida não seguia o seu curso ordinário e as pessoas não eram mais tão comuns:
E assim como a lei de países civilizados pressupõe que a voz da consciência de todo mundo dita Não matarás, mesmo que o desejo e os pendores do homem natural sejam às vezes assassinos, assim a lei da terra de Hitler ditava à consciência de todos: Matarás, embora os organizadores do massacre soubessem muito bem que o assassinato era contra os desejos e os pendores normais da maioria das pessoas. No Terceiro Reich, o Mal perdera a qualidade pela qual a maior parte das pessoas o reconhecem a qualidade da tentação.4
Mas nem todos somos capazes de matar e torturar. Como assinala Tzvetan Todorov, o fato de sermos todos feitos do mesmo barro não significa que devemos ignorar o abismo que separa o possível do real:
Sem dúvida somos todos egoístas, mas nem todos nos tornamos racistas e, entre os racistas, somente os nazistas, na Europa, chegaram ao extremo que é o extermínio racial. Os homens são todos potencialmente capazes do mesmo mal, mas não o são efetivamente, pois não tiveram as mesmas experiências: sua capacidade de amor, de compaixão, de julgamento moral ou foi cultivada e se desenvolveu ou, ao contrário, foi sufocada e desapareceu.5
Memória, morte e testemunho se entrelaçam na experiência do sobrevivente dos campos. Um testemunho de uma realidade passada que, por ser absurda na sua desumanidade, renasce com uma enorme dificuldade:
Aquele que testemunhou sobreviveu de modo incompreensível à morte: ele como que a penetrou. Se o indizível está na base da língua, o sobrevivente é aquele que reencena a criação da língua. Nele a morte o indizível por excelência, que a toda hora tentamos dizer recebe novamente o cetro e o império sobre a linguagem. O simbólico e o real são recriados na sua relação de mútua fertilização e exclusão.6
Sobre o valor do testemunho, sobre sua incompletude e sobre a dificuldade em narrar toda a realidade, lembra Shoshana Felman que a partir de Freud, em A interpretação dos sonhos, a psicanálise repensa profundamente e renova radicalmente o próprio conceito de testemunho, e isto se dá
ao sugerir e ao reconhecer, pela primeira vez na história da cultura, que não é necessário possuir ou ser dono da verdade para testemunhar sobre ela de forma eficiente; que o discurso, enquanto tal, é testemunhal sem o saber e que aquele que fala, constantemente testemunha uma verdade que, apesar disso, continua a lhe escapar. Uma verdade que é, essencialmente, inacessível para o próprio orador.7
No campo de concentração, a personalidade corria maior risco que a própria vida. O campo funcionava como um laboratório para a morte. Além do trabalho forçado, interessava aos que o montaram experiências destrutivas da vida. A idéia de eugenia, associada à de produção de uma raça superior ariana, se ligava também a um projeto de destruição daqueles considerados inferiores. Mas não se tratava da mera destruição física, caso em que os prisioneiros poderiam ter sido executados sem a montagem de toda a estrutura dos campos. Estudava-se ali como eliminar pessoas, como destruí-las de modo integral. Saber disso, ter vivido na própria pele a constatação de onde chegamos, era assustador a ponto de os sobreviventes questionarem se valia a pena levar para fora do campo o que acontecia com eles ou se era melhor deixar morrer com eles, ali mesmo, toda aquela miséria. Primo Levi nos relata esta sua angústia:
Viajamos até aqui nos vagões chumbados; vimos partir rumo ao nada nossas mulheres e nossas crianças; nós, feito escravos, marchamos cem vezes, ida e volta, para a nossa fadiga, apagados na alma antes que pela morte anônima. Não voltaremos. Ninguém deve sair daqui; poderia levar ao mundo, junto com a marca gravada na carne, a má nova daquilo que, em Auschwitz, o homem chegou a fazer ao homem.8
Este apagamento da vida, da alma e esta morte anônima era o que se pretendia nos campos e era a tudo isto que se procurava resistir com enormes dificuldades:
Os campos de concentração, tornando anônima a própria morte e tornando impossível saber se um prisioneiro está vivo ou morto, roubaram da morte o significado de uma vida realizada. Em certo sentido, roubaram a própria morte do indivíduo, provando que, doravante, nada nem a morte lhe pertencia e que ele não pertencia a ninguém. A morte apenas selava o fato de que ele jamais havia existido.9
O esquecimento não seria então melhor que a lembrança? Uma pergunta que não tem uma resposta simples, como bem lembra Tzvetan Todorov. Não cabe a nós cobrar dos sobreviventes qualquer espécie de dever de memória ou de testemunho. Eles têm tanto o direito à lembrança como ao esquecimento. Na democracia, "a recuperação do passado é um direito legítimo, mas não se pode fazer disso um dever. Haveria uma crueldade infinita em lembrar a alguém os acontecimentos mais dolorosos de seu passado; o direito ao esquecimento existe também".10
A memória, que para Paul Ricoeur é a matriz da história e não meramente um de seus objetos, não deve se tornar uma obrigação. O dever de memória se inscreve nas questões relativas ao uso e abuso da memória: dizer você se lembrará, é também dizer você não se esquecerá. Poderíamos dizer mesmo que "o dever de memória constitui ao mesmo tempo o cúmulo do bom uso e do abuso da memória". Prossegue, dando ênfase à estranheza no próprio paradoxo gramatical que existe nesta imposição de se lembrar: como é possível dizer você se lembrará, remetendo então ao futuro esta memória que se coloca como guardiã do passado? Mais grave ainda: como pode ser possível dizer você deve se lembrar, devendo então você remeter a memória ao modo imperativo, enquanto que é um traço marcante da lembrança o de poder surgir na maneira de uma evocação espontânea?11
Para os sobreviventes, relatar o que ocorria no campo de concentração nunca foi fácil, a começar pela dificuldade em fornecer uma ideia da dimensão da perda. Não eram apenas os parentes, os amigos e os entes queridos que se perdia. Perdia-se também a casa, a roupa, os utensílios do dia a dia nos campos uma faca e uma colher eram artigos valorizados e sua perda trazia sérias complicações. Perdendo tudo isto, perde-se também a dignidade e a capacidade de discernimento, pois "quem perde tudo, muitas vezes perde também a si mesmo".12 Um homem ou uma mulher assim destituído se transforma em um ser vazio, reduzido a puro sofrimento e carência e em relação ao qual a decisão de sua eliminação se transforma numa questão de conveniência. A expressão "campo de extermínio" possui esse sentido de um espaço-tempo em que pessoas, no caso, os judeus, estavam sendo preparadas para morrer.
No momento em que trata dessa carência extrema que existia no campo de concentração, Primo Levi se pergunta se valeria a pena falar disto numa frase muito significativa: "bem sei que, contando isso, dificilmente seremos compreendidos, e talvez seja bom assim".13 O resgate da memória nem sempre é agradável e às vezes, como é o caso, é traumático. Se fosse possível esquecer todos esses momentos por que passaram os sobreviventes dos campos, eles provavelmente o fariam. A nosso ver, não é primordialmente alguma preocupação com a função social da memória, ou a necessidade de relatar para as novas gerações esses acontecimentos, para que eles não se repitam, que move os sobreviventes. O problema maior é que é difícil esquecer. O relato assume então uma função de catarse. Não ser compreendido pode ser bom porque implica envolver muito o leitor com esta miséria humana, algo que quem sofre de múltiplas formas, no vivido, na memória e na narrativa, não deseja.
Os relatos de Primo Levi nos revelam o trauma por que passou, mas também um desejo muito grande de compreender, um desejo que não chega de modo algum a ser o de perdoar ou de aceitar o que ocorreu. Em se tratando de males tão extremos como os do século XX, cabe se perguntar quais os limites desta compreensão. No caso do sobrevivente, todo o esforço de rememorar e analisar o ocorrido, já por si traumático, pode levar também a algo próximo de se banalizar e justificar o mal. Mais grave ainda, quando estes limites são transpostos, pode-se chegar quase à identificação com os responsáveis pelo mal. Devemos entender que "não cabe às antigas vítimas procurar compreender seus assassinos, tanto quanto não cabe às mulheres estupradas debruçar-se sobre a psicologia de seus estupradores. Nesse caso, a compreensão implica uma identificação com o carrasco, ainda que parcial e provisória, e isso pode acarretar uma destruição de si mesmo".14
Em Os afogados e os sobreviventes, seu último livro publicado em vida, Primo Levi nos mostra de forma mais clara o que esperara e o que havia encontrado na convivência com este passado para ele, e para tantos outros, traumático:
Não queremos confusões, freudismos vulgares, morbosidade, indulgência. O opressor continua como tal, tanto quanto a vítima: não são intercambiáveis, o primeiro deve ser punido e execrado (mas, se possível, compreendido), a segunda deve ser lamentada e ajudada; mas ambos, em face da indecência do fato que foi irrevogavelmente cometido, têm necessidade de refúgio e de defesa, indo instintivamente em busca disso. Não todos, mas a maioria; e com frequência por toda a sua vida.15
Apesar das dificuldades, é possível e necessário representar a Shoah. Não podemos adotar uma posição ingênua e mesmo retrógrada de pensar sua história apenas como aquilo que aconteceu, os fatos nus e crus. A história da Shoah necessariamente também será uma história contada. Mesmo que em seus testemunhos os sobreviventes não encontrem parâmetros de comparação nos quais situar o que viveram. De qualquer forma, em se tratando de um trauma, "a passagem do literal para o figurativo é terapêutica".16
Na obra de Primo Levi percebemos uma tensão sempre presente entre a necessidade e a impossibilidade de falar sobre ou de representar a Shoah, que se revela na difícil relação entre a memória e o esquecimento. Enquanto alguns sobreviventes procuraram esquecer, optando pelo silêncio, outros sentiram a necessidade de falar sobre o ocorrido, talvez também para conseguirem esquecer e ir adiante ou, nos termos de Márcio Seligmann-Silva: "Por um lado tanto o testemunho deve ser visto como uma forma de esquecimento, uma fuga para frente, em direção à palavra e um mergulhar na linguagem, como também, por outro lado, busca-se igualmente através do testemunho, a libertação da cena traumática".17
No campo de concentração a pessoa se perdia, não sabia mais quem ela era ou o que ela foi. Os sobreviventes precisavam de quem os ouvisse. Depois do campo, o testemunho funciona como uma forma de autoconhecimento, uma possibilidade de voltar a ser o mesmo, deixar de ser um número e se reencontrar. Este autoconhecimento não é algo que precede ou que vem depois do ato de testemunhar. O que o sobrevivente era, não se recupera mais, é uma perda radical e irrecuperável, talvez a maior expropriação imposta por seus algozes. O sobrevivente sente que ele é o seu testemunho. O testemunho é uma forma de assinatura.18
Mas estes testemunhos de sobreviventes dos campos se defrontam com uma dificuldade básica de recepção, qual seja a de que
se trata de experiências limites, propriamente extraordinárias que se defrontam com um caminho difícil em direção a capacidades de recepção limitadas, ordinárias, de ouvintes educados à uma compreensão partilhada. Esta compreensão foi edificada sobre as bases de um senso de semelhança humana no plano de situações, de sentimentos, de pensamentos, de ações. Mas a experiência a transmitir é de uma desumanidade sem medida comum com a do homem ordinário. (...) Para ser recebido, um testemunho deve ser apropriado, ou seja, desembaraçado na medida do possível de toda estranheza absoluta que cria o horror. Esta condição drástica não é satisfeita no caso dos testemunhos dos sobreviventes.19
Narrar é difícil, encontrar quem esteja interessado em ouvir também não é fácil. Se mesmo quem narra às vezes não consegue acreditar que tudo aquilo por que passou possa ter sido verdade, maiores dificuldades ainda encontra quem ouve ou lê em receber o que está sendo narrado. Receber pela atenção e o interesse implica um modo de compartilhar o vivido, o que quem não viveu tais experiências, mesmo também tendo passado pelos horrores da guerra, não tem condições de fazer. É por isso que "qualquer pessoa que fale ou escreva sobre campos de concentração é tida como suspeita; e se o autor do relato voltou resolutamente ao mundo dos vivos, ele mesmo é vítima de dúvidas quanto à sua própria veracidade, como se pudesse haver confundido um pesadelo com a realidade".20
Primo Levi nos fala de dois sonhos que tinha com frequência no campo de concentração. Um era com comida, com uma boa refeição em casa, outro, era um sonho particularmente angustiante: ele estava em casa, de volta, e narrava a pessoas queridas tudo o que vivera no campo. De inicio as pessoas o escutam e ele fala da cama dura, do companheiro que dividia com ele a cama e que ele temia acordar porque era mais forte que ele, da fome, do soco que recebeu de um guarda que a seguir mandou que ele fosse se lavar porque o nariz sangrava, do controle dos piolhos. A seguir narra como ele se sentia neste sonho: "É uma felicidade interna, física, inefável, estar em minha casa, entre pessoas amigas, e ter tanta coisa para contar, mas bem me apercebo de que eles não me escutam. Parecem indiferentes; falam entre si de outras coisas, como se eu não estivesse. Minha irmã olha para mim, levanta, vai embora em silêncio".21
Peter Pál Pelbart desenvolve uma interpretação muito apropriada deste sonho de Primo Levi no que ele chama de uma alegoria do sobrevivente. Nesta alegoria, narrada na forma de um sonho do próprio autor, o sobrevivente seria um espectro que carrega o cadáver de um mártir, no caso, o seu próprio cadáver ainda quente, palpitante, para dar-lhe uma sepultura entre os amigos. Este espectro procura nos bolsos do morto algo que ele não sabe bem o que é, mas este algo, por outro lado, é fundamental para ele dar seu testemunho sobre o morto e assim voltar à vida deixando de ser um espectro de si mesmo.22
Ter tanto para contar e não ter quem ouça, nem mesmo entre as pessoas mais próximas. Qual o sentido de se transmitir uma experiência já por si absurda? Qual o sentido do prazer inicial em falar com as pessoas de suas experiências? Dividir o sofrimento? Mas quem ouve não têm como imaginar a dimensão deste sofrimento e parece querer se distanciar dele. A angústia do sonho pode estar relacionada com o temor de não voltar fisicamente para os seus e para sua terra, como também com o temor de não conseguir sobreviver psicologicamente, de se transformar em um estranho, em alguém que não dispõe de coisa alguma de positivo para compartilhar.
Jeanne Marie Gagnebin, se referindo à literatura de testemunho ou à "literatura dos campos" de Primo Levi e Robert Antelme23 e ao seu desafio de encontrar as palavras certas para dizer o indizível, nos fornece uma boa explicação a respeito da dificuldade em representar o cotidiano dos campos, mas também sobre a inconveniência do que se diz. Estes sobreviventes,
sentem uma ânsia desenfreada de comunicar, de falar, de contar, de escrever e, ao mesmo tempo, têm a nítida percepção da vaidade desse empreendimento narrativo, porque ele é incapaz de dizer o horror dos campos; ademais ele também se choca contra a incompreensão, a má-vontade e a rejeição dos seus interlocutores, mesmo dos mais próximos. À vergonha que acomete o sobrevivente, por não ter morrido com seus companheiros, se acrescenta a vergonha de ter que falar, de só poder falar de maneira profundamente inconveniente.24
Ainda segundo Jeanne Marie Gagnebin, esta vergonha e inconveniência podem ser claramente percebidas na descrição feita por Robert Antelme de seu estado quando saiu do campo. Ele fala de
sua gigantesca diarréia tífica, que ele trouxe de Dachau e que o prostra sem forças, sem resistências, sem limites, que o esvazia de si mesmo e o entrega, no limiar da morte e da podridão, aos cuidados dos outros, dos amigos que não conseguem nem reconhecê-lo nesse corpo exangue e nauseabundo, nem reconhecer a comunidade de sentidos, pelos quais juntos lutaram, nessa verborragia interminável.25
Além do mais, quando da volta do sobrevivente para casa, se junta ao trauma vivido no campo e suas lembranças difíceis de superar, uma certa decepção com o retorno à vida em liberdade: "De volta para casa, ele não pode deixar de desejar uma espécie de gratificação, após os sofrimentos desumanos que sofreu; ora, ele não a encontra. A desolação reina também fora dos campos, cada um se sente pressionado a pensar suas próprias feridas e a esquecer as desgraças de ontem; os sobreviventes, estes fantasmas, simbolizam um passado que se quer afastar".26
Ao tratar do que considera como uma crise do testemunho, Paul Ricoeur lembra muito bem que enquanto o historiador, em sua crítica das fontes, deve estar sempre atento à confiabilidade de certos testemunhos, evitando a impostura, no caso dos testemunhos dos sobreviventes dos campos há uma inversão de prioridades, pois neste caso, se trata antes de lutar contra a incredibilidade e o desejo de esquecer daqueles a quem os sobreviventes se dirigem.27
Temos uma tendência a pensar que a vida que um autor dá a seus personagens é sempre uma parte de suas próprias experiências de vida, como se todo texto fosse um texto autobiográfico. Tal tentação se faz ainda mais presente em se tratando de um sobrevivente dos campos de concentração que se tornou conhecido como escritor pelo relato de seu trauma. Cometemos o equívoco de transformar aquilo que o próprio autor considera como um dever seu, o de depor, em uma espécie de sina do autor. Não deixamos que ele escape ao seu testemunho; deve estar sempre depondo de uma forma direta, em suas memórias, ou indireta, em seus textos ficcionais. Mas, assumindo o risco de uma interpretação apressada e analisando em conjunto a obra ficcional e a obra de testemunho de Primo Levi, a sensação que temos é que de fato o passado lhe era muito pesado. Tal peso se revela numa impressão de que na obra que tem a experiência do campo de concentração como temática imediata, o autor consegue se soltar mais como escritor do que na obra de ficção, o que nos parece uma constatação um tanto quanto óbvia de que o escritor tem grandes dificuldades de se libertar de seu passado traumático.
No conto Trabalho criativo, integrante da coletânea Vício de forma, de 1971, o narrador, o escritor Antonio Casella, num dia de falta de inspiração, recebe a visita de um personagem de suas novelas que havia escrito antes e que lhe diz que havia resolvido escrever alguns contos que tinham a ele, Antonio, como personagem e lhe pede para que leia e opine sobre tais contos. Lendo então os contos, ele percebe, com algum alívio, que os mesmos são fracos e que o empenho declarado por este seu personagem em transformá-lo em um personagem coerente com sua pessoa foi malogrado. Acaba por aconselhá-lo a desistir e se dedicar à ciência. No mesmo conto, autor e personagem, agora invertidos, se referem aos ambígenos, que seriam sujeitos que são ao mesmo tempo pessoa e personagem, e da ambigüidade de sua condição. Esta ambiguidade envolvendo pessoa e personagem só se resolve, e de uma forma muito peculiar no conto quando Antonio, muito tempo depois, resolve escrever sua autobiografia. Nesta autobiografia Antonio acumula "em seu outro eu todas as virtudes que não soubera construir dentro de sua vida real"; cria "um mundo mais verdadeiro que o real", em cujo centro estava ele numa "vida plena e múltipla, como nenhum homem vivera".28
A partir de uma curiosidade, ou de um desejo de entendimento, que já possuía no Lager, e que não se limitava aos chefes nazistas, e, depois de ter lido dezenas de livros sobre a psicologia de Hitler, Stálin, Himmler e Goebbels e não se sentir satisfeito com seu conteúdo, Primo Levi discorre sobre o que considera a insuficiência essencial da página documentária. Para ele, "ela não possui quase nunca o poder de restituir-nos o íntimo de um ser humano: com essa finalidade, mais que o historiador e o psicólogo, são idôneos o dramaturgo e o poeta".29
Na leitura e no confronto entre as obras de testemunho e de ficção de Primo Levi sentimos esta dificuldade em separar pessoa e personagem. Por um lado, nos textos de testemunho sobre sua vida no campo de concentração os personagens são bem definidos e bem construídos na narrativa, o que não nos parece ocorrer da mesma forma nos textos ficcionais. Não que estes textos não sejam bem escritos. Não se trata disso. Os personagens de ficção estranhamente nos parecem produtos de uma escrita mais tensa e mais difícil do que os personagens reais do campo. A nosso ver isto pode se explicar pela dificuldade de Primo Levi em separar-se de suas criaturas, ou de seus fantasmas. Quem sabe se ele também não desejaria escrever sua autobiografia, ou mais propriamente sua obra, inteiramente pautada pela vida que ele não conseguiu e nem poderia ter conseguido viver e, neste caso, esta separação um tanto quanto arbitrária que fazemos de sua obra perderia ainda mais o sentido.
Em sua Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida, Friedrich Nietzsche compara o animal com o homem e diz que uma das causas básicas da infelicidade humana é a sua dificuldade em esquecer ou sua dificuldade em viver o presente, ao passo que o animal, na medida em que não possui a capacidade de se lembrar de coisa alguma, só vive o presente. O ser do homem é um ininterrupto ter sido e o passado se transforma em algo que lhe pesa:
O animal, de fato, vive de maneira a-histórica: ele está inteiramente absorvido pelo presente, tal como um número que se divide sem deixar resto; ele não sabe dissimular, não oculta nada e se mostra a cada segundo tal como é, por isso é necessariamente sincero. O homem, ao contrário, se defende contra a carga sempre mais esmagadora do passado, que o lança por terra ou o faz se curvar, que entrava sua marcha como um tenebroso e invisível fardo.30
O homem não pode "aprender o esquecimento" e assim fica sempre prisioneiro do passado. Admira-se de constatar esta capacidade de não se lembrar do passado nos animais e inveja a criança que ele deixou de ser, "que não tem ainda um passado para negar e que brinca, na sua feliz cegueira, entre as balizas do passado e do futuro".31
Em 1986, são apresentadas a Primo Levi duas fotografias de um companheiro de campo, que havia morrido na marcha de transferência de prisioneiros de Auschwitz para Buchenwald no final da guerra. Os membros da família deste prisioneiro procuravam saber se ele o conhecera no campo e, entre outras coisas, se seu parente não havia sofrido muito com a fome. Reconhece facilmente naquelas fotografias o austríaco Gerhard Goudbaum e procura confortar seus familiares dizendo que ele não deve ter passado muita fome já que o havia reconhecido em fotografias de 1939. Mas para si mesmo diz outras coisas sobre sua memória: de que às vezes, e não apenas no que diz respeito à Auschwitz, se sentia como um irmão de Irineo Funes, el memorioso, de Jorge Luís Borges, descrito pelo grande escritor argentino como uma pessoa que lembrava cada folha de cada árvore que tivesse visto, e que tinha "mais lembranças sozinho do que quanto poderiam ter todos os homens que viveram desde que o mundo existe". Chama então sua memória daquele período de memória patológica.32
A dificuldade maior para os sobreviventes é o esquecimento ou a frequência exagerada da lembrança. A propósito, vale notar que:
A memória não se opõe absolutamente ao esquecimento. Os dois termos que formam contraste são a supressão (o esquecimento) e a conservação; a memória é, sempre e necessariamente, uma interação dos dois. A reconstituição integral do passado é coisa impossível. Se existisse seria pavorosa, como o mostrou Borges em sua história de Funes, el memorioso. A memória é forçosamente uma seleção: certos detalhes do acontecimento serão conservados, outros, afastados, logo de início ou aos poucos, e portanto esquecidos.33
Para Nietzsche o passado é sempre traumático e daí a necessidade da faculdade de esquecer já que "toda ação exige esquecimento, assim como toda a vida orgânica exige não somente a luz, mas também a escuridão".34 Deve-se ser capaz de separar o que deve ser esquecido do que deve ser lembrado. Há pessoas que possuem mais, e outras menos, a força para "transformar e assimilar as coisas passadas ou estranhas, curar as suas feridas, reparar as suas perdas, reconstituir por si próprio as formas destruídas". Esta força é algo primordial para o próprio senso histórico de um indivíduo ou de uma cultura, é também fundamental para que o passado "não se torne o coveiro do presente".35
Na obra de Primo Levi encontramos pistas e sinais de suas visões de mundo, de suas sensibilidades e de sua personalidade, além, é claro, de suas experiências pessoais de vida. Encontramos também sinais que parecem querer nos despistar ou nos fazer desistir desta espécie de decodificação. Justamente num conto com este título Decodificação , do livro Lilith, de 1978, o narrador, em suas reflexões sobre os dilemas de um adolescente que ele vira pichando muros com dísticos fascistas e suásticas, nos diz sobre o quanto pode ser infrutífera este tipo de busca:
Pensava também na essencial ambiguidade das mensagens que cada um de nós vai deixando para trás, do nascimento até a morte, e na nossa profunda incapacidade de reconstruir uma pessoa por meio delas, o homem que vive a partir do homem que escreve: quem quer que escreva, mesmo que apenas nos muros, o faz em um código que é só seu, que os outros desconhecem e quem fala também. Transmitir com clareza, exprimir, exprimir-se e tornar-se explícito é coisa para poucos: alguns poderiam e não querem, outros gostariam, mas não podem, e a maior parte não quer nem sabe.36
Se insistimos nesta análise da obra não é de forma inadvertida, ou apesar das advertências do próprio autor, e sim porque acreditamos que uma obra sempre nos diz algo de interessante sobre seu autor e sobre sua época mesmo que de um modo cifrado e indireto, ou seja, estamos conscientes do risco que corremos. Vale lembrar os argumentos clássicos de Marc Bloch em favor dos testemunhos indiretos em relação aos diretos para a história. Se tratarmos as obras de ficção, e mesmo de ficção científica, como é às vezes o caso de Primo Levi, com o devido cuidado e as devidas mediações, elas podem sim serem tratadas como uma fonte, ou mais precisamente como testemunhos indiretos para a história.
Em Os Mnemagogos, primeiro conto integrante do livro Histórias naturais, de 1966, o velho médico Montesanto, um sobrevivente das trincheiras da Primeira Guerra, se recolhe em um pequeno povoado depois das desilusões de uma carreira universitária fracassada. Na sua vida de solitário, o que resta é apenas "a prevalência definitiva do passado sobre o presente e o naufrágio último de todas as paixões, salvo a fé na dignidade do pensamento e a supremacia das coisas do espírito".37 Montesanto, a quem causa horror pensar que uma só de suas lembranças se perca, explica ao jovem médico Morandi como criou, a partir de sua experiência de farmacologista, um novo método de conservar sensações que certos odores têm o poder de evocar. Os seus mnemagogos,38 ou suscitadores de memória, são pequenas garrafas com certos líquidos que ao serem cheirados conduzem pelo olfato a experiências vividas. Do primeiro mnemagogo com o qual Morandi tem contato ele diz que têm um cheiro de caserna, mas para Montesanto, o cheiro é de sua sala na sua escola primária e tudo o que ela representava para ele. Acrescenta ainda que é mais do que isto: é o cheiro da infância dele Montesanto.
Para Morandi o cheiro do conteúdo de outra garrafinha seria de maçãs guardadas para amadurecer em um pequeno quarto na casa de seu avô. Para Montesanto, o cheiro seria o do hálito do diabético em fase terminal, ou mais precisamente, o cheiro da morte de seu próprio pai, que morreu de diabetes e a quem ele velou por noites inumeráveis no leito. Mas não foram vigílias estéreis já que seu pai representava muito para ele e nestas vigílias muitas de suas crenças foram abaladas e muito de seu mundo mudou. Para ele, portanto, "não se tratava apenas de maçãs ou diabetes, mas do sofrimento solene e purificador, único da vida, de uma crise religiosa".39
Quando Morandi pergunta sobre uma outra garrafinha ou mnemagogo, a resposta que recebe é a de que aquele não era um lugar nem um tempo; era uma pessoa. Antes Montesanto já havia dito que os mnemagogos, e seu poder evocativo de sensações do passado distante ou, podemos dizer, da memória, eram estritamente pessoais e acrescenta que, "aliás, pode-se dizer que são a minha pessoa, já que em parte eu consisto neles".40
Um outro suscitador de memória tinha um cheiro ardente, enxuto e quente para Morandi e o levava a se lembrar de quando se chocam duas pedras de ignição. Para Montesanto o cheiro da substância ali contida era o mesmo do que se sentia no alto da montanha, quando a rocha se escalda ao sol, especialmente quando há um desmoronamento de pedras. Diz a Morandi que antigamente ele ia muito à montanha, quase sempre sozinho e quando chegava ao topo, deitava-se sob o sol. No ar parado e no silêncio daqueles momentos lhe parecia que ele havia alcançado um objetivo. Ali sentia um cheiro suave, raro de ser sentido em outros lugares. Este mnemagogo era para ele a sua maior descoberta científica e a sensação por ele evocada era a da paz conquistada. Em suas dificuldades em superar as lembranças traumáticas de seu passado, talvez fosse exatamente isto que Primo Levi procurava, reencontrar-se em suas memórias e conquistar paz em sua vida.
Em 11 de fevereiro de 1944 Primo Levi foi enviado para Auschwitz como parte de um grupo de 650 prisioneiros. Ali permanecerá até janeiro de 1945, quando da evacuação do campo ante a eminente chegada do Exército Vermelho. Em 27 de janeiro de 1945 o campo é liberado pelos russos. Daqueles 650 prisioneiros italianos, somente 20 conseguiram sobreviver e retornar à sua terra natal ao final da guerra. Seu retorno para a Itália ocorrerá somente em outubro de 1945, depois de permanecer por algum tempo em um campo soviético para recuperação de antigos prisioneiros dos campos de concentração e depois de uma longa viagem em companhia de prisioneiros italianos de guerra capturados no front russo.
Voltando para casa em Turin, procura retomar sua vida e o faz se dedicando de imediato à escrita de suas memórias sobre este um ano em Auschwitz ao mesmo tempo em que retoma seu ofício de químico. Dedica-se depois também a uma obra ficcional na qual se reafirma seu talento de escritor e que se revela importante para melhor compreendermos o universo concentracionário que descreve em seus textos de testemunho. Procuramos tomar as duas faces de sua produção em conjunto para tratar das questões a que nos propusemos. Esta aproximação entre literatura e história se revelou muito profícua.
Para um sobrevivente dos campos de concentração, narrar sua vida naquelas condições não era tarefa fácil. Se pudesse, talvez preferisse simplesmente esquecer. O esquecimento, no caso, seria tanto para os outros como para si mesmo. Mas não era fácil esquecer. Tratava-se do caso clássico do passado que se recusa a passar. Para conviver com este passado era necessário falar sobre ele, ou seja, testemunhar. Mas era difícil falar e havia grandes dificuldades na recepção destes testemunhos. Aquele que falava sobre o que viveu no campo sentia isso. Todos, tendo passado ou não pelos campos, queriam esquecer a guerra. Todos necessitavam de uma vida nova. Quem sobreviveu aos campos de concentração temia se transformar em um estranho, em alguém que não dispõe de coisa alguma de positivo para compartilhar.
Escrevendo sobre sua vida e sobre si mesmo, o sobrevivente de alguma forma se reencontra. Não se trata de uma volta ao que era antes. Não existe mais a pessoa de antes do campo. Já o antigo prisioneiro teima em sobreviver pela nossa ideia equivocada do dever de memória. Sentimos que Primo Levi testemunha pela necessidade de se libertar de uma parte de seu passado para conseguir viver o presente e ter um futuro possível. Podemos nos perguntar sobre qual teria sido seu ganho resgatando suas memórias. Se este resgate o levou, como a Montesanto, do conto Os Mnemagogos, pelo menos em alguns momentos, a reencontrar-se em suas memórias e conquistar paz em sua vida. Até que ponto conseguiu isto, só ele o poderia dizer. Mas nós ganhamos muito. Abordando suas obras de ficção em conjunto com as obras de testemunho, como o fizemos neste artigo, podemos compreender melhor a complexa relação entre a memória, o esquecimento e a construção da narrativa em história. Esta obra também nos revela aspectos fundamentais da história do século XX em seus momentos cruciais e do que permanece de humano nas pessoas nesses momentos. Acreditamos que Primo Levi fez bem, e nos fez bem, em vencer seu dilema sobre falar ou não do ocorrido em Auschwitz. Ganhou ele por ter condições um pouco melhores de conviver com seu trauma e ganhamos nós leitores pelo legado de sua obra.
Artigo recebido em: 26/06/2011
Aprovado em: 20/12/2011
1 RICOEUR, Paul. La mémoire, lhistoire, loubli. Paris: Seuil, 2000, p.480.
2 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.485.
3 TODOROV, Tzvetan. Em face do extremo. Tradução de Egon O. Rangel e Enid A. Dobránszky. Campinas, SP: Papirus, 1995, p.288-290.
4 ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.167.
5 TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem: indagações sobre o século XX. Tradução de Joana Angélica D. Melo. São Paulo: Arx, 2002, p.147.
6 SELIGMANN-SILVA, Márcio. Apresentação da questão: a literatura do trauma. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p.52.
7 FELMAN, Shoshama. Educação e crise, ou as vicissitudes do ensino. In: NESTROVSKI, Arthur e SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000, p.27.
8 LEVI, Primo. É isto um homem? Tradução de Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988, p.55.
15 LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades. Tradução de Luiz Sérgio Henriques. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p.21.
29 LEVI, Primo. O último natal de guerra. Tradução de Maria do Rosário Costa Aguiar Toschi. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 2002, p.56.
30 NIETZSCHE, Friedrich. Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida. In: Escritos sobre a história. Tradução de Noéli C. de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro/São Paulo: PUC/Loyola, 2005, p.71.
38 A mnemotecnia é uma técnica da memória que teria sido criada na Grécia antiga sendo normalmente atribuída a Simônides de Ceos (por volta de 556-468 a.C.). Cícero, em De oratore (II, LXXXVI) contou sobre a forma de uma narrativa religiosa, a invenção da mnemotecnia por Simônides. Um nobre de Tessália, Escopas, teria contratado Simônides para declamar os dotes atléticos de um vencedor no pugilismo durante um banquete por ele oferecido. Mas ele ornamentou seu poema com muitas referências a Castor e Pólux. Escopas diz então a Simônides que lhe pagará apenas a metade do preço combinado e que ele deveria cobrar a outra metade aos próprios Dióscuros [Na mitologia grega, os gêmeos Castor e Pólux são chamados Dióscuros, que significa jovens de Zeus]. Pouco depois alguém vem até Simônides lhe dizendo que dois jovens procuravam por ele. Ele sai e não vê ninguém. Mas enquanto estava fora, o teto da casa desaba sobre Escopas e seus convidados. Os cadáveres esmagados ficam irreconhecíveis. Simônides, lembrando-se da ordem em que estavam sentados, os identificará, permitindo que eles fossem entregues às suas respectivas famílias. A técnica, em sua origem, portanto, está associada a lembranças de imagens necessárias à memória apoiadas sobre uma organização e uma ordem, essenciais a uma boa memória. Cf. LE GOFF, Jacques. Histoire et mémoire. Paris: Gallimard, 1988, p.127.
1
RICOEUR, Paul. La mémoire, lhistoire, loubli. Paris: Seuil, 2000, p.480.
2
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.485.
3
TODOROV, Tzvetan. Em face do extremo. Tradução de Egon O. Rangel e Enid A. Dobránszky. Campinas, SP: Papirus, 1995, p.288-290.
4
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.167.
5
TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem: indagações sobre o século XX. Tradução de Joana Angélica D. Melo. São Paulo: Arx, 2002, p.147.
6
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Apresentação da questão: a literatura do trauma. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p.52.
7
FELMAN, Shoshama. Educação e crise, ou as vicissitudes do ensino. In: NESTROVSKI, Arthur e SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000, p.27.
8
LEVI, Primo. É isto um homem? Tradução de Luigi Del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988, p.55.
9
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo, p.503.
10
TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem, p.199.
11
RICOEUR, Paul. La mémoire, lhistoire, loubli, p.106.
12
LEVI, Primo. É isto um homem?, p.25.
13
LEVI, Primo. É isto um homem?, p.25.
14
TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem, p.146.
15
LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades. Tradução de Luiz Sérgio Henriques. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p.21.
16
SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma. In: NESTROVSKI, Arthur e SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) Catástrofe e representação, p.89.
17
SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma, p.90.
18
FELMAN, Shoshama. Educação e crise, ou as vicissitudes do ensino, p.64.
19
RICOEUR, Paul. La mémoire, lhistoire, loubli, p.223.
20
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo, p.489.
21
LEVI, Primo. É isto um homem?, p.60.
22
PELBART, Peter Pál. Cinema e holocausto. In: NESTROVSKI, Arthur e SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) Catástrofe e representação, p.172.
23
Robert Antelme (
1917-
1990), poeta e membro da resistência francesa durante a ocupação alemã, foi deportado para o campo de concentração de
Buchenwald em 1 de junho de 1944, sendo a seguir encaminhado para o pequeno campo de
Gandersheim, anexo a
Buchenwald. Ele é autor de A espécie humana, um dos testemunhos mais conhecidos sobre os campos de concentração. Depois da guerra ele foi encontrado no campo de Dachau, esgotado por meses de detenção em condições deploráveis e sofrendo de tifo.
24
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Palavras para Hurbinek. In: NESTROVSKI, Arthur e SELIGMANN-SILVA, Márcio. (org.) Catástrofe e representação, p.107.
25
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Palavras para Hurbinek, p.107.
26
TODOROV, Tzvetan. Em face do extremo, p.291.
27
RICOEUR, Paul. La mémoire, lhistoire, loubli, p.223.
28
LEVI, Primo. 71 contos. Tradução de Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.257.
29
LEVI, Primo. O último natal de guerra. Tradução de Maria do Rosário Costa Aguiar Toschi. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 2002, p.56.
30
NIETZSCHE, Friedrich. Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida. In: Escritos sobre a história. Tradução de Noéli C. de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro/São Paulo: PUC/Loyola, 2005, p.71.
31
NIETZSCHE, Friedrich. Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida, p.71.
32
LEVI, Primo. O último natal de guerra, p.121.
33
TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem, p.149.
34
NIETZSCHE, Friedrich. Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida, p.72.
35
NIETZSCHE, Friedrich. Consideração intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida, p.73.
36
LEVI, Primo. 71 contos, p.509.
37
LEVI, Primo. 71 contos, p.27.
38
A mnemotecnia é uma técnica da memória que teria sido criada na Grécia antiga sendo normalmente atribuída a Simônides de Ceos (por volta de 556-468 a.C.). Cícero, em De oratore (II, LXXXVI) contou sobre a forma de uma narrativa religiosa, a invenção da mnemotecnia por Simônides. Um nobre de Tessália, Escopas, teria contratado Simônides para declamar os dotes atléticos de um vencedor no pugilismo durante um banquete por ele oferecido. Mas ele ornamentou seu poema com muitas referências a Castor e Pólux. Escopas diz então a Simônides que lhe pagará apenas a metade do preço combinado e que ele deveria cobrar a outra metade aos próprios Dióscuros [Na mitologia grega, os gêmeos Castor e Pólux são chamados Dióscuros, que significa jovens de Zeus]. Pouco depois alguém vem até Simônides lhe dizendo que dois jovens procuravam por ele. Ele sai e não vê ninguém. Mas enquanto estava fora, o teto da casa desaba sobre Escopas e seus convidados. Os cadáveres esmagados ficam irreconhecíveis. Simônides, lembrando-se da ordem em que estavam sentados, os identificará, permitindo que eles fossem entregues às suas respectivas famílias. A técnica, em sua origem, portanto, está associada a lembranças de imagens necessárias à memória apoiadas sobre uma organização e uma ordem, essenciais a uma boa memória. Cf. LE GOFF, Jacques. Histoire et mémoire. Paris: Gallimard, 1988, p.127.
39
LEVI, Primo. 71 contos, p.30.
40
LEVI, Primo. 71 contos, p.29.
Datas de Publicação
Publicação nesta coleção
07 Fev 2013 Data do Fascículo
Dez 2012
Histórico
Recebido
26 Jun 2011 Aceito
20 Dez 2011
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Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais
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Ponto Frio
Livro - Bruno e os Elefantes Marinhos | Ponto
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Luigi Del Re homenageia o filho Bruno em livro
2 minutos de leitura
Redação O Estado Do Paraná
por Redação O Estado Do Paraná
14/01/07 00h00 - Atualizado: 19/01/13 23h09
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Bruno Del Re morreu ao ser atingido por um raio quando pai e filho caçavam marrecões em um banhado no Rio Grande do Sul. Em Bruno e os elefantes-marinhos, um relato de memórias emocionante, Luigi Del Re enfrenta a dor e apresenta ao leitor seu filho, por meio de breves crônicas e causos, lembranças e muita saudade. Do lamento, do desespero de ver a vida do filho esvair-se em um segundo, o autor retira a pedra fundamental para escrever esta história tocante. O livro acaba de sair da gráfica da Editora Record, e chega às livrarias no dia 19 de janeiro.
?Ler o livro de Luigi Del Re é lutar com nossos próprios fantasmas, eventualmente realidades. É doloroso mas não opressivo, é de fazer refletir, mas sem amargura. Não é um livro sobre a morte: é uma obra sobre o amor de um pai. E, como tal, faz parte dos livros que devem ser lidos porque, de certa forma, tornam a gente melhor?, diz Lya Luft, escritora.
Nenhuma dor é maior que lembrar dos dias felizes quando se está na miséria, escreveu Dante em seu Inferno. Bruno e os elefanes-marinhos emerge de uma dor depurada em anos transformando-se em um relato de memórias emocionante.
No romance, o autor conta a história daquele pedaço de tempo em que filhos idolatram os pais, que amam incondicionalmente os filhos, e tudo parece perfeito e absurdamente promissor, até que… O futuro é interrompido. Del Re cria uma atmosfera de presente eterno com diálogos simples e diretos. Escrevendo, documenta sua dor, sua perda; e homenageia por meio da memória seu filho tão amado. Acima de tudo, é um livro sobre o amor e seu poder. Tão grande que nos permite, sempre, recomeçar.
Luigi Del Re é italiano e mora no Brasil há 50 anos. Publicou, na Itália, Attesa a Guatambú (Mondadori, 1983) e, no Brasil, Pelos caminhos da Patagônia (Editora Mercado Aberto, 1994). Está com 84 anos.
https://tribunapr.uol.com.br/mais-pop/luigi-del-re-homenageia-o-filho-bruno-em-livro/#:~:text=Luigi%20Del%20Re%20%C3%A9%20italiano,%2C%20Editora%20Record%2C%20144%20p%C3%A1ginas.
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Gotham City - IV Festival Internacional da Canção (1969) - Jards Macalé e Capinam
A porta principal
Há dois tipos de políticos: os que veem a política como negócio e os que defendem o bem comum. Essa era diferença entre a direita e esquerda no Congresso, até o PT assumiu o poder
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Cuidado! Há um morcego na porta principal
Uma Sátira Tropicalista a Batman e Robin
Em 1969, durante o IV Festival Internacional da Canção, Gotham City, composta por Jards Macalé e Capinan foi bastante vaiada pela platéia do Maracanãzinho, que não compreendia que através da letra, havia uma crítica ao momento que o país atravessava.
http://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2017/03/cuidado-ha-um-morcego-na-porta-principal.html
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Torquato Neto e Jards Macalé: "Let's play that"
Let’s play that
Quando eu nasci
Um anjo louco muito louco
Veio ler a minha mão
Não era um anjo barroco
Era um anjo muito louco, torto
Com asas de avião
Eis que esse anjo me disse
Apertando minha mão
Com um sorriso entre dentes
Vai bicho desafinar
O coro dos contentes
Vai bicho desafinar
O coro dos contentes
Let's play that
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NETO, Torquato. "Let's play that". In: MORICONI, Ítalo (org.). Torquato Neto essencial. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
Canção: Jards Macalé canta a canção "Let's play that", parceria dele (música) com Torquato Neto (letra):
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Fonte: ACONTECIMENTOS
BLOG DE ANTONIO CICERO: POESIA, ARTE, FILOSOFIA, CRÍTICA, LITERATURA, POLÍTICA
http://antoniocicero.blogspot.com/2017/12/torquato-neto-e-jards-macale-lets-play.html
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Google Play
Dictionary Linguee - Apps on Google Play
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let's play
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Linguee
[...] which are addressed through four types of activity: 1) Let's Play: games to teach skills in a fun way and to help participants [...] unesdoc.unesco.org
[...] são abordados através de quatro tipos de actividades: 1) Vamos jogar: jogos para ensinar competências de maneira divertida [...] unesdoc.unesco.org
Will you continue to do Let's play videos? criticamentefalando.com
Vais continuar a fazer estes vídeos? criticamentefalando.com
So, you know the rules - let's play! runescape.com
Agora você conhece as regras, vamos jogar! runescape.com
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Vamos brincar com as fotocopiadoras? way4bet.com
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[...] Portugal está a crescer a um ritmo exponencial, a campanha internacional do Nickelodeon - o Lets Play - vai incentivar todas [...] mundicenter.com
Let's play together with these cool robot-friends! flikflak.com
Vamos brincar juntos com estes amigos robóticos fixes! flikflak.com
Do let's play RPG? portalconhecimento.br
Vamos jogar RPG? portalconhecimento.br
Who would you like to record a Let's play video with? criticamentefalando.com
Com quem gostarias de gravar um dos teus vídeos? criticamentefalando.com
[...] and Oeiras Parque) the social responsibility project 'Let's Play' receiving the "Nickelodeon House" in the months of May and June 2008. mundicenter.pt
[...] Oeiras Parque), o projecto de responsabilidade social Lets Play recebendo a Casa Nicklodeon nos meses de Maio e Junho 08. mundicenter.pt
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Vamos brincar de adivinhar? blog.valentinadeandrade.com.br
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Vamos jogar o jogo do amor, jogue o jogo do amor lyrix.li
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Vamos jogar um jogo! tibiaring.com
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Sou um membro do Youtube e sou lá conhecido mais pelos meus vídeos "Let's play". criticamentefalando.com
Then let's not play anymore. cs.gloria.tv
Então não brinquemos mais. cs.gloria.tv
(laughs) Even among college students, I think they're saying things like "He's got a Wii, let's get everyone over there and play". uk.wii.com
(risos) Mesmo quando se trata de alunos universitários, acho que dizem coisas como: "Ele tem uma Wii, vamos para a casa dele jogar. pt.wii.com
Let's say you can play a particular technique at 100 bpm (beats per minute) on a metronome cleanly and consistently. tomhess.net
Vamos dizer que consegues tocar uma técnica específica a 100 bpm (batidas por minuto), com um metrónomo, de forma limpa e consistente. pt.tomhess.net
The sound director said, "When you reach zero you don't have anything to do, so let's put in something you can play around with. uk.wii.com
O director de som disse "Quando ficas a zeros, ficas sem nada para fazer. Por isso, vamos criar qualquer coisa com que possas ficar a brincar. pt.wii.com
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Vamos nos sentar juntos e agir de acordo com as leis. infosurhoy.com
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