‘“A dor da gente
não sai no jornal", canta um samba de Zé Ketti.’
...Alguns trechos de sambas e marchas lhe chegam aos ouvidos, pousam-lhe na
alma:
O dia em que fui porta-estandarte
“O nosso amor
Foi uma chama...
Agora é cinza,
Tudo acabado
E nada mais…”
Tudo acabado, tudo tristeza,
caramba!...
A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE
ANÍBAL MACHADO (1894-1964 I Brasil)
"Um mágico não sindicalizado". Assim Drummond
classificou este grande contista mineiro-carioca. Aliás, não deve existir nenhum
outro conto na nossa literatura que capte tão bem e com tanta poesia e
dramaticidade o espírito do povo do Rio de Janeiro do que este sempre destacado
e destacável A Morte da Porta-Estandarte. Uma crise de ciúmes (mas não há nada
de "psi" na história), um assassinato e um branco no salão, ou
melhor, na avenida: "A dor da gente não sai no jornal", canta um
samba de Zé Ketti.
Que
adianta ao negro ficar olhando para as bandas do Mangue ou para os lados da
Central?
Madureira
é longe e a amada só pela madrugada entrará na praça, à frente do seu cordão.
O que o
está torturando é a idéia de que a presença dela deixará a todos de cabeça
virada, e será a hora culminante da noite.
Se o
negro soubesse que luz sinistra estão destilando seus olhos e deixando escapar
como as primeiras fumaças pelas frestas de uma casa onde o incêndio apenas
começou!...
Todos
percebem que ele está desassossegado, que uma paixão o está queimando por
dentro. Mas só pelo olhar se pode ler na alma dele, porque, em tudo mais, o preto
se conserva misterioso, fechado em sua própria pele, como numa caixa de ébano.
Por que
não se incorporou ao seu bloco? E por que não está dançando? Há pouco não
passou uma morena que o puxou pelo braço, convidando-o? Era a rapariga do
momento, devia tê-la seguido... Ah, negro, não deixes a alegria morrer... É a
imagem da outra que não tira do pensamento, que não lhe deixa ver mais nada.
Afinal, a outra não lhe pertence ainda, pertence ao seu cordão; não devia
proibi-Ia de sair. Pois ela já não lhe dera todas as provas? Que tenha um pouco
de paciência: aquele corpo já lhe foi prometido, será dele mais tarde...
Andar na
praça assim, todos desconfiam... Quanto mais agora, que estão tocando o seu
samba... Está sombrio, inquieto, sem ouvir a sua música, na obsessão de que a
amada pode ser de outrem, se abraçar com outro... O negro não tem razão. Os
navais não são mais fortes que ele, nem os estivadores... Nem há nenhum tão
alinhado. E Rosinha gosta é dele, se reserva para ele. Será medo do vestido com
que ela deve sair hoje, aquele vestido em que fica maravilhosa, "rainha da
cabeça aos pés"? Sua agonia vem da certeza de que é impossível que alguém
possa olhar para Rosinha sem se apaixonar. E nem de longe admite que ela queira
repartir o amor. O negro fica triste.
E está
até amedrontado com as ameaças da noite, com essa Praça Onze que cresce numa
preamar louca.
A Praça
transbordava. Dos afluentes que vinham enchê-la, eram os do Norte da cidade e
os que vinham dos morros que traziam maior caudal de gente. O céu baixo
absorvia as vozes dos cantos e o som em fusão de centenas de pandeiros, de
cuícas gemendo e de tamborins metralhando. O negro, indiferente à alegria dos
outros, estava com o coração batendo, à espera. Só depois que Rosinha chegasse,
começaria o Carnaval. O grito dos clarins lhe produz um estremecimento nos
músculos e um estado de nostalgia vaga, de heroísmo sem aplicação. Ó Praça
Onze, ardente e tenebrosa, haverá ponto no Brasil em que, por esta noite sem
fim, haja mais vida explodindo, mais movimento e tumulto humano, do que nesse
aquário reboante e multicor em que as casas, as pontes, as árvores, os postes
parecem tremer e dançar em conivência com as criaturas, e a convite de um Deus
obscuro que convocou a todos pela voz desse clarim de fim do mundo?...
A Praça
inteira está cantando, tremendo. O corpo de Rosinha não tardaria a boiar sobre
ela como uma pétala. O povo dá passagem aos blocos que abrem esteiras na
multidão, entre apertos e gritos.
- Isso
não é assim à beça, Jerônimo! Cuidado com essa aí! É virgem... Rompem novos
cantos. Os "Destemidos de Quintino", os "Endiabrados de
Ramos"
estão
desfilando. Há correria do povo para ver. Os companheiros se separam, as filhas
perdem-se das mães, as crianças se extraviam. Acima das vagas humanas os
estandartes palpitam como velas. E é pela ondulação dessas flâmulas que os que
não podem se aproximar deduzem os movimentos das porta-estandartes.
Não se vê
o corpo delas, vê-se-Ihes o ritmo dos passos no pano alto. Mas era como se
fossem vistas de corpo inteiro, tão fiel a imagem delas na agitação das
bandeiras.
- Oh,
aquela lá, que colosso!.. . É pena não se poder vê-Ia; mas é mulata, te
garanto...
- Ih,
como deve estar dançando aquela do outro lado!... Dezoito anos com certeza...
Coxas firmes... Meio maluca...
- A que
está empunhando o estandarte que vem vindo aí é que deve ser do outro mundo.
Preta com certeza... Veja só como a bandeira se agita, como a bandeira samba
com ela...
- Pelo
frenesi, a gente conhece logo.
Dezenas
de estandartes pareciam falar, transmitiam mensagens ardentes, sacudiam-se,
giravam, paravam, desfalecendo, reclinavam-se para beijar, fugiam. ..
- Imagino
como estão tremelicando os seios daquela, lá longe; aquela diaba deve
estar suando... Êta gostosura de raça!
- Cala a
boca, Jerônimo... Você acaba apanhando. ..
Os
cordões se entrecruzam, baralham-se os cantos. Vem crescendo agora um baticum
medonho de tambores. Um bloco formidável se anuncia. O negro amoroso interpreta
os sinais semafóricos do estandarte que está entrando pelo lado da Praça da
República. O negro fura a massa, coloca a sua figura enorme em situação de
poder ficar bem perto.
Apura o
ouvido para saber se é o canto do seu cordão. A barulheira é grande. Algumas
notas são do hino... Sente um arrepio. Ela virá com aquele vestido? Se entristece
mais, à medida que a mulata se vem aproximando numa onda de glória, entre alas
do povo.
Se quiser
agora sair daquele lugar, já não poderá mais, se sente pregado ali. O gemido
cavernoso de uma cuíca próxima ressoa-lhe fundo no coração. - Cuíca de mau
agouro, vai roncar no inferno... Será ela, meu Deus!...
O negro
está tremendo. Mas não pode ser ela. Rosinha, quando aparece, ninguém resiste,
é um alvoroço, uma admiração geral... Não vê que é assim... Até o ar fica
diferente. E o estandarte que vem vindo é de veludo azul, tem a imagem de São
Miguel entre estrelas e as insígnias do cordão. Ainda não é o bloco de
Madureira.
O preto
se enganou. Sente-se desoprimido. Foi melhor assim. Pensa em ir embora,
desistir de tudo. No dia seguinte, na oficina do Engenho de Dentro, se sentirá
leve ouvindo o batido das bigornas e o farfalhar das polias. Se os companheiros
perguntarem por que não apareceu, dirá que esteve doente, que foi ao enterro de
algum parente, de uma tia, por exemplo. Está mesmo disposto a voltar para casa.
Que o tomem por decadente se quiserem...
Se
Rosinha desobedecer e vier à Praça, não faz mal. Está também disposto a não se
importar. .. Nem indagará se ela fez sucesso, se alguém mais se apaixonou por
ela, se o Geraldo continuou com aquelas atenções, aquele safado. Amanhã, no
trabalho, recomeçará a vida, será livre novamente. Rosinha que venha procurá-lo
depois. Ele é homem e é forte. O que vale no homem é a vontade. Além disso, uma
noite corre depressa. Enfiará a cabeça debaixo do travesseiro e a desgraça
passará. Apelará para o sono. Já está até com vontade de dormir. Entretanto,
não seria mal que caísse uma tempestade. Ao menos assim, Rosinha deixaria
de vir à frente do cordão... Oh! como gostaria, como estava torcendo por um
temporal que estragasse o vestido dela! Daqueles que inundam tudo, derrubam as
casas, param os bondes e trazem uma desmoralização geral. No fundo está até com
ódio do Carnaval...
Perto,
estão tocando um samba de fazer dançar as pedras. Todos se mexem. Só quem está
imóvel é ele, sob o peso de uma dor enorme. As mulatas passam rente, cheias de
dengue; sorriem, dizem palavras. Hoje ele não topa. Se sente mesmo envergonhado
de estar tão diferente. Nunca foi assim. No futebol, no trabalho, nas greves,
nas festas, era sempre o mais animado. Foi de certo tempo para cá que uma coisa
profunda e estranha começou a bulir e crescer dentro de seu peito, uma influência
má que parecia nascer, que absurdo! do corpo de Rosinha, como se esta tivesse
alguma culpa. Rosinha não tem culpa. Que culpa tem sua namorada? - essa é que é
a verdade.
E está
sofrendo, o preto. Os felizes estão se divertindo. Era preferível ser como os
outros, qualquer dos outros a quem a morena poderá pertencer ainda, do que ser
alguém como ele, de quem ela pode escapar. Uma rapariga como Rosinha, a
felicidade de tê-la, por maior que seja, não é tão grande como o medo de perdê-la.
O negro suspira e sente uma raiva surda do Geraldão, o safado. Era este, pelos
seus cálculos, quem estaria mais próximo de arrebatar-lhe a noiva. O outro
era o Armandinho, mas esse era direito; seu amigo, de fato, incapaz de traí-lo.
Sentiu um reconhecimento inexplicável pelo Armandinho.
Suas
pernas o vão levando agora sem direção. Não se acha a caminho de casa, nem se
sente completamente na Praça. Alguns trechos de sambas e marchas lhe chegam aos
ouvidos, pousam-lhe na alma:
O nosso amor
Foi uma chama...
Agora é cinza,
Tudo acabado
E nada mais…
Tudo acabado, tudo tristeza, caramba!... Cabrochas que fogem, leitos vazios,
desgraças. Nunca viu tanta dor de corno. Não nasceu para isso, nem tem vocação
para sofrer. Os sambas o incomodam. Por que não está dançando como os outros?
O negro
está hesitante. As horas caminham e o bloco de Madureira é capaz de não vir
mais. Os turistas ingleses contemplam o espetáculo a distância, e combinam o
medo com a curiosidade. A inglesa recomenda de vez em quando: - "Não
chegue muito perto, minha filha, que eles avançam..." - A mocinha loura
pergunta então ao secretário da Legação se há perigo: - "Mas eles são
ferozes?" - "Não, senhorita, pode aproximar-se à vontade, os negros
são mansos." - A baiana dos acarajés se ofendeu e resmunga desaforos: -
"Nóis é que temo medo de vancês, seu cara de não sei que diga; nóis não é
bicho, é gente!... "
Passa
rente aos olhos da miss um torso magnífico de ébano. Ela se perturba, fica
excitada, segreda aos ouvidos do secretário, tremendo na voz: - "Eu tinha
vontade de dançar com um... posso?" - "You are crazy, AmyL." -
exclama-lhe a velha, escandalizada. Mas os turistas agora se assustam. No fundo
da Praça, uma correria e começo de pânico. Ouvem-se apitos. As portas de aço
descem com fragor. As canções das Escolas de Samba prosseguem mais vivas,
sinfonizando o espaço poeirento. A inglesa velha está afobada, puxa a família,
entra por uma porta semicerrada.
- Mataram
uma moça!
A
notícia, que viera da esquina da Rua Santana, circulou depois em torno da
Escola Benjamim Constant, corria agora por todos os lados alarmando as mães.
- Mataram
uma moça! - comentava-se dentro dos bares. - Mataram, sim, mataram uma moça!
...
- Que
maldade matarem uma moça assim, num dia de alegria! Será possível?...
- Mas
mataram, sim senhora, garanto que mataram!...
- Como é
o tipo dela? O senhor viu?
- Me
disseram que é morena, de uns dezenove anos, por aí...
- Morena?
Dezenove anos!... Ai, meus Deus! é capaz de ser a minha filha!... Diga depressa
como é o resto do tipo dela...
Outra
senhora cheia de pressentimentos se aproximou do informante:
- O homem
que estava com ela era preto, era? Estava de branco?... E tinha uma cicatriz?
Ai! se tinha, não me diga mais nada... não me diga mais nada! Meu Deus, mataram
minha filha!... Nenucha! Nenucha! Cadê Nenucha?...
As mães
todas se levantam e saem a campear as filhas. O clamor de umas vai despertando
as outras. Cada qual tem uma filha que pode ser a assassinada. Rompem a
multidão, varam os cordões, gritam por elas. Os noivos são ferozes, os
namorados prometem sempre matá-Ias.
A
animação da Praça é atravessada agora pelo grito das mães aflitas. A mãe de
Nenucha, porém, a primeira desgrenhada que se levantou, já está de volta ao seu
lugar. Voltou porque cruzara com uma que se rasgava toda em imprecações: -
"Laurinha, eu bem te disse que não viesses, o malvado jurou que te matava.
Virgem Mãe, mataram minha filha... Eu sei... Eu nem quero ver." A mãe de
Nenucha transfere o seu desespero para a mãe de Laurinha e se acalma. Mas
apareceu uma gorda a dizer por sua vez à mãe de Laurinha que a morta era outra,
uma pequena de Bangu, operária de fábrica. A fera tinha sido presa.
Distante
do tumulto mortífero, as outras mães que já haviam arrecadado as filhas
seguram-nas bem, ao abrigo dos noivos fatais. Eram as que escaparam de morrer,
as que tinham sido salvas. - "Mariazinha, que susto tua mãe passou! Não
vai lá mais não, ouviu? É melhor irmos embora, teu namorado está
rondando..."
Outras
mães, cheias de maus presságios, partem ainda à procura das filhas.
Uma
senhora que recebia a corte de um português debaixo do coreto, ao ouvir a
notícia, larga-se aos berros, ainda toda embrulhada em serpentinas, à procura
de sua Odete. Era Odete, com certeza... Nem tinha dúvidas... Dava
encontros, punha a mão na cabeça, corria. O povo achava graça imaginando fosse
alguma farsante bêbeda. Odete já devia estar numa poça de sangue, esvaindo-se.
Foi o namorado! Nunca tirava os olhos dos seios dela, aquele monstro... Dizia
sempre que ela havia de ser sua. E tinha uma cara malvada, o diabo do homem. ..
Coitadinha de sua Odete. .. Aqueles seios!... Bem não queria, oh! que fossem
tão grandes. Odete também não queria, já estava amedrontada. A mãe corria e
soluçava, perguntando a todos onde se achava a filha morta. Era Odete, sim,
tinha quase certeza! Caminhava como uma sonâmbula. Falava sozinha, soltando
lamentações. Onde é que Odete estava caída? E não tirava do pensamento que a
desgraça foi por causa dos seios da mocinha... Quem não estava vendo? Ela
mesma, como mãe, reconhecia que aqueles seios chamavam demais a atenção. Tinha
o pressentimento de que aquilo acabava mal. Até os passageiros dos bondes
cheios se viravam para apreciá-los, quando Odete parava na calçada. Odete a
princípio, coitada, tão inexperiente, se sentia faceira com eles... Depois, cresceram
mais do que se esperava, e ela própria teve medo. Já produziam escândalo...Fora
o demônio que tomara conta daquela parte do corpo de sua filha. Ultimamente,
era um desespero: a pobrezinha mal podia atravessar a rua, sentia-se perseguida
pelos homens. E não eram dois nem três que olhavam, não: da porta dos cafés, de
dentro dos armarinhos, das sacadas, de todos os lados, todos queriam espiar,
ficavam olhando... Ela passava depressa, envergonhada. Porque sempre foi muito
seriazinha, a sua Odete... Que gente mal-educada... Deus nos livre dos homens.
Que adiantou o soutien de arrocho?... Foi pior. "Ah, meu Deus, haverá mãe
que possa dormir tranqüila vendo os seios da filha crescerem assim dessa
maneira?... " Quando Odete caminhava é que eles adquiriam a sua plenitude
de vida e mistério. Daí o fato de todo mundo, quando pensa em Odete,
pensar logo nos seios dela, que sempre apareciam primeiro e na frente, como a
proa dos navios...
A mulher
tremia e soluçava. Ah! Odete não tem culpa. Foram os seios, foram... Tanto
desejava levá-Ia para longe desses brutos.
Agora, lá
vai como louca, à procura do corpo da filha.
Caminha e
vê crescendo uma rosa vermelha bem em cima do seio esquerdo de sua Odete. Dá um
grito, cai sem sentidos. Dois pretos carregam-na para um bar. Já outras mãe
vinham de volta, trazendo as respectivas filhas bem seguras nas mãos. Deram-lhe
éter a cheirar, abanaram-na. Quando voltou a si, parecia ter saído de um banho
de resignação. Calma. Como se tivesse se conformado com tudo o que acontecera.
Começa
então a declamar a história da filha com o criminoso: conheceram-se num banho à
fantasia na praia de Ramos; ele parecia distinto a princípio, tinha emprego,
dava presentes. Depois... o malvado começou a ameaçar a pobrezinha, a fazer-lhe
exigências. Não queria que fosse aos bailes, que usasse blusa de malha. Dizia
que ela remexia demais as cadeiras quando caminhava. Proibiu-lhe trazer flor na
cabeça, conversar com os amiguinhos.
- Mas a
senhora tem certeza de que foi sua filha? interrompeu um mascarado.
- Se já
estou vendo o cadáver!... Ah, meu Deus, que dor! Não! Não! Eu quero é contar a
história dela. Isso me consola...
Fez uma
pausa. Recomeçou depois, mais patética:
- Ainda
nem tinha dezoito anos. Uma menina... Bordava que era um gosto. Todos apreciavam
ela... Me ajudava tanto.
Um
sujeito, vestido de Hailé Selassié, escutava comovido. Pouco a pouco, a pobre
senhora foi percebendo que estava sendo cercada de cavalos, bois e porcos
prestimosos, além de um Mefistófeles e alguns Arlequins que vieram oferecer
seus serviços. Essa fauna grotesca afigurava-se-lhe como aparições do reino do
pesadelo. Fixou-os de olhos esbugalhados, deu um grito de horror. Eles
compreenderam, tiraram as máscaras. De dentro das máscaras surgiram fisionomias
cheias de compaixão, que se voltavam para ela, querendo consolá-la. Alguém
disse que a vítima era outra, uma mulata de Madureira, porta-estandarte de um
cordão. A mulher não acreditava. Era inútil iludi-la.
Lá fora,
um coro de vozes perguntava ainda, insistentemente, por certa Maria Rosa:
Cadê Maria Rosa
Tipo acabado de mulher fatal?
E anunciava que ela tinha como sinal
Uma cicatriz,
Dois olhos muito grandes, Uma boca e um nariz.
A mulata tinha uma rosa no pixaim da cabeça. Um mascarado tirou a mantilha da companheira,
dobrou-a, e fez um travesseiro para a morta. Mas o policial disse que não
tocassem nela. Os olhos não estavam bem fechados. Pediram silêncio, como se
fosse possível impor silêncio àquela Praça barulhenta. A última das mães
aflitas chega atrasada, atravessa o cerco, espia bem o cadáver, solta um grito
de alegria:
- Ah, eu
pensava que fosse a Raimunda! Graças a Deus que não foi com minha filha!
Escapaste, Raimunda.
Saiu
satisfeita. Alguns malandros, de cavaquinho nas mãos, foram se afastando, meio
desajeitados. Um deles dava opinião:
- Dor eu
não topo, franqueza... Sou contra o sofrimento.
Tentaram
pedir silêncio novamente. Uma rapariga comentava, enxugando as lágrimas:
- Só se
você visse, Bentinha, quanto mais a faca enterrava, mais a mulher sorria...
Morrer assim nunca se viu...
O crime
do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do povo. Ficaram todos
estarrecidos de espanto vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado
bebia-lhe mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para
outro como se estivesse contemplando uma criança. Uma Escola de Samba repontava
no Mangue. Ainda se ouviam aclamações à turma da Mangueira. Quando o canto foi
se aproximando, a mulata parecia que ia levantar-se.
E
estava sorrindo como se fosse viva, como se estivesse ouvindo as palavras
que o assassino agora lhe sussurra baixinho aos ouvidos.
O negro
não tira os olhos da vítima. Ela parecia sorrir; os curiosos é que queriam
chorar. A qualquer momento ela poderia se erguer para dançar. Nunca se viu defunto
tão vivo. Estavam esperando esse milagre. Ouvia-se uma canção que parece ter
falado ao criminoso:
Quem quebrou meu violão de estimação?
Foi ela…
Ainda apareceram algumas mães retardatárias rondando de longe a morta. A morta
não tinha mãe nem parentes, só tinha o próprio assassino para chorá-Ia. É ele
quem lhe acaricia os cabelos, lhe faz uma confidência demorada, a chama pelo
nome:
- Está na
hora, Rosinha. .. Levanta, meu bem. .. É o "Lira do Amor" que vem
chegando... Rosinha, você não me atende! Agora não é hora de dormir...
Depressa, que nós estamos perdendo... O que é que foi? Você caiu? Como foi?. ..
Fui eu? Eu?... Eu, não! Rosinha. ..
Ele dobra
os joelhos para beijá-Ia. Os que não queriam se comover foram se retirando. O
assassino já não sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um destino que
lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma canção que lhe fala alguma coisa ao
desespero:
Quem fez do meu coração seu barracão?
Foi ela…
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha está dormindo...
Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está bêbedo... O céu
baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham
paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores?
Ui! que ventania. .. É guerra... ele vai se espalhar. .. Por que estão malhando
em sua cabeça?. .. Na bigorna do Engenho de Dentro é assim... Se afastem que
ele está lutando por ela... Ele é bamba... Não se massacra
um
operário dessa maneira... Estão atrapalhando o seu caminho para Rosinha... Se
apitam assim, acordam ela... Ela já não está mais presente... Deslizando no
éter. .. Deixem ele passar. .. Os outros fiquem no chão... Fiquem por aí... Ele
vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para
o fundo do país... Abraçá-Ia no alto de uma colina...
https://aneste.org/os-100-melhores-contos-de-crime-e-mistrio-da-literatura-univer.html?page=36
"Todo mundo era amigo de Aníbal Machado",
escreveu Paulo Mendes Campos por ocasião da morte do autor de "Tati, a
Garota", "A Morte da Porta-estandarte" e outros contos.
O interminável livro da vida de Aníbal
Machado
BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA DE S.PAULO
São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994 +mais!
"Ele não gostava de escrever. Tinha muita preguiça.
Gostava de ouvir", diz a dramaturga e diretora de teatro Maria Clara
Machado, segunda das seis filhas de Aníbal Machado (1894-1964), com quem ele
fundou o teatro Tablado.
A curiosa definição partiu do próprio escritor em sua sucinta
"Autobiografia", incluída agora em "A Arte de Viver e Outras
Artes" (ed. Graphia): "Prefiro antes conversar do que escrever; antes
ouvir do que ler. Há muitos anos venho fazendo sem querer, com enormes
interrupções, um livro interminável para o qual tenho um montão de notas e que
é possível seja organizado algum dia."
Já pelo título, "A Arte de Viver" –que inclui os aforismos dos
"Cadernos de João", ensaios, crítica dispersa, crônicas e
auto-retratos– dá a entender que espécie de obra interminável é essa a que se
referia Aníbal Machado.
"Toda
a vida venho reclamando a prorrogação do prazo para terminar a minha fachada.
Não querem atender-me. Nem sei mais o que alegar. Terminar da noite para o dia,
não posso. Mas também é aborrecido ficar sempre atrás de andaimes e caminhar
para a morte antes de concluir-se a construção", escreveu nos
"Cadernos de João", de 1957.
"Para mim, 'Cadernos' é o melhor livro dele. É o mais original. Foi muito
difícil juntar todos os textos dispersos, que não tinham sido publicados em
livro. Havia muita coisa. Ele era um homem muito amado e todo mundo pedia a ele
que escrevesse. Críticas, prefácios... Ele fazia com prazer", diz Maria
Clara Machado.
"Todo mundo era amigo de Aníbal Machado", escreveu Paulo Mendes
Campos por ocasião da morte do autor de "Tati, a Garota", "A
Morte da Porta-estandarte" e outros contos. O texto, que agora faz as
vezes de prefácio de "A Arte de Viver", serve tanto de explicação
para o significado do título da coletênea como para o sentido profundo dessa
"construção de si mesmo", que parece perpassar todo o pensamento de
Aníbal Machado: uma estética da existência.
Raros são na literatura brasileira os projetos que estabelecem essa estranha
ponte entre autor e obra, confundindo-os não como explicação um do outro em
reducionismos psicológicos, mas como sinônimos, exprimindo um compromisso
radical da vida com a literatura: o próprio autor constituindo-se como obra.
Não é a primeira vez que a Graphia Editorial decide resgatar um desses projetos
e revalorizá-lo em sua série Revisões. Em "Um Longo Sonho do Futuro",
a editora havia reunido os poderosos diários e confissões de Lima Barreto, para
quem a literatura deixava de ser uma expressão da vida para confundir-se
radicalmente com ela: "Ah! A literatura ou me mata ou me dá o que eu peço
dela."
Em Aníbal Machado esse projeto é mais mineiro –menos desesperado, mais discreto
e sobretudo muito humorado. "Por timidez, formação religiosa ou respeito
humano, (o mineiro) evita oferecer aos outros o espetáculo da própria fraqueza.
Não se chame a isto hipocrisia, mas decência", escreveu em "Esboço de
Retrato", também incluído nesta coletânea.
Aníbal Machado preferia "conversar a escrever; ouvir a ler"
simplesmente porque estava obsessivamente imbuído da construção de si mesmo
como obra. Há uma honestidade e fidelidade heróicas nessa obsessão. Algo de
difícil entendimento num mundo onde o marketing e outros fenômenos
extraliterários parecem ofuscar progressivamente o sentido da literatura de
verdade, aloprando critérios e parâmetros de sensatez.
"A vulgaridade é o que me apavora. Penso que toda a mensagem de um
escritor pode comportar-se dentro de uma só obra. (...) Reputo de nível baixo
ainda a nossa sociedade literária, vivendo por enquanto de equívocos e
expedientes de camaradagem. A glória de um escritor não depende dessa
providência, depende da força real de sua criação (...). Publico muito pouco e
isso sem nenhuma idéia preconcebida. Escrevendo pouco, publicando menos, é
natural que eu não tenha leitores que se possam interessar pela minha
vida", escreve em sua "Autobiografia".
Os elogios de Aníbal Machado a Goeldi, de quem foi amigo, e a Walt Whitman nos
ensaios incluídos em "A Arte de Viver" dizem respeito a essa
fidelidade radical e irredutível entre vida e obra.
"É o canto de um homem para quem o mundo exterior existe como encarnação
da idéia e do princípio de identidade. (...) 'Folhas de Relva' parece menos a
imagem do mundo do que o seu próprio prolongamento substancial. Livro Bíblia.
(...) Uma mulher, não sei bem se de Chicago ou Detroit, lia aos filhos as
'Folhas de Relva' para 'ensinar-lhes a viver'. (...) Dentro de 'Folhas de
Relva' está um homem. E isto basta", escreve sobre Whitman.
Aníbal Machado dizia ter lido pouco na juventude "na pressa de tirar
diretamente da vida o seu sentido, sem a ajuda dos intérpretes –os
escritores". Também escreveu pouco. Não tinha tempo a perder. Estava
construindo a sua "fachada". Estava escrevendo seu "livro
interminável". "A Arte da Vida" é parte dele.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/7/10/mais!/17.html
Aníbal Machado
Literatura / artes visuais / teatro
Data de nascimento
deAníbal Machado:09-12-1894 Local de nascimento:(Brasil / Minas Gerais /
Sabará) | Data de
morte20-01-1964 Local de morte:(Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro)
Atualizado em: 25-04-2019
Biografia
Aníbal
Monteiro Machado (Sabará MG 1894 - Rio de Janeiro RJ 1964). Contista, ensaísta
e professor. Passa a maior parte da infância em sua cidade natal. Faz o curso
ginasial em Belo Horizonte e o secundário no Rio de Janeiro, onde começa a
estudar na Faculdade Livre de Direito. Em 1913, retorna a Belo Horizonte, e conclui
o curso de direito, em 1917. Nesse período, publica alguns textos literários na
revista Vida de Minas. Em 1923, passa a residir no Rio de Janeiro, e sua
casa se torna, em pouco tempo, um ponto de encontro cultural importante da
cidade, reunindo escritores, artistas plásticos e artistas teatrais. Autor de
uma pequena, mas significativa obra literária, o nome do escritor mineiro é,
assim, especialmente lembrado pela sua intensa atuação intelectual, a ponto de
o crítico Raúl Antelo afirmar que Aníbal Machado "representa, para o Rio
de Janeiro, aquilo que Mário de Andrade significou para São Paulo dos anos 1930
e 1940: um arregimentador - animador cultural, introdutor das vanguardas
políticas, intelectual empenhado e partidário". Machado escreve seu primeiro
conto - O Rato, o Guarda-Civil e o Transatlântico - em 1925,
publicado na revista Estética. Participa da segunda fase do movimento
antropofágico. Na década de 1930, funda com Apparício Torelly (o barão de
Itararé) o periódico O Jornal do Povo, de vida curta. Colabora ainda com
revistas e suplementos literários de importantes jornais como O Correio da
Manhã e Diário do Povo. Em 1941, é publicada uma de suas palestras,
proferida nesse ano, com o título O Cinema e Sua Influência na Vida
Moderna. No mesmo ano, é responsável pela organização da divisão de arte moderna do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA).
Lança, três anos depois, seu primeiro livro de contos, Vila Feliz, e é
eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Organiza, em 1945, o
1º Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, no qual diversos autores
elaboram a Declaração de Princípios contra a ditadura de Getúlio Vargas (1882 -
1954). Em seus últimos anos de vida, traduz e adapta, para O Tablado,
grupo teatral amador que ajuda a fundar com sua filha, a dramaturga Maria Clara Machado (1921 - 2001),
textos e peças de importantes escritores, como do tcheco Franz Kafka (1883 -
1924), do francês George Bernanos (1888 - 1948), e do russo Anton Tchekhov
(1860 - 1904).
Comentário Crítico
A parcela da obra ficcional mais lembrada de Aníbal Machado compreende um
romance e um conjunto significativo de contos em que se percebe certa filiação
estética ao surrealismo. Trata-se, porém, de uma incorporação muito particular
das propostas desse movimento de vanguarda francês, que leva o crítico Raúl
Antelo a falar em "surrealismo periférico". Essa denominação se
explica pelo fato de o escritor incorporar em sua obra alguns dos procedimentos
típicos da vanguarda surrealista, como os processos relativos ao mecanismo do
inconsciente segundo Sigmund Freud, fundador da psicanálise, os sonhos, os atos
falhos, os lapsos de memória, o retorno à infância, a recorrência aos mitos
ancestrais e mesmo a escrita automática, mas sem abandonar certos preceitos de
verossimilhança da estética realista. Trata-se, em suma, de aproximar
procedimentos estéticos opostos ou mesmo excludentes.
Continuar
a leitura do texto...
Outras informaçõesde Aníbal Machado:
Fontes de pesquisa (1)
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes
plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
R703.0981 P818d
Como citar?
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7219/anibal-machado#:~:text=An%C3%ADbal%20Monteiro%20Machado%20(Sabar%C3%A1%20MG,Contista%2C%20ensa%C3%ADsta%20e%20professor.&text=Faz%20o%20curso%20ginasial%20em,curso%20de%20direito%2C%20em%201917.
BARBOSA, Manuela Ribeiro. Aníbal Machado, homeopoeta. In:
Revista Épicas. Ano 4, N. 7, Jun 2020, p. 1-23. ISSN 2527-080-X.
ANÍBAL MACHADO, HOMEOPOETA
Manuela Ribeiro Barbosa
Jornalista
RESUMO: Propomos que Aníbal Machado,
em de Cadernos João, explora elementos como a sabedoria, a oralidade, o ritmo,
mas também a escrita cuidada e a experiência concreta para compor obra híbrida
entre poesia e prosa. Autor de produção relativamente pequena, quase
circunscrita a formas breves, ele recupera, em miniatura, o sentido da
narração, na medida em que nunca deixa de parte a vida. 1
Palavras-chave:
Aníbal Machado; hibridismo; poesia; prosa.
ABSTRACT: Aníbal Machado, in
Cadernos de João, explores elements such as wisdom, orality, rhythm, but also
elaborated and concise writing and concrete experiences, in order to compose a
work between poetry and prose. Author of a relatively small production, almost
limited to brief genres, he rescues, through his miniatures, the true meaning
of narration, because life is never absent from the text.
Keywords: Aníbal Machado; hybridity;
poetry; prose.
1 Este trabalho aproveita, reformulando-os severamente,
trechos da tese de doutorado K. no Brasil: Kafka, Murilo Rubião e Aníbal
Machado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários
da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em julho
de 2014, sob a orientação do Prof. Dr. Elcio Loureiro Cornelsen.
[...]
Considerações finais
Um homem cuja morada se tornou porto, mineiro que morou no
Rio, Aníbal Machado acumulou, retomando o Benjamin de “O narrador –
considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, o saber das terras distantes e o
saber do passado (BENJAMIN, 1996, pág. 199), “aceita[ndo] o mundo sem se
prender demasiadamente a ele” (pág. 200). Sua prosa tem a dimensão utilitária
de que fala o filósofo, a habilidade de dar conselhos sem enfadar e uma
impressão digital inigualável no panorama brasileiro: “Seu dom é contar sua
vida; sua dignidade é contá-la inteira. (...) O narrador é a figura no qual o
justo se encontra consigo mesmo” (pág. 221) No caso do escritor mineiro, o
objetivo fundamental na escrita nunca foi a permanência, mas a transmissão.
Assim, a luz tênue da narração não consumiu a mecha de sua vida, como pensou o
pensador alemão; é a vida que ilumina a narração, infundindo nela calor e
dando-lhe sobrevivência.
Procuramos, nesse recorte, pensar nele como homeopoeta. A
tentativa, com a palavra esdrúxula (a bem dizer, paroxítona), é conjugar alguns
sentidos: 1. A ideia de alguém que oscilou entre as personas de homem e de
poeta, identificando-se ora com a vocação para a literatura, ora com a
existência plena como cidadão, marido, pai; 2. A noção de um poeta, tomando a
palavra no sentido amplo, de doses homeopáticas, isto é, sobretudo de formas
breves; 3. A concepção de criador que buscava principalmente os iguais, o
indivíduo comum em sua nobreza e mediocridade essencial; 4. A compreensão de
que, na condição de escritor e também na vida, a cura está em fugir do excesso
e perseguir a justa medida, a conciliação dos contrários pela percepção do que
existe de identidade e similitude; 5. A proposição de artista que é solidário
com o semelhante, não se colocando como superior, mas nivelando-se para ter
eficácia; 6. O desapego à arte como projeto absoluto, elegendo-a antes como
meio de, pintalgando a experiência cotidiana, qualificar a vida e torná-la mais
saborosa; 7. A convicção de que viver é uma arte como as outras, e bem viver é
ser um mestre do ofício.
https://f1cab0b0-7754-48c7-89e4-9dcd00d32f52.filesusr.com/ugd/ccf9af_d7562700ac3e47f8adfd38e6cfb55689.pdf
Notícia de Jornal
Elizeth Cardoso
"Tentou contra a existência
Num humilde barracão,
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar".
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe;
Ninguém volta ao que acabou.
Joana, é mais uma mulata triste que errou.
Errou na dose,
Errou no amor;
Joana errou de João.
Ninguém notou,
Ninguém morou na dor que era o seu mal;
A dor da gente não sai no jornal...
Composição: Haroldo Barbosa / Luiz Reis.
https://www.letras.mus.br/elisete-cardoso/1499367/
Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo
Barbosa - Luiz Reis - Copacabana 6.254 - 05-06-1961
luciano hortencio
Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo Barbosa -
Luiz Reis. Disco Copacabana 6.254. 05-06-1961. Disco constante do Arquivo
Nirez. Coisas que o tempo levou. Tentou contra a existência num humilde
barracão Joana de tal, por causa de um tal João Depois de medicada, retirou-se
pro seu lar Aí a notícia carece de exatidão O lar não mais existe, ninguém
volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose,
errou no amor, Joana errou de João Ninguém notou, ninguém morou na dor que era
o seu mal A dor da gente não sai no jornal O lar não mais existe, ninguém volta
ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose, errou no
amor, Joana errou de João Ninguém notou, ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal
Samuel Machado Filho
Lado B desse disco, matriz M-2972. Este samba foi também um
dos sucessos do LP "A meiga Elizeth". Houve ainda gravações por
Cláudia Zimmer. Helena de Lima e Chico Buarque, entre outras.
Elizeth Cardoso - NOTÍCIA DE JORNAL - Haroldo Barbosa -
Luiz Reis. Disco Copacabana 6.254. 05-06-1961. Disco constante do Arquivo
Nirez. Coisas que o tempo levou.
https://www.youtube.com/watch?v=ytCukqe6C5Y
No link:
No link:
Claudia Zimmer - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de
Haroldo Barbosa e Luiz Reis - Continental 17879-B
luciano hortencio
Claudia Zimmer - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Haroldo
Barbosa e Luiz Reis. Disco Continental 17879-B. Abril de 1961. Nosso
agradecimento ao jornalista e pesquisador cearense NIREZ, pela disponibilização
do raríssimo fonograma, constante do único disco gravado por Claudia Zimmer.
https://www.youtube.com/watch?v=HcuUu71dw7M
No link:
Helena de Lima - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de
Luiz Reis e Haroldo Barbosa - ano de 1961
luciano hortencio
Helena de Lima - NOTÍCIA DE JORNAL - samba de Luiz Reis e
Haroldo Barbosa. Ano de 1961. http://jornalggn.com.br/blog/lucianoh...
Samuel Machado Filho: Samba cujo verso final diz uma verdade: "a dor da
gente não sai no jornal". Foi um dos maiores sucessos de 1961, tendo
gravações por Cláudia Zimmer (quem seria?), Elizeth Cardoso e Helena de Lima,
esta aqui, lançada pela RGE em julho desse ano, no 78 rpm n.o 10324-B, matriz
RGO-2161, também integrando o LP "A voz e o sorriso de Helena de
Lima". Em 1975, Chico Buarque o reviveu num show que fez com Maria
Bethânia no extinto Canecão, do Rio de Janeiro, cujos melhores momentos foram
registrados em disco.
https://www.youtube.com/watch?v=_uEhuxn_HWQ
No link:
08 - Noticia De Jornal - Chico Buarque e Maria
Bethania Ao Vivo
Ellen Sena
Tentou contra a existência Num humilde barracão Joana de
tal, por causa de um tal João Depois de medicada Retirou-se pro seu lar Aí a
notícia carece de exatidão O lar não mais existe Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou Errou na dose Errou no amor Joana
errou de João Ninguém notou Ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da
gente não sai no jornal
https://www.youtube.com/watch?v=uGZv2FSVj8o
No link:
https://youtu.be/2wxe3fij_5M
Notícia de Jornal
Miltinho
https://www.letras.mus.br/miltinho/997478/
Agora É Cinza
Mário Reis
No link:
[REFRÃO:]
Você partiu
Saudades me deixou
Eu chorei
O nosso amor foi uma chama
Que o sopro do passado desfaz
Agora é cinza
Tudo acabado e nada mais
Você partiu de madrugada
E não me disse nada
Isto não se faz
Me deixou cheio de saudades e paixão
Não me conformo
Com a sua ingratidão
Chorei porque você...
[REFRÃO]
Agora desfeito o nosso amor
Eu vou chorar de dor
Não posso esquecer
Vou viver distante dos seus olhos
Oh, querida, nem me deu
Um adeus de despedida
[INTERVALO INSTRUMENTAL]
[REFRÃO]
Compositor: Bide / Marçal
https://www.vagalume.com.br/mario-reis/agora-e-cinza.html
No link:
AGORA É CINZA - MÁRIO REIS E OS DIABOS DO CÉU
18 de jul. de 2016
Antônio Bocaiúva
MÁRIO REIS E OS DIABOS DO CÉU LP REMINISCÊNCIAS = VOL. 5
RCA CANDEM MÁRIO REIS – LP RCA CAMDEN 1967 MÁRIO REIS – LP AO MEU RIO – 1965
TEH MUSIC OF BRAZIL: ARMANDO MARÇAL E BIDE – BLACK ROUND RECORDS 2009 LP OS
GRNDES SAMBAS DA HISTÓRIA ORQUESTRA OS DIABOS DO CÉU – PIXINGUINHA Samba de
Bide e Marçal para o carnaval de 1934, gravação de Mário Reis. Sucesso
absoluto! 01 Victor 33.728 - AGORA É CINZA - samba - Marçal/Bide – Mário Reis
Lançado no carnaval de 1934 na Escola de Samba Recreio de Ramos, Rio de Janeiro.
AGORA É CINZA Nome original: Tu Partiste e tinha apenas uma parte. Tu partiste
Com saudades eu fiquei O nosso amor foi uma chama Que o sopro do passado desfez
Agora é cinza Tudo acabou e nada mais (Bide e Marçal: Alcebíade Barcelos e
Armando Vieira Marçal ) Você partiu, Saudades me deixou, Eu chorei, O nosso
amor foi uma chama, O sopro do passado desfaz, Agora é cinza, Tudo acabado e
nada mais! Você, Partiu de madrugada, E não me disse nada, Isso não se faz, Me
deixou cheio de saudade, E paixão, Não me conformo, Com a sua ingratidão.
(Chorei porque) Agora desfeito o nosso amor Eu vou chorar de dor Não posso
esquecer Vou viver distante dos seus olhos Oh, querida, nem me deu Um adeus de
despedida (Chorei porque) Vídeo editado por Antônio Augusto dos Santos, Antônio
Bocaiuva ou Antaugsan, sem fins lucrativos ou comerciais. Fotos e imagens da
Internet. Bocaiuva, Divinópolis, Minas Gerais. Em 18/07/2016 – In memoriam do
amigo Joaquim Vieira de Andrade, da cidade de Oliveira, MG. Certa vez, melhor
dizendo, em 2005, na casa dele, ouvimos Agora é Cinza, na voz de ário Reis.
Quando terminou, ele disse: Eta sambinha bão, sô! O meu amigo talvez nem mais
seja cinza! Mais informações sobre a música: http://www.samba-choro.com.br/artista... Se
alguém, autor ou detentor de direitos autorais sobre a música, julgar-se
prejudicado em direitos autorais, favor entrar em contato comigo pelo e-mail
bocayuvamaster@gmail.com que, se for o caso de direito, a música será retirada.
Obrigado.
Música neste vídeo
Saiba mais
Música
Agora É Cinza
Artista
Mário Reis;Orquestra Diabos Do Ceu
https://www.youtube.com/watch?v=9gBgHQkSyCY
No link:
1933 - Elsa Soares - Agora é Cinza - Marçal e
Bide
Música lançada nos ensaios da Escola de Samba Recreio de
Ramos, da qual Marçal era vice-presidente, para o carnaval de 1933 com o título
de "Tu partiste", mas foi modificada pelo parceiro Bide (Alcebíades
Barcelos) tendo ficado com o nome "Agora é cinza". O compositor e
ritmista Armando Vieira Marçal nasceu em 14/10/1902 no Rio de Janeiro e faleceu
em 20/6/1947. Formou com Bide um das mais importantes duplas de compositores de
samba da primeira metade do século passado. Ofereceram duas músicas ao grande
cantor Mario Reis: "Durmo Sonhando" e "Agora é cinza" que
deixou Francisco Alves escolher qual preferia cantar. Chico Alves escolheu a
primeira e Mario Reis ficou com a segunda que fez enorme sucesso no carnaval de
1934 ao contrário da outra. "Agora é cinza" foi eleita por um juri de
críticos em 1975, convocados por Marcus Pereira, como "o melhor samba de
todos os tempos". Elza da Conceição Soares nasceu em 23/6/1937 no Rio de
Janeiro. Em 1953 fez sei primeiro teste na Rádio Tupi no programa
"Calouros em desfile" de Ary Barroso, interpretando "Lama"
de Paulo Marques e Alice Chaves, tendo recebido o premio de primeiro lugar. Foi
crooner da Orquestra Garam de Bailes, do maestro Joaquim Naegli. Em 1958 viajou
para a Argentina com a Cia. de Mercedes Batista. Ao voltar em 1959 foi
contratada por Walter Silva para cantar na Rádio Vera Cruz. Conheceu Moreira da
Silva que a levou para cantar no Texas Bar em Copacabana e la´conheceu Silvinha
Teles e Aloísio de Oliveira que a convidou a gravar seu primeiro disco:
"Se acaso você chegasse" de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins.
Foi para São Paulo em 1960 trabalhar no show "Festival Nacional de Bossa
Nova' da TV Record e na Boate Oasis. Gravou então seu primeiro LP "Se
acaso você chegasse" música que ficou sendo sua marca registrada. Em 1962
fez apresentações como representante do Brasil no Chile durante o Campeonato
Mundial de Futebol onde começou um romance com o jogador Garrincha, com quem
viria a se casar. Tem sido uma grande cantora de samba e com sua maneira
peculiar de cantar deu forma nova à interpretação de samba, chegando mesmo a
ter seu estilo chamado de "bossa negra" para implicar com a elite da
"bossa branca" feita pelos riquinhos da zona sul do Rio de Janeiro.
Recebeu inúmeros premios por sua maneira de cantar e pelo sucesso e consagração
junto ao público brasileiro. Fonte: http://www.paixaoeromance.com/30decad...
https://www.youtube.com/watch?v=OXgbQqD1kN8
Foi Ela
Francisco Alves
No link:
Quem quebrou meu violão de estimação
Foi ela!
Quem fez do meu coração seu barracão
Foi ela!
E depois me abandonou, ô, ô, ô, ô Minha casa se despovoou
Quem me fez tão infeliz só porque quiz
Foi ela!
Foi um sonho que findou, ô, ô, ô, ô
Um romance que acabou, ô, ô,ô, ô
Quem fingiu gostar de mim até o fim
Foi ela!
https://www.letras.com.br/francisco-alves/foi-ela
Maria Rosa
Francisco Alves
No link:
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão ?
A conheci quando moça era um anjo de formosa
Seu nome: maria rosa, seu sobrenome: paixão
s trapos de suas vestes não é só necessidade
Cada um, para ela, representa uma saudade
Ou de um vestido de baile, ou de um presente , talvez
Que algum dos seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia maria por a fantasia de tempos passados
Por em sua galeria uns novos apaixonados
Esta mulher que outrora a tanta gente encantou
Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
E então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção
Mandou fazer essa capa de recordação
Vocês marias de agora, amem somente uma vez
Prá que mais tarde esta capa não sirva em vocês. (bis)
https://www.letras.mus.br/francisco-alves/1744398/
No link:
MARIA ROSA - ELIS REGINA
Antônio Bocaiúva
ELIS REGINA (Elis Regina Carvalho
Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945 — São Paulo, 19 de janeiro de 1982m,
foi uma cantora brasileira.) LP ELIS PHILIPS 1998 Músicos: Cesar Camargo
Mariano : Piano Luizão Maia : Baixo Elétrico Natan Marques : Guitarra Toninho
Pinheiro (Antônio Pinheiro Filho) : Bateria MARIA ROSA (Lupicínio Rodrigues e
Alcides Gonçalves) Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos Vestindo
farrapos calçando tamancos Pedindo nas portas pedaços de pão? A conheci quando
moça era um anjo de formosa Seu nome: Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão Os
trapos de sua veste não é só necessidade Cada um representa para ela uma
saudade De um vestido de baile, ou de um presente, talvez Que algum dos seus
apaixonados lhe fez Quis certo dia maria por a fantasia de tempos passados Ter
em sua galeria uns novos apaixonados Esta mulher que outrora a tanta gente
encantou Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou Então dos velhos
vestidos que foram outrora sua predileção Mandou fazer essa capa de recordação Vocês
marias de agora, amem somente uma vez Pra que mais tarde esta capa não sirva em
vocês RHP Vídeo sem fins lucrativos ou comerciais, editado por Antônio Augusto
dos Santos, com fotos e imagens da Internet e do Pinterest. Antônio Bocaiuva,
antaugsan, Divinópolis, Bocaiuva, Minas Gerais, 31/08/2019
https://www.youtube.com/watch?v=InzhEChwYNw
Maria Rosa
Lupicínio Rodrigues
No link:
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão?
A conheci quando moça era um anjo de formosa
Seu nome é Maria Rosa, seu sobrenome: Paixão
Os trapos de sua veste não é só necessidade
Cada um para ela representa uma saudade
Ou de um vestido de baile, ou de um presente, talvez
Que algum dos seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia Maria por a fantasia de tempos passados
Pôr em sua galeria uns novos apaixonados
Esta mulher que outrora a tanta gente encantou
Nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou
Então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção
Mandou fazer essa capa de recordação
Vocês marias de agora, amém somente uma vez
Pra que mais tarde esta capa não sirva em vocês
Composição: Alcides Gonçalves / Lupicínio Rodrigues.
https://www.letras.mus.br/lupcinio-rodrigues/206970/
O protagonista invisível do texto
jornalístico |
Por Dario Ribeiro |
Tentou contra a existência (“Notícia de Jornal”, de Luís Reis e Haroldo Barbosa) Existem, nesta obra, três narradores diferentes. No
primeiro parágrafo, o narrador é um mero leitor, que nos noticia a seguinte
nota jornalística (em adaptação livre): “Tentou contra a existência, num humilde barracão, Joana
de tal, por causa de um tal João. Depois de medicada, retirou-se pro seu
lar.” A nota é simples: Joana, uma mulher pobre, tentou sem
sucesso se matar por causa de uma desilusão amorosa. O último verso, segundo
o qual ela teria retornado ao seu lar, serve de gancho para o surgimento do
segundo narrador. Agora, em vez de mero leitor, temos um narrador crítico,
observador, que comenta a notícia lida: “Aí, a notícia carece de exatidão. O lar não mais existe;
ninguém volta ao que acabou. Joana é mais uma mulata triste, que errou.” O narrador-comentarista se concentra, justamente, naquilo
que foi deixado de lado pelo hipotético jornalista: quem é Joana? Pra onde
ela foi? Percebemos, aqui, que a falta de exatidão da notícia está, também,
na descrição de seus personagens. As expressões “Joana de tal” e “tal João” demonstram,
claramente, o descuido do jornalista para com os protagonistas de sua
matéria. Para investigar a fundo a vida de Joana, sua história, seus erros e
sua dor, resta ao eu-lírico — que não mais encontra informações no jornal — o
recurso do narrador onisciente. Novamente, o último verso é o gancho para o
novo narrador: “Errou na dose, errou no amor. Joana errou de João.
Ninguém notou, ninguém morou na dor, que era o seu mal.” Temos, agora sim, a história de Joana, uma mulata que era
triste pelo seu mal-sucedido casamento. Se ela errou ao casar-se com João,
errou, também, ao lhe dar seu amor — traído ou não-correspondido —, errou na
dose deste amor e, por fim, errou na dose da substância que ingeriu para se
matar. Desta vez, o último verso serve como gancho para a
conclusão final. Se a dor, causa maior do suicídio — que, por sua vez,
motivou a notícia — não foi observada por ninguém, a conclusão resta
evidente. “A dor da gente não sai no jornal” E, se não sai, o que sai? O que descobre o repórter, no
seu campo de trabalho? O que ele observa, o que ele pensa, interpreta e, por
fim, escreve? Em geral, o jornalista deixa de lado a especificidade da vida
de uma pessoa para abranger o fenômeno da qual ela faz parte. Mesmo se esta pessoa for importante, interessa-lhe mais
as conseqüências que ela tem para a sociedade do que para si mesma. Questões
de foro íntimo são, de acordo com os manuais, irrelevantes. Se o desprezo pelo que é pessoal ajuda a preservar a
intimidade de uns, ele pode, por outros, ser entendido como exploração. Joãos
e Joanas de Tal tem, cotidianamente, seus dramas pessoais transformados em
meros exemplos de fenômenos sociais maiores. Tão pouco individual, tão extremadamente coletiva é a
luta de um jornalista, que nem mesmo por um grupo ele pode, em geral, vestir
a camisa. Depois de publicada uma matéria sobre “x”, pula-se para o assunto
“y”. Claro que o bom jornalista, assim como o bom leitor, se atenta a este
problema. Mais do que isso, o repórter, ao se envolver com os personagens de
suas matérias, sofre para abandoná-los. “Como é fazer isso com eles e consigo mesmo?”, perguntei
à jornalista Natália Viana. “É muito ruim. Eu procuro mostrar que o meu
trabalho, o meu compromisso, não é com eles, ali, mas com todos os grupos que
precisam de um espaço para falar, para ser ouvido. Olhando por esse viés, o
que eu peço é generosidade da parte deles com relação àqueles que também
necessitam do meu trabalho”. De fato, em se tratando de jornalismo social,
que lida com a população desassistida, não deve ser fácil pedir generosidade
àqueles com os quais toda a sociedade nunca foi lá muito generosa. |
https://www.pucsp.br/~outrojornalismo/sala/generos2006/pauta_livre/dario_ribeiro.html
A canção e a oralização:
sílaba, palavra e frase
(versão corrigida)
MARCELO SEGRETO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Gradução em
Semiótica e Linguística Geral do Departamento de Linguística da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para a
obtenção do título de Doutor em Linguística.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto de Moraes
Tatit
São Paulo
2019
RESUMO
SEGRETO, Marcelo. A canção e a oralização:
sílaba, palavra e frase. 2019. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 425 p.
A canção popular conquistou, desde o início do
século XX, uma significativa importância na sociedade brasileira. Sua presença
cultural marcante pode ser constatada, atualmente, pela grande quantidade de
publicações acadêmicas dedicadas ao assunto, ligadas às mais diversas áreas de
conhecimento. Nessa pesquisa, estudaremos a relação entre a composição e a
linguagem oral, adotando a abordagem da semiótica da canção desenvolvida por
Luiz Tatit (teoria que sistematiza os processos específicos da canção
vislumbrando-a como linguagem autônoma). Pretendemos, por meio da análise de
exemplos (bem como mediante a atividade de recriação linguística e melódica de
alguns deles), elucidar os diferentes graus de presença da fala na canção e as
diferentes formas de oralização. Examinaremos as suas sutis nuances entoativas
a partir de três patamares de análise (a sílaba, a palavra e a frase), tentando
esquadrinhar esse misterioso encontro entre a sua letra e a sua melodia.
Palavras-chave:
canção popular, música, semiótica da canção
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-26062019-103725/publico/2019_MarceloSegreto_VCorr.pdf
https://www.letras.com.br/francisco-alves/foi-ela
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