quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Não, ele não morre

O Gato Preto talvez seja o conto mais autobiográfico de Edgar Allan Poe. ***
*** O Gato Preto, de Edgar Allan Poe: um conto autobiográfico - netmundi.org *** Quadro "As Mulatas" foi danificado em invasão do Planalto. (Fonte: Wikipédia) ***
*** Di Cavalcanti: 7 fatos que você não sabe sobre o artista - Mega Curioso https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/123995-di-cavalcanti-7-fatos-que-voce-nao-sabe-sobre-o-artista.htm ***
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*** “Toda a corriola ali” Tinham um fim E o dia raiou *** *** Quem é culpado pela tentativa de golpe? | Pedro+Cora *** Meio Estreou em 10 de jan. de 2023 #Meio #Golpistas #GolpeDeEstado O Pedro+Cora desta terça-feira analisa o que aconteceu em Brasília no último domingo (8), uma das maiores tentativas de golpe de Estado da Nova República. Pedro Doria e Cora Rónai questionam: quem são os culpados? Quem deixou acontecer? O que pode ser feito a partir de agora? https://www.youtube.com/watch?v=Bv-vf3fSGm8 ***********************************************
*** Nas entrelinhas: “Que bobos, não sabem que a arte existe porque a política não basta” Publicado em 11/01/2023 - 06:48 Luiz Carlos AzedoBrasília, Congresso, Cultura, Eleições, Ética, Governo, Itamaraty, Justiça, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Segurança, Terrorismo, Violência Os palácios e os interiores na nossa capital estão entre o que existe de mais original e valioso na nossa cultura, principalmente na arquitetura, nas artes plásticas e no design. Existe muito simbolismo na política Num determinado dia no início dos anos 1960, o jornalista Antônio Maria, que, por si só, mereceria uma coluna apenas para contar essa história, foi atacado por capangas de alguém que não gostava dele por causa de suas colunas. Estavam orientados a pisar seguidamente nas suas mãos, para que não mais pudesse escrever. Na manhã seguinte, Maria denunciava a agressão com o humor ferino que encantava seus leitores e enfurecia os desafetos: “Que bobos! Eles pensam que o jornalista escreve com as mãos”. A frase foi imortalizada no jornalismo brasileiro e, obviamente, serve de inspiração para a coluna de hoje. Antônio Maria morreu em 1964. O vitral Araguaia, de Marianne Peretti, obra de 1977, não foi destruído no domingo pelos vândalos que invadiram o Congresso. A artista plástica Marie Anne Antoinette Hélène Peretti, filha de mãe francesa e pai brasileiro, nasceu em 1927, em Paris, e veio para o Brasil em 1953. Marianne foi a única artista mulher a integrar a equipe de Oscar Niemeyer na construção de Brasília. Morreu em abril do ano passado, no Recife. Entre suas obras mais famosas, estão os vitrais da Catedral de Brasília, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Palácio do Jaburu e do Memorial JK. Suas obras são reconhecidas internacionalmente, em outros projetos de Oscar Niemeyer, como o Edifício Burgo (Turim, Itália) e a Maison de la Culture du Havre (Le Havre, França). Araguaia foi feito a partir do projeto de decoração do Salão Verde, que incluiu obras de arte e mobiliário que ajudassem a delimitar os espaços e valorizar o ambiente. É o espaço mais democrático da Câmara, porque nele circulam parlamentares e cidadãos comuns, líderes sindicais e comunitários, lobistas e jornalistas. É uma obra que humaniza o Poder Legislativo, como as demais que foram destruídas pelos vândalos, num misto de ignorância, brutalidade e ódio à cultura e à democracia. Não tem nada a ver com a guerrilha do Araguaia. O vandalismo foi uma burrice política também, porque invasão e depredação do Congresso transformou o mais importante aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro na Praça dos Três Poderes, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), num adversário da extrema-direita bolsonarista. Ontem, a Câmara e o Senado referendaram a intervenção federal na segurança pública do DF. Fortalecido Jerzy (Jorge) Zalszupin nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 1º de junho de 1922, em uma família judia. Em 1939, quando começou a 2ª Guerra Mundial, diante do avanço nazista, sua família atravessou a fronteira da Polônia com a Romênia e sobreviveu ao Holocausto em Bucareste, como não judeus. Jorge estudou arquitetura, quando conheceu a obra de Oscar Niemeyer, e imigrou para o Brasil em 1949, para trabalhar com o arquiteto Luciano Korngold, até abrir o próprio escritório de design de móveis. Nos anos 1960, concebeu e produziu móveis para gabinetes e palácios na construção de Brasília. Entre suas obras mais conhecidas, estão as poltronas utilizadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, destruídas pelos vândalos bolsonaristas. “Projetei o espaldar bem alto para transmitir sobriedade aos juízes que ali sentassem”, disse, ao explicar o conceito da cadeira Ambassador (Versão 2). A maior parte dos móveis do STF é de sua autoria. O ministro do STF Alexandre de Moraes não precisou da cadeira para afastar do cargo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que se omitiu durante o vandalismo, nem para mandar prender o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública de Brasília Anderson Torres, suspeito de conivência com os atos golpistas. Zalszupin faleceu em 17 de agosto de 2020, aos 98 anos de idade, e, como Peretti, não está vivo para acompanhar a restauração de suas obras. Ironicamente, a cadeira foi desenhada para que os ministros do Supremo pudessem suportar de forma mais anatômica e serena possíveis as longas sessões da Corte. O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar dizia que a arte existe porque a vida não basta. A política é parte da vida. A presença de obras de arte nos palácios da Praça dos Três Poderes e da Esplanada, como os da Justiça e do Itamaraty, tem por objetivo humanizar o poder político, associar a dureza do concreto armado aos sonhos e à poesia ensejados pela construção de Brasília. O que aconteceu no domingo foi uma agressão não apenas aos Poderes da República, mas, também, à construção da identidade nacional. Como se sabe, uma nação não existe apenas por causa do seu território e sua população, mas em razão de um estado psíquico comum, cuja expressão maior é a sua cultura. Os palácios e os interiores na nossa capital estão entre o que existe de mais original e valioso na nossa arquitetura, nas artes plásticas e no design. Existe muito simbolismo na política, que é mais importante para a preservação do poder do que sua estrutura física. Ao contrário do que pretendiam os arruaceiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu mais fortalecido da crise, o Congresso e o Supremo, também. Nesse episódio, a harmonia entre os Poderes, um dos princípios da Constituição, ao lado da independência, mostrou porque é tão importante para preservar a democracia. Compartilhe: *************************** ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS STF forma maioria para prender Anderson Torres e manter afastamento de Ibaneis Rocha Cinco ministros acompanharam Moraes no entendimento de que houve omissão no caso dos ataques aos Três Poderes ***
*** ARTHUR GUIMARÃES FELIPE AMORIM SÃO PAULO 11/01/2023 12:55 Atualizado em 11/01/2023 às 13:06 *** STF O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta quarta-feira (11/1), para manter as decisões do ministro Alexandre de Moraes de afastar por 90 dias o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e para prender o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, e o ex-comandante da Polícia Militar do DF Fábio Augusto Vieira. As medidas foram tomadas no âmbito do Inquérito 4.879, que investiga milícias digitais, após os atos golpistas do último domingo (8/1) na Praça dos Três Poderes. Acompanharam o relator os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso. O julgamento acontece em sessão do plenário virtual. O placar está 6 a 0 pela manutenção das decisões. A determinação da prisão de Anderson Torres Na última terça-feira (10/1), Moraes determinou a prisão do ex-secretário de segurança pública do Distrito Federal Anderson Torres e do ex-comandante da Polícia Militar Fábio Augusto Vieira, além de um mandado de busca e apreensão na residência de Torres. “A Democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil politica de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler.” “Absolutamente TODOS serão responsabilizados civil, política e criminalmente pelos atos atentatórios à Democracia, ao Estado de Direito e às Instituições, inclusive pela dolosa conivência – por ação ou omissão – motivada pela ideologia, dinheiro, fraqueza, covardia, ignorância, má-fé ou mau-caratismo,” destacou o ministro. O afastamento de Ibaneis Rocha O ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Ibaneis Rocha na madrugada do dia, destacando a “omissão e conivência” de autoridades públicas na coibição da “prática de atos terroristas contra a Democracia e as Instituições Brasileiras”. Segundo ele, a conduta do então governador do Distrito Federal em exercício é mais latente que a de Anderson Torres. “[Ibaneis Rocha] não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre manifestação política em Brasília’ — mesmo sabedor por todas as redes que ataques as Instituições e seus membros seriam realizados — como também ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança semelhante aos realizados nos últimos dois anos em 7 de setembro, em especial, com a proibição de ingresso na esplanada dos Ministérios pelos criminosos terroristas; tendo liberado o amplo acesso”. Na mesma decisão, o ministro ordenou a desocupação e dissolução total, em 24 horas, dos acampamentos nas imediações de quartéis, além da prisão em flagrante de seus participantes pelos crimes de atos terroristas (inclusive preparatórios), associação criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, ameaça, perseguição e incitação ao crime. ARTHUR GUIMARÃES – Repórter em São Paulo. Atua na cobertura política e jurídica do site do JOTA. Estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Libero. Antes, trabalhou no Suno Notícias cobrindo mercado de capitais. Email: arthur.guimaraes@jota.info FELIPE AMORIM – Repórter em Brasília. Cobre o Congresso Nacional. Antes, trabalhou nas redações do Correio e A Tarde, na Bahia, Folha de S.Paulo e Agora, em São Paulo, e no UOL, em Brasília. E-mail: felipe.amorim@jota.info FONTE: JOTA https://www.jota.info/stf/do-supremo/stf-forma-maioria-para-prender-anderson-torres-e-manter-afastamento-de-ibaneis-rocha-11012023 **************************************************
*** quarta-feira, 11 de janeiro de 2023 Elio Gaspari – O Planalto estava desguarnecido *** O Globo As invasões do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso tiveram muitas respostas, todas certas. Como bem lembrou o repórter Guga Chacra, o Judiciário e o Legislativo uniram-se ao Executivo, coisa que não aconteceu em Washington em janeiro de 2021. Sobraram perguntas. A mais óbvia é a do financiamento. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, pelo menos em dez estados já foram identificadas fontes. Pode-se esperar que as investigações deem nomes aos bois. Restam outras, e entre elas há uma: o que aconteceu com o Batalhão da Guarda Presidencial? Trata-se de um corpo de tropa criado por Dom Pedro I há exatos 200 anos. Ele existe para proteger o presidente e seus palácios. Jamais aconteceu o que se viu no domingo. Dois imperadores e quatro presidentes foram depostos sem invasões do palácio. Com sua experiência de criminalista, o advogado Alberto Zacharias Toron já disse que “inquietante é a questão de saber por que o Batalhão da Guarda Presidencial não defendeu o Palácio do Planalto”. CONTINUAR LEITURA ***
*** Bernardo Mello Franco - A revolução dos manés *** O Globo Justiça precisa punir comunicadores, empresários e políticos que incentivaram tentativa de golpe Camisa da seleção, bandeira verde-amarela, boné com o nome de Bolsonaro. O mato-grossense Fabrizio Cisneros vestiu uniforme completo para participar dos atos golpistas em Brasília. De celular em punho, ele usou as redes sociais para festejar a depredação das sedes dos Três Poderes. “Tomamos o poder! Estamos aqui em cima do Planalto!”, comemorou o extremista, em transmissão ao vivo. As imagens mostram que ele estava em cima da marquise do Congresso, mas a confusão geográfica foi seu menor erro no domingo. Cisneros tentou entrar na política pela via eleitoral. Candidato a vereador em Cáceres, na fronteira com a Bolívia, recebeu apenas 14 votos. Frustrado com as urnas, o protético aderiu ao golpismo. Passou a se alimentar de fake news, acampou em porta de quartel e participou do maior ataque à democracia brasileira desde o fim da ditadura. CONTINUAR LEITURA ***
*** Patrícia Campos Mello - Bolsonaro aposta na 'negação plausível' para não ser punido *** Folha de S. Paulo Como Trump nos EUA e Modi na Índia, ex-presidente é ambíguo na incitação à violência e terceiriza crimes para seus apoiadores O bolsonarismo fia-se cada vez mais na estratégia da "negação plausível", abraçada por líderes como o ex-presidente americano Donald Trump e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. A estratégia consiste em usar ambiguidade para instigar apoiadores à violência e terceirizar atos criminosos como ataques golpistas —e assim apagar impressões digitais incriminatórias. A negação plausível permite ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se dissociar de qualquer sujeira feita em seu benefício. Os comentários de Bolsonaro sobre os movimentos golpistas, por exemplo, não recorrem à incitação clara, evitando que ele possa ser responsabilizado pela violência que suas palavras eventualmente desencadeiem. Por outro lado, suas declarações também fogem de uma condenação enfática do golpismo, mantendo o extremismo mobilizado. "Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra", disse Bolsonaro horas depois dos atos violentos de golpistas em Brasília no dia 8. Ele condenou as depredações, mas imediatamente as comparou a atos da esquerda. Lembrando que nem em 2013 nem em 2017 houve depredação e violência no Congresso, STF e Planalto, com pedidos amplos de golpe de Estado. CONTINUAR LEITURA ***
*** Hélio Schwartsman - Admirável mundo novo Folha de S. Paulo Bolsonaristas recorrem a autoengano para pacificar suas crenças A direita defende a ordem. Isso não é muito compatível com as cenas de destruição em Brasília. Grupos de bolsonaristas tentam resolver essa contradição, que na psicologia leva o nome de dissonância cognitiva, atribuindo a baderna a petistas infiltrados. Há um limite para o autoengano? Talvez haja, mas ele tende ao infinito. Quem desbravou os mecanismos psicológicos da dissonância cognitiva foi Leon Festinger, e a história de como o fez é deliciosa. Eram os anos 1950. Festinger e seus colaboradores estavam interessados no efeito de profecias que dão errado. A sorte lhes sorriu. Eles viram num jornal de Chicago uma nota sobre uma seita, The Seekers, que afirmava que o fim estava próximo. Infiltraram-se no movimento para acompanhar tudo de camarote. CONTINUAR LEITURA ***
*** Bruno Boghossian – O golpismo sem escolta Folha de S. Paulo Decisão de Moraes, na prática, determina que polícias não podem servir de escolta para golpistas É provável que nenhum policial bolsonarista tenha deixado de ser bolsonarista desde o último domingo. Mas o custo de sorrir para selfies com criminosos e tomar água de coco enquanto golpistas tentam derrubar o governo ficou mais alto. As ordens de prisão contra o ex-comandante da PM e o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal foram um recado para forças de segurança de todo o país. A decisão de Alexandre de Moraes, na prática, determina que agentes públicos não podem conceder porteira aberta para atos antidemocráticos e oferecer suas tropas para escoltar golpistas. CONTINUAR LEITURA ***
*** Mariliz Pereira Jorge - Pau nos golpistas *** Folha de S. Paulo Que índole democrata permanece inabalada após quatro anos num país contaminado pela raiva? Não me reconheço nesses tempos estranhos em que temos vivido. Diante das imagens de uma Brasília sendo destruída por uma horda de vândalos, pensei: pau nos golpistas. Que índole democrata permanece inabalada depois de quatro anos num país contaminado pela raiva? Se a Monja Coen perdeu a paciência por causa de futebol, imagine o que se passa nas entranhas do cidadão comum que vê o país sob a tentativa de golpe. Percebi o movimento sorrateiro do fascistinha que habita mesmo o íntimo de todos nós que acreditamos que a democracia é inegociável. Tão inegociável que me peguei gritando pau nos golpistas. CONTINUAR LEITURA ***
*** Vera Rosa - ‘Abin paralela’ no Palácio do Planalto O Estado de S. Paulo. Na janela de vidro do STF, a frase ‘Perdel (sic) mané’ mostra a outra face do terror Desde domingo, quando a capital da República foi atacada por vândalos, um clima de desconfiança se instalou na Praça dos Três Poderes. Diante desse cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido aconselhado a tirar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) da estrutura do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A ideia de desmilitarizar a inteligência do governo apareceu nas discussões da equipe de transição, mas ganhou força nos últimos dias, após a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Aliados de Lula retomaram a cobrança pela criação de um ministério para cuidar da segurança pública, separado da pasta de Justiça, comandada por Flávio Dino. A avaliação é de que houve “sabotagem” por parte do governo do Distrito Federal ao não impedir o vandalismo. Mesmo assim, Lula afirmou que o GSI, a Abin e os ministérios da Justiça e da Defesa também falharam. CONTINUAR LEITURA ***
*** Paulo Delgado* - A Constituição que virou suco O Estado de S. Paulo. A tarde de domingo foi um alerta final para a importância de uma Constituição respeitada Cada parlamentar do Brasil se compromete com o eleitor a ser ele mesmo, dando ao senso de desempenho mais valor do que ao senso de dever. Cheio de si vai ao limite no exercício de mandatos, praticamente unânimes em ferir a Constituição. O eu-deputado, alheio a ser representante coletivo da sociedade esgotada, opera sistematicamente uma violência contra a regra maior do País, produzindo enfartes legais, cada vez mais frequentes, através do uso abusivo de emendas constitucionais. Agente da precariedade da vida legal, esse legislador abusivo não se sente submetido a qualquer coação legal por estar em seu poder mudar a lei quando quiser. Sem exceção, confirmam o agouro de que, se não pudessem contar com os bons, os maus seriam inúteis. Segundo a Agência Senado, o Congresso Nacional promulgou 14 emendas à Constituição somente em 2022. O número é recorde para um único ano desde que a Carta entrou em vigor. O número de promulgações de 2022 é quase o dobro do ano recordista anterior – 2014 –, com oito emendas promulgadas. Além desses, em apenas cinco outros anos houve pelo menos seis promulgações. Somente em 2020, ano um da pandemia de covid-19, a Constituição não foi violada. CONTINUAR LEITURA ***
*** Sergio Augusto de Moraes* - Terrorismo em janeiro de 2023 O que aconteceu ontem em Brasília foi uma tentativa de acabar com a democracia no Brasil, mesmo que a maioria dos bolsonaristas que estavam na manifestação que resultou na depredação das sedes dos três poderes não tivessem consciência disto. Há que se entender que não foi uma ação de meia dúzia de malucos, mas sim, uma ação massiva, de milhares. Apoiada por milhões de bolsonaristas em todo o Brasil e que deve ser enfrentada não só pela justiça mas também no terreno da política. Outro aspecto desse acontecimento é uma certa desatenção do governo Lula e da maioria dos democratas brasileiros, que concentraram suas atenções na posse de Lula, sem dar-se conta, que os golpistas não se limitariam às manifestações e acampamentos frente aos quarteis. Existe uma organização por trás destas ações que detém a hegemonia nos órgãos de informação. O caso do governador de Brasília é apenas a ponta do iceberg. CONTINUAR LEITURA https://gilvanmelo.blogspot.com/ ***************************************** STF forma maioria para manter afastamento de Ibaneis Rocha Sessão no plenário virtual julga se deve ser mantida a decisão de Moraes de afastar emedebista por 90 dias ***
*** Sérgio Lima/Poder360 -22.abr.2020 O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), deverá ficar afastado por 90 dias *** PATRÍCIA NADIR 11.jan.2023 (quarta-feira) - 12h49 O STF (Supremo Tribunal Federal) formou nesta 4ª feira (11.jan.2023) maioria para manter a decisão que afastou do cargo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias. O julgamento está sendo feito no plenário virtual. Prevalece o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, “a omissão das autoridades públicas, além de potencialmente criminosa, é estarrecedora, pois os atos de terrorismo se revelam como verdadeira ‘tragédia anunciada’, pela absoluta publicidade da convocação das manifestações ilegais pelas redes sociais”. Seguiram Moraes os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Roberto Barroso e Luiz Fux. O placar está 7 a 0, faltando os votos de Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Nunes Marques e Andre Mendonça. A sessão de julgamento virtual vai até as 23h59 desta 4ª feira (11.jan). No formato não há debate, e os ministros depositam seus votos no sistema eletrônico da Corte. Ibaneis foi afastado do cargo por ordem de Moraes na madrugada desta 2ª feira (9.jan). O ministro argumentou que “absolutamente nada justifica a omissão e conivência” do governador do DF durante os atos de vandalismo nos prédios dos Três Poderes no domingo (8.jan). Na mesma decisão (íntegra, 218 KB), Moraes determinou a desocupação total dos QGs e unidades militares no país em 24 horas, além de vias públicas e prédios estaduais e federais e a prisão em flagrante de participantes que cometeram crimes de atos terroristas. ANDERSON TORRES O Supremo também formou maioria para referendar a decisão de Moraes em que ele determinou a prisão preventiva de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF, e de Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da PMDF (Polícia Militar do Distrito Federal). INVASÃO AOS TRÊS PODERES Por volta das 15h de domingo (8.jan), extremistas de direita invadiram o Congresso Nacional depois de romper barreiras de proteção colocadas pelas forças de segurança do Distrito Federal e da Força Nacional. Lá, invadiram o Salão Verde da Câmara dos Deputados, área que dá acesso ao plenário da Casa. Equipamentos de votação no plenário foram vandalizados. Os extremistas também usaram o tapete do Senado de “escorregador”. *** Veja depredação dentro do Congresso Nacional; Veja depredação dentro do Palácio do Planalto; Veja a depredação do Supremo Tribunal Federal. *** Em seguida, os radicais se dirigiram ao Palácio do Planalto e depredaram diversas salas na sede do Poder Executivo. Por fim, invadiram o STF. Quebraram vidros da fachada e chegaram até o plenário da Corte, onde arrancaram cadeiras do chão e o brasão da república. Os radicais também picharam a estátua “A Justiça” e a porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes. Os atos foram realizados por pessoas em sua maioria vestidas com camisetas da seleção brasileira de futebol, roupas nas cores da bandeira do Brasil e, às vezes, com a própria bandeira nas costas. Diziam-se patriotas e defendiam uma intervenção militar (na prática, um golpe de Estado) para derrubar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). CONTRA LULA Desde o resultado das eleições, apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ocuparam quartéis em diferentes Estados brasileiros. Eles também realizaram protestos em rodovias federais e, depois da diplomação de Lula, promoveram atos violentos no centro de Brasília. Além disso, a polícia achou materiais explosivos em 2 locais de Brasília. autores Patrícia Nadir redatora © 2023 Todos os direitos são reservados ao Poder360, conforme a Lei nº 9.610/98. A publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia são proibidas. https://www.poder360.com.br/justica/stf-forma-maioria-para-manter-afastamento-de-ibaneis-rocha/ ***************
*** Ideologia *** 15 Ideologias e a vida de todo dia Assim como todos nós somos políticos de uma forma ou de outra, todos nós temos uma ideologia, de uma forma ou de outra. É claro que ideologia é uma palavra “difícil” e então não esperamos que a cozinheira tenha uma ideologia, o porteiro do edifício tenha uma ideologia ou até nós mesmos, que estamos preocupados com o feijão de cada dia, tenhamos uma ideologia. Isto porque, devido a uma série de fatores, esquecemos (ou nunca aprendemos) que a sistematização dos fatos, feita pelos cientistas ou estudiosos, não passa, por mais complicada que pareça, disto mesmo — de sistematização dos fatos. As coisas acontecem, inventamos regras e métodos para estudar essas coisas, damos nomes a elas, vemos como elas se inter-relacionam, surpreendemos algumas “leis” aqui e ali, vamos procurando entender, da melhor forma possível ou aceitável. Com o tempo, um estudo tão aplicado começa a ser inacessível para aqueles que não se dedicaram muito a ele. É por isso que não entendemos de medicina, de direito ou de matemática — a não ser, é claro, que sejamos médicos, juristas ou matemáticos. Quando nos dedicamos a uma área especializada do conhecimento, vamos descobrindo coisas — e relações entre essas coisas e relações entre as relações — que nos obrigam a procurar designá-las por nomes especiais, facilitando o trabalho e a troca de informações sobre esse trabalho. Cada nova geração que vai chegando vai herdando esse patrimônio de conceitos e palavras e vai tentando aperfeiçoá-lo, modificá-lo, revê-lo e assim por diante. Então, não existe nada de intrinsecamente difícil em “ideologia”, nada de tão especial assim. Ela é simplesmente a palavra usada para descrever um fato, ou conjunto de fatos, que é parte integrante de nossas vidas, sendo mesmo difícil conceber um ser humano que não abrigue alguma forma de pensamento ideológico. Mas tudo neste mundo é complicado, quando pensamos bastante. Nada mais simples do que entender que, ao ser riscado, um fósforo se acende. É o produto do atrito da lixa contra a cabeça do fósforo. Mas por quê? Porque a lixa gera calor ao ser atritada contra a cabeça do fósforo e este se acende. Mas por quê? Porque há uma mistura química na cabeça do fósforo que se incendeia, quando lhe aplicam calor. Mas por que se incendeia? Porque tem a capacidade de fazer o combustível (a tal mistura química) reagir com o comburente (o oxigênio do ar), gerando fogo. Mas por quê? Porque as moléculas de oxigênio são muito ativas e, se provocadas suficientemente, reagem com outras moléculas. Mas por quê? Porque... E por aí vamos, numa sucessão interminável de perguntas, que acabarão por nos deixar com as indagações de sempre a respeito do porquê de todas as coisas, com ramificações cada vez maiores. Somos obrigados a rotular todos os fenômenos que surgem das relações observadas, numa busca interminável de entendimento. Porque rotulamos e porque vamos ficando cada vez mais envolvidos em nossas perguntas e nossas perplexidades, acabamos por dar a parecer que as coisas são os nomes que lhes damos. E chegamos mesmo a achar que só quem percebe ou entende aquelas coisas são os que entendem daqueles nomes. Num passo adiante, chegamos a achar que aquelas coisas até só existem para quem entende dos nomes que foram inventados para elas. E daí para pensarmos tanta besteira inútil, o caminho é muito curto. O fato é que a ideologia é uma coisa que existe, como todas as outras, independente do nome difícil que damos a ela. A ideologia é uma maneira de pensar, uma espécie de “fôrma” na qual moldamos o mundo. E existe em cada um de nós, embora, depois que inventamos a palavra e ela nos ajudou a raciocinar mais claramente sobre os fatos a que se aplica, ela tenha saído de nosso controle e virado uma palavra difícil, que hoje designaria alguma coisa estrangeira a nós. Para que entendamos o que é ideologia, a maneira mais fácil é voltar à nossa estimada comunidade de Ugh-Ugh. Lembremos que, depois de uma série de acontecimentos em Ugh-Ugh, a maneira de ver o mundo e interpretar os fatos, antes comum a todos os membros da coletividade, começou a mudar, de acordo com a posição de cada um no sistema socioeconômico. Não é necessário repetir o que já falamos, mas é claro que a maneira de ver o mundo de um escravo ugh-ughiano não seria a mesma que a de um membro da elite dominante. Está aí a raiz, o principal fato gerador da ideologia. Mas ela vai além, necessariamente, porque sempre envolve uma teoria. Isto acontece porque uma maneira de ver o mundo não pode deixar de ter feição globalizante, de procurar encontrar uma lógica para toda a gama observável de fatos, sob o risco de tornar-se incoerente e insatisfatória. A ideologia incorpora sempre uma teoria sobre o mundo, uma explicação totalizante. Não é fácil — alguns dirão que é até impossível — fazer uma distinção estanque entre ideologia e teoria, mas no campo da Política podemos ficar sossegados. Pois a Política, como vimos, só se faz na ação; Política é ação. Neste caso, uma teoria que seja posta em ação concreta numa sociedade — seja modificando-a, seja apenas constituindo uma de suas “forças” — assume caráter ideológico. No nosso exemplo ugh-ughiano, é evidente que a maneira de pensar do dominante é uma ideologia conservadora. Ela age para conter, de várias formas, as manifestações da contradição entre escravos e senhores. Por outro lado, a ideologia do escravo só pode ser reivindicatória ou revolucionária. Ela não quer conservar nada, quer mudar a situação. Se a ideologia envolve uma teoria sobre o mundo, podemos também imaginar um ou dois aspectos dessa teoria em Ugh-Ugh, somente para ilustrar. Por exemplo, o senhor de escravos poderia desenvolver, em conjunto com outros membros de sua classe, a tese de que, efetivamente, o homem, como todos os animais, se destaca sobre seus semelhantes por sua superioridade quanto a características que realmente importam, como força física, inteligência, habilidade etc. Portanto a superioridade de uns sobre outros não é apenas natural como inevitável, e a superioridade é demonstrada quando se vence o outro, por qualquer meio. A superioridade, por outro lado, careceria de sentido se não fosse usada em benefício dos superiores. Assim, escravizar os inferiores, para que façam o trabalho de que os superiores não gostam e que os torna ainda mais ricos (e mais superiores, claro), é parte da ordem natural das coisas. Com isto, aliás, faz-se um benefício muito grande aos escravos, pois do contrário eles teriam simplesmente que ser exterminados. E, como se vê, executam com perfeição seus trabalhos manuais, provando sua aptidão natural para esse mister, enquanto, se um senhor for tentar o mesmo trabalho, não conseguirá fazê-lo ou o fará mal, o que também corrobora a tese. Enfim, se continuarmos a desenvolver esta maneira de pensar, não terminaremos nunca, porque ela acaba por estender-se sobre todos os aspectos da vida. Esta é uma maneira ideológica de pensar, ver as coisas e expressar-se, maneira ideológica muitas vezes tão disfarçada que precisamos aguçar a sensibilidade para aprender a flagrá-la em nossa própria experiência cotidiana. Se hoje não há, de modo geral, escravos como havia em Ugh-Ugh, há inúmeras outras situações odiosas que também são defendidas e mostradas como necessárias, como decorrência lógica dos fatos. A ideologia, por conseguinte, está relacionada com a existência de classes sociais. A noção de classe social é muito complexa e há todo um ramo da ciência da sociedade dedicado a ela e a fenômenos correlates — o estudo da estratificação social. Normalmente, as pessoas acham que classe é a palavra adequada para designar grupos de natureza diversa, como os médicos, os padres, os militares e assim por diante. Na verdade, esses grupos não são classes sociais, são grupos ocupacionais. Isto porque a classe social se define em termos econômicos. Há muitos critérios para essa divisão, mas o mais abrangente é o que coloca os grupos de indivíduos em relação à natureza da economia em que eles existem. Se a economia, por exemplo, se baseia em que há alguns indivíduos que são proprietários dos meios de produção e outros que operam esses meios mas não os possuem, aí está uma divisão clara de classes, como em nossa Ugh-Ugh escravagista. Ou como em nossa sociedade de hoje, em que a maioria é assalariada ou desempregada e a minoria assalaria. Isto, entretanto, não é suficiente para que tenhamos idéia de como a consciência do indivíduo, seu conhecimento e seu pensar sobre o mundo são condicionados pelas circunstâncias concretas de sua existência. Em primeiro lugar, mesmo que admitamos que a classe social é o fator mais importante, não podemos negar relevância a outros condicionantes, inclusive o próprio grupo ocupacional, tão confundido com classe. Alguns desses grupos, como o dos militares, têm uma especificidade muito grande. Os militares não são, como vimos, uma classe social: um pode ser filho de banqueiro, outro pode ser filho de bancário. Entretanto, as características de sua formação profissional e de seu trabalho, a maior parte delas imposta num processo autoritário e rigidamente disciplinado, lhes dão certas particularidades de comportamento e raciocínio que não podem ser ignoradas. A mesma coisa acontece, em maior ou menor grau, com outros grupos ocupacionais. Na realidade, é tão vasta a gama desses “condicionantes de consciência” que todo um ramo da sociologia — a sociologia do conhecimento — se dedica a seu estudo. Em segundo lugar, as classes sociais e o número de denominadores comuns que, nas sociedades de hoje, podem unir as pessoas, sob diversos critérios, não são tão simples ou esquemáticos, como se pode haver entendido do que se disse acima. É claro que, entre assalariados, existe uma enorme diferença quando um deles ganha cem salários mínimos e o outro apenas um. Da mesma forma, um proprietário de terras pode sustentar divergências inconciliáveis com um industrial. Assim, mesmo achando que o esquema básico, numa sociedade como a nossa, é dicotômico — quer dizer, num sistema capitalista há essencialmente capitalistas e não-capitalistas —, não podemos perder de vista o fato de que isto está longe de ser suficiente para nos fornecer todas as variáveis em jogo na formação do pensamento ideológico. A assunção de uma ideologia, porém, não deve ser encarada como algo mecânico. A educação, se pensarmos com vagar, tem caráter ideológico, pois através dela são incutidos valores politicamente significativos. Mas a educação não é dada “com um olho na ideologia”. O processo se automatiza, torna-se quase insensível, intangível às vezes. Também não se pode esperar que pertencer a uma classe social definida determine nossa maneira de pensar e agir politicamente. Isto porque, como suspeitamos antes, há inúmeros fatores que podem, de certa forma, bloquear a consciência de nossa situação e induzir a que vejamos como nossos os interesses da classe oposta. O ser humano, além disso, não é uma máquina que reage mecanicamente da mesma forma ao mesmo comando, nem um animal que funcione à base de reflexos condicionados (embora haja quem pense o contrário entre os psicólogos), de maneira que a formação do pensamento ideológico não é um processo singelo. Finalmente, também não se deve esperar que aquilo que poderíamos chamar, para facilitar, de “ideologia básica” assuma sempre a mesma aparência. As “ideologias básicas”, numa sociedade capitalista, seriam a dos proprietários dos meios de produção e as dos nãoproprietários — capitalistas e não-capitalistas, assalariadores e assalariados, burgueses e proletários ou como se queira chamar os dois pólos de nosso esquema dicotômico (na verdade, os especialistas costumam discutir muito os conceitos designados por essas diferentes palavras, mas você pode pensar neles depois, se quiser tornar-se um especialista). Já vimos como as sociedades de hoje são excessivamente complexas para que esse esquema se revele esclarecedor, em primeiro lugar. Em segundo lugar, podemos, por exemplo, dizer, a respeito do nazismo e do liberalismo, que são ambos a ideologia da classe dominante capitalista e podemos até nos divertir, fazendo analogias entre eles. Mas a verdade é que o nazismo e o liberalismo são completamente diferentes um do outro, não perseguem os mesmos objetivos políticos, não utilizam os mesmos métodos. Ou seja, precisamos sempre “refinar” a ideologia básica, para entendermos as muitas formas que assume — exercício que não é meramente acadêmico, mas tem influência sobre nossa vida e nosso destino. Em processo inverso, podemos sempre procurar, quando desejarmos, fazer uma “redução” à ideologia básica, de qualquer proposição. Quando ouvimos ou lemos alguma afirmação, podemos endereçar a ela umas tantas perguntas. Que conseqüências concretas (muitas vezes não explícitas, ou mesmo ocultadas pelo autor da proposição) tem a aceitação dessa maneira de pensar ou dessa opinião? De que depende, para ser válida? A quem, em última análise, interessa? De quem é esta “verdade”? Será a “verdade” de todos? Se “reduzirmos” bem, chegaremos com freqüência a ver, por trás da afirmação, mesmo que o seu autor alegue ou julgue sinceramente o contrário, a raiz ideológica básica, a ligação com a nossa dicotomia. As ideologias e as posições políticas são, hoje, muito vistas em termos de direita e esquerda. Ao contrário do que seu uso indiscriminado pode sugerir, não são conceitos claros, e muitas das pessoas que os aplicam todo o tempo, se chamadas a defini-los com alguma precisão, teriam dificuldade. Não é culpa delas. As palavras estão sujeitas a empregos arbitrários e abusivos, de tal forma que acabam por ter seu sentido diluído ou tornado imprestável para uma comunicação adequada. Há até mesmo uma chuva de acusações de direitismo e esquerdismo dentro das organizações de esquerda, que só podem deixar o observador desavisado um tanto confuso. Na prática, o que hoje se conhece por esquerda são posições próximas ou identificadas com os que desejam a socialização da economia — em última análise, a abolição da propriedade privada e a estatização dos meios de produção. As posições à direita seriam aquelas identificadas ou aproximadas com o contrário da proposição acima, a ponto de, em sua condição mais extremada, pretenderem eliminar as liberdades individuais para garantir o esquema que consideram correto. Tal distinção, que vai quebrando o galho nos jornais e nos bate-papos, não resiste a uma análise um pouquinho rigorosa, chegando muita gente a concluir, por exemplo, que não se pode chamar de “esquerda” o aparato dominante nos antigos países socialistas, mas sim, de “direita”, tamanho o conservadorismo desses aparatos, o papel opressor que o Estado muitas vezes assumiu, o caráter totalitário e assim por diante. Além disso, como chegamos a ver, o termo “esquerda”, em Política, tem tido sempre uma conotação de oposição ou contestação ao estabelecido. Talvez seja possível achar uma conceituação razoável na observação de que as posições esquerdistas têm, historicamente, tendido a basear seus programas na crença da aperfeiçoabilidade do homem e de sua vida em sociedade. Os caminhos apontados variam muito, mas existe sempre a convicção de que os problemas do homem não são inerentes à sua natureza, mas fruto de determinantes e condicionantes que, sendo mudados, também mudarão o homem. O homem não é por natureza egoísta, nem a vida em sociedade tem que render sempre conflitos e neuroses, nem as guerras são inevitáveis, nem a maioria das mazelas de nossa existência individual e coletiva faz parte da ordem natural das coisas. Em contraste, as posições da direita tendem a presumir que existem certas características imutáveis do homem. O necessário é usar essas características para o bem comum, mesmo que o bem comum possa vir a justificar privilégios, pois, entre as verdades da direita está a de que realmente certas coisas não têm jeito e algumas pessoas serão sempre melhores do que outras e, portanto, se darão melhor na vida. É possível aprimorar as condições de vida de todos, inclusive porque é natural para o homem querer melhorar sua vida e é também natural que, depois de ter seus próprios problemas resolvidos, até procure ajudar nesse aprimoramento geral. Por si só, o homem é basicamente egoísta e fará tudo em seu próprio benefício. Se é assim e não há jeito a dar — pois o homem, se é aperfeiçoável, só o é até certo ponto, muito limitado —, devemos equacionar a sociedade de acordo com essas condições, em soluções que podem ir da busca de um equilíbrio “natural” entre os elementos que essas características fazem entrar em jogo até a imposição de um governo “forte” ou totalitário, que, sob a orientação dos melhores, discipline e tutele os indivíduos, “para seu próprio bem”. Os caminhos da esquerda e da direita, como se sugeriu, são muitos. Se a noção dada acima serve para esclarecer um pouco as coisas, também serve para mostrar como são mesmo relativos os conceitos de esquerda e direita, como a realidade contraria os rótulos ou distorce projetos e intenções. Um regime opressor não pode ser de esquerda. Contudo, como modificar o homem sem, inicialmente, impor condutas e implantar implacavelmente o novo esquema? E agora — será um regime desses de esquerda ou de direita? Os rótulos são muito enganosos, até mesmo porque qualquer um pode pegar um rótulo à vontade e pespegá-lo na testa, sua ou dos outros. Vimos isto em relação à democracia, vê-se isto em relação a quase tudo. O que para uns é patriotismo, para outros é traição e vice-versa. O que para uns é comunismo, para outros é uma forma de fascismo. Assim, não nos devemos fiar nos rótulos, nem nos preocupar excessivamente com eles. Necessitaríamos de capítulos e mais capítulos para analisar os muitos “ismos” sobre os quais lemos todos os dias nos jornais. Mas, na verdade, por mais complicados e misteriosos que eles nos pareçam, já temos os instrumentos básicos para nos defender dos rótulos. Para entender uma ideologia (ou uma das muitas formas das “ideologias básicas”), a primeira providência, que, aliás, é muito útil também em outras áreas, é procurar a fonte diretamente. Se queremos saber o que é o socialismo, devemos procurar ler o que os socialistas escrevem ou ouvir o que eles dizem, não o que dizem ou escrevem deles. Da mesma forma, se queremos saber o que é o liberalismo, devemos ler e ouvir os liberais. E, em relação a ambos — como em relação a todos —, devemos prestar atenção no que eles fazem, em comparação com o que dizem. A cada proposição, a cada colocação, podemos pôr em ação os nossos instrumentos. Podemos aplicar nossa técnica de “redução”. Podemos questionar. Podemos usar o conhecimento que já adquirimos, pois, quando o conhecimento nos faz pensar, ele é cumulativo, está sempre acrescentando-se a si mesmo. Podemos, enfim, não ser tiranizados nem amedrontados pelos rótulos, podemos assumir, cada vez mais, a consciência de nós mesmos, de nosso lugar na coletividade, de nossas aspirações, identidade e interesses legítimos. Podemos mesmo chegar a ver o mundo de forma ideologicamente consciente e agir de acordo com essa consciência, pois, afinal, somos o limite de nós mesmos. A conscientização ideológica gera paixões, sim. Mas só podemos ser grandes se houver paixão. * 1 Veja se você acha alguma entrevista de um político, escolhe uma ou duas afirmações importantes e faz uma “redução ideológica” nelas. 2 Você acha que o ecologismo é, em si, uma ideologia? 3 “A verdade é esta: ganha sempre o mais forte e é assim que deve ser.” Esta é, ou pode ser, uma afirmação ideológica? 4 “Com duas ou três boas leis, eu resolveria tudo isto”, diz um famoso advogado. A sociologia do conhecimento teria alguma coisa a dizer sobre isto? 5 Os trabalhadores na indústria metalúrgica são uma classe social? 6 Depois de muitos anos de trabalho, ele conseguiu comprar um carro e uma casa. “Mudei de classe”, disse aos amigos. Comente. 7 “Peguei minha herança, vou me dedicar a viajar, não quero nem saber de Política.” Há ideologia nesta afirmação? 8 “Meu filho, não adianta remar contra a maré. Na vida, a gente tem é que ganhar dinheiro, o resto não interessa, a realidade é esta.” Direita ou esquerda? https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/joc3a3o-ubaldo-ribeiro-polc3adtica-quem-manda-porque-manda-como-manda.pdf https://www.projetoagathaedu.com.br/questoes-vestibular/sociologia/teoria/ideologia.php ****************************************************************************************

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