Bolsonaro destrói
o orgulho nacional
:: ATÉ A
DITADURA QUE ELE TANTO ADMIRA OBRIGAVA A VACINAR – E USAVA VACINA “COMUNISTA”.
POR MARY ZAIDAN
Em 1966, o decreto 59.153 do marechal
Castello Branco, primeiro presidente militar pós-golpe, estabelecia a Campanha
de Erradicação da Varíola, com vacinação em massa para 100% dos brasileiros.
Após cinco anos o país já havia se livrado da doença, com erradicação
reconhecida e aplaudida pela OMS em 1980. Uma revolução que só foi
possível graças a cientistas da União Soviética. No auge da guerra fria.
A rixa entre os Estados Unidos x URSS
não impediu que os militares brasileiros, aliados de primeira hora do Tio Sam,
utilizassem a tecnologia dos comunistas – um processo de secagem e drenagem do
imunizante que, segundo relatos históricos da Fiocruz, possibilitava
transportá-lo sem refrigeração e, assim, chegar aos locais mais distantes e
quase inacessíveis do país.
Mais de meio século depois, o
presidente Jair Bolsonaro alega a procedência comunista para rechaçar a
CoronaVac, imunizante contra a Covid-19 desenvolvido pela chinesa Sinovac
Biotech com o centenário Instituto Butantan.
Para Bolsonaro, que autorizou seu
ministro da Saúde a firmar protocolo pró-vacina com o Butantan para depois
voltar atrás e escorraçá-lo, a CoronaVac carrega duas condições insuperáveis: é
da China, país vermelho odiado por seus radicais de carteirinha, e do
governador de São Paulo João Doria, odiado por ele.
Somam-se aí características típicas do
presidente – birra, picuinha, pequenez. E outras de fundo: leviandade e
autoritarismo. Sempre cevado por uma trupe de sabujos que a ele presta
obediência cega. Um cerco de idólatras que o blinda de ver o que ele deveria
ver e que prefere não ver.
Movido pelo instinto eleitoral que só
o deixa enxergar 2022 à frente, Bolsonaro pode ter errado no cálculo.
Enquanto a politização da vacina se
limitava ao debate extemporâneo sobre a obrigatoriedade ou não de aplicá-la, o
embate entre ele e Doria se dava no mesmo plano, com ambos tentando tirar
proveito da pandemia.
Tudo mudou com o recuo tresloucado ao
aporte de recursos para a CoronaVac.
Bolsonaro deu a Doria, de bandeja,
vantagens que nem em sonho o governador acalentava. A começar pelo batismo
“vacina do Doria” que o presidente, com todo o seu ódio, fez viralizar. Ato
contínuo, deixou claríssimo, até para os que resistem em crer, que eliminar um
futuro adversário é mais importante do que zelar pela saúde dos brasileiros,
89% deles ansiosos por uma vacina.
O destrambelho dos últimos dias
reacendeu a revolta de governadores e fez com que o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, há dias afastado do combate direto com o presidente, saísse em
defesa de Doria. Ao vivo e em cores, em entrevista coletiva no Palácio dos
Bandeirantes, com direito a chamar o governador de “amigo e aliado”.
Agitou também o Supremo. Nada menos de
sete representações partidárias – seis contra e apenas uma em favor do
presidente – foram apresentadas na sexta-feira. Cobram do governo
responsabilidade vacinal e fixação de um calendário de imunização, além do
cumprimento da lei que o próprio Bolsonaro assinou em fevereiro, pela qual as
autoridades têm o poder de realizar vacinação compulsória ( Lei 13.979 de 6/2/2020, Art. 3º,
Inciso III, alínea d.).
Criou ainda mais uma desnecessária
indisposição com os chineses, já fartos com o amém do governo brasileiro às
pressões dos Estados Unidos, com chances de surtirem efeito na participação da
Huawei no leilão da tecnologia 5G. Uma gracinha para um Donald Trump em fim de
mandato que agride o maior parceiro comercial do Brasil.
São mais de U$ 121 bilhões de produtos
brasileiros exportados para China, valor três vezes e meia maior do que para os
norte-americanos, perfazendo um saldo de U$ 30 bilhões na balança comercial.
Vendemos soja e minérios, importamos computadores, celulares, tecnologia e
quinquilharias. Insumos fármacos e… vacinas.
Goste ou não o presidente, a mesma
chinesa Sinovac está no Brasil com imunizantes contra H1N1 e hepatites. É um
dos vários laboratórios internacionais que, associados à expertise das gigantes
Fiocruz e Butantan, permitem ao país ter cobertura vacinal decente – que já foi
invejável.
Mas até esse orgulho nacional
Bolsonaro faz questão de destruir.
Este artigo foi originalmente publicado
no Blog do Noblat, na Veja, em
25/10/2020.
POSTADO EM MARY
ZAIDAN
http://50anosdetextos.com.br/2020/bolsonaro-destroi-o-orgulho-nacional/#more-24067
Notícias STF
Sexta-feira, 23 de outubro de 2020
Ministro
Lewandowski pede informações ao presidente da República sobre vacinação
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/bancoImagemFotoAudiencia/bancoImagemFotoAudiencia_IA_425796.jpg
O ministro Ricardo Lewandowski, do
Supremo Tribunal Federal (STF), relator das ações ajuizadas por partidos
políticos sobre a vacinação da população contra a Covid-19, pediu informações
ao presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a matéria. Em despacho na
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 754, ajuizada pela
Rede Sustentabilidade, o relator também pede a manifestação da Advocacia-Geral
da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), em cinco dias.
Nas ações ajuizadas pelo PDT (ADI
6586) e pelo PTB (ADI 6587), o ministro Lewandowski aplicou aos processos o
rito abreviado previsto no artigo 12 da Lei das ADIs (Lei 9.868/1990),
remetendo-os diretamente ao Plenário do STF, “em razão da importância da
matéria e a emergência de saúde pública decorrente do surto do coronavírus”.
O PDT pede que seja reconhecida a
competência de estados e municípios para determinar a vacinação compulsória da
população, enquanto o PTB pede que essa possibilidade, prevista na Lei
federal 13.979/2020, seja declarada inconstitucional. Já a Rede
Sustentabilidade requer que o governo federal apresente um plano de vacinação.
Leia a íntegra dos despachos:
VP/EH
Leia mais:
22/10/2020 - Partidos ajuízam ações sobre competência para impor
vacinação contra o coronavírus
21/10/2020 - PDT pede que STF declare que estados e municípios
também podem exigir vacinação compulsória
In:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=453974
No link:
Prof. Villa
entrevista o embaixador Roberto Abdenur: O isolamento diplomático brasileiro.
Marco Antônio
Villa
- Prof. Villa entrevista o embaixador
Roberto Abdenur: "É um pesadelo ver o que está acontecendo com a política
externa brasileira."
- A submissão em relação aos Estados
Unidos.
- Não será concluído o acordo União
Européia-Mercosul.
- A China poderá retaliar o Brasil.
- Teorias da conspiração se
transformaram em política de Estado. - O isolamento diplomático brasileiro.
In:
https://www.youtube.com/watch?v=SDIDDtej4J8
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