sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Entre paineiras e palmeiras

o branco das flores parece anunciar sossego, paz, persistência
🌸 Branco da Paz — À Vera, nas Margens do Paraibuna À beira do Rio Paraibuna, na Avenida Brasil, em Juiz de Fora (MG), uma árvore floresce em branco diante do muro do Museu Mariano Procópio. Ao fundo, o bairro Centenário se ergue no alto do morro, refletindo-se nas águas — como se o cotidiano da cidade se mirasse no espelho do próprio tempo. O instante foi captado após um treino matinal, quando o corpo ainda guardava o pulso da corrida e o olhar, desperto pelo esforço, reconheceu beleza onde a pressa costuma passar. Entre paineiras e palmeiras, o branco das flores parece anunciar sossego, paz, persistência. É o gesto silencioso da natureza urbana lembrando que a vida — mesmo entre muros, pontes e buzinas — ainda floresce à vera, de verdade.
🌍 Mapa da Ordem Global — Biruta do Poder Um mundo repartido entre MAGA, Putinsan e Xi-Taipei: vermelho, azul e dourado girando como biruta em ventania ideológica. Ian Bremmer compartilha o mapa “tão ruim que vale mostrar”, ironizando o desejo humano de reduzir a geopolítica a três cores e um slogan. Entre caricatura e alerta, a imagem espelha o absurdo de um planeta que ainda se divide — à vera — entre força, fé e fantasia de controle. Dona Ivone Lara & Beth Carvalho - FORÇA DA IMAGINAÇÃO - Caetano Veloso Dona Ivone Lara & Beth Carvalho - FORÇA DA IMAGINAÇÃO - Caetano Veloso. Album: Dona Ivone Lara - Bodas de Ouro. Ano de 1997. Música 1 músicas luciano hortencio 12 de jan. de 2013
Força da Imaginação Dona Ivone Lara Bodas de Ouro Música Esse texto é uma coluna de opinião escrita por Luiz Carlos Azedo, publicada no Blog do Azedo, do Correio Braziliense, em 31 de outubro de 2025, com o título: “Lula corre atrás do prejuízo depois de megaoperação contra traficantes no Rio.” 📄 Resumo e contexto A coluna analisa as consequências políticas da megaoperação policial no Rio de Janeiro, comandada pelo governador Cláudio Castro, que resultou em mais de 120 mortos — o maior número já registrado em uma ação desse tipo no Brasil. O autor argumenta que o episódio: Colocou Lula em uma posição delicada, pois confronta o discurso federal de direitos humanos com o avanço de uma narrativa militarizada e populista da segurança pública; Fortaleceu politicamente Cláudio Castro e outros governadores da oposição, que passaram a adotar o tema da segurança como eixo eleitoral e ideológico; Fez com que o governo federal reagisse tardiamente, sancionando uma lei de endurecimento penal proposta por Sergio Moro, adversário histórico de Lula; Gerou críticas internacionais, inclusive da ONU, por conta da alta letalidade e ausência de controle de abusos nas forças policiais. 🧩 Principais pontos destacados Cláudio Castro se apresentou como um “governador em guerra”, defendendo a operação como “proteção ao povo abandonado pelo Estado”. A oposição tenta redefinir o debate ao rotular o tráfico como “narcoterrorismo”, o que aproxima o discurso brasileiro da retórica trumpista de “law and order”. Lula tenta equilibrar duas agendas conflitantes: 🔹 Humanista — baseada em direitos humanos, inclusão e prevenção; 🔹 Militarizada — centrada em repressão e combate armado ao crime. O governo corre risco de perder o protagonismo político sobre a segurança pública para os estados e para a oposição. Há um impacto internacional negativo, especialmente porque o governo Lula busca reforçar a imagem do Brasil como defensor dos direitos humanos, de olho na COP30. 💬 Conclusão de Azedo Luiz Carlos Azedo conclui que Lula tenta “correr atrás do prejuízo” diante de uma pauta que foi capturada pela oposição, num momento em que o discurso da força parece mais popular do que o da ponderação. A operação, além de gerar graves questionamentos éticos e jurídicos, coloca o país em choque entre duas visões de segurança pública — e expõe a fragilidade da coordenação federal na área.
Lula corre atrás do prejuízo depois de megaoperação contra traficantes no Rio Publicado em 31/10/2025 - 06:28 Luiz Carlos Azedo Brasília, Comunicação, Congresso, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Memória, Política, Política, Rio de Janeiro, Segurança, Terrorismo, Violência Cláudio Castro apresentou-se como um governador “em guerra”, cercado por armas e cadáveres, e retratou sua ação como defesa do “povo abandonado pelo Estado” A megaoperação policial realizada pelo governo do Rio de Janeiro, sob comando de Cláudio Castro, expôs o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma das situações políticas mais delicadas de seu terceiro mandato. Retornando da Malásia, onde havia participado de uma cúpula diplomática e se reunido com Donald Trump, Lula foi surpreendido por uma operação que resultou em mais de 120 mortos — o maior número da história do país — e reacendeu a tensão entre o discurso federal de respeito aos direitos humanos e a escalada de combate ao “narcoterrorismo” defendida por governos estaduais e forças de segurança pública. O governador fluminense não apenas conduziu uma operação de grande envergadura militar, mas transformou-a em ato político. A reunião de governadores da oposição no Rio de Janeiro, Nesta quinta-feira, sinaliza que a pauta da segurança pública, sensível e popular, foi apropriada pela oposição como eixo de confronto direto com o governo federal. A proposta de tratar facções, como o Comando Vermelho e o PCC, como organizações terroristas reforça essa guinada discursiva, buscando ocupar o espaço deixado pela ausência de maior protagonismo federal na área. Cláudio Castro apresentou-se como um governador “em guerra”, cercado por armas e cadáveres, e retratou sua ação como defesa do “povo abandonado pelo Estado”. Sua retórica, “ou soma, ou suma”, não foi casual: traça uma fronteira entre os que combatem o crime e os que, em nome dos direitos humanos, supostamente seriam coniventes com ele. A narrativa foi absorvida por governadores do eixo Sul-Sudeste que enxergam na crise fluminense uma vitrine eleitoral e uma trincheira ideológica. Surpreendido e, sem instrumentos de coordenação imediata, Lula reagiu apenas dois dias depois, sancionando uma lei de endurecimento penal de autoria do senador Sergio Moro (União-PR), o ex-juiz da Lava-Jato que o condenou à prisão. A medida cria os crimes de “obstrução de ações contra o crime organizado” e “conspiração para obstrução” e foi publicada no Diário Oficial desta quinta-feira, quando poderia ter sido sancionada antes da viagem de Lula. Leia também: Lula sanciona lei que mira o coração do crime organizado Adversário direto de Moro, símbolo da Operação Lava-Jato, Lula foi pragmático. Entretanto, o Palácio do Planalto corre atrás do prejuízo, tenta recuperar espaço diante de uma agenda que foi capturada pela oposição. Lula e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, foram coadjuvantes de um episódio que mobilizou a mídia internacional, dividiu o país e colocou o tema da segurança de volta ao centro da disputa político-ideológica. Desde 2003, Lula tenta equilibrar uma visão social de segurança — baseada em prevenção, cidadania e inclusão — com a pressão por medidas repressivas. A operação no Rio, porém, impôs uma saia justa: diante da imagem de 120 mortos, o presidente precisava escolher entre condenar o método ou reconhecer a gravidade do inimigo. Optou por uma resposta ambígua: “Precisamos atingir a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”. Tenta conciliar duas agendas que se opõem: a humanista e a militarizada. Protagonismo O problema é que, no plano político, o discurso da ponderação raramente vence o da força quando o narcotráfico é um fator catalisador das opiniões. A exibição de armas e cadáveres valoriza quem demonstra ter o controle, no caso, Cláudio Castro. Diante da hesitação de Lula, o governador fluminense emergiu como “homem da ação”, enquanto o presidente parecia distante do problema. A operação foi duramente criticada pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU e por organizações brasileiras, que a classificaram como “chacina de Estado”. A ausência de informações sobre as câmeras corporais, a adoção do “muro do Bope” e a alta letalidade colocam o Brasil sob escrutínio internacional. Para um governo que se esforça para reconstruir a imagem do país como defensor dos direitos humanos — e que planeja sediar a COP30 sob a bandeira da sustentabilidade e da inclusão —, é uma péssima situação. O Itamaraty prega o “multilateralismo dos direitos”, e a operação afronta parâmetros definidos pelo Supremo Tribunal Federal (ADPF das Favelas). Leia mais: “Ideologia distorce o debate da segurança” A expressão “narcoterrorismo” — até então restrita a círculos de segurança — ganhou centralidade no debate nacional. Ao propor que as facções sejam tratadas como organizações terroristas, a oposição tenta redefinir o inimigo interno e criar um consenso repressivo. A estratégia tem inspiração explícita na política trumpista de “law and order”, reforçada pela aproximação simbólica entre Castro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a direita norte-americana. Para Lula, a narrativa é perigosa. Ao fundir criminalidade com terrorismo, o discurso desloca o debate da segurança para o campo da guerra — em que a lógica do direito é substituída pela da exceção. Se o governo federal adere a esse enquadramento, legitima a política do confronto e abdica da agenda dos direitos humanos; se a rejeita, é acusado de proteger bandidos. O governo ainda tenta articular a aprovação da PEC do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), porém, o projeto está sendo sequestrado pela oposição. A resistência dos governadores à centralização da política de segurança pela União enfraquece o projeto e impede a coordenação nacional que o Planalto defende. No vácuo deixado pela falta de protagonismo federal, os estados ocupam a cena com operações espetaculares, legitimadas por um sentimento de medo coletivo, com licença para matar. Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)Compartilhe no Google+(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela) #Castro, #Governadores, #Mortes, #Terrorismo, #Traficantes, Lula 'Prejuízo?????? Que prejuízo???? Segurança pública é competência do Estado" Excelente ponto — e essa é justamente a tensão central que o artigo do Azedo tenta explorar, embora ele use o termo “prejuízo” num sentido político, não administrativo ou jurídico. Vamos destrinchar isso 👇 ⚖️ 1. Segurança pública: de fato, é competência dos estados Você está absolutamente certo. Pela Constituição Federal (art. 144), a segurança pública é uma responsabilidade primária dos estados, através das polícias civil e militar. O governo federal atua de forma complementar, coordenando políticas nacionais (como o SUSP, Força Nacional, PF, PRF etc.), mas não comanda diretamente operações estaduais. Ou seja: Lula não tem responsabilidade operacional sobre a megaoperação no Rio. 🧩 2. Então, por que o autor fala em “prejuízo”? A expressão “corre atrás do prejuízo” no texto do Azedo é metafórica. Ele se refere a um prejuízo político e simbólico, não a uma falha administrativa. Em outras palavras: A operação de Cláudio Castro ganhou enorme visibilidade, com discurso de “ação e força”; A oposição (e parte da mídia) capitalizou isso, ocupando o debate público sobre segurança; O governo federal (Lula e Lewandowski) foi pego de surpresa, parecendo reagir tardiamente e sem protagonismo. 👉 Então o “prejuízo” é: a perda de narrativa e de liderança política num tema que mobiliza fortemente a opinião pública — a segurança. 🧠 3. O que Azedo sugere nas entrelinhas Ele argumenta que: Enquanto Castro apareceu como “homem da ação”, Lula ficou com o discurso de ponderação, que é menos popular em momentos de medo e insegurança; A oposição usou isso para construir uma narrativa nacional de enfrentamento (“narcoterrorismo”), deixando o Planalto na defensiva. 💬 Em resumo: Você está correto juridicamente — a segurança pública é, sim, competência estadual. Mas Azedo fala em “prejuízo” no plano político: Lula estaria perdendo controle do debate público e influência sobre a agenda nacional de segurança para os governadores da oposição. Se quiser, posso te mostrar como essa tensão entre competência formal e disputa política costuma aparecer em outros momentos (como nas crises de segurança do Ceará em 2019 ou na Bahia em 2022). Quer que eu monte esse paralelo? "A PEC da segurança está parada no CN, porquê???" Boa pergunta — aqui vai um resumo do que sabemos sobre por que a PEC 18/2025 (a chamada “PEC da Segurança Pública”) parece estar “parada” ou avançando mais lentamente no Câmara dos Deputados: Boa pergunta — aqui vai um resumo do que sabemos sobre por que a PEC 18/2025 (a chamada “PEC da Segurança Pública”) parece estar “parada” ou avançando mais lentamente no Câmara dos Deputados: ✅ O que é essa PEC A proposta foi apresentada em abril de 2025 pelo governo federal. Serviços e Informações do Brasil +2 Senado Federal +2 Propõe, entre outras coisas: a inclusão do Lei 13.675/2018 (o Lei 13.675 instituiu o Sistema Único de Segurança Pública – SUSP) na Constituição; alterar artigos da Constituição relativos à competência federativa (art. 21, 22, 23, 24, 144) para redefinir atribuições da União, estados, municípios em matéria de segurança pública. Portal da Câmara dos Deputados +2 Senado Federal +2 O governo diz que isso visa “dar status constitucional” ao SUSP, integrar e padronizar procedimentos de segurança, flexibilizar atuação das guardas municipais, etc. Serviços e Informações do Brasil +2 Senado Federal +2 ⚠️ Por que a tramitação está mais lenta do que se esperava Algumas razões principais: Complexidade federativa e disputa de atribuições A PEC muda o balanço entre União, estados e municípios em segurança pública — tema sensível, pois envolve soberania estadual, autonomia das polícias estaduais, guardas municipais etc. Congresso em Foco +1 Governadores e secretários estaduais de segurança têm criticado a proposta por temerem que a União centralize demais. Rádio Pampa +1 Tramitação dentro das comissões Após apresentação, a PEC seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, foi aprovada lá, e segue para comissão especial de mérito. Congresso em Foco +1 Está “aguardando parecer do relator” e a instalação/avaliação final da comissão especial. Portal da Câmara dos Deputados +1 Ganhos simbólicos x urgência prática Apesar de ser um tema com alta visibilidade (segurança pública), há divergência sobre como o texto deve ficar, quais poderes a União terá, qual papel dos estados, guardas municipais, fundos etc. Isso faz com que haja debates prolongados. Senado Federal Também há a percepção de que, embora urgente, a proposta não “resolve de imediato” os problemas operacionais que estão na frente — o relator mesmo reconheceu limitações. Senado Federal Contexto político e “disputa de pauta” A segurança virou tema de embate entre governo federal e estados/oposição — isso pode atrasar acordos e compromissos. CNN Brasil +1 Um episódio recente (como a megaoperação no Rio) reacendeu o debate, mas também evidenciou que a PEC está “pronta para votação mas ainda não finalizada”. aosfatos.org 📌 Portanto: “Por que está parada?” Simplificando: Porque ainda está em fase de comissão especial, aguardando parecer e ainda sujeita a muitos debates/negociações. Porque o tema toca em competências federativas sensíveis, o que gera resistência e requer articulação política. Porque existe uma “corrida de narrativa” política — o governo quer mostrar que age; estados querem preservar autonomia; então há pressão de todos os lados. Porque apesar da urgência simbólica, transformar essas proposições em texto constitucional que “dê conta de tudo” leva tempo. Sobre qual pretexto? Tirar autonomia dos governadores? Balela, mentira Sua leitura é bem pertinente — e, de fato, há um componente político forte nessa narrativa de que a PEC da Segurança tiraria autonomia dos governadores. Vamos separar o que é técnico (jurídico) e o que é retórico (político), pra ver o que realmente está em jogo 👇 ⚖️ 1. Tecnicamente falando A PEC do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) não elimina a autonomia dos estados. Ela propõe dar status constitucional àquilo que já existe desde 2018 na Lei 13.675, que criou o SUSP — uma estrutura de cooperação federativa, não de subordinação. 👉 Em termos práticos: A União não passa a mandar nas PMs ou Polícias Civis; O que muda é o nível de coordenação, para permitir planejamento conjunto, integração de dados, padronização de protocolos e uso compartilhado de recursos e inteligência. Ou seja: não tira autonomia, mas exige mais articulação e transparência. 🧠 2. Então por que dizem que “tira autonomia”? Aí entra o jogo político. Governadores e bancadas da oposição (especialmente do Sul-Sudeste) têm usado essa narrativa como bandeira política, com base em dois medos: Que o governo federal centralize o discurso da segurança e roube protagonismo local; Que, ao constitucionalizar o SUSP, a União possa condicionar repasses de verba ao cumprimento de metas definidas por Brasília (como uso de câmeras corporais, redução de letalidade, etc.). Mas nada no texto da PEC dá ao Planalto poder de intervenção direta nas forças estaduais — seria inconstitucional sem uma emenda muito mais ampla. O discurso de “ameaça à autonomia” é, portanto, estratégico, não jurídico. 🗣️ 3. O “pretexto” real O que parece estar por trás da resistência é: Disputa de protagonismo político: quem “fala” em nome da segurança — o Planalto ou os estados? Controle de recursos: a PEC criaria mecanismos de gestão compartilhada do Fundo Nacional de Segurança Pública, o que reduz a liberdade dos estados para usar esses recursos sem alinhamento federal. Narrativa eleitoral: segurança pública é um dos temas mais populares do país; quem dominar o discurso ganha votos. Então, quando dizem que “tira autonomia”, o que realmente querem dizer é: “O governo federal quer participar mais das decisões e do discurso de segurança — e isso pode tirar visibilidade dos governadores.” 🔍 Em resumo: Não, a PEC não tira a autonomia formal dos estados — isso é balela jurídica. Sim, ela cria instrumentos de coordenação e monitoramento, que incomodam quem quer manter o tema como reduto político estadual. O “pretexto” é usado para manter o controle político e simbólico da pauta da segurança, não porque há risco real de centralização. Quer que eu te mostre, em linguagem simples, o que exatamente o texto da PEC muda na Constituição (artigos 21, 22, 23, 144 etc.) pra ver como isso se compara com o que dizem os críticos? Posso te ajudar a entender e contextualizar o discurso, mas não posso endossar nem promover falas de políticos ou conteúdos partidários — especialmente se o vídeo envolve opiniões políticas, religiosas ou polarizadas.
Paineira-branca, variedade menos comum, com flores brancas, no parque Ceret, em São Paulo, no Brasil 🌸 Branco da Paz — À Vera, nas Margens do Paraibuna À beira do Rio Paraibuna, na Avenida Brasil, em Juiz de Fora (MG), uma árvore floresce em branco diante do muro do Museu Mariano Procópio. Ao fundo, o bairro Centenário se ergue no alto do morro, refletindo-se nas águas — como se o cotidiano da cidade se mirasse no espelho do próprio tempo. O instante foi captado após um treino matinal, quando o corpo ainda guardava o pulso da corrida e o olhar, desperto pelo esforço, reconheceu beleza onde a pressa costuma passar. Entre paineiras e palmeiras, o branco das flores parece anunciar sossego, paz, persistência. É o gesto silencioso da natureza urbana lembrando que a vida — mesmo entre muros, pontes e buzinas — ainda floresce à vera, de verdade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

VOLTA REDONDA

Volta Redonda? Entre o aço da ordem e o batuque da vida: uma leitura político-cultural da segurança pública, da imprensa e do humor brasileiro Por [Blecaute Redondo] I. Samba, política e a busca pelo sossego “Quem quer sossego / não procura onda / eu vou pra Volta Redonda!” Quando Blecaute lançou essa marchinha em 1959, o Brasil trocava o samba das avenidas pelo concreto de Brasília. A capital mudava, mas a alma do país continuava a mesma: dividida entre o desejo de progresso e o medo da bagunça. Mais de meio século depois, esse refrão ganha novo sentido. Em outubro de 2025, duas colunas jornalísticas — “A equidistância de Lula da tragédia de segurança pública no Rio”, de José Casado (Veja), e “Cláudio Castro assume sua necropolítica com o conceito de narcoterrorismo”, de Luiz Carlos Azedo (Correio Braziliense) — voltam a colocar o Rio no centro do debate nacional. De um lado, o silêncio; de outro, o tiro. Entre o mutismo presidencial e a retórica bélica estadual, o Brasil parece reviver a marchinha de Blecaute: procurando sossego em meio às ondas da história. II. A Veja e o silêncio do poder Na leitura de José Casado, Lula é o personagem de uma tragédia moral. O jornalista narra, com a precisão de quem conhece os bastidores, a demora de quase 24 horas para que o presidente se manifestasse sobre a operação policial que deixou dezenas de mortos no Rio. Para Casado, o atraso não é apenas comunicacional — é simbólico. O silêncio seria sinal de equidistância política e emocional, um descolamento entre o líder e o sofrimento popular. A Veja assume aqui seu lugar tradicional: o da crítica à omissão e à falta de comando. A segurança pública surge como prova de autoridade — o teste que separa estadistas de espectadores. O problema não é a violência do Estado, mas a ausência dele. O texto, enxuto e irônico, funciona como cobrança pública: exige voz, gesto, presença. É o jornalismo que cobra o grito antes do lamento. III. O Correio Braziliense e o grito da necropolítica Luiz Carlos Azedo, por sua vez, escreve em tom grave, quase elegíaco. Seu artigo denuncia o discurso de Cláudio Castro, que celebrou a letal operação policial como ato heroico. Para Azedo, o governador rompe com os paradigmas constitucionais de 1988 ao introduzir o conceito de “narcoterrorismo” — termo importado da doutrina norte-americana para legitimar a guerra interna e o uso irrestrito da força. Azedo cita Achille Mbembe e o conceito de necropolítica: o poder soberano que decide quem deve viver e quem pode morrer. No Rio de Janeiro, diz o autor, essa doutrina ganha forma e apoio popular. Os mortos das favelas são reclassificados como inimigos; o Estado assume a prerrogativa de eliminar e não de proteger. O artigo é uma crônica da barbárie com vocabulário de tese — e, ao mesmo tempo, um manifesto em defesa dos direitos humanos. Enquanto Casado cobra ação, Azedo cobra limite. Um fala ao cidadão do medo; o outro, ao cidadão do luto. Entre os dois, o leitor compreende a encruzilhada brasileira: quando o Estado fala, mata; quando se cala, consente. IV. Dois sambas opostos, um mesmo compasso Colocados lado a lado, os textos formam um curioso dueto. Casado representa o jornalismo de cobrança — aquele que pede mais Estado. Azedo pratica o jornalismo de denúncia — aquele que teme o Estado demais. Ambos, porém, tocam o mesmo ritmo: a melodia desafinada da segurança pública brasileira, em que a vida é nota dissonante e a justiça, contracanto. No primeiro samba, falta liderança; no segundo, sobra chumbo. No meio do salão, o povo dança — entre a marcha e a marchinha, entre a lei e o improviso. É o velho desfile da política nacional: os mesmos carros alegóricos de sempre, com novas fantasias de poder. V. Volta Redonda como metáfora No refrão de 1959, “Volta Redonda” era o destino de quem buscava paz fora da confusão da Guanabara. Mas o símbolo resiste: a “Cidade do Aço” representa a utopia do equilíbrio — nem a moleza do mar, nem o rigor da tropa. Hoje, essa metáfora ganha novo brilho: talvez o Brasil precise, de novo, voltar a Volta Redonda, procurar o meio-termo entre o ferro e o samba. Afinal, o país parece sempre oscilando entre o silêncio cúmplice e o barulho mortal. A marchinha, com seu humor terno e zombeteiro, recorda que o riso também pode ser resistência — e que criticar o poder pode, sim, rimar com alegria. VI. Epílogo: marchas e marchinhas “Quem quer sossego / não procura onda...” O verso de Blecaute soa hoje como conselho e ironia. Entre marchas fúnebres de operações e marchinhas críticas de cronistas, o Brasil continua a dançar. A Veja exige o compasso da autoridade; Azedo, o da consciência. Ambos, sem saber, marcam o ritmo de um mesmo desfile: o da democracia tentando sambar entre a espada e o pandeiro. E enquanto o país busca seu passo certo, resta o refrão — redondo, resiliente, inquebrável: “Eu vou pra Volta Redonda!” Referência musical: 🎵 Blecaute – Volta Redonda (1959) Marcha de Estanislau Silva, Rosa de Oliveira e Oldemar Magalhães – Copacabana, 78 rpm. "Quem quer sossego Não procura onda Eu vou pra Volta Redonda!" Blecaute - VOLTA REDONDA - marchinha - Carnaval 1959 Blecaute - VOLTA REDONDA - 78 rpm Copacabana "Quem quer sossego Não procura onda Eu vou pra Volta Redonda! II O Rio já encheu Pra mim não dá mais pé Eu vou pra Volta Redonda Que aqui no Rio Só se encontra jacaré..." "Volta Redonda", marcha de Estanislau Silva, Rosa de Oliveira e Oldemar Magalhães, com Blecaute, Copacabana: 5.963/B - C a r n a v a l de 1 9 5 9. Oldemar Magalhães, (1913 - 1990), Oldemar Teixeira Magalhães. Compositor. Radialista. Assina músicas como Oldemar Magalhães, Castelo, Tex, Teixeira.-
A equidistância de Lula da tragédia de segurança pública no Rio Por José Casado ( @casado_oficial ) 9:21 AM · 30 de out de 2025
Cláudio Castro assume sua necropolítica com o conceito de “narcoterrorismo” Publicado em 30/10/2025 - 07:05 Luiz Carlos Azedo Brasília, Colômbia, Comunicação, Congresso, Economia, Eleições, Ética, EUA, Geografia, Governo, Guerra, Justiça, Juventude, Literatura, Memória, México, Nicarágua, Partidos, Política, Política, Rio de Janeiro, Segurança, Terrorismo, Violência OK O termo “narcoterrorista” desloca o crime do âmbito penal para campo da segurança nacional. É importado da doutrina norte-americana da “narcoguerra”. usada na Colômbia e no México para o emprego das Forças Armadas O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, rompeu de forma explícita com os paradigmas de segurança pública estabelecidos pela Constituição de 1988. Ao comentar a Operação Contenção, deflagrada no Complexo do Alemão e da Penha — a mais letal da história do estado, com 121 mortos —, Castro sintetizou os resultados do conceito de narcoterrorismo: “Temos muita tranquilidade de defendermos tudo que fizemos ontem. Queria me solidarizar com as famílias dos quatro guerreiros que deram a vida para salvar a população. De vítima, ontem, lá, só tivemos esses policiais.” A frase é mais que uma defesa corporativa. Ao tratar os mortos como “narcoterroristas”, Castro inaugura no Brasil uma retórica que substitui a segurança pública pela lógica da guerra interna. Em nome da “defesa da população”, o Estado reivindica o poder de decidir quais vidas são protegidas e quais podem ser eliminadas. A operação de “cerco e aniquilamento”, do ponto de vista militar, foi bem-sucedida. Mas não desarticula o tráfico de drogas nem recupera o território, porque a violência volta à “normalidade” e, geralmente, as milícias ocupam o espaço dos traficantes no controle da economia informal. O uso do termo “narcoterrorista” desloca o problema do crime do âmbito penal para campo da segurança nacional. É uma palavra importada da doutrina norte-americana da “narcoguerra”, usada na Colômbia e no México para justificar o emprego das Forças Armadas e a suspensão de garantias legais. Quando Castro adota esse enquadramento, ele rompe a fronteira entre direito e exceção. A favela deixa de ser território civil e passa a ser tratada como teatro de operações militares. A consequência imediata é a militarização ampliada da política de segurança, legitimando mortes em massa e esvaziando o controle judicial. Leia também: Governadores de oposição articular aprovação de PL que equipara facções a terroristas O conceito de “narcoterrorismo” não existe no ordenamento jurídico brasileiro. Seu uso político é uma manobra simbólica, que transforma o criminoso em inimigo absoluto e o Estado em autoridade soberana sobre a vida e a morte. Obviamente, é uma ruptura de acordo com o ideário da extrema-direita brasileira, que Cláudio Castro (PL) representa. Trata-se, como aponta o sociólogo Pedro Cláudio Cunca Bocayuva Cunha, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de uma forma de necropolítica: “O governo da morte como instrumento de poder”. Segundo Bocayuva, conceitualmente, a necropolítica é o regime em que “o medo e a crueldade se tornam dispositivos de governo”. No caso do Rio, o “narcoterrorismo” fornece a gramática perfeita para que o governo adote a violência extrema nos confrontos com os traficantes, num contexto de guerra aberta na qual não há “suspeitos” nem “cidadãos em conflito com a lei”: são inimigos mesmo, que precisam ser fisicamente eliminados, em confrontos diretos e, muitas vezes, execuções sumárias. Com amplo apoio popular, é uma forma de combate que elimina qualquer possibilidade de direito. Cartografia da morte O balanço da Defensoria Pública do Rio de Janeiro não deixa dúvida do êxito da operação, do ponto de vista da letalidade: 117 civis mortos para quatro agentes do Estado. Para o governador, só há quatro vítimas — os policiais. As outras mortes são tratadas como estatísticas colaterais, sem direitos a serem preservados. É a tradução literal da necropolítica: o Estado não apenas mata, mas escolhe quem merece ser chorado. Leia mais: Rio conta corpos da mais letal ação policial do país Bocayuva chama isso de “cartografia da morte” — uma geografia social em que o território periférico e o corpo negro são administrados como zonas de exceção. A militarização urbana, a naturalização da crueldade e a ausência de políticas de memória e reparação formam o tripé desse poder necropolítico. Enquanto Castro exibia orgulho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com perplexidade e indignação. Em viagem oficial ao Sudeste Asiático, foi informado da operação apenas ao retornar ao Brasil. Reuniu-se de emergência com seus ministros, “estarrecido” com o número de mortos e com o fato de o governo federal não ter sido avisado. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, foi enviado ao Rio para acompanhar a crise e cobrar explicações. O contraste entre o discurso de Castro e a reação de Lula simboliza duas concepções opostas de Estado: uma que se ancora na lógica da exceção, outra na Constituição de 1988. Quando o governador diz “ou soma no combate à criminalidade ou suma”, ele não apenas desafia o governo federal — nega a própria ideia de política como espaço de mediação, substituindo o diálogo pela força. Por óbvio, não faz isso por acaso. Há uma disputa no imaginário da sociedade pela bandeira de ordem, que o governo federal tenta recuperar com a PEC do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que endurece as penas para os chefões do tráfico, encalhada na Câmara por pressão dos governadores de oposição, entre os quais Castro. Na teoria de Achille Mbembe, autor do conceito, a necropolítica define o poder soberano como aquele que decide “quem deve morrer e quem pode viver”. No Rio, Cláudio Castro assumiu essa prerrogativa de modo explícito, revestido de legitimidade moral e linguagem popular. O “narcoterrorista” é um ser fora da lei, cuja eliminação é um ato heroico e patriótico, onde as favelas e comunidades periféricas se confundem com o campo de batalha. É o mesmo mecanismo simbólico que sustentou a guerra suja na Colômbia e a guerra perdida no México. Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo Compartilhe: Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)Compartilhe no Google+(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela) #Castro, #Direito, #drogas, #Narcoguerra, #segurança, Lula

terça-feira, 28 de outubro de 2025

FORAM SETE MINUTOS

🕊️ A ETERNIDADE EM CINCO MINUTOS / LA ETERNIDAD EN CINCO MINUTOS 👆 Em 28 de outubro de 2025, o jornal argentino Clarín noticiou uma megaoperação policial no Rio de Janeiro sob a manchete "No es Gaza, es Rio de Janeiro" (Não é Gaza, é Rio de Janeiro). A reportagem, que gerou grande repercussão, fazia uma comparação entre a violência urbana na cidade carioca e o cenário de conflito na Faixa de Gaza. O ataque policial, que ocorreu nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha, na Zona Norte, deixou 64 mortos, sendo a operação mais letal da história do Rio de Janeiro. No mesmo dia, o jornal argentino compartilhou um vídeo em suas redes sociais mostrando o momento em que traficantes atacaram a polícia com um drone. Pontos-chave da reportagem e da operação: Megaoperação: A ação foi a maior contra o narcotráfico na história da cidade, com cerca de 2.500 agentes das forças de segurança, e teve como alvo a facção criminosa Comando Vermelho. Confrontos intensos: Durante a operação, traficantes montaram barricadas com veículos e usaram drones para resistir ao avanço policial. Repercussão internacional: A operação foi amplamente divulgada pela imprensa internacional, com veículos como a BBC, Euronews e o próprio Clarín relatando o alto número de mortos. Críticas e contexto: Organizações de direitos humanos criticaram a letalidade da operação, questionando a eficácia da abordagem policial e o impacto na população das favelas. A violência no Rio de Janeiro e a disputa territorial entre facções criminosas são problemas crônicos que o Clarín destacou em sua cobertura. Clarín - El momento en que los narcos contraatacan con un dron https://clar.in ... Facebook Historic anti-drug operation in Rio de Janeiro leaves at least 64 dead. YouTube·MILENIO 1:00 Megaoperação contra Comando Vermelho no Rio tem 64 mortos e 81 presos - BBC BBC Te Recuerdo Amanda Victor Jara Te recordo Amanda Te Recuerdo Amanda Te recordo Amanda Te recuerdo Amanda A rua molhada La calle mojada Correndo à fábrica onde trabalhava Manuel. Corriendo a la fábrica donde trabajaba Manuel O sorriso largo, a chuva no cabelo, La sonrisa ancha, la lluvia en el pelo Não importava nada No importaba nada Vais encontrar-se com ele, Ibas a encontrarte con él Com ele, com ele, com ele Con él, con él, con él, con él São cinco minutos Son cinco minutos A vida é eterna, La vida es eterna Em cinco minutos En cinco minutos Soa a sirene Suena la sirena De volta ao trabalho De vuelta al trabajo E tu caminhando iluminas tudo Y tu caminando lo iluminas todo Os cinco minutos Los cinco minutos Te fazem florescer Te hacen florecer Te recordo, Amanda, Te recuerdo Amanda A rua molhada La calle mojada Correndo à fábrica Corriendo a la fábrica Onde trabalhava Manuel Donde trabajaba Manuel O sorriso largo La sonrisa ancha A chuva no cabelo La lluvia en el pelo Não importava nada, No importaba nada Vais encontrar-se com ele, Ibas a encontrarte con él Com ele, com ele, com ele, com ele Con él, con él, con él, con él Que partiu para a serra Que partió a la sierra Que nunca fez mal, Que nunca hizo daño Que partiu para a serra Que partió a la sierra E em cinco minutos, Y en cinco minutos Foi destruído Quedó destrozado Soa a sirene Suenan las sirenas De volta ao trabalho De vuelta al trabajo Muitos não voltarão Muchos no volvieron Tampouco Manuel Tampoco Manuel Te recordo Amanda Te recuerdo Amanda A rua molhada La calle mojada Correndo à fábrica, Corriendo a la fábrica Onde trabalhava Manuel. Donde trabajaba Manuel Composição: Victor Jara. O Museu do Louvre foi alvo de um roubo de joias em outubro de 2025 que durou apenas sete minutos, impactando o "orgulho francês" pela perda de patrimônio histórico. Entre as peças roubadas estavam joias da realeza francesa, incluindo itens da coleção de Napoleão e de imperatrizes, com uma coroa de diamantes posteriormente encontrada e outras peças avaliadas em mais de R$ 550 milhões. Para mais detalhes, assista ao vídeo no YouTube. Louvre fecha por roubo: joias da coleção de Napoleão podem ter sido levadas | AGORA CNN CNN Brasil 19 de out. de 2025 #CNNBrasil O Louvre, o museu mais visitado do mundo, localizado em Paris, na França, fechou neste domingo (19) após um assalto. O Ministério do Interior do país afirmou que joias foram roubadas. #CNNBrasil Leia mais: https://www.cnnbrasil.com.br/internac...
O Roubo da Coroa: A audácia que abalou o Louvre e mobilizou a França Uma reportagem sobre o assalto cinematográfico ao museu mais famoso do mundo e os bastidores da cobertura jornalística e fotográfica do caso Por [Seu Nome] Com base em reportagem de Mônica Weinberg (Veja, edição nº 2967, 24 de outubro de 2025) e foto de Dimitar Dilkoff (AFP) O crime que chocou Paris Foram apenas sete minutos — tempo suficiente para causar um prejuízo incalculável e ferir o orgulho francês. Às 9h30 da manhã de domingo, 19 de outubro de 2025, dois homens escalaram o prédio do Museu do Louvre, em Paris, utilizando um caminhão com escada de mudança. O objetivo: invadir a Sala de Apolo, onde estão guardadas as joias históricas da antiga monarquia francesa. Ali, peças que pertenciam a Luís XIV, o “Rei Sol”, e à imperatriz Eugênie, esposa de Napoleão III, eram atração constante de turistas. Em plena luz do dia, os criminosos agiram com precisão e fugiram levando diamantes e coroas de valor histórico e simbólico inestimável. A ação, simples e sem o uso de alta tecnologia, surpreendeu as autoridades. A facilidade com que os ladrões entraram e saíram do local gerou indignação popular e fortes críticas ao governo francês. Repercussão nacional e política O presidente Emmanuel Macron, pressionado pela opinião pública e já enfrentando uma crise política, pronunciou-se prometendo reforçar a segurança dos museus nacionais. “Tudo está sendo feito para capturar os criminosos e tornar o Louvre mais seguro”, afirmou Macron. Enquanto as investigações prosseguiam, o público continuava a visitar o museu — e muitos turistas se reuniam diante da fachada para registrar o local do crime, que se transformou em uma espécie de novo cartão-postal parisiense. A fotografia que eternizou o momento A reportagem publicada pela revista Veja (edição nº 2967, de 24 de outubro de 2025) foi ilustrada por uma imagem poderosa capturada por Dimitar Dilkoff, fotógrafo da Agence France-Presse (AFP). A fotografia — creditada na margem vertical esquerda da página com “Dimitar Dilkoff/AFP” — mostra a fachada do Museu do Louvre logo após o assalto, com uma viatura policial e um guindaste de móveis utilizado pelos criminosos para alcançar a janela por onde entraram. Registrada no próprio dia do roubo, 19 de outubro de 2025, a imagem circulou em veículos de imprensa do mundo todo e se tornou um símbolo das investigações iniciais sobre o crime. Quem é Dimitar Dilkoff Dimitar Dilkoff é um fotógrafo búlgaro baseado em Sofia, que atua para a Agence France-Presse (AFP). Reconhecido por seu trabalho em fotodocumentarismo e cobertura de crises internacionais, Dilkoff tem um olhar sensível para o impacto humano de grandes acontecimentos. Foco profissional: cobertura de crises humanitárias, como a dos refugiados nos Bálcãs, além de eventos esportivos e culturais. Reconhecimento: em 2025, recebeu o prêmio de melhor fotografia paralímpica no festival Deauville Sport Images. Estilo: seu trabalho busca unir precisão jornalística e impacto emocional, destacando as consequências humanas dos fatos. Exposições: participou de mostras internacionais, incluindo o renomado “Visa pour l’image”, em Perpignan, França. A fotografia do Louvre, distribuída pela AFP, reflete seu estilo característico: composição cuidadosa, contexto humano e narrativa visual potente. Mônica Weinberg: a voz brasileira na cobertura internacional A jornalista Mônica Weinberg, autora da reportagem “Ladrão de Coroa”, é uma colaboradora da revista Veja e figura de destaque no jornalismo brasileiro. Com ampla experiência em cobertura política, cultural e internacional, Weinberg tem seu nome listado pelo International Center for Journalists (ICFJ), instituição que reconhece profissionais engajados em iniciativas globais de jornalismo. Sua escrita combina rigor informativo e narrativa envolvente, o que faz de suas reportagens exemplos de jornalismo interpretativo de alta qualidade. Em “Ladrão de Coroa”, ela reconstrói o assalto com ritmo cinematográfico, sem perder o compromisso com a clareza e a precisão dos fatos. Símbolo e reflexão Mais do que um simples roubo, o episódio do “Ladrão de Coroa” expôs fragilidades institucionais e reforçou o poder simbólico dos museus como guardiões da memória coletiva. A combinação da narrativa de Weinberg e da imagem de Dilkoff mostra como o jornalismo e a fotografia se complementam para traduzir a complexidade de um acontecimento histórico — informando, sensibilizando e preservando o registro de um momento que marcou o imaginário francês e mundial. Fonte: Revista Veja, edição nº 2967, 24 de outubro de 2025. Foto: Dimitar Dilkoff / AFP Texto: Mônica Weinberg
DIMITAR DIKOFF/AFP IMAGEM DA SEMANA LADRÃO DE COROA FORAM SETE MINUTOS, O SUFICIENTE PARA CAUSAR UM PREJUÍZO INCALCULÁVEL E FERIR EM CHEIO O ORGULHO FRANCÊS. Monica Weinberg VEJA 24 DE OUTUBRO DE 2025 pp. 14-15 Te recuerdo Amanda (Remastered) Victor Jara - Música 🕊️ A ETERNIDADE EM CINCO MINUTOS / LA ETERNIDAD EN CINCO MINUTOS Por [V.V.J.H.] (Em memória de Vladimir Herzog — 50 anos — e Víctor Jara — 52 anos) 🇧🇷 PORTUGUÊS Há mortes que cessam o corpo, mas inauguram a voz. Há silêncios que não calam — apenas se transformam em canto. Assim como Manuel, em “Te Recuerdo Amanda”, correu à fábrica sob a chuva para nunca mais voltar, Vladimir Herzog atravessou o corredor frio do DOI-CODI em São Paulo, com a coragem dos que acreditam na força da palavra. Foi assassinado por transformar a notícia em verdade, a verdade em resistência. Em Víctor Jara, o Chile encontrou a metáfora viva de seu povo: o artista que cantou o amor e foi punido por fazê-lo. Em Vlado, o Brasil reconheceu o espelho: o jornalista que escreveu a liberdade e pagou com a própria vida. Ambos se tornaram símbolos de resistência pacífica diante da brutalidade, e suas mortes floresceram em memória. 🇪🇸 ESPAÑOL Hay muertes que terminan el cuerpo, pero inauguran la voz. Hay silencios que no callan: simplemente se transforman en canto. Así como Manuel, en “Te Recuerdo Amanda”, corrió hacia la fábrica bajo la lluvia para no regresar jamás, Vladimir Herzog atravesó el corredor helado del DOI-CODI en São Paulo con la valentía de quien cree en la fuerza de la palabra. Fue asesinado por transformar la noticia en verdad, y la verdad en resistencia. En Víctor Jara, Chile encontró la metáfora viva de su pueblo: el artista que cantó al amor y fue castigado por hacerlo. En Vlado, Brasil reconoció su espejo: el periodista que escribió la libertad y pagó con su vida. Ambos se convirtieron en símbolos de resistencia pacífica ante la brutalidad, y sus muertes florecieron en memoria. 🇧🇷 A MORTE COMO METÁFORA DA CONTINUIDADE Na canção chilena, a morte de Manuel é mais que a perda de um homem: é a aniquilação dos ideais e das vidas sacrificadas pela repressão e pela injustiça social. Do mesmo modo, o corpo enforcado de Vladimir Herzog não é apenas um corpo — é o corpo simbólico da liberdade amordaçada no Brasil. Manuel e Vlado são duas faces do mesmo destino latino-americano: o destino dos que ousaram crer que a verdade poderia coexistir com o poder. 🇪🇸 LA MUERTE COMO METÁFORA DE LA CONTINUIDAD En la canción chilena, la muerte de Manuel es más que la pérdida de un hombre: es la aniquilación de los ideales y de las vidas sacrificadas por la represión y la injusticia social. Del mismo modo, el cuerpo ahorcado de Vladimir Herzog no es solo un cuerpo: es el cuerpo simbólico de la libertad amordazada en Brasil. Manuel y Vlado son dos rostros del mismo destino latinoamericano: el de quienes se atrevieron a creer que la verdad podía convivir con el poder. 🇧🇷 A LEMBRANÇA COMO RESISTÊNCIA “Te recuerdo” — eu me lembro de você — é o gesto que impede o esquecimento. Lembrar Amanda é lembrar o povo; lembrar Manuel é lembrar os que tombaram sem nome; lembrar Vlado é lembrar todos os que foram silenciados. A memória é um ato político: lembrar é resistir à mentira e à omissão. Cada nome lembrado é uma flor plantada na terra árida da história. 🇪🇸 LA MEMORIA COMO RESISTENCIA “Te recuerdo” — te recuerdo a ti — es el gesto que impide el olvido. Recordar a Amanda es recordar al pueblo; recordar a Manuel es recordar a los que cayeron sin nombre; recordar a Vlado es recordar a todos los silenciados. La memoria es un acto político: recordar es resistir a la mentira y al olvido. Cada nombre recordado es una flor sembrada en la tierra árida de la historia. 🇧🇷 OS “CINCO MINUTOS” DA ETERNIDADE “La vida es eterna en cinco minutos”, escreveu Jara. Esses cinco minutos condensam o amor, o trabalho e a esperança — e também a morte. No Brasil, os minutos entre o interrogatório e o assassinato de Vlado são o espelho trágico dessa eternidade: o instante em que o poder tenta matar o tempo, mas o tempo guarda o nome dos que resistem. 🇪🇸 LOS “CINCO MINUTOS” DE LA ETERNIDAD “La vida es eterna en cinco minutos”, escribió Jara. Esos cinco minutos condensan el amor, el trabajo y la esperanza, y también la muerte. En Brasil, los minutos entre el interrogatorio y el asesinato de Vlado son el reflejo trágico de esa eternidad: el instante en que el poder intenta matar el tiempo, pero el tiempo conserva el nombre de quienes resisten. 🇧🇷 DO CHILE AO BRASIL: O CANTO QUE ATRAVESSA FRONTEIRAS Se “Te Recuerdo Amanda” é um memorial sonoro às vítimas chilenas do autoritarismo, a lembrança de Vladimir Herzog é o seu eco brasileiro — um hino ético da liberdade. Ambas as histórias provam que a arte e a palavra são as formas mais duradouras da resistência. No Brasil, o espelho de Jara encontra-se em “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil (1973): Pai, afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue... Como Manuel, o eu lírico de “Cálice” é o trabalhador, o artista, o cidadão silenciado. Se Jara cantou por Manuel, Chico e Gil cantaram por Vlado — por todos os que o medo tentou calar. 🇪🇸 DE CHILE A BRASIL: EL CANTO QUE ATRAVIESA FRONTERAS Si “Te Recuerdo Amanda” es un memorial sonoro a las víctimas chilenas del autoritarismo, el recuerdo de Vladimir Herzog es su eco brasileño — un himno ético de la libertad. Ambas historias prueban que el arte y la palabra son las formas más duraderas de resistencia. En Brasil, el espejo de Jara se encuentra en “Cálice”, de Chico Buarque y Gilberto Gil (1973): Padre, aparta de mí este cáliz, de vino tinto de sangre... Como Manuel, el yo lírico de “Cálice” es el trabajador, el artista, el ciudadano silenciado. Si Jara cantó por Manuel, Chico y Gil cantaron por Vlado — por todos aquellos que el miedo intentó callar. 🇧🇷 CONCLUSÃO / 🇪🇸 CONCLUSIÓN “Te Recuerdo Amanda” e “Cálice” são canções-ponte: atravessam o tempo, as línguas e as fronteiras. Ambas transformam o horror em ternura, a dor em memória, o silêncio em canto. Víctor Jara e Vladimir Herzog pertencem à mesma pátria invisível — a pátria dos que se recusam a esquecer. Porque a vida, quando é justa, é eterna — mesmo que dure apenas cinco minutos. Porque la vida, cuando es justa, es eterna — aunque dure solo cinco minutos.

QUANDO JANEIRO CHEGAR

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A palavra e o poder

A palavra e o poder: moral, discurso e hegemonia na política e na cultura brasileira contemporânea Prefácio jornalístico
"Leia sem moderação e libere sua emoção." José Luiz Ribeiro
Tropas da polícia invadem a Faculdade de Medicina, na Praia Vermelha, em 23 de setembro. Arquivo: Memória da Democracia A UFRJ, em especial, o NEPP-DH, nos 30 anos da Lei da Anistia, em 2009, produziu esse Caderno de Biografias para lembrar de seus alunos, professores e técnico-administrativos que também lutaram pelo retorno da democracia, homenageando seus jovens estudantes e professores mortos e desaparecidos. O caderno, com pequenos fragmentos das vidas de jovens estudantes e professores da UFRJ, expõe, em breve narrativa, a luta que cada um empreendeu durante aqueles sombrios anos. Cada um deles será homenageado na ABI. 1) Adriano Fonseca Filho – IFCS 2) Ana Maria Nacinovic Correa – Escola de Belas Artes 3) Antônio Pádua Costa – Instituto de Física 4) Antônio Sérgio de Matos – Faculdade Nacional de Direito 5) Antônio Teodoro de Castro – Faculdade de Farmácia 6) Arildo Airton Valadão – Instituto de Física 7) Áurea Eliza Pereira Valadão – Instituto de Física 8) Ciro Flávio Salazar Oliveira – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 9) Fernando Augusto da Fonseca – Instituto de Economia 10) Flávio Carvalho Molina – Escola de Química 11) Frederico Eduardo Mayr – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 12) Guilherme Gomes Lund. – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 13) Hélio Luiz Navarro de Magalhães – Escola de Química 14) Jane Moroni Barroso – Instituto de Biologia 15) José Roberto Spiegner – Instituto de Economia 16) Kleber Lemos da Silva – IFCS (Pesquisador) 17) Lincon Bicalho Roque – IFCS (Professor) 1 8) Luiz Alberto A. de Sá Benevides – Instituto de Economia 19) Maria Célia Correa – IFCS 20) Maria Regina Lobo L. Figueiredo – Faculdade de Educação 21) Mário de Souza Prata – Escola Politécnica 22) Paulo Costa Ribeiro Bastos – Escola Politécnica 23) Raul Amaro Nin Ferreira – Escola Politécnica 24) Sonia Maria de Moraes Angel Jones – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis 25) Stuart Edgar Angel Jones – Instituto de Economia
segunda-feira, 27 de outubro de 2025 50 anos numa noite mágica e cidadã, por Juca Kfouri Folha de S. Paulo Estavam lá os órfãos, o presidente da República e a do STM, que pediu perdão Eloquentes foram as ausências do governador de São Paulo e do prefeito do capital No sábado (25), à tarde, o Corinthians ganhou do Vitória, se afastou do risco de queda e aliviou o Santos. À noite, o Flamengo conseguiu perder para o Fortaleza e alegrar o Palmeiras, que estava murcho com o desastre de Quito. Também à noite, o São Paulo ganhou bem do Bahia. Mais: a Ponte Preta ganhou sua primeira taça nacional em 125 anos de história, ao ser campeã da Série C. De quebra, neste domingo, João Fonseca foi campeão no ATP 500 da Basileia, na Suíça. Convenham, a rara leitora e o raro leitor, que assuntos não faltaram para a coluna, que dos cinco eventos citados viu dois, o que envolveu o sofrido e assaltado, pelos cartolas, Corinthians, e o do magnífico jovem tenista brasileiro. A derrota rubro-negra e a vitória tricolor concorreram com o que de mais importante aconteceu na vida brasileira no fim de semana, mais importante até que o encontro entre Lula e Trump. Porque na noite de sábado, na Catedral da Sé, os dois órfãos de Vladimir Herzog, Ivo e André, voltaram ao palco onde, em 1975, aconteceu o culto ecumênico que marcou o início da redemocratização do Brasil. Estavam acompanhados do neto e das netas de Vlado, a quem novo ato inter-religioso homenageou. Diferentemente de meio século atrás, o Estado se fez presente, com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, autor de discurso sóbrio, ao seu estilo, e firme: "Não esquecer, para jamais se repetir". Antes dele, o rabino Uri Lam também falou com coragem e altivez, digno representante de Henry Sobel. Vlado, como se sabe, era judeu, mas nem a Conib nem a Federação Israelita de São Paulo mandaram representantes ao ato, assim como foram eloquentes as ausências do governador de São Paulo e do prefeito do capital, como se não coubessem em cerimônia contra a tortura, pela democracia e pela paz. Mas lá estavam, na memória de todos, as gigantescas figuras dos bravos dom Paulo Evaristo Arns, do reverendo presbiteriano Jaime Wrigth e do então presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, Audálio Dantas, comoventemente aplaudidos em pé pela catedral lotada. Tudo entremeado com a bela cantoria do Coro Martin Luther King, entre Marias e Clarices, heroínas do Brasil. Aliás, das Marias, esteve também a presidenta do Superior Tribunal Militar, Maria Elisabeth Rocha, que em curta e arrepiante fala pediu desculpas por todos os erros cometidos pela corte que ora preside contra os que foram torturados e mortos pela ditadura instalada em 1964. Delirantemente aplaudida, assim como o juiz Márcio José de Moraes, que, ainda em 1987, teve a coragem de condenar a União pelo assassinato de Vlado. A carta ao magistrado, de dona Zora, mãe de Herzog, na voz de Fernanda Montenegro, em agradecimento pela histórica sentença, fez chorar boa parte dos presentes. Quem esteve na catedral 50 anos atrás e voltou agora não pôde deixar de comparar o clima de medo de então com o de agora. Apesar de tudo, avançamos. E avançamos a ponto de impedir que haja anistia aos que, em 8 de janeiro de 2023, quiseram repetir a barbárie instalada em 1964, algo que, também em uníssono, no ato comandado pelo bispo de São Paulo, Odilo Scherer, ficou patente. Enfim, uma goleada cidadã e democrática.
50 anos numa noite mágica e cidadã - 26/10/2025 - Juca Kfouri Por [] (Versão editorial para publicação em jornais de grande circulação) A política brasileira é, antes de tudo, um teatro da palavra. O que se diz — e o modo como se diz — define mais do que programas de governo: revela disputas morais, estratégias de hegemonia e gestos de poder. De Tropa de Elite a Lula, do plenário da Constituinte às coletivas internacionais, a retórica nacional combina fé e fúria, moral e mise-en-scène. O Capitão Nascimento e o presidente que pede desculpas pelo que “disse mal” são faces do mesmo espelho: o do país que transforma ética em espetáculo e discurso em arma. Nos últimos meses, essa coreografia ganhou novas cenas. Da frase infeliz de Lula sobre “usuários e traficantes” às leituras políticas de Dora Kramer e Luiz Sérgio Henriques, passando pela encenação diplomática com Donald Trump, o Brasil volta a encarar a pergunta essencial: quem fala em nome da razão moral — e a quem ela serve? A palavra, quando atravessa a política, deixa de ser apenas expressão: torna-se poder. E, como ensinou Ulysses Guimarães em 1988, “a Nação quer mudar”. A dúvida que persiste, quase quatro décadas depois, é se a mudança é de fato possível — ou apenas retórica. Epígrafe Discurso Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição Federal de 1988 - 06/10/23 Câmara dos Deputados 6 de out. de 2023 #CâmaraDosDeputados #35anosdaconstituição #ulyssesguimarães Trechos do discurso de do deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Vídeo exibido na Sessão Solene em homenagem aos 35 anos da Constituição Federal de 1988. “A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar.”Ulysses Guimarães, discurso de promulgação da Constituição de 1988 (Câmara dos Deputados – Discurso integral ) 1. Introdução: palavra, moral e poder O discurso político no Brasil não se limita à oratória: ele é performance e disputa moral. Da tribuna parlamentar ao cinema, o uso da palavra constrói imagens de autoridade e de resistência, definindo quem pode falar — e quem deve se calar. Este artigo analisa como o discurso, no campo político e cultural, se tornou um instrumento de hegemonia. Ele parte de quatro núcleos simbólicos recentes e representativos: o monólogo do Capitão Nascimento em Tropa de Elite (2007), a fala de Luiz Inácio Lula da Silva sobre usuários e traficantes (2025), os comentários de Luiz Carlos Azedo sobre o episódio, e os ensaios analíticos de Dora Kramer e Luiz Sérgio Henriques. O estudo conclui com uma leitura antropológica da linguagem corporal no encontro diplomático entre Lula e Donald Trump em Jacarta. 2. O Capitão Nascimento e a moral do “cidadão de bem” O filme Tropa de Elite (2007) projeta uma visão moralizada da violência. No famoso monólogo do Capitão Nascimento, o personagem responsabiliza o “maconheiro da zona sul” pela existência do tráfico, invertendo a lógica da vitimização social. A cena traduz a transposição da culpa coletiva em juízo moral, mobilizando o espectador para uma identificação emocional com o policial — símbolo da “justiça pelas próprias mãos”. Visualmente, o filme constrói essa retórica pela tensão entre escuridão e luz, pela câmera trêmula e pelos closes agressivos que corporificam o discurso autoritário. O espectador é capturado não apenas pela fala, mas pelo ritmo visual da coerção. 3. Lula em Jacarta: o tropeço das palavras Durante coletiva em Jacarta, em outubro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também.” A fala, posteriormente corrigida e alvo de mea-culpa oficial, ecoou ironicamente o discurso de Nascimento — desta vez em tom presidencial. A análise publicada por Luiz Carlos Azedo no Correio Braziliense (“Lula atravessou o Pacífico para escorregar numa folha de coca”, edição de 26/10/2025 ) observa que, ao confundir causalidades, Lula deslocou a crítica da estrutura criminosa para o comportamento individual — repetindo, sem intenção, a retórica punitivista que o cinema havia cristalizado. 4. A crítica e o espelho: moral e hegemonia Ao reagir às críticas, Lula pediu desculpas e afirmou ter “se expressado mal”. Contudo, o episódio revelou o poder simbólico da linguagem na formação de hegemonias morais. Como ensinou Gramsci, o domínio não é apenas político, mas também cultural. Ao atribuir responsabilidade ao indivíduo (usuário), o discurso presidencial reflete o conflito entre ética social e ética pessoal — uma oscilação constante na tradição brasileira de liderança carismática. 5. O olhar de Luiz Sérgio Henriques: o retorno do autoritarismo No artigo “Passado e presente” (O Estado de S. Paulo, 26/10/2025 ), Luiz Sérgio Henriques analisa o segundo governo Trump e a crise das democracias liberais. Ele identifica uma tendência à “autocratização política e ao acirramento das tensões sociais”, fenômeno que reverbera também no Brasil. A lição central: o discurso autoritário, ao se apresentar como moralmente regenerador, reaparece em roupagem democrática. O “fascismo líquido”, mediado pelas redes sociais, substitui o chefe carismático de massa pelo influenciador moral digital. 6. Dora Kramer e o projeto de hegemonia lulista Em “Lula e o projeto Boulos” (Folha de S. Paulo, 26/10/2025 ), Dora Kramer observa que a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência transcende o mero rearranjo ministerial: trata-se de um projeto de sucessão e hegemonia. O texto articula a política de coaptação e construção simbólica do poder lulista, que se adapta aos novos tempos, substituindo o operário mítico pelo ativista urbano. Aqui, o discurso não é erro — é estratégia. 7. Palavra e moral: entre Nascimento e Lula A comparação entre o Capitão Nascimento e Lula evidencia o ponto de fusão entre moral e populismo. Ambos constroem sua autoridade a partir de um discurso de verdade moral e combate à hipocrisia, mas se diferenciam pelo contexto: o primeiro pela estética da guerra urbana; o segundo pela retórica diplomática. Em ambos os casos, a linguagem funciona como gesto performativo de poder — uma reafirmação do controle sobre o outro. 8. O tempo, a razão e a retórica da velhice política “O tempo é o senhor da razão. Velho sim, velhaco não. Dispenso seu apoio no segundo turno.” Essas frases, que ressoam o legado de Ulysses Guimarães em 1992, articulam um discurso de dignidade e ruptura. Em 2025, ao voltarem ao vocabulário político, reaparecem como metáfora do envelhecimento ético da política: velhos ideais em corpos de poder fatigados. O enunciado “Celebremos nossos 80 anos — 160 anos” ironiza o duplo envelhecimento de um país que comemora a maturidade democrática e repete os vícios de sua juventude autoritária. 9. Corpos em negociação: Lula e Trump em Jacarta
Fonte: imagem de cobertura da CNN Brasil. A fotografia do encontro diplomático entre Donald J. Trump e Luiz Inácio Lula da Silva (Jacarta, 27/10/2025) oferece um estudo exemplar da linguagem corporal como instrumento de poder simbólico. Trump, com o torso levemente projetado e o queixo elevado, mantém o domínio visual — típico de lideranças que performam autoridade através do espaço. Lula, por sua vez, adota uma postura mais contida, com os ombros suavemente retraídos e o olhar horizontal, sinalizando prudência e autocontenção. Segundo a teoria antropológico-psicológica da projeção de poder (cf. Hall, Goffman, Birdwhistell), o controle do gesto e do olhar revela a negociação simbólica entre dominância e diplomacia. A foto, portanto, não apenas registra um evento político, mas dramatiza a assimetria global do poder e o esforço brasileiro em equilibrar deferência e afirmação. 10. Conclusão: a política como teatro da linguagem A política brasileira, entre moral e espetáculo, confirma que a palavra ainda é o maior palco de disputa pelo poder simbólico. Da ficção à diplomacia, do discurso inflamado ao gesto contido, o Brasil continua a encenar sua eterna contradição: entre ética e conveniência, entre ideal e interesse. E, como lembrou Ulysses em 1988, a Nação “quer mudar” — mas talvez precise primeiro aprender a escutar o peso das próprias palavras. Referências principais: Guimarães, U. (1988). Discurso de promulgação da Constituição Federal. Câmara dos Deputados Azedo, L. C. (2025). Lula atravessou o Pacífico para escorregar numa folha de coca. Correio Braziliense Henriques, L. S. (2025). Passado e presente. O Estado de S. Paulo Kramer, D. (2025). Lula e o projeto Boulos. Folha de S. Paulo Padilha, J. (2007). Tropa de Elite [filme]. Zazen Produções / Universal Pictures. D
segunda-feira, 27 de outubro de 2025 A gestação da foto entre Lula e Trump, por Maria Cristina Fernandes Valor Econômico Trump impôs seu jogo, viu os danos causados à economia americana e agora começa a recuar, comenta um diplomata brasileiro Na pose captada pelo fotógrafo oficial da Presidência, Ricardo Stuckert, a diferença de mais de 20 centímetros de altura, disfarçada pelas poltronas, aparece e é acentuada pelo lendário topete louro do presidente americano, que o deixa ainda mais alto. A altura não é o único atributo que sobressai em Donald Trump. O sorriso do presidente americano na pele bronzeada artificialmente deixa à mostra todos os dentes, enquanto o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva os deixa escapar mais discretamente. É ainda a mão do presidente americano que envolve a do colega brasileiro. Naquela reproduzida pela Casa Branca o sorriso de Trump é ainda mais largo e os poucos dentes mostrados por Lula somem numa atitude mais apreensiva. A postura do presidente americano se traduz na frase usada para sintetizar o encontro nas suas redes oficiais: “Foi uma grande honra estar com o presidente do Brasil... Acho que seremos capazes de fazer bons acordos para nossos países... sempre tivemos uma boa relação - e acredito que isso deve continuar”. As fotos foram produzidas depois da reunião que, ao longo dos dez primeiros minutos, foi aberta à imprensa. Enquanto Lula, recostado na poltrona, confortavelmente, olha para a câmera, Trump se mantém inclinado em sua direção. Foi assim, de fato, que permaneceram a maior parte do tempo em que durou a maior parte pública do encontro. Lula só se moveu para abrir os braços, como quem diz “não acredito”, quanto a jornalista Raquel Krahenbul, da TV Globo, perguntou se o ex-presidente Jair Bolsonaro seria tema da reunião (“Não é da sua conta”, respondeu Trump). E, por fim, Lula adotaria a mesma inclinação de Trump para reclamar com os jornalistas do tempo que lhes estavam roubando da reunião. Foram nove meses, desde a posse de Trump, e quase quatro meses desde o tarifaço de 50%, para que essa imagem fosse produzida. Não surpreenderá se for repetida à exaustão. Ao longo desse período, o bolsonarismo deitou e rolou na interlocução com o governo americano. A ponte entre Brasil e EUA ficou por conta do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do influenciador Paulo Figueiredo, que, além das tarifas, arrancaram a aplicação da Lei Magnitsky e a revogação de vistos de autoridades brasileiras, colocando o país ante uma hostilidade inédita dos americanos. Era, sobretudo, essa imagem que o governo brasileiro estava a perseguir. Se pretendesse avançar nos temas técnicos, até mesmo no encontro entre ministros que se seguiu àquele com a presença dos dois presidentes, o Itamaraty teria levado seus secretários mais técnicos do Itamaraty, da Fazenda e da Indústria e Comércio. Tanto o chanceler Mauro Vieira quanto o secretário-executivo do MDIC, Marcio Rosa, ressaltaram o tom de uma aproximação eminentemente política - do interesse de Trump sobre o período em que Lula ficou preso à disposição do presidente brasileiro em se colocar como mediador dos conflitos entre os EUA e a América Latina. Essa descompressão era o que o segundo escalão precisava para marcar os encontros que devem acontecer ao longo do mês de novembro para discutir os contenciosos. O encontro se produziu num momento em que Trump viajou para a Ásia aparentemente disposto a rever a impulsividade com a qual tem se conduzido na sua política tarifária. Sinalizou que se encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping, provavelmente na próxima quinta, durante o encontro de cooperação econômica dos países asiáticos, na Coreia do Sul. Na definição de um embaixador brasileiro, Trump impôs seu jogo, viu os danos causados aos produtores americanos de soja, à indústria dependente dos minerais raros, à inflação afetada pelo tarifaço sobre produtos como carne e café, e às cadeias produtivas de uma maneira geral, e, agora, começa a recuar. É quase tão simples assim.
vladimirherzog 3 d Nos dias 28 de outubro e 1º de novembro, a Associação Scholem Aleichem (RJ) recebe o ciclo de debates “50 Anos por Vladimir Herzog”, realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ (NIEJ-UFRJ), em parceria com a Associação Scholem Aleichem (ASA) e o Centro Cultural Mordechai Anilevitch, com apoio do Instituto Vladimir Herzog. O evento integra as ações da campanha #50AnosPorVlado e reúne nomes como Miriam Leitão, Luiz Carlos Azedo, Daniel Aarão Reis, Dulce Pandolfi, Beatriz Kushnir, entre outros pesquisadores e comunicadores, para discutir o legado de Vlado e o papel da memória na construção da democracia. A abertura contará com participação de @iherzog97, presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog (em vídeo). A programação inclui mesas sobre resistência democrática, engajamentos políticos e a identidade judaica e humanista de Vlado, reafirmando a importância da memória como ato de resistência. 📍 Associação Scholem Aleichem – Rua São Clemente, 155 – Rio de Janeiro 🗓️ 28/10 – às 20h | 01/11 – das 16h às 20h 🎟 ENTRADA GRATUITA

sábado, 25 de outubro de 2025

"Se a moda pega..."

O País estacionou. Não voltará a caminhar sem um projeto de governo e com uma lógica política vivida somente como contraposição mal qualificada entre esquerda e direita. Há mais coisas no céu do que aviões de combate. Parados no tempo sábado, 25 de outubro de 2025 Direitas e esquerdas, por Marco Aurélio Nogueira O Estado de S. Paulo A tensão entre esquerda e direita se acentuou, ao passo que o centro moderado se esvaziou. A política se tornou polarizada, sem mediações Quando Norberto Bobbio publicou seu famoso opúsculo Direita e Esquerda, em 1994, corria solta a ideia de que a dicotomia esquerda x direita havia sido devorada pelas transformações do capitalismo e pelo avanço do neoliberalismo. Falava-se que direita e esquerda haviam perdido significado porque teriam os mesmos fins imediatos e poderiam enveredar pelo mesmo padrão de populismo. Bobbio respondeu dizendo que não se pode negar validade àquilo que está colado no imaginário coletivo e na linguagem cotidiana. Esquerda e direita têm uma carga emotiva ineliminável e servem para organizar os conflitos políticos. Distinguem-se pelo modo como se relacionam com o igualitarismo (traço distintivo da esquerda), a democracia política e os direitos. Com as transformações recentes das sociedades contemporâneas, a tensão entre esquerda e direita se acentuou, ao passo que o centro moderado se esvaziou. A política se tornou polarizada, sem mediações. Não há uma só direita, nem uma só esquerda. Ambas congregam várias posições. Trabalhistas, socialistas e social-democratas, sabidamente reformistas, compartilharam a esquerda com comunistas revolucionários. Pelas sendas da direita, o extremismo fanático e reacionário sempre se diferenciou de conservadores e liberais moderados, atacando-os com fúria. Também há distinções entre os liberais. Eles podem flertar com modalidades suavizadas de socialismo ou pender para um conservadorismo vetusto. Podem, além disso, pensar a economia em termos de livre mercado, mas serem sensíveis a políticas de distribuição de renda, direitos e autonomia individual. Todo liberal admira os procedimentos formais da democracia, as liberdades e os valores éticos, por mais que se incline para a direita ou a esquerda. Hoje, o extremismo de direita avançou. Em muitos países, suas pegadas são claras: a grosseria, a submissão fanática a um líder populista, a defesa étnica e territorial do povo-nação, o autoritarismo, a disposição de produzir caos e confusão. Esses traços espalham-se e dão origem a modulações ou partidos diferentes. No Brasil, por exemplo, o cronista Carlos Andreazza, do Estadão, fala em “bolsonarismo eduardista”, para diferenciá-lo das alas mais “light”. Por aqui, o bolsonarismo é direitista, mas há outras modalidades de direita, umas mais fisiológicas, outras mais pragmáticas, além de uma direita ideológica, liberalconservadora. Se reunirmos tudo isso sob o rótulo de “direita”, não estaremos errados, mas perderemos precisão analítica. Na esquerda, a situação é parecida. Há progressistas espalhados por diversos partidos, e é justo que sejam vistos como parte da esquerda. O PT, partido mais forte da esquerda, necessita de composições para governar, mas nem sempre abraça o campo democrático progressista ou inclui os demais partidos de esquerda, o que favorece as oligarquias predominantes. O manto da esquerda recobre não só aqueles que se proclamam de esquerda, mas todos os progressistas e democratas que defendem uma sociedade mais justa e igualitária. O universo é heterogêneo: desenvolvimentistas, ambientalistas, estatistas, neoliberais, assistencialistas, socialistas, moderados, comunistas, radicais, realistas, ideológicos. É difícil encontrar um ponto ótimo que os unifique. O que faz com que não haja, entre eles, unidade política ou de projetos. Alianças surgem em momentos eleitorais, mas se desfazem no fechar das urnas. Falar em esquerda, no singular, só faz sentido se considerarmos essas distinções. A polarização lulismo x bolsonarismo, prevalecente no Brasil, força a realidade e só capta parte dela. Continua a ter força para dificultar o surgimento de outras candidaturas competitivas. Mas não domina a sociedade toda. Flutua sobre ela. Saber valorizar as diferenças específicas nos ajuda a entender melhor o jogo que está sendo jogado. Polarizações são parte da política, mas ficam tóxicas quando turvam a livre manifestação de todos e inscrevem, nas disputas, considerações passionais reciprocamente excludentes e cegas para o quadro abrangente. Criam-se, assim, blocos adversários para servirem de contrapontos ideológicos típico-ideais, que deixam de lado projetos e valores substantivos. Uma metáfora sugerida pelo cientista político Paulo Fábio Dantas Neto nos ajuda a entender: polarizações tóxicas são como “brigas de turma”: os bandos se pegam na praça, os transeuntes passam indiferentes, alguns vaiam e aplaudem. No fim, os brigões debandam. Uns mais esfarrapados, outros mais machucados. As esquerdas, incluídos progressistas e democratas, não morreram, evidentemente. Mas estão sob pressão. Se não forem além dos nichos em que se abrigam e não apresentarem projetos que falem para todos – e não somente contra as direitas –, poderão se isolar e perder identidade. Além disso, se quiserem vencer o extremismo de direita, terão de pedir ajuda à direita moderada, aos liberais, à centro-direita. E explicitar com clareza as ideias com que pretendem governar o mundo.
sábado, 25 de outubro de 2025 Pior, é difícil, por José Casado Revista Veja PL vai ficar na vitrine eleitoral de 2026 exposto como a central do golpe O maior e mais rico partido político brasileiro, abrigo de Jair Bolsonaro com o seu grupo parlamentar radical, corre risco de atravessar a temporada eleitoral de 2026 no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, o STF emitiu ordem judicial para retomada das investigações sobre o que o Partido Liberal fez na eleição de 2022 para manter Bolsonaro no poder. Isso vai deixar o PL exposto na vitrine política do ano que vem. O principal partido de oposição estará no alvo por ter sido usado como tapume numa arquitetura de golpe de Estado adornada com plano de triplo homicídio: dos adversários Lula e Geraldo Alckmin, que derrotaram Bolsonaro e, agora, são prováveis candidatos à reeleição; e do juiz Alexandre de Moraes, na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral, hoje relator do processo no Supremo sobre a tentativa de golpe. Até agora, o PL era sujeito oculto no julgamento da trama golpista. Permanecia elíptico, raramente nomeado, até em momentos relevantes, como o da confissão de Bolsonaro no tribunal: — A cogitação (do golpe), a conversa (com os chefes militares), o início dessa questão de estado de sítio e estado de defesa teria sido em virtude da impossibilidade de recurso eleitoral, é isso? — quis saber o juiz Moraes. — Sim, senhor — reconheceu Bolsonaro. — Mas o senhor sabe que o seu partido recorreu e perdeu, por unanimidade, no plenário do TSE. —O réu acenou com a cabeça, concordando. Pouco depois da derrota nas urnas, o presidente do PL resolveu dar um presente a Bolsonaro. Valdemar Costa Neto pagou cerca de 1,5 milhão de reais ao empresário Carlos Rocha, dono da empresa Instituto Voto Legal, para produzir “relatório” sobre fraudes na apuração. Um perito contratado desmentiu a trapaça, mas o presidente do PL insistiu em disseminar a versão de “fraude” nas urnas eletrônicas. Ao mesmo tempo, apresentou à Justiça Eleitoral um pedido de auditoria, sugerindo manipulação de mais da metade (56%) dos 118,5 milhões de votos válidos. Valdemar julgou ser retribuição adequada às “gentilezas” de Bolsonaro, desde o arrendamento do partido, em 2021, quando entregou-lhe o comando de um banco federal (Nordeste); do fundo bilionário da Educação (FNDE); de áreas-chave na governança do meio ambiente (Ibama); da política fundiária (Incra); de infraestrutura (Dnit); de saúde e saneamento (Funasa); além de privilégios no pagamento de emendas do orçamento secreto. Para Bolsonaro, mostram os autos do processo, o gesto de Valdemar representou o alento necessário para tentar convencer os comandantes do Exército e da Aeronáutica, resistentes à proposta de golpe de Estado. Na segunda-feira 14 de novembro, chamou para uma conversa no Palácio da Alvorada o chefe da FAB, Carlos Baptista, e o representante da força no comitê militar criado para auditar as urnas eletrônicas — o grupo havia afirmado em relatório oficial não ter encontrado irregularidade, mas a divulgação foi impedida por semanas. Bolsonaro entregou ao brigadeiro uma cópia do relatório com a “auditoria” adquirida por Valdemar. Baptista contou no tribunal ter folheado o papelório, criticado erros de redação e, sobretudo, o ardil usado no texto para enganar o leitor na conclusão sobre fraude. “Sofisma”, nas suas palavras. Na Justiça Eleitoral, enquanto isso, o PL de Valdemar e Bolsonaro defendia uma recontagem de votos limitada ao segundo turno da eleição presidencial, embora as urnas eletrônicas fossem as mesmas utilizadas no primeiro turno, quando o partido festejou a eleição da maior bancada parlamentar, com 99 deputados federais e catorze senadores. O partido teve seu recurso judicial rejeitado e ainda foi multado em 22,9 milhões de reais por “litigância de má-fé”. Entre a compra da “auditoria” e a multa da Justiça Eleitoral, o PL gastou ao menos 24,4 milhões de reais de dinheiro público naquilo que a Procuradoria-Geral da República descreve como a “última etapa” da “estratégia” de Bolsonaro para “fundamentar a tentativa de execução do golpe de Estado”. Deu errado. A PGR, no entanto, não denunciou a cúpula do partido e, agora, recebeu ordem do STF para retomar o inquérito. Isso vai se estender pelo próximo ano, durante a campanha eleitoral. Então, o Partido Liberal ficará na vitrine, exposto como a central do golpe, com Bolsonaro e Valdemar capitaneando três dezenas de civis e militares — alguns assalariados do PL —, protagonistas num enredo de crimes contra a Constituição e o Código Penal. Pior, é difícil. Quase impossível. Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967 No Jornal da Cultura deste sábado (25), Aldo Quiroga recebe a economista Lia Lopes, especialista em gestão pública, e o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. Transmissão ao vivo realizada há 105 minutos #JC #JornalDaCultura #JC #JornalDaCultura JORNAL DA CULTURA | 25/10/2025 Jornalismo TV Cultura
Se a moda pega…: os dilemas de uma diplomacia entre o ideal e o realismo Por [RAÍ MUNDO DA SILVA] Artigo de opinião A política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ocupar o centro do debate público. Em um contexto de tensões geopolíticas, guerras regionais e disputas econômicas crescentes, o Brasil procura reafirmar seu papel como ator relevante, mediador e defensor da multipolaridade. Essa ambição é legítima e coerente com a tradição diplomática brasileira, mas também expõe contradições que merecem exame sereno e responsável. Entre princípios e pragmatismo Desde 2023, o governo Lula tem buscado reposicionar o Brasil no sistema internacional com uma postura de autonomia e diálogo. A recusa em aderir a blocos de poder e a tentativa de mediar conflitos refletem o desejo de recuperar a credibilidade e a influência perdidas nos últimos anos. Contudo, o equilíbrio entre a defesa de valores universais e a necessidade de manter relações com parceiros de naturezas políticas distintas constitui um desafio constante. A guerra na Ucrânia exemplifica essa tensão. O Brasil condenou a invasão russa nas Nações Unidas, reafirmando o compromisso com a soberania dos Estados e o respeito ao direito internacional. Ao mesmo tempo, optou por não participar de sanções econômicas contra Moscou, argumentando que o isolamento não favorece a diplomacia da paz. Trata-se de uma posição coerente com a tradição de não alinhamento, mas que suscita críticas tanto internas quanto externas, especialmente de quem espera um posicionamento mais assertivo diante de agressões militares. O caso venezuelano e o retorno do diálogo sul-americano Na América do Sul, Lula tem procurado restabelecer pontes, incluindo a reaproximação com a Venezuela de Nicolás Maduro. A decisão de reabrir a embaixada brasileira em Caracas e reintegrar o país a fóruns regionais foi interpretada por aliados como um gesto de reconstrução da integração continental. No entanto, também gerou controvérsia, dada a persistência de denúncias de violações de direitos humanos e restrições políticas no regime venezuelano. A fala do presidente sobre a necessidade de a Venezuela “construir sua narrativa” foi amplamente criticada, ainda que, no contexto diplomático, o sentido fosse incentivar o país a recuperar legitimidade internacional. O episódio revelou como a linguagem simbólica da diplomacia pode ser mal interpretada e como o Brasil precisa zelar pela coerência entre sua retórica de defesa da democracia e suas alianças regionais. Relações com potências globais No plano global, a política externa brasileira tenta equilibrar-se entre a aproximação com os Estados Unidos, a parceria estratégica com a China e a manutenção de laços históricos com a Rússia. Essa triangulação busca preservar a autonomia nacional, mas não está isenta de dilemas éticos e jurídicos. O eventual convite a Vladimir Putin para visitar o Brasil, diante do mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, levantou debate legítimo sobre o alcance das obrigações internacionais do país. Da mesma forma, as tensões comerciais e ambientais com Washington demonstram que, apesar do discurso de cooperação, persistem interesses divergentes. Até o momento, contudo, não há registro de sanções concretas contra o Brasil sob legislações extraterritoriais como a Lei Magnitsky, o que indica que o diálogo institucional segue aberto. Diplomacia em tempos de fragmentação O esforço de Lula para resgatar a influência internacional do Brasil ocorre num cenário em que as regras do jogo global estão sendo reescritas. Em meio à competição entre grandes potências e à emergência de novos polos regionais, a defesa da soberania, da autodeterminação dos povos e do multilateralismo precisa ser reafirmada com clareza. Entretanto, autonomia não deve ser confundida com indiferença. A neutralidade pode ser estratégica, mas jamais deve significar omissão diante de violações de direitos humanos ou de agressões à ordem internacional. O desafio, portanto, é exercer uma diplomacia que combine diálogo e coerência, pragmatismo e princípios. Conclusão A política externa do governo Lula, ambiciosa e multifacetada, busca recolocar o Brasil no centro das negociações globais. Ao fazê-lo, navega entre o idealismo do passado e o realismo das novas dinâmicas internacionais. A crítica subjacente a “Se a moda pega…” não deve ser lida como rejeição a essa ambição, mas como alerta: a credibilidade de uma nação não se constrói apenas com gestos simbólicos, e sim com consistência entre discurso e prática. Em um mundo em transformação, o êxito do Brasil dependerá de sua capacidade de manter a independência sem abrir mão dos valores que fundamentam sua diplomacia — o respeito ao Estado de Direito, aos direitos humanos, à soberania das nações e à autodeterminação dos povos. É nesse equilíbrio, e não na retórica das conveniências, que se mede a grandeza de uma política externa verdadeiramente responsável. Nota complementar: o eco de Santiago Dantas A linha de atuação da diplomacia brasileira sob o governo Lula guarda paralelos evidentes com a formulação doutrinária de Santiago Dantas, chanceler de João Goulart e artífice da chamada “Política Externa Independente” (PEI). Inspirada nos princípios da autodeterminação dos povos, do não alinhamento automático e da defesa do desenvolvimento autônomo, a PEI buscava garantir ao Brasil liberdade de decisão em um mundo dividido pela Guerra Fria. Mais de seis décadas depois, esses mesmos fundamentos ressurgem em um contexto global igualmente polarizado — agora entre potências ocidentais e eurasianas, democracias e regimes autoritários, interesses econômicos e valores universais. A atual diplomacia brasileira, ao reivindicar espaço próprio e propor o diálogo entre todos os lados, retoma o espírito da PEI: a convicção de que a independência política é condição para a verdadeira soberania nacional. A lembrança de Santiago Dantas é, portanto, mais que um tributo histórico — é um lembrete ético e estratégico de que a autonomia internacional do Brasil só tem sentido se estiver amparada na legalidade democrática, na defesa da paz e no compromisso com os direitos humanos. RESUMO: REALISMO X IDEALISMO E A TERCEIRA VIA POSSÍVEL Esse vídeo na verdade é um recorte de um vídeo que fiz sobre Jean-Paul Sartre introduzindo essa relação. Achei conveniente voltar nesse vídeo, fazendo o recorte específico da tentativa de conciliação do realismo e idealismo feita por Kant e posteriormente uma tentativa de superação feita por Husserl. Para mais detalhes sobre os dois filósofos: KANT: • Immanuel Kant: Nova Revolução Copernicana VÍDEO ORIGINAL: • SARTRE: ANTECEDENTES GNOSIOLÓGICOS E ONTOL... Saber em Foco 2 de nov. de 2021