Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Entre gafes políticas e versos poéticos: quando o “não nexo” vira estratégia de engajamento
"A night of memories and of sighs. I consecrate to thee"
"Rose Aylmer" by Walter Savage Landor.
eu não sou uma pessoa BELISCOSA
O tropeço como estratégia: entre a gafe política e o não nexo poético
Tropeços de linguagem sempre existiram, mas nas redes sociais ganharam nova função. O caso do governador Romeu Zema ilustra bem: de “ouvo muito bem, Monalisa” em 2020 a “não sou uma pessoa beliscosa” em 2025, suas falas viraram memes instantâneos. Antes vistos apenas como lapsos, esses deslizes hoje alimentam a máquina do engajamento, mantendo o político em circulação sem custo adicional de mídia.
A dúvida é se tratam-se de erros genuínos ou se já fazem parte de um cálculo comunicacional. Em tempos de desconfiança contra discursos ensaiados, a fala torta pode soar como autenticidade. E, numa lógica algorítmica que recompensa cliques e comentários, até a falha vira ativo de marketing.
O contraste com a literatura ajuda a pensar. Em 1949, Jorge de Lima escreveu: “Não procureis qualquer nexo naquilo que os poetas pronunciam acordados”. No poeta, o “não nexo” é arte — fantasia que reorganiza a realidade, convite à imaginação. Na política, porém, o “não nexo” pode ser manipulação: distração que rouba o foco da substância para fixar a caricatura.
O desafio democrático está em não confundir poesia com propaganda. O erro pode ser humano, sim, mas também pode ser estratégico. Cabe ao público reagir com humor — e, sobretudo, com senso crítico.
- Em termos de narrativa de comunicação pela família Bolsonaro, tem o temor de entrar em confronto com a família Bolsonaro nesse momento?
- Ô Edilene, eu não sou uma pessoa BELISCOSA (SIC), você que já COMPANHOU (SIC) ...
:34 AM · 26 de ago de 2025
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https://x.com/delucca/status/1960289719654260738?s=48&t=gKyEEumLB0aAdrne2uBPCw
https://x.com/i/status/1960289719654260738
RODA VIVA | ROMEU ZEMA | 25/08/2025
Roda Viva
Transmissão ao vivo realizada há 14 horas Roda Viva
O Roda Viva entrevista o governador de Minas Gerais Romeu Zema, pré-candidato à Presidência da República e formado em administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Em declarações ao programa, o governador faz um balanço da própria gestão à frente do governo de Minas Gerais por dois mandatos.
Nesta edição, participam da bancada de entrevistadores: Bertha Jeha Maakaroun, cientista política e jornalista do Estado de Minas; Cibelle Bouças, repórter do Valor Econômico; Fábio Zanini, editor do Painel da Folha de S.Paulo; Ricardo Corrêa, coordenador de Política em São Paulo no Estadão e comentarista na Rádio Eldorado; e Edilene Lopes, repórter e colunista da Rádio Itatiaia e analista de Política na CNN Brasil.
Com apresentação de Vera Magalhães, as ilustrações em tempo real são de Luciano Veronezi.
#SomosCultura
#TVCultura #RodaViva #RomeuZema #Política
https://www.youtube.com/live/UHgpndY8o5s
Exclusivo: Romeu Zema explica medidas contra Covid-19
CNN Brasil
23 de mar. de 2020
Confira uma entrevista exclusiva com Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais.
O governador comenta as medidas contra o novo coronavírus em entrevista com Daniela Lima e Monalisa Perrone em 20 de março de 2020.
No CNN EXCLUSIVO - GOVERNADORES DE HOJE - A GENTE ENTREVISTA O GOVERNADOR DE MINAS GERAIS, EU E DÂNI, O GOVERNADOR DE MINAS GERAIS, ROMEU ZEMA, GOVERNADOR, MUITO BOA NOITE! SEJA MUITO BENVINDO AQUI À CNN BRASIL.
- O SENHOR ME OUVE BEM?
- OUVO (SIC) MUITO BEM, MONALISA, BOA NOITE A VOCÊ E À DANIELA E A TODO O PESSOAL QUE ESTÁ EM CASA, TENDO O PRAZER DE ESCUTAR A CNN.
Entre gafes políticas e versos poéticos: quando o “não nexo” vira estratégia de engajamento
Tropeços de linguagem podem ser lapso humano, recurso estético ou cálculo comunicacional. No universo da política digital, o risco é que até o erro seja transformado em ativo de marketing.
O tropeço que viraliza
Nos últimos anos, especialmente em contextos políticos polarizados e digitais, tornou-se cada vez mais difícil separar deslizes genuínos de comunicação de possíveis estratégias deliberadas de engajamento. O caso do governador mineiro Romeu Zema é ilustrativo: seus tropeços linguísticos, antes encarados como falhas de oratória, tornaram-se combustível para memes, sátiras e disputas narrativas.
Recentemente, viralizou nas redes um trecho em que Zema responde a uma pergunta sobre eventual confronto com a família Bolsonaro afirmando: “Eu não sou uma pessoa beliscosa (sic), você que já companhou (sic)...”. A cena rapidamente foi capturada no X (antigo Twitter) e transformada em episódio de ridicularização pública.
Não foi a primeira vez. Em 2020, em entrevista à CNN Brasil, ao cumprimentar as jornalistas Monalisa Perrone e Daniela Lima, Zema disse: “Ouvo (sic) muito bem, Monalisa”. O deslize, aparentemente banal, também se converteu em anedota online.
Entre o lapso e a estratégia
No ambiente digital, marcado por algoritmos e viralizações instantâneas, deslizes de fala deixam de ser apenas tropeços. Eles podem assumir outras funções:
Erro genuíno – tropeço real, sem cálculo, amplificado pela viralização.
Estilo espontâneo como ativo político – aproximação com o público por meio da fala “como gente comum”.
Engajamento a baixo custo – memes e comentários mantêm o nome em circulação sem investimento em mídia.
Cálculo comunicacional – a tolerância ou até a exploração consciente do erro, sabendo de seu potencial de viralização.
A fronteira entre lapso e estratégia, nesse cenário, torna-se difusa.
O “não nexo” como valor poético
Curiosamente, o debate sobre sentido e erro não é exclusivo da política. Em 1949, no Livro de Sonetos, o poeta modernista Jorge de Lima escreveu em Os poetas:
“Não procureis qualquer nexo naquilo / que os poetas pronunciam acordados.”
Aqui, o “não nexo” não é tropeço, mas estética. O poeta assume a fantasia e reorganiza a realidade de forma onírica, subjetiva, simbólica. Questões literárias em vestibulares exploram justamente esse aspecto, pedindo ao estudante que rejeite interpretações literais como “os poetas são loucos” ou “só dizem coisas sem sentido”, e compreenda o ponto central: os poetas fantasiam a realidade, que por isso parece sem nexo.
Na poesia, portanto, a incoerência aparente é criação consciente, convite à imaginação e à pluralidade de sentidos.
Política, poesia e o risco democrático
O paralelo é revelador:
Na poesia, o “não nexo” é arte.
Na política, o “não nexo” pode ser lapso, mas também estratégia de engajamento barato.
Quando o erro vira recurso de autopromoção, o debate público se desloca. Em vez de discutir substância — políticas de saúde, economia, segurança — a atenção se fixa na caricatura linguística. O riso serve tanto a opositores, que ridicularizam, quanto ao próprio político, que mantém o nome em circulação.
No campo literário, a falha aparente expande horizontes; no campo político, pode estreitar a democracia, sequestrando a atenção pública.
Conclusão
É saudável que o público reaja com humor a gafes, mas é igualmente necessário cultivar ceticismo. Nem todo erro é inocente; alguns podem ser instrumentalizados para reforçar narrativas de autenticidade e manter a máquina de engajamento funcionando.
👉 Em tempos de algoritmos e monetização da atenção, a diferença entre poesia e propaganda é crucial. Enquanto o poeta nos liberta da lógica, o político pode se valer da falha para aprisionar nossa atenção. O desafio democrático está justamente em distinguir uma coisa da outra.
ANEXO: Polissemia político-literária dos neologismos criados pelo novo João Guimarães Rocha de Araxá das Minas Gerais e dos gados restritos
De “ouvo” (2020) a “beliscosa” (2025): um lustro de ilustração sulina
Nos confins da política mineira, brota uma estranha linhagem de neologismos. Não são filhos de planejamento estilístico, nem de exaustivas leituras filológicas, mas de tropeços sonoros diante da câmera. De “ouvo” em 2020 a “beliscosa” em 2025, Romeu Zema parece ter inaugurado uma gramática paralela, cuja força não se encontra na coerência, mas na capacidade de viralizar.
À primeira vista, seriam apenas falhas de fala. Mas ao repeti-las, rir delas e replicá-las, o público lhes confere estatuto quase literário. O acaso político transforma-se em invenção coletiva: cada meme é um glossário, cada piada uma nota de rodapé. Eis que, involuntariamente, Zema se projeta como um Guimarães Rosa às avessas: não o demiurgo que recria o sertão com palavras novas, mas o gestor que, tropeçando na língua, cria sua própria mitologia digital. Se Rosa elaborava “nonada” e “veredas” para desvelar o mundo, Zema improvisa “ouvo” e “beliscosa” para distrair dele.
Aqui cabe invocar também Jorge de Lima, o poeta de Alagoas que advertia: “Não procureis qualquer nexo naquilo que os poetas pronunciam acordados.” Na boca do poeta, o “não nexo” é estética — fantasia que reorganiza a realidade. Na boca do político, o “não nexo” pode ser ruído — mas ruído útil, apto a capturar atenção num ecossistema onde cliques valem mais que coerência.
Assim, entre Rosa e Zema, entre o sertão reinventado e a entrevista desastrada, abre-se uma nova polissemia: a da política que se deixa ler como literatura, ainda que em chave paródica. Um Brasil que transforma lapsos em léxico, tropeços em patrimônio risível. Um país em que, paradoxalmente, a invenção involuntária do governante dialoga, mesmo sem querer, com a liberdade inventiva do poeta.
E talvez resida aí a ironia maior: enquanto Jorge de Lima e Guimarães Rosa lançavam mão do neologismo para expandir o imaginário nacional, Zema o faz sem intenção — mas com igual efeito de permanência. O que para uns foi arte, para outros é acaso; em ambos os casos, a língua sai transformada, ainda que de modos tão distintos quanto o sertão e o trending topic.
Quer que eu dê um toque final mais irônico, no estilo de uma “entrada de verbete de dicionário” para “beliscosa” e “ouvo”, como se fossem termos literários canonizados, reforçando o tom cultural-satírico?
FLAMENGO 8 x 0 VITÓRIA! A MAIOR GOLEADA DA HISTÓRIA DO BRASILEIRÃO!
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