quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Conjuntura Geopolítica e a Dialética do Concreto

UM TIPO VALENTE Maria Rita - Cara Valente O Brasil entre vira-latas e valentões A estratégia de não alinhamento ativo — tão defendida nos círculos de Itamaraty — só se sustenta como compromisso crível se vier acompanhada de cálculo fino em cada passo, profissionalismo ao tratar de temas espinhosos e, sobretudo, contenção na retórica. Em um mundo onde a Casa Branca dispara provocações e ameaças dia sim, outro também, a altivez brasileira precisa ser menos barulho e mais engenharia diplomática. Nelson Rodrigues, na pele de Fernanda Montenegro, já dizia: se o Brasil é vira-lata, que seja gloriosamente vira-lata. Essa autoironia talvez seja o que nos salva da tentação de bancar o pitbull sem dentes — e de acreditar que bravata é política externa. Enquanto isso, no terreno doméstico, o ministro Alexandre de Moraes gosta de lembrar que valentão pode gritar, xingar e fazer escarcéu na quinta-feira em que é preso… mas no domingo já estará sentado na cela, chorando. A lição serve tanto para arruaceiros de ocasião quanto para políticos inflamados: a coragem performática tem prazo de validade curto diante da realidade institucional. Entre a retórica internacional e as bravatas nacionais, o Brasil segue tentando achar seu lugar. Nem vassalo, nem herói, mas talvez um vira-lata que ladra com ironia — e sabe, de quando em quando, morder com eficácia. Clementina De Jesus - Na Linha Do Mar FLAMENGO VENCE O INTERNACIONAL DE NOVO E VAI ÀS QUARTAS DA LIBERTADORES | Melhores Momentos ESPN Brasil MELHORES MOMENTOS: INTERNACIONAL 0 X 2 FLAMENGO | OITAVAS DE FINAL | CONMEBOL LIBERTADORES 2025 Boca de Sapo (part. João Bosco) Clementina de Jesus Karel Kosík, em sua dialética do concreto, lembrava que a realidade só se compreende quando se penetra além da aparência imediata, alcançando a essência contraditória dos fenômenos. No Brasil de hoje, essa contradição se encena nas relações entre política, direito e democracia — ora como drama, ora como sátira institucional. Dino: político-juiz ou juiz-político? Flávio Dino é celebrado como corajoso, um “valente”. Mas a valentia, no palco institucional, nunca é neutra: depende do enredo. Sua presença no Supremo Tribunal Federal é vista como extensão da política no espaço da justiça. Pergunta-se: é Dino um político que veste toga ou um juiz que preserva o instinto da política? A mesma interrogação paira sobre Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer. Moraes seria o juiz que faz política ou o político que empresta disciplina à justiça? Nesse jogo de espelhos, as categorias se embaralham — e a dialética do concreto mostra que não há muro estanque entre as duas esferas. Lula, o réu que não aceita prisão domiciliar Em outra ponta, Lula evoca coragem ao recusar a metáfora da prisão domiciliar: “Minha casa não é prisão.” A frase desafia tanto o sistema jurídico que o julgou quanto a narrativa política que dele fez um réu. Mas a quem se dirige essa afronta? À justiça formal? Aos adversários políticos? Ou à própria história, que insiste em tratá-lo ora como mártir, ora como reincidente? Temer, o golpista lembrado Quando Lula chama Temer de “golpista”, revive-se o espectro de 2016. Ironia do destino: foi Temer quem indicou Alexandre de Moraes, hoje pilar da resistência institucional contra forças antidemocráticas. Eis outra dialética concreta: a democracia sobrevive às custas de personagens que nasceram em enredos contraditórios. Dino está para Lula assim como Moraes está para Temer? A simetria é tentadora, mas incompleta: no Brasil, os padrinhos políticos nunca controlam inteiramente os afilhados institucionais. Magnitsky à brasileira? A pergunta final: haverá um “Magnitsky Act” à brasileira — um sistema de sanção a autoridades por violações de direitos humanos? Se houver, será aplicado contra os inimigos externos ou contra os aliados internos? O Brasil, que gosta de tropicalizar tudo, talvez já tenha sua versão informal: aqui, a sanção não vem em forma de congelamento de bens, mas de manchetes, hashtags e CPIs. Epílogo A democracia brasileira segue como palco da dialética do concreto: um lugar em que juízes fazem política, políticos vestem toga, presidentes recusam prisões simbólicas e ex-vice-presidentes se tornam padrinhos involuntários da resistência institucional. Aos olhos de gregos ou troianos, russos, chineses, indianos ou americanos, resta a mesma constatação: o Brasil preserva sua democracia não apesar das contradições, mas justamente por elas.

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