quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O APÓSTATA E O HEREGE

“Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”. *** *** Poesia | Manuel Bandeira - Última canção do beco ***
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*** quarta-feira, 4 de janeiro de 2023 Marcelo Godoy - Lula, a oposição e a sabedoria O Estado de S. Paulo. O Brasil permanece ‘longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível’ Quando o socialista Sandro Pertini foi eleito presidente da Itália, em 1978, o jornalista Indro Montanelli desejou ao ex-partigiano que se tornaria o mais popular chefe de Estado italiano do pós-guerra: “Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”. Retomava, assim, a famosa oração do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, que foi lembrada por aqui pelo economista Roberto Campos, no último discurso que fez na Câmara, em 1999, quando se despedia do Parlamento, após 16 anos de mandatos consecutivos. Campos deixou aos colegas congressistas esses mesmos votos após reconhecer “o fracasso de uma geração em promover o desenvolvimento sustentável do Brasil”. Assim como todo governo que se inicia pede aos eleitores paciência para ser julgado pela consequência de seus atos e não pela pressa dos que pretendem lhe fazer oposição, seria interessante que Luiz Inácio Lula da Silva prestasse atenção às palavras de Campos. É que ali está um caminho para sua gestão, desde que o mandatário não caia na tentação de ser um novo Messias, como o que deixou o Brasil para se refugiar em Miami. Reconstruir o País não significa reinventá-lo, e uni-lo é diferente de impor uma visão de mundo não hegemônica. Se quiser aproveitar oportunidades em que o consenso entre as forças políticas pode favorecer seu governo e promover o desenvolvimento pretendido por Campos, Lula deve concentrar esforços na reforma tributária, na educação básica e no desbloqueio da pauta ambiental. Há trilhões de dólares em fundos de investimentos no exterior que só financiarão o desenvolvimento no Brasil caso o País abrace a vocação para se tornar uma potência verde. Até o partido Novo apoiaria essas pautas. Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. E defende o compromisso com a democracia para isolar os elementos iliberais, conforme disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Trata-se de reconstruir a aduana da respeitabilidade republicana, isolando os extremistas. A defesa da democracia exige a postura de Angela Merkel, quando ordenou a seu partido desfazer o acordo com os liberais que resolveram se aliar aos extremistas do AFD, na Turíngia, em 2020. Nem é preciso tanta sabedoria para distinguir essas coisas em um país que continua – como disse Campos em seu último discurso – “longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”. ************************************************************************************************
*** Camões - Poesia épica: Os lusíadas, o maior poema épico da língua portuguesa... - Veja mais em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/camoes-2-poesia-epica-os-lusiadas-o-maior-poema-epico-da-lingua-portuguesa.htm?cmpid=copiaecola Camões Épico Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! ************************************************** “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, diz a Constituição. * * * Como podemos retribuir o muito que recebemos? * * * Cresci vendo meus avós maternos, Celina e Orlando Travancas, participarem ativa e constantemente do Banco da Providência, organização beneficente carioca fundada por dom Hélder Câmara, que realiza a Feira da Providência, cujo lema (exposto nos memoráveis cartazes de Ziraldo) é, precisamente: ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar nem tão rico que não precise de nada. * * * ***
*** Nicolau da Rocha Cavalcanti - A aventura de não olhar só para si ******************************************************************************
*** quarta-feira, 4 de janeiro de 2023 Luiz Carlos Azedo - Adeus reformas. Agenda possível é mais modesta Correio Braziliense 1964 serve de exemplo para o governo Lula, que precisa adotar um programa democrático, porém, mais modesto do ponto de vista das reformas O mais ambicioso programa de reformas de estrutura da história do Brasil foi o do presidente João Goulart (1961-1964), que havia assumido governo no lugar de Jânio Quadros, em meio a uma tentativa de golpe e graças a uma solução de compromisso: a adoção do parlamentarismo. Em razão das nossas desigualdades, no seu governo havia um cenário de radicalização político-ideológica e intensificação dos conflitos sociais. Jango, como era chamado, sofria fortes pressões do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), principalmente de seu cunhado, Leonel Brizola, e de outras lideranças de esquerda, como o líder comunista Luís Carlos Prestes e Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, para realizar reformas estruturais na sociedade, entre as quais a agrária. Com a volta do presidencialismo, decidida por um plebiscito em 1963, Jango se sentiu fortalecido para levar adiante o projeto nacional-desenvolvimentista da esquerda brasileira. As chamadas Reformas de Base abarcavam um conjunto amplo de problemas: a questão agrária, o sistema financeiro, a crise fiscal, a urbanização acelerada, o atraso burocrático e o acesso às universidades. O principal objetivo delas era combater a concentração de propriedade e de renda, além de ampliar a participação política da sociedade. Para isso, era preciso mudar a Constituição de 1946, o que exigia maioria ampla no Congresso. Pela legislação, o governo indenizaria os proprietários de terra, em caso de desapropriação, com dinheiro em espécie, mas Jango queria fazê-lo com títulos públicos e a longo prazo. Jango também pretendia criar condições para os inquilinos comprar as residências que alugavam com títulos públicos. Também pretendia limitar a remessa de lucros ao exterior, estatizar alguns setores econômicos e expandir a Petrobras. Além disso, estava aceitando a pressão de militares de baixa patente para aumentar a sua representação política concorrendo a cargos eletivos, como os de vereadores e deputados. Nada disso significava uma mudança de regime político, uma opção pelo socialismo. Mas assim passou a ser visto pela maioria da sociedade, após intensa campanha da oposição, liderada pelo governador da antiga Guanabara, Carlos Lacerda, o principal líder da UDN à época, que era candidato a presidente da República. No início de 1964, Jango perdeu o apoio do PSD (Partido Social Democrático), de Juscelino Kubitschek, que sonhava com a volta à Presidência nas eleições previstas para 1965. Brizola pretendia ser candidato, mesmo estando inelegível por ser cunhado do presidente da República, e Prestes articulava a reeleição de Jango nos bastidores. O Congresso, de maioria conservadora, rejeitou as reformas de base. Jango resolveu mobilizar os trabalhadores urbanos e rurais para respaldar a adoção das reformas por decreto presidencial. No dia 13 de março de 1964, o chamado comício da Central do Brasil, reuniu cerca de 150 mil pessoas. Nele, Jango anunciou que decretaria as Reformas de Base, à revelia do Congresso. Moral da história A reação conservadora foi imediata: convocada por forças políticas e religiosas de direita, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, na cidade de São Paulo, em 19 de março de 1964, reuniu quase 500 mil pessoas. Outras manifestações se realizaram no interior paulista e em outros estados. Em 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado, depôs Jango e deu início a 20 anos de ditadura. No dia 2 de abril, no Rio de Janeiro, realizou-se a Marcha da Vitória. Não foram apenas o ambiente de guerra fria e a quebra de hierarquia nas Forças Armadas que viabilizaram golpe. As marchas conservadoras demonstraram que o golpe também era vitorioso na sociedade. Qual é a moral da história? Darcy Ribeiro dizia que foi melhor ser derrotado do lado certo, pois as reformas eram necessárias. E eram mesmo, tanto que a maioria foi feita pelos militares, durante a ditadura, como o Estatuto da Terra, a estatização de empresas de infraestrutura e expansão da Petrobras, a reforma bancária e fiscal, a expansão das universidades. Alguns chamam esse processo de modernização pelo alto de “revolução passiva”, outros de “autoritarismo funcional”. Os militares que apoiaram o governo Bolsonaro sonhavam — e ainda sonham — com a ressignificação do regime militar. O governo Jango pôs o carro à frente dos bois, ao tentar fazer as reformas de base na marra, sem aprovação do Congresso. Além disso, a esquerda considerava um retrocesso a volta de JK ao poder, o favorito nas eleições marcadas para 1965. Para se manter no poder, defendia a candidatura de Brizola, inelegível por ser cunhado do presidente da República, ou até mesmo a reeleição de Jango. 1964 serve de exemplo para o governo Lula, que precisa adotar um programa democrático, porém, mais modesto do ponto de vista das reformas. É mais exequível focar o programa de governo na gestão ambiental e nos direitos básicos e universais da população (saúde, educação, trabalho, moradia, transporte e segurança pública). É o caminho para construir uma ampla maioria no Congresso e, ao mesmo tempo, corresponder à expectativa de seus eleitores, que hoje se resume a trabalho e renda, além do respeito aos direitos humanos e o combate ao racismo estrutural. ******************************************************* *** Anónimo - Kaleth Morales (LETRA) *** Mais um amador disse... Perfeito ***************************************************** "Incapaz de traduzir racionalmente esse sentimento nos limites de minhas palavras, apelo a Chico Buarque de Holanda, poeta dos maiores da nação, a grande ausente naquele woodstock de fragmentos: ***
*** quarta-feira, 4 de janeiro de 2023 Paulo Fábio Dantas Neto* - Política, festa e roda-viva Tentarei explicar o que percebi, talvez impropriamente, como uma gramática identitária regendo a investidura, marcantemente festiva, de Luiz Ignácio Lula da Silva no seu terceiro mandato presidencial. É um juízo impressionista. Decorre de um estado de alma que defino como alívio - pela derrota eleitoral da extrema-direita – mas desprovido de ânimo, efeito do êxito, político e moral, no campo democrático, de uma esquerda autorreferente, amarrada ao seu passado, que supõe, entre outras imodéstias, fazer o léxico identitário (de gênero, de raça, de cultura, de costumes) incidente no Brasil e em todo o Ocidente, servir a uma aventura - também identitária, mas de partido e movimento – através do túnel do tempo. A impropriedade da minha parte talvez seja elevar esse ilusionismo semântico à categoria de gramática. A concessão traduz um sentimento de apreensão com a possibilidade de a esperteza política crescer demais, virar bicho, engolir o dono e todos os que amarramos nossos botes à deriva ao seu velho navio. Incapaz de traduzir racionalmente esse sentimento nos limites de minhas palavras, apelo a Chico Buarque de Holanda, poeta dos maiores da nação, a grande ausente naquele woodstock de fragmentos: Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar Mas eis que chega a roda-viva E carrega o destino pra lá Expropriado por uma roda-viva: assim me senti no dia da posse. Aliás, assim me sentia desde que a dita transição arriou suas malas. Com vontade de embarcar num vapor barato, eu e uma obsessão política. O mal-estar com a estética da festa talvez não seja assim tão relevante. Quem sabe um despiste, um pretexto, um bode expiatório para justificar um desânimo que é, antes de tudo, político, ao ver democracia e república divorciarem-se em público. Mas disso tenho falado bastante nesta coluna. O dia hoje é para falar de ultrajes sem rigor. Vamos lá: Símbolos impressionam-me em demasia. Sei que é um erro de análise política superestimá-los assim. Com algum esforço, sou capaz de abstrai-los e aceitar uma descrição racional da festa da posse, segundo a qual os recados identitários ali presentes apareçam como adjetivo de alguma substância democrática prévia, aspectos pontuais que transmitem um quê de novo a um antigo script. Ou como um artigo indefinido, que precede o substantivo democracia para que ele fique vago a ponto de tornar-se qualquer coisa. Mas no fundo creio serem enganosos, por vezes perigosos, esses discernimentos entre forma e substância, entre traje e adereços. Creio (o verbo é esse, sem retoque) que, na real, são inseparáveis. O populismo pairava na festa, emanado da figura central, mas curiosamente não lembro de alguém ali ter discursado sobre um povo, ou procurado mostrá-lo. Falava-se de vários “povos”, a começar pelos “originários”, passando pelo pobre, pelo preto e chegando a mil comunidades imaginadas e enumeradas por discursos negativos e agendas afirmativas. É um passo a mais em relação ao clássico "nós x eles", que tornava maniqueísta uma disputa por algo ainda pretendido, afinal, como objeto (poder) comum. Agora o ânimo bélico persiste numa estética encantada pelo termo diversidade. Todos os narcisos acham feio o que não é espelho, mas cada fragmento dessa diversidade sem alteridade não precisa, em tese, vencer adversários a cada contexto. O inimigo essencial, fixo, é qualquer noção de todo. Cada ator exibe seu pedaço como a parte que lhe cabe e basta num latifúndio social dialogicamente improdutivo. A retórica de luta de cada qual mantém o espetáculo. Arremedo estético da luta real, cotidiana, de brasileiros e brasileiras destinados a viverem juntos, misturados em suas dores e misérias, alegrias e grandezas, através de pensamentos, palavras e obras praticados na roda-viva de todo dia, através de conflitos e cooperações, decididas por conciliação ou por força maior. Como se puder e Deus quiser. Sei que tudo isso poderia ser visto mais benignamente, com dramaticidade mais modesta, através do uso de termos politicamente menos arriscados, como sociedade e cultura. E uma vez assim visto, ser analisado, compreendido, acolhido, processado e incorporado ao acervo do tempo que anda. Sendo bossa nova, isso é muito natural. Mas a tradução disso na política é delicada. Precisamos prestar atenção porque desafinar aí pode ser fatal. Aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim! A imagem de JK passando a faixa presidencial a Jânio Quadros e a da repetição do ato, quatro décadas depois (no meio delas uma ditadura que durou duas), seguido de um abraço caloroso entre FHC e Lula devem ser remetidas ao museu, antes desses gestos tornarem-se, de fato, prática estável, ou devem ser resgatadas sempre, para que um dia a estabilidade vire tradição? Alguma vez, após o último dia 01.01, uma foto de posse será valorizada se ao lado do presidente não houver um(a) representante dos povos ditos originários? Presidentes a serem retratado(a)s doravante serão suseranos, entre povos e poderes essencialmente distintos, não importa a carga de legitimidade política que mandatários recebam das urnas ou de alianças lúcidas e leais àquelas? A entrega da faixa por entes fixos do social e aquela linha de frente da foto são conjunturais ou são fatos consumados que vieram para ficar? São fragmentos de uma unidade que está sendo quebrada ou verdades reveladas contra uma sempre falsa unidade? Sejam uns ou outras, podem/devem ser amalgamado(a)s pela mobilidade social e política de uma democracia em processo ou podem/devem permanecer como fragmentos ou como idealizações de povos distintos? Sem respostas conclusivas, apenas compartilho uma percepção intranquila de que o Brasil atual carece de uma consciência conservadora em cima, para que milhões de consciências conservadoras persistentes que vivem desagregados embaixo não sejam duradouramente capturados por aventureiros peritos em lançar mão de símbolos e instituições nacionais. O risco que se corre é, como na foto histórica de 01.01.23, a representatividade social querer ofuscar (no limite dispensar) a representação política da nação e dos seus cidadãos, fazendo prevalecer hierarquias imaginárias, assincréticas e idiossincráticas. Mal nos livramos, pelas urnas, do espectro destrutivo de umas e já chocamos ovos de outras, no nosso quadrado festivo que mede só 51%, mas é deslumbrante e deslumbrado. Assumo eventuais exageros, mas no momento vejo mais perigo em silêncios do que naqueles. Exageros, nesse caso, são sequelas de vacinas buscadas contra um futuro arrependimento por coisas não ditas. Reconheço aqui, sem precisar acompanha-lo em tudo, a atitude de um intelectual como Antônio Risério, que estica essa corda, e com ela não se enforca. Mas, de novo, é Chico Buarque quem vem em socorro (talvez sem querer, já que ele pode estar adorando essa festa, pá!) quando me sinto incapaz, como agora, de justificar os meus exageros com minhas próprias palavras: A gente vai contra a corrente Até não poder resistir Na volta do barco é que sente O quanto deixou de cumprir Sinto-me assim implicado no que uma esquerda de horizonte republicano deixou de responder positivamente, na década dos 90, a sinais modernizadores dados pela coalizão partidária, conservadora e reformista, que chegou ao governo com o Plano Real, ainda na infância da república democrática da Carta de 1988. E implicado também no consentimento passivo que deu ao experimento político centrífugo que veio na sequência e que terminou fragmentando partidos ainda mal nascidos em facções decrépitas e oscilantes. A renúncia (ou a impossibilidade) da disputa da liderança moral da esquerda teve um preço político alto, ainda hoje cobrado, sem perdão. Sem partido e sem vontade alguma de integrar algum, sigo vendo em partidos políticos instituições imprescindíveis e não quero repetir o que considero ter sido um erro. Daí achar que exageros impressionistas e críticas precoces ao que se está fazendo - por ora em Brasília - com o mandato recebido nas urnas estão entre os menores perigos. Para conter as críticas acena-se a uma possível brecha que elas abririam a uma oposição de extrema-direita. Sim, o perigo da extrema direita é real e eleitoral. Mas será tanto maior quanto for difusa a condescendência com o populismo e o identitarismo, que, depois de terem bloqueado o caminho de afirmação de uma esquerda republicana no Brasil, acham-se, hoje, em coalizão de veto ao nascimento do que pode vir a ser batizado de centro democrático, a Geni de todas as horas, como acabamos de ver. Bóric, homem político centrado no novo tempo, tendo a direita do seu país nos calcanhares, está precisando recorrer à gramática cosmopolita e liberal, para - em trilha sintonizada, penso eu, com o que propõe, por exemplo, Mark Lilla, como saída duradoura para o Partido Democrata norte-americano - ir ao encontro da nação chilena e assim tentar reduzir os danos causados àquele país pela onda identitária de esquerda. Não sabemos se terá êxito, mas trata-se de um jovem vagalume que faz falta entre nós. Lula, centro-esquerda das antigas, não presta atenção em Lilla (nem em Bóric) e também não liga para essas coisas do mundo identitário, a não ser como modo de fazer delas símbolos de outras coisas. Acha-se capaz de instrumentalizar essa “onda” para mais facilmente exercer o governo pessoal. Trata os arautos da onda como tratava antigos bolcheviques e guevaristas, nos primórdios do PT. O mútuo "me engana que eu gosto" não vai funcionar com essa turma indisposta a respeitar qualquer tradição secular e muito determinada a denunciar como maligno o próprio teatro da representação, onde Lula respira. Onde nação e sociedade respiram, mesmo ameaçadas por nacionalismos e populismos politicofóbicos. Antes que um desquite ruidoso aconteça e seus estilhaços se espalhem, é preciso refletir - como uma das hipóteses legítimas de desdobramento da necessária transição política que ora se inicia - se o Brasil não precisará buscar, num futuro imediato (leia-se 2026), um porto fora da esquerda. Se para sair da rua estreita em que nos metemos desde 2014 e que foi dar no beco de 2018 não vai ser preciso que haja partidos e lideranças que plantem, desde já, devagar, mas sempre, o que não cairá do céu de Brasília. É ver se construir uma oposição democrática ao atual governo não está tão legitimamente na ordem do dia quanto a construção dele mesmo. Penso que sem ambos, governo e oposição democráticos, quiçá republicanos, não haverá reconstrução, muito menos pacificação de nada que se possa chamar de país. * Cientista político e professor da UFBa. ***************************************************** Anônimo disse... Concordo com o anônimo *********************************** *** Anônimo | Bob Odenkirk foge de seu passado em trailer de filme **********************************************************************************
*** quarta-feira, 4 de janeiro de 2023 Aylê-Salassié F. Quintão* - O lado sombrio da festa da posse Sem encerrar o mandato presidencial, pelo qual tanto lutara entre os companheiros de caserna, no dia 17 de dezembro de 1969, morria o general Arthur da Costa e Silva. Com o corpo ainda no necrotério, o 18 de setembro amanheceu com todo mundo preocupado e discutindo já quem o substituiria e, dentro do aparelho burocrático do Estado, quem sobreviveria no emprego. Era o assunto corrente, mesmo em se tratando de uma suposta e coesa ditadura militar. No primeiro dia após a posse, em 1o de janeiro de 2023, do novo presidente da República, Luiz Ignácio Lula da Silva, o ex-operário, civil, já em estado de "paz e amor" tirou a manhã para receber os chefes de Estado, embaixadores e autoridades estrangeiras que vieram prestigiar a sua posse, durante a qual prometeu, enfaticamente, a volta dos empregos. Concomitante, entretanto, no Planalto e nos ministérios, o chamado "passaralho" fazia uma devassa na estrutura e na burocracia do Estado, gerando pânico entre chefes, chefetes e servidores, sobretudo entre aqueles que ocupavam cargos de confiança. Confiar em quem agora? Mudou o governo, mudam-se as estruturas políticas e administrativas, dirigentes e partidos de sustentação, revelando comportamentos cruéis, dignos de um Pantagruel, personagem glutão criado pelo escritor francês, François Rabelais (1494-1553). Visualizam na máquina do Estado milhares de demissões e, com elas, cargos vagos, para acomodar os cabos eleitorais, amigos e amantes. Seria isso uma das razões porque a gestão das políticas públicas são tão instáveis e inconsistentes. Cada novo governante, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, procura aparelhar e adaptar a administração do Estado ao seu gosto e, assim, o País patina pela história, sem sair do lugar: avança no final dos quatro anos e, quando tudo está configurado, retroage com a mudança de governo. A maioria das estruturas institucionais configuradas são desmontadas e os servidores nos seus devidos lugares são demitidos ou remanejados. As fotografias do Presidente, dos ministros e diretores, que alimentam o lado cívico, são trocadas, os endereços ministeriais se alteram, alguns saem da Esplanada, e as políticas públicas tomam outras direções. Passamos agora de 23 para 37 ministérios. Numa mudança radical como essa - diz-se: da direita para a esquerda - os servidores de carreira aguardam confusos os chefes que desembarcam por ali, para assumir políticas públicas sobre as quais alguns mal ouviram falar. As maiores vítimas sãos ministérios da Educação, da Agricultura, do Meio Ambiente e da Cultura e agora também dos Povos Indígenas e do Desenvolvimento (Reforma) Agrário. Os conflitos jurídicos e as justaposições de funções confundem e até conflitam entre si. Quem sai procura sabotar o substituto. A gestão e a administração física e de projetos vira uma confusão. Cada um que chega proclama sua lealdade ao novo governo e a desconfiança nos que ficaram, mesmo sendo funcionários de carreira. O desmonte das máquinas gestoras leva à paralização, às vezes, de até um ano em programas, experimentações e pesquisas, algumas prioritárias. No final dos doze meses, o Estado ressurge como aquele paquiderme rabeleriano e já como novos aspirantes à sucessão. Não se trata só de desmontar e montar o exército de reserva. Acabam de ser criados 14 novos ministérios. O primeiro ano de governo é, desta forma, de reorganização do Estado, e o ajuste aos interesses dos vencedores, com a realocação ministerial de milhares de programas e recursos, um grande número mantidos com financiamentos originários do exterior - questão Amazônica - e outros compromissados em relações comerciais externas e acordos com a base de apoio no Congresso. Com o suporte de um ministério de Planejamento, Gestão e Administração, assessorado pelas famigeradas Divisões de Segurança e Informação (DSIs), essas questões não preocupavam os governos militares. Mudavam-se um ou outro titular ministerial, mas a máquina tecnocrática permanecia azeitada, procurando dar consequência aos planos de desenvolvimento. Delfim Neto, Mário Simonsen, João Paulo dos Reis Veloso, Ernâne Galveas ficaram no poder por mais de dez anos. Contudo, entre os militares havia vieses diferentes para a governabilidade. Só começou a mudar, quando o partido da Oposição (MDB), ganhou as eleições na maioria dos estados(1978). Até então, os militares navegavam tranquilos na chefia do Estado, amparados por um forte aparelho repressivo. Apesar dessa aparente estabilidade, eles não conseguiram dar posse a Pedro Aleixo, vice-presidente, e o governo foi entregue a uma Junta Militar, constituída pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Os três funcionaram, no Governo, em suposta convergência de opinião, por 60 dias, até haver um consenso em torno do nome do general Garrastazú Médici, então chefe do famigerado Serviço Nacional de Informações(SNI). O Exército não abria mão da liderança. Como repórter da Folha de São Paulo, cobrindo a área ministerial assisti, nessas trocas de governo, a situações dramáticas, levianas e traiçoeiras. Hoje é a primeira semana da posse do novo governo, que eu chamo de "dia seguinte", quando o poder se dissolve e os antes poderosos, cheios de mordomia e de convicções, mesmo sem votos, perdem aquela áurea de autoridade, e vão parar no limbo, nas ruas para viver como cidadão comum, tomando cafezinho nos botecos. Há os que sabem perder, mas há também os incautos que incorporaram no sangue aquele espírito autoritário e litúrgico de "mandão" e "sabichão". Demitidos, perdem, de um dia para o outro, o poder e as vantagens privativas oferecidas em bandeja pelo Estado. O salário é o primeiro a desaparecer. Passam a ter de dirigir o próprio carro, pagar do bolso as refeições em restaurantes e hotéis. Resta, para alguns, a compaixão de assessores, secretários, seguranças, ascensoristas e até da moça do cafezinho, também demitidos; outros, agora, os vêm com desconfiança; outros ainda com raiva, desobrigando-se da obediência cega do "puxa saquismo". E assim, lá vão todos..., desempregados. Os novos dirigentes chegam cheios de sonhos. Pinçados no mundo da política, a maioria, não conhece bem os meandros, as reponsabilidades e até as funções do Estado. Confundem tudo. De modo que, as festas da posse e da transmissão de cargos não conseguem esconder o cenário desolador, sombrio mesmo, que se estabelece, silenciosamente, na Praça dos Três Poderes, dentro daqueles edifícios verdes. Tudo coincide com o fim da era Pelé, menino pobre que, com ousadia e criatividade pessoal, contribuiu para que os brasileiros orgulhassem do seu País com todas essas ambiguidades, sem a necessidade de fazer guerra com ninguém. *Jornalista e professor ************************************ *** Preciso Aprender A Só Ser Gilberto Gil *** Sabe, gente. É tanta coisa pra gente saber. O que cantar, como andar, onde ir. O que dizer, o que calar, a quem querer. Sabe, gente. É tanta coisa que eu fico sem jeito. Sou eu sozinho e esse nó no peito. Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder. Sabe, gente. Eu sei que no fundo o problema é só da gente. E só do coração dizer não, quando a mente. Tenta nos levar pra casa do sofrer. E quando escutar um samba-canção. Assim como: "Eu preciso aprender a ser só". Reagir e ouvir o coração responder: "Eu preciso aprender a só ser." compositores: Gilberto Passos Gil Moreira álbum Gil Luminoso - Gilberto Gil Gravadora: Geleia Geral Ano: 2006 Faixa: 1 *************** *** Gabeira analisa passado, presente e futuro do PT no governo | Conversas com o Meio *** Meio Estreou há 6 horas #Meio #Lula #FernandoGabeira O primeiro Conversas com o Meio de 2023 recebe o jornalista Fernando Gabeira, que revela suas valiosas impressões sobre o terceiro mandato do presidente Lula. Gabeira aponta como o passado recente pauta as decisões do petista desde a posse. Com toda sua experiência na política, o também ex-deputado federal explica como chegamos no fundo desse buraco que vivemos e se, neste pós eleições, a democracia brasileira ainda está ameaçada. Confira neste bate-papo! __ CONVERSAS COM O MEIO ***************************** *** Beco Sem Saída Charlie Brown Jr. *** As circunstâncias se tornaram um beco sem saída Seu orgulho te traiu e te jogou no chão E as cicatrizes dessa história mal escrita Se converteram no aprendizado da reconstrução Mas todos vivemos dias incríveis Que não passam de ilusão Todos vivemos dias difíceis Mas nada disso é em vão Todo o bem que você faz pra quem te ama E quem te ama te faz E isso tudo é o que te faz levar a vida na paz Só Deus sabe quanto tempo Que o tempo deve levar As circunstâncias se tornaram um beco sem saída Seu orgulho te traiu e te jogou no chão E as cicatrizes dessa história mal escrita Se converteram no aprendizado da reconstrução Mas todos vivemos dias incríveis Que não passam de ilusão Todos vivemos dias difíceis Mas nada disso é em vão Todo o bem que você faz pra quem te ama E quem te ama te faz E isso tudo é o que te faz levar a vida na paz Só Deus sabe quanto tempo Que o tempo deve levar Viver, viver e ser livre Saber dar valor para as coisas mais simples Só o amor constrói pontes indestrutíveis (2x) A arte maior é o jeito de cada um Vivo pra ser feliz, não vivo pra ser comum compositores: ALEXANDRE MAGNO ABRAO, THIAGO Ritmo, Ritual e Responsa (2007) - Charlie Brown Jr. Gravadora: EMI Ano: 2007 Faixa: 11 *************

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