“A ideia de
República traduz um valor essencial, exprime um dogma fundamental: o do primado
da igualdade de todos perante as leis do Estado. Ninguém, absolutamente
ninguém, tem legitimidade para transgredir e vilipendiar as leis e a
Constituição de nosso país. Ninguém, absolutamente ninguém, está acima da
autoridade do ordenamento jurídico do Estado.”
Celso de Mello,
ministro de STF, no seu
voto, de 08/10/2020, em despedida da Corte.
“Ao registrar sua
candidatura no TSE, Mourão declarou ser indígena. Seus traços de caboclo são
bastante visíveis: a pele é morena escura, e os olhos, bem negros e meio puxados,
quase se fecham quando ele ri. Os cabelos, cortados curtos, não são lisos como
os de um caboclo, mas são muito pretos, salpicados de uns poucos fiapos
brancos.”
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-vice-cavalo/
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
José
de Souza Martins* - Política à flor da pele
- Valor Econômico
/ Eu & Fim de Semana
O caso dos 21 mil
candidatos que mudaram de cor em relação à eleição anterior é um forte indício
de um país cuja população está passando por uma crise de identidade
Dos quase 550 mil candidatos a
prefeito, vice-prefeito e vereador na totalidade dos municípios brasileiros em
2020, 21 mil mudaram a definição da cor de sua pele em relação à que haviam
declarado na eleição de 2016. A cor da pele é subjetiva, culturalmente
determinada. O critério é peculiar de cada sociedade. Kamala Harris, candidata
democrata a vice-presidente nos EUA, é negra; aqui seria branca.
Com a política por trás dessas
alterações na cor da pele dos candidatos, pode-se supor que há aí oportunismo
eleitoral e falta de autenticidade. A “Folha de S. Paulo”, em matéria a
respeito, selecionou oito fotografias de políticos que mudaram de cor. Deles,
apenas dois são de fato pretos. Um, de Salvador, que era pardo em 2016, é agora
preto. Outra, de São João do Meriti (RJ), que era preta em 2016, ficou parda em
2020. Os outros seis são branquíssimos. Dois desses brancos ficaram pardos.
Dois eram pardos e ficaram brancos. Um era mais que branco e ficou preto. E uma
parda ficou preta, embora continue branca.
Dos que se
achavam brancos na eleição anterior, 38% se tornaram pretos ou pardos e dos que
se declararam pretos ou pardos, 31% agora são brancos. Desagregando as
categorias, dos brancos, 36% tornaram-se pardos. Dos pardos, 30% tornaram-se
brancos, 12% se tornaram pretos. E dos pretos 10% se tornaram pardos.
Pardo não é o mulato. Em abril de
1500, Pero Vaz de Caminha comunicou ao rei de Portugal que era parda a gente da
terra descoberta. Assim, na nova nomenclatura da cor dos políticos brasileiros,
africanos se tornaram indígenas e indígenas se tornaram africanos, o que é
completamente falso porque impossível.
Do total, 40% quiseram branquear-se,
tornar-se mais claros. E 48% quiseram ficar mais escuros. O que já foi a
ideologia do branqueamento como objetivo político nacional, defronta-se agora
com a contraideologia da pretificação dos não pretos. Um fenômeno sociológico
do maior interesse. Tudo indica que, aqui, copiar dos americanos sua concepção
de raça falsifica nossas identidades “raciais” e entra em conflito com nossa
concepção das diferenças que não é de origem, é de cor.
O sociólogo Oracy Nogueira
(1917-1996), da Escola de Sociologia e Política e da USP, fez um estudo que se
tornou clássico sobre a diferença das concepções raciais lá e cá. Lá, se houver
um ancestral negro na ascendência de alguém, por mais branco que seja esse
alguém, será sempre negro, a cor é de origem. Aqui, a cor é de marca, é apenas
a que está à flor da pele, a que pode ser vista e reconhecida. Entre nós, a
origem negra tende a se apagar com o branqueamento resultante da mestiçagem.
Eu não descartaria a possibilidade, no
entanto, de que a questão racial está se revigorando entre nós e se expressando
em novas fontes e em nova ideologia de preconceito.
Aqui, a imensa maioria dos negros não
é, provavelmente, negra de origem, como tampouco é branca de origem a maioria
que se autodefine como branca ou tem sido assim definida pelo preconceito de
resistência da atual onda de racialização da sociedade brasileira. Somos um
povo de mestiços. E nem assim majoritariamente mestiços de pretos.
Os negros têm uma situação mais
complicada quanto a isso. Até a época da abolição da escravatura, negro era uma
classificação que os senhores de escravos davam ao cativo. Negro era sinônimo
de escravo. No início, até os índios foram chamados de negros da terra. Os
próprios negros não se reconheciam como tais. Antes, definiam-se pela etnia de
origem.
O caso dos 21 mil candidatos que
mudaram de cor em relação à eleição anterior é um forte indício de um país cuja
população está passando por uma crise de identidade de origem porque está
infeliz com sua identidade atual. Não se vê nem se reconhece nela.
Especialmente os jovens.
Mas a autodeclaração, em vez de dar
uma identidade por meio do reconhecimento subjetivo da cor, desidentifica. Uma
boa indicação, nesse sentido, é a usurpação da cor parda, original e até hoje a
dos índios, pelos negros, que os consideram mulatos, que não são. Um recurso
que favorece o negro e prejudica o pardo.
Dos candidatos atuais, 47,8% são
brancos; 39,5% são pardos e 10,5% são pretos. No critério do censo de 2010, no
total da população, os pretos podem ser 6%, O que indica o engano de que nestas
eleições os pretos têm proporcionalmente mais candidatos do que as outras
categorias de cor.
É pouco provável que, ao contrário do
que se propala, os negros sejam a maioria da população brasileira.
Independentemente, porém, da autodefinição de cor, certamente são mais do que
dizem os números. A única certeza que resta é a de que tudo depende do jogo de
aparências e da manipulação de impressões que ele possibilita.
*José de Souza Martins é sociólogo.
Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Simon Bolivar Professor
(Cambridge, 1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista
de Letras. Entre outros livros, é autor de "Moleque de Fábrica"
(Ateliê).
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/10/jose-de-souza-martins-politica-flor-da.html
“Em sua primeira aparição na campanha,
Mourão disse em uma palestra que o Brasil foi feito do “privilégio” dos
ibéricos, da “indolência” dos indígenas e da “malandragem” dos africanos.
Recebeu críticas de todo lado.”
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Ruy
Castro* - Currículos de araque
- Folha de S.
Paulo
Nada como um
doutorado que não se precisou cumprir ou um título de mestrado imaginário
Kassio Marques, escalado por Jair Bolsonaro
para o STF a fim de votar com imparcialidade a favor de sua família, gabou-se
em seu currículo de uma pós-graduação na Universidade de La Coruña, na Espanha.
Faltou combinar com a universidade. Consultada, ela informou que Marques fez
apenas um curso de quatro dias sem relação com qualquer pós, e, mesmo assim,
como ouvinte. Para Marques, o encarregado de compor seu currículo
"errou" ao traduzir o quesito. Seria mais honesto se dissesse
"Desculpem, não colou".
É um "erro" frequente na
biografia dos homens de Bolsonaro. Vide seus notáveis indicados para o MEC,
Ricardo Vélez Rodrigues, Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decotelli. Todos
tinham em seus currículos cursos fictícios no exterior, plágios descarados ou
autoria de livros alheios. Belo exemplo para os estudantes.
Ricardo Salles, destruidor do Meio
Ambiente, disse-se aluno de mestrado em Yale, embora nunca tenha sido sequer
matriculado. E Damares Alves, sinistra ministra da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos, intitulou-se "mestra em educação e em
direito constitucional". Não por uma universidade, mas por leituras da
Bíblia. "Mestre é quem se dedica ao ensino bíblico", decretou, do
alto de sua goiabeira ardente.
Os espertos vêm de longe. A primeira a
ter sua erudição desmentida foi Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, em
2009. Seu currículo Lattes incluía imaginários mestrado e doutorado em ciências
econômicas pela Unicamp. Não corou ao ser apanhada.
Em 1967, aos 19 anos, ganhei um curso
de língua e literatura portuguesa na Universidade de Coimbra. Era um curso de
verão, sem valor acadêmico. Tentei cumpri-lo, mas, uma semana depois, achando-o
chato, despedi-me dos colegas e fui saracotear em Paris. Mesmo assim, recebi
depois um simpático certificado de inscrição. Vou procurá-lo —está em algum
lugar— e juntá-lo ao currículo.
*Ruy Castro, jornalista e escritor,
autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/10/ruy-castro-curriculos-de-araque.html
Remediado
Tião Carreiro e
Pardinho
Eu não sou solteiro nem sou casado
Também não sou rico sou remediado
Não tenho confiança sou desconfiado
Eu sou um caboclo mal arrumado
Quem anda comigo toma o bonde errado.
Eu não sou de briga também não sou bom
Eu não sou baixinho nem sou altão
Também não sou preto nem sou brancão
Eu sou um caboclo meio queimadão
Não sou muito feio nem bonitão
Eu não sou careca nem cabeludo
Eu não sou ativo nem bobo de tudo
Eu não sou pateta nem abelhudo
Leio muito bem mas não tive estudo
No braço da viola eu sou topetudo.
Eu nasci no mundo atrás das cortina
Tenho meus parente mas não me domina
Eu vivo cantando pra cumprir com a sina
Com minha viola eu faço a rotina
Só quem me persegue são as meninas.
As modas que eu canto são todas de
ouvido
Eu canto de viola não sou convencido
Tenho muita amizade tudo é meus amigos
Eu sou um caboclo desiludido
No Brasil inteiro eu sou conhecido.
Composição:
Edgard De Souza / Tião Carreiro / Zé Matão
https://m.letras.mus.br/tiao-carreiro-e-pardinho/766422/
“Gente, que
mulher é essa? Linda, simpática e extremamente fantástica! Suas aulas são
ótimas. Muito obrigada pela disponibilidade.”
Fabiana Feitosa
Aula 24 - Direito
Constitucional - Remédios Constitucionais - Parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=JxHsNc3nrzk&feature=youtu.be
“Misericórdia!
Professora, você tem uma didática incrível! Isso que eu chamo de total domínio
e preparo do que é falado. Quem dera se o conteúdo nas faculdades fossem
passado dessa forma.”
“ótima aula.”
No link:
Aula 25 - Direito
Constitucional - Remédios Constitucionais - Parte 2
https://www.youtube.com/watch?v=CJeh8O7S3JU
blob:https://www.youtube.com/ec3041b1-0c1c-4937-8022-e2c45821451d
Aula 4 1 Remédios
constitucionais Flavia Bahia
https://www.youtube.com/watch?v=6HhJF3G20ts&feature=youtu.be
Remediado
Tião Carreiro e
Pardinho
Eu não sou solteiro nem sou casado
Também não sou rico sou remediado
Não tenho confiança sou desconfiado
Eu sou um caboclo mal arrumado
Quem anda comigo toma o bonde errado.
Eu não sou de briga também não sou bom
Eu não sou baixinho nem sou altão
Também não sou preto nem sou brancão
Eu sou um caboclo meio queimadão
Não sou muito feio nem bonitão
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Eu não sou careca nem cabeludo
Eu não sou ativo nem bobo de tudo
Eu não sou pateta nem abelhudo
Leio muito bem mas não tive estudo
No braço da viola eu sou topetudo.
Eu nasci no mundo atrás das cortina
Tenho meus parente mas não me domina
Eu vivo cantando pra cumprir com a sina
Com minha viola eu faço a rotina
Só quem me persegue são as meninas.
As modas que eu canto são todas de
ouvido
Eu canto de viola não sou convencido
Tenho muita amizade tudo é meus amigos
Eu sou um caboclo desiludido
No Brasil inteiro eu sou conhecido.
Composição:
Edgard De Souza / Tião Carreiro / Zé Matão
https://m.letras.mus.br/tiao-carreiro-e-pardinho/766422/
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