domingo, 31 de agosto de 2025

O Samba do Acórdão Malandro

No Brasil até o passado é incerto, quanto mais o futuro de um acordo em papel carbono. LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO SOBRE TEXTOS FAKES Em 1962, no Chile, Garrincha resolveu sozinho. Bebeu, riu, driblou, ganhou. Um cronista faria o mesmo nas páginas de jornal: driblava ministros, generais, poderosos — e quando se davam conta, já estavam ridicularizados sem entender como. Garrincha desequilibrava com a bola, Verissimo com a ironia. Os dois deixavam o adversário olhando para o nada.
18 DE JUNHO DE 1962 A pátria que dava certo Garrincha rouba a cena na conquista do bi mundial Enquanto a seleção brasileira disputava a Copa no Chile, travava-se intensa luta política em torno da indicação de San Tiago Dantas para primeiro-ministro, afinal rejeitada. Se o quadro político não estimulava otimismo, o futebol era motivo de grande alegria popular. O time que fora ao Chile em 62 tinha na espinha dorsal a seleção de 58 e, como grande estrela, Pelé. O jogador, porém, contundiu-se logo no início da Copa. Mas foi bem substituído por Amarildo. O grande destaque da seleção seria Garrincha. Até gol de cabeça o ponta fez. O Brasil chegava ao bicampeonato mundial. “Mudar tudo para que nada mude” — Lampedusa, que nunca tomou chope na Lapa mas adivinhou o Brasil. "A política brasileira é como samba de breque: para na hora errada, recomeça na hora errada, e ainda assim todo mundo dança."
Se a política é um Grenal eterno, este acórdão é aquele empate sem gols que ninguém quer ver, mas todo mundo finge que valeu o ingresso. E, como sempre, sobra pra torcida: a gente canta o samba, paga a cerveja e ainda reclama do juiz. Pelo menos no papel carbono não tem impedimento.📌 Resumo Um acordo político secreto, travestido de solenidade jurídica, vaza em duas versões diferentes: uma cai no colo de Noel Rosa, outra no de Wilson Batista. Cada um faz um samba zombando da esperteza oficial. Descobrindo-se enganados, Noel e Wilson se unem e compõem, em parceria, um terceiro samba — mas assinado, ironicamente, pelos próprios autores do acórdão. CRÔNICA À MODA DE STANISLAW PONTE PRETA O Samba do Acórdão Malandro Outro dia, no botequim da esquina, entre um chope e uma linguicinha aperitivo, caiu-me às mãos um documento soleníssimo, com rubricas, carimbos e até cláusulas em latim de segunda categoria. Era o tal “Acórdão Bolso-Lulão”, aquele tratado jurídico-político que promete libertar todo mundo da cadeia e amarrar o Brasil no papel carbono. Acontece que, como nada neste país fica em segredo — nem as confidências da amante do deputado nem a gorjeta do garçom —, duas versões do acordo vazaram. E foram parar, vejam só, no colo de dois compositores que entendem mais de malandragem que muito advogado do Supremo: Noel Rosa e Wilson Batista. A PRIMEIRA CONFUSÃO Noel, recebendo a versão moderna, bateu o olho nas cláusulas e soltou um sorriso torto: — Ora, se cada um se escala pra não ser, e o bastão só passa no último minuto, isso é mais samba que Constituição. Resultado: Noel fez logo um samba com ironia elegante, cheio de síncopa e frase curta, que falava em “se livrar da Papuda” com o mesmo desdém com que falava da Vila Isabel sem bonde. Já Wilson Batista, sempre mais direto e cabra da noite, recebeu a versão barroca, cheia de “mudar tudo pra nada mudar”. Meteu-lhe na batida dura do Estácio, e fez samba de breque com ameaça e deboche, prometendo que ninguém larga o poder, mas todo mundo dança. O SEGUNDO MALANDRO Quando os dois sambas foram parar no rádio, adivinhem quem bateu palmas? Os próprios autores do acórdão! Um aplaudia Noel, o outro aplaudia Wilson, e os dois diziam: — Esse samba é meu retrato! Até que os compositores descobriram a tramoia: tinham sido enganados, usados como testas-de-ferro para dar verniz popular a um acordo que não libertava ninguém — só perpetuava a esperteza oficial. A VIRADA Magoado, Noel chamou Wilson: — Compadre, estamos na mesma. Fizeram de nós laranjas musicais. E Wilson, cuspindo o cigarro: — Então, vamos dar o troco. E assim nasceu a parceria improvável: um samba com melodia de Noel, malícia de Wilson e autoria... assinada pelos dois políticos do acórdão. No refrão, a vingança vinha embrulhada em malandragem: um samba que parecia elogio, mas era veneno em compasso ternário. 🎶 1. SAMBA AO ESTILO DE NOEL ROSA (irônico, cotidiano, leve, Vila Isabel como pano de fundo) 🎵 Na Vila tem sempre um acordo, no botequim tem Constituição, o malandro assina com o dedo, e o doutor carimba de salão. Se dizem que a lei é moderna, eu respondo com meu violão: quem troca de terno na esquina não troca jamais de intenção. Refrão: E o povo vai, cantando no bonde sem trilho, um sai da Papuda, outro foge com brilho. Na Vila é assim, se muda o discurso, mas nunca se muda o dono do curso. 🎵 🎶 2. SAMBA AO ESTILO DE WILSON BATISTA (duro, urbano, direto, com ginga de Estácio e breque) 🎵 Lá vem mais um acordo fechado, no escuro da rua, no meio do jogo. Prometeram cadeia vazia, mas lotaram o bolso de novo. (— Breque —) Quem manda é quem grita, quem cala apanha. Se não passa o bastão, ninguém ganha. No batuque da noite eu avisei: malandro não erra, repete o que eu sei. Refrão: Trocam de cela, mas não de muralha. O truque é antigo, a mentira não falha. 🎵 🎶 3. SAMBA DE PARCERIA APÓCRIFA (mistura dos dois estilos, leveza de Noel + dureza de Wilson; autoria assinada pelos políticos do “Acórdão”) 🎵 Mudaram o discurso, pintaram de novo, mas o mesmo retrato engana o povo. De terno ou de tamanco, quem dança é o chão, no último minuto se passa o bastão. Refrão: É samba de papel carbono, com rubrica e testemunha no salão. Um sai da Papuda, outro foge de Curitiba, mas no fim das contas ninguém larga o violão. (— Breque —) E se o povo desconfia, vai cantando devagar, que promessa em compasso é promessa pra não se cumprir no ar. 🎵 📰 CRÔNICA DE STANISLAW PONTE PRETA O SAMBA DO ACÓRDÃO MALANDRO Epígrafe "No Brasil até o passado é incerto, quanto mais o futuro de um acordo em papel carbono." Citação “Mudar tudo para que nada mude” — Lampedusa, que nunca tomou chope na Lapa mas adivinhou o Brasil. Pensamento ironicamente edificante "A política brasileira é como samba de breque: para na hora errada, recomeça na hora errada, e ainda assim todo mundo dança." Sugestão de ilustração Uma caricatura já circulante nas redes sociais, onde Noel Rosa e Wilson Batista tocam cavaquinho e violão na calçada, enquanto dois personagens engravatados (com feições “genéricas” de políticos conhecidos) se escondem atrás de um cartaz escrito “ACÓRDÃO BOLSO-LULÃO – Assinatura a rogo”. 📌 Resumo Um acordo político secreto, travestido de solenidade jurídica, vaza em duas versões diferentes: uma cai no colo de Noel Rosa, outra no de Wilson Batista. Cada um faz um samba zombando da esperteza oficial. Descobrindo-se enganados, Noel e Wilson se unem e compõem, em parceria, um terceiro samba — mas assinado, ironicamente, pelos próprios autores do acórdão. 📑 Fundamentação A política como samba: O “Acórdão Bolso-Lulão” funciona como partitura de malandragem, em que cláusulas viram refrão e parágrafos viram breque. O duplo vazamento: Noel recebe a versão moderna, responde com ironia cotidiana; Wilson, com a versão barroca, rebate em batida dura. A vingança malandra: Enganados pelos dois políticos, os sambistas dão o troco compondo juntos — mas cedendo a autoria a quem nunca compôs nada além de promessas. 📚 Justificação A crônica é justificada pelo princípio universal da sátira: quando a política se traveste de solenidade, a música popular revela sua nudez. E quando o povo canta, ainda que em deboche, entende mais de lei que muito jurista. 🔚 Conclusão Na disputa entre poder e malandragem, quem perde é sempre a ingenuidade. Noel e Wilson souberam rir disso em samba; Stanislaw Ponte Preta, em crônica. E nós, leitores, bebemos a saideira: um brinde amargo e divertido ao eterno acordo que nunca muda nada. 📖 Fontes e Referências Código Civil Brasileiro, art. 595. Crônicas de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto). Obra musical de Noel Rosa e Wilson Batista (referência estilística). O Leopardo (Giuseppe Tomasi di Lampedusa). Memória popular e oralidade das rodas de samba. ⚰️ Epitáfio "Ninguém fica para semente nesta terra de ninguém: nem político, nem cronista, nem sambista. O que sobra é o eco do pandeiro e a gargalhada da plateia." 📝 NOTA DA REDAÇÃO "A presente edição, que deveria ter vindo a lume no raiar de ontem, só hoje sai às ruas porque o nosso tipógrafo, entusiasmado com o samba de breque, confundiu o compasso do pandeiro com o freio do trem da Central. Assim, atrasou-se a composição das linotipos, que chegaram à oficina dançando miudinho e rimando em dó maior. Roga-se aos distintos leitores a devida paciência, pois a culpa, como sempre, é da malandragem nacional, que samba até nos trilhos."
sábado, 30 de agosto de 2025 Crise e mal-estar, por Marco Aurélio Nogueira O Estado de S. Paulo Falta, no Brasil atual, uma força democrática que se qualifique para apresentar um amplo programa de reformas para a sociedade Não é nova a percepção de que a vida moderna traria consigo ondas seguidas de mal-estar. Freud se referiu a isso em O mal-estar na civilização, no qual enfatizou que os indivíduos modernos reprimiriam (ou sublimariam) seus desejos e vontades (sua liberdade) para não contestar a segurança e as normas sociais. No início dos anos 90, o filósofo Charles Taylor revisitou o tema, para se referir ao “desconforto” que haveria nas sociedades modernas, invadidas pelo lado sombrio do individualismo e pela afirmação de um egocentrismo avesso ao interesse pelos demais. Mais tarde, Zygmunt Bauman aproveitou a tese de Freud para constatar que “o mal-estar na pós-modernidade” viria do fato de que os indivíduos se soltam de sua segurança para abraçar dimensões crescentes de liberdade, com as quais não sabem o que fazer. Hoje, saturados pela oferta abundante de informações, mercadorias, ondas de prazer fugaz, redes sociais tóxicas, os indivíduos não sabem em que portos ancorar, atordoados pela insegurança existencial, pelo desemprego estrutural, pela miséria de muitos, pelo vazio de utopias e perspectivas políticas. A sociedade está viva, mas parece doente, como se não soubesse aproveitar o que tem de bom, a começar da sua força cultural, energética, ambiental. O mal-estar social incomoda e paralisa o País. Invade a relação da população com o Estado. Alimenta o populismo de extrema direita, com sua demagogia “patriótica”, agora desmentida ostensivamente pelas estripulias agressivas de Trump. Assim como o conceito de crise, mal-estar é expressão escorregadia. Ambas sugerem desgaste, disfuncionalidade sistêmica, desorganização, paralisia, desconforto, sofrimento. Referem-se a situações que podem afetar uma sociedade inteira. Crises (políticas, econômicas, morais, éticas) reverberam, atingem o mercado, a governança, os cálculos eleitorais, o bem-estar da população, a democracia. O Brasil está hoje num momento estranho, analítica e politicamente desafiador. Ora parece uma bomba prestes a ser detonada. Ora entra em aparente normalidade, que logo se desfaz. Há bastante gente participando do jogo político miúdo, mas os times mal se compõem e não têm liderança. Difícil captar o que virá da política, como se um véu recobrisse tudo. Os Poderes podem muito, mas não dirigem. Os problemas se acumulam. As relações entre o Executivo e o Legislativo estão sem sintonia, colidem entre si e com o Judiciário. Os partidos não organizam nem interagem com a sociedade. Os campos políticos e ideológicos estão cortados por desentendimentos. A disposição acentuada para o confronto político é o vetor que mais se manifesta. Faltam moderadores e construtores de consensos. Há muitas pessoas indignadas, revoltadas, confusas, propensas a buscar um “salvador” ou descrentes de tudo, a começar da política, dos políticos e dos governos. Há muitas vozes, mas pouca coordenação. Muito medo, raiva e ódio, pouca disposição para o diálogo. As atitudes e medidas de Trump prejudicam nossa economia e agridem o Estado brasileiro. A extrema direita saúda a bandeira dos EUA e bate continência para ela. Eduardo Bolsonaro conspira abertamente nos EUA. A insensatez é completa, exibida em nome do combate ao “comunismo” e a um “sistema viciado”. O bolsonarismo age com estridência e contestação generalizada, e, com isso captura muitos descontentes. Não se sabe o fôlego que terá com Bolsonaro na prisão. Uma possibilidade real é que navegue na onda trumpista e se marginalize, o que incentivará a direita a dele se afastar. Mas isso não é certo. Seus seguidores batem bumbos que são ouvidos pelos setores conservadores radicalizados. Se uma centro-direita pósbolsonarista surgir, ela poderá se afirmar de modo competitivo. Sabendo dosar sua postulação e atuar com inteligência, terá como se converter em fator de agregação política alternativa, capaz de apresentar um plano de governo para repor o País nos trilhos e dissolver a polarização. O terreno está dado. Exige passos largos, e não há, no Brasil, boas lideranças políticas, nem uma população disposta a se engajar na política. Com o governo Lula entregue a manobras eleitorais, restringido por compromissos que não lhe dão rumo, o mal-estar tende a se manter. Quando diferentes crises se entrecruzam, sua gravidade aumenta. Pode não ocorrer um desfecho e os estragos irem se normalizando, com o mal-estar se tornando parte da vida e a sociedade ir sangrando lentamente. Os motores eleitorais estão a esquentar. Políticos pragmáticos se movimentam. Não há como afirmar que evoluirão a ponto de fornecer saídas para o País. O fato é que falta, no Brasil atual, uma força democrática (liberais, socialistas, socialdemocratas) que se qualifique para apresentar um amplo programa de reformas para a sociedade. A esquerda democrática, hoje atarantada, deveria dar sua contribuição, no mínimo apresentando um desenho estratégico de País. Pouco adianta ter combatividade com intransigência e mãos vazias, sem admitir que o mundo mudou e novas ideias são indispensáveis.
revistapiaui • Áudio original Foto do perfil de revistapiaui revistapiaui 13 h Repórter independente que virou alvo da censura na China, Jiang Xue é um das atrações do Festival piauí de Jornalismo, no próximo final de semana. Último lote de ingressos. Clique nos stories ou no link da bio para comprar. Edição de Imagens: Giovanna Silveira Narração: Pedro Tavares https://www.instagram.com/reel/DN-ywzgjVV-/?igsh=a201c3R5aTFobXgz
Fora do jogo Caso Bolsonaro permite vislumbre da liquefação política brasileira Por José Casado Atualizado em 29 ago 2025, 14h59 - Publicado em 29 ago 2025, 06h00 Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/fora-do-jogo-2/
Aos 70 anos, Jair Bolsonaro teme o futuro. Ele bate à porta da sua confortável casa em Brasília, na terça-feira (2/9), onde está confinado e vigiado por ordem do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro tem bons motivos para sobressaltos. Aguarda em prisão domiciliar uma sentença judicial que pode obrigá-lo a atravessar o resto da vida recluso e marginalizado do jogo político-eleitoral. É acusado de crimes contra a Constituição — entre eles, tentativa de golpe de Estado —, com três dezenas de aliados civis e militares. O julgamento no STF é o epílogo da aventura desse grupo político mambembe para se manter no poder, depois da derrota na eleição presidencial de 2022. São notáveis alguns aspectos do retrato de Bolsonaro apresentado por seus defensores, que devem ser realçados nessa fase final do julgamento no STF. Nada tem a ver com o veemente presidente instigando desobediência civil ao Judiciário e o confronto com juízes “canalhas”, ou o truculento candidato incitando a aniquilação de adversários “petralhas” liderados por “ladrão”, “vagabundo”, “pinguço”… No processo, ele é descrito quase como personagem de uma fábula, que poderia começar assim: “Era uma vez um pobre coitado presidente da República, que vagava deprimido, combalido e débil pelas salas e jardins do Palácio da Alvorada, em Brasília, depois de perder a eleição de 2022…”. É o que diz a versão do próprio Bolsonaro nos autos, construída com base nos depoimentos de testemunhas de defesa sobre a sua situação emocional nas semanas de efervescência golpista. Depois da derrota nas urnas, ele escolheu se isolar e permaneceu as semanas finais do governo em “profunda tristeza”, “cabisbaixo”, “monossilábico”, “deprimido”, “desgastado”, “debilitado”, “doente e com dores”. Nada disso, ressalva a acusação, atropelou o ânimo do então presidente para se reunir inúmeras vezes com aliados e discutir alternativas de um golpe de Estado. Essa ideia foi recorrente, quase uma fixação, em discursos de Bolsonaro durante os 28 anos em que foi deputado federal. “Caso Bolsonaro permite vislumbre da liquefação política brasileira” Na Câmara nunca foi punido, nem quando sugeriu fuzilar o presidente da República. Foi protegido com a blindagem corporativa, aplicada até a caso de réu por assassinato — como mostrou a Câmara ao se recusar a cassar um antigo aliado de Bolsonaro, o deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar fuzilar a vereadora Marielle Franco no centro do Rio. Na primavera de 2022, no Alvorada, desenhou-se anulação do resultado das urnas, instauração de junta provisória de governo, deposição ou prisão de juízes do Supremo e, eventualmente, nova eleição. Foi encontrado um plano de assassinato dos adversários eleitos, Lula e o vice Geraldo Alckmin, e, também, do juiz Alexandre de Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral. Autor confesso, o general Mário Fernandes era secretário-executivo da Presidência da República. No tribunal, ele definiu o projeto de triplo homicídio por motivos políticos como se dissertasse sobre um cândido aprendiz da arte de matar: “Um pensamento meu que foi digitalizado; um compilar de dados; um estudo de situação meu; uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar…”. Imprimiu cópia no palácio, na sala ao lado de onde estava Bolsonaro. Foi somente “para não forçar a vista” na leitura do prospecto com o título “Punhal Verde Amarelo” numa tela de telefone ou computador. O que aconteceu depois? “Rasguei. Não compartilhei esse arquivo com ninguém.” Não se encontra em Brasília um político capaz de apostar em outro desfecho no STF que não seja a condenação de Bolsonaro e dos civis e militares associados na intolerância com a divergência política. Já é o segundo ex-presidente em prisão domiciliar. Fernando Collor cumpre em casa, em Maceió, pena de oito anos e dez meses por corrupção em contratos na Petrobras. É um caso raro de punição na Lava-Jato confirmada pelo STF, que tende a balizar a sentença de Bolsonaro. Esse julgamento acende luzes sobre a disfuncionalidade das instituições num país que somente nos últimos sete anos prendeu tantos ex-presidentes quanto havia aprisionado nos primeiros 129 anos da República. Desde 2018 foram presos quatro ex-chefes de Estado: Michel Temer, Lula, Fernando Collor e Jair Bolsonaro. Em quatro décadas desde a redemocratização, dois presidentes foram derrubados, e pedidos de impeachment contra o governo e o Judiciário viraram rotina no Congresso. O caso Bolsonaro permite um vislumbre da liquefação política brasileira. Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2025, edição nº 2959 Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/fora-do-jogo-2/
Jazz 6 | Programa Instrumental Sesc Brasil Instrumental Sesc Brasil Compartilhar 27 de ago. de 2018 A idéia de formar o grupo se deu através de uma apresentação informal em um Café de Porto Alegre, reunindo músicos com gosto comum pelo jazz instrumental e a bossa nova. A partir de sua primeira apresentação, o grupo começou a receber diversos convites para shows nos mais variados locais. O grupo surpreende pelo improviso e desenvoltura ao mesclar o estilo jazzístico ao balanço brasileiro, em uma mistura de muito bom gosto. Ficha técnica: LUIS FERNANDO VERÍSSIMO saxofone LUIZ FERNANDO ROCHA trompete e flugelhorn EDSON DE LIMA ESPINDOLA bateria ADÃO PINHEIRO piano JORGE GERHARDT contrabaixo elétrico Repertório 0:56 - FOUR (Miles Davis) 6:27 - SAMBA DE VERÃO (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) 12:15 - FANTASY FOR DRUMS (Ray Lewis) 17:46 - DON'T GET AROUND MUCH ANYMORE (Duke Ellington) 24:53 - TAKE A TRAIN (Duke Ellington) 30:55 - A RÃ (João Donato e Caetano Veloso) 36:19 - HERE'S THAT A RAINY DAY (Jimmy Van Heusen e Johnny Burke) 41:52 - BLUE MONK (Thelonious Monk) 48:00 - BLUES FOR IG (Carry Campbell) Captação / Mixagem Show TUKASOM Trilha Sonora Vinheta / Mixagem PGM ESTÚDIO TRILHA ORIGINAL PRODUÇÃO CANAL INDEPENDENTE Operador de Vídeo HÉLIO LAURENTINO SHULTES Coordenador de Unidade Móvel RENATO VATEZECK Supervisão de Operações RICARDO VATEZECK Operador de Áudio ANDERSON GALDINO Operador de VT REINALDO ROCHA Assistente de Câmera JOSÉ CAMPOS DE DEUS RONALDO DAS GRAÇAS DE CARVALHO ANTONIO DA SILVA WALTER LAURENTINO SHULTES FÁBIO GOUDET Operador de Câmera DIEGO KARMANN RENE GUARILA CARLOS TRAVAGLIA LUIS CARLOS CURY Equipe de Externa Câmera JOSÉ ELIAS DA SILVA Assistente de Câmera CARLOS ROBERTO SILVA JARDIM Transporte TRANSFER CLASS Cenografia ZÉ CARRATU Assistente de Iluminação ALBERTO GONÇALVES DE SOUZA Edição de imagem/Videografia FLÁVIO BRANT ALVIM JÚLIO BOAVENTURA Produção BRUNA PACHECO Pesquisa CLAUDIA ORTIZ Edição de Texto IGOR DELION Narração e Entrevista PATRICIA PALUMBO Diretor de TV MARCELO AMIKY Direção Artística e de Fotografia MAX ALVIM Direção Geral CARLOS ZEN Agradecimentos: ROBERTO BRUZADIN SESC AVENIDA CONSOLAÇÃO Coordenação de Programação FLÁVIA MIARI BOLAFFI Iluminação de Palco ANA CRISTINA ROMITELLI Sonorização RENATO YOSHINAGA Equipe Técnica CAROL RIBAS LUIZ FERNANDO FIGUEIREDO TIAGO DE SOUZA CRISTINA FONGARO PERES Gerente Adjunta PATRÍCIA PIQUERA VIANNA Gerente FELIPE MANCEBO GERÊNCIA DE AÇÃO CULTURAL Assistente Área de Música HENRIQUE RAMOS RUBIN SÉRGIO PINTO Gerente Adjunto FLÁVIA ANDREA CARVALHO Gerente de Ação Cultural ROSANA PAULO DA CUNHA SESCTV Produção CLÁUDIA DIAS PEREZ VALÉRIA MARIA GIANNOCCARO Coordenador de Produção ANTÔNIO ARANHA Coordenador de Programação JULIANO DE SOUZA Direção de Programação REGINA GAMBINI Direção Executiva VALTER VICENTE SALES FILHO Superintendente Técnico-social JOEL NAIMAYER PADULA Superintendente de Comunicação Social IVAN GIANNINI Diretor Regional SESCSP DANILO SANTOS DE MIRANDA Realização SescTV https://www.sesctv.org.br --- Show que ocorreu no Teatro Anchieta do Sesc Consolação dia 07/11/2011 • site oficial: https://www.instrumentalsescbrasil.or... • assista aos shows ao vivo pelo / sescsp Inscreva-se no canal / sescsp e fique por dentro de toda a programação que acontece nas unidades do Sesc no estado de São Paulo. Basta ter uma conta gratuita no Google. Momentos importantes Ver tudo Transcrição ELEMENTOS BÁSICOS DO JOGO NOÇÕES SOBRE TEMPO 57
(Diagrama do tabuleiro com legenda: Lance das brancas) As brancas têm à sua disposição os lances: 1. e1–d2 e 1. f2–e3 que faz troca da pedra. Suponhamos que as brancas escolhem a primeira continuação: e1–d2  a7–b6 d2–c3  b6–c5 E as pretas ganham. Vejamos a segunda continuação: f2–e3  f4 × d2 e1 × c3  a7–b6 c3–b4 E agora ganham as brancas. O que é que houve? No caso primeiro, a pedra e1 chegou à casa c3, fazendo dois lances e1–d2 e d2–c3; no segundo caso saindo da mesma casa, a pedra branca chegou à casa c3, fazendo somente um lance e1 × c3. Neste último caso as brancas economizaram um lance para atingir a casa c3, ou, falando em termos técnicos, se diz que ganharam tempo.
(Concertação civilizada X Consertação caótica 👆Editorial Estadão)
O veneno da antipolítica O Estado de S. Paulo Pesquisa mostra que frustração com a política dita tradicional abre espaço para ‘outsiders’ que oferecem salvação, mas entregam desordem. País precisa da política e de políticos sérios A história republicana do País demonstra que a supremacia da emoção sobre a razão abre um perigoso espaço, de tempos em tempos, para a ascensão de aventureiros políticos. Na atual quadra, a insatisfação popular com a chamada “classe política”, associada ao desgaste provocado pela polarização tão virulenta quanto estéril entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, abriu uma avenida para os chamados outsiders, aqueles que se apresentam como elixir contra um “sistema” que supostamente degrada tudo o que toca. A tentação de seguir essa gente, como bem se sabe, é grande. Mas é também perigosa. Uma pesquisa Genial/Quaest realizada entre os dias 13 e 17 deste mês, à qual o jornalista César Felício, do Valor Econômico, teve acesso, revelou que 27% dos eleitores consideram ideal para o Brasil, em 2026, a eleição de “alguém de fora da política” para a Presidência da República. Já para 28% o melhor cenário é a reeleição de Lula, ante 19% que acreditam que o melhor para o País é a vitória de Bolsonaro, malgrado o ex-presidente estar inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Trata-se da comprovação estatística de que cresce na sociedade uma “demanda por novidade”, como salientou Felício. Essa “novidade” confunde-se com a negação da política. Isso deveria preocupar todos os que, como este jornal, têm compromisso inarredável com os valores democráticos e princípios republicanos. O apelo dos outsiders não é fruto da irracionalidade do eleitor. É apenas o termômetro de uma patologia social à qual não deu causa: o descaso de políticos profissionais pelos reais anseios da sociedade. Parlamentares e governantes, ao priorizarem seus interesses pessoais e partidários em detrimento das necessidades prementes da população, afastam-se da missão essencial de exercer o poder com responsabilidade e espírito público. Diante disso, pouco resta ao eleitor a não ser pautar suas decisões pela descrença. O erro, portanto, não é do eleitorado, mas daqueles que traem o mandato por enxergarem a política como patrimônio, não como serviço. Convém lembrar: não há solução civilizada fora da política. Rejeitar a política é abrir caminho para a barbárie e para o arbítrio. A política, com todas as suas imperfeições, é a única via de concertação civilizada entre a miríade de interesses em jogo numa sociedade complexa como a brasileira. Não é por outra razão que a Constituição estabelece a filiação partidária como condição de elegibilidade. Mas outsiders, por definição, são incontroláveis. Ao não se submeterem às regras escritas e não escritas que regem a vida pública, em particular a vida partidária, transformam a atividade política em terreno instável, hostil ao debate democrático e nocivo ao desenvolvimento político, social e econômico do País. Os partidos políticos, por sua vez, ao invés de se fortalecerem como instituições que filtram, preparam e disciplinam lideranças públicas, têm se deixado capturar pelo canto de sereia das candidaturas oportunistas. Movidos pelo desejo imediato de conquistar o poder – e ter acesso a nacos cada vez mais robustos do Fundo Partidário –, oferecem legenda a figuras notoriamente desqualificadas para a política, mas que, por seu apelo midiático ou carismático, acabam capturando atenções e passam a submeter a máquina partidária a seus desígnios pessoais. O resultado é a degradação do próprio modelo de representação política democrática. Os outsiders não são prejudiciais apenas para as legendas, mas sobretudo para o País. A curtíssimo prazo, os choques que buscam dar nas instituições e nos modelos de governança podem até gerar resultados que vão ao encontro dos anseios daqueles que os elegeram. Mas a imprevisibilidade e o personalismo logo cobram seu preço. Afinal, como fazer negócios e prover segurança jurídica a cidadãos e empresas em um ambiente sem regras estáveis, vale dizer, suscetível aos humores do governante de turno? A antipolítica nunca foi solução para nossas mazelas. É veneno. O Brasil precisa de líderes capazes de resgatar a confiança da sociedade na política como instrumento de mudança. A alternativa a isso é a aventura – e aventureiros, como a experiência comprova, só trazem desordem e frustração. Porteira aberta para o crime Cuidar de idosos 20 h · Uma homenagem ao querido escritor LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO, numa impecável interpretação de Marcos Nanimi. Vai com Deus, mestre das crônicas 🫶🏻
Luis Fernando Verissimo: o humorista que mudou o Brasil - domingo, 31 de agosto de 2025 Luis Fernando Verissimo falava muito pouco, mas fazia o Brasil inteiro rir, por Ruy Castro Folha de S. Paulo Cronista criou estilo único inspirado nos mestres americanos e conquistou com a sua observação elegante do absurdo cotidiano Luis Fernando Verissimo surgiu no Caderno B do Jornal do Brasil ao mesmo tempo em que, nos Estados Unidos, Woody Allen, já famoso no cinema, se revelava como humorista pela New Yorker. O ano era 1974 e, para alguns, a identidade de estilos era óbvia. Assim como Woody, Verissimo se punha na posição do observador que via o ridículo ou o absurdo com grande naturalidade. Também como Woody, ele não buscava a gargalhada, mas o riso silencioso. E seus personagens, assim como os de Woody, eram homens e mulheres nascidos não para, mas um contra o outro. O texto era elegante e conciso, bem diferente do coloquialismo barroco de Nelson Rodrigues e da ferina objetividade de Millôr Fernandes, os dois cronistas mais ativos da época. Mas Verissimo não devia nada a Woody Allen. A semelhança entre eles se dava por terem em comum as mesmas matrizes —os também americanos Robert Benchley, morto há 80 anos, e S. J. Perelman, que morreu em 1979. Apesar de vigente nos Estados Unidos desde princípios do século 20, ninguém fazia esse humor no Brasil. Verissimo foi pioneiro —ele próprio se definia como um brasileiro que escrevia "em americano traduzido". Hoje, esse tipo de humor está presente, sem a mesma qualidade, na maioria dos que praticam a comédia stand-up por aqui. Sem querer, e justamente por admirar o autor, atrasei em um ano a consagração de Verissimo. Em fins de 1975, o Jornal do Brasil criou a Domingo, a primeira revista semanal colorida dentro de um jornal, e seu editor-executivo —eu— quis Verissimo em suas páginas. Com isso, ele deixou de publicar no jornal, de alcance nacional, e passou a sair só na revista, que, no começo, circulava apenas nos exemplares que se destinavam ao Rio de Janeiro. E assim, durante algum tempo, Verissimo foi um privilégio dos cariocas. Quando foi reincorporado ao jornal, o Brasil o descobriu —e se apaixonou. Ele conseguiu a proeza de fazer o país rir com um personagem de forte sabor regional, o analista de Bagé. Outra de suas criações, a velhinha de Taubaté —a última pessoa no Brasil a continuar acreditando no regime militar— nos lavava semanalmente a alma. Minha favorita, no entanto, era uma que ele explorava pouco, a ravissante Dorinha Doravante, a socialite socialista, que escrevia ao cronista cartas deliciosamente cínicas. Verissimo também desenhava (na minha opinião, muito bem) e construiu pequenas grandes sagas em quadrinhos.
O Hexa-Fake de Verissimo O Brasil começou a ganhar Copas em 1958, na Suécia. Pelé tinha 17 anos, o país descobria que podia ser campeão do mundo, e parecia que tínhamos inventado uma maneira nova de jogar bola: atravessar o tabuleiro inteiro em um lance só, como no livrinho de damas. A vitória foi tão natural que parecia inevitável. O mesmo efeito que um dia Luis Fernando Verissimo teria nas crônicas: você lia e pensava “mas é claro que era isso”. Só que ninguém tinha escrito antes. Em 1962, no Chile, Garrincha resolveu sozinho. Bebeu, riu, driblou, ganhou. Um cronista faria o mesmo nas páginas de jornal: driblava ministros, generais, poderosos — e quando se davam conta, já estavam ridicularizados sem entender como. Garrincha desequilibrava com a bola, Verissimo com a ironia. Os dois deixavam o adversário olhando para o nada. Em 1970, no México, a Seleção virou literatura: Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho. Cada jogada era uma frase. Cada passe, uma vírgula. E o gol, ponto final. O futebol mais bonito do mundo parecia escrito por Drummond em chuteiras. Verissimo, na mesma época, já fazia o contrário: crônicas que pareciam futebol. Curtas, elegantes, coletivas. Era como assistir um ataque brasileiro em papel jornal. Em 1994, em Pasadena, Romário decidiu. Pequeno, econômico, certeiro. “Me dá a bola que eu resolvo.” Verissimo poderia ter dito: “Me dá o tema que eu escrevo.” Romário fazia gols curtos; Verissimo fazia piadas curtas. Ambos com a mesma arrogância tranquila de quem sabia que ia acertar. E acertavam. Em 2002, Ronaldo renasceu. Depois das cirurgias, das piadas, da desconfiança. Voltou, marcou oito gols, deu o penta. Verissimo também renascia toda semana: cada domingo uma crônica nova, fresca, como se fosse a primeira. Ronaldo sorria sem dente, Verissimo sem alarde. Dois gênios discretos, com resultados escandalosos. E aí veio 2014. Sete da Alemanha, um nosso. Mas, para Verissimo, teria sido simples: “A Alemanha não fez sete gols. Fez cinco. Os dois últimos foram de cortesia. Só estavam cobrando os cinco títulos que já tínhamos levado antes. O brasileiro, como sempre, só percebeu quando já estava no cheque especial.” No fim das contas, os cinco primeiros gols de Belo Horizonte foram os juros atrasados da nossa história de glórias. Felipão, gaúcho como Verissimo, não merecia crucificação: foi apenas o caixa que entregou o recibo. Mas, se falamos em Copas, não dá para esquecer de 1950, a estrela que não veio. O Maracanazo, o trauma do quase. E é aí que Verissimo entra em campo de novo. Décadas depois, viveu o seu próprio “Maracanazo literário”: o texto Quase, que rodou a internet com sua assinatura sem nunca ter sido dele. Virou francês — Presque — e foi parar em antologia ao lado de Clarice, Drummond e Bandeira. Um título mundial que nunca jogou. Até que apareceu a verdadeira autora, Sarah Westphal, estudante de Medicina de Florianópolis, que escreveu o texto “inspirada por um menino que não a namorou, mas quase”. Verissimo não se ofendeu: riu, agradeceu e comentou que a moça já começava a carreira traduzida em Paris. Um “quase” de amor, um “quase” de autoria, um “quase” que virou piada. E assim, com cinco Copas reais e um título fantasma, chegamos ao nosso Hexa-Fake. O futebol nos deu glórias e vexames, Verissimo nos deu o riso que transforma glórias e vexames na mesma coisa: matéria de crônica. No céu, Pelé arma, Garrincha dribla, Ronaldo corre, Romário finaliza. E Verissimo, com a caneta, escreve a legenda: — “Quase ganhamos seis Copas. Mas já está bom. Quem tem cinco estrelas e um Presque não precisa de mais nada.”

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