segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O Tabuleiro Global: A Partida de Damas entre Brasil e China sob a Gravidade dos EUA — entre devoção e dedicação no jogo do agro e da geopolítica

Morre, aos 93 anos, o cartunista Jaguar, um dos fundadores do Pasquim Trump x Maduro: tudo sobre a escalada das tensões entre EUA e Venezuela |Fora da Ordem #14 CNN Brasil Falador passa mal - Os Originais do Samba (Lyric Vídeo) “O jogo de damas é a mãe do xadrez — e uma mãe digna.Emanuel Lasker Ex-campeão mundial de xadrez
Damas, Soja e Geopolítica: Estratégias no Tabuleiro Global entre Brasil, China e Estados Unidos Autor: Dr. Cornélio “Jogada de Mestre” Protocolo de Carvalho Neto Instituição: Universidade Imperial dos Estratégicos Tabuleiros Globais Curso/Área: Mestrado em Geopolítica Combinada com Ludologia Agrária Aplicada (GCLA) Epígrafe “Em resumo: Devoto: uma pessoa religiosa e piedosa, ou um admirador. Devotado: que tem grande empenho e dedicação a algo ou alguém. A diferença é sutil: um é um tipo de pessoa (devota), e o outro descreve uma qualidade ou atitude (ser devotado).” Sumário Introdução Abertura: Domínio do Centro e Posições Iniciais Meio-Jogo: Manobras e Combatividade Fatores Psicológicos e Culturais Finais Possíveis: Cenários de Desfecho Conclusão Referências 1. Introdução Assim como na partida clássica de damas, a disputa comercial global apresenta fases distintas e definidoras: a abertura, o meio-jogo e o final. Cada uma delas demanda do jogador discernimento analítico, capacidade combativa, e atenção aos fatores psicológicos que gravitam sobre a partida. Neste artigo, emulamos a disputa comercial entre Brasil e China, tomando os Estados Unidos como elemento correlato e gravitacional, especialmente no setor da soja, central no tabuleiro agrícola global. A reflexão se fundamenta nos preceitos do jogo de damas (aplicados como metáfora estratégica), no artigo jornalístico de José Casado (O agro no alvo) e em elementos da obra gráfica Uma vida chinesa (P. Ôtié e Li Kunwu). 2. Abertura: Domínio do Centro e Posições Iniciais O domínio do centro é determinante no início da partida. Brasil: apresenta vantagens competitivas em custo e volume, além de uma base logística em expansão. Contudo, revela vulnerabilidades relacionadas à dependência da demanda chinesa, aos gargalos de infraestrutura e à pressão ambiental. China: ocupa posição de demandante estrutural, exercendo poder de precificação e de arbitragem entre fornecedores. Sua principal vulnerabilidade é a segurança alimentar, altamente sensível a rupturas. Estados Unidos: como fator correlato, utilizam poder diplomático, regulatório e financeiro para reposicionar-se, explorando a disputa sino-brasileira como oportunidade de reconquista de mercados. 3. Meio-Jogo: Manobras e Combatividade O meio-jogo é o campo por excelência das manobras táticas. Brasil: investe em contratos de longo prazo, rastreabilidade e logística. Seu objetivo é transformar vantagem conjuntural em estrutural, promovendo o processamento interno da soja em território nacional. China: alterna fornecedores e cria bloqueios por meio de exigências sanitárias e ambientais, mantendo controle sobre o tabuleiro. Estados Unidos: exploram brechas com pacotes integrados (tecnologia, financiamento, seguro) e diplomacia comercial agressiva. O discernimento analítico indica que a posição brasileira será sustentável apenas se combinada a políticas de longo prazo que consolidem infraestrutura e agregação de valor. 4. Fatores Psicológicos e Culturais Inspirando-se na obra Uma vida chinesa, observa-se que a psicologia econômica chinesa opera pela lógica da prudência e da legitimidade doméstica. Três vetores orientam a demanda chinesa: Aversão a rupturas, garantindo estabilidade de preços e estoques. Legitimidade por entregas concretas, assegurando abastecimento às famílias urbanas. Narrativas de modernização verde, que vinculam fornecedores a padrões ambientais. Esses fatores culturais e psicológicos condicionam as escolhas chinesas e moldam o impacto das estratégias de Brasil e EUA. 5. Finais Possíveis: Cenários de Desfecho 5. Finais Possíveis: Cenários de Desfecho Final brasileiro de vantagem material: consolidação logística e contratos plurianuais elevam o protagonismo brasileiro. Final chinês de bloqueio: choques ambientais reduzem a confiabilidade do Brasil, levando a China a redistribuir compras para os EUA. Final norte-americano de promoção: pacotes políticos e subsídios deslocam parte do mercado para os EUA, relegando o Brasil à condição de fornecedor de menor prestígio. 6. Conclusão À luz dos fundamentos damísticos, a disputa Brasil x China, sob a gravidade dos EUA, configura-se como uma partida em que cada fase define não apenas a posição comercial, mas também a geopolítica internacional. Na abertura, Brasil e China definem suas posições de custo e demanda. No meio-jogo, os EUA exercem gravidade, criando pressão e interferindo nas manobras. No final, prevalece quem transforma vantagens temporárias em estruturais, coroando peças no tabuleiro. Para o Brasil, o caminho da vitória está em associar dedicação (devotado) ao aprimoramento logístico, ambiental e tecnológico, evitando limitar-se ao papel de mero devoto do mercado global. 7. Referências CASADO, José. O agro no alvo. Revista Veja, São Paulo, 22 ago. 2025. ÔTIÉ, Philippe; LI, Kunwu. Uma vida chinesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Empresários do agronegócio vislumbram perdas relevantes no comércio com a China já a partir do próximo ano. Preveem danos significativos, por exemplo, à posição hegemônica do Brasil nas vendas de soja aos chineses, por efeito do acordo em negociação entre os governos de Xi Jinping e Donald Trump. A China passou a concentrar compras nas fazendas brasileiras nos últimos doze anos, estimulando as exportações dos produtores nacionais a superar as dos concorrentes americanos. O resultado está na criação de mútua dependência: mais de dois terços de toda a soja consumida pelos chineses é vendida pelo Brasil. A ofensiva comercial de Trump para obrigar a China a aumentar importações dos Estados Unidos impulsiona a disputa por um mercado de grãos de soja no qual o Brasil tem absoluta hegemonia e que, no ano passado, rendeu-lhe 36,5 bilhões de dólares, equivalentes a 197,1 bilhões de reais. No Itamaraty e nas empresas brasileiras já se reconhece o risco de perder uma parte expressiva dessa receita (até 30%) nos próximos dois anos. Os mais pragmáticos acham que, para Pequim, seria importante manter Brasil e EUA como fornecedores estratégicos, até para reduzir a alta dependência das fazendas brasileiras. No Palácio do Planalto, porém, há quem veja as coisas de maneira menos pragmática. Dias atrás, Trump usou uma rede social para incentivar o governo chinês a uma “rápida quadruplicação” das importações de soja americana, o que representaria uma volta da China à antiga dependência dos EUA. Celso Amorim, assessor de política externa de Lula, enxergou na mensagem de Trump a Xi Jinping uma proclamação hostil, “quase um estado de guerra contra o Brasil”. Sobressaltos constantes em Brasília são sintomáticos da falta de clareza política sobre o que o país quer da China ou mesmo dos Estados Unidos. Não há, também, nitidez sobre a agenda para o não alinhamento nessa guerra econômica entre potências nem sobre como se pretenderia extrair vantagens — e quais seriam — se essa fosse a escolha nacional. Pequim mantém o roteiro previsto na sua estratégia de expansão da influência na América do Sul, reivindicando certificação como principal rival dos Estados Unidos e reafirmando interesse em manter o Brasil como reserva estratégica e confiável de abastecimento de alimentos e minerais. A China definiu uma política de investimentos adequada aos seus interesses. Eis três exemplos: 1) A importadora chinesa, Cofco, está investindo 285 milhões de dólares, ou 1,5 bilhão de reais, na construção de terminal exclusivo para soja no Porto de Santos. 2) O governo chinês analisa, também, investimentos numa ferrovia para escoar os grãos do Cerrado brasileiro pelo superporto, ainda ocioso, que construiu em Chancay, no litoral do Peru; 3) Estuda, ainda, o uso da hidrovia do Paraná para conexão com portos do Chile. Para alguns, a fragilidade econômica brasileira exposta nesse choque entre potências deveria ser encarada pelo governo como oportunidade para mudanças estruturais. Uma delas deveria ser o aumento do poder de competição da indústria, onde a produtividade do trabalho está em declínio há cinco anos seguidos (em 2024, a queda foi de 0,8%) — observa o diplomata José Graça Lima numa análise para o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a Fundação Konrad Adenauer. Se é o caso, talvez seja preciso acelerar providências de autoproteção, porque o governo Trump deixou o Brasil praticamente sitiado por um tarifaço (até 50% nas importações), combinado a uma investigação por concorrência “desleal” no comércio e, além disso, mobilizando o Congresso para aprovar uma lei autorizando recursos para agências de espionagem realizarem uma devassa na parceria China-Brasil no comércio agrícola. Essa legislação está prevista para ser aprovada até 1º de outubro. Ela obriga a Agência Central de Inteligência (CIA) e a Agência de Segurança Nacional (NSA) a vasculhar a “extensão com que o ditador chinês Xi Jinping participou ou dirigiu interações com a liderança brasileira em relação ao setor agrícola brasileiro; o grau de envolvimento entre o governo chinês e o setor agrícola brasileiro; o número de autoridades da China ou de propriedade do governo chinês que investiram no setor agrícola do Brasil, incluindo joint ventures com empresas brasileiras; e os impactos decorrentes dos investimentos ou do controle do setor agrícola no Brasil pelo governo chinês”. O projeto de lei de 280 páginas estabelece prazo de noventa dias para submissão do relatório de espionagem ao Congresso. Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958 Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/o-agro-no-alvo/ O agro no alvo EUA tentam tomar do Brasil parte do bilionário mercado chinês de soja Por José Casado Atualizado em 22 ago 2025, 19h57 - Publicado em 22 ago 2025, 06h00 Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/o-agro-no-alvo/
Falador Passa Mal Os Originais do Samba Falador passa mal, rapaz Falador passa mal Falador passa mal, rapaz Falador passa mal, rapaz Falador passa mal Falador passa mal, rapaz Quem mandou você mentir? Você vai se machucar Novamente aqui estou Você vai ter de me aturar Falador passa mal, rapaz Falador passa mal Falador passa mal, rapaz Quem mandou você mentir? Você vai se machucar Novamente aqui estou Você vai ter de me aturar Que malandro é você Que não sabe o que diz? Cuidado que muita mentira Você pode perder o nariz Olha, eu vou te dá um a-lô Que é pra você se mancar Olha, eu vou te dá um a-lô Que é pra você se mancar Se você saiu por aí E não conseguiu arranjar alguém Deixe que alguém saia por aí E consiga arranjar você porque Falador, falador Falador, falador (Alô!) Falador passa mal, rapaz Falador passa mal Falador passa mal, rapaz Que malandro é você? Que não sabe o que diz Cuidado que muita mentira Você pode perder o nariz Olha, eu vou te dá um a-lô Que é pra você se mancar Olha, eu vou te dá um a-lô Que é pra você se mancar Se você saiu por aí E não conseguiu arranjar alguém Deixe que alguém saia por aí E consiga arranjar você porque Falador, falador Falador, falador (ih, falou) Falador, falador Falador, falador Composição: Jorge Ben Jor.
segunda-feira, 25 de agosto de 2025 Morre, aos 93 anos, o cartunista Jaguar, um dos fundadores do Pasquim Por Ruan de Souza Gabriel / O Globo Autor de 'Átila, você é bárbaro' e criador de personagens como o ratinho Zig e Gastão, o Vomitador, carioca será velado nesta segunda-feira na Capela Celestial do Crematório Memorial do Carmo, no Rio Morreu, neste domingo (24), o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, aos 93 anos. Segundo nota do Hospital Copa D’Or, ele estava “internado em razão de uma infecção respiratória, que evoluiu com complicações renais”. Nos últimos dias, Jaguar “estava sob cuidados paliativos”. O velório acontece nesta segunda-feira (25), das 12h às 15h, na Capela Celestial do Crematório Memorial do Carmo, no Rio. Mês passado, durante as comemorações do centenário do GLOBO, Jaguar posou para um ensaio fotográfico da revista ELA dedicado a quase centenários. Na ocasião, deu sua última entrevista. “Tive uma vidinha boa. Não me aprofundava em meditações, ia vivendo o momento”, disse, acrescentando que ainda seguia a mesma filosofia. “Não planejo o futuro nem lamento nada do que fiz”, afirmou o autor de “Ipanema, se não me falha a memória”. Carioca nascido em 29 de fevereiro de 1932, Jaguar começou a carreira desenhando para revista Manchete. em 1952. Adotou seu famoso pseudônimo por sugestão do cartunista Borjalo. À época, trabalhava no Banco Brasil, subordinado ao cronista Sérgio Porto, que o convenceu a não abandonar o emprego para se dedicar exclusivamente à carreira no humor. Só saiu do banco em 1974. Nos anos 1960, consagrou-se como um dos principais cartunistas da revista Senhor e colaborou também com a Revista Civilização Brasileira, a Revista da Semana, a Pif-Paf e os jornais Última Hora e Tribuna da Imprensa. Em 1968, lançou seu primeiro livro, “Átila, você é bárbaro”, um sucesso instantâneo, que, com ironia, combatia o preconceito, a ignorância e a violência. “Comparado com os vândalos de hoje, Átila não passa de um doce bárbaro”, afirmou o autor. O cronista Paulo Mendes Campos descreveu a obra como “um livro de poemas gráficos”. Ao lado de Tarso de Castro e Sérgio Cabral, fundou o Pasquim em 1969. Irreverente e combativo, o jornal marcou a imprensa alternativa que floresceu à sombra ditadura militar e congregou alguns dos maiores expoentes do jornalismo e das artes brasileiras, como Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis e Sérgio Augusto. De Zig a Gastão Jaguar batizou o jornal e desenhou um dos símbolos mais populares do Pasquim, o ratinho sacana Sig (de Sigmund Freud), inspirado numa piada que arrancava risadas à época: “se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem”. Neurótico e libidinoso, Zig era apaixonado por Odete Lara e Tânia Scher. Originalmente, o ratinho havia sido criado para o lançamento da cerveja Skol. Junto com Ivan Lessa, Jaguar foi incumbido de desenhar uma história para campanha publicitária e assim nasceu a tirinha “Chopnics”, mistura de “chopp” com “beatniks”, estrelada pelo Capitão Ipanema, o BD (cuja inspiração era o ator Hugo Leão de Castro, o Hugo Bidê, que tinha um ratinho branco que o acompanhava aos bares). Outro personagem que alcançou a fama foi Gastão, o Vomitador, que passava mal e punha tudo para fora diante dos absurdos do noticiário. Em 2015, Jaguar revelou que notícia terrível havia inspirado o enjoo do personagem: numa entrevista ao Pasquim, em 1972, o roteirista Carlos Manga confessou “um crime hediondo”: “ele foi o inventor do júri de televisão”. “Ilustrei sua declaração com o Gastão vomitando. Gastão teve vida breve. Como não sabia fazer outra coisa além de vomitar, enjoei de desenhá-lo e o despedi”, contou o humorista, também criador de Bóris, o Homem-Tronco; Wilson, o Dubitativo; Anta de Tênis; Lulu, o Protozoário (apenas uma tira publicada), Bicho Borka, entre outros personagens. Jaguar descrevia O Pasquim como “o auge do sucesso”. — Até a censura era um barato — disse ele em entrevista. — Era feita pelo Coronel Juarez, um bonitão, sósia do Gary Cooper. Recebia a gente na garçonnière dele. Pegava o material e riscava a lápis. A gente argumentava. Havia diálogo. O pessoal torcia para chegarem as garotas. Ele apresentava: “Esses são meus amigos do famoso ‘Pasquim’.” Aí liberava as maiores atrocidades! Ele tinha uma turma de coroas na praia, a gente contratou uma loura espetacular de biquíni. Ela levava o material, e ele censurava na praia! E ela, alisando o velho, dizia: “Ah, meu bem, não faz isso, os meninos vão ficar tão tristes...” Ele ficava orgulhoso e liberava. Autor de “Rato de redação: Sig e a história do Pasquim” (Matrix), Márcio Pinheiro afirma que Jaguar “teve peso decisivo para manter o jornal de pé do começo ao fim” e que muito da irreverência e da combatividade do semanário se deviam ao cartunista. — Jaguar se destacava primeiro por seu traço. Ele criou o Pasquim aos 37 anos, já era um nome de primeira linha nas artes gráficas brasileiras. Ajudou a mudar a maneira como se fazia charge e jornalismo no Brasil — diz o autor. — O legado de Jaguar já começou a se afirmar nos anos 1960. Ele formou sucessores como Chico e Paulo Caruso e depois a turma de São Paulo, de Angeli e Laerte. A obra dele vai permanecer. Ele está na história da imprensa e do desenho brasileiro. E viveu uma vida à altura de seu talento. 'Gênio do humor' O cartunista e roteirista Arnaldo Branco afirma que, além de ser “um gênio do humor”, “Jaguar era fera em se meter em encrenca”: — Foi o primeiro a se manifestar contra a ditadura militar quando o jornal onde trabalhava, o Última Hora, foi destruído por golpistas (desenhou um gorila sapateando em uma máquina de escrever). Fundou O Pasquim, para falar mal dos militares e fez quase todo o staff ser preso em 1969, quando publicou uma paródia do quadro Grito do Ipiranga com Dom Pedro bradando “Eu quero mocotó!” — conta Branco. — Vai fazer falta nessa época em que humoristas sem um pingo da sua coragem nem inimigos do mesmo porte reclamam de perseguição. Em 1970, Jaguar passou três meses encarcerado pela ditadura militar e foi solto no réveillon. Famoso por ser um dos humoristas mais escrachados do país, ele brincava que prisão “foi a fase mais feliz da minha vida”. — Nunca bebi tanto. Não é piada: foi a fase mais feliz da minha vida. Acordava e pensava: “O que tenho para fazer hoje? Porra nenhuma!” Subornava os guardas para ter cachaça. Bebia do gargalo e jogava num matagal atrás da cela. Consegui ler 60 páginas de “Ulisses”. Depois não retomei. “Ulisses” ou você lê na prisão ou não lê. Em 2008, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu ao cartunista uma indenização de mais de R$ 1 milhão e uma pensão mensal de R$ 4 mil em reparação à perseguição política durante a ditadura militar. Ele recebeu críticas devido ao montante da indenização e reclamou que “não esperava levar tanta porrada”. Jaguar foi o único da equipe original a permanecer no semanário até a última edição, em novembro de 1991. No ano anterior, a turma do Pasquim havia sido homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz com o enredo “Os heróis da resistência”. Jaguar lia muita poesia e gostava de jazz. E de futebol. Não tinha nenhum preconceito. Assistia ao ludopédio nacional, mas também ao inglês, ao espanhol e ao italiano. Era vascaíno e teve a sorte de morar em Santos nos tempos de Pelé. Também era “viciado” em jornal de papel. Aos 82 anos, o autor de “Confesso que bebi” se tornou abstêmio por causa de um tumor no fígado. — Agora, só cerveja sem álcool. Quer dizer, tem 0,5% de álcool. Ou seja, de 0,5 em 0,5 a gente pode chegar a um resultado expressivo! Como disse aquele comediante Marcelo Adnet, que também está abstêmio, “é zero, mas pelo menos não é usada” — disse ele em 2014 ao GLOBO, numa entrevista que jurou ser a última. — Depois de sair no GLOBO, só falo para o “New York Times”. À época da entrevista, Jaguar trabalhava no jornal O Dia e comemorou ser reconhecido “por taxistas e mendigos”. — Uma caixa de supermercado outro dia viu minha assinatura e perguntou: “Jaguar, o cartunista?” Eu disse: “Como é que você sabe?” E ela: “Eu posso ser humilde, mas me interesso por cultura.” Eu achei tão bonitinho! Disse ainda que se considerava um “bom cronista de situações”, mas que, pasmem, não sabia desenhar.

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