sábado, 24 de julho de 2021

O diabo

*** A NATUREZA NOS UNIU EM UMA IMENSA FAMÍLIA E DEVEMOS VIVER NOSSAS VIDAS UNIDOS, AJUDANDO UNS AOS OUTROS. SÊNECA *** O diabo “Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós, os doze? E um de vós é diabo.” (João, 6:70) Quando a teologia se reporta ao diabo, o crente imagina, de imediato, o senhor absoluto do mal, dominando num inferno sem fim. Na concepção do aprendiz, a região amaldiçoada localiza-se em esfera distante, no seio de tormentosas trevas... Sim, as zonas purgatoriais são inúmeras e sombrias, terríveis e dolorosas, entretanto, consoante a afirmativa do próprio Jesus, o diabo partilhava os serviços apostólicos, permanecia junto dos aprendizes e um deles se constituíra em representação do próprio gênio infernal. Basta isto para que nos informemos de que o termo “diabo” não indicava, no conceito do Mestre, um gigante de perversidade, poderoso e eterno, no espaço e no tempo. Designa o próprio homem, quando algemado às torpitudes do sentimento inferior. Daí concluirmos que cada criatura humana apresenta certa percentagem de expressão diabólica na parte inferior da personalidade. Satanás simbolizará então a força contrária ao bem. Quando o homem o descobre, no vasto mundo de si mesmo, compreende o mal, dá-lhe combate, evita o inferno íntimo e desenvolve as qualidades divinas que o elevam à espiritualidade superior. Grandes multidões mergulham em desesperanças seculares, porque não conseguiram ainda identificar semelhante verdade. E, comentando esta passagem de João, somos compelidos a ponderar: – “Se, entre os doze apóstolos, um havia que se convertera em diabo, não obstante a missão divina do círculo que se destinava à transformação do mundo, quantos existirão em cada grupo de homens comuns na Terra?” Imagem: Chico Xavier - Livro 039 - Ano 1950 - Pao Nosso EspiritismoUNIP *** *** 164 O diabo Emmanuel Pão Nosso FEB COLEÇÃO FONTE VIVA 1950 30ª edição - 4ª impressão - 8/2017 *** *** ***
*** "A natureza é perfeita. A mulher é o ponto de partida; a Mãe, o início, o meio e o fim." MINHA HISTÓRIA Uma filosofia para a vida André Luiz Gama ***
*** "A virtude consiste em saber encontrar o meio-termo entre dois extremos." Aristóteles *** A virtude 8. A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais que as desornam e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de estadear-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas. São Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o digno cura d’Ars e muitos outros quase desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao sabor de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse, completo e inteiro esquecimento de si mesmos. À virtude assim compreendida e praticada é que vos convido, meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a consagrar-vos. Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho, vaidade, amor-próprio, que sempre desadornam as mais belas qualidades. Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas qualidades a todos os ouvidos complacentes. A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas covardias. Em princípio, o homem que se exalça, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter. Entretanto, que direi daquele cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boa mente que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio. Ó vós todos a quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabeis quão longe da perfeição está o homem, jamais esbarreis em semelhante escolho. A virtude é uma graça que desejo a todos os espíritas sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca virtude com modéstia do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humildade é que um dia elas se hão de redimir. – François-Nicolas-Madeleine. (Paris, 1863.) *** *** O Evangelho Segundo o Espiritismo ALLAN KARDEC FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Rio - Brasil 1944 Tradução de Guillon Ribeiro da 3ª edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866 https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/WEB-O-Evangelho-segundo-o-Espiritismo-Guillon.pdf *** *** ***
*** "(...) Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar. (...)" ***
*** Ame a todos. Quando você ama, liberta-se das coisas que impedem a felicidade. *** sábado, 24 de julho de 2021 Poesia | Ferreira Gullar -Aprendizado ***
*** Do mesmo modo que te abriste à alegria abre-te agora ao sofrimento que é fruto dela e seu avesso ardente Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo e te perdeste nela e te achaste nessa perda deixa que a dor se exerça agora sem mentiras nem desculpas e em tua carne vaporize toda ilusão que a vida só consome o que a alimenta. - Ferreira Gullar, em "Barulhos", 1987. *** *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/07/poesia-ferreira-gullar-aprendizado.html *** *** *** sábado, 24 de julho de 2021 Música - Alceu Valença - Saudade ***
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*** O Estado de S. Paulo O poderoso tirânico cerca-se de cópias de si mesmo, incompetentes, ignorantes, vulgares Seja no Estado, no mercado ou na sociedade civil, o poder arrebata. Não há quem escape de seu fascínio. Ele oferece vantagens e recompensas, mesmo que também traga sacrifício e sobrecarga. São as recompensas que seduzem. Ver-se obedecido, admirado e elogiado faz brilhar os olhos de muita gente. É o que leva a que se cometam excessos e estripulias, cresçam as ilusões e os autoenganos. O poderoso nunca está sozinho. Seu círculo mais próximo é fonte permanente de intrigas, inveja e cobiça, o que provoca atritos e colisões. O poder não pode tudo. Numa democracia, tem de se haver com o povo livre, a sociedade civil, o sistema de controles, os demais poderes. O poder fascina anjos e demônios, pessoas com vocação para o bem público e pessoas mesquinhas, agarradas aos próprios interesses. Quando um anjo se deixa seduzir pelo poder, ele perde integridade e pujança reformadora. Seus planos e projetos deixam de ser factíveis e se tornam dependentes de acordos espúrios, batendo às portas da corrupção. Quando um demônio chega ao poder, ele se realiza como excrescência perversa. Exala maldade por todos os poros e trafega pelos becos escuros da sociedade, onde vicejam a boçalidade, a ignorância, a violência, o desregramento. Alia-se a quadrilhas e redes corruptas, na ilusão de conseguir com elas uma base sólida de apoio e financiamento. Apela para manobras populistas para chegar ao povo, mas o seu é um populismo regressista, malévolo, mais nefasto que qualquer outro. O poderoso tirânico acredita que ser autoritário e impositivo é a principal ferramenta para intimidar subalternos e aliados. É por isso que ele se cerca de cópias de si próprio, pessoas incompetentes, ignorantes e vulgares, dispostas a todo tipo de serviços. A “kakistocracia”, o governo dos piores, é seu modelo de atuação. Ele o faz valer destruindo a política, os partidos, as instituições. Abre os portões para que a mediocridade se imponha em todos os lugares. A poliarquia confunde e desafia o poderoso. Faz que fique acuado e enverede pelas trilhas obtusas do destempero e da agressão verbal. Quanto mais tosco o poderoso, mais a tirania o atrai, pois não sabe conviver com a diferença, com quem o contrasta e desafia. Nenhum tirano é democrata. Sempre tende a fugir da realidade. Parafraseando Macbeth, sua desgraça são as loucuras paranoicas da imaginação, mais que os temores do presente. Num Estado democrático, o tirano se dissimula. Diz que segue as regras constitucionais, mas age sistematicamente para burlá-las. Aceita eleições desde que sejam moldadas para referendá-lo. Quando não consegue, passa a atacá-las e ameaça suspendê-las. Boicota o controle entre os Poderes, procura interferir em todos eles. Invade o Congresso e as Cortes judiciárias com atos bombásticos e tropas de ataque. Enxerta amigos nos espaços institucionais para impedi-los de funcionar com independência. Deseja-se absoluto. Seu orgasmo é o exercício coreográfico do poder. Como em seus antepassados, o poder do tirano moderno pede exibição, na glória e na dor. Ele necessita expor, calculadamente, até mesmo suas entranhas. Mostra-se em trajes de gala ou escrachado, forte e saudável ou estropiado numa maca hospitalar. Tudo para ele é produção de imagem, com a qual pretende chamar a atenção para sua condição de escolhido, vítima, sobrevivente, mito. O objetivo é enfeitiçar os que o seguem. Quer que seu corpo seja visto como imune aos males que afetam as pessoas comuns. Ele é atlético e dinâmico mesmo quando mostra apatia e fragilidade. Tiranos discretos não são usuais. A marca distintiva deles – sobretudo em nossos tempos de redes hiperativas, identitarismo exacerbado, velocidade tecnológica e informacional – é a estridência, a conduta espalhafatosa: discursos inflamados, frases grosseiras, atos espetaculosos, ameaças. Sua meta é controlar as fontes de informação, calar a imprensa, espalhar boatos. O fermento que os move é o ódio e o ressentimento. Eles adulam os poderosos da economia para alcançarem o poder ideológico. O poder constrói, mas também destrói. Quando compartilhado democraticamente, é uma alavanca em prol do progresso econômico e social. Mas seu uso abusivo e torpe violenta populações inteiras, desativa direitos adquiridos, amplia a desigualdade e degrada arranjos institucionais consolidados. Para ser construtivo o poder precisa ser controlado. A democracia representativa madura é a principal invenção para conter o poder, regulá-lo, impedi-lo de transgredir e violentar. O tirano só a aceita quando consegue parceiros que concordem em fazer seu jogo. Ele é inimigo da educação e da escola, pois sabe que cidadãos educados ajudam a que a democracia funcione de modo pleno. Épocas de política titubeante, de partidos flácidos e sem coerência, de crise permanente, são um convite para que o poder político fique ao alcance não somente dos piores, mas de candidatos a tiranos. Quanto antes acordarmos para isso, melhor. *Professor titular de teoria política da Unesp *** *** *** https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/07/marco-aurelio-nogueira-o-poder-os.html *** *** *** Macbeth MACBETH William Shakespeare ***
*** ÍNDICE ATO I Cena I Cena II Cena III Cena IV Cena V Cena VI Cena VII ATO II Cena I Cena II Cena III Cena IV ATO III Cena I Cena II Cena III Cena IV Cena V Cena VI ATO IV Cena I Cena II Cena III ATO V Cena I Cena II Cena III Cena IV Cena V Cena VI Cena VII Personagens DUNCAN, rei da Escócia. MALCOLM, seu filho D0NALBAIN, seu filho. MACHBETH, General do exército do rei BANQUO, General do exército do rei. MACDUFF, Nobre da Escócia. ROSS, Nobre da Escócia. MENTEITH, Nobre da Escócia. ANGUS, Nobre da Escócia. CAITHNESS, Nobre da Escócia. FLEANCE, filho de Banquo. SIWARD, duque de Northumberland, general do exército inglês. O jovem Siward, seu filho. Seyton, oficial ligado a Macbeth. Menino, filho de Macduff. Um médico inglês. Um médico escocês. Um sargento. Um porteiro. Um velho. Lady Macbeth. Lady Macduff. Criado de quarto de Lady Macbeth. Hécate e três bruxas. Nobres, gentis-homens, oficiais, soldados, assassinos, criados e mensageiros. O fantasma de Banquo e outras aparições. *** Macbeth Convido-vos, assim, de mui bom grado, para que em Scone me vejais coroado. (Fanfarras. Saem.) *** *** http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000081.pdf *** *** ***
*** Macbeth autor: William Shakespeare editora: Nova Fronteira tradutor: Barbara Heliodora gênero: Teatro; *** Bons livros para ler *** Livros > Resenhas Macbeth Macbeth, que fascinou o público por quase quatrocentos anos, é, na minha opinião, uma peça poderosa e emocionalmente intensa. Quem nunca ouviu falar de Macbeth? Refiro-me ao público escolarizado. De uma forma ou de outra, muitos pelo menos já ouviram falar desse personagem. A peça começa com uma breve aparição de um trio de bruxas. Em seguida, a cena muda para um acampamento militar, onde o rei escocês Duncan ouve a notícia de que seus generais Macbeth e Banquo derrotaram dois exércitos invasores separados – um da Irlanda, liderado pelo rebelde MacDonwald, e um da Noruega. Macbeth e seu amigo Banquo, retornando vitoriosos da batalha, são atacados por três bruxas. As bruxas cumprimentam Macbeth com uma profecia. Elas dizem que ele será o rei dali em diante. As bruxas profetizam que Macbeth será feito o Thane Cawdor (um posto de nobreza escocesa) e será o eventual rei da Escócia. Elas também profetizam que o companheiro de Macbeth, Banquo, gerará uma linhagem de reis escoceses, mas que ele nunca será rei. As bruxas desaparecem, e Macbeth e Banquo tratam suas profecias com ceticismo, até que alguns homens do rei Duncan vêm agradecer aos dois generais por suas vitórias em batalha e dizer a Macbeth que ele realmente foi nomeado Thane de Cawdor. Só para esclarecer: anteriormente, Macbeth era Thane de Glamis, uma área governada chamada Glamis. Após o sucesso da batalha, Macbeth tornou-se Thane de Cawdor, o que poderemos equiparar ao papel de “Duque”. O Thane anterior traíra a Escócia lutando pelos noruegueses, e Duncan o condenou à morte. Macbeth está intrigado com a possibilidade de que o restante da profecia das bruxas − de que ele será coroado rei − possa ser verdade, mas ele não tem certeza do que esperar. Ele visita o rei Duncan, e eles planejam jantar juntos em Inverness, o castelo de Macbeth, naquela noite. Macbeth escreve para sua esposa, Lady Macbeth, dizendo-lhe tudo o que aconteceu. Ao longo da história de Macbeth, o tempo tem uma grande importância. A ampulheta que mede o tempo se desenvolve impactando as ações dos personagens no decorrer do texto. A primeira bruxa diz que Macbeth é Thane de Glamis. No entanto, a segunda bruxa diz que ele será o Thane de Cawdor. A terceira bruxa prossegue dizendo a Macbeth: “Não será rei, mas pai de reis!”. “Macbeth − Um momento; foi pouco, falem mais! Sei que a morte de Sinel me fez Glamis; Mas como Cawdor? Cawdor está vivo, E é nobre e próspero. Quanto a ser rei, Fica além do horizonte do admissível – Assim como ser Cawdor. Digam de onde Vêm novas tão estranhas, ou por que Nos param nesse charco desgraçado Com saudações proféticas me digam. (e as bruxas desaparecem)” (Ato I, cena III, pg27) O tempo está sempre correndo, podemos sentir que um mau presságio está a caminho. E Macbeth, desde o aparecimento das bruxas, encontra-se assombrado e hipnotizado pelo tempo. Ele está hipnotizado pelo futuro. Ele está com a sensação de que pode se tornar rei. As visões do futuro levados pelas bruxas desempenham um papel fundamental e contribuirão para que sua personalidade sombria venha à tona. Ao contrário de Macbeth, Banquo não deixa que seus desejos superem sua precaução moral. Sua resposta para as bruxas é diferente: “Banquo – Senhor, por que se assusta e por que teme Coisas de som tão belo? – Na verdade, São fantasias ou são vocês de fato O que apresentam? Meu nobre parceiro Saúdam no presente com honrarias E, no porvir, com esperança reais Que o estonteiam – mas a mim não falam. Se podem ler as sementes do tempo, Saber o grão que cresce e o que não vinga, Falem a mim, que não peço e nem temo Seu favor ou seu ódio.” (Ato I cena III pg 26) Há algo tentador e assustador sobre a profecia das bruxas. É como se elas tivessem mexido com a ambição de Macbeth, desestabilizando-o. Antes da profecia, ele possuía uma alta patente, não possuía grandes ambições. No entanto, agora, ele não tem tanta certeza. Afinal, a profecia pode ser um poderoso vislumbre de um possível futuro de poder, mas a estrada que o levará até lá ainda não estava clara o suficiente. São manifestações essenciais da atmosfera moral do mundo de Macbeth, como o fantasma em Hamlet. É como se Macbeth prevesse um evento que parece já ter acontecido. Ele não tem conhecimento de sua ambição antes de cometer os crimes sangrentos. Se a falta de clareza em Macbeth de como chegar a materializar esse futuro não é palpável, Lady Macbeth não sofria dessa incerteza. Ela deseja o reinado por ele e quer que ele mate Duncan (o rei da Escócia). Quando Macbeth chega ao castelo de Inverness, ela anula todas as objeções do marido e o convence a matar o rei naquela mesma noite. “Lady Macbeth – ... Tua carta transportou-me para além Desde pobre presente, e sinto agora O porvir neste instante.” ( Ato I, cena 5, pg 36) Chamo a atenção para o papel do tempo mais uma vez. O futuro é agora, diz Lady Macbeth. As interações de bruxas com Macbeth desempenham (como já foi dito) um papel crucial em seu pensamento sobre a própria vida, antes e após o assassinato de Duncan. Elas os desestabilizam: “Macbeth (à parte) – ... Apaga estrela Pra luz não ver os meus desígnios negros. Fique o olho cego à mão, porém insisto Que o que ele teme seja visto” ( Ato I, cena 3, pg 33) Ele e Lady Macbeth planejam embebedar os dois camareiros do rei Duncan para que eles durmam: na manhã seguinte, a culpa já estaria no colo dos camareiros que seriam acusados de assassinato, pois não se lembrarão de nada. Enquanto Duncan está dormindo, Macbeth o apunhala, apesar de carregar muitas dúvidas e um número de presságios sobrenaturais, incluindo a visão de um punhal sangrento. Quando a morte de Duncan é descoberta na manhã seguinte, Macbeth mata os camareiros – por raiva – e, com a maior naturalidade, assume a realeza. Com a morte do rei Duncan, seus filhos Malcolm e Donalbain fogem para Inglaterra e a Irlanda, temendo serem as próximas vítimas. Receando a profecia das bruxas – de que os herdeiros de Banquo tomarão o trono –, Macbeth contrata um grupo de assassinos para matar Banquo e seu filho Fleance. Eles emboscam Banquo em seu caminho para uma festa real, mas eles não conseguem matar Fleance, que escapa para a noite. Macbeth fica furioso: enquanto Fleance estiver vivo, ele teme que seu poder permaneça inseguro. Embora as bruxas tenham desencadeado a série de eventos que mais tarde ajudarão a descida de Macbeth ao mundo da insanidade, a ação é realizada, mas, em seguida, Macbeth percebe que o futuro glorioso que ele imaginou não é muito seguro: seu reinado é ilegítimo. Macbeth não tinha uma linhagem nobre, ele deve continuamente lutar contra ameaças potenciais. Em suma, mais sangue deve ser derramado, para cumprir as profecias das bruxas. Macbeth ficou preso por um futuro imaginado. Seu futuro imaginado não é seguro o bastante, seu reinado é ilegítimo. Uma vez que Macbeth e Lady Macbeth embarcaram em uma viagem assassina, o sangue simboliza a culpa deles, e eles começam a sentir que seus crimes os mancharam de uma forma que não pode mais ser lavada. A mancha está em cada crime. Os atos terríveis que ele tomou para se tornar rei o perseguem a cada passo dele. O passado cobra o seu preço. Um arrependimento? Não iria tão longe. Mas o fantasma do passado está presente quando o fantasma de Banquo aparece. “Macbeth – Fora! Longe dos olhos! Volta à terra! Teus ossos estão ocos, frio o sangue Não tens penetração com esses teus olhos Com os quais me fita” ( Ato III, cena 4, pg 79, pg 80) Macduff é tomado de ira quando soube da execução de sua família na Inglaterra. Ele jura vingança. O príncipe Malcolm, filho de Duncan, conseguiu criar um exército. As duas forças se juntam e partem em direção à Escócia. A invasão conta com apoio de nobrtes escoceses. Lady Macbeth sofre de insanidade, talvez assombrada com o passado que ela ajudou a construir. Lady Macbeth – Sai, mancha maldita! Sai, eu disse! – Uma, duas: Mas então é hora de agir. O inferno é tenebroso. Que vergonha, meu senhor, que vergonha! Um soldado, com medo? – Por que teremos de temer quem o saiba, quando ninguém puder pedir contas ao nosso poder? – Mas quem haveria de pensar que o velho tivesse tanto sangue? (ato IV, cena 1, Pg 121) Mais adiante, ela diz: Lady Macbeth – Lave as mãos, vista a camisa de noite; não se mostre assim tão pálido. – Vou dizer-lhe de novo, Banquo está enterrado; ele não pode sair da tumba. (ato IV, cena 1, pg 122) Lady Macbeth acaba perdendo sua batalha contra a sanidade e se mata. Macbeth é informado disso por seu fiel auxiliar Seyton, e Macbeth faz uma das reflexões mais belas, dizendo: Macbeth – Ela devia morrer mais tarde; Haveria um momento para isso. Amanhã, e amanhã, e ainda amanhã Arrastam nesse passo o dia a dia Até o fim do tempo pré-notado. E todo ontem conduziu os tolos À via em pó da morte. Apaga, vela! A vida é só uma sombra: um mau ator Que grita e se debate pelo palco. Depois é esquecida é uma história Que conta o idiota, todo som e fúria Sem querer dizer nada. (Ato IV, cena 5, pg 123, pg 124) Podemos fazer várias reflexões sobre o texto de Macbeth acima. Um pessimismo em relação à condição humana. Uma reflexão sobre o tempo, o protagonista dessa história cai na real e vê que seus atos e sua imaginação foram cúmplices, frutos de uma ambição desmedida. Podemos, no entanto, chegar a uma conclusão mais engraçada (se é que podemos chegar a alguma conclusão desse nível): “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.” Deixo com vocês essa conclusão. Mas uma coisa eu posso dizer com toda a certeza é: “Macbeth”, de Shakespeare, tem uma tradução maravilhosa de Bárbara Heliodora, e merece um lugar de honra na sua estante. *** *** https://www.bonslivrosparaler.com.br/livros/resenhas/macbeth/5246 *** ***

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