sábado, 17 de outubro de 2020

A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE

 

 ‘“A dor da gente não sai no jornal", canta um samba de Zé Ketti.’

 

 

...Alguns trechos de sambas e marchas lhe chegam aos ouvidos, pousam-lhe na alma:



O dia em que fui porta-estandarte

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 “O nosso amor

Foi uma chama...

Agora é cinza,

Tudo acabado

E nada mais…”

 

Tudo acabado, tudo tristeza, caramba!...

 

 

 

 

A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE

 

ANÍBAL MACHADO (1894-1964 I Brasil)

"Um mágico não sindicalizado". Assim Drummond classificou este grande contista mineiro-carioca. Aliás, não deve existir nenhum outro conto na nossa literatura que capte tão bem e com tanta poesia e dramaticidade o espírito do povo do Rio de Janeiro do que este sempre destacado e destacável A Morte da Porta-Estandarte. Uma crise de ciúmes (mas não há nada de "psi" na história), um assassinato e um branco no salão, ou melhor, na avenida: "A dor da gente não sai no jornal", canta um samba de Zé Ketti.

 

Que adianta ao negro ficar olhando para as bandas do Mangue ou para os lados da Central?

Madureira é longe e a amada só pela madrugada entrará na praça, à frente do seu cordão.

O que o está torturando é a idéia de que a presença dela deixará a todos de cabeça virada, e será a hora culminante da noite.

Se o negro soubesse que luz sinistra estão destilando seus olhos e deixando escapar como as primeiras fumaças pelas frestas de uma casa onde o incêndio apenas começou!...

Todos percebem que ele está desassossegado, que uma paixão o está queimando por dentro. Mas só pelo olhar se pode ler na alma dele, porque, em tudo mais, o preto se conserva misterioso, fechado em sua própria pele, como numa caixa de ébano.

Por que não se incorporou ao seu bloco? E por que não está dançando? Há pouco não passou uma morena que o puxou pelo braço, convidando-o? Era a rapariga do momento, devia tê-la seguido... Ah, negro, não deixes a alegria morrer... É a imagem da outra que não tira do pensamento, que não lhe deixa ver mais nada. Afinal, a outra não lhe pertence ainda, pertence ao seu cordão; não devia proibi-Ia de sair. Pois ela já não lhe dera todas as provas? Que tenha um pouco de paciência: aquele corpo já lhe foi prometido, será dele mais tarde...

Andar na praça assim, todos desconfiam... Quanto mais agora, que estão tocando o seu samba... Está sombrio, inquieto, sem ouvir a sua música, na obsessão de que a amada pode ser de outrem, se abraçar com outro... O negro não tem razão. Os navais não são mais fortes que ele, nem os estivadores... Nem há nenhum tão alinhado. E Rosinha gosta é dele, se reserva para ele. Será medo do vestido com que ela deve sair hoje, aquele vestido em que fica maravilhosa, "rainha da cabeça aos pés"? Sua agonia vem da certeza de que é impossível que alguém possa olhar para Rosinha sem se apaixonar. E nem de longe admite que ela queira repartir o amor. O negro fica triste.

E está até amedrontado com as ameaças da noite, com essa Praça Onze que cresce numa preamar louca.

A Praça transbordava. Dos afluentes que vinham enchê-la, eram os do Norte da cidade e os que vinham dos morros que traziam maior caudal de gente. O céu baixo absorvia as vozes dos cantos e o som em fusão de centenas de pandeiros, de cuícas gemendo e de tamborins metralhando. O negro, indiferente à alegria dos outros, estava com o coração batendo, à espera. Só depois que Rosinha chegasse, começaria o Carnaval. O grito dos clarins lhe produz um estremecimento nos músculos e um estado de nostalgia vaga, de heroísmo sem aplicação. Ó Praça Onze, ardente e tenebrosa, haverá ponto no Brasil em que, por esta noite sem fim, haja mais vida explodindo, mais movimento e tumulto humano, do que nesse aquário reboante e multicor em que as casas, as pontes, as árvores, os postes parecem tremer e dançar em conivência com as criaturas, e a convite de um Deus obscuro que convocou a todos pela voz desse clarim de fim do mundo?...

A Praça inteira está cantando, tremendo. O corpo de Rosinha não tardaria a boiar sobre ela como uma pétala. O povo dá passagem aos blocos que abrem esteiras na multidão, entre apertos e gritos.

- Isso não é assim à beça, Jerônimo! Cuidado com essa aí! É virgem... Rompem novos cantos. Os "Destemidos de Quintino", os "Endiabrados de Ramos"

estão desfilando. Há correria do povo para ver. Os companheiros se separam, as filhas perdem-se das mães, as crianças se extraviam. Acima das vagas humanas os estandartes palpitam como velas. E é pela ondulação dessas flâmulas que os que não podem se aproximar deduzem os movimentos das porta-estandartes.

Não se vê o corpo delas, vê-se-Ihes o ritmo dos passos no pano alto. Mas era como se fossem vistas de corpo inteiro, tão fiel a imagem delas na agitação das bandeiras.

- Oh, aquela lá, que colosso!.. . É pena não se poder vê-Ia; mas é mulata, te garanto...

- Ih, como deve estar dançando aquela do outro lado!... Dezoito anos com certeza... Coxas firmes... Meio maluca...

- A que está empunhando o estandarte que vem vindo aí é que deve ser do outro mundo. Preta com certeza... Veja só como a bandeira se agita, como a bandeira samba com ela...

- Pelo frenesi, a gente conhece logo.

Dezenas de estandartes pareciam falar, transmitiam mensagens ardentes, sacudiam-se, giravam, paravam, desfalecendo, reclinavam-se para beijar, fugiam. ..

- Imagino como estão tremelicando os seios daquela, lá longe; aquela diaba deve estar suando... Êta gostosura de raça!

- Cala a boca, Jerônimo... Você acaba apanhando. ..

Os cordões se entrecruzam, baralham-se os cantos. Vem crescendo agora um baticum medonho de tambores. Um bloco formidável se anuncia. O negro amoroso interpreta os sinais semafóricos do estandarte que está entrando pelo lado da Praça da República. O negro fura a massa, coloca a sua figura enorme em situação de poder ficar bem perto.

Apura o ouvido para saber se é o canto do seu cordão. A barulheira é grande. Algumas notas são do hino... Sente um arrepio. Ela virá com aquele vestido? Se entristece mais, à medida que a mulata se vem aproximando numa onda de glória, entre alas do povo.

Se quiser agora sair daquele lugar, já não poderá mais, se sente pregado ali. O gemido cavernoso de uma cuíca próxima ressoa-lhe fundo no coração. - Cuíca de mau agouro, vai roncar no inferno... Será ela, meu Deus!...

O negro está tremendo. Mas não pode ser ela. Rosinha, quando aparece, ninguém resiste, é um alvoroço, uma admiração geral... Não vê que é assim... Até o ar fica diferente. E o estandarte que vem vindo é de veludo azul, tem a imagem de São Miguel entre estrelas e as insígnias do cordão. Ainda não é o bloco de Madureira.

O preto se enganou. Sente-se desoprimido. Foi melhor assim. Pensa em ir embora, desistir de tudo. No dia seguinte, na oficina do Engenho de Dentro, se sentirá leve ouvindo o batido das bigornas e o farfalhar das polias. Se os companheiros perguntarem por que não apareceu, dirá que esteve doente, que foi ao enterro de algum parente, de uma tia, por exemplo. Está mesmo disposto a voltar para casa. Que o tomem por decadente se quiserem...

Se Rosinha desobedecer e vier à Praça, não faz mal. Está também disposto a não se importar. .. Nem indagará se ela fez sucesso, se alguém mais se apaixonou por ela, se o Geraldo continuou com aquelas atenções, aquele safado. Amanhã, no trabalho, recomeçará a vida, será livre novamente. Rosinha que venha procurá-lo depois. Ele é homem e é forte. O que vale no homem é a vontade. Além disso, uma noite corre depressa. Enfiará a cabeça debaixo do travesseiro e a desgraça passará. Apelará para o sono. Já está até com vontade de dormir. Entretanto, não seria mal que caísse uma tempestade. Ao menos assim, Rosinha deixaria de vir à frente do cordão... Oh! como gostaria, como estava torcendo por um temporal que estragasse o vestido dela! Daqueles que inundam tudo, derrubam as casas, param os bondes e trazem uma desmoralização geral. No fundo está até com ódio do Carnaval...

Perto, estão tocando um samba de fazer dançar as pedras. Todos se mexem. Só quem está imóvel é ele, sob o peso de uma dor enorme. As mulatas passam rente, cheias de dengue; sorriem, dizem palavras. Hoje ele não topa. Se sente mesmo envergonhado de estar tão diferente. Nunca foi assim. No futebol, no trabalho, nas greves, nas festas, era sempre o mais animado. Foi de certo tempo para cá que uma coisa profunda e estranha começou a bulir e crescer dentro de seu peito, uma influência má que parecia nascer, que absurdo! do corpo de Rosinha, como se esta tivesse alguma culpa. Rosinha não tem culpa. Que culpa tem sua namorada? - essa é que é a verdade.

E está sofrendo, o preto. Os felizes estão se divertindo. Era preferível ser como os outros, qualquer dos outros a quem a morena poderá pertencer ainda, do que ser alguém como ele, de quem ela pode escapar. Uma rapariga como Rosinha, a felicidade de tê-la, por maior que seja, não é tão grande como o medo de perdê-la. O negro suspira e sente uma raiva surda do Geraldão, o safado. Era este, pelos seus cálculos, quem estaria mais próximo de arrebatar-lhe a noiva. O outro era o Armandinho, mas esse era direito; seu amigo, de fato, incapaz de traí-lo. Sentiu um reconhecimento inexplicável pelo Armandinho.

Suas pernas o vão levando agora sem direção. Não se acha a caminho de casa, nem se sente completamente na Praça. Alguns trechos de sambas e marchas lhe chegam aos ouvidos, pousam-lhe na alma:


O nosso amor

Foi uma chama...

Agora é cinza,

Tudo acabado

E nada mais…
Tudo acabado, tudo tristeza, caramba!... Cabrochas que fogem, leitos vazios, desgraças. Nunca viu tanta dor de corno. Não nasceu para isso, nem tem vocação para sofrer. Os sambas o incomodam. Por que não está dançando como os outros?

O negro está hesitante. As horas caminham e o bloco de Madureira é capaz de não vir mais. Os turistas ingleses contemplam o espetáculo a distância, e combinam o medo com a curiosidade. A inglesa recomenda de vez em quando: - "Não chegue muito perto, minha filha, que eles avançam..." - A mocinha loura pergunta então ao secretário da Legação se há perigo: - "Mas eles são ferozes?" - "Não, senhorita, pode aproximar-se à vontade, os negros são mansos." - A baiana dos acarajés se ofendeu e resmunga desaforos: - "Nóis é que temo medo de vancês, seu cara de não sei que diga; nóis não é bicho, é gente!... "

Passa rente aos olhos da miss um torso magnífico de ébano. Ela se perturba, fica excitada, segreda aos ouvidos do secretário, tremendo na voz: - "Eu tinha vontade de dançar com um... posso?" - "You are crazy, AmyL." - exclama-lhe a velha, escandalizada. Mas os turistas agora se assustam. No fundo da Praça, uma correria e começo de pânico. Ouvem-se apitos. As portas de aço descem com fragor. As canções das Escolas de Samba prosseguem mais vivas, sinfonizando o espaço poeirento. A inglesa velha está afobada, puxa a família, entra por uma porta semicerrada.

- Mataram uma moça!

A notícia, que viera da esquina da Rua Santana, circulou depois em torno da Escola Benjamim Constant, corria agora por todos os lados alarmando as mães.

- Mataram uma moça! - comentava-se dentro dos bares. - Mataram, sim, mataram uma moça! ...

- Que maldade matarem uma moça assim, num dia de alegria! Será possível?...

- Mas mataram, sim senhora, garanto que mataram!...

- Como é o tipo dela? O senhor viu?

- Me disseram que é morena, de uns dezenove anos, por aí...

- Morena? Dezenove anos!... Ai, meus Deus! é capaz de ser a minha filha!... Diga depressa como é o resto do tipo dela...

Outra senhora cheia de pressentimentos se aproximou do informante:

- O homem que estava com ela era preto, era? Estava de branco?... E tinha uma cicatriz? Ai! se tinha, não me diga mais nada... não me diga mais nada! Meu Deus, mataram minha filha!... Nenucha! Nenucha! Cadê Nenucha?...

As mães todas se levantam e saem a campear as filhas. O clamor de umas vai despertando as outras. Cada qual tem uma filha que pode ser a assassinada. Rompem a multidão, varam os cordões, gritam por elas. Os noivos são ferozes, os namorados prometem sempre matá-Ias.

A animação da Praça é atravessada agora pelo grito das mães aflitas. A mãe de Nenucha, porém, a primeira desgrenhada que se levantou, já está de volta ao seu lugar. Voltou porque cruzara com uma que se rasgava toda em imprecações: - "Laurinha, eu bem te disse que não viesses, o malvado jurou que te matava. Virgem Mãe, mataram minha filha... Eu sei... Eu nem quero ver." A mãe de Nenucha transfere o seu desespero para a mãe de Laurinha e se acalma. Mas apareceu uma gorda a dizer por sua vez à mãe de Laurinha que a morta era outra, uma pequena de Bangu, operária de fábrica. A fera tinha sido presa.

Distante do tumulto mortífero, as outras mães que já haviam arrecadado as filhas seguram-nas bem, ao abrigo dos noivos fatais. Eram as que escaparam de morrer, as que tinham sido salvas. - "Mariazinha, que susto tua mãe passou! Não vai lá mais não, ouviu? É melhor irmos embora, teu namorado está rondando..."

Outras mães, cheias de maus presságios, partem ainda à procura das filhas.

Uma senhora que recebia a corte de um português debaixo do coreto, ao ouvir a notícia, larga-se aos berros, ainda toda embrulhada em serpentinas, à procura de sua Odete. Era Odete, com certeza... Nem tinha dúvidas... Dava encontros, punha a mão na cabeça, corria. O povo achava graça imaginando fosse alguma farsante bêbeda. Odete já devia estar numa poça de sangue, esvaindo-se. Foi o namorado! Nunca tirava os olhos dos seios dela, aquele monstro... Dizia sempre que ela havia de ser sua. E tinha uma cara malvada, o diabo do homem. .. Coitadinha de sua Odete. .. Aqueles seios!... Bem não queria, oh! que fossem tão grandes. Odete também não queria, já estava amedrontada. A mãe corria e soluçava, perguntando a todos onde se achava a filha morta. Era Odete, sim, tinha quase certeza! Caminhava como uma sonâmbula. Falava sozinha, soltando lamentações. Onde é que Odete estava caída? E não tirava do pensamento que a desgraça foi por causa dos seios da mocinha... Quem não estava vendo? Ela mesma, como mãe, reconhecia que aqueles seios chamavam demais a atenção. Tinha o pressentimento de que aquilo acabava mal. Até os passageiros dos bondes cheios se viravam para apreciá-los, quando Odete parava na calçada. Odete a princípio, coitada, tão inexperiente, se sentia faceira com eles... Depois, cresceram mais do que se esperava, e ela própria teve medo. Já produziam escândalo...Fora o demônio que tomara conta daquela parte do corpo de sua filha. Ultimamente, era um desespero: a pobrezinha mal podia atravessar a rua, sentia-se perseguida pelos homens. E não eram dois nem três que olhavam, não: da porta dos cafés, de dentro dos armarinhos, das sacadas, de todos os lados, todos queriam espiar, ficavam olhando... Ela passava depressa, envergonhada. Porque sempre foi muito seriazinha, a sua Odete... Que gente mal-educada... Deus nos livre dos homens. Que adiantou o soutien de arrocho?... Foi pior. "Ah, meu Deus, haverá mãe que possa dormir tranqüila vendo os seios da filha crescerem assim dessa maneira?... " Quando Odete caminhava é que eles adquiriam a sua plenitude de vida e mistério. Daí o fato de todo mundo, quando pensa em Odete, pensar logo nos seios dela, que sempre apareciam primeiro e na frente, como a proa dos navios...

A mulher tremia e soluçava. Ah! Odete não tem culpa. Foram os seios, foram... Tanto desejava levá-Ia para longe desses brutos.

Agora, lá vai como louca, à procura do corpo da filha.

Caminha e vê crescendo uma rosa vermelha bem em cima do seio esquerdo de sua Odete. Dá um grito, cai sem sentidos. Dois pretos carregam-na para um bar. Já outras mãe vinham de volta, trazendo as respectivas filhas bem seguras nas mãos. Deram-lhe éter a cheirar, abanaram-na. Quando voltou a si, parecia ter saído de um banho de resignação. Calma. Como se tivesse se conformado com tudo o que acontecera.

Começa então a declamar a história da filha com o criminoso: conheceram-se num banho à fantasia na praia de Ramos; ele parecia distinto a princípio, tinha emprego, dava presentes. Depois... o malvado começou a ameaçar a pobrezinha, a fazer-lhe exigências. Não queria que fosse aos bailes, que usasse blusa de malha. Dizia que ela remexia demais as cadeiras quando caminhava. Proibiu-lhe trazer flor na cabeça, conversar com os amiguinhos.

- Mas a senhora tem certeza de que foi sua filha? interrompeu um mascarado.

- Se já estou vendo o cadáver!... Ah, meu Deus, que dor! Não! Não! Eu quero é contar a história dela. Isso me consola...

Fez uma pausa. Recomeçou depois, mais patética:

- Ainda nem tinha dezoito anos. Uma menina... Bordava que era um gosto. Todos apreciavam ela... Me ajudava tanto.

Um sujeito, vestido de Hailé Selassié, escutava comovido. Pouco a pouco, a pobre senhora foi percebendo que estava sendo cercada de cavalos, bois e porcos prestimosos, além de um Mefistófeles e alguns Arlequins que vieram oferecer seus serviços. Essa fauna grotesca afigurava-se-lhe como aparições do reino do pesadelo. Fixou-os de olhos esbugalhados, deu um grito de horror. Eles compreenderam, tiraram as máscaras. De dentro das máscaras surgiram fisionomias cheias de compaixão, que se voltavam para ela, querendo consolá-la. Alguém disse que a vítima era outra, uma mulata de Madureira, porta-estandarte de um cordão. A mulher não acreditava. Era inútil iludi-la.

Lá fora, um coro de vozes perguntava ainda, insistentemente, por certa Maria Rosa:


Cadê Maria Rosa

Tipo acabado de mulher fatal?
E anunciava que ela tinha como sinal
Uma cicatriz,

Dois olhos muito grandes, Uma boca e um nariz.
A mulata tinha uma rosa no pixaim da cabeça. Um mascarado tirou a mantilha da companheira, dobrou-a, e fez um travesseiro para a morta. Mas o policial disse que não tocassem nela. Os olhos não estavam bem fechados. Pediram silêncio, como se fosse possível impor silêncio àquela Praça barulhenta. A última das mães aflitas chega atrasada, atravessa o cerco, espia bem o cadáver, solta um grito de alegria:

- Ah, eu pensava que fosse a Raimunda! Graças a Deus que não foi com minha filha! Escapaste, Raimunda.

Saiu satisfeita. Alguns malandros, de cavaquinho nas mãos, foram se afastando, meio desajeitados. Um deles dava opinião:

- Dor eu não topo, franqueza... Sou contra o sofrimento.

Tentaram pedir silêncio novamente. Uma rapariga comentava, enxugando as lágrimas:

- Só se você visse, Bentinha, quanto mais a faca enterrava, mais a mulher sorria... Morrer assim nunca se viu...

O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para outro como se estivesse contemplando uma criança. Uma Escola de Samba repontava no Mangue. Ainda se ouviam aclamações à turma da Mangueira. Quando o canto foi se aproximando, a mulata parecia que ia levantar-se.

E estava sorrindo como se fosse viva, como se estivesse ouvindo as palavras que o assassino agora lhe sussurra baixinho aos ouvidos.

O negro não tira os olhos da vítima. Ela parecia sorrir; os curiosos é que queriam chorar. A qualquer momento ela poderia se erguer para dançar. Nunca se viu defunto tão vivo. Estavam esperando esse milagre. Ouvia-se uma canção que parece ter falado ao criminoso:
Quem quebrou meu violão de estimação?

Foi ela…
Ainda apareceram algumas mães retardatárias rondando de longe a morta. A morta não tinha mãe nem parentes, só tinha o próprio assassino para chorá-Ia. É ele quem lhe acaricia os cabelos, lhe faz uma confidência demorada, a chama pelo nome:

- Está na hora, Rosinha. .. Levanta, meu bem. .. É o "Lira do Amor" que vem chegando... Rosinha, você não me atende! Agora não é hora de dormir... Depressa, que nós estamos perdendo... O que é que foi? Você caiu? Como foi?. .. Fui eu? Eu?... Eu, não! Rosinha. ..

Ele dobra os joelhos para beijá-Ia. Os que não queriam se comover foram se retirando. O assassino já não sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um destino que lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma canção que lhe fala alguma coisa ao desespero:
Quem fez do meu coração seu barracão?

Foi ela…
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha está dormindo... Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está bêbedo... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores? Ui! que ventania. .. É guerra... ele vai se espalhar. .. Por que estão malhando em sua cabeça?. .. Na bigorna do Engenho de Dentro é assim... Se afastem que ele está lutando por ela... Ele é bamba... Não se massacra

um operário dessa maneira... Estão atrapalhando o seu caminho para Rosinha... Se apitam assim, acordam ela... Ela já não está mais presente... Deslizando no éter. .. Deixem ele passar. .. Os outros fiquem no chão... Fiquem por aí... Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do país... Abraçá-Ia no alto de uma colina...

https://aneste.org/os-100-melhores-contos-de-crime-e-mistrio-da-literatura-univer.html?page=36

 

"Todo mundo era amigo de Aníbal Machado", escreveu Paulo Mendes Campos por ocasião da morte do autor de "Tati, a Garota", "A Morte da Porta-estandarte" e outros contos. 

 

O interminável livro da vida de Aníbal Machado

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

FOLHA DE S.PAULO

São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994 +mais!

 

"Ele não gostava de escrever. Tinha muita preguiça. Gostava de ouvir", diz a dramaturga e diretora de teatro Maria Clara Machado, segunda das seis filhas de Aníbal Machado (1894-1964), com quem ele fundou o teatro Tablado.
A curiosa definição partiu do próprio escritor em sua sucinta "Autobiografia", incluída agora em "A Arte de Viver e Outras Artes" (ed. Graphia): "Prefiro antes conversar do que escrever; antes ouvir do que ler. Há muitos anos venho fazendo sem querer, com enormes interrupções, um livro interminável para o qual tenho um montão de notas e que é possível seja organizado algum dia."
Já pelo título, "A Arte de Viver" –que inclui os aforismos dos "Cadernos de João", ensaios, crítica dispersa, crônicas e auto-retratos– dá a entender que espécie de obra interminável é essa a que se referia Aníbal Machado.
"Toda a vida venho reclamando a prorrogação do prazo para terminar a minha fachada. Não querem atender-me. Nem sei mais o que alegar. Terminar da noite para o dia, não posso. Mas também é aborrecido ficar sempre atrás de andaimes e caminhar para a morte antes de concluir-se a construção", escreveu nos "Cadernos de João", de 1957.
"Para mim, 'Cadernos' é o melhor livro dele. É o mais original. Foi muito difícil juntar todos os textos dispersos, que não tinham sido publicados em livro. Havia muita coisa. Ele era um homem muito amado e todo mundo pedia a ele que escrevesse. Críticas, prefácios... Ele fazia com prazer", diz Maria Clara Machado.
"Todo mundo era amigo de Aníbal Machado", escreveu Paulo Mendes Campos por ocasião da morte do autor de "Tati, a Garota", "A Morte da Porta-estandarte" e outros contos. O texto, que agora faz as vezes de prefácio de "A Arte de Viver", serve tanto de explicação para o significado do título da coletênea como para o sentido profundo dessa "construção de si mesmo", que parece perpassar todo o pensamento de Aníbal Machado: uma estética da existência.
Raros são na literatura brasileira os projetos que estabelecem essa estranha ponte entre autor e obra, confundindo-os não como explicação um do outro em reducionismos psicológicos, mas como sinônimos, exprimindo um compromisso radical da vida com a literatura: o próprio autor constituindo-se como obra.
Não é a primeira vez que a Graphia Editorial decide resgatar um desses projetos e revalorizá-lo em sua série Revisões. Em "Um Longo Sonho do Futuro", a editora havia reunido os poderosos diários e confissões de Lima Barreto, para quem a literatura deixava de ser uma expressão da vida para confundir-se radicalmente com ela: "Ah! A literatura ou me mata ou me dá o que eu peço dela."
Em Aníbal Machado esse projeto é mais mineiro –menos desesperado, mais discreto e sobretudo muito humorado. "Por timidez, formação religiosa ou respeito humano, (o mineiro) evita oferecer aos outros o espetáculo da própria fraqueza. Não se chame a isto hipocrisia, mas decência", escreveu em "Esboço de Retrato", também incluído nesta coletânea.
Aníbal Machado preferia "conversar a escrever; ouvir a ler" simplesmente porque estava obsessivamente imbuído da construção de si mesmo como obra. Há uma honestidade e fidelidade heróicas nessa obsessão. Algo de difícil entendimento num mundo onde o marketing e outros fenômenos extraliterários parecem ofuscar progressivamente o sentido da literatura de verdade, aloprando critérios e parâmetros de sensatez.
"A vulgaridade é o que me apavora. Penso que toda a mensagem de um escritor pode comportar-se dentro de uma só obra. (...) Reputo de nível baixo ainda a nossa sociedade literária, vivendo por enquanto de equívocos e expedientes de camaradagem. A glória de um escritor não depende dessa providência, depende da força real de sua criação (...). Publico muito pouco e isso sem nenhuma idéia preconcebida. Escrevendo pouco, publicando menos, é natural que eu não tenha leitores que se possam interessar pela minha vida", escreve em sua "Autobiografia".
Os elogios de Aníbal Machado a Goeldi, de quem foi amigo, e a Walt Whitman nos ensaios incluídos em "A Arte de Viver" dizem respeito a essa fidelidade radical e irredutível entre vida e obra.
"É o canto de um homem para quem o mundo exterior existe como encarnação da idéia e do princípio de identidade. (...) 'Folhas de Relva' parece menos a imagem do mundo do que o seu próprio prolongamento substancial. Livro Bíblia. (...) Uma mulher, não sei bem se de Chicago ou Detroit, lia aos filhos as 'Folhas de Relva' para 'ensinar-lhes a viver'. (...) Dentro de 'Folhas de Relva' está um homem. E isto basta", escreve sobre Whitman.
Aníbal Machado dizia ter lido pouco na juventude "na pressa de tirar diretamente da vida o seu sentido, sem a ajuda dos intérpretes –os escritores". Também escreveu pouco. Não tinha tempo a perder. Estava construindo a sua "fachada". Estava escrevendo seu "livro interminável". "A Arte da Vida" é parte dele.

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/7/10/mais!/17.html

 

Aníbal Machado

 

Literatura / artes visuais / teatro  

 Data de nascimento deAníbal Machado:09-12-1894 Local de nascimento:(Brasil / Minas Gerais / Sabará) |  Data de morte20-01-1964 Local de morte:(Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro)

Atualizado em: 25-04-2019

Biografia
Aníbal Monteiro Machado (Sabará MG 1894 - Rio de Janeiro RJ 1964). Contista, ensaísta e professor. Passa a maior parte da infância em sua cidade natal. Faz o curso ginasial em Belo Horizonte e o secundário no Rio de Janeiro, onde começa a estudar na Faculdade Livre de Direito. Em 1913, retorna a Belo Horizonte, e conclui o curso de direito, em 1917. Nesse período, publica alguns textos literários na revista Vida de Minas. Em 1923, passa a residir no Rio de Janeiro, e sua casa se torna, em pouco tempo, um ponto de encontro cultural importante da cidade, reunindo escritores, artistas plásticos e artistas teatrais. Autor de uma pequena, mas significativa obra literária, o nome do escritor mineiro é, assim, especialmente lembrado pela sua intensa atuação intelectual, a ponto de o crítico Raúl Antelo afirmar que Aníbal Machado "representa, para o Rio de Janeiro, aquilo que Mário de Andrade significou para São Paulo dos anos 1930 e 1940: um arregimentador - animador cultural, introdutor das vanguardas políticas, intelectual empenhado e partidário". Machado escreve seu primeiro conto - O Rato, o Guarda-Civil e o Transatlântico - em 1925, publicado na revista Estética. Participa da segunda fase do movimento antropofágico. Na década de 1930, funda com Apparício Torelly (o barão de Itararé) o periódico O Jornal do Povo, de vida curta. Colabora ainda com revistas e suplementos literários de importantes jornais como O Correio da Manhã e Diário do Povo. Em 1941, é publicada uma de suas palestras, proferida nesse ano, com o título O Cinema e Sua Influência na Vida Moderna. No mesmo ano, é responsável pela organização da divisão de arte moderna do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA). Lança, três anos depois, seu primeiro livro de contos, Vila Feliz, e é eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Organiza, em 1945, o 1º Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, no qual diversos autores elaboram a Declaração de Princípios contra a ditadura de Getúlio Vargas (1882 - 1954). Em seus últimos anos de vida, traduz e adapta, para O Tablado, grupo teatral amador que ajuda a fundar com sua filha, a dramaturga Maria Clara Machado (1921 - 2001), textos e peças de importantes escritores, como do tcheco Franz Kafka (1883 - 1924), do francês George Bernanos (1888 - 1948), e do russo Anton Tchekhov (1860 - 1904).

Comentário Crítico
A parcela da obra ficcional mais lembrada de Aníbal Machado compreende um romance e um conjunto significativo de contos em que se percebe certa filiação estética ao surrealismo. Trata-se, porém, de uma incorporação muito particular das propostas desse movimento de vanguarda francês, que leva o crítico Raúl Antelo a falar em "surrealismo periférico". Essa denominação se explica pelo fato de o escritor incorporar em sua obra alguns dos procedimentos típicos da vanguarda surrealista, como os processos relativos ao mecanismo do inconsciente segundo Sigmund Freud, fundador da psicanálise, os sonhos, os atos falhos, os lapsos de memória, o retorno à infância, a recorrência aos mitos ancestrais e mesmo a escrita automática, mas sem abandonar certos preceitos de verossimilhança da estética realista. Trata-se, em suma, de aproximar procedimentos estéticos opostos ou mesmo excludentes.

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Outras informaçõesde Aníbal Machado:

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Fontes de pesquisa (1)

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. R703.0981 P818d

Como citar?

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7219/anibal-machado#:~:text=An%C3%ADbal%20Monteiro%20Machado%20(Sabar%C3%A1%20MG,Contista%2C%20ensa%C3%ADsta%20e%20professor.&text=Faz%20o%20curso%20ginasial%20em,curso%20de%20direito%2C%20em%201917.

 

BARBOSA, Manuela Ribeiro. Aníbal Machado, homeopoeta. In: Revista Épicas. Ano 4, N. 7, Jun 2020, p. 1-23. ISSN 2527-080-X.

 

ANÍBAL MACHADO, HOMEOPOETA

 

Manuela Ribeiro Barbosa

Jornalista

 

RESUMO: Propomos que Aníbal Machado, em de Cadernos João, explora elementos como a sabedoria, a oralidade, o ritmo, mas também a escrita cuidada e a experiência concreta para compor obra híbrida entre poesia e prosa. Autor de produção relativamente pequena, quase circunscrita a formas breves, ele recupera, em miniatura, o sentido da narração, na medida em que nunca deixa de parte a vida. 1

Palavras-chave: Aníbal Machado; hibridismo; poesia; prosa.

 

ABSTRACT: Aníbal Machado, in Cadernos de João, explores elements such as wisdom, orality, rhythm, but also elaborated and concise writing and concrete experiences, in order to compose a work between poetry and prose. Author of a relatively small production, almost limited to brief genres, he rescues, through his miniatures, the true meaning of narration, because life is never absent from the text.

Keywords: Aníbal Machado; hybridity; poetry; prose.

 

1 Este trabalho aproveita, reformulando-os severamente, trechos da tese de doutorado K. no Brasil: Kafka, Murilo Rubião e Aníbal Machado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em julho de 2014, sob a orientação do Prof. Dr. Elcio Loureiro Cornelsen.

 

[...]

 

Considerações finais

Um homem cuja morada se tornou porto, mineiro que morou no Rio, Aníbal Machado acumulou, retomando o Benjamin de “O narrador – considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, o saber das terras distantes e o saber do passado (BENJAMIN, 1996, pág. 199), “aceita[ndo] o mundo sem se prender demasiadamente a ele” (pág. 200). Sua prosa tem a dimensão utilitária de que fala o filósofo, a habilidade de dar conselhos sem enfadar e uma impressão digital inigualável no panorama brasileiro: “Seu dom é contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira. (...) O narrador é a figura no qual o justo se encontra consigo mesmo” (pág. 221) No caso do escritor mineiro, o objetivo fundamental na escrita nunca foi a permanência, mas a transmissão. Assim, a luz tênue da narração não consumiu a mecha de sua vida, como pensou o pensador alemão; é a vida que ilumina a narração, infundindo nela calor e dando-lhe sobrevivência.

Procuramos, nesse recorte, pensar nele como homeopoeta. A tentativa, com a palavra esdrúxula (a bem dizer, paroxítona), é conjugar alguns sentidos: 1. A ideia de alguém que oscilou entre as personas de homem e de poeta, identificando-se ora com a vocação para a literatura, ora com a existência plena como cidadão, marido, pai; 2. A noção de um poeta, tomando a palavra no sentido amplo, de doses homeopáticas, isto é, sobretudo de formas breves; 3. A concepção de criador que buscava principalmente os iguais, o indivíduo comum em sua nobreza e mediocridade essencial; 4. A compreensão de que, na condição de escritor e também na vida, a cura está em fugir do excesso e perseguir a justa medida, a conciliação dos contrários pela percepção do que existe de identidade e similitude; 5. A proposição de artista que é solidário com o semelhante, não se colocando como superior, mas nivelando-se para ter eficácia; 6. O desapego à arte como projeto absoluto, elegendo-a antes como meio de, pintalgando a experiência cotidiana, qualificar a vida e torná-la mais saborosa; 7. A convicção de que viver é uma arte como as outras, e bem viver é ser um mestre do ofício.

https://f1cab0b0-7754-48c7-89e4-9dcd00d32f52.filesusr.com/ugd/ccf9af_d7562700ac3e47f8adfd38e6cfb55689.pdf

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Notícia de Jornal

Elizeth Cardoso

 

No link:




 

https://youtu.be/ytCukqe6C5Y

 

 

"Tentou contra a existência
Num humilde barracão,
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar".
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe;
Ninguém volta ao que acabou.
Joana, é mais uma mulata triste que errou.

Errou na dose,
Errou no amor;
Joana errou de João.
Ninguém notou,
Ninguém morou na dor que era o seu mal;
A dor da gente não sai no jornal...

Composição: Haroldo Barbosa / Luiz Reis. 

https://www.letras.mus.br/elisete-cardoso/1499367/

 

No link:




 

https://youtu.be/ytCukqe6C5Y

Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo Barbosa - Luiz Reis - Copacabana 6.254 - 05-06-1961

 

 


luciano hortencio

Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo Barbosa - Luiz Reis. Disco Copacabana 6.254. 05-06-1961. Disco constante do Arquivo Nirez. Coisas que o tempo levou. Tentou contra a existência num humilde barracão Joana de tal, por causa de um tal João Depois de medicada, retirou-se pro seu lar Aí a notícia carece de exatidão O lar não mais existe, ninguém volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose, errou no amor, Joana errou de João Ninguém notou, ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal O lar não mais existe, ninguém volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose, errou no amor, Joana errou de João Ninguém notou, ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal

 

Samuel Machado Filho

Lado B desse disco, matriz M-2972. Este samba foi também um dos sucessos do LP "A meiga Elizeth". Houve ainda gravações por Cláudia Zimmer. Helena de Lima e Chico Buarque, entre outras.

 

 

Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo Barbosa - Luiz Reis. Disco Copacabana 6.254. 05-06-1961. Disco constante do Arquivo Nirez. Coisas que o tempo levou.

https://www.youtube.com/watch?v=ytCukqe6C5Y

 

 

No link:




 

No link:


https://youtu.be/HcuUu71dw7M

Claudia Zimmer - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Haroldo Barbosa e Luiz Reis - Continental 17879-B

 

luciano hortencio

                                                                                                                            

Claudia Zimmer - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Haroldo Barbosa e Luiz Reis. Disco Continental 17879-B. Abril de 1961. Nosso agradecimento ao jornalista e pesquisador cearense NIREZ, pela disponibilização do raríssimo fonograma, constante do único disco gravado por Claudia Zimmer.

 

https://www.youtube.com/watch?v=HcuUu71dw7M

 

No link:




 

https://youtu.be/_uEhuxn_HWQ

Helena de Lima - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Luiz Reis e Haroldo Barbosa - ano de 1961

 

luciano hortencio

Helena de Lima - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Luiz Reis e Haroldo Barbosa. Ano de 1961. http://jornalggn.com.br/blog/lucianoh... Samuel Machado Filho: Samba cujo verso final diz uma verdade: "a dor da gente não sai no jornal". Foi um dos maiores sucessos de 1961, tendo gravações por Cláudia Zimmer (quem seria?), Elizeth Cardoso e Helena de Lima, esta aqui, lançada pela RGE em julho desse ano, no 78 rpm n.o 10324-B, matriz RGO-2161, também integrando o LP "A voz e o sorriso de Helena de Lima". Em 1975, Chico Buarque o reviveu num show que fez com Maria Bethânia no extinto Canecão, do Rio de Janeiro, cujos melhores momentos foram registrados em disco.

https://www.youtube.com/watch?v=_uEhuxn_HWQ 

 

 

 

 

No link:




 

https://youtu.be/uGZv2FSVj8o

08 - Noticia De Jornal - Chico Buarque e Maria Bethania Ao Vivo

 


Ellen Sena

Tentou contra a existência Num humilde barracão Joana de tal, por causa de um tal João Depois de medicada Retirou-se pro seu lar Aí a notícia carece de exatidão O lar não mais existe Ninguém volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose Errou no amor Joana errou de João Ninguém notou Ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal

https://www.youtube.com/watch?v=uGZv2FSVj8o

 

No link:

 


https://youtu.be/2wxe3fij_5M

Notícia de Jornal

Miltinho

https://www.letras.mus.br/miltinho/997478/

 

Agora É Cinza

Mário Reis

 

No link:




 

https://youtu.be/bE_RO_BD-vA



 

[REFRÃO:]
Você partiu
Saudades me deixou
Eu chorei
O nosso amor foi uma chama
Que o sopro do passado desfaz
Agora é cinza
Tudo acabado e nada mais

Você partiu de madrugada
E não me disse nada
Isto não se faz
Me deixou cheio de saudades e paixão
Não me conformo
Com a sua ingratidão
Chorei porque você...

[REFRÃO]

Agora desfeito o nosso amor
Eu vou chorar de dor
Não posso esquecer
Vou viver distante dos seus olhos
Oh, querida, nem me deu
Um adeus de despedida

[INTERVALO INSTRUMENTAL]

[REFRÃO]


Compositor: Bide / Marçal

https://www.vagalume.com.br/mario-reis/agora-e-cinza.html

 

 

 

 

 

No link:




 

https://youtu.be/9gBgHQkSyCY

AGORA É CINZA - MÁRIO REIS E OS DIABOS DO CÉU

 

 

18 de jul. de 2016

 

Antônio Bocaiúva

 

MÁRIO REIS E OS DIABOS DO CÉU LP REMINISCÊNCIAS = VOL. 5 RCA CANDEM MÁRIO REIS – LP RCA CAMDEN 1967 MÁRIO REIS – LP AO MEU RIO – 1965 TEH MUSIC OF BRAZIL: ARMANDO MARÇAL E BIDE – BLACK ROUND RECORDS 2009 LP OS GRNDES SAMBAS DA HISTÓRIA ORQUESTRA OS DIABOS DO CÉU – PIXINGUINHA Samba de Bide e Marçal para o carnaval de 1934, gravação de Mário Reis. Sucesso absoluto! 01 Victor 33.728 - AGORA É CINZA - samba - Marçal/Bide – Mário Reis Lançado no carnaval de 1934 na Escola de Samba Recreio de Ramos, Rio de Janeiro. AGORA É CINZA Nome original: Tu Partiste e tinha apenas uma parte. Tu partiste Com saudades eu fiquei O nosso amor foi uma chama Que o sopro do passado desfez Agora é cinza Tudo acabou e nada mais (Bide e Marçal: Alcebíade Barcelos e Armando Vieira Marçal ) Você partiu, Saudades me deixou, Eu chorei, O nosso amor foi uma chama, O sopro do passado desfaz, Agora é cinza, Tudo acabado e nada mais! Você, Partiu de madrugada, E não me disse nada, Isso não se faz, Me deixou cheio de saudade, E paixão, Não me conformo, Com a sua ingratidão. (Chorei porque) Agora desfeito o nosso amor Eu vou chorar de dor Não posso esquecer Vou viver distante dos seus olhos Oh, querida, nem me deu Um adeus de despedida (Chorei porque) Vídeo editado por Antônio Augusto dos Santos, Antônio Bocaiuva ou Antaugsan, sem fins lucrativos ou comerciais. Fotos e imagens da Internet. Bocaiuva, Divinópolis, Minas Gerais. Em 18/07/2016 – In memoriam do amigo Joaquim Vieira de Andrade, da cidade de Oliveira, MG. Certa vez, melhor dizendo, em 2005, na casa dele, ouvimos Agora é Cinza, na voz de ário Reis. Quando terminou, ele disse: Eta sambinha bão, sô! O meu amigo talvez nem mais seja cinza! Mais informações sobre a música: http://www.samba-choro.com.br/artista... Se alguém, autor ou detentor de direitos autorais sobre a música, julgar-se prejudicado em direitos autorais, favor entrar em contato comigo pelo e-mail bocayuvamaster@gmail.com que, se for o caso de direito, a música será retirada. Obrigado.

Música neste vídeo

Saiba mais

Música

Agora É Cinza

Artista

Mário Reis;Orquestra Diabos Do Ceu

https://www.youtube.com/watch?v=9gBgHQkSyCY

 

 

 

No link:




 

https://youtu.be/OXgbQqD1kN8

1933 - Elsa Soares - Agora é Cinza - Marçal e Bide

 

Música lançada nos ensaios da Escola de Samba Recreio de Ramos, da qual Marçal era vice-presidente, para o carnaval de 1933 com o título de "Tu partiste", mas foi modificada pelo parceiro Bide (Alcebíades Barcelos) tendo ficado com o nome "Agora é cinza". O compositor e ritmista Armando Vieira Marçal nasceu em 14/10/1902 no Rio de Janeiro e faleceu em 20/6/1947. Formou com Bide um das mais importantes duplas de compositores de samba da primeira metade do século passado. Ofereceram duas músicas ao grande cantor Mario Reis: "Durmo Sonhando" e "Agora é cinza" que deixou Francisco Alves escolher qual preferia cantar. Chico Alves escolheu a primeira e Mario Reis ficou com a segunda que fez enorme sucesso no carnaval de 1934 ao contrário da outra. "Agora é cinza" foi eleita por um juri de críticos em 1975, convocados por Marcus Pereira, como "o melhor samba de todos os tempos". Elza da Conceição Soares nasceu em 23/6/1937 no Rio de Janeiro. Em 1953 fez sei primeiro teste na Rádio Tupi no programa "Calouros em desfile" de Ary Barroso, interpretando "Lama" de Paulo Marques e Alice Chaves, tendo recebido o premio de primeiro lugar. Foi crooner da Orquestra Garam de Bailes, do maestro Joaquim Naegli. Em 1958 viajou para a Argentina com a Cia. de Mercedes Batista. Ao voltar em 1959 foi contratada por Walter Silva para cantar na Rádio Vera Cruz. Conheceu Moreira da Silva que a levou para cantar no Texas Bar em Copacabana e la´conheceu Silvinha Teles e Aloísio de Oliveira que a convidou a gravar seu primeiro disco: "Se acaso você chegasse" de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins. Foi para São Paulo em 1960 trabalhar no show "Festival Nacional de Bossa Nova' da TV Record e na Boate Oasis. Gravou então seu primeiro LP "Se acaso você chegasse" música que ficou sendo sua marca registrada. Em 1962 fez apresentações como representante do Brasil no Chile durante o Campeonato Mundial de Futebol onde começou um romance com o jogador Garrincha, com quem viria a se casar. Tem sido uma grande cantora de samba e com sua maneira peculiar de cantar deu forma nova à interpretação de samba, chegando mesmo a ter seu estilo chamado de "bossa negra" para implicar com a elite da "bossa branca" feita pelos riquinhos da zona sul do Rio de Janeiro. Recebeu inúmeros premios por sua maneira de cantar e pelo sucesso e consagração junto ao público brasileiro. Fonte: http://www.paixaoeromance.com/30decad...

https://www.youtube.com/watch?v=OXgbQqD1kN8

 

 

 

 

 

Foi Ela

 

Francisco Alves

 

No link:




 

 

https://youtu.be/d_JE2r5HY08

 

 

Quem quebrou meu violão de estimação
Foi ela!
Quem fez do meu coração seu barracão
Foi ela!
E depois me abandonou, ô, ô, ô, ô Minha casa se despovoou
Quem me fez tão infeliz só porque quiz
Foi ela!
Foi um sonho que findou, ô, ô, ô, ô
Um romance que acabou, ô, ô,ô, ô
Quem fingiu gostar de mim até o fim
Foi ela!

https://www.letras.com.br/francisco-alves/foi-ela

 

Maria Rosa

Francisco Alves

 

No link:




 

https://youtu.be/nx8iW57I5Yc

 

Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão ?
A conheci quando moça era um anjo de formosa
Seu nome: maria rosa, seu sobrenome: paixão
s trapos de suas vestes não é só necessidade
Cada um, para ela, representa uma saudade
Ou de um vestido de baile, ou de um presente , talvez
Que algum dos seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia maria por a fantasia de tempos passados
Por em sua galeria uns novos apaixonados
Esta mulher que outrora a tanta gente encantou
Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
E então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção
Mandou fazer essa capa de recordação
Vocês marias de agora, amem somente uma vez
Prá que mais tarde esta capa não sirva em vocês. (bis)

https://www.letras.mus.br/francisco-alves/1744398/

 

No link:




 

https://youtu.be/InzhEChwYNw

MARIA ROSA - ELIS REGINA

 


Antônio Bocaiúva

ELIS REGINA (Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945 — São Paulo, 19 de janeiro de 1982m, foi uma cantora brasileira.) LP ELIS PHILIPS 1998 Músicos: Cesar Camargo Mariano : Piano Luizão Maia : Baixo Elétrico Natan Marques : Guitarra Toninho Pinheiro (Antônio Pinheiro Filho) : Bateria MARIA ROSA (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves) Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos Vestindo farrapos calçando tamancos Pedindo nas portas pedaços de pão? A conheci quando moça era um anjo de formosa Seu nome: Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão Os trapos de sua veste não é só necessidade Cada um representa para ela uma saudade De um vestido de baile, ou de um presente, talvez Que algum dos seus apaixonados lhe fez Quis certo dia maria por a fantasia de tempos passados Ter em sua galeria uns novos apaixonados Esta mulher que outrora a tanta gente encantou Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou Então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção Mandou fazer essa capa de recordação Vocês marias de agora, amem somente uma vez Pra que mais tarde esta capa não sirva em vocês RHP Vídeo sem fins lucrativos ou comerciais, editado por Antônio Augusto dos Santos, com fotos e imagens da Internet e do Pinterest. Antônio Bocaiuva, antaugsan, Divinópolis, Bocaiuva, Minas Gerais, 31/08/2019

https://www.youtube.com/watch?v=InzhEChwYNw

 

 

Maria Rosa

Lupicínio Rodrigues

 

No link:




 

https://youtu.be/Oieu19LiaTc

 

 

 

Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão?

A conheci quando moça era um anjo de formosa
Seu nome é Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão
Os trapos de sua veste não é só necessidade
Cada um para ela representa uma saudade

Ou de um vestido de baile, ou de um presente, talvez
Que algum dos seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia Maria por a fantasia de tempos passados
Pôr em sua galeria uns novos apaixonados

Esta mulher que outrora a tanta gente encantou
Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
Então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção

Mandou fazer essa capa de recordação
Vocês marias de agora, amém somente uma vez
Pra que mais tarde esta capa não sirva em vocês

Composição: Alcides Gonçalves / Lupicínio Rodrigues. 

https://www.letras.mus.br/lupcinio-rodrigues/206970/

 

O protagonista invisível do texto jornalístico

Por Dario Ribeiro

Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João
Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar

Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal

A dor da gente não sai no jornal

(“Notícia de Jornal”, de Luís Reis e Haroldo Barbosa)

A divisão destes versos em três estrofes não é dada pela música e, tampouco, pelos autores. Cheguei a esta proposta pela análise da estrutura do texto, que detalharei a seguir.

Existem, nesta obra, três narradores diferentes. No primeiro parágrafo, o narrador é um mero leitor, que nos noticia a seguinte nota jornalística (em adaptação livre):

“Tentou contra a existência, num humilde barracão, Joana de tal, por causa de um tal João. Depois de medicada, retirou-se pro seu lar.”

A nota é simples: Joana, uma mulher pobre, tentou sem sucesso se matar por causa de uma desilusão amorosa. O último verso, segundo o qual ela teria retornado ao seu lar, serve de gancho para o surgimento do segundo narrador. Agora, em vez de mero leitor, temos um narrador crítico, observador, que comenta a notícia lida:

“Aí, a notícia carece de exatidão. O lar não mais existe; ninguém volta ao que acabou. Joana é mais uma mulata triste, que errou.”

O narrador-comentarista se concentra, justamente, naquilo que foi deixado de lado pelo hipotético jornalista: quem é Joana? Pra onde ela foi? Percebemos, aqui, que a falta de exatidão da notícia está, também, na descrição de seus personagens. As expressões “Joana de tal” e “tal João” demonstram, claramente, o descuido do jornalista para com os protagonistas de sua matéria. Para investigar a fundo a vida de Joana, sua história, seus erros e sua dor, resta ao eu-lírico — que não mais encontra informações no jornal — o recurso do narrador onisciente. Novamente, o último verso é o gancho para o novo narrador:

“Errou na dose, errou no amor. Joana errou de João. Ninguém notou, ninguém morou na dor, que era o seu mal.”

Temos, agora sim, a história de Joana, uma mulata que era triste pelo seu mal-sucedido casamento. Se ela errou ao casar-se com João, errou, também, ao lhe dar seu amor — traído ou não-correspondido —, errou na dose deste amor e, por fim, errou na dose da substância que ingeriu para se matar.

Desta vez, o último verso serve como gancho para a conclusão final. Se a dor, causa maior do suicídio — que, por sua vez, motivou a notícia — não foi observada por ninguém, a conclusão resta evidente.

“A dor da gente não sai no jornal”

E, se não sai, o que sai? O que descobre o repórter, no seu campo de trabalho? O que ele observa, o que ele pensa, interpreta e, por fim, escreve? Em geral, o jornalista deixa de lado a especificidade da vida de uma pessoa para abranger o fenômeno da qual ela faz parte.

Mesmo se esta pessoa for importante, interessa-lhe mais as conseqüências que ela tem para a sociedade do que para si mesma. Questões de foro íntimo são, de acordo com os manuais, irrelevantes.

Se o desprezo pelo que é pessoal ajuda a preservar a intimidade de uns, ele pode, por outros, ser entendido como exploração. Joãos e Joanas de Tal tem, cotidianamente, seus dramas pessoais transformados em meros exemplos de fenômenos sociais maiores.

Tão pouco individual, tão extremadamente coletiva é a luta de um jornalista, que nem mesmo por um grupo ele pode, em geral, vestir a camisa. Depois de publicada uma matéria sobre “x”, pula-se para o assunto “y”. Claro que o bom jornalista, assim como o bom leitor, se atenta a este problema. Mais do que isso, o repórter, ao se envolver com os personagens de suas matérias, sofre para abandoná-los.

“Como é fazer isso com eles e consigo mesmo?”, perguntei à jornalista Natália Viana. “É muito ruim. Eu procuro mostrar que o meu trabalho, o meu compromisso, não é com eles, ali, mas com todos os grupos que precisam de um espaço para falar, para ser ouvido. Olhando por esse viés, o que eu peço é generosidade da parte deles com relação àqueles que também necessitam do meu trabalho”. De fato, em se tratando de jornalismo social, que lida com a população desassistida, não deve ser fácil pedir generosidade àqueles com os quais toda a sociedade nunca foi lá muito generosa.
A luz que é dada ao fenômeno ofusca o próprio sujeito que o constitui. Por esta razão, uma história, ao ser transformada em notícia jornalística padrão, não tem rosto, não tem expressão. Seu protagonista é invisível. E o fenômeno, ao contrário do sujeito, não tem cara.

https://www.pucsp.br/~outrojornalismo/sala/generos2006/pauta_livre/dario_ribeiro.html

 

 

 

 

 

 

A canção e a oralização:

sílaba, palavra e frase

(versão corrigida)

 

MARCELO SEGRETO

 

Tese apresentada ao Programa de Pós-Gradução em Semiótica e Linguística Geral do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Linguística.

 

Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto de Moraes Tatit

 

São Paulo

2019

 

RESUMO

 

SEGRETO, Marcelo. A canção e a oralização: sílaba, palavra e frase. 2019. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 425 p.

 

A canção popular conquistou, desde o início do século XX, uma significativa importância na sociedade brasileira. Sua presença cultural marcante pode ser constatada, atualmente, pela grande quantidade de publicações acadêmicas dedicadas ao assunto, ligadas às mais diversas áreas de conhecimento. Nessa pesquisa, estudaremos a relação entre a composição e a linguagem oral, adotando a abordagem da semiótica da canção desenvolvida por Luiz Tatit (teoria que sistematiza os processos específicos da canção vislumbrando-a como linguagem autônoma). Pretendemos, por meio da análise de exemplos (bem como mediante a atividade de recriação linguística e melódica de alguns deles), elucidar os diferentes graus de presença da fala na canção e as diferentes formas de oralização. Examinaremos as suas sutis nuances entoativas a partir de três patamares de análise (a sílaba, a palavra e a frase), tentando esquadrinhar esse misterioso encontro entre a sua letra e a sua melodia.

Palavras-chave: canção popular, música, semiótica da canção

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-26062019-103725/publico/2019_MarceloSegreto_VCorr.pdf

 

 

https://www.letras.com.br/francisco-alves/foi-ela

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