Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 3 de janeiro de 2023
PELÉ: Aversão à Ditadura
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Picasso e Pelé "Mario Alberto legítimo."
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Começo com um verso de Carlos Drummond de Andrade:
“Pelé o sempre rei republicano
o povo feito atleta na poesia do jogo mágico”.
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Camisa 10
Luiz Americo
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— O que muita gente não sabe é que não joguei a Copa de 1974, na Alemanha, por desgosto em relação ao regime político do país. Era a época da ditadura.
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Vou-me embora pra Pau Grande
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Pau Grande: o local onde Garrincha ainda vive (pode apostar!) | Goal.com Brasil
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Manuel Bandeira: Vou-me embora pra Pasárgada
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O poeta Manuel Bandeira recita seu Vou-me Embora para Pasárgada. Trecho do filme "O poeta do castelo", de Joaquim Pedro de Andrade - 1959.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Música
MÚSICA
Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: III. Allegro
ARTISTA
Fritz Reiner
https://www.youtube.com/watch?v=hpOTUPMxckY
https://www.youtube.com/watch?v=BtpmhMr5YMY
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Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: III. Allegro
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Fritz Reiner - Tema
Provided to YouTube by Sony Classical
Brandenburg Concerto No. 5 in D Major, BWV 1050: III. Allegro · Fritz Reiner · Johann Sebastian Bach · Columbia Ensemble · Sylvia Marlowe · Julius Baker · Hugo Kolberg
Brandenburg Concertos 1 - 6
https://www.youtube.com/watch?v=hpOTUPMxckY
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Seu “reino” era Pau Grande, onde, acreditava, tinha tudo o que precisava para ser feliz.
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Mas, ainda que a mídia não pudesse ou quisesse coroá-lo, em qualquer tempo estará a lhe dever maior reverência por tudo que ele proporcionou aos torcedores do futebol e ao povo brasileiro, que ele alegrou com seus dribles, com seu riso maroto, com sua informalidade de menino, já que por muito menos muitos outros que vieram depois dele e de sua era são considerados celebridades e destacados como verdadeiros heróis nacionais.
Garrincha x Pelé: a diferença de tratamento da mídia e como isso influenciou suas carreiras
https://clicdireito.com.br/garrincha-x-pele-a-diferenca-de-tratamento-da-midia-e-como-isso-influenciou-suas-carreiras
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Seu “reino” era Pau Grande, onde, acreditava, tinha tudo o que precisava para ser feliz.
Mas, ainda que a mídia não pudesse ou quisesse coroá-lo, em qualquer tempo estará a lhe dever maior reverência por tudo que ele proporcionou aos torcedores do futebol e ao povo brasileiro, que ele alegrou com seus dribles, com seu riso maroto, com sua informalidade de menino, já que por muito menos muitos outros que vieram depois dele e de sua era são considerados celebridades e destacados como verdadeiros heróis nacionais.
https://clicdireito.com.br/garrincha-x-pele-a-diferenca-de-tratamento-da-midia-e-como-isso-influenciou-suas-carreiras
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Aversão à Ditadura
— O que muita gente não sabe é que não joguei a Copa de 1974, na Alemanha, por desgosto em relação ao regime político do país. Era a época da ditadura.
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(*) Pelé deixou uma herança de R$ 80 milhões, o que equivale ao rendimento mensal do novo contrato de Cristiano Ronaldo com o Al Nassr, da Arábia Saudita, até 2025.
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Nas entrelinhas: O Brasil de Pelé e o novo governo
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Publicado em 03/01/2023 - 06:54 Luiz Carlos Azedo
Brasília, Comunicação, Congresso, Cultura, Educação, Eleições, Esporte, Futebol, Governo, Memória, Partidos, Política, Política, Saúde
Com uma coalizão de centro-esquerda, Lula pretende conduzir a frente política que o levou à Presidência pela terceira vez na direção do combate às desigualdades
A posse dos ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ofuscada pelo velório de Edson Arantes do Nascimento. Repetiu-se o mesmo fenômeno do dia da morte do maior atleta do século passado, que será enterrado hoje. Grande massa de torcedores santistas e de outros comparece ao estádio da Vila Belmiro, em Santos, para reverenciá-lo. Personalidades do mundo esportivo nacional e internacional também. Corintiano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio à montagem de seu governo e às primeiras medidas administrativas, viajará de Brasília para Santos para participar das últimas homenagens fúnebres.
Talvez o maior atleta profissional de todos os tempos, em 14 de junho de 1970, Pelé, camisa 10 do Brasil às costas, agachou-se no círculo central do gramado do estádio Jalisco, em Guadalajara, no México, sob olhar de Tostão, e amarrou pacientemente sua chuteira. Ao fazê-lo, inventou o marketing esportivo, mais ou menos como João Gilberto inventara a bossa nova em 21 de janeiro de 1962, ao cantar Chega de Saudade no Carnegie Hall, em Nova York, até então um lindo samba canção. Uma chuteira Puma continuaria igual a uma Adidas, mas o futebol mundial nunca mais seria o mesmo, com as transmissões dos jogos pela tevê.
Além de bola, camisas, meias, chuteiras, shorts e outros materiais esportivos, uma infinidade de outros produtos, como refrigerante, cervejas e complementos alimentares passaram a associar sua marca ao futebol. Os mais velhos devem se lembrar do terno de tergal da Ducal, com um paletó e duas calças, vendidos pelo crediário.
Hoje, os craques do futebol são manequins das grandes grifes mundiais. O advento da tevê a cabo e das redes de internet completou o ciclo, com o esporte ocupando o espaço nobre para suprir os novos meios de comunicação de conteúdos que aliavam audácia, beleza, criatividade, emoção, energia e resiliência, entre outros atributos positivos, de produções de grande audiência e relativamente baratas.
Pelé também simbolizou a ascensão social e econômica por uma via que até então era objeto de grande atração popular, graças à rivalidade das torcidas, mas reproduzia a exclusão social e a enorme distância entre a grande massa popular e as elites brasileiras. De 1924, quando Vasco da Gama rompeu com isso, recusando-se a dispensar 12 jogadores negros, mulatos e pardos para participar do Campeonato Carioca, aos dias atuais, foi um longo processo.
Gradativamente, o futebol se tornou uma via de ascensão social e econômica pelo talento, chegando aos dias de hoje como um dos maiores e mais bem remunerados espetáculos de massa. Os grandes atletas ganham fortunas inimagináveis (*), inclusive os brasileiros que jogam no exterior, exibindo roupas de grife e carros de luxo, além de ostentar padrões de consumo extravagantes, como comer carne folheada a ouro em restaurantes de alto luxo.
Desigualdades
Entretanto, o Brasil que Pelé projetou internacionalmente, muito mais do que qualquer outra personalidade, precisa virar a página das desigualdades e injustiças sociais, entre as quais o racismo estrutural. Pelé fecha o ciclo de profissionalização e globalização do futebol, foi protagonista dessa mudança. Entretanto, sua trajetória, em comparação com a de outros atletas de sua geração, como Mané Garrincha, desnuda essa realidade. É aí que entra em cena o novo governo Lula, ao propor um pacto na sociedade para superar a abissal distância entre os ricos e a maioria da população, com renda até 2 salários-mínimos.
Desde a eleição de Getúlio Vargas, em 1950, não tínhamos uma disputa eleitoral em que as diferenças de classe social estivessem tão demarcadas. Esse fenômeno foi agravado por uma polarização ideológica que colocou em risco a democracia e fraturou a coesão social em torno de alguns valores que estavam acima das divergências políticas, como a identidade com as cores da bandeira e o pertencimento à nação.
A posse dos ministros de Lula, em diversas áreas, especial de Camilo Santana na Educação e Nísia Trindade na Saúde, sinalizou na direção da superação dessas diferenças, com o resgate de políticas públicas universalistas, porém nossas prioridades regrediram décadas, como a alfabetização e a vacinação das crianças, por exemplo. São enormes os desafios no plano econômico e administrativo para que as condições de mobilidade e progresso social sejam oferecidas a todas as camadas sociais.
Vivemos um momento muito desafiador. Com uma coalizão de centro-esquerda, Lula pretende conduzir a frente política que o levou à Presidência pela terceira vez na direção do combate às desigualdades. Não é uma tarefa fácil. A agenda social do governo precisa ser calibrada de modo a ter amplo apoio das forças democráticas, que têm interesses econômicos diferenciados.
O principal desafio é obter o apoio do Congresso Nacional, no qual predominam forças conservadoras e velhas oligarquias políticas. Sem uma base parlamentar, não haverá combate às desigualdades; sem combate às desigualdades, não haverá mobilização popular em apoio ao novo governo.
(*) Pelé deixou uma herança de R$ 80 milhões, o que equivale ao rendimento mensal do novo contrato de Cristiano Ronaldo com o Al Nassr, da Arábia Saudita, até 2025.
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1974: Ditadura, carrossel e ausência de Pelé marcam fiasco
14 mai
2010
- 18h41
(atualizado às 19h41)
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Julio Simões
Além da euforia da torcida, a conquista do tricampeonato mundial no México trouxe outro problema ao Brasil: a pressão por resultados também em 1974, quando a Copa do Mundo foi disputada na Alemanha Ocidental. Para piorar, este seria o primeiro Mundial desde 58 em que a Seleção não poderia contar com Pelé, que havia aposentado a camisa canarinho em 1971. Além dele, outros jogadores fundamentais para a conquista em 70 também não estariam em campo, caso de Tostão, Gérson e Carlos Alberto.
Para piorar, o Brasil ainda teria pela frente duas seleções que prometiam tornar a missão do tetra bem mais difícil: a Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer e a Holanda de Johan Cruyff, seleção esta conhecida pelo "carrossel holandês", experimento tático de Rinus Michels em que todos - à exceção do goleiro, claro - atacavam e defendiam, sem guardar posição fixa em campo. Apesar de tudo, o maior adversário naquela Copa não seria o esquadrão alemão ou a laranja mecânica. Seria o próprio Brasil.
Apesar de ainda ter o mesmo técnico do Mundial anterior, o alagoano Mário Jorge Lobo Zagallo, a Seleção foi obrigada a substituir as peças que deixaram o time entre um Mundial e outro. Só que quem teve Pelé em sua melhor forma, não se contentaria com Jairzinho e Rivellino, por melhor que eles fossem. Assim, logo vieram as primeiras críticas sobre os escolhidos para a disputa da Copa - entre elas, uma música que se tornou um verdadeiro hino de apelo a Pelé.
Desculpe seu Zagallo
Mexe nesse time que está muito fraco
Levaram uma flecha esqueceram o arco
Botaram muito fogo e sopraram o furacão
Que não saiu do chão
Desculpe seu Zagallo
Puseram uma palhinha na sua fogueira
E se não fosse a força desse pau pereira
Comiam um frango assado lá na jaula do leão
Mas não tem nada não!
Cuidado seu Zagallo
O garoto do parque está muito nervoso
E nesse meio campo fica perigoso
Parece que desliza nesse vai não vai
Quando não cai
É camisa 10 da Seleção, laia, laia, laia (bis)
Dez é a camisa dele, quem é que vai no lugar dele (bis)
Desculpe seu Zagallo
A crítica que faço é pura brincadeira
Espírito de humor, torcida brasileira
A turma está sorrindo para não chorar
Tá devagar
Jogando em casa, Alemanha Ocidental conquistou segunda Copa; enfraquecido, Brasil foi questionado
Jogando em casa, Alemanha Ocidental conquistou segunda Copa; enfraquecido, Brasil foi questionado
Foto: Getty Images
"Quem compôs a música foi o Luiz Vagner e o Hélio Matheus, que fizeram especialmente para eu cantar. Eles sabiam que eu gostava de futebol e escreveram a letra em 73. Aí eu lancei no ano seguinte. Foi um sucesso", relembra Luiz Américo, se referindo à música "Camisa 10", pela qual é conhecido até hoje.
"Tive outros sucessos, mas essa é a única que não posso deixar de tocar nos shows", acrescenta ele, que também lembra que a música não surtiu tanto efeito na pressão por Pelé porque fora lançada já durante a Copa.
Mesmo assim, a letra dá a exata ideia de qual era o apelo popular na época. O trecho "É camisa 10 da Seleção (...); Dez é a camisa dele, quem é que vai no lugar dele", por exemplo, é um claro apelo pela volta de Pelé ao time. Mais adiante, outras críticas: "botaram muito fogo e sopraram o furacão, que não saiu do chão" é uma referência a Jairzinho (furacão, seu apelido), enquanto "o garoto do parque está muito nervoso" faz menção a Rivellino (garoto do parque, modo como era chamado no Corinthians).
Porém, o grande "alvo" da música é mesmo Zagallo. O treinador já havia vencido duas Copas como jogador (1958 e 1962) e uma como treinador (1970), mas atravessava uma época de desconfiança, especialmente junto à torcida.
"Muita gente de 70 ficou de fora. Não foi Pelé, Gérson, Tostão, Carlos Alberto Torres, ninguém. Além disso, enfiaram muita gente naquele time. O Geisel (presidente da República entre 1974 e 1979), por exemplo, colocou o Valdomiro lá", cita Luiz Américo.
Apesar das críticas públicas feitas pela música, ela nunca foi contestada pelo treinador da Seleção Brasileira. "O Zagallo sempre gostou da música. Quem não gostou foi o Leão, que me encontrou uma vez no Rio e disse para quem estava com ele: 'olha lá o cara que ficava atrapalhando a gente'", relembra o músico, que cita o ex-goleiro e atual treinador no seguinte trecho: "E se não fosse a força desse pau pereira; Comiam um frango assado lá na jaula do leão".
Aliás, este trecho também é cheio de referências ao time da época. O tal "pau pereira" nada mais é que o zagueiro Luis Pereira, destaque do Palmeiras que se transferiu ao espanhol Atlético de Madrid no mesmo ano e, segundo a música, era o grande responsável por dar consistência ao setor defensivo da Seleção. Assim, o tal "frango assado" seria a bola, que, não fosse Luis Pereira, seria "comida" pelos adversários no gol de Leão, o tal "dono da jaula", referência à meta do Brasil.
No entanto, foi justamente Luis Pereira quem falhou no jogo mais importante do Brasil na competição. O time de Zagallo já havia conseguido dois empates (com Iugoslávia e Escócia, ambos por 0 a 0) e uma vitória (3 a 0 sobre o frágil Zaire) na primeira fase, além de uma vitória sobre a Alemanha Oriental (1 a 0) e sobre a Argentina (2 a 1) na etapa seguinte. Porém, não resistiu ao confronto com a Holanda e acabou derrotado por 2 a 0, gols de Neeskens e Cruyff, com direito a expulsão de Luis Pereira.
"A gente não sabe (o que deu errado). Sabemos que quem paga o pato é quem comanda, mas não sabemos quem realmente manda. No fundo, acho que não ganhamos porque não tínhamos que ganhar mesmo", opina Luiz Américo, que não titubeia ao julgar qual teria sido o real problema com aquele time.
"O fato é que saiu daqui de salto alto, o que também pode acontecer agora", alerta, referindo-se à Seleção de Dunga na Copa 2010.
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