domingo, 11 de outubro de 2020

IGUALDADE, REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS E REMEDIADOS

 

“A ideia de República traduz um valor essencial, exprime um dogma fundamental: o do primado da igualdade de todos perante as leis do Estado. Ninguém, absolutamente ninguém, tem legitimidade para transgredir e vilipendiar as leis e a Constituição de nosso país. Ninguém, absolutamente ninguém, está acima da autoridade do ordenamento jurídico do Estado.”

Celso de Mello, ministro de STF, no seu voto, de 08/10/2020, em despedida da Corte.

 

“Ao registrar sua candidatura no TSE, Mourão declarou ser indígena. Seus traços de caboclo são bastante visíveis: a pele é morena escura, e os olhos, bem negros e meio puxados, quase se fecham quando ele ri. Os cabelos, cortados curtos, não são lisos como os de um caboclo, mas são muito pretos, salpicados de uns poucos fiapos brancos.”

 

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-vice-cavalo/

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

José de Souza Martins* - Política à flor da pele

 

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O caso dos 21 mil candidatos que mudaram de cor em relação à eleição anterior é um forte indício de um país cuja população está passando por uma crise de identidade

Dos quase 550 mil candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador na totalidade dos municípios brasileiros em 2020, 21 mil mudaram a definição da cor de sua pele em relação à que haviam declarado na eleição de 2016. A cor da pele é subjetiva, culturalmente determinada. O critério é peculiar de cada sociedade. Kamala Harris, candidata democrata a vice-presidente nos EUA, é negra; aqui seria branca.

Com a política por trás dessas alterações na cor da pele dos candidatos, pode-se supor que há aí oportunismo eleitoral e falta de autenticidade. A “Folha de S. Paulo”, em matéria a respeito, selecionou oito fotografias de políticos que mudaram de cor. Deles, apenas dois são de fato pretos. Um, de Salvador, que era pardo em 2016, é agora preto. Outra, de São João do Meriti (RJ), que era preta em 2016, ficou parda em 2020. Os outros seis são branquíssimos. Dois desses brancos ficaram pardos. Dois eram pardos e ficaram brancos. Um era mais que branco e ficou preto. E uma parda ficou preta, embora continue branca.

Dos que se achavam brancos na eleição anterior, 38% se tornaram pretos ou pardos e dos que se declararam pretos ou pardos, 31% agora são brancos. Desagregando as categorias, dos brancos, 36% tornaram-se pardos. Dos pardos, 30% tornaram-se brancos, 12% se tornaram pretos. E dos pretos 10% se tornaram pardos.

Pardo não é o mulato. Em abril de 1500, Pero Vaz de Caminha comunicou ao rei de Portugal que era parda a gente da terra descoberta. Assim, na nova nomenclatura da cor dos políticos brasileiros, africanos se tornaram indígenas e indígenas se tornaram africanos, o que é completamente falso porque impossível.

Do total, 40% quiseram branquear-se, tornar-se mais claros. E 48% quiseram ficar mais escuros. O que já foi a ideologia do branqueamento como objetivo político nacional, defronta-se agora com a contraideologia da pretificação dos não pretos. Um fenômeno sociológico do maior interesse. Tudo indica que, aqui, copiar dos americanos sua concepção de raça falsifica nossas identidades “raciais” e entra em conflito com nossa concepção das diferenças que não é de origem, é de cor.

O sociólogo Oracy Nogueira (1917-1996), da Escola de Sociologia e Política e da USP, fez um estudo que se tornou clássico sobre a diferença das concepções raciais lá e cá. Lá, se houver um ancestral negro na ascendência de alguém, por mais branco que seja esse alguém, será sempre negro, a cor é de origem. Aqui, a cor é de marca, é apenas a que está à flor da pele, a que pode ser vista e reconhecida. Entre nós, a origem negra tende a se apagar com o branqueamento resultante da mestiçagem.

Eu não descartaria a possibilidade, no entanto, de que a questão racial está se revigorando entre nós e se expressando em novas fontes e em nova ideologia de preconceito.

Aqui, a imensa maioria dos negros não é, provavelmente, negra de origem, como tampouco é branca de origem a maioria que se autodefine como branca ou tem sido assim definida pelo preconceito de resistência da atual onda de racialização da sociedade brasileira. Somos um povo de mestiços. E nem assim majoritariamente mestiços de pretos.

Os negros têm uma situação mais complicada quanto a isso. Até a época da abolição da escravatura, negro era uma classificação que os senhores de escravos davam ao cativo. Negro era sinônimo de escravo. No início, até os índios foram chamados de negros da terra. Os próprios negros não se reconheciam como tais. Antes, definiam-se pela etnia de origem.

O caso dos 21 mil candidatos que mudaram de cor em relação à eleição anterior é um forte indício de um país cuja população está passando por uma crise de identidade de origem porque está infeliz com sua identidade atual. Não se vê nem se reconhece nela. Especialmente os jovens.

Mas a autodeclaração, em vez de dar uma identidade por meio do reconhecimento subjetivo da cor, desidentifica. Uma boa indicação, nesse sentido, é a usurpação da cor parda, original e até hoje a dos índios, pelos negros, que os consideram mulatos, que não são. Um recurso que favorece o negro e prejudica o pardo.

Dos candidatos atuais, 47,8% são brancos; 39,5% são pardos e 10,5% são pretos. No critério do censo de 2010, no total da população, os pretos podem ser 6%, O que indica o engano de que nestas eleições os pretos têm proporcionalmente mais candidatos do que as outras categorias de cor.

É pouco provável que, ao contrário do que se propala, os negros sejam a maioria da população brasileira. Independentemente, porém, da autodefinição de cor, certamente são mais do que dizem os números. A única certeza que resta é a de que tudo depende do jogo de aparências e da manipulação de impressões que ele possibilita.

*José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Simon Bolivar Professor (Cambridge, 1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "Moleque de Fábrica" (Ateliê). 

https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/10/jose-de-souza-martins-politica-flor-da.html

 

“Em sua primeira aparição na campanha, Mourão disse em uma palestra que o Brasil foi feito do “privilégio” dos ibéricos, da “indolência” dos indígenas e da “malandragem” dos africanos. Recebeu críticas de todo lado.”

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Ruy Castro* - Currículos de araque

 

- Folha de S. Paulo

Nada como um doutorado que não se precisou cumprir ou um título de mestrado imaginário

Kassio Marques, escalado por Jair Bolsonaro para o STF a fim de votar com imparcialidade a favor de sua família, gabou-se em seu currículo de uma pós-graduação na Universidade de La Coruña, na Espanha. Faltou combinar com a universidade. Consultada, ela informou que Marques fez apenas um curso de quatro dias sem relação com qualquer pós, e, mesmo assim, como ouvinte. Para Marques, o encarregado de compor seu currículo "errou" ao traduzir o quesito. Seria mais honesto se dissesse "Desculpem, não colou".

É um "erro" frequente na biografia dos homens de Bolsonaro. Vide seus notáveis indicados para o MEC, Ricardo Vélez Rodrigues, Abraham Weintraub e Carlos Alberto Decotelli. Todos tinham em seus currículos cursos fictícios no exterior, plágios descarados ou autoria de livros alheios. Belo exemplo para os estudantes.

Ricardo Salles, destruidor do Meio Ambiente, disse-se aluno de mestrado em Yale, embora nunca tenha sido sequer matriculado. E Damares Alves, sinistra ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, intitulou-se "mestra em educação e em direito constitucional". Não por uma universidade, mas por leituras da Bíblia. "Mestre é quem se dedica ao ensino bíblico", decretou, do alto de sua goiabeira ardente.

Os espertos vêm de longe. A primeira a ter sua erudição desmentida foi Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, em 2009. Seu currículo Lattes incluía imaginários mestrado e doutorado em ciências econômicas pela Unicamp. Não corou ao ser apanhada.

Em 1967, aos 19 anos, ganhei um curso de língua e literatura portuguesa na Universidade de Coimbra. Era um curso de verão, sem valor acadêmico. Tentei cumpri-lo, mas, uma semana depois, achando-o chato, despedi-me dos colegas e fui saracotear em Paris. Mesmo assim, recebi depois um simpático certificado de inscrição. Vou procurá-lo —está em algum lugar— e juntá-lo ao currículo.

*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/10/ruy-castro-curriculos-de-araque.html

 

Remediado

Tião Carreiro e Pardinho

 


No link:

https://youtu.be/J-94Avm0UKk

 

Eu não sou solteiro nem sou casado
Também não sou rico sou remediado
Não tenho confiança sou desconfiado
Eu sou um caboclo mal arrumado
Quem anda comigo toma o bonde errado.

Eu não sou de briga também não sou bom
Eu não sou baixinho nem sou altão
Também não sou preto nem sou brancão
Eu sou um caboclo meio queimadão
Não sou muito feio nem bonitão

Eu não sou careca nem cabeludo
Eu não sou ativo nem bobo de tudo
Eu não sou pateta nem abelhudo
Leio muito bem mas não tive estudo
No braço da viola eu sou topetudo.

Eu nasci no mundo atrás das cortina
Tenho meus parente mas não me domina
Eu vivo cantando pra cumprir com a sina
Com minha viola eu faço a rotina
Só quem me persegue são as meninas.

As modas que eu canto são todas de ouvido
Eu canto de viola não sou convencido
Tenho muita amizade tudo é meus amigos
Eu sou um caboclo desiludido
No Brasil inteiro eu sou conhecido.

Composição: Edgard De Souza / Tião Carreiro / Zé Matão

https://m.letras.mus.br/tiao-carreiro-e-pardinho/766422/

 

“Gente, que mulher é essa? Linda, simpática e extremamente fantástica! Suas aulas são ótimas. Muito obrigada pela disponibilidade.”
Fabiana Feitosa




 No link:

https://youtu.be/JxHsNc3nrzk

Aula 24 - Direito Constitucional - Remédios Constitucionais - Parte 1

https://www.youtube.com/watch?v=JxHsNc3nrzk&feature=youtu.be

 

 

“Misericórdia! Professora, você tem uma didática incrível! Isso que eu chamo de total domínio e preparo do que é falado. Quem dera se o conteúdo nas faculdades fossem passado dessa forma.”

Lucas Tose Federici

 


No link:

https://youtu.be/CJeh8O7S3JU

 

 

“ótima aula.”


No link:

https://youtu.be/6HhJF3G20ts




 

Aula 25 - Direito Constitucional - Remédios Constitucionais - Parte 2

https://www.youtube.com/watch?v=CJeh8O7S3JU

 

blob:https://www.youtube.com/ec3041b1-0c1c-4937-8022-e2c45821451d

 


Aula 4 1 Remédios constitucionais Flavia Bahia

https://www.youtube.com/watch?v=6HhJF3G20ts&feature=youtu.be

 

Remediado

Tião Carreiro e Pardinho




 No link:

https://youtu.be/J-94Avm0UKk

 

Eu não sou solteiro nem sou casado
Também não sou rico sou remediado
Não tenho confiança sou desconfiado
Eu sou um caboclo mal arrumado
Quem anda comigo toma o bonde errado.

Eu não sou de briga também não sou bom
Eu não sou baixinho nem sou altão
Também não sou preto nem sou brancão
Eu sou um caboclo meio queimadão
Não sou muito feio nem bonitão

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Eu não sou careca nem cabeludo
Eu não sou ativo nem bobo de tudo
Eu não sou pateta nem abelhudo
Leio muito bem mas não tive estudo
No braço da viola eu sou topetudo.

Eu nasci no mundo atrás das cortina
Tenho meus parente mas não me domina
Eu vivo cantando pra cumprir com a sina
Com minha viola eu faço a rotina
Só quem me persegue são as meninas.

As modas que eu canto são todas de ouvido
Eu canto de viola não sou convencido
Tenho muita amizade tudo é meus amigos
Eu sou um caboclo desiludido
No Brasil inteiro eu sou conhecido.

Composição: Edgard De Souza / Tião Carreiro / Zé Matão

https://m.letras.mus.br/tiao-carreiro-e-pardinho/766422/

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