quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 

A Resposta do Amigo Urso:

 

Minha continha eu pagarei no Pólo Norte...




 

Mas, hoje, tua cartinha relendo,
Foi que fiquei sabendo
Que és expedicionário

 

Adeus, meu irmão bem-amado, tu me alegraste, não esperava de ti tanta coragem. David

In VI AS FLORES DA MISÉRIA ILUSÕES PERDIDAS BALZAC

 

 

 

 

A Resposta do Amigo Urso

Moreira da Silva



 


https://youtu.be/38aPhdlPNgg

 

Amigo velho, aí vai tua resposta
Quem é pobre nesse mundo
Sempre come do que gosta
E o que não gosta...

Eis porque fiquei furioso
Recebendo do amigo
Um tratamento desdenhoso
Mas a minha raiva logo se reprimiu
Eu não posso querer mal
A quem tanto, tanto me serviu.

Tua cartinha causou-me admiração
És perfeito na cobrança,
Como o gringo Salomão
(Que vende roupa a prestação)

Há muito eu andava persuadido
Que tu eras um sabido
Com carinha de otário
Mas, hoje, tua cartinha relendo,
Foi que fiquei sabendo
Que és expedicionário

Fostes ao Pólo sem gastar do teu algum
Enquanto eu fiquei sem nenhum
Aqui na velha dura sorte
Manda mais cem, eu sei que tu não negas
E receba do colega
O teu abraço forte
Minha continha eu pagarei no Pólo Norte...

Composição: Moreira da Silva.

https://www.letras.mus.br/moreira-da-silva/1361131/

 

 

 

 

Amigo Urso

Moreira da Silva




 https://youtu.be/XyrTv1O2w0M

 

Amigo urso, saudação polar
Ao leres esta hás de te lembrar
Daquela grana que eu te emprestei
Quando estavas mal de vida e nunca te cobrei
Hoje estás bem e eu me encontro em apuros
Espero receber e pode ser sem juros
Este é o motivo pelo qual te escrevi
Agora quero que saibas como me lembrei de ti

Conjecturando sobre a minha sorte
Transportei-me em pensamentos ao Pólo Norte
E lá chegando sobre aquelas regiões
Vai vendo só quais as minhas condições
Morto de fome, de frio e sem abrigo
Sem encontrar em meu caminho um só amigo
Eis que de repente vi surgir na minha frente
Um grande urso, apavorado me senti
E ao vê-lo caminhando sobre o gelo
Porque não dizê-lo, foi que me lembrei de ti

Espero que mandes pelo portador
O que não é nenhum favor
Estou te cobrando o que é meu
Sem mais, queiras aceitar um forte amplexo
Deste que muito te favoreceu
Eu não sou filho de judeu
Dá cá o meu

Composição: Henrique Gonçalez. 

https://www.letras.mus.br/moreira-da-silva/543171/

 

 

 

 

Moreira da Silva – “Amigo Urso” (1958; Odeon, Brasil)



 

https://camarilhadosquatro.files.wordpress.com/2008/03/moreiradasilva_001a.jpg?w=170&zoom=2

A prosódia é uma característica geral da canção, mas, no samba particularmente, ela constitui uma arte complexa, misteriosa. Estruturada de um lado pelo costume e pela memória, e, de outro, pela “luz do repente”, isto é, pela criação e pelo acaso, a prosódia do samba não possui regras muito rígidas, mas convém sobretudo que se respeite o “2/4” característico do ritmo. Sobre esse vai-e-vem, solidamente marcado sobre o tempo fraco, vale quase tudo: as palavras cortam-se umas às outras, numa dança que, conforme a sensibilidade do compositor, pode adquirir os mais diversos aspectos. No entanto, deve-se frisar que a prosódia dá o ar de sua graça tanto pelas mãos do compositor quanto pelas do intérprete: o compositor cria acentos, entonações e métricas, indicando prescrições rítmicas ao intérprete; por sua vez, o intérprete ilumina certas articulações que o compositor, talvez, não tenha previsto. A presença de Henrique Gonçalez (Gonçalves, em algumas publicações) na discografia de Moreira da Silva é tímida e concentra-se nos discos de 78 rotações, além de um faixa gravada em 1979, “Diplomata”. Em todas elas, mas especialmente nessa obra-prima que é “Amigo Urso”, percebe-se que a composição contém as células rítmicas que devem orientar o intérprete, da mesma forma que o compositor ao maestro. E é justamente quebrando a exatidão complexa com que Gonçalez compôs “Amigo Urso” que Moreira da Silva criou aquela que é, sem exagero, uma das mais geniais interpretações de toda música brasileira. Da “saudação polar” até o caco “anti-semita” (“eu não sou filho de judeu / dá cá o meu…”) o que se ouve é a perfeição de uma arte que, embora permaneça viva, passa por momentos difíceis… (Bernardo Oliveira)

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Moreira da Silva parece ser daqueles artistas em que obra e biografia traçam caminhos paralelos, se não são um só. Em suas letras estão impressas as marcas de uma vida que se equilibrou entre a malandragem cultivada e driblar as dificuldades, a capacidade em mudar o rumo, como todas as profissões que abraçou antes de ser o mestre do breque e malandro por excelência. Mas sua música não é simples reflexo, mais, ele criou o personagem e uma obra em cima deste, aproveitando-se da época em que a covardia e o politicamente correto não o impediriam de compor a ágil e divertida “Amigo Urso”. Ali estão, a acidez sem agressividade, o jogo de palavras esperto e a gentileza mordaz. Melhor ainda, a imagem que puxa a canção, a desculpa sem vergonha para exigir o que lhe é de direito é deliciosa. É claro que se tudo isto não fosse embalado por uma composição fina, sem excessos de arranjos, ficaríamos com uma curiosidade datada, mas Moreira da Silva vive ainda mais em tempos de sambistas/recicladores e tímidos. (Marcus Martins)

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Podem me prender, podem me bater, podem mesmo me chamar de elitista, que eu não mudo de opinião: foi-se o tempo em que a cultura popular se imbricava inteiramente com a sofisticação. Assim, é impossível para mim ouvir “Conjecturando sobre minha sorte, transportei-me em pensamentos ao pólo norte” e pensar qual é o equivalente disso, em termos da ousadia lírica (enfiar um verbo polissílabo de uso pouco costumeiro) e de fineza de imaginário, na música popular brasileira de hoje. Tirando pouquíssimos funks (quase todos do Catra), não há. É claro, “Amigo Urso” não se resume a isso apenas: tem um humor fino que não se esgota à medida que se ouve. Cortesia da extrema elegância da letra mas também da interpretação de Moreira da Silva, mestre do breque, Rei-Sol do samba humorístico, que sabe o limite entre a graça e o escracho. A notar que à época da primeira gravação, em 1941, Moreira ainda macaqueava algumas inflexões dos cantores de mais sucesso do período, mesmo que já tivesse uma forma característica de cantar – tímida em relação a seu período de maturidade, mas já lá. Em 1958, data da regravação em O Último Malandro, ele já é mestre total de seu estilo, apressando certas sílabas e dilatando a duração de outras, passando com desprendimento do canto à fala, e criando assim um sentimento de jogo de cintura que o associam como a nenhum outro à figura do malandro, mas acima de tudo realizam aquilo que freqüentemente esperamos do samba: a destreza e a fluência do ritmo. Sem mais, “Amigo Urso” é uma das maiores de um dos maiores. (Ruy Gardnier)

https://camarilhadosquatro.wordpress.com/2008/03/13/moreira-da-silva-%E2%80%9Camigo-urso%E2%80%9D-1958-odeon-bra/

In, Camarilha dos Quatro Revista de crítica musical.

 

 

 

 

Prosódia

 

Márcia Fernandes

Professora licenciada em Letras

Prosódia é o emprego correto da acentuação tônica das palavras. Ela está ligada à oralidade.

Há casos em que um erro de prosódia pode transformar palavras oxítonas em paroxítonas ou uma proparoxítona em paroxítona. Por exemplo, pronunciar rúbrica e não rubrica, que é o correto.

Os erros de prosódia são denominados silabada.

Exemplos:

Sútil (errado), sutil (correto)

Côndor (errado), condor (correto)

Interim (errado), ínterim (correto)

https://www.todamateria.com.br/prosodia/

 

 

 

 

 

Os dois amigos e o urso

    Dois amigos caminhavam por um bosque quando, de repente, aparece um urso e começa a prossegui-los. Um dos amigos, muito assustado, trepou numa árvore. O outro, abandonado à própria sorte, jogou-se no chão, fingindo-se de morto.

    O urso ao vê-lo, aproximou-se pouco a pouco. Porém, este animal, que não se alimenta de cadáveres, segundo dizem, começou a olhá-lo, tocá-lo: observá-lo, examina-lo. Mas como nosso amigo não se movia e quase nem respirava, é abandonado pelo urso, que foi embora falando: “Está tão morto como meu bisavô”.

   Então o amigo que estava na árvore, alardeando sua amizade, desce correndo e o abraça. Comenta sobre a sorte que teve o amigo por ter saído ileso de situação tão perigosa e lhe diz:

    — Sabe, parece-me que o urso lhe disse alguma coisa no ouvido, enquanto o cheirava. Diga-me, o que foi que ele lhe disse?

    E nosso amigo responde:

    — Só uma coisa: “Retira tua amizade da pessoa que, se te vê em perigo, te abandona”.

SAMANIEGO. La Fontaine. “Fábulas”. Tradução de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan, 1997.

https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/09/90-anos-deferreira-gullar-no-cenaculo.html

 

 

 

90 anos do Acadêmico Ferreira Gullar são comemorados em podcast especial da ABL

Academia Brasileira de Letras apresenta, através de seu canal de podcast, a série Efemérides Acadêmicas, uma homenagem especial aos noventa anos do nascimento do Acadêmico Ferreira Gullar (1930-2016), eleito em outubro de 2014. O episódio, que foi ao ar no dia 15 de setembro, conta com a participação dos Acadêmicos Arno Wehling, Antonio Carlos Secchin e Antonio Cicero.

Este quinto episódio dá continuidade à série de podcasts em comemoração de aniversários “redondos” de Acadêmicos e celebrará seus feitos e marcos ao longo de suas trajetórias dentro da Casa de Machado de Assis. A emissão está disponível no site da Academia, assim como nas plataformas Apple Podcast, Spotify, Deezer e Castbox.

 

spotify

deezer

apple-music

10/09/2020

https://www.academia.org.br/noticias/90-anos-do-academico-ferreira-gullar-sao-comemorados-em-podcast-especial-da-abl

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