Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 31 de julho de 2021
Os superiores e os inferiores
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Segure o bom humor.
O seu bom humor é a sua
proteção.
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Não se sabe o quem tem causado maior dano à Humanidade: se as obsessões espetaculares, individuais e coletivas, que todos percebem e ajudam a desfazer ou isolar, ou se essas meio-obsessões de quase-obsidiados, despercebidas, contudo bem mais frequentes, que minam as energias de uma só criatura incauta, mas influenciando o roteiro de legiões de outras.
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Influenciações espirituais sutis
ESTUDE E VIVA
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Me vesti de palhaço,
me fiz de palhaço,
alegando a vida e
recordando um tempo
com imagens nunca esquecidas.
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o sorriso de um Pailhaço
nem sempre espelha o que se
passa em seu coração naquele
momento de suas vidas.
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André Luiz Gama
MINHA HISTÓRIA
Uma filosofia para a vida.
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9. A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.
Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em conseqüência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.
Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio.”
O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. – François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Allan Kardec
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No futuro
“Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.”
9. O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É fato, que já haveis podido comprovar muitas vezes, este: o homem, por mais abjeto, vil e criminoso que seja, vota a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente afeição à prova de tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes proporções.
A um ente ou um objeto qualquer, disse eu, porque há entre vós indivíduos que, com o coração a transbordar de amor, despendem tesouros desse sentimento com animais, plantas e, até, com coisas materiais: espécies de misantropos que, a se queixarem da Humanidade em geral e a resistirem ao pendor natural de suas almas, que buscam em torno de si a afeição e a simpatia, rebaixam a lei de amor à condição de instinto. Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o gérmen vivaz que Deus lhes depositou nos corações ao criá-los. Esse gérmen se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora comprimido amiúde pelo egoísmo, torna-se a fonte das santas e doces virtudes que geram as afeições sinceras e duráveis e ajudam a criatura a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana.
Há pessoas a quem repugna a reencarnação, com a ideia de que outros venham a partilhar das afetuosas simpatias de que são ciosas. Pobres irmãos! o vosso afeto vos torna egoístas; o vosso amor se restringe a um círculo íntimo de parentes e de amigos, sendo-vos indiferentes os demais. Pois bem! para praticardes a lei de amor, tal como Deus o entende, preciso se faz chegueis passo a passo a amar a todos os vossos irmãos indistintamente. A tarefa é longa e difícil, mas cumprir-se-á: Deus o quer e a lei de amor constitui o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que um dia matará o egoísmo, qualquer que seja a forma sob que se apresente, dado que, além do egoísmo pessoal, há também o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Disse Jesus: “Amai o vosso próximo como a vós mesmos.” Ora, qual o limite com relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não; é a Humanidade inteira. Nos mundos superiores, o amor recíproco é que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e o vosso planeta, destinado a realizar em breve sensível progresso, verá seus habitantes, em virtude da transformação social por que passará, a praticar essa lei sublime, reflexo da Divindade.
Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão, quando observarem os benefícios resultantes da prática deste preceito: Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam; fazei-lhes, ao contrário, todo o bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes.
Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, ele, a seu mau grado, cede. É um ímã a que não lhe é possível resistir. O contato desse amor vivifica e fecunda os germens que dele existem, em estado latente, nos vossos corações. A Terra, orbe de provação e de exílio, será então purificada por esse fogo sagrado e verá praticados na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor. Não vos canseis, pois, de escutar as palavras de João, o Evangelista. Como sabeis, quando a enfermidade e a velhice o obrigaram a suspender o curso de suas prédicas, limitava-se a repetir estas suavíssimas palavras: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.”
Amados irmãos, aproveitai dessas lições; é difícil o praticá-las, porém, a alma colhe delas imenso bem. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: “Amai-vos” e vereis a Terra em breve transformada num Paraíso onde as almas dos justos virão repousar. – Fénelon. (Bordeaux, 1861.)
A lei de amor Amar o próximo como a si mesmo Segundo o Espiritismo ALLAN KARDEC FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Rio - Brasil 1944 Tradução de Guillon Ribeiro da 3ª edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866
No futuro
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“E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: – Conhece o Senhor! Porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.”
Paulo (Hebreus, 8:11)
Quando o homem gravar na própria alma
Os parágrafos luminosos da Divina Lei,
O companheiro não repreenderá o companheiro,
O irmão não denunciará outro irmão.
O cárcere cerrará suas portas,
Os tribunais quedarão em silêncio.
Canhões serão convertidos em arados,
Homens de armas volverão à sementeira do solo.
O ódio será expulso do mundo,
As baionetas repousarão,
As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,
Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.
A justiça será ultrapassada pelo amor.
Os filhos da fé não somente serão justos,
Mas bons, profundamente bons.
A prece constituir-se-á de alegria e louvor
E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.
A pregação da Lei Viverá nos atos e pensamentos de todos,
Porque o Cordeiro de Deus
Terá transformado o coração de cada homem
Em tabernáculo de luz eterna,
Em que o seu Reino Divino
Resplandecerá para sempre.
41 No futuro Emmanuel Pão Nosso FEB COLEÇÃO FONTE VIVA 1950 30ª edição - 4ª impressão - 8/2017
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Plante boas sementes.
A semente do bem que se planta
rende bons frutos
permanentemente.
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Não tenha medo. Nem do futuro, nem do presente. Nada há a temer. A vida sorri para as pessoas corajosas.
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Entrevista//Adauto Novaes: Um mundo mutante
Por José Carlos Vieira
06/09/2009 10:00
Quem chega próximo aos locais onde são realizados os cursos livres organizados por Adauto Novaes tem a impressão de que se trata de um evento estrelado por algum astro pop. O estacionamento fica lotado, as filas para entrar se desdobram, os melhores lugares são disputados no auditório. A situação está se repetindo com A experiência do pensamento ; mutações, realizado no auditório da Caixa Cultural, às segundas-feiras, no Setor Bancário Sul. Com a sua inteligência, capacidade de articulação e carisma, Adauto consegue a façanha de transformar a filosofia em algo tão fascinante quanto qualquer outro evento do mundo da cultura.
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Ele é mineiro de Belo Horizonte, mas está radicado no Rio há mais de 40 anos. Começou no jornalismo com Fernando Gabeira e Sérgio Augusto (aquele mesmo que se tornaria um dos editores do Pasquim), no departamento de pesquisa do Jornal do Brasil. É professor e dirigiu durante 20 anos o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Funarte, concebendo alguns cursos memoráveis, que se transformaram em livros: O olhar, Os sentidos da paixão e Ética.
Talvez o segredo da receptividade dos cursos organizados por Adauto esteja no fato de que não se limitam a ser encontros de reprodução do conhecimento erudito. Pelo contrário: realizam um corajoso corpo a corpo com as grandes questões contemporâneas: a ética, a barbárie, a rede imaginária da tevê, a espetaculização do mundo. O tema do ciclo atual não poderia ser mais polêmico e provocador: o impacto das revoluções científicas em nossas vidas. Celulares, computadores, televisores, notebooks, cirurgias plásticas, células tronco. As mutações vertiginosas deste admirável velho mundo novo reviram tudo de cabeça para baixo: "Nós estamos vivendo em um mundo cego", comenta Adauto. Nesta entrevista, ele fala sobre a destruição da experiência pela velocidade, o impacto na educação das crianças, a humanização das máquinas e a maquinização dos homens.
Como você se relaciona com o mundo das máquinas e em que medida esta interação contribuiu para que organizasse um curso livre sobre o impacto da revolução científica em nossas vidas?
Logo que houve aquele atentado dos terroristas às torres do World Trade Center, em Nova York, eu pensei: o que está acontecendo não é nem o começo e nem o fim da história, mas o símbolo de uma grande transformação. Os caras que atacaram as torres não têm a ciência para fazer isso. Com um programa de computador tiveram acesso à técnica para destruir as torres. Então eu organizei três ciclos que têm a ver com as mutações: Civilização e barbárie, onde levantei a questão de quem é civilizado e bárbaro ; apenas no século passado 200 milhões de pessoas foram mortas em guerras e massacres. O segundo foi sobre O silêncio dos intelectuais e o terceiro foi obra o esquecimento da política no meio de tudo isso. O intelectual público como era o Jean-Paul Sartre desapareceu porque a esfera pública é outra, não há mais espaço para ele na universidade, no partido político ou nos jornais. E, a partir daí, fizemos mutações.
Por que você diz que o que está ocorrendo não é mais uma situação de crise e sim de mutação?
A ideia de crise não explica mais o que estamos vivendo. Estamos mergulhados em mutações vertiginosas que provocam um descompasso entre o tempo da vida e o tempo da ciência.
Como definiria o conflito ou a contradição entre o tempo da vida e o tempo da ciência, o tempo da vida e o tempo do celular, do computador, do twitter e da robótica?
Acho que hoje existe uma contradição entre a existência e a subsistência. O poeta francês Paul Valéry tem uma frase genial que ilumina a nossa situação: "Às vezes penso e às vezes existo". Acho que estamos existindo apenas. Há uma separação entre uma vida pensada e uma vida existida. É uma revolução vivida na ausência do pensamento. E o mesmo Valéry escreveu que a era dos fatos é a era da barbárie. São apenas os fatos técnicos que nos dirigem. Mas são as coisas vagas ; a imaginação, a teoria, as artes ; que dão sentido às nossas vidas. Estamos vivendo um momento privilegiado, mas de grande incerteza. A gente precisa reinventar a civilização. As velhas teorias não dão conta mais do mundo. Há um desconforto de nosso espírito, que se recusa a habitar a sua obra, que não se identifica mais com o mundo que ele mesmo criou.
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Poderia dar um exemplo?
Na década de 1960 e 1970, nós tínhamos a utopia e uma série de conceitos que explicavam a realidade. Mas a gente pensava em termos de revolução operária. O próprio conceito de povo mudou. Como pensar isso hoje, quando a informação circula velozmente e os operários são substituídos por robôs nas fábricas? A primeira coisa a reconhecer é que houve a revolução científica que mudou todas as relações.
A velocidade da vida destrói a experiência, quer dizer, faz a vida ficar sem sentido?
O Ludwig Wittgenstein diz que na corrida do pensamento ganha quem chega por último. Segundo ele, o mundo contemporâneo destruiu as duas maiores invenções da humanidade: o passado e o futuro. Vivemos na velocidade de um eterno presente. A velocidade destrói a experiência, mas o nosso desafio é pensar o novo que desponta neste mundo criado pela tecnociência.
E qual o impacto dessas transformações sobre os valores?
O valor do espírito está em baixa e não cessa de baixar. Falo do espírito como potência de transformação. O pensamento tem que mergulhar nestas experiências para tentar entender o mundo.
A quantidade de experiência significa necessariamente qualidade? Por exemplo, as pessoas colecionam também experiências amorosas e sexuais e as divulgam na internet como se fosse um balanço contábil de uma empresa;
Não acho que a quantidade de experiências signifique necessariamente qualidade. Se por um lado é liberador, não quer dizer que seja um avanço na própria existência. Mas não podemos ver o que está ocorrendo hoje com os olhos da moral e do pensamento antigos. Não podemos ver as transformações que estão ocorrendo de uma maneira maniqueísta. A própria ideia de valor tende a desaparecer e ser recriada por outros valores. Mas a gente está tentando pensar no calor da coisa acontecendo.
O que seria maniqueísmo, por exemplo?
Nem tudo é péssimo e nem tudo é maravilhoso. A célula-tronco, por exemplo, pode beneficiar muitas pessoas. Mas o mesmo princípio permite a seleção natural, o que é uma perspectiva terrível. Falta uma política que dirija as invenções técnicas para fins coletivos. Como escreveu o Michel Foucault, é preciso pensar a política não mais do ponto de vista jurídico, mas sim do ponto de vista tecnológico. Os dois candidatos a Presidência da República, por exemplo, a Dilma e o Serra, são dois tecnocratas. A discussão deles é técnica, não é política.
Como avalia o impacto da ciência sobre a estética corporal? Por que todos os humanos que buscam a perfeição com as operações de silicone dão a impressão de se tornarem monstros ou alienígenas como foi o caso do Michael Jackson? A ciência permite aos humanos se transformarem em deuses?
Vejo a experiência de intervenção estética da ciência nos corpos como um modismo, uma perda de referências, uma busca de identidade com o grupo. É algo que se dá no plano psicológico, existencial e estético. Como você disse, acaba gerando monstros, não sabem mais o que são e onde estão. É algo provocado pelas pressões da sociedade de consumo. É efeito de uma miséria simbólica.
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O que você chama de miséria simbólica?
O simbólico e o pensamento é o que nos diferencia dos animais. Você cai na miséria do simbólico quando não tem pensamento, valores, perspectiva. Você transfere todo o desejo para os objetos. O consumismo é a expressão mais acabada da miséria simbólica. É a miséria do espírito. Você não consegue mais apreciar uma obra de arte, uma catedral, uma canção, uma peça musical. A propaganda reduz o mundo a isso.
Nelson Rodrigues disse que o desenvolvimento humaniza as máquinas e maquiniza os humanos. Você concorda?
Já estamos vivendo um processo em que as máquinas passaram a rivalizar com os humanos em tudo. Que o homem já se robotizou ou maquinizou já é visível. É muito difícil encontrar hoje jovens se relacionando diretamente. As pesquisas revelam que os jovens passam em média mais de cinco horas por dia na frente dos computadores. A nossa vida já é mediada pela máquina. As pessoas não veem mais o rosto, não sentem o cheiro e não percebem os gestos. Tudo isso são símbolos humanos. É a robotização da vida. Não é coisa de futurismo, os robôs quase que pensam por nós, reduzem a capacidade cognitiva dos humanos. Um dos palestrantes do ciclo citou os cientistas canadenses que planejam criar a vida, não mais a partir das células, mas a partir do nada, rivalizando com Deus. É algo assustador.
A internet surgiu como a promessa de uma revolução afirmadora, democratizando a informação e a possibilidade de interação e intervenção social, cultural e política. Mas o que salta aos olhos é que ela se transformou em espaço para o culto de bobagens, os trambiques e a pedofilia. Você concorda?
Não pegaria só este aspecto negativo. Talvez seja o que fica mais explícito. Mas há também muitas coisas positivas. Por exemplo: em razão do acesso imediato à informação, um golpe de Estado hoje seria muito mais difícil do que antes da internet. Não dá para ser maniqueísta. É tudo porcaria. Ela está mexendo com a linguagem, com os comportamentos, com as mentalidades, com tudo. Não sabemos ainda qual o sentido dessas experiências.
O que está fora da ordem nos tempos de hoje?
Está tudo fora da ordem, se estamos submetidos à técnica. É a era dos acontecimentos apenas. As coisas perdem a origem e o sentido.
E como ficam a arte e a educação nesse cenário?
É mais difícil falar da arte do que da educação.. É preciso reeducar os educadores. A criança hoje está lidando com os objetos técnicos com uma facilidade muito maior do que os educadores. Eles têm de entender quais são as novas formas de pensamento que estão gestadas com as novas tecnologias da comunicação e do lazer. As crianças pensam diferente e falam diferente. Há uma grande defasagem entre a vida dos educadores e dos alunos. Vimos nos jornais muitas matérias sobre a violência nas escolas. Talvez as crianças que ficam mais de cinco horas por dia em frente aos computadores tenham dificuldade em lidar com coisas coletivas. Cinco horas em frente ao computador é algo de um individualismo absoluto. É uma sociedade que não tem cidadãos, só tem indivíduos.
Então para onde vamos? Para onde caminha a humanidade?
Esta é a pergunta mais difícil. A gente não sabe onde está e nem para onde vai. No ciclo de debates anterior, alguns pensadores levantaram a hipótese de que estamos chegando ao pós-humano. São novas formas de pensar e de agir. Temos de levar muito a sério essa revolução, pois está alterando a próprio homem. Altera a constituição do corpo e do espírito. Nem um adivinho arriscaria dizer hoje para onde caminhamos.
Um mundo sem pensamento é um mundo chato?
É pior do que isso. É um mundo sem sentido. Sem pensamento, você tem uma prática cega, as coisas são feitas à deriva. Nós estamos vivendo em um mundo cego. Sem ética, ficamos submetidos ao que acontece. Não podemos abrir mão dos valores fundamentais: liberdade, justiça e sabedoria. Sem as coisas vagas, de que falava Valéry, somos escravos dos acontecimentos.
E que perspectivas este admirável mundo novo abre?
Perspectiva e soluções só o movimento da história e da sociedade dão. O Marx dizia que mais do que entender era preciso transformar o mundo. Acho que temos de inverter a frase de Marx: nós precisamos entender para transformar este mundo.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE
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sexta-feira, 30 de julho de 2021
O Inteligente Cícero
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(Menino Cícero José Melo de Sá Ramos)
Alcantara Machado
Dois dias depois da chegada de Cícero ao mundo (garoava) o Diário Popular escreveu: Acha-se em festas o venturoso lar do nosso amigo senhor Major Manuel José de Sá Ramos, conhecido fabricante do molho João Bull e da pasta dentifrícia Japonesa, e de sua gentilíssima consorte Dona Francisca Melo de Sá Ramos, com o nascimento de uma esperta criança do sexo masculino que receberá na pia batismal o nome de Cícero. Felicitamos muito cordialmente os carinhosos pais. O major foi pessoalmente à redação levar os agradecimentos dos carinhosos pais e no dia seguinte o órgão da opinião pública registrou a visita referindo-se mais uma vez à esperteza congênita de Cícero.
Quando o pequeno fez dois anos passou a ser robusto. Quando fez quatro foi promovido pelo Diário Popular a inteligente e mui promissor menino.
Nesse dia Dona Francisca achou que era chegado o momento de ensinar ao Cícero O Estudante Alsaciano. Seis estrofes mais ou menos foram decoradas. E a madrinha Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não está visto mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu que do meio para o fim é que era mais difícil. Principalmente quando o heróico rapazinho desabotoava virilmente a blusa preta e gritava batendo no peito: Aqui dentro, aqui é que está a França!
Cícero na véspera do Natal de seus cinco anos às sete horas da noite estava entretido em puxar o rabo do Biscoito quando Dona Francisca veio buscá-lo para dormir. Cícero esperneou, berrou, fugiu e meteu-se embaixo da mesa da sala de jantar. Foi pescado pelas orelhas. Carregado até a cama.
Dona Francisca tirou a roupa dele, enfiou-o no macacão e disse:
– Vá dizer boa-noite para papai.
Beijada a mão do major (que decifrava umas charadas do Malho) voltou. E Dona Francisca então falou assim:
– Olhe aqui, meu filhinho. Tire o dedo do nariz. Olhe aqui. Você agora vai pôr seu sapatinho atrás da porta (compreendeu?) para São Nicolau esta noite deixar nele um brinquedo para o meu benzinho.
Cícero obedeceu correndo.
– Bom. Agora reze com a mamãe para Nossa Senhora proteger sempre você.
Rezou sem discutir.
– Assim sim que é bonito. Não meta o dedo no nariz que é feio. E durma bem direitinho para São Nicolau poder deixar um brinquedo bem bonito.
Cícero no escuro deu de pensar no presente de São Nicolau. E resolveu indicar ao santo o brinquedo que queria por causa das dúvidas. Não confiava no gosto do santo não. Na sua cabeça os soldados vistos de manhã marchavam com a banda na frente. E disse baixinho:
– São Nicolau: deixe uma espingardinha.
Virou do lado direito e dormiu de boca aberta. Às sete da manhã encontrou um brinquedo de armar atrás da porta. Ficou danado. Deu um pontapé no brinquedo. E chorou na cama apertando o dedão do pé.
Na véspera do Natal de seus seis anos às sete e meia da noite estava Cícero matando moscas na copa quando o major veio chamá-lo para dormir. Ranzinzou. Choramingou. Quis escapar. Foi seguro por um braço e posto a muque na cama. Dona Francisca já esperava afofando o travesseiro.
– Fique quietinho, meu filho, que é para São Nicolau trazer um brinquedo para você.
Não quis ouvir mais nada. Arrancou os sapatos e foi mais que depressa deixar atrás da porta. Mas depois ficou algum tanto macambúzio. Coçando a barriga e tal.
– Que é que você tem? Mostre a língua.
Com má vontade mas mostrou. Dona Francisca verificou o seu aspecto saudável.
– Vá. Diga para sua mamãe que é que você tem.
– Como o da outra vez eu não quero mesmo.
– Não quer o quê?
– O brinquedo…
Dona Francisca riu muito. Beijou a cabecinha do Cícero. Foi buscar um lenço. Encostou no nariz do filho.
– Assoe. Com bastante força. Assim. De novo. Está bem. Agora me diga direitinho que brinquedo você quer que São Nicolau traga.
– Não.
– Diga sim, minha flor, para mamãe também pedir.
– Não.
– Então mamãe apaga a luz e vai embora. Depois que ela sair o meu filhinho ajoelha na cama e diz bem alto o presente que ele quer para São Nicolau poder ouvir lá do céu. Dê um beijinho na mamãe.
Não ajoelhou não. Ficou em pé em cima do travesseiro, ergueu o rosto para o teto e berrou:
– Eu quero um tamborzinho, São Nicolau! Ouviu? Também um chicotinho e uma cornetinha! Ouviu?
Dona Francisca ouviu. E o major logo de manhãzinha levou uma cornetada no ouvido. Pulou da cama indignadíssimo. Porém o tambor já ia rolando pelo corredor. O chicotinho foi reservado para o Biscoito.
Cícero na véspera do Natal de seus sete anos às oito horas da noite estava beliscando os braços da Guiomar quando Dona Francisca (regime alemão) apareceu na porta da cozinha para mandá-lo dormir. Escondeu-se atrás da Guiomar.
– Depois. mamãe, depois eu vou!
– Já e já!
O rugido do major dai a segundos decidiu-o.
Sentado na cama bebeu umas lágrimas, fez um ligeiro exercício de cuspo tendo por alvo o armário, vestiu a camisola e veio descalço até o escritório beijar a mão do papai e da mamãe. Dona Francisca voltou com ele para o quarto. Sentou-o no colo.
– Você já pôs os sapatos atrás da porta?
Cícero fez-se de desentendido.
– Eu sou paulista mas… de Taubaté!
– Agora não é hora de cantar. Responda.
– Atrás da porta não cabe.
Dona Francisca não podia compreender. Não cabe o quê?
– O que eu quero.
– Que é que você quer?
Cícero começou a contar nos dedos.
– Um-dois, feijão com arroz! Três-quatro…
– Responda!
– Ara, mamãe…
– Diga. Que é?
– Ara…
– Não faça assim. Diga!
Foi barata que entrou ali debaixo do armário?
– Eu quero… Ah! mamãe, eu não quero dizer…
– Se você não disser São Nicolau castiga você.
– Quando é que a gente vai na chácara de titio outra vez?
Dona Francisca apertou os braços do menino.
– Assim machuca, mamãe! Eu quero um automóvel igual ao de titio, pronto!
– Que é isso, Cícero? Um Ford? Pra quê? Você é muito pequeno ainda para ter um Ford.
– Mas eu quero, pronto!
Dona Francisca deixou o filho muito preocupada e foi confabular com o major. Mas o major (premiado com um estojo Gillette no concurso charadístico do Malho) achou logo a solução do problema.
– Tenho uma idéia genial.
Tapou a idéia com o chapéu e saiu. Dona Francisca ninava o corpo na cadeira de balanço louca para adivinhar.
As sete horas da manhã Cícero sem sair da cama encompridou o pescoço para examinar um automóvel deste tamanhinho parado no meio do quarto. Meio tonto ainda deu um pulo e foi ver o negócio de perto. Em cima do volante tinha um bilhete escrito à maquina: Meu querido Cícero. Dentro de meu cesto não cabia um automóvel grande como você pediu. Por isso deixo este que é a mesma cousa. Tenha sempre muito juízo e seja bonzinho para seus pais. (a) S. Nicolau.
Não vê. Cícero soltou dois ou três berros que levantaram no travesseiro os cabelos cortados de Dona Francisca. O major enfiou os pés nos chinelos e foi ver o que havia. Cícero pulava de ódio.
– Mas você não viu o bilhete, meu filhinho? Quer que eu leia para você?
– Eu não quero essa porcaria!
O major encabulou e se ofendeu mesmo. Dona Francisca veio também saber da gritaria.
– Mas então, Cícero! Não chore assim. Você chorando São Nicolau nunca mais traz um presente para você.
– Eu não preciso de nada!
O major já alimentava a sinistra idéia de passar um dos chinelos do pé para a mão. Dona Francisca pelo contrário ameigava a voz.
– Ah, meu benzinho, assim você deixa mamãe triste! Não chore mais.
O major foi se aproximando do filho assim como quem não quer.
– Deixe, Neco. Agradando se arranja tudo.
Do lado de lá da cama o Cícero desesperado da vida. Do lado de cá os carinhosos pais falando alternadamente. Sobre a cama (já com um farol espatifado) o pomo da discórdia.
– São Nicolau é velhinho. não pode carregar um cesto muito grande…
– E depois por grandão que fosse não podia caber um Ford de verdade dentro dele…
– É. E se cabesse…
– Se coubesse, Francisca!
– … se coubesse São Nicolau não agüentaria com o peso…
– Está cansado, não tem mais força.
Cícero foi retendo a choradeira. Levantou a camisola para enxugar as lágrimas.
– Não fique assim descomposto!
Os últimos soluços foram os mais doídos para engolir. Mas parecia convencido.
– Então? Não chora mais?
Assumiu uns ares meditabundos. Em seguida pôs as mãos na cintura. Ergueu o coco. Pregou os olhos no pai (o major sem querer estremeceu). Disse num repente:
– Se ele não podia com o peso por que não deixou o dinheiro para eu comprar o Fordinho então?
Nem o major nem Dona Francisca tiveram resposta. Ficaram abobados. Berganharam olhares de boca aberta. O major piscava e piscava. Sorrindo. Procurou alcançar o filho contornando a cama. Cícero farejou uns cocres e foi se meter entre o armário e a janela. Fazendo beicinho. Tremendo encolhido.
– Não dê em mim, papai, não dê em mim!
Mas o major levantou-o nos braços. Sentou-se na beirada da cama com ele no colo. Cícero. Apertou-lhe comovidamente a cabeça contra o peito. Olhando para a mulher traçou com a mão direita três círculos pouco acima da própria testa. Depois mordeu o beiço de baixo e esbugalhou os olhos para o teto. Cícero. Dona Francisca sorriu apertando os olhos:
– Veja você, Neco!
– Estou vendo! E palavra que tenho medo!
Dona Francisca não entendeu. E o major então começou a explicar.
Fonte:
Alcântara Machado. Laranja-da-China.
*** *** https://nuhtaradahab.wordpress.com/2012/06/12/alcantara-machado-o-inteligente-cicero/ *** ***
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Representações Literárias da Violência contra a Criança na Obra do
Escritor Brasileiro António de Alcântara Machado (1901-1935)
Literary Representations of the Violence against kids in the work of the
Brazilian Writer António de Alcântara Machado (1901-1935)
Emery Marques GUSMÃO 1
Tania Suely Antonelli Marcelino BRABO 2
RESUMO: Pretende-se evidenciar que a humanização das relações que envolvem a infância, o respeito e a
acuidade em relação às especificidades do pensamento e dos sentimentos infantis são fatos relativamente recentes
e só atualmente luta-se contra todas as formas de violência. O presente texto recupera as representações literárias
da infância na obra do escritor modernista Antônio de Alcântara Machado escrita no início do século XX,
momento em que a criança era vista como herdeira da propriedade privada e do bom nome da família ou
combatia-se os incômodos trazidos por ela por meio da pedagogia do trabalho – em ambos os casos os pais
(pertencentes à elite ou às classes populares) impunham as palmadas como recurso educativo.
PALAVRAS-CHAVE: História social da infância. Direitos da criança. Cultura e educação.
ABSTRACT: It intends to evidence that the humanization of the relationships involving childhood, the respect
and the acuity regarding to the specificities of the thoughts and the feelings of a kid are facts relatively recent
and only nowadays there is a fight against all forms of violence. This text recovers the literary representations of
the childhood in the work of the modernist writer António de Alcântara Machado wrote at the beginning of
the XX century, when the kid was seen as heiress of the private property and the good name of the family or the
problems brought from them would be solved by using the Work Pedagogy – in both cases the parents (part of
the elite or the popular classes) would hit their kids as an educational resource.
KEYWORDS: Social History of Childhood. Children rights. Culture and education.
“É um escândalo para o adulto que o ser humano em estado infantil seja seu igual”
(Françoise Dolto)
Introdução
Na produção literária de Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) há um
grande número de crianças e, em algumas narrativas – como Lisetta (Brás, Bexiga e
Barra Funda), Gaetaninho (Brás, Bexiga e Barra Funda), Notas biográficas do Novo Deputado (Brás, Bexiga e Barra Funda), Capitão Bernini (Novelas Paulistanas) O inteligente Cícero (Laranja da China) – elas são personagens principais3
. Suas obras
foram escritas entre as décadas de 1920-304
e, predominantemente, as histórias se
passam na cidade de São Paulo; a maioria das famílias paulistanas retratadas são sustentadas por homens (funcionários públicos ou sujeitos que buscam esta posição),
dispõem de algum tempo livre para o lazer ou o ócio e, muitas vezes, contratam empregados domésticos; já as famílias ítalo-paulistas estão fortemente inseridas no mundo do trabalho: maridos, filhas e filhos adultos e ínubos empregam-se no comércio,
indústria e ofícios enquanto as esposas ocupam-se do serviço doméstico. As tramas
que envolvem as mulheres solteiras e jovens decorrem do encantamento que podem
(ou não) despertar nos homens; por outro lado, a mulher casada foi retratada não
pela reciprocidade amorosa, mas pela condição de mãe, papel desempenhado com
excessivo rigor pelas italianas e de modo débil/frágil (quase impotente) por algumas
paulistas de Laranja da China e Mana Maria; em ambos os casos, parecem distantes
da lendária Cornélia – a mãe dos irmãos Graco (Caio e Tibério) que, na condição de
tribunos da plebe na Roma Antiga, se notabilizaram pela defesa da Reforma Agrária
(proposta que enfrentou forte oposição dos grandes proprietários).
***
1 Doutorado em Educação (UNESP) e docente na UNESP/Marília.
2
Pós-doutorado em Educação e docente na UNESP/Marília.
https://doi.org/10.36311/2236-5192.2019.v20n1.04.p43
Educação em Revista, Marília, v.20, n.1, p. 39-54, Jan.-Jun., 2019
*** *** file:///C:/Users/Vitor/Downloads/5776.pdf *** ***
JÁ JÁ PICADINHO
"Vamos por partes" -disse ele.
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Pazuello admite que Bolsonaro não lhe orientou formalmente sobre contratos fraudados
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CARLOS HEITOR CONY
Como Jack, o estripador, vamos por partes
Por mais extraordinário que seja, volta e meia um marido traído ou desprezado, um tarado sexual com vagas noções de anatomia ou mesmo sem elas, perde a paciência ou ganha coragem suficiente para matar uma mulher e esquartejá-la. Os mais sofisticados distribuem generosamente os pedaços em diferentes locais. Não é raro alguém encontrar à beira de uma estrada, num capinzal qualquer, ou boiando nas águas de um rio ou do mar o resultado do esquartejamento: uma cabeça, um tronco ou membros.
Tive um primo que, ao enterrar um gato no terreno baldio perto de sua casa, encontrou uma orelha em bom estado de conservação. E, como a orelha não podia ser a de Van Gogh, que decepou a sua num momento de desespero, levou-a à polícia, que até hoje não descobriu o restante da cabeça.
Há tempos, entrevistei para uma revista, em São Paulo, um cara que havia cortado em pedaços algumas prostitutas que faziam ponto nas imediações do largo do Arouche. Os jornais o chamavam de Zé Picadinho. Zé porque seu primeiro nome era José e Picadinho pela insistência com que picava as mulheres que levava para o seu quarto.
Ele foi solto, pouco depois, com o atestado de psicólogos e criminalistas que o examinaram e descobriram um desvio temporário em sua personalidade. Garantiram, em laudo apresentado à Justiça, que não haveria risco de novos crimes. Eu próprio ficara impressionado, pois, ao entrevistá-lo, ele citou Dante no original, Goethe também no original e até mesmo o Jorge Amado, que havia escrito naqueles dias um conto que se tornou famoso, o "Quincas Berro d'Água". Além disso, ele sabia rezar o "Padre Nosso" de trás para a frente, façanha que nunca tentei realizar e da qual não me sinto capaz nem interessado. A verdade é que ele podia descolar um emprego num circo ou ganhar prêmios em programas da TV.
Zé Picadinho voltou à vida normal, arranjou emprego numa livraria, continuou lendo clássicos e não-clássicos, até que uma noite, sem ter nada o que ler ou fazer, foi dar uma volta no largo do Arouche, pegou uma prostituta, levou-a para o quarto, matou-a e picou a sua vítima, fazendo jus ao nome que os jornais lhe haviam dado. Preso novamente, foi recolhido a um presídio especial, onde morreu por inteiro, pois não teve tempo nem condições de picar-se e de transformar-se em pedaços.
Bem, não pretendia escrever uma crônica assim, de macabro e péssimo gosto, mas outro dia ouvi um ministro do novo governo ser cobrado para uma solução relativa à sua pasta, solução prometida solenemente na última campanha eleitoral. O ministro saiu-se como um Jack, o Estripador: "Vamos por partes" -disse ele. E começou a esquartejar o problema, pulverizando-o em pedaços tais e tantos que, no meio do esquartejamento, já desfigurara o problema de tal maneira que não se podia saber se ele falava da previdência social ou da providência divina, deixando aqui e ali alguns pedaços da presidência de uma estatal e da persistência dos óbices que estrangulam o nosso desenvolvimento.
Para mostrar que não apenas assassinos sexuais e ministros atuais cultivam a mania de fazer tudo em partes, separando-as, definindo-as e deixando-as por aí, eu próprio, numa enrascada recente, dei uma de Jack, o Estripador.
Estava na fila de passageiros de um vôo da Alitalia, despachara a mala principal e enfrentava aquela máquina que apita quando a gente tem qualquer coisa metálica nos bolsos, na meia, no sapato e, até mesmo, em casos mais agudos, na consciência.
Fui excluído da fila e dois caras pediram que eu tirasse tudo o que podia ter provocado o tal apito. Como os vôos estavam atrasados e havia urgência em liberar os passageiros, pediram-me pressa em esvaziar os bolsos. Foi aí que me lembrei dos esquartejadores e disse: "Vamos por partes". E lentamente, fui colocando numa bandeja adrede o que trazia nos bolsos: moedas, chaves, isqueiro, uma medalhinha de santo Antônio e outra de são José, um pente que comprei em Toledo, que tem gravado em metal o escudo da bela cidade de El Greco.
Partes inocentes de um todo insignificante, que sou eu próprio.
Mas, depois de reaver meus pertences, moedas, chaves, isqueiro, medalhinhas e pente, liberado afinal como um passageiro confiável, pensei seriamente no que acabara de dizer: "Vamos por partes".
Lembrei-me do Zé Picadinho, lembrei-me de Jack, o Estripador, lembrei-me do ministro esquartejando um problema de sua pasta e deixando-o insepulto. Se tivesse de matar alguém, um credor insuportável, um inimigo mortal, uma mulher infame, teria coragem de ir por partes, mesmo ignorando o mais elementar da anatomia?
Ia dar uma resposta a mim mesmo, mas preferi obedecer ao "vamos por partes". Não tenho credores, suportáveis ou não, não tenho inimigos mortais ou vitais, nem conheço mulher alguma que mereça a classificação de infame. Pelo contrário, neste último pedaço não tenho do que me queixar, as mulheres que conheço estão longe de serem infames, infame sou eu de acordo com elas.
De maneira que ninguém é Jack o Estripador porque quer, mas porque tem competência.
São Paulo, sexta-feira, 07 de fevereiro de 2003
Fonte:
FOLHA DE S.PAULO Folha Ilustrada
*** *** https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0702200333.htm *** ***
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(crédito: Carolina Antunes/PR)
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"O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu em depoimento à Polícia Federal que Jair Bolsonaro lhe orientou de modo informal a apurar as denúncias de corrupção no contrato do Ministério com a Covaxin para aquisição de vacinas."
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=LOeLkSOf28U *** ***
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‘É simples assim: um manda e outro obedece’, diz Pazuello em encontro com Bolsonaro
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- E o depoimento do Ellô na PF?
- Já Já! Vamos por partes!
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"O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu em depoimento à Polícia Federal que Jair Bolsonaro lhe orientou de modo informal a apurar as denúncias de corrupção no contrato do Ministério com a Covaxin para aquisição de vacinas."
Em depoimento à PF, Pazuello diz que foi avisado verbalmente por Bolsonaro sobre suspeitas na negociação da Covaxin
Ex-ministro da Saúde afirmou que, depois, avisou seu secretário-executivo, Élcio Franco, também verbalmente. Franco teria dito a Pazuello que não havia irregularidades.
Por Isabela Camargo, GloboNews — Brasília
29/07/2021 18h08 Atualizado há 16 horas
Caso Covaxin: Pazuello diz à PF que foi avisado sobre denuncias por Bolsonaro
Caso Covaxin: Pazuello diz à PF que foi avisado sobre denuncias por Bolsonaro
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse em depoimento à Polícia Federal que foi alertado verbalmente pelo presidente Jair Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades na negociação da vacina indiana Covaxin.
Pazuello afirmou ainda que ele, como ministro, repassou as informações para seu secretário-executivo, Élcio Franco, também verbalmente.
À PF, Pazuello contou que Franco lhe disse que não havia irregularidades no negócio com a Covaxin.
As suspeitas de irregularidades na compra da vacina se tornaram públicas por meio dos irmãos Miranda: o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda e o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF).
À imprensa e à CPI da Covid eles contaram que haviam identificado inconsistências na documentação da compra. Relataram também que contaram sobre as suspeitas para o presidente Jair Bolsonaro.
Um inquérito aberto pela Procuradoria-Geral da República investiga se Bolsonaro cometeu crime de prevaricação. Ou seja, se ele deixou de dar o encaminhamento devido às denúncias.
Entre as suspeitas apresentadas pelos irmãos Miranda estão:
invoice (nota fiscal internacional) com previsão de pagamento adiantado de US$ 45 milhões, o que não era previsto no contrato
invoice com previsão de menos doses do que o previsto no contrato
invoice em nome de empresa com sede em Singapura, que não é citada no contrato
VÍDEOS: veja mais notícias de política
200 vídeos
Joice Hasselmann presta depoimento à Polícia Civil do DF e faz exame de corpo de delito por causa das lesões que sofreu
*** *** https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/07/29/em-depoimento-a-pf-pazuello-diz-que-foi-avisado-verbalmente-por-bolsonaro-sobre-suspeitas-na-negociacao-da-covaxin.ghtml *** ***
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Daniela Lima
@DanielaLima_
·
25 de jul
Obrigada ao time de checagem que trata ataque à imprensa como o que é: ataque à imprensa. Jornalista não é celebridade.
@estadaoverifica
⏩ Perfil falso imita portal de notícias para atacar jornalista
Perfil falso imita portal de notícias para atacar jornalista
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Utilizando-se de logotipo do G1, conta inautêntica faz alegação infundada sobre a apresentadora Daniela Lima, da CNN
politica.estadao.com.br
*** *** https://twitter.com/danielalima_/status/1419453696858103809 *** ***
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A Constituição e o Supremo
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Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
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§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
Controle concentrado de constitucionalidade
A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático. A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva. São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático. Impossibilidade de restrição, subordinação ou forçosa adequação programática da liberdade de expressão a mandamentos normativos cerceadores durante o período eleitoral. Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma Democracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões sobre os governantes. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias. Ressalte-se que, mesmo as declarações errôneas, estão sob a guarda dessa garantia constitucional. Ação procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II e III (na parte impugnada) do artigo 45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos parágrafos 4º e 5º do referido artigo.
[ADI 4.451, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 21-6-2018, P, DJE de 6-3-2019.]
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
Controle concentrado de constitucionalidade
Ação direta de inconstitucionalidade. Parágrafo 1º do art. 28 da Lei 12.663/2012 ("Lei Geral da Copa"). Violação da liberdade de expressão. Inexistência. Aplicação do princípio da proporcionalidade. Juízo de ponderação do legislador para limitar manifestações que tenderiam a gerar maiores conflitos e atentar contra a segurança dos participantes de evento de grande porte.
[ADI 5.136 MC, rel. min. Gilmar Mendes, j. 1º-7-2014, P, DJE de 30-10-2014.]
Cabe observar, bem por isso, que a responsabilização a posteriori, em regular processo judicial, daquele que comete abuso no exercício da liberdade de informação não traduz ofensa ao que dispõem os §§ 1º e 2º do art. 220 da CF, pois é o próprio estatuto constitucional que estabelece, em favor da pessoa injustamente lesada, a possibilidade de receber indenização "por dano material, moral ou à imagem" (CF, art. 5º, V e X). Se é certo que o direito de informar, considerado o que prescreve o art. 220 da Carta Política, tem fundamento constitucional (HC 85.629/RS, rel. min. Ellen Gracie), não é menos exato que o exercício abusivo da liberdade de informação, que deriva do desrespeito aos vetores subordinantes referidos no § 1º do art. 220 da própria Constituição, "caracteriza ato ilícito e, como tal, gera o dever de indenizar", (...), tal como pude decidir em julgamento proferido no STF: "(...) A CF, embora garanta o exercício da liberdade de informação jornalística, impõe-lhe, no entanto, como requisito legitimador de sua prática, a necessária observância de parâmetros – entre os quais avultam, por seu relevo, os direitos da personalidade – expressamente referidos no próprio texto constitucional (CF, art. 220, § 1º), cabendo ao Poder Judiciário, mediante ponderada avaliação das prerrogativas constitucionais em conflito (direito de informar, de um lado, e direitos da personalidade, de outro), definir, em cada situação ocorrente, uma vez configurado esse contexto de tensão dialética, a liberdade que deve prevalecer no caso concreto." (AI 595.395/SP, rel. min. Celso de Mello).
[ADPF 130, rel. min. Ayres Britto, voto do min. Celso de Mello, j. 30-4-2009, P, DJE de 6-11-2009.]
= AC 2.695 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 25-11-2010, dec. monocrática, DJE de 1º-12-2010
Vide Rcl 9.428, rel. min. Cezar Peluso, j. 10-12-2009, P, DJE de 25-6-2010
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*** *** http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%201976 *** ***
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O Estado de S.Paulo
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Como enfrentar a impostura
O Estado de S. Paulo
O presidente não mente de forma eventual, mas sistemática. A reação a isso deve ser institucional, com economia rigorosa de expletivos e exclamações
30/07/2021 13:00,atualizado 30/07/2021 5:08
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Após quatro dias internado, Bolsonaro deixa hospital em São PauloFábio Vieira/Metrópoles
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Editorial de O Estado de S. Paulo
O presidente Jair Bolsonaro deu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, o que dá uma média de 4,3 por dia, segundo um estudo anual divulgado ontem pela Artigo 19, organização britânica de defesa da liberdade de expressão.
Esse espantoso número mostra que o presidente não mente apenas de forma eventual, mas sistematicamente, o que constitui um evidente método. Sua intenção, já está claro, é usar o destaque conferido a seu cargo para confundir a opinião pública, de modo a dificultar a formação de consensos sobre a realidade. Sem esses consensos mínimos, o debate democrático se torna inviável, o que é precisamente o que Bolsonaro almeja.
Não à toa, como mostra o mesmo estudo, o presidente e seus assessores deram nada menos que 464 declarações públicas contra a imprensa em 2020, justamente para desacreditar as informações baseadas na realidade – matéria-prima do jornalismo profissional – e legitimar distorções produzidas pelo departamento de agitação e propaganda do bolsonarismo.
Se não traz novidade, pois afinal a mendacidade crônica de Bolsonaro e de seus camisas pardas, a esta altura, já é notícia velha, o estudo da Artigo 19 tem o mérito de dar a dimensão chocante daquilo que apenas se intuía: para Bolsonaro, mentir é uma virtude, talvez a principal da seita que lidera.
Um presidente com essas características impõe desafios inéditos na história republicana. As instituições democráticas, por definição, devem se alicerçar na veracidade dos fatos, para que as decisões que afetam a sociedade respeitem a realidade e, assim, sejam efetivas e aceitas como legítimas mesmo por aqueles que a elas se opuseram.
Quando a mentira impera nas mais altas esferas de governo, as decisões das instituições democráticas serão sempre objeto de desconfiança, instaurando-se o conflito – que é precisamente o combustível dos regimes de vocação autoritária. O conflito, tal como idealizado por esses governos, presume a criação de inimigos ubíquos, cujo combate demanda a politização dos menores aspectos da vida cotidiana, impedindo, mesmo nas relações pessoais e familiares, a formação de consensos triviais.
É claro que, num tal estado de coisas, a democracia se inviabiliza, razão pela qual as instituições democráticas devem reagir com firmeza a cada mentira proferida pelo presidente.
No entanto, essa reação deve ser, com o perdão da redundância, institucional. Isto é, deve se limitar a demonstrar as mentiras do presidente, com economia rigorosa de expletivos e exclamações. Deixar-se levar pela emoção, produzindo respostas exageradas às imposturas presidenciais, é fazer exatamente o que pretendem os vândalos da democracia: rebaixar o debate ao nível da briga de rua.
Por esse motivo, não foi adequada a recente reação do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de sua Secretaria de Comunicação, à enésima declaração do presidente Bolsonaro acerca das decisões da Corte que, segundo ele, o impediram de interferir na administração do combate à pandemia de covid-19.
“O STF não proibiu o governo federal de agir na pandemia! Uma mentira contada mil vezes não vira verdade!”, exclamou o Supremo em sua conta no Twitter, ao divulgar um vídeo para esclarecer que jamais proibiu Bolsonaro de trabalhar para conter a pandemia.
Além do tom indignado, fora de lugar, o uso de uma expressão que serve frequentemente para caracterizar a propaganda do regime nazista (“Uma mentira contada mil vezes se torna verdade”) cria desnecessário ruído.
Ademais, e isso talvez seja o mais importante, não serão comparações com o nazismo que farão o presidente se emendar. Ao reagir à mensagem do Supremo, Bolsonaro mentiu novamente, dizendo que a Corte “cometeu crime” por ter dado a governadores e prefeitos a possibilidade de “suprimir todo e qualquer direito previsto no inciso (sic) 5.º da Constituição, inclusive o ir e vir” – em referência às medidas de isolamento social. E arrematou: “Fizeram barbaridades acobertados pelo Supremo”.
Como se vê, ao presidente interessa transformar o País numa imensa rinha de galos. Nela, Bolsonaro joga em casa.
*** *** https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/como-enfrentar-a-impostura *** ***
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La mentira
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Sinônimo de mentir
49 sinônimos de mentir para 7 sentidos da palavra mentir:
Dizer mentirar:
1 inventar, lorotar, fantasiar, fabular, petear, petar, patranhar, enfestar.
Enganar:
2 enganar, iludir, trapacear, simular, fingir, lograr, ludibriar, embromar, enrolar, tapear, equivocar, falsear, burlar, driblar, xavecar, aldrabar, engodar, endrominar, engazopar, refalsear, embair.
Faltar promessa ou compromisso:
3 faltar, descumprir.
Falhar face ao esperado:
4 falhar, desacertar, equivocar-se, errar.
Esconder:
5 esconder, ocultar, encobrir, omitir.
Adulterar ou estragar:
6 degenerar, adulterar-se, descaracterizar-se, deteriorar, estragar, piorar.
Não vingar:
7 gorar, fracassar, malograr, frustrar.
*** *** https://www.sinonimos.com.br/mentir/ *** ***
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Alexandre de Moraes prorroga por mais 90 dias inquérito que apura se Bolsonaro interferiu na PF
Inquérito foi aberto em 2020 com base nas acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. STF definirá em setembro se Bolsonaro deve depor presencialmente ou por escrito.
Por Márcio Falcão e Fernanda Vivas, TV Globo — Brasília
20/07/2021 17h09 Atualizado há uma semana
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O presidente Jair Bolsonaro, em imagem de 29 de junho de 2021 — Foto: Adriano Machado/Reuters
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O presidente Jair Bolsonaro, em imagem de 29 de junho de 2021 — Foto: Adriano Machado/Reuters
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou nesta terça-feira (20) por mais 90 dias o inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal.
O inquérito foi aberto no ano passado pelo STF, que atendeu a um pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), e tem como base acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Quando anunciou a saída do ministério, Moro disse que Bolsonaro tentou interferir em investigações da PF ao cobrar a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro e ao exonerar o então diretor-geral da corporação, Mauricio Valeixo, indicado por Moro.
O objetivo, segundo o ex-ministro, seria blindar investigações de aliados. Bolsonaro nega a acusação (leia detalhes mais abaixo).
O prazo para a PF concluir as investigações se encerraria no dia 27 de julho. Em setembro, o Supremo definirá se o depoimento deve ser presencial ou por escrito.
Veja os principais trechos da gravação da reunião ministerial de 22 de abril
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STF divulga ÍNTEGRA do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril
22 de mai. de 2020
CNN Brasil
1,9 mi de inscritos
Assista na íntegra a reunião ministerial do dia 22 de abril entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os ministros do Governo Federal.
LEIA MATÉRIA COMPLETA SOBRE O CASO: https://cnnbr.tv/2TuIwOY
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Assista acima à íntegra do vídeo da reunião ministerial com Bolsonaro.
Em sua decisão, Celso de Mello afirmou que "ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição da República". O ministro argumenta que, por isso, a investigação de crimes eventualmente atribuídos ao presidente é legítima.
Bolsonaro, por sua vez, disse no Facebook que no vídeo não contém "nenhum indício de interferência na Polícia Federal".
Apenas rápidas menções a outros países foram suprimidas. Esses países seriam a China e o Paraguai, segundo apurado pelo analista Fernando Molica, da CNN.
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*** *** https://www.youtube.com/watch?v=TjndWfgiRQQ *** ***
Veja os principais trechos da gravação da reunião ministerial de 22 de abril
Reunião ministerial
Sergio Moro afirma que estão entre as provas de que Bolsonaro tentou interferir na PF mensagens trocadas pelos dois em um aplicativo de mensagens e a reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Na reunião, Bolsonaro disse:
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
Segundo Moro, ao mencionar a palavra "segurança", Bolsonaro se referia à Polícia Federal no Rio de Janeiro.
O presidente, por sua vez, sempre argumentou que se referia à sua segurança pessoal, exercida pelo Gabinete de Segurança Institucional.
O Jornal Nacional, contudo, mostrou que os seguranças pessoais de Bolsonaro no Rio foram promovidos, o que coloca em xeque a versão do presidente.
Análise
Ouça o episódio do podcast O Assunto sobre as acusações de Moro contra Bolsonaro:
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ALEXANDRE DE MORAES
JAIR BOLSONARO
POLÍCIA FEDERAL
STF - SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
SERGIO MORO
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CONFUSÃO
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"Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade"
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Waack: Bolsonaro parecia visivelmente descontrolado em trechos da sua live | JORNAL DA CNN
29 de jul. de 2021
CNN Brasil
1,9 mi de inscritos
William Waack: Jair Bolsonaro admitiu hoje à noite que não tem provas de fraudes nas urnas eletrônicas, embora tivesse prometido que iria trazê-las.
Em vez de provar alguma coisa, divulgou vídeos que transitam em seus grupos na internet e fez uma gravíssima acusação: a de que a própria Justiça Eleitoral Brasileira mantém o sistema de votação atual com o objetivo de devolver o poder a outro grupo político.
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=AbqOZ-DRNwM *** ***
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Contarato defende "longa temporada na cadeia" para Bolsonaro
Redação O Antagonista
Redação O Antagonista
29.07.21 15:38
Senador disse que o presidente da República "não apenas se omitiu deliberadamente, mas sabotou como pôde o enfrentamento à pandemia"
Contarato defende “longa temporada na cadeia” para Bolsonaro
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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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Como registramos mais cedo, Jair Bolsonaro acusou o STF de ter mentido em uma nota divulgada ontem a respeito de uma decisão, de abril do ano passado, sobre a imposição de medidas restritivas contra a Covid.
O presidente afirmou que “o Supremo, na verdade, cometeu crime”.
O senador Fabiano Contarato (Rede) comentou com O Antagonista:
“O STF tardou ao desmantelar essa fraude, mas antes tarde do que nunca. É natural que Bolsonaro reaja com novas mentiras: essa é sua ferramenta de trabalho por excelência. Afora a mentira, não resta nada na montanha de fumaça do bolsonarismo.”
O parlamentar acrescentou que “o único culpado pelo imobilismo do governo federal é o próprio presidente, que, como ‘rei do vitimismo’, tem por método se desincumbir de suas responsabilidades e creditar a terceiros sua condução desastrosa do país”.
“Aliás, Bolsonaro não apenas se omitiu deliberadamente, mas sabotou como pôde o enfrentamento à pandemia. Para esse comportamento, o Código Penal reserva, em seu artigo 267, na capitulação do crime hediondo de ‘epidemia’, uma pena nada módica de até 30 anos, àqueles que deliberadamente concorrem para o alastramento de uma doença. Desejo saúde e longa vida ao presidente, para que possa, em breve, cumprir sua longa temporada na cadeia.”
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Entenda o que é prevaricação, crime que Bolsonaro é suspeito no caso das vacinas
Presidente é suspeito de ter cometido prevaricação ao não mandar investigar suspeita de propina na compra das vacinas Covaxin. Crime pode afastar Bolsonaro e dar de três meses a um ano de detenção e multa
Publicado: 05 Julho, 2021 - 16h25 | Última modificação: 05 Julho, 2021 - 17h09
Escrito por: Rosely Rocha
MGIORA
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A palavra prevaricação tomou conta do noticiário e das redes sociais depois que Jair Bolsonaro (ex-PSL) foi acusado de não ter tomado nenhuma providência após ter sido informado que agentes públicos e aliados políticos teriam cometido ilegalidades na compra da vacina indiana Covaxin, contra a Covid-19. A compra da Covaxin foi a única que teve intermediários entre o laboratório e o Ministério da Saúde. Um representante da Precisa Medicamentos intermediou a negociação superfaturada.
Para entender as acusações contra Bolsonaro, o advogado criminalista do escritório Garcez, Edgard Monteiro, explica que prevaricação é um crime que está no código penal e que prevê de três meses a um ano de detenção e pagamento de multa.
“O crime de prevaricação está previsto no artigo nº 319 do código penal, que decorre do espírito da Constituição de que haja na administração pública princípios de moralidade e impessoalidade. O artigo visa proteger a moralidade do erário público, o nosso dinheiro”, diz Monteiro.
Sobre o tempo de penalidade, o advogado criminalista explica que as leis brasileiras determinam que só vai para a cadeia, em reclusão, quando a pena é maior do que quatro anos. Sentenças abaixo deste tempo podem ser em regimes semiabertos e domiciliar, a detenção.
“O artigo 44 do código penal para quem é réu primário, sem antecedentes, oferece várias possibilidades de liberdade. Na prática não dá cadeia, mas o servidor pode ser afastado do cargo”, afirma Monteiro.
Apesar de não ser, num sentido amplo, um funcionário público, Bolsonaro é o chefe da administração do Executivo. E neste cargo, ao deixar de agir imediatamente quando se tem uma notícia-crime de um subordinado a ele, como é o caso de indícios de superfaturamento de uma vacina e retardamento de outra, o presidente comete um crime de prevaricação.
Entenda a decisão do STF de abrir investigação contra Bolsonaro
O pedido de notícia-crime nº 9.760 enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro foi feito pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO). Os senadores denunciaram que o governo se comprometeu a pagar pela Covaxin um valor 1000% superior ao estimado por executivos da empresa em agosto do ano passado: US$ 15 (R$ 80) por dose.
Na prática quem tem competência para investigar o presidente é a Polícia Federal (PF) desde que o pedido seja feito pela Procuradoria Geral da Republica (PGR) / Ministério Público Federal (MPF), sob o comando de Augusto Aras, o procurador-geral.
Ocorre que Aras ao tomar conhecimento da denúncia contra Bolsonaro e para não incorrer em crime de prevaricação decidiu pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as investigações fossem feitas após o fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as responsabilidades sobre as quase 525 mil mortes causadas no país pela covid-19, dizendo que a denúncia já está sob investigação da CPI. Mas, a ministra do Supremo Rosa Weber, decidiu que o inquérito deveria ser aberto imediatamente e deu um prazo de 90 dias para as investigações.
Após a decisão da ministra, a PGR pediu uma investigação sobre Bolsonaro no caso das vacinas Covaxin.
O advogado criminalista explica que pelo sistema brasileiro, o Supremo é o órgão máximo do poder Judiciário, que julga, mas a Corte não pode ter papel de protagonista, de investigar e participar ativamente do processo.
“Quem pede a abertura é a PGR, no caso, mas o STF tem o poder de intimar a PGR a se manifestar a respeito da abertura do inquérito”, afirma Monteiro.
Bolsonaro afastado
O afastamento de Bolsonaro da Presidência só será possível se a PF concluir que houve crime, a PGR enviar a notícia-crime ao STF, que deve enviar a denúncia à Câmara Federal. Neste caso, 342 (2/3) dos 513 deputados federais terão de aceitar o pedido para que a Suprema Corte possa fastar o presidente do cargo.
“No caso de um servidor público, a denúncia seria enviada a um juiz comum, que poderia afastá-lo, mas o cargo de presidente tem as suas particularidades que envolvem o legislativo e por isso que o Judiciário não pode afastar um presidente sem autorização da Câmara Federal”, conta Monteiro.
Saída é pedir impeachment nas ruas
” Todo este processo é demorado, creio que não termine antes das eleições de 2022. Mas, o avanço das denúncias pode ser influenciada pelas manifestações das ruas. O povo tem o poder de influenciar os atuais aliados políticos, o centrão, para que seja aberto um processo de impeachment”, diz o advogado criminalista.
O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo, também acredita que a saída para as crises econômica e institucional é o impeachment de Bolsonaro, sob pena de se degradar ainda mais o país.
“Estamos descendo a ladeira. A população passa fome, a miséria e a corrupção só aumentam. Não é possível dar sustentação a este desmonte. Por isso devemos ir às ruas e provocar as autoridades competentes para que tomem as providências e retirem Bolsonaro da Presidência da República”, afirma Sérgio Ronaldo.
Estabilidade, reforma Administrativa e corrupção
A denúncia feita pelo servidor público de carreira do Ministério da Saúde, Luis Roberto Miranda, demonstrou mais uma vez a importância da estabilidade do funcionalismo, pois sem ela um servidor pode ser demitido ao desagradar os governantes de plantão, caso não se submeta às ordens da chefia mesmo diante de um crime. Se não tivesse feito a denúncia, Luis Miranda teria cometido crime de prevaricação.
Para Sérgio Ronaldo, a possibilidade de retirar a estabilidade do servidor público, como quer o governo Bolsonaro ao enviar ao Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 32), é uma forma de retirar as barreiras que inibem a corrupção que campeia a passos largos no setor público.
Leia mais: Reforma Administrativa privatiza o serviço público e abre espaço para corrupção
“Bolsonaro tinha conhecimento das negociatas com militares do seu staff e o líder do seu governo na Câmara [Ricardo Barros (PP-PR)], mas o que ele fez foi dar um cargo de R$ 27 mil no Conselho de Administração da Itaipu Binacional para a mulher de Barros. São absurdos os casos de corrupção deste governo”, critica o dirigente.
Cida Borghetti, mulher e ex-governadora do Paraná, por oito meses em 2018, vai receber R$ 27 mil mensais para participar duas vezes ao mês de uma reunião do Conselho da Itaipu. Ela foi nomeada um mês após o servidor público, Luís Miranda ter, segundo ele, denunciado a Bolsonaro, a compra da Covaxin.
O funcionário público tem compromisso com o Estado, com a nação brasileira e não com o presidente de plantão
- Sérgio Ronaldo
*** *** https://www.cut.org.br/noticias/entenda-o-que-e-prevaricacao-crime-que-bolsonaro-e-suspeito-no-caso-das-vacinas-cabf *** ***
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"Nós denunciamos as organizações criminosas que atuam no Ministério da Saúde."
Estreou em 28 de jul. de 2021
Marco Antonio Villa
Bolsonaro pode ter gravado a reunião.
O MInistério da Saúde fez advocacia administrativa em defesa da empresa Precisa
Há um verdadeiro departamento de corrupção no ministério da Saúde
O lote que estava comprado da Covaxin estava para vencer a validade
Bolsonaro falou em Ricardo Barros
Eu não gravei o Presidente.
Eu confiava no Bolsonaro.
Estou pronto, se necessário, para voltar à CPI.
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=H2p2pUDwVb0 *** ***
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Legião Urbana - Sereníssima
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Ouvir "Sereníssima"
Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E cê vai logo ver o que acontece
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade
Tudo está perdido, mas existem possibilidades
Tínhamos a ideia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de ideia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia
Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar
Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo
Composição: Dado Villa-Lobos / Renato
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A Sereníssima República, de Machado de Assis
Fonte:
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por:
Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
(http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/literat.html)
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as
informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para
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A sereníssima República
(Conferência do cônego Vargas)
Meus senhores,
Antes de comunicar-vos uma descoberta, que reputo de algum lustre para o nosso país,
deixai que vos agradeça a prontidão com que acudisses ao meu chamado. Sei que um
interesse superior vos trouxe aqui; mas não ignoro também, - e fora ingratidão ignorá-lo, -
que um pouco de simpatia pessoal se mistura à vossa legítima curiosidade científica. Oxalá
possa eu corresponder a ambas.
Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876. Não a divulguei então, - e, a
não ser o Globo, interessante diário desta capital, não a divulgaria ainda agora, - por uma
razão que achará fácil entrada no vosso espírito. Esta obra de que venho falar-vos, carece
de retoques últimos, de verificações e experiências complementares. Mas o Globo noticiou
que um sábio inglês descobriu a linguagem fônica dos insetos, e cita o estudo feito com as
moscas. Escrevi logo para a Europa e aguardo as respostas com ansiedade. Sendo certo,
porém, que pela navegação aérea, invento do padre Bartolomeu, é glorificado o nome
estrangeiro, enquanto o do nosso patrício mal se pode dizer lembrado dos seus naturais,
determinei evitar a sorte do insigne Voador, vindo a esta tribuna, proclamar alto e bom
som, à face do universo, que muito antes daquele sábio, e fora das ilhas britânicas, um
modesto naturalista descobriu coisa idêntica, e fez com ela obra superior.
Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse:
Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia
negativamente, com vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar
socialmente esse articulado arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao
amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu.
Ouço um riso, no meio do sussurro de curiosidade. Senhores, cumpre vencer os
preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque não a conheceis. Amais o
cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a aranha não pula nem ladra como o cão,
não mia como o gato, não cacareja como a galinha, não zune nem morde como o mosquito,
não nos leva o sangue e o sono como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da
vadiação e do parasitismo. A mesma formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no
nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a alheia. A
aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia,
tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência, de ordem, de previsão, de
respeito e de humanidade? Quanto aos seus talentos, não há duas opiniões. Desde Plínio até
Darwin, os naturalistas do mundo inteiro formam um só coro de admiração em torno desse
bichinho, cuja maravilhosa teia a vassoura inconsciente do vosso criado destrói em menos
de um minuto. Eu repetiria agora esses juízos, se me sobrasse tempo; a matéria, porém,
excede o prazo, sou constrangido a abreviá-la. Tenho-os aqui, não todos, mas quase todos;
tenho, entre eles, esta excelente monografia de Büchner, que com tanta subtileza estudou a
vida psíquica dos animais. Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à
homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum modo absolver (e as
minhas vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas do materialismo.
Sim, senhores, descobri uma espécie araneida que dispõe do uso da fala; coligi alguns,
depois muitos dos novos articulados, e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar
dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão
colorida, dorso rubro, com listras azuis, transversais, tão rápida nos movimentos, e às vezes
tão alegre, que de todo me cativou a atenção. No dia seguinte vieram mais três, e as quatro
tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; achei-as
admiráveis. Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta do
idioma araneida, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e variada, com a
sua estrutura sintáxica, os seus verbos, conjugações, declinações, casos latinos e formas
onomatopaicas, uma língua que estou gramaticando para uso das academias, como o fiz
sumariamente para meu próprio uso. E fi-lo, notai bem, vencendo dificuldades aspérrimas
com uma paciência extraordinária. Vinte vezes desanimei; mas o amor da ciência dava-me
forças para arremeter a um trabalho que, hoje declaro, não chegaria a ser feito duas vezes
na vida do mesmo homem.
Guardo para outro recinto a descrição técnica do meu arácnide, e a análise da língua. O
objeto desta conferência é, como disse, ressalvar os direitos da ciência brasileira, por meio
de um protesto em tempo; e, isto feito, dizer-vos a parte em que reputo a minha obra
superior à do sábio de Inglaterra. Devo demonstrá-lo, e para este ponto chamo a vossa
atenção.
Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte cinqüenta e cinco; em
março de 1877 contava quatrocentas e noventa. Duas forças serviram principalmente à
empresa de as congregar: - o emprego da língua delas, desde que pude discerni-la um
pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi. A minha estatura, as vestes talares, o uso
do mesmo idioma, fizeram-lhes crer que era eu o deus das aranhas, e desde então adoraramme. E vede o benefício desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza,
lançando em um livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus
pecados, e fortaleceram-se ainda mais na prática das virtudes. A flauta também foi um
grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis saber, elas são doidas por música.
Não bastava associá-las; era preciso, dar-lhes um governo idôneo. Hesitei na escolha;
muitos dos atuais pareciam-me bons, alguns excelentes, mas todos tinham contra si o
existirem. Explico-me. Uma forma vigente de governo ficava exposta a comparações que
poderiam amesquinhá-la. Era-me preciso, ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma
outra abandonada. Naturalmente adotei o segundo alvitre, e nada me pareceu mais acertado
do que uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até o mesmo epíteto.
Obsoleto, sem nenhuma analogia, em suas feições gerais, com qualquer outro governo vivo,
cabia-lhe ainda a vantagem de um mecanismo complicado, - o que era meter à prova as
aptidões políticas da jovem sociedade.
Outro motivo determinou a minha escolha. Entre os diferentes modos eleitorais da antiga
Veneza, figurava o do saco e bolas, iniciação dos filhos da nobreza no serviço do Estado.
Metiam-se as bolas com os nomes dos candidatos no saco, e extraía-se anualmente um
certo número, ficando os eleitos desde logo aptos para as carreiras públicas. Este sistema
fará rir aos doutores do sufrágio; a mim não. Ele exclui os desvarios da paixão, os desazos
da inépcia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o aceitei;
tratando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do saco eleitoral era de
fácil adaptação, quase uma planta indígena.
A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um título magnífico, roçagante,
expansivo, próprio a engrandecer a obra popular.
Não direi, senhores, que a obra chegou à perfeição, nem que lá chegue tão cedo. Os meus
pupilos não são os solários de Campanela ou os utopistas de Morus; formam um povo
recente, que não pode trepar de um salto ao cume das nações seculares. Nem o tempo é
operário que ceda a outro a lima ou o alvião; ele fará mais e melhor do que as teorias do
papel, válidas no papel e mancas na prática. O que posso afirmar-vos é que, não obstante as
incertezas da idade, eles caminham, dispondo de algumas virtudes, que presumo essenciais
à duração de um Estado. Uma delas, como já disse, é a perseverança, uma longa paciência
de Penélope, segundo vou mostrar-vos.
Com efeito, desde que compreenderam que no ato eleitoral estava a base da vida pública,
trataram de o exercer com a maior atenção. O fabrico do saco foi uma obra nacional. Era
um saco de cinco polegadas de altura e três de largura, tecido com os melhores fios, obra
sólida e espessa. Para compô-lo foram aclamadas dez damas principais, que receberam o
título de mães da república, além de outros privilégios e foros. Uma obra-prima, podeis crêlo. O processo eleitoral é simples. As bolas recebem os nomes dos candidatos, que
provarem certas condições, e são escritas por um oficial público, denominado "das
inscrições". No dia da eleição, as bolas são metidas no saco e tiradas pelo oficial das
extrações, até perfazer o número dos elegendos. Isto que era um simples processo inicial na
antiga Veneza, serve aqui ao provimento de todos os cargos.
A eleição fez-se a princípio com muita regularidade; mas, logo depois, um dos legisladores
declarou que ela fora viciada, por terem entrado no saco duas bolas com o nome do mesmo
candidato. A assembléia verificou a exatidão da denúncia, e decretou que o saco, até ali de
três polegadas de largura, tivesse agora duas; limitando-se a capacidade do saco, restringia-
se o espaço à fraude, era o mesmo que suprimi-la. Aconteceu, porém, que na eleição
seguinte, um candidato deixou de ser inscrito na competente bola, não se sabe se por
descuido ou intenção do oficial público. Este declarou que não se lembrava de ter visto o
ilustre candidato, mas acrescentou nobremente que não era impossível que ele lhe tivesse
dado o nome; neste caso não houve exclusão, mas distração. A assembléia, diante de um
fenômeno psicológico inelutável, como é a distração, não pôde castigar o oficial; mas,
considerando que a estreiteza do saco podia dar lugar a exclusões odiosas, revogou a lei
anterior e restaurou as três polegadas.
Nesse ínterim, senhores, faleceu o primeiro magistrado, e três cidadãos apresentaram-se
candidatos ao posto, mas só dois importantes, Hazeroth e Magog, os próprios chefes do
partido retilíneo e do partido curvilíneo. Devo explicar-vos estas denominações. Como eles
são principalmente geômetras, é a geometria que os divide em política. Uns entendem que a
aranha deve fazer as teias com fios retos, é o partido retilíneo; - outros pensam, ao
contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, - é o partido curvilíneo. Há
ainda um terceiro partido, misto e central, com este postulado: - as teias devem ser urdidas
de fios retos e fios curvos; é o partido reto-curvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão
política, o partido anti-reto-curvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e
propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não há linhas de
espécie alguma. Como a geometria apenas poderia dividi-los, sem chegar a apaixoná-los,
adotaram uma simbólica. Para uns, a linha reta exprime os bons sentimentos, a justiça, a
probidade, a inteireza, a constância, etc., ao passo que os sentimentos ruins ou inferiores,
como a bajulação, a fraude, a deslealdade, a perfídia, são perfeitamente curvos. Os
adversários respondem que não, que a linha curva é a da virtude e do saber, porque é a
expressão da modéstia e da humildade; ao contrário, a ignorância, a presunção, a toleima, a
parlapatice, são retas, duramente retas. O terceiro partido, menos anguloso, menos
exclusivista, desbastou a exageração de uns e outros, combinou os contrastes, e proclamou
a simultaneidade das linhas como a exata cópia do mundo físico e moral. O quarto limita-se
a negar tudo.
Nem Hazeroth nem Magog foram eleitos. As suas bolas saíram do saco, é verdade, mas
foram inutilizadas, a do primeiro por faltar a primeira letra do nome, a do segundo por lhe
faltar a última. O nome restante e triunfante era o de um argentário ambicioso, político
obscuro, que subiu logo à poltrona ducal, com espanto geral da república. Mas os vencidos
não se contentaram de dormir sobre os louros do vencedor; requereram uma devassa. A
devassa mostrou que o oficial das inscrições intencionalmente viciara a ortografia de seus
nomes. O oficial confessou o defeito e a intenção; mas explicou-os dizendo que se tratava
de uma simples elipse; delito, se o era, puramente literário. Não sendo possível perseguir
ninguém por defeitos de ortografia ou figuras de retórica, pareceu acertado rever a lei.
Nesse mesmo dia ficou decretado que o saco seria feito de um tecido de malhas, através das
quais as bolas pudessem ser lidas pelo público, e, ipso facto, pelos mesmos candidatos, que
assim teriam tempo de corrigir as inscrições.
Infelizmente, senhores, o comentário da lei é a eterna malícia. A mesma porta aberta à
lealdade serviu à astúcia de um certo Nabiga, que se conchavou com o oficial das
extrações, para haver um lugar na assembléia. A vaga era uma, os candidatos três; o oficial
extraiu as bolas com os olhos no cúmplice, que só deixou de abanar negativamente a
cabeça, quando a bola pegada foi a sua. Não era preciso mais para condenar a idéia das
malhas. A assembléia, com exemplar paciência, restaurou o tecido espesso do regime
anterior; mas, para evitar outras elipses, decretou a validação das bolas cuja inscrição
estivesse incorreta, uma vez que cinco pessoas jurassem ser o nome inscrito o próprio nome
do candidato.
Este novo estatuto deu lugar a um caso novo e imprevisto, como ides ver. Tratou-se de
eleger um coletor de espórtulas, funcionário encarregado de cobrar as rendas públicas, sob
a forma de espórtulas voluntárias. Eram candidatos, entre outros, um certo Caneca e um
certo Nebraska. A bola extraída foi a de Nebraska. Estava errada, é certo, por lhe faltar a
última letra; mas, cinco testemunhas juraram, nos termos da lei, que o eleito era o próprio e
único Nebraska da república. Tudo parecia findo, quando o candidato Caneca requereu
provar que a bola extraída não trazia o nome de Nebraska, mas o dele. O juiz de paz deferiu
ao peticionário. Veio então um grande filólogo, - talvez o primeiro da república, além de
bom metafísico, e não vulgar matemático, - o qual provou a coisa nestes termos:
- Em primeiro lugar, disse ele, deveis notar que não é fortuita a ausência da última letra do
nome Nebraska. Por que motivo foi ele inscrito incompletamente? Não se pode dizer que
por fadiga ou amor da brevidade, pois só falta a última letra, um simples a. Carência de
espaço? Também não; vede: há ainda espaço para duas ou três sílabas. Logo, a falta é
intencional, e a intenção não pode ser outra, senão chamar a atenção do leitor para a letra k,
última escrita, desamparada, solteira, sem sentido. Ora, por um efeito mental, que nenhuma
lei destruiu, a letra reproduz-se no cérebro de dois modos, a forma gráfica e a forma sônica:
k e ca. O defeito, pois, no nome escrito, chamando os olhos para a letra final, incrusta desde
logo no cérebro, esta primeira sílaba: Ca. Isto posto, o movimento natural do espírito é ler o
nome todo; volta-se ao princípio, à inicial ne, do nome Nebrask. - Cané. - Resta a sílaba do
meio, bras, cuja redução a esta outra sílaba ca, última do nome Caneca, é a coisa mais
demonstrável do mundo. E, todavia, não a demonstrarei, visto faltar-vos o preparo
necessário ao entendimento da significação espiritual ou filosófica da sílaba, suas origens e
efeitos, fases, modificações, conseqüências lógicas e sintáxicas, dedutivas ou indutivas,
simbólicas e outras. Mas, suposta a demonstração, aí fica a última prova, evidente, clara, da
minha afirmação primeira pela anexação da sílaba ca às duas Cane, dando este nome
Caneca.
A lei emendou-se, senhores, ficando abolida a faculdade da prova testemunhal e
interpretativa dos textos, e introduzindo-se uma inovação, o corte simultâneo de meia
polegada na altura e outra meia na largura do saco. Esta emenda não evitou um pequeno
abuso na eleição dos alcaides, e o saco foi restituído às dimensões primitivas, dando-se-lhe,
todavia, a forma triangular. Compreendeis que esta forma trazia consigo, uma
conseqüência: ficavam muitas bolas no fundo. Daí a mudança para a forma cilíndrica; mais
tarde deu-se-lhe o aspecto de uma ampulheta, cujo inconveniente se reconheceu ser igual ao
triângulo, e então adotou-se a forma de um crescente, etc. Muitos abusos, descuidos e
lacunas tendem a desaparecer, e o restante terá igual destino, não inteiramente, decerto,
pois a perfeição não é deste mundo, mas na medida e nos termos do conselho de um dos
mais circunspectos cidadãos da minha república, Erasmus, cujo último discurso sinto não
poder dar-vos integralmente. Encarregado de notificar a última resolução legislativa às dez
damas incumbidas de urdir o saco eleitoral, Erasmus contou-lhes a fábula de Penélope, que
fazia e desfazia a famosa teia, à espera do esposo Ulisses.
- Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao terminar; tendes a mesma castidade,
paciência e talentos. Refazei o saco, amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses,
cansado de dar às pernas, venha tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência.
FIM
*** *** http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000239.pdf *** ***
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