sábado, 24 de julho de 2021

A APAIXONADA ELENA

(Senhorinha Elena Benedita de Faria) ***
*** Alcantara Machado (A Apaixonada Elena) / Oceano de Letras *** *** - Quem é que me leva hoje no Literário? Ficou esperando a resposta. Dona Maria da Glória fazia uns desenhos na toalha com a ponta do garfo. Achando muita graça na história do Dico. Esses meninos. Mas o melhor ainda não tinha sido contado: a negra perdeu a paciência e meteu a mão na cara do gerente. A rapaziada por pândega fez uma subscrição e deu uns dois mil e tanto para a negra. E a polícia? Que polícia? Negra decidida está ali. - Quem é que me leva hoje no Literário, mamãe? Ficou esperando a resposta. Dona Maria da Glória falou: - Vamos para outra sala que aqui está calor demais. Dico pôs no Panatrope o Franchie and Johnny. E diante do aparelho ensaiava uns passos complicados. Pé direito atrás. Batida de calcanhares. Pé direito na frente. Batida de calcanhares. Saiu andando que nem cavalo de circo. Elena sentou-se, abriu a revista diante do rosto pôs uma perna em cima da outra. - Tenha modos. menina! Suspirou, descruzou as pernas. Dico foi se chegando. Deu um tabefe na revista, fugiu de banda deslizando. - Chorando! Que é que ela tem, mamãe? - Sei lá. Bobagens. Pare com essa dança que me estraga o encerado. Elena levantou-se e as lágrimas caíram. - Onde é que vai? Sente-se ai! Dico parou a musica. Foi ficar diante da irmã de beiço caído. - As lágrimas da mártir. Dona Maria mandou que o Dico ficasse quieto, não amolasse nem fosse moleque. E mandou Elena enxugar as lágrimas que já estavam incomodando. Dico jogou o lenço no colo da irmã. Elena jogou o lenço no chão por desaforo. Enxugou com a gola da blusa. - Sou mesmo uma mártir, pronto! Os olhares da mãe e do irmão encontraram-se bem em cima do vaso de flores de vidro. Despediram-se e se foram encontrar de novo nos olhos molhados da mártir Elena. O Doutor Zósimo veio lá de dentro escovando os dentes. Sacudiu a cabeça para a mulher: - Que é que há? A mulher esticou o queixo e abriu os braços: Não sei não! - Malvados! Não querem me levar no Literário! - Quem é que não quer? - Vocês! Então o Doutor Zósimo voltou lá para dentro babando espuma. O Dico pegou o chapéu, beijou o rosto da mãe, curvou-se diante da irmã, fez umas piruetas e saiu cantando o Pinião. Dona Maria da Glória tirou o cachorro do colo. Depois deu uma mirada vaga assim em torno. Depois penteou o cabelo com os dedos. Finalmente bocejou e disse: - Não seja boba, menina! E foi embora. O ruído da rua. O sol entrando pela porta aberta que dava para o terraço. Batiam pratos na copa. O cachorro latindo para o Doutor Zósimo. Esta mesa seria mais bonita se fosse mais baixa. Elena espreguiçou-se e pôs no Panatrope um disco bem chorado dos Turunas da Mauricéia. - Que vestido eu visto, mamãe? - O azul. Foi. Demorou um pouco. Voltou. - Está todo amassado, mamãe. - Então o verde. - Com aqueles babados? E repetiu: - Com aqueles babados indecentes? E tornou a repetir: - Com aqueles babados indecentes, horrorosos, imorais? Dona Maria da Glória estava na página dos anúncios. - Em que vapor partiu a Dulce mesmo? - Como é que a senhora quer que eu me lembre? - Não seja insolente! Fechou-se no quarto. Cinco minutos se tanto. Abriu a porta. Disse da porta: - Eu vou pôr o novo futurista. - Ponha o verde já disse! - Oh desgraça, meu Deus! Se o Zósimo continuasse a não fazer caso ela como mãe estava decidida: curaria aquele nervosismo a chinelo. A toda hora olhava o ponteiro dos minutos. Já querendo ir embora. Vinte para as oito. Às oito acaba com o hino nacional. No fundo dança não passa de uma sem-vergonhice muito grande. A gente conta na certa com uma coisa: vai a cousa não acontece. As primas não paravam sentadas. Há moças que tiram seus pares de longe: é um jeito de olhar. Voltar para casa, ler na cama a revista de Hollywood, procurar dormir. Com aquele calorão. E amanhã bem cedo: dentista. A vida é pau. Dez para as oito. Dez para as oito Firmianinho apareceu. Começou a inspeção pelo lado esquerdo. Foi indo. No canto direito parou. Veio vindo. Chegou. Enfim chegou. - Boa noite. - Boa noite. Tanta aflição antes e agora este silêncio. Dançavam empurrados. Não valeu de nada ter preparado a conversa. Tinha uma pergunta para fazer. Não era bem uma pergunta. Endireitando o busto parecia que se dominava. Felizmente repetiram o maxixe. - Sabe que comprei um Reo? 22.222. - Bonitinho? - Assim assim. Dezoito contos. Para que dizer o preço? Matou a conversa no princípio. Não tendo coragem de ver precisava perguntar. Então imaginava um modo, imaginava outro cada vez mais nervosa. E dançavam. O maxixe está com jeito de estar acabando. Perguntava agora. Daqui a pouco. No finzinho. Não perguntaria: olharia e pronto. O hino nacional continuou o maxixe. - Tirou as costeletinhas? - Ainda não viu? Ora que resposta. Quando pararam junto das primas dela ele virou bem o rosto de propósito. Tirou sim. Agora sim. Isso sim. Despediram-se com muita alegria. Chegou em casa foi direitinho para o quarto. Tirou o chapéu em frente do espelho. Guardou a bolsa. Ia tirar o vestido de bordados indecentes, horrorosos, imorais. Mas se jogou na cama com os olhos cheios de lágrimas. *** *** http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/laranjadachina.htm *** *** ***
*** *** Resenha - Apaixonada Elena 9 visualizações16 de jun. de 2021 Erick Lima ETEC de Francisco Morato - 3º ETIM INFO 2021 Apresentação da resenha do conto "Apaixonada Elena", escrito por Alcântara Machado. # Integrantes: - Erick Lima - Júlia Rufino - Marcus Vinicius - Matheus Carlos Música neste vídeo Música Construção / Deus Lhe Pague (Medley) Artista Chico Buarque *** *** https://www.youtube.com/watch?v=WDhDdCoJTtg *** *** ***
*** *** *** https://www.letras.mus.br/elena-de-avalor/tema-elena-de-avalor/ *** ***

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