quinta-feira, 29 de julho de 2021

argumento

Time after time ***
*** Eu não aceito o argumento. Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim ***
*** quinta-feira, 29 de julho de 2021 Eugênio Bucci* - Cuba dos meus afetos O Estado de S. Paulo Escritor condena o autoritarismo na ilha. Concordo. Chega de silêncio obsequioso Por ter tido uma formação trotskista, ganhei um salvo-conduto no limiar da juventude: nunca precisei bater continência a Fidel Castro para provar que não compactuava com o imperialismo. Nós, militantes da IV Internacional, não aceitávamos que as escolhas políticas fossem binárias: isso ou aquilo, preto ou branco. No nosso código, era possível combinar dois combates: um contra exploração capitalista e outro contra a burocracia soviética. Denunciávamos a opressão do capital sobre os “famélicos da Terra” e nos opúnhamos à degeneração totalitária dos Estados operários. A luta contra o Tio Sam não nos obrigava a baixar a cabeça para o Kremlin, Mao Tsé-tung ou as ovelhas com suposta consciência de classe na Albânia. Enquanto Jean-Paul Sartre olhava para a estampa de Che Guevara e se derretia, anunciando ter encontrado no guapo guerrilheiro o fenótipo do “ser humano mais completo do nosso tempo”, nós, os trotskistas, desconfiávamos. Enquanto os stalinistas faziam do culto à personalidade uma religião e da obediência o suprassumo da virtude, os trotskistas admiravam a capacidade de discordar e a disposição para carregar solitariamente, se necessário, o fardo das próprias convicções. Gostávamos da ideia de revolução, das multidões escorrendo pelas ruas e rompendo as comportas, mas não elogiávamos o enrijecimento do Estado, a transformação de um rebelde em comissário engravatado, a polícia dos costumes. No começo dos anos 1980, muitos trotskistas (não todos) olhavam para Cuba e viam um satélite da União Soviética – ainda que de órbita expandida. Aos olhos desses admiradores ativos de Leon Trotsky, aos quais devotei minha admiração dissonante, Cuba não era a esperança do socialismo e da liberdade, mas um prolongamento plúmbeo de um poder encerrado em si mesmo. A gente não embarcava. Aquela forma de poder acabaria dando errado, a não ser que fosse, de novo, sacudida por dentro, em outra vaga revolucionária radical, socialista e libertária. Era assim que eu pensava quando ingressei na casa dos 20 anos. Devo admitir que, como as cabeças humanas também se burocratizam, eu sigo pensando mais ou menos assim até hoje. Só mais ou menos. O diabo comigo é que, além da formação trotskista, tive também uma formação simultânea um tanto boêmia, um tanto cristã, bastante caipira e sentimental. Isso bagunça qualquer coerência, convenhamos. Um militante da IV Internacional é um bolchevique internacionalista, ferreamente disciplinado. Um seresteiro que gosta de namorar acaba traindo essa rigidez principista em melodiosas conciliações impossíveis. Sim, aconteceu comigo de não gostar do regime cubano, que encarcerou homossexuais, baniu dissidentes e censurou a imprensa e a literatura. Mas aconteceu também de gostar demais, calorosa e apaixonadamente, dos homens e das mulheres que gostavam de Fidel Castro. E como o coração humano é mais ou menos como o desejo das massas, que vai no embalo sem fazer escala em estacionamentos cobertos, o fato é que gosto demasiadamente de todos eles e todas elas até hoje. Sou a negação da disciplina bolchevique. Estive no Museu da Revolução, em Havana, e quando vi a estátua de cera de Camilo Cienfuegos, em tamanho natural, escalando umas pedras mequetrefes, chorei. Difícil explicar por quê. Talvez por ter visto na imagem de Camilo, ladeado pelo Che, um “homem novo” sem lenço e sem documento, o que me comove. Mas talvez eu tenha chorado porque a estátua de cera guardava um halo do sonho que movia aquele tipo alegre e eu pude vislumbrar, no museu com cara de repartição pública, que o sonho se ressecara em pesadelo imobilizante. As revoluções, como a justiça e os amores, quando tardam, falham. Não sei se o improvável leitor me acompanhou até aqui. Temo, humildemente, que não. Esse negócio de escrever na primeira pessoa numa página de jornal é uma temeridade. Mas fazer o quê? As coisas são como são e a minha primeira pessoa, inadvertidamente, é uma coisa que é como é, de vez em quando aflora. Pelo sim e pelo não, se me acompanhou até aqui, o improvável leitor entenderá agora um pouco mais das linhas que nos trouxeram a este ponto final – além do qual existe texto. Os parágrafos acima vieram a propósito dos recentes solavancos na ilha. “Não, não são solavancos”, dizem meus amigos, “são apenas arruaças localizadas de uns poucos sabotadores financiados pelos contras de Miami”. Alguns até distribuíram vídeos no WhatsApp com cenas da manifestação oficial de apoio ao regime convocada pelo herdeiro dos Castros, Miguel Días-Canel. Com isso imaginaram encerrar o assunto: os descontentes são minoria. Eu não aceito o argumento. A questão terrível em Cuba, hoje, reside justamente no desrespeito aos direitos da minoria. O fato de serem minoritários os que protestam não justifica a censura e a prisão de dissidentes. Que lástima. O escritor cubano Leonardo Padura, em artigo publicado há duas semanas no site A Terra é Redonda, teve a coragem de fazer a crítica necessária. Ele defende Cuba, repudia o embargo americano, diz que escolheu viver na ilha, mas condena o erro gravíssimo do autoritarismo. Concordo afetuosamente com Padura. Chega de silêncio obsequioso. *Jornalista, é professor da ECA-USP *** *** Um grito | Padura escreve sobre as manifestações em Cuba "Os cubanos precisam recuperar a esperança e ter uma imagem possível de futuro." Publicado em 16/07/2021 // 10 comentários ***
*** Leonardo Padura. El hombre que mira desde la esquina – Palabra Pública Por Leonardo Padura. Parece bem possível que tudo o que aconteceu em Cuba desde o último domingo, 11 de julho, tenha sido encorajado por um maior ou menor número de pessoas contrárias ao sistema, algumas delas até mesmo pagas, com o objetivo de desestabilizar o país e causar uma situação de caos e insegurança. Também é verdade que em seguida, como costuma acontecer nesses eventos, ocorreram atos oportunistas e lamentáveis de vandalismo. Mas acredito que nenhuma das evidências tira um pingo de razão do grito que escutamos. Um grito que também é fruto do desespero de uma sociedade que atravessa não só uma longa crise econômica e uma crise pontual de saúde, mas também uma crise de confiança e uma perda de expectativas. A esse clamor desesperado, as autoridades cubanas não deveriam responder com os habituais lemas, repetidos há anos, e com as respostas que essas autoridades querem ouvir. Nem mesmo com explicações, por mais convincentes e necessárias que sejam. O que se impõe são as soluções que muitos cidadãos esperam ou exigem, alguns se manifestando na rua, outros dando sua opinião nas redes sociais e expressando sua desilusão ou discordância, muitos contando com os poucos e desvalorizados pesos que têm em seus empobrecidos bolsos e muitos, muitos mais, fazendo filas em um silêncio resignado por várias horas sob sol ou chuva, inclusive com a pandemia, filas nos mercados para comprar comida, filas nas farmácias para comprar medicamentos, filas para conseguir o pão nosso de cada dia e para tudo imaginável e necessário. Acredito que ninguém com um mínimo de sentimento de pertencimento, com um sentido de soberania, com uma responsabilidade cívica pode querer (ou mesmo acreditar) que a solução para esses problemas venha de qualquer tipo de intervenção estrangeira, muito menos de natureza militar, como chegaram a pedir alguns, e que, também é verdade, representa uma ameaça que não deixa de ser um cenário possível. Também acredito que qualquer cubano dentro ou fora da ilha sabe que o bloqueio, ou embargo comercial e financeiro dos Estados Unidos, como queiram chamá-lo, é real e se internacionalizou e intensificou nos últimos anos. E é um fardo muito pesado para a economia cubana (como seria para qualquer outra economia). Aqueles que vivem fora da ilha e querem hoje ajudar seus familiares em meio a uma situação crítica, podem comprovar que existe e o quanto existe ao serem praticamente impedidos de enviar uma remessa para seus familiares, só para citar uma situação que afeta muitos. É uma política antiga que, aliás (às vezes alguns esquecem), praticamente todo o mundo tem condenado por muitos anos nas sucessivas assembleias das Nações Unidas. E não acredito que alguém possa negar que também foi desencadeada uma campanha midiática na qual, até das formas mais grosseiras, foram divulgadas informações falsas que, do princípio ao fim, só servem para diminuir a credibilidade de seus gestores. Mas acredito, junto a tudo o que foi dito acima, que os cubanos precisam recuperar a esperança e ter uma imagem possível de futuro. Se a esperança se perde, perde-se o sentido de qualquer projeto social humanista. E a esperança não é recuperada pela força. Ela é resgatada e alimentada com soluções, mudanças e diálogos sociais, que por não chegarem têm causado, entre tantos outros efeitos devastadores, os anseios migratórios de tantos cubanos e agora provocam o grito de desespero de pessoas entre as quais certamente havia criminosos oportunistas e pessoas pagas para tanto. Embora eu me recuse a acreditar que no meu país, a esta altura, possa haver tanta gente, tantas pessoas nascidas e educadas entre nós que se vendam ou cometam crimes. Porque se assim fosse, isso seria fruto da sociedade que os fomentou. A forma espontânea com que um número notável de pessoas também tem se manifestado nas ruas e nas redes, sem se atrelar a nenhuma liderança, sem receber nada em troca ou roubar nada pelo caminho, deveria ser um alerta. E penso que é uma amostra alarmante das distâncias que se abriram entre as esferas políticas dirigentes e as ruas (e isso foi até mesmo reconhecido pelos dirigentes cubanos). Só assim se explica que o que aconteceu, sobretudo em um país onde quase tudo se sabe quando se quer saber, como todos nós também sabemos. Para convencer e acalmar os desesperados o método não pode ser o das soluções de força e obscuridade, como impor um apagão digital que cortou há dias as comunicações de muitos, mas que não impede as ligações de quem quer dizer alguma coisa, a favor ou contra. Muito menos pode se empregar como argumento de convencimento a resposta violenta, especialmente contra os não violentos. E já se sabe que a violência pode ser não apenas física. Muitas coisas parecem estar em jogo hoje. Talvez até depois da tempestade venha a calmaria. Talvez os extremistas e fundamentalistas não consigam impor suas soluções extremistas e fundamentalistas, e não se enraíze um perigoso estado de ódio que tem crescido nos últimos anos. Mas, de qualquer forma, é necessário que cheguem as soluções, respostas que não deveriam ser apenas de natureza material mas também de caráter político. E assim uma Cuba melhor e inclusiva poderia responder às razões desse grito de desespero e perda de esperanças que, em silêncio, mas com força desde antes do 11 de julho, vinham de muitos de nossos compatriotas. Esses lamentos que não foram escutados e cujas chuvas originaram esse lamaçal. Como cubano que vive em Cuba, trabalha e acredita em Cuba, presumo que tenho o direito de pensar e expressar minha opinião sobre o país em que vivo, trabalho e acredito. Já sei que em momentos como este e ao tentar expressar uma opinião, acontece de ser “sempre reacionário para alguns e radical para outros”, como disse certa vez Claudio Sánchez Albornoz. Também assumo esse risco, como um homem que almeja ser livre, que espera ser cada vez mais livre. Mantilla (Havana), 15 de julho de 2021 * Tradução de Isabella Meucci. Água por todos os lados, de Leonardo Padura O mais recente trabalho de Leonardo Padura é uma celebração dos elementos que fazem de sua voz uma das mais proeminentes da literatura cubana nos últimos anos. Água por todos os lados apresenta ao leitor algumas das grandes paixões e inspirações de Padura, como a literatura, o beisebol, a cultura local e, de forma geral, sua terra natal. Trata-se, então, de um relato brilhante de como transformar em material narrativo aquilo que no início se mostra apenas uma luz tênue na mente do autor e de como habilmente tecer isso com o vínculo de pertencimento mantido em relação a seu país. ***
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*** *** “Sou um escritor cubano que vive e escreve em Cuba porque não posso e não quero ser outra coisa, porque (e sempre posso dizer que apesar dos mais diversos pesares) preciso de Cuba para viver e escrever.”Leonardo Padura *** Leonardo Padura Fuentes nasceu em Havana em 1955. Formado em Letras (Spanish Language and Literature) pela Universidade de Havana, trabalhou como escritor, jornalista e crítico literário até a década de 1990, quando ganhou reconhecimento internacional por uma série de romances policiais estrelando seu mais famoso personagem, o detetive Mario Conde. Mas foi com o romance O homem que amava os cachorros (Boitempo, 2013) que Padura se consolidou no mundo literário, ganhando prestígio para além do gênero policial. Traduzida para vários países (como Espanha, Portugal, França e Alemanha), a obra recebeu diversos prêmios internacionais – Prix Initiales (França, 2011), Prix Roger Caillois (França, 2011), Premio de la Critica (Cuba, 2011), XXII Prix Carbet de la Caraïbe (2011) e V Premio Francesco Gelmi di Caporiacco (Itália, 2010). Em 2012, Padura recebeu o Premio Nacional de Literatura de Cuba. Seu romance, Hereges (Boitempo, 2015), ganhou o X Prêmio Internacional de Romance Histórico “Ciudad de Zaragoza” e foi finalista dos prêmios Médicis e Fémina. Leonardo Padura ganhou em 2015 o Prêmio Princesa das Astúrias, pelo conjunto de sua obra. Pela Boitempo, publicou também Máscaras (2016), Paisagem de outono (2016), Passado perfeito (2016), Ventos de quaresma (2016), A transparência do tempo (2018), O romance da minha vida (2019) e o mais recente, Água por todos os lados (2020). *** *** https://blogdaboitempo.com.br/2021/07/16/um-grito-padura-escreve-sobre-as-manifestacoes-em-cuba/ *** *** ***
*** Argumento Paulinho da Viola *** *** Lá-lá-iá-la-iá-la-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Sem preconceito Ou mania de passado Sem querer ficar do lado De quem não quer navegar Faça como um velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar Faça como um velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Sem preconceito Ou mania de passado Sem querer ficar do lado De quem não quer navegar Faça como um velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar Faça como um velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Tá legal Tá legal Eu aceito o argumento Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sentindo a falta De um cavaco, de um pandeiro Ou de um tamborim Lá-lá-iá-la-iá-la-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Lá-lá-iá-la-iá-la-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Lá-lá-iá-lá-iá-lá-iá Fonte: Musixmatch Compositores: Paulo Cesar Baptista De Faria *** *** https://blogdaboitempo.com.br/2021/07/16/um-grito-padura-escreve-sobre-as-manifestacoes-em-cuba/ *** *** ***
*** Time After Time Chet Baker *** *** Time after time I tell myself that I'm So lucky to be loving you So lucky to be The one you run to see In the evening when the day is through I only know what I know The passing years will show You've kept my love so young, so new And time after time You'll hear me say that I'm So lucky to be loving you I only know what I know The passing years will show You've kept my love so young, so new And time after time You'll hear me say that I'm So lucky to be loving you Repetidas Vezes Repetidas vezes Digo a mim mesmo que sou Tão sortudo por te amar Tanta sorte por ser Quem você corre para ver À noite, quando o dia acaba Eu só sei o que eu sei O passar dos anos vai mostrar Você manteve meu amor tão jovem, tão novo E vez após vez Você vai me ouvir dizer que eu sou Tão sortudo por estar amando você Eu só sei o que eu sei O passar dos anos vai mostrar Você manteve meu amor tão jovem, tão novo E vez após vez Você vai me ouvir dizer que eu sou Tão sortudo por estar amando você Composição: Jule Styne / Sammy Cahn. *** *** https://www.letras.mus.br/chet-baker/501364/traducao.html *** ***

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