Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
MEMÓRIAS DE UM GENERAL DE COVID
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Maria Hermínia Tavares* - Sem fórmulas fáceis
Folha de S. Paulo
Frente de batalha contra extremistas também é cultural, no plano dos valores
A democracia convive mal com a radicalização política. Por isso, desradicalizar, verbo que arranha os ouvidos, é uma das tantas urgências que o governo e a sociedade brasileira têm diante de si.
Na sequência das imagens panorâmicas do ataque da extrema direita que a TV transmitiu ao vivo, no domingo (8), as emissoras vêm mostrando, a cada dia, os detalhes da destruição. Ela foi gestada pela pregação de Bolsonaro contra as eleições e as instituições democráticas; facilitada pela omissão do governo do Distrito Federal; e executada por indivíduos que se consideram em guerra contra um imaginário perigo comunista, contra o qual pensavam desencadear o golpe final.
A diversidade dessa tropa aparece de corpo inteiro no documentário "As Vozes de Bolsonaro", da jornalista Carla Araújo e disponível no portal UOL. E uma primeira tentativa de entender os executores da devastação e como são mobilizados pode ser seguida na série "Extremistas.br" (Globoplay), dirigida por Caio Cavechini. Eis aí dois poderosos documentos visuais da radicalização que, embora derrotada nas urnas e pelos três Poderes, não desaparecerá como que por encanto.
De resto, não é a primeira vez que o país está diante de uma fratura política radical das elites e da parcela engajada da sociedade. Foi assim entre 1935 e 1937, na sequência da Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. Foi assim também no início dos anos 1960, durante a presidência de João Goulart. Nos dois casos, prevaleceu a solução autoritária: o golpe do Estado Novo, em 1937, abortando o ensaio de governo constitucional, sob a Carta de 1934, e o golpe civil-militar, em 1964, sepultando os 18 anos de experiência democrática da Constituição de 1946.
Por ora, a democracia prevalece, mas precisará enfrentar —dentro das regras e com os instrumentos que lhes são próprios— a oposição das falanges do autoritarismo para quem Lula e o PT são anátemas.
Apurar responsabilidades e submeter aos rigores da lei os incentivadores, financiadores, organizadores e executores do golpe que gorou é imprescindível, mas não basta. Dissolver a desconfiança entre paisanos e fardados e obter a obediência estrita destes últimos à Constituição é crucial, mas tampouco suficiente.
Outra frente de batalha é cultural, está no plano dos valores: pela tolerância política; pela aceitação das diferenças de crenças e comportamentos; pelo valor da informação fidedigna; pela capacidade de discernir entre o preconceito e o conhecimento produzido pelas ciências. Para esse combate não temos experiência prévia nem fórmulas fáceis.
*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
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Portela 1966 Letra e Samba
Memórias de um Sargento de Milícias - PAULINHO DA VIOLA
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Memórias de Um Sargento de Milícias
Portela 1966 Letra e Samba
Ainda não temos a cifra desta música. Contribua!
Era o tempo do rei
Quando aqui, chegou
Um modesto casal feliz pelo recente amor
Leonardo, tornando-se meirinho
Deu a Maria Hortaliça um novo lar
Um pouco de conforto e de carinho
Dessa união, nasceu
Um lindo varão
Que recebeu o mesmo nome do seu pai
Personagem central da história que contamos neste carnaval
Mas um dia Maria
Fez a Leonardo uma ingratidão
Mostrando que não era uma boa companheira
Provocou a separação
Foi assim que o padrinho passou
A ser do menino tutor
A quem lhe deu toda dedicação
Sofrendo uma grande desilusão
Outra figura importante em sua vida
Foi a comadre parteira popular
Diziam que benziam de quebranto
A beata mais famosa do lugar
Havia nesse tempo aqui no Rio
Tipos que devemos mencionar
Chico Juca, era mestre em valentia
E por todos se fazia, respeitar
O reverendo amante da cigana
Preso pelo Vidigal
O justiceiro
Homem de grande autoridade
Que à frente dos seus granadeiros
Era temido pelo povo da cidade
Luisinha primeiro amor
Que Leonardo conheceu
E que Dona Maria, a outro como esposa concedeu
Somente foi feliz
Quando José Manuel
Morreu
Nosso herói
Novamente se apaixonou
Quando com sua viola
A mulata Vidinha, esta singela modinha cantou:
Se os meus suspiros pudessem
Aos seus ouvidos chegar
Verias que uma paixão
Tem o poder de assassinar
Composição de Paulinho da Viola
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Falta ‘sintonia fina’ a Lula ao falar de militares e economia, diz Sergio Fausto
18 de jan, 2023
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O presidente Lula é um político “substancialmente pragmático”, mas, no do início do atual mandato, revelou-se “um pouco mais carregado ideologicamente” do que nos governos anteriores, afirma o cientista político Sergio Fausto, diretor-geral da Fundação Fernando Henrique Cardoso. “Lula parecia mais livre, leve e solto em sua primeira passagem no governo.” O presidente “aguça desnecessariamente a desconfiança do mercado,” afirma Fausto, ao, por exemplo, dizer que os ministros não deveriam chamar a despesa pública de gasto. Na avalição do cientista político, as reações dos últimos dias demonstraram que “tende a zero” o risco de uma ruptura institucional. A gravidade da conjuntura, porém, exige de Lula uma “sintonia fina” em sua retórica ao tratar de questões militares e econômicas – e, diz Fausto, o pior que o País poderia ter neste momento seria uma crise conjunta nessas duas áreas.
Leia mais em https://braziljournal.com/play/falta-sintonia-fina-a-lula-ao-falar-de-militares-e-economia-diz-sergio-fausto/ .
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Sérgio Fausto e Denilde Holzhacker comentam documento golpista encontrado na casa de Anderson Torres
Jornalismo TV Cultura
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12 de jan. de 2023 #JornalDaCultura #JC
"Mais um indício, entre outros", disse o cientista político Sérgio Fausto sobre a minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que dava ao então presidente a prerrogativa de instaurar um "estado de emergência" no Tribunal Superior Eleitoral.
Segundo autoridades, a intenção era alterar o resultado das eleições presidenciais, vencidas pelo presidente Lula (PT).
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Militares do GSI não tomaram medidas para impedir atos do dia 8, diz especialista
Lula está reunido com os comandantes-gerais do Exército, Aeronáutica e Marinha nesta sexta-feira (20), e tentar melhorar sua relação com os militares
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Fernanda PinottiThiago Félixda CNN
em São Paulo
20/01/2023 às 12:46 | Atualizado 20/01/2023 às 12:58
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O especialista em defesa e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Francisco Carlos Teixeira da Silva falou, em entrevista á CNN, sobre a tensão entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e as Forças Armadas.
Segundo ele, não foi apenas a Polícia Militar (PM) que falhou em controlar os manifestantes no dia 8, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) também não tomou as medidas necessárias.
Lula está reunido com os comandantes-gerais do Exército, Aeronáutica e Marinha nesta sexta-feira (20). Cerca de 140 militares foram afastados de seus postos desde Lula assumiu. Ele declarou que não tem confiança nesses militares e, portanto, não poderia continuar trabalhando com eles.
Teixeira explicou que os militares também são cidadãos e, por isso, tem direito a ter opiniões e posturas políticas, mas não podem expor essas opiniões em qualquer momento.
“Tudo depende do ambiente e da situação. Os militares não podem fazê-lo em público, nem fardados ou usando seu título. Isso prevê punição pelo regulamento do exército.”
Ele disse que há duas situações críticas envolvendo a falha de atuação dos militares no ataque aos Três Poderes do dia 8 de janeiro: a atuação da Polícia Militar (PM), que deveria ter controlado o acesso dos manifestantes à Praça dos Três Poderes; e a atuação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e do Batalhão da Guarda Presidencial, responsáveis por proteger o Palácio do Planalto.
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“A questão é se [a atuação do GSI e do Batalhão da Guarda Presidencial] também será examinada, assim como a da PM está sendo”, disse.
Para Teixeira, “o que temos que saber é se houve falha de inteligência ou se os dirigentes se negaram a tomar alguma providência por simpatia ideológica”.
Ele também citou a presença de militares da ativa nos acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis-generais do Exército, o que representaria uma grave violação do regulamento.
E citou o depoimento de Ibaneis Rocha, governador afastado do Distrito Federal, que disse que o Exército impediu a desmontagem das barracas nesses acampamentos. “Isso deve ser esclarecido pelo comandante do Exército”, disse.
Ele disse que parece haver duas correntes no governo federal nesse momento. A primeira, representada por José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, não quer se aprofundar nesses pontos e quer que a tensão com as Forças Armadas seja resolvida de forma rápida. A outra corrente quer que ocorra um aprofundamento sobre as manifestações consideradas golpistas dentro das Forças.
O especialista também disse que, durante a reunião desta sexta, Lula – que declarou nesta semana não ter confiança nas Forças Armadas – deve tentar melhorar a relação com os militares. Isso explica a presença do presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, no evento.
Teixeira disse que a proposta de pacificação deve vir através de conversas sobre a Base Industrial de Defesa (BID), que representa empresas investidas em pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição de produtos estratégicos de defesa.
“A ideia é construir dentro do Brasil equipamento militar de ótima qualidade, o que seria bom para a economia e bom para as Forças Armadas”, explicou.
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Luiz Inácio Lula da Silva (Lula)
Marinha
PM (Polícia Militar)
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Fernando Abrucio* - Derrotas e legados do bolsonarismo
Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
Mudar o quadro atual será um processo lento e com várias frentes, necessitando da ajuda de todos os democratas
O bolsonarismo foi derrotado em seu projeto de reeleição, mas não nos abandonou por completo ainda. O fato é que o ex-presidente Bolsonaro acumulou várias derrotas desde outubro do ano passado - e provavelmente terá várias outras na Justiça e na política nos próximos meses -, só que deixou alguns legados que estão afetando negativamente o sistema democrático brasileiro. Há armadilhas que precisam ser desarmadas para que em 2026 não haja mais a preocupação com um golpe de Estado ou com a criação de um cenário de ingovernabilidade.
À primeira vista, o plano autocrático de Bolsonaro fracassou e as tentativas de insurreição autoritária estão piorando as condições jurídicas e políticas das lideranças bolsonaristas. A proposta de usar o artigo 142 da Constituição para dar um golpe de Estado, transferindo o poder às Forças Armadas, feita formalmente no dia 28 de dezembro, foi rejeitada pela cúpula militar. Como fato ou como lenda, ficou para a história a frase do comandante do Exército: “Não vou trocar 20 dias de glória por 20 anos de incômodo”.
A rejeição ao golpe não acabou com as movimentações autoritárias e golpistas, inclusive por parte de integrantes das Forças Armadas. A intentona de 8 de janeiro prova cabalmente que havia articulações, insufladas e comandadas por lideranças bolsonaristas, para tentar inviabilizar o mandato do presidente Lula. Na verdade, mais do que derrubar o governo, o propósito era destruir a ordem democrática do país, pois os terroristas invadiram os palácios que sediam os três Poderes para estabelecer uma autocracia que levaria de roldão petistas, Centrão, PSDB, União Brasil, o STF e todos aqueles que fossem democratas.
Cabe aqui um parêntese mais alongado: sabe-se que as pessoas presentes nesse dia da infâmia da República brasileira podem ser divididas entre organizadores de primeira ordem do golpismo e pessoas que serviram como massa de manobra, cujo passe foi comprado com transporte, alimentação e discurso de ódio às instituições. O uso do termo terrorista pode ser questionado olhando a letra fria da lei brasileira. Porém, se sua concepção mais ampla envolve a ideia de usar a violência planejada para desestruturar a ordem pública por meio do terror e medo que causa na sociedade, havia então muitos terroristas no Capitólio à brasileira.
É importante ressaltar que não dá para separar o caso da bomba, cuja explosão foi evitada dias antes, da ação violenta realizada na Praça dos Três Poderes, não só porque os dois atos estavam interligados ao movimento mais geral, mas sobretudo porque a violência premeditada era a tônica de ambas as ações. As investigações estão mostrando que havia ali muita gente treinada para atuar e reagir violentamente contra as forças policiais, e que fizeram esse ato com apoio de integrantes do Estado brasileiro, num conluio planejado que incluía a definição de rotas e o conhecimento de onde estava o que deveria ser destruído.
Quem acompanhou nas últimas semanas os grupos de Telegram bolsonaristas constata que o objetivo da intentona era gerar um efeito simbólico de larga escala para desestruturar a ordem pública, bem na linha das performances que muitos terroristas utilizaram ao longo da história. O terror não estava planejado contra um grupo social, mas era destinado a atingir as instituições democráticas, derrubando suas lideranças e levando a população a aceitar a instauração do autoritarismo por temor de novos atos de violência. Quem organiza e realiza isso, portanto, só pode ser terrorista, de um tipo que está sendo cada vez mais usado pela nova extrema direita mundial.
Para o bem do país e de suas instituições democráticas, o efeito do terror causado em Brasília foi o inverso do planejado pelos bolsonaristas. Os golpistas foram em sua maioria presos. A linha performática da extrema direita produziu inúmeras provas contra os participantes da intentona. Está sendo possível, ademais, ir atrás de parte dos financiadores. As lideranças do poder público que foram omissas ou algo mais também têm sido alvo da reação democrática, inclusive com a retirada do cargo, por três meses, do governador do Distrito Federal.
Os instigadores e organizadores do golpismo começam a ser identificados, num processo que será mais lento porque atingirá o coração dessa organização criminosa contra a democracia. A descoberta do decreto do golpe na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que é a cereja do bolo de diversos fatos amplamente documentados nos últimos quatro anos, vai levar esse processo ao líder máximo, o ex-presidente Bolsonaro. Sua condenação por chefiar o terrorismo contra o estado democrático ainda é uma questão em aberto, mas é quase certo que se tornará inelegível, reduzindo drasticamente a força do bolsonarismo.
O resultado político imediato da intentona fracassada foi o reforço da autonomia das instituições democráticas e da cooperação entre elas, sejam os três poderes da República, seja a federação. Lula ganhou um fôlego político maior do que o dado pela ideia de frente ampla. Além disso, uma parte do eleitorado que votou em Bolsonaro em 2022 tem boas chances de, paulatinamente, abandonar o discurso da extrema direita representado pelos bolsonaristas. Tudo isso levaria a um fortalecimento da democracia, e não ao seu enfraquecimento. No entanto, quatro anos de ação bolsonarista, com grande organização social e forte atuação no aparelho do Estado, deixaram ao país três legados negativos que afetam o sistema democrático brasileiro.
O primeiro é que ainda há um conjunto importante de lideranças políticas que tiveram, em maior ou menor medida, relação com o bolsonarismo. De fato, uma parte mais radical pode se isolar politicamente. Só que esse grupo tem conseguido mobilizar uma parcela minoritária, mas barulhenta e mobilizada da sociedade. Por meio de um arsenal contínuo de fake news espalhadas pelas redes sociais, esses políticos minam a democracia. É preciso atuar para estancar suas formas de comunicação, muitas delas financiadas e estruturadas de forma ilícita.
Além dos bolsonaristas-raiz, outros líderes foram eleitos com o apoio decisivo de Bolsonaro ou o apoiaram no segundo turno. Eles ocupam posições centrais no sistema político brasileiro e sua responsabilidade democrática vai ser testada daqui para diante. Se Arthur Lira, por exemplo, tem sido capaz de defender a democracia e se afastar do radicalismo autoritário, Romeu Zema deu uma entrevista desastrosa, dizendo que o governo Lula se fez de vítima durante a intentona para ganhar poder político. Ora, o que está em jogo são as instituições democráticas, e não o governo de plantão. O governador mineiro tem que se definir de que lado está em relação à defesa da democracia, porque manifestantes que advogam a quebra das regras do jogo têm outro nome.
O segundo legado negativo do bolsonarismo é a politização das Forças Armadas e de instituições policiais. Os estudiosos da questão militar têm dito, faz muitos anos, que as Forças Armadas não tinham se adaptado completamente ao regime democrático após o fim da ditadura. Houve vários episódios, principalmente na última década, de insubordinação militar frente às instituições democráticas. Só que Bolsonaro piorou muito essa situação, construindo, em parceria com colegas da caserna, uma proposta autocrática de colonização do Estado pelos militares, envolvendo a distribuição de poder e de benesses materiais.
Usando um termo empregado originalmente por Golbery, Bolsonaro criou um monstro dentro das Forças Armadas, incutindo nela tanto a anarquia organizacional como a sensação de um projeto de poder próprio, algo que tinha se perdido desde o fim da ditadura. É bem verdade que os comandantes militares calcularam o custo de um golpe e não embarcaram nessa aventura, que não só teria destruído a democracia, como teria levado o país a um isolamento internacional inédito - com prováveis sanções e até intervenção - e a uma enorme crise econômica. Evitou-se aquilo que se transformaria nas Malvinas brasileiras, mas o fato é que os chefes militares não conseguem hoje controlar por completo sua corporação e a chamada “família militar”, dado o peso da reserva na visão de mundo desse grupo.
A despolitização das Forças Armadas, que significa hoje sua desbolsonarização, é uma tarefa que não deveria ficar apenas a cargo do governo Lula. Essa é uma tarefa de toda a sociedade comprometida com a democracia, de todos os partidos políticos e do Judiciário. As Forças Armadas formam excelentes quadros que prestam serviços essenciais à nação, todavia devem, como instituição, ficar restritas ao seu já relevante papel. Sair dele ao longo da história significou, quase sempre, autoritarismo, e agora significaria a perda de poder geopolítico e econômico do Brasil.
O legado mais profundo do bolsonarismo, por fim, foi espalhar uma visão antidemocrática para várias parcelas da sociedade brasileira, em graus diversos, mas em todos eles por meio de uma concepção de mundo que vai muito além do antipetismo, gerando uma rejeição ampla e difusa em relação à legitimidade das instituições. Mudar esse quadro será um processo lento e com várias frentes, necessitando da ajuda de todos os democratas, para que não haja uma nova intentona golpista e terrorista na história do Brasil.
*Fernando Abrucio, doutor em ciência política pela USP e professor da Fundação Getulio Vargas
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José de Souza Martins* - O poder delinquente da multidão
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Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
Agitação direitista transformou o Brasil num perigoso manicômio, intencionalmente para favorecer a sobrevivência e consolidação da tirania derrubada pelo voto
As ocorrências extralegais e paralelas no próprio dia da posse do novo presidente da República e a baderna insurrecional da invasão de Brasília e dos edifícios dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, em seus desdobramentos e consequências, fazem revelações sociológica e politicamente decisivas para conhecer os inimigos da democracia e do país. Revelam não só o conjunto de uma trama golpista, mas principalmente a estrutura social do movimento e a diferença entre agitadores, protagonistas, promotores e protetores, vários deles secretos. Não se trata de acaso, mas de poder paralelo e organizado.
A identificação dos presos em Brasília, no dia 8, faz revelações da maior importância para definir e compreender o perfil social dos envolvidos. É gente de baixa classe média, não só pelos recursos minguados da maioria visível, mas também pela ignorância sobejamente demonstrada no ataque aos palácios como se fosse ataque ao novo governo. Governo não é um prédio nem uma parede, assim como democracia não é baderna.
A diferença e o poder da ignorância ficam claros na mutilação e na destruição de obras de arte, como a bela e significativa tela de Di Cavalcanti, perfurada em vários pontos. Foram interpretadas como trastes de luxo, extensões de pisos e paredes, tocadas, examinadas e jogadas no chão. E tratadas como lixo. Os autores não viam nelas utilidade, categoria central da mentalidade dos toscos.
Quando se fala em exclusão social no Brasil, não se fala na ocultação e na negação da função social do estético. Mas exclusão é privação social da dimensão monumental do humano, o humano e a humanização possíveis na mediação da obra de arte. Oferecer aos pobres, aos simples, aos ignorantes a mera alternativa funcional da utilidade das coisas é privá-los do que torna social a sociedade.
É necessário entender como os invasores e os depredadores interpretaram o que é um palácio e nele móveis e adornos com eles conexos na significação e no estilo, os recintos do poder como monumentos e como obras de arte que lhes dão sentido enquanto expressões da civilização. Uma qualidade social e histórica que os quartéis não têm, a multidão a se comportar e não desmentida como serviçal da caserna.
Não se trata de luxo nem de ostentação, mas do caráter pedagógico do monumental, da representação artística da realidade como mediação da consciência social, como contraponto crítico da brutalidade da desigualdade, a da vida reduzida ao prato de comida.
A barbárie documentou a dimensão simbólica do divórcio entre o poder e o povo. Nesse sentido, um certo fracasso da política e dos partidos políticos. E uma vitória dos que à margem da lei manipularam a turba ignara para demolir o Estado e torná-lo vulnerável a um poder invisível. Para subjugar o poder legítimo em favor dos propósitos inconfessáveis de minorias antissociais, infiltradas de delinquentes como os dados mostram.
Mas também um grande fracasso da educação brasileira. Pelos que subestimam as funções ressocializadoras da escola e do ensino, os valores do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. A literatura e especialmente a arte tratadas como superficialidades e desnecessidades. Coisas da elite, expressões da ociosidade. Negação dos méritos utilitários dos produtos do trabalho, o dos condenados a conceber a educação na perspectiva do suficiente para reproduzir a força de trabalho. A honradez da produção de utilidades.
O senso comum pobre, expressão de falsa consciência e de autoengano, negação do cidadão e afirmação do indivíduo anônimo e irrelevante, facilita cada vez mais a transformação do Brasil numa sociedade de ajuntamentos e multidões.
A violência do justiçamento nos linchamentos, de que o Brasil tornou-se campeão mundial, indica o ímpeto de redefinição do que é justiça, a eliminação do outro como princípio de organização social. A intolerância e o ódio como fundamento de uma concepção delinquente de poder, a do golpe.
O mesmo princípio esteve presente nas manifestações de Brasília e nos acampamentos de porta de quartel. A busca de abrigo sob as asas das Forças Armadas, que não hesitaram em dá-lo. Na prática o desapreço pelas instituições, a turba ignorante fazendo o papel sujo de minar a democracia para fragilizá-la e reduzir o Brasil à subalternidade de quartel. O poder aparente e ilusório dos “laranjas”.
A multidão assim motivada é o sujeito social da loucura coletiva, como mostrou Gustavo Le Bon em seu estudo clássico sobre o tema. A agitação direitista transformou o Brasil num perigoso manicômio, intencionalmente produzido para favorecer a sobrevivência e consolidação da tirania derrubada pelo voto democrático de 2022.
*José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "As duas mortes de Francisca Júlia - A Semana de Arte Moderna antes da semana" (Editora Unesp, 2022).
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Luiz Carlos Azedo - A invenção do malandro e as milícias
Correio Braziliense
Muito do que estamos vivendo na política tem raízes antropológicas. É o caso das milícias, que nunca tiveram uma relação tão promíscua com os órgãos de coerção do Estado como no governo Bolsonaro
Entre os anos de 1852 e 1853, Manoel Antônio de Almeida publicou folhetins que se tornariam, mais tarde, a obra Memórias de um sargento de milícias, um clássico do nosso romantismo. Órfão de pai aos 11 anos, era filho de portugueses: o tenente Antônio de Almeida e Josefina Maria de Almeida. Sua infância muito carente o fez cronista da baixa classe média carioca. Jornalista e escritor, com muitas dificuldades financeiras formou-se em medicina, em 1855, mas nunca exerceu a profissão. Morreu aos 31 anos, no naufrágio do navio Hermes, em 1861. Escreveu apenas mais um livro, Dois amores, além de ensaios, contos e poesias.
Ao ignorar a classe média alta e o maniqueísmo elitista com que era retratada à época, Manoel Antônio de Almeida descreveu a vida real do povo e a figura do malandro — pobre, sem ideal, vivendo da sorte e de oportunidades que surgiam. O cenário do romance é o Rio de Janeiro da corte de Dom João VI, que permaneceu no Brasil de 1808 a 1821. O grande protagonista da história é um anti-herói, Leonardo, filho de imigrantes portugueses — Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça —, que se conheceram no navio que os trouxe ao Brasil “após uma pisadela e um beliscão”.
Flagrada pelo marido em traição, Maria das Hortaliças foge de casa; Leonardo Pataca abandona o pequeno Leonardo, que é criado pelo padrinho, um barbeiro, e sua madrinha, uma parteira que adorava missas. Transgressor, Leonardo é protegido por D. Maria, uma velha rica, tia de Luisinha, que deixa de ser sua paixão quando surge a bela mulata Vidinha, cujos primos arranjam uma forma de Leonardo ser preso pelo major Vidigal, mas ele consegue escapar.
O major jura prender Leonardo por malandragem, mas a madrinha consegue um emprego para Leonardo na ucharia-real, emprego que ele logo perderia por ter tido um flerte com uma das criadas do rei. Leonardo acaba preso por Vidigal, que fará dele, porém, um granadeiro de sua patrulha. Mesmo como soldado, Leonardo não deixa suas malandragens e acaba pregando uma peça em seu superior, o que lhe levará à nova prisão, de onde só sairá com nova intervenção de sua madrinha, Dona Maria, e de Maria Regalada, que era um antigo amor de Vidigal. Livre, por influência de ambas, Leonardo torna-se sargento da companhia de granadeiros. Como sargentos da ativa não podiam se casar, Leonardo recebe o título de sargento de milícias e casa-se com Luisinha, a sobrinha de D. Maria, que havia ficado viúva.
Manoel Antônio de Almeida descreve a invenção da malandragem. Na visão do antropólogo Roberto Da Matta, o Brasil urbano é carnavalesco (“não tem conserto”; “ninguém quer trabalhar”, “deixa tudo para amanhã”); autoritário, da regulamentação, do cartório e do arbítrio; e místico, do “outro mundo”, do “carma”, da “reencarnação”, do sobrenatural. De um lado, o Estado-nação, com território, bandeira, moeda, Constituição; de outro, a sociedade sem valores, com seus mitos e rituais.
Desarmamento
Muito do que estamos vivendo na atual conjuntura política tem raízes antropológicas. É o caso das milícias, que nunca tiveram uma relação tão promíscua com os órgãos de coerção do Estado como no governo de Jair Bolsonaro. Esse é um problema muito sério, inclusive em decorrência da politização das Forças Armadas e de uma militância política bolsonarista armada até os dentes, que já começa a se arreganhar contra o governo Lula, com caraterísticas de uma milícia fascista. Segundo os repórteres Bruna Yamaguti e Leonardo Cavalcanti, do SBTNews, o governo Bolsonaro, somente no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022, liberou 1.100 armas por dia para o cidadão comum.
No total, 1,6 milhão de armas foram autorizadas pelo Exército e pela Polícia Federal. O aumento, se comparado aos quatro anos anteriores — das gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer — foi de 88% (847 mil). O Exército, por meio do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), liberou 904.854 armas em quatro anos. Já a Polícia Federal permitiu o registro e o porte de mais de 700 mil na gestão Bolsonaro, que operou uma estratégia para armar a população.
No governo Bolsonaro, mais de 40 decretos, portarias, instruções normativas e resoluções da Câmara de Comércio Exterior flexibilizaram o Estatuto do Desarmamento, de 2003. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que reduz o acesso a armas e munições e suspende o registro de novas armas de uso restrito de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs). Também suspendeu as autorizações de novos clubes de tiro até a divulgação de uma nova regulamentação. Entretanto, a pasta está fora do tubo.
Entre as restrições estabelecidas estão a proibição do transporte de arma municiada, a prática de tiro desportivo por menores de 18 anos e a redução de seis para três a quantidade de armas a que cada cidadão comum tem direito. O novo governo também condiciona a autorização de porte de arma à comprovação da necessidade. Além disso, todas as armas compradas desde maio de 2019 devem ser recadastradas pelos proprietários em até 60 dias. Para reverter esse quadro, será preciso mexer no Estatuto do Desarmamento e reafirmar o monopólio do Estado sobre o uso da força, o que pressupõe apartar as Forças Armadas da política e restabelecer a plenitude da hierarquia e da disciplina.
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Bolsonaro ataca jornalista Vera Magalhães no debate: 'Vergonha para o jornalismo brasileiro'
UOL
28 de ago. de 2022 #UOLEleições2022 #Eleições2022 #DebatenoUOL
O presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ser escolhido para comentar uma resposta de Ciro Gomes (PDT) sobre vacinação durante o debate presidencial, evitou tecer comentários em relação ao assunto e decidiu atacar a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, e a candidata Simone Tebet (MDB).
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Vera Magalhães – Três pra lá, um pra cá
O Globo
A diretriz de política econômica do governo começou como um bolero descompassado: três pra lá, um pra cá. Enquanto Fernando Haddad, Simone Tebet e Geraldo Alckmin tentam coordenar um discurso de responsabilidade fiscal, o presidente Lula insiste em ficar no palanque fazendo falsas contraposições entre o necessário rigor com as contas públicas e sua promessa, também urgente, de promover a reparação da desigualdade social. A pergunta é: o que um governo já acossado pelo extremismo golpista tem a ganhar com esse diversionismo num tema tão sensível? Absolutamente nada.
Lula parece fazer um cálculo semelhante ao que levou Jair Bolsonaro a falar para convertidos durante os quatro anos de seu mandato: que é preciso manter uma base fiel, o lulopetismo raiz, mobilizada e evitar que ela se decepcione com os rumos do governo. Acontece que esse eleitor não deixará de fazer o L se o governo buscar coadunar as promessas de reduzir o fosso social com uma política fiscal que mostre disposição de reduzir a dívida e, consequentemente, os juros futuros, esses que Lula contrapôs de forma equivocada aos investimentos sociais, como se fossem gastos da mesma natureza, ditados apenas pela vontade do governo de turno.
Não adianta o presidente evocar o passado para dizer que concedeu autonomia ao Banco Central e promoveu superávits fiscais, como se isso tornasse desnecessários metas e marcos legais para balizar o comportamento do governante. Seria equivalente a alguém dizer que nunca andou acima de 60 km/h e, portanto, radares de trânsito podem ser abolidos. Nada na prática pretérita obriga a repetir esse comportamento no futuro, em novas circunstâncias. Para isso, existem o ordenamento jurídico e regras — em gestão governamental e no trânsito, como em várias esferas do espaço público.
Entre um time de ministros da equipe econômica — que, apesar de diverso e nuançado quanto a como enxerga os diversos temas da área, tem procurado mandar sinais na mesma direção — e o chefe deles, em quem investidores, empregadores, trabalhadores e analistas devem acreditar?
É péssimo que o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tenha tido de vir a público dizer que não há nenhuma disposição do governo em mexer na autonomia do Banco Central. O governo acaba de assumir. Em oito dias, enfrentou uma ameaça de golpe de Estado cujos reflexos estão longe de estar dissipados. Hoje mesmo Lula terá o primeiro encontro com comandantes das Forças Armadas num balé eivado de cuidados e coisas que não podem ser ditas, de lado a lado.
Diante de tamanha instabilidade institucional, não é inteligente gerar marola na economia. Até porque a unidade construída com os governadores e os representantes dos demais Poderes na defesa da democracia tende a se desfazer quando entrarem na pauta ideias tão controversas quanto as de rever reformas e a autonomia do BC.
Lula não poderá contar com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para levar adiante a tentativa de rever esses projetos. Se insistisse nessa pauta — algo que a própria forma ligeira como trata os assuntos mostra que não fará —, correria o risco de uma derrota no Congresso logo na largada. Um prato cheio para fortalecer uma direita radical que estará fortalecida na próxima legislatura, que nem assumiu ainda.
Muitas chances foram dadas a Lula pelo horror bolsonarista. Sua eleição dependeu fortemente da aversão de um setor moderado a seu antecessor, e não do amor ao petismo. Ele constantemente parece se esquecer do que ele próprio detectou no discurso de posse, sobretudo quando descamba para as bravatas em matéria econômica.
Existe uma janela única para apostar em temas como a reforma tributária, que habilmente Haddad e Tebet têm levantado como bandeira, forma de demonstrar o compromisso do governo com propostas estruturantes que organizem o ambiente para investimentos.
O presidente deve ser o piloto dessa e de outras discussões, que, aliás, não serão tranquilas, dada a dificuldade histórica de convencer setores com interesses opostos a concordar em perder aqui e ali em nome de um sistema mais racional de tributos.
Da mesma forma, a construção do substituto do teto de gastos exigirá diálogo e capacidade de negociação da parte do governo. Se cada um ficar puxando a dança para um lado, pisando no pé do parceiro, o maior prejudicado será o próprio governo.
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Cerimônia de comemoração do dia do soldado no Quartel General do Exército agenda bolsonaro militaresRafaela Felicciano/Metrópoles
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Falta o general Braga Netto na lista dos indiciados pela CPI da Covid
Ele foi o coordenador de todas as supostas ações do governo contra a pandemia, e sequer foi chamado para depor
Ricardo Noblat
06/10/2021 6:00, atualizado 06/10/2021 7:57
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E não é que o general da ativa Eduardo Pazuello, especialista em logística militar e ignorante em SUS, disse em depoimento à CPI da Covid-19 que o governo do presidente Jair Bolsonaro jamais prescreveu cloroquina para combater a pandemia?
É por isso que ele, na condição de ex-ministro da Saúde, será um dos mais de 30 indiciados no relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Mentiu, e de quem depõe a uma CPI espera-se que diga a verdade. E os fatos apurados comprovam que mentiu.
Bolsonaro ofereceu cloroquina até às emas do Palácio da Alvorada. Em discurso, ontem, para uma plateia terrivelmente evangélica, ele voltou a defender a droga universalmente rejeitada para dar conta do vírus, e o tratamento precoce que se revelou ineficaz.
É por isso que também Bolsonaro será indiciado, bem como dirigentes das operadoras de planos de saúde Prevent Senior e Hapvida, as duas maiores do país, que ganharam muito dinheiro à custa dos seus clientes que morreram ou foram infectados.
Essa é uma das histórias mais trágicas e vergonhosas da pandemia, exclusividade do Brasil. Sem sua autorização, aproveitando-se da sua falta de conhecimentos médicos, humanos foram usados como cobaias de um experimento destinado ao fracasso.
A Hapvida foi criada em 1993, e em 2018 abriu seu capital na Bolsa de Valores. Fechou o primeiro ano da pandemia, o de 2020, com uma receita líquida de 8,5 bilhões de reais, um aumento de 51% sobre o faturamento do ano anterior não epidêmico.
Oficialmente, o número de mortos pelo vírus está próximo dos 600 mil. Mas com a subnotificação de casos, o número supera 700 mil. Nunca se saberá ao certo quantas pessoas morreram. Nunca, porém, os responsáveis por isso serão esquecidos.
Faltará um aspirante a sentar-se no banco dos réus se entre os indiciados não estiver o general Braga Netto, atual ministro da Defesa, queridinho de Bolsonaro, e, à época, chefe da Casa Civil e coordenador das ações do governo para deter a pandemia.
Renan ainda não decidiu se pedirá seu indiciamento. Dentro da CPI, por razões nebulosas, há senadores que se opõem. Possivelmente por medo de uma eventual reação das Forças Armadas. Reação de qual natureza? O que elas poderiam fazer?
Braga Netto foi poupado de depor. Teria sido um escândalo se Pazuello fosse poupado. Militares de patentes mais baixas acabaram ouvidos. Uma vez convocado, problema de Braga Netto se comparecesse munido de um habeas corpus para calar-se.
Uma CPI que gritou tanto nos últimos meses não deveria miar logo no fim.
RENAN CALHEIROSJAIR BOLSONAROPREVENT SENIOR
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Velha Guarda da Portela,Paulinho da Viola,Clara Nunes e Dona Ivone Lara
https://www.youtube.com/watch?v=lMNStabu5R8
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